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UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

FERNANDO CARLOS FERREIRA DE OLIVEIRA

A RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO COMO FERRAMENTA DIDÁTICA

PAULO AFONSO – BA
2017
UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
FERNANDO CARLOS FERREIRA DE OLIVEIRA

A RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO COMO FERRAMENTA DIDÁTICA

Artigo Científico Apresentado à Universidade Candido


Mendes - UCAM, como requisito parcial para a
obtenção do título de Especialista em Engenharia
Elétrica e Eletromecânica.

PAULO AFONSO – BA
2017
1

A RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO COMO FERRAMENTA DIDÁTICA


Fernando Carlos Ferreira de Oliveira1

RESUMO

A rápida evolução e o barateamento das tecnologias têm induzido o consumidor ao descarte precoce de
equipamentos eletroeletrônicos. São milhares de toneladas destes resíduos direcionados ao meio ambiente, na
sua maioria de forma inadequada. Em outro contexto, há uma Política Nacional de incentivo à Educação
Profissional e Tecnológica que demanda laboratórios e materiais de consumo para a realização de atividades
práticas, estas, indispensáveis à formação do indivíduo para o mercado de trabalho. Este escrito pretende, além
de expor a reciclagem de lixo eletrônico como uma alternativa e relevante ferramenta didática para as
instituições de ensino tecnológico, principalmente para os componentes curriculares permeados pela eletrônica,
também elencar destinos para os produtos reciclados, indicar as atividades nas quais esta ferramenta de ensino
poderá envolver os discentes, bem como as técnicas que podem ser desenvolvidas e aperfeiçoadas no tangente à
natureza da área de atividade.

Palavras Chaves: Educação profissional. Didática. Lixo eletrônico. Reciclagem.

Introdução

Os avanços sociais e a constante evolução tecnológica exigem dos processos


educativos uma contínua reavaliação metódica, de forma que a didática seja sempre adequada
ao tempo dos sujeitos que se dispõem ao saber.
O educador tem papel fundamental nesse cenário, uma vez que é o mediador direto da
busca pelo conhecimento. Em seu trabalho de análise da história da didática no Brasil, Ruiz
(2002) conclui que, “adotando um ponto de vista pragmatista de que a mudança é a essência
da realidade, a educação deve estar sempre em processo de desenvolvimento”.
Ao abordar de forma mais específica o contexto da educação profissional observa-se
um horizonte congênere, onde se busca formar profissionais alinhados com os anseios do
mercado de trabalho; a formação do técnico deve atender às necessidades de um sistema
constituído por empresas que se renovam no frenético ritmo da economia globalizada,
vislumbrando sempre a melhor relação custo-benefício para a manutenção da
competitividade.

1
Tecnólogo em Eletromecânica pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico, CENTEC, Ceará;
Professor temporário na Secretaria de Educação do Estado da Bahia; e Técnico de
Laboratório Área: Eletromecânica, efetivo no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Bahia, IFBA.
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A proposição insere-se em uma perspectiva alinhada com o cotidiano atual, ao buscar


introduzir uma nova didática e, nesta, agregar indiretamente, transversalidades eco
ambientais, tendo em vista que a reciclagem evita o descarte de materiais compostos por
substâncias potencialmente agressivas ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Segundo Del
Grossi (2011), “essas substâncias que estão nos componentes quando dispostos
inadequadamente causam a contaminação do solo, do ar e das águas superficiais e
subterrâneas, além de terem efeito cumulativo em todos os níveis tróficos, que
consequentemente trará danos à saúde humana”.

Desenvolvimento

Lixo eletrônico, segundo Paiva (2009, apud REIS, 2014), é o termo utilizado para
identificar o lixo gerado por descarte de resíduos tecnológicos, proveniente de equipamentos
elétricos e eletrônicos. O Ministério do Meio Ambiente (2015) entende como resíduos de
equipamentos elétricos e eletrônicos ou REEE: “componentes, subconjuntos e materiais
consumíveis necessários para o pleno funcionamento dos equipamentos elétricos e/ou
eletrônicos que estejam obsoletos e/ou inservíveis”. O Órgão entende ainda como:

“... equipamentos elétricos e eletrônicos ou EEE: todo e qualquer equipamento de


uso doméstico, industrial, comercial, de serviços e outros, cujo adequado
funcionamento depende de correntes elétricas ou campos eletromagnéticos, bem
como os equipamentos para geração, transferência e medição dessas correntes e
campos e concebidas para utilização com uma tensão nominal não superior a 1000 V
para corrente alternada, e 1500 V para corrente contínua”. (MMA, 2015)

A aplicação da reciclagem de tais resíduos no meio educacional, como recurso


didático, caracteriza-se como um método de se conduzir o indivíduo ao exercício prático dos
conhecimentos adquiridos em sala de aula. Cerqueira e Ferreira (1996) fazem a seguinte
definição para recursos didáticos:

“... são todos os recursos físicos, utilizados com maior ou menor frequência em
todas as disciplinas, áreas de estudo ou atividades, sejam quais forem as técnicas ou
métodos empregados, visando auxiliar o educando a realizar sua aprendizagem mais
eficientemente, constituindo-se num meio para facilitar, incentivar ou possibilitar o
processo ensino-aprendizagem”.

O processo de reciclagem consiste em uma sequência de procedimentos, onde o


início se dá com o teste e triagem dos equipamentos; após esta classificação, os aparelhos que
podem ainda ser diretamente reaproveitados devem ser submetidos a uma revisão geral;
normalmente estes foram descartados apenas por serem obsoletos.
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O reaproveitamento consiste em realocar determinado dispositivo eletroeletrônico,


em pleno funcionamento e com características similares às originais, em aplicação diversa
daquela onde o mesmo tornou-se obsoleto, ou seja, para atender a uma demanda de atividade
inferior à que desempenhava anteriormente ao descarte.
O momento da revisão, mencionado anteriormente, constitui um rico evento de
aprendizagem, há a possibilidade de se analisar e entender o funcionamento dos dispositivos e
se realizar intervenções de limpeza, ajuste, verificação, desmontagem e montagem. Pode se
trabalhar a importância das ações e equipamentos de segurança necessários à atividade; o
manuseio das ferramentas e instrumentos de medida; a leitura e interpretação das simbologias
através dos manuais técnicos dos fabricantes; os componentes empregados para ajuste em
circuitos.
Os equipamentos irrecuperáveis necessitam total desmonte para que as placas de
circuitos eletrônicos e demais componentes elétricos venham ser separados dos gabinetes,
estes últimos devem receber destinação adequada, como doação para cooperativas de
reciclagem ou reaproveitados em trabalhos artesanais, por exemplo.
Durante o citado desmembramento é possível conhecer os tipos de chaves de
acionamento e comutação, dispositivos de proteção de entrada, além de conectores elétricos.
Pode-se verificar o tipo de fusível empregado, suas características e realizar comparações com
outros tipos existentes; entender os mecanismos de funcionamento dos botões; observar as
diferenças entre os tipos de acoplamentos elétricos e suas aplicabilidades.
O procedimento seguinte é a retirada dos componentes das placas de circuito, nestas
encontram-se os dispositivos ativos, passivos e eletromecânicos. Para a realização desta
operação faz-se necessário um treinamento prévio, básico, para a utilização das ferramentas
de solda e dessolda, onde o estudante tem a oportunidade de entender o funcionamento dos
aparatos utilizados nas bancadas de serviço e pode praticar a utilização destes nas atividades
posteriores.
O reaproveitamento dos dispositivos oriundos da reciclagem se dá na própria
instituição de ensino, nos trabalhos, atividades e aulas práticas das disciplinas correlatas,
projetos para apresentação em feiras e exposições, ou como peça de reposição para o reparo
de outros equipamentos. Para tanto, se faz necessário identificar, classificar e testar os
componentes.
Na identificação e classificação trabalha-se o reconhecimento dos dispositivos
através da representação padrão e do encapsulamento; a discriminação de tipos e valores
nominais de operação através dos códigos de cores ou alfanuméricos. O aluno tem a chance
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de fixar conhecimentos no concernente aos detalhes técnicos dos componentes eletrônicos, ao


exercitar a utilização de tabelas auxiliares, específicas para tal fim.
A fase de testes proporciona ao educando outro momento para a operação de
instrumentos de medida: pratica-se a aferição dos parâmetros com os dados informados pelos
fabricantes através das marcações no encapsulamento e tabelas de dados; revisam-se os
princípios de funcionamento dos dispositivos; desenvolve-se a habilidade técnica necessária
para reconhecer o estado funcional dos componentes; e se treina os procedimentos de
identificação dos terminais de conexão.
A realização dos procedimentos faz conciliar teoria e prática, facilita o processo de
ensino-aprendizagem ao desenvolver atividades que relacionam os conteúdos metódicos
tradicionais à vivência de situações reais. Carneti e Napp (2013) afirmam:

“A teoria, conhecimento puramente descritivo, é uma parte do ensino efetivada em


sala de aula de forma sistemática e metódica sobre determinado assunto presente
num componente curricular, onde são feitas, geralmente, explanações pelo professor
e decorrentes debates pelos alunos ou conforme outras tendências pedagógicas
assistidas. Já a prática, realização concreta de uma teoria, é o laço para estabelecer a
relação teoria/prática, pois, esta é a execução efetiva do que foi assimilado em sala
de aula, já que a teoria, primitivamente, só surge com a observação da prática. Neste
caso, uma teoria só é considerada como tal, se for efetivada na prática”. (Carneti e
Napp, 2013)

Confirma-se, dessa forma, a relação indissociável entre o instruir e o realizar. No


contexto geral, alinham-se os objetivos da educação profissional às necessidades do mercado,
onde a moldagem do indivíduo segue as tendências para garantir sua posterior absorção.
A reciclagem dos resíduos em questão mitiga a emissão de materiais nocivos para o
meio ambiente ao destinar de forma adequada os equipamentos eletroeletrônicos, e possibilita
oportunidades de estudo e trabalho em diversas áreas de conhecimento.
O que foi discorrido nesta laboração tem sua base nas observações efetuadas durante a
execução do “Projeto Eletrociclar” (Oliveira, 2015), executado no Laboratório de Eletrônica
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA, Campus de Paulo
Afonso, na forma de Projeto de Incentivo à Aprendizagem – PINA, vinculado ao Programa de
Assistência e Apoio ao Estudante – PAAE, com os objetivos de “minimizar a emissão de
resíduos eletroeletrônicos, desenvolvimento de consciência ecológica, realização de
manutenção de equipamentos, treinamento técnico” (Oliveira, 2015), entre outros.
Composto por estudantes dos cursos Técnico em Informática, integrado, e Técnico em
Eletromecânica, subsequente, entre os meses de Outubro de 2015 e Maio de 2016, o grupo
realizou trabalhos de reciclagem de lixo eletrônico e manutenção de equipamentos na
Instituição.
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Percebeu-se durante a realização das atividades que, além de cumprir os objetivos do


Projeto, moldava-se uma conjuntura abundante de situações propícias à experimentação
prática das teorias estudadas em sala de aula. Emerge-se a concepção do emprego da
reciclagem de lixo eletrônico como ferramenta didática.
Fagundes (2007), citado por Reginaldo, Sheid e Güllich (2012), “tenta mostrar que a
experimentação pode ser um meio, uma estratégia para aquilo que se deseja aprender ou
formar, e não o fim”. Tal ponto de vista, no contexto onde se menciona, sugere a
possibilidade de se aplicar o instrumento didático proposto como artifício para a realização de
aulas excepcionais, de forma que se desenvolva teoria e prática, reciprocamente, em um único
momento.
A segurança para realizar as tarefas no campo de trabalho e o nível de qualidade do
egresso do ensino profissional depende, respectivamente, do quanto se exercita a prática na
formação e da quantidade de informações assimiladas no processo, bem como do empenho do
indivíduo.

Conclusão

A execução dos processos proporciona o envolvimento dos discentes em atividades


com ênfase no reconhecimento, análise e teste de dispositivos, componentes e sistemas
eletroeletrônicos. Constitui-se ainda uma oportunidade para o desenvolvimento de técnicas de
manutenção ou reparo, além do trabalho das habilidades para a execução de serviços de
soldagem e operação das demais ferramentas pertinentes à natureza da atividade.
Apresenta-se como válida ferramenta didática para a facilitação da aprendizagem e
fixação de conhecimentos, com ênfase no ensino de conteúdos voltados à eletroeletrônica, dos
cursos de formação técnica, profissional e/ou tecnológica. Colabora-se, dessa forma, com a
evolução dos processos educacionais, através da inserção de um método didático que propõe
facilitar o ensino nos cursos de formação profissional.
A atividade proporciona a disponibilidade de insumos reciclados para as atividades de
ensino, pesquisa e extensão, de maneira a atenuar os custos para a aquisição destes, fator
relevante, principalmente para as instituições públicas, que além de restrições financeiras,
possuem entraves burocráticos nos processos de compra.
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REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Minuta de


Resolução. Brasília, [2015]. 18p. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/proc
essos/4E1B1104/MinutaREEE_Recicladores.pdf>. Acesso em: 17 de Fevereiro de 2017 às
23h30min.

CARNETI, Luiz Augusto Batista; NAPP, Cristina. Relação teoria e prática no curso
Técnico em Agropecuária do IFRS – Câmpus Sertão. Santa Maria, 2013. 14p. Disponível
em: <http://coral.ufsm.br/sifedocregional/images/Anais/Eixo%2005/Luiz%20Augusto%20Bat
ista%20Carneti%20e%20Cristina%20Napp.pdf>. Acesso em: 05 de Março de 2017 às
21h44min.

CERQUEIRA, Jonir Bechara; FERREIRA, Elise de Melo Borba. Recursos Didáticos na


Educação Especial. Rio de Janeiro, 1996. 6p. Disponível em: <http://www.ibc.gov.br/revista
s/200-edicao-05-dezembro-de-1996>. Acesso em: 24 de Fevereiro de 2017, às 22h45min.

DEL GROSSI, Andreliza C.. Destinação dos resíduos de equipamentos elétricos e


eletrônicos (REEE) em Londrina – PR. Londrina, 2011. 11p. Disponível em: <http://www.i
beas.org.br/congresso/Trabalhos2011/III-014.pdf>. Acesso em: 01 de Março de 2017, às
22h25min.

OLIVEIRA, Fernando Carlos Ferreira de. Projeto Eletrociclar. Paulo Afonso, 2015. 7p.
Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B_C6Dx8egPl-Z08tOHpFVUI5ak0/view?us
p=sharing>. Acesso em: 08 de Março de 2017, às 22h50min.

REGINALDO, Carla Camargo; SHEID, Neusa John; GÜLLICH, Roque Ismael da Costa. O
ensino de Ciências e a experimentação. Caxias do Sul, 2012. 13p. Disponível em:
<http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/2782/286
>. Acesso em: 11 de Março de 2017 às 01h00min.

REIS, Agnes Berdine Fonseca. Investigação da forma de descarte de eletrônicos pela


Comunidade UFERSA-Campus Angicos. Angicos, 2014. 56p. Disponível em: <http://www
2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/270/TCC%20-%20BCT/2014-/TCC%20AGNES
%20CORRIGIDO.pdf>. Acesso em: 02 de Fevereiro de 2017 às 23h10min.

RUIZ, Marcelo. Transferência de paradigmas de ensino: História da didática no Brasil.


Rio de Janeiro, 2002. 43p. Disponível em: <http://www.avm.edu.br/monopdf/8/MARCELO%
20RUIZ.pdf>. Acesso em: 03 de Fevereiro de 2017 às 22h34min.

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