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Literatura Romana Aulularia Plauto
Literatura Romana Aulularia Plauto
AULULARIA
(T. MACCI PLAVTI, c. 250-194 AEC)
Por
WISLEY DO CARMO VILELA
Letras Português-Inglês
Rio de Janeiro, RJ – 2 0 13 /1
AULULARIA - PLAUTO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 3
3 AULULARIA ....................................................................................................................... 5
4 ANÁLISE CRÍTICA............................................................................................................. 8
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 11
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1 INTRODUÇÃO
As palavras acima, que podem ser lidas no epitáfio do comediógrafo latino Plauto,
do Século III AEC, dão testemunho da força e popularidade alcançadas pela comédia plau-
tina em seu tempo. Um breve exame da história da Literatura revela que Plauto não ape-
nas agradou as massas em seus dias, com sua comédia, mas também exerceu forte
Embora os críticos amiúde tenham julgado como rude a obra de Plauto, sua influ-
kespeare e Molière. BARBER C. (1964, p. 493) diz que “Shakespeare alimenta a vida
como Plauto havia copiado de seus modelos gregos. Segundo MARPLES M. (1938, p.2),
gens”.
Conhecendo os mecanismos de repetição do ciclo, aquele que compõe o faz sob in-
fluência daquilo que leu, ou que de outro modo tomou conhecimento, é fácil perceber que
influência de Plauto ainda haveria de ecoar nas obras de autores modernos. Teria sido o
mero acaso o que induziu o escritor português José Saramago a tratar do mito do duplo,
cujas raízes estão no mito grego de Anfitrião, em O Homem Duplicado (2002), que o co-
mediógrafo Plauto havia apresentado em O Anfitrião (194 AEC), 2192 anos depois?
bom texto literário encontra-se um fio da obra de Homero’, que ilustra bem o fenômeno
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2 SOBRE O AUTOR
Sabe-se ao certo que Plauto morreu em 184 AEC. A partir dessa data e da infor-
mação, dada por Cícero (CONTE, 2011), de que Plauto teria escrito a comédia Pseudolus
quando já era idoso, sabendo-se que a velhice, para os romanos, era contada a partir dos 60
anos de idade, infere-se que Plauto tenha nascido entre 255 e 250 AEC. O local de seu
nascimento é fixado por diversas fontes na pequena cidade da então Úmbria, Itália Central,
Romagna.
Para O'BRYHIM (2001, p. 149), a questão do nome do autor, sobre a qual pairam
muitas dúvidas, pode ser explicada pela adoção por Plauto dos nomes Maccius, nome de
estereótipo cômico comum na farsa popular atellana, e Plautus, termo que tanto pode sig-
nificar pés-chatos, quanto orelhas achatadas, como as de um cão. Parece, portanto, que o
É pouco o que se sabe sobre a vida de Plauto nos períodos anteriores à sua velhice.
Segundo CONTE (2011), Plauto não era de origem romana e era um cidadão livre. Conte
afirma ainda que relatos de que Plauto teria se submetido a trabalhos servis não passam de
invenções biográficas. Para MARPLES, M. (1938), Plauto teria trabalhado como carpin-
teiro na construção de palcos, ou como contrarregra, em seus anos anteriores, e isso teria
despertado nele o amor pelo teatro. DUCKWORTH (1942, p. XVIII) explica que, embora
as histórias da vida de Plauto (sobre como teria enriquecido com o teatro, investido o que
ganhou no comércio marítimo, perdido tudo e retornado a Roma, onde começara a escre-
ver suas peças enquanto trabalhava num moinho) tenham sido rejeitadas pelos estudiosos
dos métodos biográficos antigos, o conhecimento que ele detinha sobre cenografia, e seu
óbvio entendimento dos diferentes tipos da farsa popular, sugerem que ele havia tido uma
longa conexão com o palco, possivelmente como ator em farsas atellanas – acredita-se que
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em muitas delas como Maccus, o palhaço – antes de começar a escrever suas próprias pe-
ças.
Plauto foi o mais prolífico dos dramaturgos antigos, em termos de obras preserva-
das. Mais de cem comédias foram atribuídas a Plauto na antiguidade e vinte e uma delas
são aceitas como genuínas por todos os críticos. O grande erudito Varrão, do Século I
AEC, compilou a lista de vinte e uma peças autênticas e selecionou dezenove outras que,
com base no estilo, ele considerou serem plautinas. Embora a lista contenha vinte e uma
peças, um montante de vinte sobreviveu, visto que de Vidularia existem apenas fragmen-
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peças de Plauto. Para muitos críticos, é também a sua melhor. Ao passo que alguns estu-
diosos costumam indicar o período entre 195 a 186 AEC como possível data de composi-
estupro da filha de Euclião nove meses antes, na festividade de Ceres (no mês de agosto),
indicar que a peça foi produzida em abril, durante os jogos Megalesianos, a data da produ-
ção deve ser 194 AEC, ou depois, visto que os jogos Megalesianos só foram introduzidos
em 194 AEC. 1
mente na Nova Comédia Grega. A Menandro atribui-se a escrita de três ou quatro peças,
das quais qualquer uma poderia ser o original em que Plauto baseou sua Aulularia. Digno
nota é que alguns eruditos negam ter sido Menandro o autor do original em que Plauto se
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Sobre o ano de início da observância dos jogos Megalesianos, THORBURN, J. E (The Facts On File,
2005, p. 334) afirma que “os jogos Megalesianos, celebrados pela primeira vez em 204 AEC, eram realizados
em honra a uma divindade conhecida como Magna Mater (“grande mãe”). A partir de 194 AEC esses jogos
passaram a ser organizados em base anual”.
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3.1 PERSONAGENS
3.2 CENÁRIO
templo de Fides.
O Deus Lar, a deidade doméstica da casa de Euclião, dá início à peça com um Pró-
logo, explicando o motivo de ele ter permitido que o velho Euclião descobrisse uma panela
de ouro enterrada em sua casa, a saber, em consideração por Fédria, a filha solteira do ve-
lho avaro, que lhe prestava constantemente homenagem. Guardar a preciosa panela torna-
Euclião não sabe, mas Fédria havia sido violentada por um jovem chamado Licôni-
des e, em resultado, ficara grávida. No ínterim, Megadoro, o vizinho velho, rico e solteiro,
sob as instâncias de sua irmã, Eunômia, insiste com Euclião, até que este consente em dar-
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lhe a filha em casamento. Euclião se sente ameaçado pela presença dos cozinheiros contra-
tados para preparar a festa de casamento, que ele fantasia serem ladrões em busca de rou-
bar-lhe o ouro, e decide ocultar a panela no templo da Boa Sorte. “Abre o olho, abre bem
o olho, ó Boa Fé, a fim de que eu possa levar de tua casa a minha panela, sã e salva. À tua
a panela, e a rouba. Euclião desconfia de Estrobilo quando percebe que a panela desapare-
com Fédria, que leva no ventre um filho seu. Depois de aconselhar-se com sua mãe e pe-
dir-lhe que interceda em seu favor junto ao tio, Megadoro, para que desista do casamento
com Fédria, Licônides sai à procura de Euclião para confessar seu erro e pedir a este lha dê
em casamento. À medida que ouve o que diz Licônides, Euclião, que só tem pensamentos
para sua panela perdida, imagina que o erro que Licônides confessa é o roubo de seu ouro.
O diálogo com linhas cruzadas de pensamento enseja momentos hilários. Logo depois de
seu amo, que lhe descobre o roubo e o ameaça de severa punição, caso não faça a devolu-
ção.
A parte final da Aulularia original perdeu-se. Atribui-se a Codro Urceo, sábio lati-
nista do Século XV, a reconstituição do final do Ato V, valendo-se das informações cons-
tantes do Prólogo, dos Argumentos e de versos citados por um gramático. Essa parte final
dá conta de que Estrobilo, forçado por seu amo, devolve a Euclião a panela de ouro. Eucli-
ão, envolto pela felicidade do reencontro com sua possessão, finalmente dá honra ao Deus
Licônides a filha em casamento, como lhe presenteia com a preciosa panela. Este, por sua
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4 ANÁLISE CRÍTICA
A avareza tem sido considerada o veio central de Aulularia. Ela retrata um pobre
diabo que sofre o mal de “termos mais dinheiro do que nos é necessário”. (v. 890)
DUCKWORTH (1942, p. 117) argumenta que Euclião apenas pode ser considerado avaro
com reservas. Sua maldade não resulta de inata e insaciável ganância. Antes, é o resultado
famosa adaptação da Aulularia, o Harpagão é um verdadeiro avaro, do tipo que arruína sua
lhe dirige a palavra, sua reação é de cautela: “aí há coisa; um rico com adulação para cima
de um pobre…” (v.180-4); “não acredito em rico que se desfaz em amabilidades para com
um pobre” (v. 195). De certo modo, Euclião está para seus escravos, como Megadoro para
Euclião. Sua condição de miséria inicial é apenas relativa, pois herdara uma casa, tem ser-
vos e, ao encontrar o tesouro escondido, tem em mãos o dote de casamento para sua filha.
Ainda assim, não é com palavras afáveis que se dirige aos que ocupam lugares inferiores ao
seu na grade social. Ao contrário, as ameaças contra Estáfila, como “por Hércules, que eu
te vazarei esses olhos, sem vergonha” (v. 55), são uma amostra da dureza com que os trata.
O que torna Euclião verdadeiramente pobre não é a sua carência de recursos mate-
riais. Sua maior carência está na pobreza de seu espírito e na ganância que controla seus
pensamentos e ações. Quando o possuir mais dinheiro do que realmente necessita lhe a-
contece, sua fixação pela ideia de proteger seu tesouro o cega ao ponto de sequer perceber
Na cena do reencontro de Euclião com sua panela de ouro, ele se regozija com sua
“querida panela”. “Teu velho amigo aperta-te alegremente em seus braços e beija-te do-
cemente! Oh, minha esperança! Oh, meu coração! Acaba-se a minha desgraça.” (v. 880) De
modo divertido, hilário, Plauto aborda uma questão tão antiga quanto o registro histórico
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cônides sagazmente conclui que, embora a carência seja culpada de levar as jovens à prosti-
tuição, os homens ao roubo, e os velhos à mendicidade, pior, muito pior, é o ter mais do
ser que o rico sofre por antecipação a perda de seus bens, que cedo ou tarde acabará por
acontecer e, por isso, simplesmente não tem paz. Quem tem muito, muito tem a perder.
Esse pensamento está presente em outros escritos antigos, como é o caso, por e-
xemplo, das palavras atribuídas ao escritor bíblico Agur, que declarou “Não me dês nem
pobreza nem riquezas. Devore eu o alimento que me é prescrito, para que eu não me farte
e realmente te renegue, e diga: ‘Quem é Jeová?’ e para que eu não fique pobre e realmente
Euclião uma mudança instantânea e radical, motivada pelo reconhecimento de que pessoas
são mais importantes do que coisas e que o partilhar lhe trará mais segurança e felicidade.
Plauto induz à reflexão sobre o que é ser bom. Ninguém é de todo bom, e ninguém é de
todo mau. Além disso, pessoas podem mudar de acordo com o tratamento que recebem.
nides contra Fédria, que sequer sabe quem a violentou durante a festividade de Ceres. A
filha de Euclião, curiosamente, sequer sobe ao palco, mas aparece apenas em quatro brevís-
A devoção da jovem é descrita pelo Deus Lar, no Prólogo, pela qual ele a recom-
pensa com o casamento com o jovem Licônides. Para os padrões das sociedades do mundo
ocidental moderno, a bênção do Deus Lar seria, antes, uma maldição. Ao passo que o en-
redo da comédia plautina, no que diz respeito ao tratamento dispensado a Fédria, encontra
paralelo na realidade daquele tempo, não se deve desperceber que um julgamento de valor,
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tal como a atribuição do rótulo ‘sociedade machista’ ao mundo romano daquele tempo,
mente, isso não significa que mulheres fossem seres inferiores. Também não significa que
injustiças e excessos não tenham sido cometidos. Infelizmente, isso é parte do lado obscu-
ro da história da humanidade.
Ainda assim, a figura feminina era venerada na forma de deusas, o que evidencia
importantes mulheres. É o caso de Eunômia, matrona irmã de Megadoro, que exerce forte
do-o a abrir mão de casar-se, em favor de seu próprio filho. Há também a velha escrava
lher. O diálogo entre Megadoro e Euclião (cena V, vs. 475-535) sobre as ‘futilidades’ e as
despesas com coisas ‘desnecessárias’ exigidas pelas mulheres, revela os modos diferentes em
que mulheres e homens encaravam o mundo, diferenças essas que ainda persistem nas
humana de olhar para si mesmo e, através do riso, do cômico, do hilário, revelar seus pon-
tos débeis e sua capacidade de evoluir. É também evidência de que as mudanças que dese-
Nas palavras de George Duckworth, “o drama é uma das mais universais formas da
expressão humana. Cada tempo tem sua própria convenção cênica, suas próprias teorias
sobre a técnica dramática, mas os temas básicos da grande comédia permanecem os mes-
mos, pois lidam com a natureza humana e com a vida.” – The Complete Roman Drama.
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BIBLIOGRAFIA
http://www.thelatinlibrary.com/plautus/aulularia.shtml
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