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CXC: Palestra em 20/02/2008 - H.

MARINHO: ECO "C58" - DEFESA DOS DOIS CAVALOS


<> Variante Kieseritsky <>
              A ECO indica que as duas linhas principais têm
 inicio com o lance do texto :
Lance de Chigorin, este foi o motivo para Bronstein a) Variante Yankovich: ; e
sugerir que se denomine a atual Defesa dos Dois Ca- b) Variante Maroczy: .
valos como Contra-ataque Chigorin. O que vamos estudar no momento é o sacrifício es-
 peculativo do  após .


ECO "C58" - Torneio ACEC
Henrique Marinho - Alexander Wolfensberger
 Campinas, 24/04/1964

              
 

 
 
 
 
 
D1: Variante Kieseritsky - 6.d3 
A linha preferida de Andersen e Steinitz inicia-se 
com , que hoje é considerada a linha principal
da Defesa dos Dois Cavalos: . Se-

guem-se agora duas grandes subdivisões:  (Va- 
riante Normal) ou  (Variante Bogoljubow).
O lance do texto, 6.d3, é o lance constitutivo da Va-

D3: Sacrifício de Bronstein - 8.dxe4
riante Kieseritsky. Esse lance aparece pela primeira
vez, como sugestão, no "Magdeburg Schachzeitung" O lance 8.dxe4 foi elaborado por Bronstein quando
de 1849 (Sergeant, P. W.; Morphy's Games of Chess; se preparava para enfrentar A. Royan nas Olimpíadas
Dover Publications; New York 1957; p. 141). Segun- de Moscou de 1956. Em suas palavras: "No transcur-
do o "American Chess Monthly" de maio de 1858 (id so da preparação de minha partida com o mestre no-
pp. 129 e 141), o lance 6.d3 era o preferido de Mor- rueguês Royan, me deparei com uma idéia curiosa
phy sobre o qual dizia ser "o único lance com o qual o fundamentada na potência dos peões móveis. Neste
primeiro jogador preserva sua vantagem" (id). momento me recordei que Morphy gostava da Vari-
Moral da história: essa preferência de Morphy é um ante 6.d3; abri o livro de coleção de suas partidas e
forte indicador de que 6.d3 tem potencial para ser res- em nenhuma das quais em que fora jogado esse siste-
tabelecido ou trazido da história para a prática mo- ma de abertura pude encontrar o movimento 8.dxe4.
derna como faziam principalmente Fischer e Consultei meus companheiros de equipe que me
Kasparov. aconselharam que jogasse. A audaz idéia das brancas

resultou ser uma arma perigosa; ante a pressão de
 seus peões as peças negras vacilaram e iniciaram uma
 lenta retirada às suas próprias posições (Bronstein;
D.; 200 Partidas Abiertas; Ediciones Martinez Roca;
 Barcelona 1975; p.71). Foi o conhecimento desta par-

 tida que me levou a também testar esse sacrifício


especulativo.
 Como contou Bronstein (ob. cit. p. 71), após a par-

 tida Royan lhe havia perguntado: "- Você se descui-


dou do bispo?" ). Curiosamente a mesma cena aconte-
 ceu comigo! Ao dar meu lance sacrificando o bispo

 levantei-me da cadeira, assim como se tivesse dado


um lance normal, quando alguns dos participantes, a
 boca pequena, me questionaram: "- Você não viu que

 perdia o bispo tomando aquele peão?"


D2: Variante Normal 
1
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<> Variante Kieseritsky <>
Meu adversário também estava pensando que eu me Embora o lance do texto seja o mais praticado, a ser
descuidara do bispo em c4! Conhecendo a partida de considerado outros dois:
Bronstein e vendo meu adversário desinformado, pen- ------a)
sando no contrário do que acontecia, vi que havia na ---------- a1) 
partida um clima favorável ao "xadrez dinâmico"! --------------a11)   Christopher - Alderdent,
 Neederland Corr. 1989: 
Aceitar o sacrifício é o caminho natural, pois se  
      ganhando 
um peão em posição superior. 
      
O lance mais jogado, mas há outras possibilidades:           
        
------a) 
---------- a1) . Sonora - Rodriguez, Buenos 
Aires 1990:  --------------a12) Triana - Rojas, Cienfuegos
 1976: 
                
       
              
        
       
---------- a2)  Cotten - Marjanovic, USA 1985:
       
         
          
         
       ------b)  recomendado por Rybka, curiosamente
        busca antecidadamente quebrar ou dificultar a forma-
 ção da massa de peões brancos em cunha: 
 (ou 
 
---------- a2) . Evertsson - Lardot, Stockholm  Nas duas possibilidades ne-
2000:         gras se mantém superiores.
 
       
        
       
 
------b) . Maarten - Timmerman, Netherland
ChT, 1992: 

        
       
         
       
       

      


 
 
 

D5: Após 10.c4

 10 ...c5
------a) 
 ---------- a1) 
 --------------a11) Matskevich - Romanovsky, Kharkov
1956: 
 
 
       
        
      
    

D4: Após 

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CXC: Palestra em 20/02/2008 - H. MARINHO: ECO "C58" - DEFESA DOS DOIS CAVALOS
<> Variante Kieseritsky <>
       
 
     
    
   
        

 . Esta partida foi disputada na Semifi- 
nal ao 24.º Campeonato da URSS, na cidade de Kha-
rkov, muito provavelmente em novembro/dezembro

de 1956. A Olimpiada de Moscou ocorreu entre 31/8 
a 25/9/1956, portanto dois meses antes da Semifinal
de Kharkov. Este fato confirma que o sacrificio bispo

em c4 foi mesmo inventado por Bronstein e logo a se- 
guir empregado por Matskevich nesta sua partida
contra Romanovski! 
--------------a12)  
-------------------a121) Drechsler - Horspool, Open D6: Momento estrategico crítico
Barcelona 1996:        
 
         Na citada partida Bronstein-Royan, Olimpíadas de
 Moscou 1956, seguiu-se com:  depois do
 qual Bronstein vence com um forte jogo posicional:
       
-------------------a122) Manea - Sofronie, Roma 2001:        
                   
          
         
 
 
----------a2)  Rybka propõe o forte lance  (-1.03) que for-
--------------a21) Persidsky - Svetlov, Corr 1959:  ça brancas ao ataque "à outrance", uma forma sempre
       condenada por Capablanca, depois do qual com 
  (ou )  por exem-
       
        plo:      
 
 negras aumentam
 sua vantagem (-1.19).
--------------a22) Rerabkova - Martinkova, Czech Re- Posicionalmente o lance do texto, , parece
public (cadets) 1994:      lógico ao mostrar um plano de restrição do centro
        branco em e5 com peças () e peão ()
       para, após o término do desenvolvimento (O-O), ata-
       cá-lo com a ruptura , trocar peças e entrar num fi-
       
nal com vantagem material. Em 1964 eu estava em
       
       plena época do "xadrez dinâmico" o qual acentuava a
 parte psicológica da estratégia. No caso desse plano
----------a3)  Arens - Doplmayr, Theme Corr negro havia o seguinte substrato psicológico: jogar de
1996:        forma restringida, certinha e controlada é fugir do
        "caos do xadrez dinâmico" (ou "caos talniano"; ou
        "caos shiroviano")! Sendo assim, o sacrificío do ,
       que já transitava pela linha de menor expectativa,
 também já estava produzindo os seus efeitos indesejá-
------b)   Clough - Thomas, Bath 1963: 
veis (desequilíbrio psicológico) no jogador de negras.
  
        A contraprova, hoje podemos dizer, é a fuga do "caos
 do xadrez dinâmico" eviando jogar, por exemplo, a
        sugestão de Rybka 11 ...g5!
         De modos que, considerando a estratégia também
        de seu momento psicológico, percebe-se que há um
        palco montado na partida o qual deve ser bem usado,
      
 por exemplo, intensificando o "rítmo" da partida,
 como preconizava o velho "xadrez dinâmico"!

3
CXC: Palestra em 20/02/2008 - H. MARINHO: ECO "C58" - DEFESA DOS DOIS CAVALOS
<> Variante Kieseritsky <>

Novamente Rybka oferece   como o lance 
mais enérgico.


Um sacrifício de peão que faz cair em 47% a vanta- 
gem negra (de -1.19 para -0.56). 

Como é um sacrifício brancas estão novamente co-
locando o "caos do xadrez dinâmico" (ou "caos talnia-
no" ou "caos shiroviano") para negras se decidirem!


Provavelmente a perspectiva de brancas1 levou 
negras a não aceitarem o peão, mas segundo Rybka,
justamente  (o melhor) ou  leva-

riam à igualdade. 
Negras se mantendo evitando complicações refor-
çam todas as avaliações que tinha da parte psicológi-

D7: Após 
ca da estratégia negra.
 O melhor para negras seria aceitar o sacrifício com
Um sacrifício duvidoso relativamente às alternati-  ao qual seguiria   
vas operacionais 15.a4 ou 15.b3 ou , dentro da      e, se-
receita posicional de Bronstein, e com a vantagem ne- gundo Rybka, brancas já estão superiores com o índi-
gra mantendo-se em torno de -0.60. Por outro lado, o ce 0.50. O lance do texto é a segunda opção de lance
sacrifício é "correto" pois, sendo o terceiro em apenas dada às negras por Rybka.
15 lances, incrementa o rítmo caótico do xadrez dinâ- 
mico, exatamente o que buscam brancas e negras ten- Rybka oferece a variante    
tam evitar!  e a vantagem branca já é de 1.03.
 
Rybka demonstrou que o óbvio 15... gxh6 apenas Negras seguem a terceira opção do Rybka (1.41).
mantém o statu quo da partida após   Se Melhor seria  (1.00 Rybka) ou  
  empate, significativo por revelar (1.16 Rybka). Por exemplo, Rybka: 
que negras "jogam para ganhar 'pensando' na vitó-        (1.00
ria", ou seja, desejam ganhar sem se arriscar! Rybka).
Este comentário é particularmente importante no 
esclarecimento da parte psicológica da estratégia, um Melhor seria     
assunto praticamente relegado às traças pela literatura    (1.50). Com o lance do
especializada.)  texto brancas aumentam sua vantagem (2.34 Rybka).
 (-0.70). 
 Rybka: 
Para manter a vantagem o correto seria agora  (2.34).
      
 (-1.28 Rybka). Rybka:  (2.00)
Com o lance do texto brancas igualam a posição, 
uma frustação para negras, que deseja ganhar "posici- Este lance, segunda opção Rybka, tem o mesmo va-
onalmente" sem se arriscar! Provavelmente neste erro lor 1.03 da primeira opção  seguido de .
esteja o início da derrocada negra! 
 
Negras provavelmente não perceberam a existência Deixando a captura para depois, foi jogado para
desta captura que, ao mesmo tempo, se realiza defen- evitar Ne4+ e ameaçar capturar o .
dendo a . Talvez a causa da "cegueira eventu- 
al"tenha sido o embaralhamento produzido pela Se   
"ameaça" do empate por xeque perpétuo anteriormen-        
te analisada!  ganhando (4.12 Rybka).
De todas as formas, agora a partida está rigorosa- 
mente igualada (0.00 Rybka) e os planos devem ser Para ganhar tempo no relógio.
reformulados, principalmente por negras. 
 Ameaçando .
Agora para sacrificar o peão b2 
  1-0

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