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de-informatica-fosse-gerida-pelos-alunos

Publicado em NOVA ESCOLA 21 de Junho | 2016

Blog Tecnologia na Educação

E se a sala de informática
fosse gerida pelos
alunos?
NOVA ESCOLA

Foto: Shutterstock

A recente ocupação de escolas em diversos estados me levou a pensar que esse


espaço deveria ser sistematicamente ocupado pelos alunos. Afinal, seus
ambientes estão a serviço de objetivos maiores: possibilitam que meninas e
meninos interajam com o universo que os cerca, compreendam as diversas
relações que se estabelecem a partir deles e conheçam as diferentes maneiras
de eles serem preparados.

Com os recursos tecnológicos digitais da informação e da comunicação, que


fazem parte do patrimônio escolar, não é diferente. Digitais ou analógicos, são de
todos e para uso de todos. Portanto, é importante que o uso desses materiais,
assim como sua organização, sejam objeto de planejamento por parte da gestão.

Antes, no entanto, é preciso superar a seguinte dicotomia: o uso pelos alunos


versus a preservação do patrimônio. O mais importante sempre deve ser o
acesso dos estudantes aos materiais. Cabe à gestão, portanto, encontrar
estratégias que garantam uma vida mais longa a esses recursos.

Hoje, a forma mais usual de organização dos equipamentos tecnológicos na


escola é em um único espaço, normalmente chamado de sala de informática, o
que permite que apenas um determinado e restrito número de alunos participem,
por vez, das atividades.

Há, no entanto, outras formas de distribuição que podem colaborar para um


envolvimento maior da comunidade escolar na gestão dos recursos.

Uma delas é a implantação do aluno-monitor. Nesse projeto, um grupo de


alunos, que poderia estar na escola no contraturno, fariam a gestão do uso
coletivo dos espaços e dos equipamentos, coordenados por um adulto referência.

O adulto referência, que pode ser um professor ou funcionário, terá como


atribuição formar os alunos e alunas que atuarão como monitores – incluindo o
entendimento sobre o que é público e privado – e construir com eles as
estratégias para a utilização do ambiente. Esse educador também deverá ajudar
os colegas que não têm tanta intimidade com recursos tecnológicos. Mas, veja, a
ideia não é que ele seja o único responsável pela sala, portanto, ele não é o dono
da chave, nem dos equipamentos. Sua função é colaborar na gestão e na
construção relacionada à responsabilidade sobre o uso coletivo.

Outra possibilidade é fazer parcerias com instituições que oferecem cursos


tecnológicos. A Secretaria do Estado de São Paulo, por exemplo, tem o programa
Jovem Tec. Nele, alunos de Ensino Médio podem fazer um estágio nas escolas
na área de tecnologia. Para isso, eles recebem capacitação de empresas do
setor. Assim, eles auxiliam os professores das salas de informática e
desenvolvem competências socioemocionais importantes nas relações
interpessoais.

Uma experiência muito interessante de uso compartilhado desse espaço foi


realizada pelo diretor Rodolfo Pauzer, da EMEF Rui Bloem, no bairro de Pirituba,
em São Paulo. Quando chegou à instituição, em 2011, ele encontrou cerca de 20
computadores entulhados em um depósito, depois de serem substituídos por
máquinas mais novas.

“Junto com o restante da equipe gestora, decidimos que em vez de ficarem


parados, os equipamentos poderiam continuar sendo usados por toda a
comunidade escolar – alunos, professores e funcionários – tanto para atividades
pedagógicas, como também para aproximar do mundo digital aqueles que não
tinham familiaridade com o computador ou com a internet. Foi um verdadeiro
sucesso reativá-los e oferecê-los a todos. O momento do recreio mudou por
causa disso, já que eles passaram a ficar dispostos no pátio, próximo ao
refeitório. Foi uma verdadeira aula de cidadania e de preservação do patrimônio
público – nunca precisamos distribuir senhas e em dois anos, precisamos trocar
apenas três mouses desgastados pelo próprio tempo de uso”, conta o diretor.
Inspirada pela iniciativa do Rodolfo, no final de 2011, realizei a mesma ação na
escola onde atuava como diretora. Nos primeiros dias, claro, foi um alvoroço!
Afinal, era a primeira vez que os alunos acessavam livremente os computadores,
que não tinham senhas, nem cadeados. Mas ao longo de dois anos que
acompanhei a proposta ser desenvolvida, somente um mouse sumiu – e, pouco
tempo depois, foi devolvido. Na nossa experiência, os estudantes eram
responsáveis por gerenciar o acesso durante o intervalo das aulas e a mediação
era realizada, principalmente, pelos inspetores de aluno e alguns professores.

O processo demandou inúmeros debates, mediações e concessões, o que gerou


uma reflexão crítica muito rica sobre o compartilhamento de espaços e de
materiais. E, no final, o que percebemos é que a qualidade do uso do patrimônio,
tanto no aspecto ético quanto no técnico, é decorrência da consciência sobre o
uso responsável dos recursos.

E você, educador, como organiza o uso do patrimônio tecnológico da sua escola?


Compartilhe sua experiência!

Abraços e até o próximo mês,

Jane Reolo

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