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MASCHA BLANKENBURG E AS MULHERES NA REGÊNCIA

Recensão do livro Dirigentinnen im 20. Jahrhundert: Porträts von Marin Alsop bis Simone Young

Andréa Huguenin Botelho, Universidade Nova de Lisboa


Novembro, 2020
MASCHA BLANKENBURG E AS MULHERES NA REGÊNCIA
Recensão do livro Dirigentinnen im 20. Jahrhundert: Porträts von Marin Alsop bis Simone Young
Andréa Huguenin Botelho
Doutoranda em Ciências Musicais
Prof. Rui Vieira Nery

Dirigentinnen im 20. Jahrhundert: Porträts von Marin Alsop bis Simone Young,
publicado em 2003, foi um dos livros que marcaram a história da musicologia feminista
na Alemanha. Para escrevê-lo, a regente Elke Mascha Blankenburg se debruçou sobre o
trabalho e a vida de outras profissionais do seu ramo, coletou depoimentos e biografias e
traçou paralelos com a própria história. O livro foi idealizado e organizado no intuito de
funcionar como referência biográfica e abrir espaço de trabalho e pesquisa sobre a
musicologia feminista, especificamente, no que tange às mulheres na regência. Passados
quase vinte anos da sua publicação, temas trazidos à tona por ela, como a discriminação
e a desigualdade profissional ainda permanecem atuais e controversos.

A decisão de fazer, em língua portuguesa, a recensão de um livro escrito em


alemão, tem o propósito de apresentar a contribuição de Blankenburg ao feminismo
musicológico na maestria orquestral. Além da análise crítico-literária, serão expostos
breve preâmbulo contextual acerca dos estudos musicológicos na esfera feminista assim
como dados biográficos da autora.

1. Preâmbulo - Estudos musicológicos na esfera feminista

A história das mulheres na música estava, até a década de 1970, sob um terreno
encoberto – era uma história não dita. As instrumentistas, as maestras, as compositoras,
assim como outras profissionais do setor, pouco apareciam nos livros de história.
Especialmente, no caso das compositoras, raramente suas obras são tocadas ou ensinadas.
É como se tivessem sido subtraídas da nossa memória, e, a imagem que ainda prevalece
é como se nunca houvessem existido ou existissem. Não raro, musicistas relatam que
jamais foram apresentados à composições de mulheres. A exemplo da minha experiência,
não tive acesso ao estudo de obras de compositoras durante a formação como pianista e
regente orquestral.
Os estudos musicológicos feministas ganharam impulso entre as décadas de 1970
e 1980, quando passaram a se ocupar em dar respostas a lacunas como: onde estariam as
mulheres durante todos os períodos da música? o que faziam? sua importância? por que
foram elas apagadas do cânone? Segundo a musicóloga Susan Cusik, está bem claro que
muitos dos trabalhos canônicos que representaram a mulher, o fizeram de forma misógina
institucionalizada1.

A musicologia feminista surge com a finalidade de recontar essa história e, assim,


corrigi-la. A proposta era dar lugar e vez às biografias daquelas mulheres, assim como
ouvir a sonoridade das suas criações que foram emudecidas por tantos séculos, em razão
das frequentes discriminações. Na sequência, essa corrente de pensamento ampliou o
campo de análise e de crítica social sobre as relações da vida de compositores com suas
obras, sobre problemas morais que obras musicais podem suscitar na sociedade ao
transpassar questões raciais e misóginas sob o manto velado da palavra “música”, e até
sobre o uso de terminologias inapropriadas na teoria musical.

Desde então, vários nomes emergiram, trazendo publicações que contribuíram


para retratar a mulher na música. A estudiosa americana Susan McClary, com o seu
Feminine Endings2, livro de 1991, é um exemplo. O livro, dos mais famosos da autora,
foi considerado um dos pioneiros dos estudos de gênero na música, por denunciar, com
argumentos fundamentados, os aspectos sexistas na seara musical.

A orquestra representa a organização musical que oferece mais prestígio na


cultura ocidental e, subir ao pódio “comandando” um exército de músicos, na visão
patriarcal, não cabe a uma mulher. Estar à frente de orquestras era impensável até o início
do século 20 – para isso, foi necessário derrubar o “Mito Maestro” – o líder forte e
soberano, cuja imagem de poder só poderia ser representada por homens. Para assumir
essa posição, exigiu-se muita determinação e perseverança para as mulheres. Karin
Pendle descreve em Women in Music passagens dessa luta. No século 19, a arte da
regência emergiu. Maestros eram designados para a tarefa de interpretar obras musicais

1
Cook, Nicholas., and Everist, Mark. Rethinking Music. 482. Repr. with Corr. ed. Oxford: Oxford
University Press, 2001.
2
Susan Mcclary, Feminine Endings : Music, Gender, and Sexuality (Minneapolis, Minn: University Of
Minnesota Press, 2010).
além dos compositores, como era usual. Segundo Pendle, mulheres não eram admitidas
sequer às classes de regências como aprendizes ouvintes3.

As pesquisas musicológicas feministas colaboraram nesse campo fornecendo


descobertas impressionantes, como a contida na publicação da americana J. Michele
Edwards. Segundo ela, as mulheres são regentes há muito mais tempo do que podemos
imaginar. A descrição mais antiga de um regente de bastão (em 1594) é de uma mulher.
Assim como muitas mulheres regentes do início do século XX, a maestra do convento em
San Vito em Ferrara conduzia um conjunto exclusivamente feminino4.

O século 20 foi marcado pelo início da derrubada dos muros nesse campo
profissional. Hoje, mesmo com muito ainda por fazer, as mulheres do final do século 20
e século 21 usufruem do trabalho percorrido por muitas pioneiras, conquistando o
merecido espaço e respeito à frente de grandes orquestras. Entre as desbravadoras da
Alemanha está Elke Mascha Blankenburg.

2. Elke Mascha Blankenburg e o livro

A alemã Elke Blankenburg (1943-2013), além da sua genialidade e talento como


maestra5, deixou um considerável legado para a história do feminismo na música. Seu
trabalho na luta por equidade de direitos para mulheres na música, em especial, regentes
e compositoras, passa, obrigatoriamente, pela própria biografia. Em seu percurso
profissional, Blankenburg sofreu vários constrangimentos por conta da misoginia. Entre
muitos dos seus relatos, está a discriminação e as reiteradas humilhações vindas do
professor e dos colegas, no ano de 1973, durante um curso de verão na classe do professor
Hans Swaroswky, em Viena.

3
Karin Pendle, Women & Music : A History (Bloomington: Indiana University Press, 1991).171

4
Edwards, J. Women on the Podium. Chapter. In The Cambridge Companion to Conducting, edited by
José Antonio Bowen, 220–36. Cambridge Companions to Music. Cambridge: Cambridge University
Press, 2003. doi:10.1017/CCOL9780521821087.017.
5
O termo maestrina tem sido refutado pelo significado pejorativo que carrega discriminação e
desigualdade: em italiano, por exemplo, designa “professorinha”, sem grandes qualificações. O assunto é
recorrente em todos os simpósios de mulheres regentes. Especialmente, o simpósio de 2020 reuniu mais de
900 colegas de trabalho e foi realizado, concomitantemente, com a competição La Maestra, em Paris,
quando ficou acordada, entre a categoria, a utilização somente do termo maestra.
Uma das precursoras do feminismo musicológico alemão, ela organizou festivais
para a divulgação de obras de compositoras, foi uma das fundadoras do Archiv Frau und
Musik6, que consta, atualmente, como o maior acervo de composições escritas por
mulheres da Europa. A inspiração para a elaboração desse arquivo veio na sequência de
um artigo que Blankenburg escreveu, em novembro de 1977, intitulado Vergessenen
Komponistinnen (em português, Compositoras Esquecidas) para a revista Emma7. Além
do arquivo, fundou a associação Internationales Arbeitskreis Frau und Musik8, um dos
movimentos mais relevantes para o feminismo musicológico na Alemanha, do qual
Blankenburg foi a primeira presidente.

Entre seus inúmeros empreendimentos, está o livro Dirigentinnen im 20.


Jahrhundert: Porträts von Marin Alsop bis Simone Young9. Ele está entre um dos
mainstreams sobre o tema, voltado exclusivamente às mulheres na regência. A publicação
em 2003, pela editora independente Sabine Groenewold, em Hamburgo, foi destaque no
movimento feminista musical na Alemanha. Até então, ninguém havia feito um trabalho
de catalogação sobre maestras semelhante à de Mascha Blankenburg.

Dedicada em trazer a público a vida de mulheres regentes que ultrapassaram


obstáculos e dificuldades, com disciplina, competência, engajamento e paixão,
Blankenburg consultou cerca de 500 colegas de profissão, num primoroso trabalho de
pesquisa durante dois anos. Deste grupo, Blankenburg selecionou 79 maestras, das quais
43 foram detalhadamente retratadas e outras 36 apresentadas em breves biografias.
Numa minuciosa introdução de 25 páginas, com peso e consistência de um
capítulo completo e bem-acabado, Blankenburg apresenta um material de singular
referência de pesquisa musicológica, em que descortina a posição das mulheres na
música, especialmente centrado no empenho das maestras, que, ainda hoje, têm que lutar
contra a resistência do machismo. Com escrita clara e direta, Blankenburg cativa e
mantém a permanente atenção e interesse do seu leitor.

6
https://www.archiv-frau-musik.de/
7
Emma é uma revista feminista alemã fundada em 1977, https://www.emma.de/lesesaal/45142
8
https://www.archiv-frau-musik.de/en/verein-iak-frau-und-musik
9
Tradução livre: Maestras no século 20: Retratos de Marin Alsop até Simone Young.
A introdução levanta pontos como as barreiras que as mulheres precisaram
ultrapassar para terem acesso à formação e a preferência das mídias, que, quase sempre,
privilegiam o que há de sensacional e exótico no mito de “a primeira mulher a reger”, em
detrimento da informação criteriosa a respeito das qualidades, ou da falta delas em uma
performance musical. Para ilustrar a situação recorrente de quase todas as regentes de
destaque, o texto inicia com a famosa resposta que Nadia Boulanger, em entrevista, deu
a respeito de como se sentia, na qualidade de mulher, a reger no pódio: “quando eu estou
à frente de uma orquestra, eu nunca penso se sou mulher ou um homem; simplesmente,
faço o meu trabalho10”

As adjetivações relativas ao gênero interessam mais à imprensa do que aquelas


relativas à competência profissional. A autora nos abastece com inúmeros casos, como o
da grega Sylvia Caduff, que substituiu Herbert von Karajan na Filarmônica de Berlim,
durante um concerto, em outubro de 1978. Na época, a mídia alemã ressaltou ser ela a
primeira mulher a reger essa orquestra11, o que Blankenburg contesta, pois antes de
Caduff, Lise Maria Mayer, Antonia Brico e Marta Linz estiveram à frente da Filarmônica
de Berlim. A autora considerou o pioneirismo sob outra ótica: todas, incluindo suas
jovens colegas, estão fadadas à condição de “primeiras”, devido às reiteradas dificuldades
de se abraçar o ofício da regência – dificuldades essas que se estendem até o presente.
Não por outra razão, o atributo de “a primeira” ficou fora das descrições biográficas do
seu livro12.
“selbst die jüngsten Kolleginnen sind noch Pionierinnen
und bei irgendeinem Orchester mit Sicherheit die erste13“

Um item pertinente mostrado por Blankenburg são os dados estatísticos de


mulheres à frente de orquestras, na Alemanha. Nas 76 casas de ópera do país, somente 2
maestras ocupavam a posição de direção artística. Em orquestras sinfônicas, os dados
comprovam a gravidade da desigualdade – das 34, somente 1 mulher era regente.
Blankenburg ressalta que, em 25 anos, apenas 7 mulheres ocuparam o cargo de chefe-

10
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 9.
11
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 11.
12
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 11.
13
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 11. Tradução livre da citação: “até mesmo as colegas mais
jovens são ainda pioneiras e para alguma orquestra certamente a primeira.”
diretora de orquestras. Vale sublinhar que os números apresentados são referentes a 2003,
ano de publicação de seu livro.

Desde o século 15, aproximadamente, era corrente os compositores regerem as


próprias obras. Compositoras, também. No livro de Blankenburg, por exemplo, consta a
italiana Francesca Caccini (1587-1640), que regeu a première da sua ópera cômica La
Liberazione di Ruggiero dall’isola d’Alcine, durante uma visita do príncipe polonês
Wladislav II a seu país. Outros nomes se juntaram ao seu, como o da francesa Elisabeth
Jacquet de la Guerre (1665-1729) e da austríaca Marianna Martinez (1744-1812), além
das alemãs Fanny Hensel (1805-1847) e Johanna Kinkel (1810-1858). No caso de Kinkel,
especificamente, existem possíveis indícios de que ela tenha sido, antes de Hans von
Bülow, a primeira regente alemã a se dedicar à interpretação de obras de outros
compositores, como Mozart e Händel14.

O livro é repleto de passagens que contam as dificuldades experimentadas por


estas mulheres, simplesmente por terem decidido seguir uma carreira contaminada pela
discriminação, notada desde o desejo, passando pela formação e prosseguindo, sem
pausa, pelas oportunidades de trabalho. Na seção dedicada às biografias – posterior à
introdução e sob o sugestivo título de Portraits – a polonesa Angnieska Kreiner
mencionou sobre o quanto gostaria de ter completado seus estudos de regência com
Henryk Czyz15. No entanto, ela foi rejeitada por ele simplesmente por ser mulher.

Outro caso é o da maestra húngara Olga Géczy que, embora tenha sido aceita
como aluna na classe de Andreas Korodi, pela Ferenc-Liszt-Musikakademie em
Budapeste, foi, por ele mesmo, desencorajada a prosseguir, por não acreditar que uma
mulher fosse capaz de atingir o posto de regência orquestral16. A alemã Cosima Osthoff,
quando estava cogitando estudar regência, foi fortemente aconselhada a prestar prova em
outra área, pela notória impossibilidade de o posto de regente de orquestra ser ocupado
por uma mulher17. Já a suíça Marie-Jeanne Dufour, depois de aprovada para ocupar a

14
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 15-18.
15
Henryk Czyz (1923-2003) foi um aclamado maestro e professor de regência polonês.
16
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 103.
17
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 181.
disputada vaga de regência, na Hochschule für Musik em Berlim, foi descartada, pois se
acreditava que uma mulher não seria capaz de comandar um grupo de 300 músicos.18

De outro lado, o livro destaca professores que apoiaram mulheres no percurso da


profissão, a exemplo de Leonard Bernstein, influência decisiva na carreira da maestra
americana Marin Alsop19. Volker Wangeheim, professor da maestra americana Marioara
Trifans, sempre esteve convencido de que mulheres poderiam reger uma orquestra tão
bem ou até melhor que muitos homens. Segundo ele, se uma mulher é capaz de ocupar a
posição de primeira-ministra na Inglaterra, seguramente elas podem reger20.
Wangenheim, de forma visionária, também afirmava que era apenas uma questão de
tempo para que as mulheres tivessem melhores chances de reger orquestras, ao que
acrescenta: “Uma vez que a carreira de regência orquestral abriu as portas para mulheres,
elas devem provar que é possível, confiando no seu talento21.”

Blankenburg diz, ao tecer críticas pertinentes ao mercado europeu, que ele ainda
está muito aquém do mercado dos Estados Unidos no que concerne discussões acerca de
gênero na música e das oportunidades dadas às mulheres. Nos seus critérios de seleção
de regentes para constarem neste livro, estariam em princípio somente maestras
europeias. Não obstante, em virtude do número de mulheres em destaque que encontrou
nos Estados Unidos e, pela presença de Simone Young, na Austrália, ela decidiu, por fim,
estender o quadro além do continente europeu. Outro comentário crítico, em suas
observações, foi a insuficiência de networking entre as mulheres regentes. Poucas sabiam
do trabalho umas das outras, e quase nenhuma foi capaz de citar mais do que cinco colegas
de profissão.

3. Análise crítico-literária e conclusão

Dirigentinnen im 20. Jahrhundert: Porträts von Marin Alsop bis Simone Young é
uma obra que divulga o trabalho dessas profissionais, enumera os problemas que elas
ainda têm que superar para ocupar um lugar como maestra e motivar uma nova geração

18
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 87.
19
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 21.
20
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 201.
21
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 21.
de mulheres à perseverarem na carreira de regência. O curioso título coloca Marin Alsop
e Simone Young nas extremidades, como se, somente elas importassem – a ironia e a
sátira estão nas entrelinhas – Blankenburg conheceu além das duas que sempre são
citadas, outras 500. Com o livro, uma lacuna começa a ser preenchida: a da ignorada
posição da mulher na profissão de regente e compositora. Sua inexistência não é porque
não existam. E, sim, decorrência imediata da reiteirada ocultação durante séculos a fio. A
investigação aprofundada das mulheres a que a musicologia se propõe, há de fazer
emergir um maior número de maestras do que, atualmente, temos conhecimento.
Blankenburg demonstra, em seu texto introdutório, algumas mulheres regentes do
passado que, até 2003, o ano da publicação deste livro, gozavam de pouco ou nenhum
destaque.

A obra em discussão – escrita em língua alemã, ainda sem tradução – tem a


finalidade de expor os percalços da mulher na regência. Valendo-se da seleta biografia de
algumas dezenas de maestras, em sua organização estrutural, aparentemente, não houve
uma ordem, seja cronológica ou alfabética, na disposição das contempladas. Fato esse
que dificulta a pesquisa, e a ausência de notas explicativas ou referências a citações
impossibilita a verificação da origem dos dados.

A pesquisa contida em Dirigentinnen im 20. Jahrhundert: Porträts von Marin


Alsop bis Simone Young teria sido mais completa, se, no universo representativo de
maestras fora do circuito euro-estadunidense, fossem incluídas. Além de Simone Young,
da Austrália, muitas outras na América Latina, assim como de outros continentes
mereceriam o devido destaque, e, no entanto, foram preteridas, a exemplo da renomada
maestra brasileira Lígia Amadio22. Do total de 500 mulheres, 79 delas foram
apresentadas. Certamente, conhecer as outras 421, seria de grande interesse para todos.
Em 2010, Anke Steinbeck publica Jenseits vom Mythos Maestro – Dirigentinnen für das
21. Jahrhundert. Seu livro dá continuidade ao trabalho de Blankenburg.

Na qualidade de maestra teuto-brasileira residente há mais de vinte anos entre


Europa e Estados Unidos, posso dizer que esta leitura me serve de forte inspiração. Os

22
A brasileira Ligia Amadio, destaca-se como um dos nomes mais importantes na regência orquestral da
América Latina. Atualmente está a frente da Orquestra do Teatro Solis em Montevidéu.
inúmeros depoimentos contribuem não apenas para entender a minha própria biografia
como, sem dúvida, servem-me de estímulo a prosseguir nesta carreira. É recompensador
constatar que, dentre as maestras descritas, algumas tive a oportunidade de conhecer,
como Marin Alsop, Simone Young e a querida Antonia Joy Wilson, com quem tive o
prazer e a alegria de trabalhar, durante a organização das três edições do Simpósio
Internacional de Mulheres Regentes: políticas culturais de inclusão feminina na
música23.

Em seu livro, Elke Blankerburg relata que, em 2002, Kurt Masur lhe havia
comentado a respeito da crescente presença de mulheres, a cada masterclass que
oferecia24. Com que orgulho posso dizer que uma delas era eu.

Lamento não ter tido a chance de conhecer Blankenburg. Mas, no período em que
Mascha – como ela gostava de ser chamada – estava entre nós, muito ouvi falar sobre o
seu persistente trabalho por mais respeito à mulher e igualdade de direitos na área da
regência orquestral, coral e operística. Sem saber, ela transformou minha vida. Hoje, sou
também um dos membros da associação Internationales Arbeitskreis Frau und Musik,
por ela fundado. A decisão de, além de maestra, me aprofundar como especialista na área
do feminismo musicológico, teve, além dos próprios desafios que enfrento, a leitura deste
livro no ano do seu lançamento em 2003.

É à Mascha que dedico esta recensão em língua portuguesa, na confiante


expectativa de inspirar novos trabalhos para a divulgação do incansável trabalho das
mulheres na música.

23
https://www.women-conductors.com/
24
Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert 2003, 31
Bibliografia

Blankenburg, Elke Mascha. Dirigentinnen Im 20. Jahrhundert Portraits Von Marin


Alsop Bis Simone Young. Hamburg, HH: Europ. Verl.-Anst., 2003.

Citron, Marcia J, and Urbana-Champaign Press. Gender and the Musical Canon.
Urbana; Chicago: University Of Illinois Press, 2000.

Cook, Nicholas., and Everist, Mark. Rethinking Music. 482. Repr. with Corr. ed.
Oxford: Oxford University Press, 2001.

Edwards, J. Women on the Podium. Chapter. In The Cambridge Companion to


Conducting, edited by José Antonio Bowen, 220–36. Cambridge Companions to
Music. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
doi:10.1017/CCOL9780521821087.017.

Mcclary, Susan. Feminine Endings: Music, Gender, and Sexuality. Minneapolis, Minn:
University Of Minnesota Press, 2010.

Pendle, Karin. Women & Music: A History. Bloomington: Indiana University Press,
1991.

Steinbeck, Anke. Jenseits Vom Mythos Maestro: Dirigentinnen Für Das 21.
Jahrhundert. Köln: Dohr, 2010.

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