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1. INTRODUÇÃO
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Professores da Disciplina Clinica de Ruminantes da Escola de Veterinária da UFMG.
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O rúmen é um ambiente primariamente anaeróbico, com um pH variando entre
5,5 e 7,0, onde diversos microorganismos coexistem num balanço delicado,
digerindo os carboidratos, proteínas e lipídeos ingeridos pelo animal (Niederman
et al., 1990). Sua temperatura média é de 39°C , o potencial de redução varia
entre 250 e 450mV, indicando um ambiente altamente redutor e a ausência de
oxigênio. Normalmente é bem tamponado devido à presença dos ácidos graxos
voláteis (AGV), produzidos pela fermentação, à capacidade tamponante de vários
alimentos e ao intenso fluxo de saliva (Hoover e Miller, 1991).
2. ETIOLOGIA
2.1. Regulação do pH
2.1.1. Absorção
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Os AGVs são absorvidos passiva ou ativamente pela parede ruminal. Sua taxa
de absorção depende da sua concentração, do pKa e do tamanho da molécula
(Hoover e Miller, 1991). Quando estão ionizados os AGVs são absorvidos
ativamente, requerendo a utilização de energia e a secreção de bicarbonato no
fluido ruminal, por outro lado, quando não ionizados os AGVs são absorvidos por
difusão passiva. O pKa dos AGVs é aproximadamente 4.8, à medida que o pH do
rúmen se aproxima deste valor, aumenta a proporção de AGVs na forma não
ionizada, que é absorvida mais rapidamente (Enemark et al., 2002). A absorção
dos AGVs na forma ionizada contribui para a manutenção do pH perto da
neutralidade devido à secreção de bicarbonato para o rúmen. Cerca de 50% do
bicarbonato presente no rúmen vêm da saliva enquanto os outros 50% vêm da
absorção ativa dos AGVs (Owens et al., 1998). A proporção de AGVs absorvidos
na forma livre é de aproximadamente 0,6, 6 e 39% a um pH ruminal de 7, 6 e 5,
respectivamente (Mathews e van Holde, 1990).
2.1.2. Tamponamento
Um bovino adulto secreta cerca de 100 a 200 litros de saliva por dia. A saliva
dos ruminantes possui pH de aproximadamente 8,2 e contém em mEq/l, sódio
(160-180), cloro (10-20), potássio (4-10), fosfato (10-70) e bicarbonato (90-140)
que lhe conferem a capacidade tamponante, além de mucinas que garantem a
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viscosidade do fluido rumenal mantendo a tensão superficial normal, impedindo a
formação de bolhas. Cerca de 70% do líquido ruminal é proveniente da secreção
salivar. A taxa de alimentação é importante na determinação da capacidade
tamponante, pois a secreção de saliva é estimulada pela mastigação e ruminação.
O tempo gasto para mastigação e ruminação dos concentrados é menor do que
dos alimentos fibrosos, contribuindo portanto para uma menor secreção de saliva
(Van Soest, 1994). O estímulo à ruminação, exercido pelo roçar de fibras longas
contidas no alimento na parede do rúmen, é de extrema importância para
regulação do pH ruminal pois, durante este processo, ocorre uma secreção de
saliva 2 a 3 vezes maior do que durante a ingestão ou repouso do animal (Dirksen,
1981).
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aumento do pH ruminal, eliminando prótons e prevenindo a acidose (Calsamiglia e
Ferret, 2002).
2.2. PATOGENIA
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concentração no fluido ruminal de animais com acidose subclínica raramente
excede 10mM (Harmon et al., 1985; Burrin e Britton, 1986; Goad et al., 1998;
Ghorbani et al., 2002).
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Fonte: Schwartzkopf-Genswein et al., 2003.
3- ACIDOSE LÁTICA
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concentrados na dieta sem o período de adaptação suficiente. Pode ocorrer
também por diminuição súbita de forragem em animais que estão recebendo
concentrado. É causada inicialmente por uma rápida produção e absorção de
AGVs com desvio da microbiota normal do rúmen e posterior produção de grande
quantidade de ácido lático levando o pH do rúmen abaixo de 5,0.
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3.1- PATOGENIA DA ACIDOSE LÁTICA
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Tabela 1- Alterações fisiopatológicas da acidose lática ruminal
Baixo CHO não-fibroso Alto CHO não fibroso Excesso de CHO não
Alta forragem (2/3 grão/ 1/3 feno) fibroso
Ácido Acético 75% 55% 0-10%
Ácido Propriônico 16% 25% 25-35%
Ácido Butírico 7% 15% 0-10%
Outros (lactato, fórmico e 2% 5% 50-90%
succinico)
Piruvato no sangue <2,0 mg % <2,0 mg % 2,0 – 8,0 mg%
Proteína ruminal Normal Normal Formação de histamina e
tiramina
pH do rúmen 6,5 5,5 <4,0
Tampão Bicarbonato Adequado Adequado Depleção
pH do sangue 7,45 7,30 <7,10
pH da urina 8,00 7,50 <6,00
Pressão osmótica do Normal Levemente aumentada Aumento extremo
rúmen
Motilidade ruminal 3 mov/2min 3mov/2min Estase ruminal
Epitélio ruminal Normal Alguma hiperemia Ruminite clínica
Hematócrito 35% 40% >50%
Flora ruminal Protozários Entodinium spp Ainda Morte
adequado
Bactérias gram- Pequena alteração Aumento S. bovis,
negativas Lactobacillus, Cl. perfringens
e Coliformes
Abomaso Normal Normal Abomasite
Fígado Normal Alguma infiltração gordurosa Infiltração gordurosa,
Abscesso hepático, Peritonite
Sistema locomotor Normal Laminite subclínica Laminite
Adaptado de: Howard, 1981.
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outras infecções secundárias, taquipnéia, timpanismo crônico. Pode evoluir pra
trombose de veia cava caudal com embolo e abscesso pulmonar (Radostits et al.,
2000).
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cálcio, óxido de magnésio e a bentonita (Stock e Mader, 1998) e têm sido de
utilidade na adaptação a dietas com altos teores de grãos.
4- ACIDOSE SUBCLÍNICA
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Figura 2. Padrão de fermentação e características do ambiente ruminal relacionadas ao pH do
rúmen. Adaptado de Enemark et al., (2002).
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podem alcançar o sangue no espaço porta colonizando o fígado e outros tecidos
(Klenn et al., 2003).
4.1.2- Laminite
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Para explicar as causas de várias anormalidades na formação do tecido córneo do
casco tem sido adotado o termo laminite subclínica, considerada a quarta forma
de apresentação da doença, que é a mais prevalente em rebanhos de manejo
intensivo (Hoblet e Weiss, 2001).
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dupla sola e deformidades. A presença de doença deve ser considerada em
rebanhos com alta incidência de laminite e lesões nos cascos (Kleen et al., 2003).
4.1.4- Imunossupressão
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sempre pode ser esperado em casos de acidose ruminal influenciado,
principalmente, pelo tempo em que o pH fica abaixo do nível fisiológico e pela
velocidade de redução deste (Nocek, 1997).
Nos sistemas atuais de criação e manejo o desafio imposto pelas doenças leva
ao enfraquecimento do sistema imunológico (Richey, 2003). Gaylean, Perino &
Duff (1999), por exemplo, relacionam a alta ingestão de concentrados à redução
de imunidade, pela observação do aumento na ocorrência de doenças
respiratórias em bovinos de corte recém-confinados.
4.1.5- Timpanismo
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Anexo 1. Importância etiológica da acidose subclínica e da acidose metabólica, na patogenia de várias
doenças da produção.
Reduzida absorção
Formação de H2S, de AGV
eructação e inalação
Paraqueratose
ruminal Produção de
Mucopolissacarídeos +
NCC motilidade ruminal
Mudanças na flora reduzida
microbiana Ruminite
Cortisol
Baixo pH
ruminal Timpanismo
Migração neutrófilos
Fagocitose
Acidose
Subclínica
Imunossupressão Captação
Catabolismo Tecidual de
protéico glicose
Ocorrência de
doenças infecciosas
Queda na Produção
Formação de
Paraqueratose abscessos
ruminal
“off feed”
Colonização da
Síndrome da
Ruminite mucosa por
veia cava caudal
F. necrophorum
Fluido ruminal
Hipertônico
Baixo pH
ruminal Epistaxe/
Morte Súbita
Acidose
Subclínica
Morte de
bactérias Gram Liberação de
Acidose negativas endotoxinas
Metabólica
Reação
Laminites vascular
no Cório Endotoxemia
do casco
Queda na Produção
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