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Após a confirmação do avanço português nos territórios amazônicos, por meio do Tratado de Madri

(1750), a consolidação da soberania e da posse sobre essa região deu-se durante o século XIX, já no período
imperial brasileiro. Entre as décadas de 1830 e 1860, diante de um contexto de formação do Estado imperial, os
elementos constituintes do espaço amazônico são afirmados, dando origem ao que atualmente se entende como
Amazônia brasileira. A integração da Amazônia ao restante do Brasil estava, por um lado, associada ao pleno
conhecimento das potencialidades econômicas da região e ao consequente aproveitamento dos recursos. Por outro
lado, para a Coroa, era também primordial definir os limites territoriais deste espaço, impedir invasões estrangeiras,
e vincular a economia local aos interesses do país, por meio de uma aceitação dos condicionantes econômicos da
Corte no Rio de Janeiro. Algumas questões fronteiriças também se mantiveram pendentes no início da República.

A partir de 1850, alguns fatos alteraram significativamente a vida econômica na Amazônia: a navegação a
vapor torna mais acessível os pontos distantes e a crescente produção da borracha, atraindo interesses
estrangeiros. No caso da Amazônia, os ingleses, norte-americanos e franceses, com objetivos expansionistas,
voltaram suas atenções para essa região. Nesse sentido, expedições científicas foram enviadas para as províncias do
Pará e Amazonas ao longo da primeira metade do século XIX e décadas posteriores, com objetivos além de
meramente analisar ou estudar a situação da região como espaço físico ou como natureza exótica. Essas missões
tiveram também o propósito de fornecer dados sobre a formulação de políticas de expansão ou de penetração
econômica na Amazônia. De fato, a Amazônia foi uma das regiões da América do Sul que mais atraiu interesses
estrangeiros no século XIX, principalmente para exploração de borracha e algodão.

No que se refere aos planos de acesso da Amazônia por países estrangeiros no período pós-
independência, destacar-se-ia a ação dos ingleses, em 1832, os quais se apropriaram de um vasto trecho de terras, ,
ao norte da província do Pará, que desejavam utilizar em operações coloniais de povoamento e exploração. No
caso, tinham como metas o emprego na atividade agrícola de colonos ingleses, irlandeses e escoceses que
migrassem para a região. A propaganda, em Londres, alardeava que o terreno era dos mais férteis. Com essas
expectativas, chegou-se inclusive a organizar uma companhia de capital de 500.000 libras esterlinas. Em relação à
Ilha de Trindade, na costa do Espírito Santo, essa é ocupada por um cruzador britânico em janeiro de 1895. Em
janeiro de 1895, o navio britânico Barracouta chega à Trindade. A questão foi resolvida com a mediação
portuguesa.

Também com os britânicos, a questão do Pirara trata-se dos limites com a colônia inglesa da Guiana. Na
década de 1830, o explorador naturalizado inglês, Robert Herman Schomburgk, a serviço da Inglaterra, chega à
aldeia do Pirara, abandonada. .A Inglaterra aceita considerar território neutro até acordo definitivo, mas os ingleses
estendem a área neutralizada, aumentando o território em litígio. Na década de 1890, é firmado o compromisso
arbitral, e a defesa brasileira foi feita por Joaquim Nabuco. Em 14/07/1904, é proferida a sentença arbitral do rei
italiano Vitor Emanuel III, que decepciona os brasileiros. A sentença divide o território em duas partes, dando a
maior para os ingleses. Afirma que, por falta de informações geográficas, não era possível dividir em partes iguais. O
árbitro resolveu então colocar como limites a divisão das águas até as fronteiras “de fato”, o que deu mais território
à Inglaterra.

No caso dos americanos, já em 1826, projetou-se uma companhia para navegar o Amazonas com barcos a
vapor. Essa iniciativa foi acompanhada de um relatório produzido por dois oficiais da marinha norte-americana,
Herdon e Gibbon que, pela região do Ucaiali e pelo Madeira, que penetraram o vale Amazônico, atingindo Belém. O
relatório apresentado ao governo americano posicionava as terras amazônicas como espaço aberto à iniciativa dos
povos capazes de explorar a região. Esse plano de acesso à Amazônia por meio de uma companhia de vapores,
embora não sendo efetivado, foi acompanhado, mais de duas décadas depois, por outra proposta americana de
implantação de navegação do rio Amazonas. Para este momento, acrescentava-se a mobilização da opinião pública
americana sobre a região, durante o governo Polk, em função da série de artigos e de pronunciamentos feitos em
assembleias pelo oficial da marinha americana, o tenente Matthew Fontaine Maury, que vinha indicando esta área
como apropriada para ocupação e exploração econômica. Matthew Maury também afirmava que o Brasil estava
impossibilitado de assegurar o completo domínio e exploração sobre a Amazônia. A questão ganhou contornos
nacionalistas na opinião pública, pois jornais brasileiros noticiavam essa possível ação dos Estados Unidos como
“invasão do Amazonas”.

Já a França queria estender território da Guiana até as margens do rio Amazonas, e as questões não foram
resolvidas durante os tratados coloniais. Fundada Belém em 1616, os portugueses lograram expulsar estrangeiros
que tentavam se fixar na foz do Amazonas. Os franceses, por sua vez, criaram a capitania do Cabo Norte. No século
XIX, após as guerras napoleônicas, Portugal restitui Guiana à França, mas só depois que viu no texto do tratado seu
desejo de restituição do território “até o rio Oiapoque”, limite que Portugal sempre considerou como o fixado pelo
Tratado de Utrecht. Em 1894, a situação se agrava com a descoberta de ouro nas cabeceiras do rio Calçoene. Em
1896, os governos decidem pelo arbitramento. O objetivo era declarar se rio Japoc ou Vicent Pizón, citado no artigo
8º do Tratado de Utrecht, era o Oiapoque ou Araguari. O árbitro deveria também determinar a fronteira oeste. A
questão, denominada de “Questão do Amapá”, foi decidida de modo favorável ao Brasil, pelo árbitro suíço, dando
impulso à carreira de Rio Branco.

Para afastar os interesses estrangeiros, a estratégia brasileira implementada foi: criar uma companhia
brasileira de navegação, com exclusividade de comércio e colonização para impedir ocupação estrangeira; utilizar o
estudo do direito internacional dos rios para armar-se no campo jurídico e diplomático; conceder navegação a
ribeirinhos superiores, mediante convenção, para excluir os não ribeirinhos; confrontar via diplomacia as ações
estrangeiras; e protelar a abertura à navegação estrangeira. Em 1852, o governo brasileiro cede a Mauá subsídio
para sua Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas. Em 1853, ocorre a abertura do rio amazonas à
navegação dos ribeirinhos superiores. A abertura irrestrita ocorreu apenas em 1866.

A definição dos limites territoriais do Brasil com os países de fronteira na Amazônia é apontada também
como questão a ser enfrentada pelo governo brasileiro no sentido de assegurar a soberania nacional. Neste
aspecto, embora os acordos entre as nações, como os tratados de 1841 e 1851, assinados com o Peru, o tratado de
1867 com a Bolívia, e o acordo de 1841 para a neutralização do território entre o Oiapoque e o Amapá, contestados
pelo Brasil e a França, fossem considerados prioritários pelos países, essa composição de interesse devia ser
acompanhada de ações que assegurassem, de fato, o domínio sobre o território. Em relação às áreas de limite com
a Bolívia, embora o tratado de 27 de março de 1867 demarcasse o limite territorial com o Brasil, havia uma
constante situação de animosidade. Essa situação seria agravada com a Guerra do Paraguai, provocando na Bolívia
e nas repúblicas do Pacífico (Peru, Colômbia, Equador e Chile), franca hostilidade para com a política externa
brasileira.

A grande presença de brasileiros na extração de borracha na região então boliviana agrava a questão.
Ademais, havia a presença da companhia Bolivian Sindicate, envolvendo interesses norte-americanos e ingleses. A
situação também se agrava quando tropas de Plácido Castro tomam Porto Acre. Antes das negociações com a
Bolívia, houve a indenização e o afastamento do Bolivian Sindicate. Com a recusa da Bolívia de vender o Acre, Rio
Branco avança a ideia de uma permuta desigual de territórios, com compensações financeiras. Desse modo, Rio
Branco dá nova interpretação ao acordo de 1867 e declara litigioso todo território ao norte desse paralelo (Acre
Setentrional). Com o Tratado de Petrópolis (1903), o Brasil fez permuta de territórios da Bolívia, cedendo-lhe cerca
de 3200 km² e indenização de 2 milhões de libras-ouro (em duas prestações) em troca de 191 mil km². O Brasil
também se comprometeu a construir, em território brasileiro, a Ferrovia Madeira-Mamoré.

De fato, os contornos fronteiriços amazônicos foram definidos durante a primeira década do século XX.
Representando o Brasil, o Barão do Rio Branco teve sucesso em duas disputas territoriais (arbitramentos de Palmas
e Amapá); agora, como chanceler, assinaria tratado de limites com Bolívia (1903, Equador (1904), com a Holanda
(Guiana Holandesa, 1906), com a Colômbia (1907), com o Peru (1909) e com o Uruguai (1909)). A maioria desses
tratados, excetuando Palmas e o acordo com o Uruguai, que se referiam ao Prata, tratava-se de questões
amazônicas.

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