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SMS - MEIO AMBIENTE

Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro


Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira
Presidente

Diretoria-Geral do Sistema FIRJAN


Augusto Cesar Franco de Alencar
Diretor

Diretoria Regional do SENAI-RJ


Roterdam Pinto Salomão
Diretor

Diretoria de Educação
Andréa Marinho de Souza Franco
Diretora
SMS - MEIO AMBIENTE

Rio de Janeiro
2008
SMS - Meio ambiente
1ª ed. 2005; 2ª ed. 2008

SENAI – Rio de Janeiro


Diretoria de Educação

Gerência de Educação Profissional Luis Roberto Arruda


Gerência de Produto José Luiz Pedro de Barros

Ficha Técnica

Coordenação Vera Regina Costa Abreu


Seleção e Organização de Conteúdo Márcio Alexandre P. Redivo
Revisão Pedagógica Maria Leonor de Macedo Soares Leal
Revisão Gramatical Rita Godoy
Revisão Editorial Cláudia Franco
Projeto Gráfico Artae Design & Criação
Editoração FOLIO criação

Edição revista do material SMS – Meio Ambiente, publicado pelo SENAI-DN em 2004.

Material para fins didáticos.


Propriedade do SENAI-RJ
Reprodução, total ou parcial, sob expressa autorização

SENAI - Rio de Janeiro


GEP - Gerência de Educação Profissional
Rua Mariz e Barros, 678 - Tijuca
20270-903 - Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 2587-1323
Fax: (21) 2254-2884
http://www.firjan.org.br
Prezado aluno,

Quando você resolveu fazer um curso em nossa instituição, talvez não soubesse que,
desse momento em diante, estaria fazendo parte do maior sistema de educação
profissional do país: o SENAI. Há mais de sessenta anos, estamos construindo uma história
de educação voltada para o desenvolvimento tecnológico da indústria brasileira e da
formação profissional de jovens e adultos.
Devido às mudanças ocorridas no modelo produtivo, o trabalhador não pode
continuar com uma visão restrita dos postos de trabalho. Hoje, o mercado exigirá de você,
além do domínio do conteúdo técnico de sua profissão, competências que lhe permitam
decidir com autonomia, proatividade, capacidade de análise, solução de problemas,
avaliação de resultados e propostas de mudanças no processo do trabalho. Você deverá
estar preparado para o exercício de papéis flexíveis e polivalentes, assim como para a
cooperação e a interação, o trabalho em equipe e o comprometimento com os resultados.
Soma-se, ainda, que a produção constante de novos conhecimentos e tecnologias
exigirá de você a atualização contínua de seus conhecimentos profissionais, evidenciando
a necessidade de uma formação consistente que lhe proporcione maior adaptabilidade e
instrumentos essenciais à auto-aprendizagem.
Essa nova dinâmica do mercado de trabalho vem requerendo que os sistemas de
educação se organizem de forma flexível e ágil, motivos esses que levaram o SENAI a criar
uma estrutura educacional, com o propósito de atender às novas necessidades da indústria,
estabelecendo uma formação flexível e modularizada.
Essa formação flexível tornará possível a você, aluno do sistema, voltar e dar
continuidade à sua educação, criando seu próprio percurso. Além de toda a infra-
-estrutura necessária ao seu desenvolvimento, você poderá contar com o apoio técnico-
-pedagógico da equipe de educação dessa escola do SENAI para orientá-lo em seu trajeto.
Mais do que formar um profissional, estamos buscando formar cidadãos.
Seja bem-vindo!

Andréa Marinho de Souza Franco


Diretora de Educação
Sumário
APRESENTAÇÃO .......................................................... 11

UMA PALAVRA INICIAL ............................................... 13

HISTÓRICO DA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL......... 17


1 Introdução ..................................................................................... 19
Iniciativas mundiais relativas ao meio ambiente ................................. 20
Conferência Cúpula da Terra – Rio-92 ............................................... 26

O MEIO AMBIENTE E A POLUIÇÃO............................... 29


2 Introdução .....................................................................................
Contaminação da água ....................................................................
31
32
Contaminação do ar ........................................................................ 39
Contaminação do solo ..................................................................... 47
Desequilíbrios globais ...................................................................... 51

RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................... 53


3 Introdução .....................................................................................
Classificação dos resíduos sólidos quanto à origem .............................
55
56
Classificação dos resíduos sólidos quanto aos riscos ........................... 59
A coleta dos resíduos sólidos ............................................................ 61
Disposição dos resíduos sólidos ........................................................ 64
Gerenciamento dos resíduos sólidos ................................................. 66
Armazenamento, manuseio e transporte dos resíduos sólidos .............. 67

4 A EMPRESA E O MEIO AMBIENTE ................................ 71


Introdução ..................................................................................... 73
Imagem pública da empresa ............................................................ 74
A gestão ambiental na empresa ....................................................... 75
PARA SABER MAIS ................................................................... 79
Texto de apoio I – A Lei no 9.605/98, dos crimes ambientais ............................... 81
Texto de apoio II – Destino do lixo eletrônico já preocupa os especialistas ............ 83
Texto de apoio III – Lixo inteligente .................................................................. 85
Texto de apoio IV – Avanços e problemas de lixo ................................................ 86
Texto de apoio V – Frutos do mar ..................................................................... 88
Texto de apoio VI – A carta do chefe indígena Seattle – 1855 .............................. 90
Texto de apoio VII – Arrumar o homem ............................................................. 94
Texto de apoio VIII – Reciclagem de pneus ........................................................ 95
Texto de apoio IX – Um fim para os restos da indústria ....................................... 97
Texto de apoio X – Vidro .................................................................................. 98
Texto de apoio XI – O problema de incineração do lixo ........................................ 99
Texto de apoio XII – Ecologia e replanejamento ............................................... 101
Texto de apoio XIII – Fibra de coco e látex na indústria automobilística .............. 102
Texto de apoio XIV – Estrela faz jogo de plástico ecológico ................................ 103
Texto de apoio XV – Contra o desperdício ........................................................ 104

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 107


SMS – Meio Ambiente – Apresentação

Apresentação

Desde a Revolução Industrial, as atividades humanas vêm alterando o meio ambiente de


forma cada vez mais intensa. Apesar da melhoria das condições de vida, proporcionadas pela
evolução tecnológica, ainda são observados diversos fatores negativos, como a explosão
populacional, a concentração crescente da ocupação urbana, o aumento do consumo, com
maior utilização de água, energia e materiais auxiliares de processos industriais.
Hoje, no entanto, já se observa um crescimento da consciência global sobre o meio
ambiente e das responsabilidades de cada cidadão sobre a vida na Terra. Temos mais
consciência a respeito de nossas responsabilidades com o futuro das próximas gerações e
buscamos formas mais harmônicas, solidárias, equilibradas e responsáveis de relação com o
nosso planeta.
As empresas, por sua vez, vêm se dedicando mais à proteção do meio ambiente, dando-
lhes a mesma importância destinada às suas atividades de produção, custos, qualidade,
segurança etc. E, nesse sentido, torna-se imperioso, para a empresa, desenvolver um efetivo
programa de educação continuada para todos os seus trabalhadores, como parte de uma
política mais ampla em relação ao meio ambiente.
Consoante com essa política, o SENAI-RJ organizou o programa SMS – Segurança, Meio
Ambiente e Saúde, que propõe o estudo de temas básicos e determinantes para a melhoria
das condições de trabalho e, em conseqüência, da qualidade de vida dos cidadãos.
E para você acompanhar melhor os assuntos discutidos durante a realização do progra-
ma, foi elaborada uma série de materiais didáticos impressos, que se constitui, também, em
uma excelente fonte de consulta ou pesquisa.
Essa série é composta de três módulos: Segurança, Meio Ambiente e Saúde, que possu-
em, ao mesmo tempo, caráter complementar e de terminalidade. Isso significa que você pode
realizar o programa em sua totalidade ou de forma parcial, isto é, estudar apenas um ou dois
módulos. A opção por uma dessas alternativas vai depender das necessidades da empresa
onde você trabalha ou, então, da natureza das tarefas que executa.

SENAI 11
SMS – Meio Ambiente – Apresentação

Um dos módulos da coleção é este que trata de questões relativas ao meio ambiente. Veja
como ele está estruturado, folheando-o com atenção. Observe que ele tem quatro seções,
cujos conteúdos estão relacionados com a história da consciência ambiental, a poluição, os
resíduos sólidos e, finalmente, a relação da empresa com o meio ambiente, assuntos
importantes para o seu dia-a-dia. Em seguida às seções, apresentamos alguns textos de apoio,
para você complementar e enriquecer os estudos deste módulo.
Desejamos que a realização do programa, com o apoio desse material, seja mais uma
oportunidade para você enriquecer a sua formação profissional e se capacitar para enfrentar
os desafios do mundo do trabalho.
Sucesso!

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SMS – Meio Ambiente – Uma palavra inicial

Uma palavra inicial

Meio ambiente...
Saúde e segurança no trabalho...
O que é que nós temos a ver com isso?
Antes de iniciarmos o estudo deste material, há dois pontos que merecem destaque: a
relação entre o processo produtivo e o meio ambiente; e a questão da saúde e segurança no
trabalho.
As indústrias e os negócios são a base da economia moderna. Produzem os bens e serviços
necessários, e dão acesso a emprego e renda; mas, para atender a essas necessidades, precisam
usar recursos e matérias-primas. Os impactos no meio ambiente muito freqüentemente
decorrem do tipo de indústria existente no local, do que ela produz e, principalmente, de
como produz.
É preciso entender que todas as atividades humanas transformam o ambiente. Estamos
sempre retirando materiais da natureza, transformando-os e depois jogando o que “sobra” de
volta ao ambiente natural. Ao retirar do meio ambiente os materiais necessários para produzir
bens, altera-se o equilíbrio dos ecossistemas e arrisca-se ao esgotamento de diversos recursos
naturais que não são renováveis ou, quando o são, têm sua renovação prejudicada pela
velocidade da extração, superior à capacidade da natureza para se recompor. É necessário
fazer planos de curto e longo prazo, para diminuir os impactos que o processo produtivo
causa na natureza. Além disso, as indústrias precisam se preocupar com a recomposição da
paisagem e ter em mente a saúde dos seus trabalhadores e da população que vive ao redor
dessas indústrias.
Com o crescimento da industrialização e a sua concentração em determinadas áreas, o
problema da poluição aumentou e se intensificou. A questão da poluição do ar e da água é
bastante complexa, pois as emissões poluentes se espalham de um ponto fixo para uma grande
região, dependendo dos ventos, do curso da água e das demais condições ambientais, tornando
difícil localizar, com precisão, a origem do problema. No entanto, é importante repetir que,
quando as indústrias depositam no solo os resíduos, quando lançam efluentes sem tratamento
em rios, lagoas e demais corpos hídricos, causam danos ao meio ambiente.

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SMS – Meio Ambiente – Uma palavra inicial

O uso indiscriminado dos recursos naturais e a contínua acumulação de lixo mostram a


falha básica de nosso sistema produtivo: ele opera em linha reta. Extraem-se as matérias-
-primas através de processos de produção desperdiçadores e que produzem subprodutos
tóxicos. Fabricam-se produtos de utilidade limitada que, finalmente, viram lixo, o qual se
acumula nos aterros. Produzir, consumir e dispensar bens desta forma, obviamente, não é
sustentável.
Enquanto os resíduos naturais (que não podem, propriamente, ser chamados de “lixo”)
são absorvidos e reaproveitados pela natureza, a maioria dos resíduos deixados pelas indústrias
não tem aproveitamento para qualquer espécie de organismo vivo e, para alguns, pode até ser
fatal. O meio ambiente pode absorver resíduos, redistribuí-los e transformá-los. Mas, da mesma
forma que a Terra possui uma capacidade limitada de produzir recursos renováveis, sua
capacidade de receber resíduos também é restrita, e a de receber resíduos tóxicos praticamente
não existe.
Ganha força, atualmente, a idéia de que as empresas devem ter procedimentos éticos
que considerem a preservação do ambiente como uma parte de sua missão. Isto quer dizer
que se devem adotar práticas que incluam tal preocupação, introduzindo processos que
reduzam o uso de matérias-primas e energia, diminuam os resíduos e impeçam a poluição.
Cada indústria tem suas próprias características. Mas já sabemos que a conservação de
recursos é importante. Deve haver crescente preocupação com a qualidade, durabilidade,
possibilidade de conserto e vida útil dos produtos.
As empresas precisam não só continuar reduzindo a poluição, como também buscar novas
formas de economizar energia, melhorar os efluentes, reduzir a poluição, o lixo, o uso de
matérias-primas. Reciclar e conservar energia são atitudes essenciais no mundo
contemporâneo.
É difícil ter uma visão única que seja útil para todas as empresas. Cada uma enfrenta
desafios diferentes e pode se beneficiar de sua própria visão de futuro. Ao olhar para o futuro,
nós (o público, as empresas, as cidades e as nações) podemos decidir quais alternativas são
mais desejáveis e trabalhar com elas.
Infelizmente, tanto os indivíduos quanto as instituições só mudarão as suas práticas
quando acreditarem que seu novo comportamento lhes trará benefícios – sejam estes
financeiros, para sua reputação ou para sua segurança.
A mudança nos hábitos não é uma coisa que possa ser imposta. Deve ser uma escolha de
pessoas bem-informadas a favor de bens e serviços sustentáveis. A tarefa é criar condições
que melhorem a capacidade de as pessoas escolherem, usarem e disporem de bens e serviços
de forma sustentável.
Além dos impactos causados na natureza, diversos são os malefícios à saúde humana
provocados pela poluição do ar, dos rios e mares, assim como são inerentes aos processos
produtivos alguns riscos à saúde e segurança do trabalhador. Atualmente, acidente do trabalho

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SMS – Meio Ambiente – Uma palavra inicial

é uma questão que preocupa os empregadores, empregados e governantes, e as conseqüências


acabam afetando a todos.
De um lado, é necessário que os trabalhadores adotem um comportamento seguro no
trabalho, usando os equipamentos de proteção individual e coletiva; de outro, cabe aos
empregadores prover a empresa com esses equipamentos, orientar quanto ao seu uso, fiscalizar
as condições da cadeia produtiva e a adequação dos equipamentos de proteção.
A redução do número de acidentes só será possível à medida que cada um – trabalhador,
patrão e governo – assuma, em todas as situações, atitudes preventivas, capazes de resguardar
a segurança de todos.
Deve-se considerar, também, que cada indústria possui um sistema produtivo próprio,
e, portanto, é necessário analisá-lo em sua especificidade, para determinar seu impacto sobre
o meio ambiente, sobre a saúde e os riscos que o sistema oferece à segurança dos trabalhadores,
propondo alternativas que possam levar à melhoria de condições de vida para todos.
Da conscientização, partimos para a ação: cresce, cada vez mais, o número de países,
empresas e indivíduos que, já estando conscientizados acerca dessas questões, vêm
desenvolvendo ações que contribuem para proteger o meio ambiente e cuidar da nossa saúde.
Mas, isso ainda não é suficiente... faz-se preciso ampliar tais ações, e a educação é um valioso
recurso que pode e deve ser usado em tal direção. Assim, iniciamos este material conversando
com você sobre o meio ambiente, saúde e segurança no trabalho, lembrando que, no seu
exercício profissional diário, você deve agir de forma harmoniosa com o ambiente, zelando
também pela segurança e saúde de todos no trabalho.
Tente responder à pergunta que inicia este texto: meio ambiente, saúde e segurança no
trabalho – o que é que eu tenho a ver com isso? Depois, é partir para a ação. Cada um de nós é
responsável. Vamos fazer a nossa parte?

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Histórico da
conscientização
ambiental
Introdução

Iniciativas mundiais relativas ao meio ambiente

Conferência Cúpula da Terra – Rio-92

1
SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

Introdução
De forma intuitiva e simplificada, podemos dizer que meio ambiente é o lugar em que
vivemos, em que moramos. É a nossa casa, nosso bairro, a praia, o local de trabalho, enfim, é
o lugar em que estamos. É um lugar que abriga seres com vida, como as pessoas, os outros
animais e as plantas. É também o espaço físico que ocupamos e que contém ar, água, terra e
outros componentes.
Meio ambiente é, portanto, o planeta Terra.
Mas, como delimitar este espaço? Poderíamos considerar como meio ambiente o próprio
universo, numa perspectiva mais ampla, que pode ir se limitando, como mostra a Figura 1.

Figura 1

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SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

Observando a figura com atenção, você verá que ela expressa a visão atual que o ser hu-
mano tem do meio ambiente. Hoje já temos consciência de que somos parte integrante do
meio ambiente, e que qualquer modificação na dinâmica ambiental afeta a todos os seus
elementos, inclusive a nós mesmos. Também já sabemos que os seres humanos não ocupam
o centro nem o topo do meio ambiente, mas constituem, com os outros elementos, as malhas
do tecido da vida.
Como o homem foi desenvolvendo essa consciência ao longo de sua história mais recen-
te é o que trataremos na primeira unidade deste módulo, destinado ao estudo do nosso meio
ambiente.

Iniciativas mundiais
relativas ao meio ambiente
Preservar o meio ambiente, garantindo a vida em nosso planeta, já é, nos dias de hoje,
uma preocupação de todos nós. Aos poucos, o homem foi tomando consciência de que os
recursos naturais não eram ilimitados e que necessitava fazer alguma coisa para a natureza
continuar lhe fornecendo tudo o que precisava para sua sobrevivência.
O longo caminho percorrido nesse sentido foi mais intensificado a partir dos anos 1960,
quando o movimento ambientalista começou a emergir mais fortemente.
Vejamos, então, algumas das iniciativas mundiais mais significativas em relação ao meio
ambiente, desde a década de 1960 até os dias atuais.

Décadas de 1960 e 1970


Na década de 1960, foi criada a Agência de Proteção Ambiental (EPA), órgão regulador
das questões ambientais nos Estados Unidos. Com a entrada em funcionamento da EPA, di-
versas leis importantes foram promulgadas naquele país, dentre as quais destacamos:
• a lei do ar puro;
• a lei da água pura;
• a lei de controle de substâncias tóxicas; e
• a lei federal sobre inseticidas e fungicidas.

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SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

Também foi nas décadas de 1960 e 1970 que a preocupação ambiental se apresentou
fortemente reativa, sendo caracterizada por:
• corrigir os danos causados ao meio ambiente, depois de sua ocorrência; poucos es-
forços eram feitos para prevenir esses danos; e

• enfatizar o tratamento conhecido por fim-de-tubo, em que os poluentes gerados pela


produção e pelo consumo eram simplesmente tratados, sem que fossem adotadas
medidas para reduzir sua quantidade ou para eliminar a sua produção.

Reativa – que provoca reação; que faz reagir.

Outra característica desse período é que a legislação ambiental se preocupou, basica-


mente, em punir os culpados. Era o domínio do sistema comando e controle, com proibições
e multas. Tratava-se, pois, de produzir a qualquer custo. A poluição era vista como decorrên-
cia normal do processo industrial, símbolo do progresso, e preço a ser pago por ele.
Essa atitude ficou claramente demonstrada pelo Brasil, por ocasião da Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em 1972, em Estocolmo, quando
nosso país defendeu o desenvolvimento a qualquer custo.
A Conferência de Estocolmo foi marcada por duas posições opostas:
• de um lado estavam os países desenvolvidos, propondo um programa internacional
de conservação dos recursos naturais, além de medidas preventivas imediatas, ca-
pazes de evitar um grande desastre; e

• do outro lado se encontravam os países em desenvolvimento, com um quadro bas-


tante sério de miséria, e que precisavam desenvolver a sua economia.

A respeito desses países em desenvolvimento, a Secretaria de Estado do Meio


Ambiente de São Paulo declarou, em 1997, que eles apresentavam:
“seríssimos problemas de moradia, saneamento básico e doenças infecciosas e
que necessitavam desenvolver-se economicamente. Questionavam a legitimida-
de das recomendações dos países ricos que já haviam atingido o poderio indus-
trial com o uso predatório de recursos naturais e que queriam impor a eles
complexas exigências de controle ambiental, exigências essas que poderiam
encarecer e retardar a industrialização dos países em desenvolvimento”.

Ainda na Conferência de Estocolmo, a Assembléia Geral da ONU (Organização das Na-


ções Unidas) criou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que tem
sede na cidade de Nairobi, capital do Quênia, na África. Os objetivos do PNUMA são:

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SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

• facilitar a cooperação internacional no campo do meio ambiente;

• promover o desenvolvimento de conhecimento nessa área;

• monitorar o estado do ambiente global; e

• chamar a atenção dos governos para problemas ambientais emergentes, de impor-


tância internacional.
No final da década de 1970, já em 1978, surgiu na Alemanha o primeiro selo utilizado
para a rotulagem de produtos considerados ambientalmente corretos. Tratava-se do selo ver-
de, que recebeu o nome de Anjo Azul.

Figura 2 – Selo Anjo Azul

Década de 1980
Em meados dos anos 1980, algumas empresas começaram a abandonar a visão de meio
ambiente apenas como problema e custo, tornando-se pioneiras na pesquisa de métodos
ambientais para poupar dinheiro e aumentar suas vendas. A indústria começou a se dar con-
ta de que, para se manter competitiva, precisava definir o meio ambiente como uma oportu-
nidade de lucro. Foi assim que a empresa DuPont, por exemplo, conseguiu economizar 50
milhões de dólares por ano, no período de 1985 a 1990, por ter gerado 450 mil toneladas a
menos de resíduos.
Nessa década, a mudança de postura da indústria evidenciou-se, também, na multipli-
cação dos selos verdes. Os primeiros deles, no entanto, ainda se apoiavam em critérios sim-
ples, como a redução ou a eliminação de uma ou algumas substâncias poluentes mais signifi-
cativas de um produto.
Estudos elaborados pelos selos verdes procuraram cobrir desde a produção até o descar-
te final do produto, fazendo surgir, assim, a idéia de ciclo de vida.
O selo ecológico, apesar de voluntário, adquiriu, nesse período, força pelas leis de mer-
cado, atingindo a indústria e o consumidor, simultaneamente. Os selos incentivavam a in-
dústria a aplicar métodos de produção com menor impacto ambiental e também induziam o
consumidor a adquirir produtos ambientalmente corretos.

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SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

Os selos criados na década de 1980 foram os seguintes:


• Environmental Choice – Canadá – 1988;

• White Swan – Países Nórdicos – 1988; e

• Eco Mark – Japão – 1989.

Figura 3 – Selos verdes

Em 1988, o selo ecológico pioneiro Anjo Azul já tinha sido aplicado em 3.500
produtos.

Paralelamente a toda essa força que o selo verde vinha ganhando, vários grupos voltados
para as causas ambientalistas começaram a influir a política das empresas. Um fato conheci-
do foi o boicote feito a uma cadeia de lanchonetes, devido à destruição de boa parte das nos-
sas florestas tropicais para a criação de gado de corte. Após o boicote, um grupo ambientalista
realizou trabalho com a empresa, no sentido de diminuir o uso de produtos químicos poluentes
e criar programas de reciclagem.
A indústria química, por sua vez, reagiu às pressões produzidas por uma imagem públi-
ca em constante deterioração e criou, no Canadá, em 1984, o programa Atuação Responsá-
vel® (Responsible Care®). Esse programa baseia-se nos princípios da gestão da qualidade total
e inclui códigos de prática gerenciais que abrangem todas as etapas dos processos de fabrica-
ção, quais sejam:
• segurança de processos;

• saúde e segurança do trabalhador;

• proteção ambiental;

• transporte e distribuição;

• diálogo com a comunidade, preparação e atendimento a emergências; e

• gerenciamento do produto.

SENAI 23
SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

No Brasil, desde 1998, todos os associados à ABIQUIM (Associação Brasileira


da Indústria Química) são obrigados a aderir ao programa Atuação Responsá-
vel®, como já ocorre em outros países. A PETROBRAS e suas subsidiárias, por
exemplo, são associadas à ABIQUIM e, como tal, também desenvolvem o pro-
grama Atuação Responsável®.

Foi ainda na década de 1980 que se lançou um importante conceito relacionado com a
questão ambiental – o de desenvolvimento sustentável, ou seja, o desenvolvimento que aten-
de às necessidades presentes, sem comprometer os recursos disponíveis para as gerações
futuras.
O conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado, pela primeira vez, em 1987,
no relatório Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento (Comissão Brundtland), criada em 1983 pela Assembléia Geral da ONU, sob influência
da Conferência de Estocolmo.
Segundo essa Comissão, as políticas a serem desenvolvidas, dentro do conceito de
sustentabilidade, devem atender aos seguintes objetivos:
• retomar o crescimento como condição necessária para erradicar a pobreza;

• mudar a qualidade do crescimento para torná-lo mais justo, eqüitativo e menos con-
sumidor de matérias-primas e energia;

• atender às necessidades humanas essenciais de emprego, alimentação, energia, água


e saneamento;

• manter um nível populacional sustentável;

• conservar e melhorar a base de recursos;

• reorientar a tecnologia e administrar os riscos; e

• incluir o meio ambiente e a economia no processo decisório.


A preocupação com o futuro das pessoas, presente no conceito de desenvolvimento sus-
tentável, é algo novo no comportamento dos seres humanos. Esta preocupação exige um gran-
de sentimento de solidariedade para com todos os seres vivos do planeta.
Também nos anos 1980, mais precisamente em 1988, foi promulgada a primeira Consti-
tuição brasileira que trata especificamente da questão ambiental. Ela contém um artigo intei-
ro destinado a esse assunto, que também permeia o restante do texto.
Veja um trecho desse artigo e analise as principais recomendações relativas às ações do
homem que podem colocar em risco o meio ambiente ou a qualidade de nossas vidas.

24 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: (...)
V – Controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e subs-
tâncias que comportem riscos para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (...)
§ 3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, indepen-
dentemente da obrigação de reparar os danos causados. (...)
§ 6º – As usinas que operam com reator nuclear deverão ter sua localização definida em
lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Para complementar e enriquecer os estudos que você realizou até aqui, leia o
Texto de apoio VI – A carta do chefe indígena Seattle e o Texto de apoio VII –
Arrumar o homem, que se encontram neste material, na seção “Para saber
mais”.

Década de 1990
Na década de 1990 intensificou-se a criação dos selos verdes, atingindo tanto países de-
senvolvidos, como aqueles em vias de desenvolvimento. Alguns exemplos desses selos são:
• NF – Environment – França – 1991;

• Eco Mark – Índia – 1991;

• Eco Mark – Coréia – 1992; e

• Green Label – Singapura – 1992.

Figura 4 – Selos verdes

SENAI 25
SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

Esse novo grupo de rótulos ecológicos difere do primeiro, da década de 1980, pois agora
eles visam não apenas à eliminação de substâncias poluentes dos produtos, mas também ao
impacto causado durante todo o seu ciclo de vida. Trata-se de um novo conceito de desempe-
nho ambiental dos produtos.
A Comunidade Européia, por sua vez, vem instituindo uma série de medidas ambientais
e emitindo, por exemplo, regulamentos para rótulos ecológicos, para eco-auditorias, para
embalagens e outros regulamentos que discutem as ações relacionadas com o ambiente e o
desenvolvimento sustentável.

Conferência Cúpula
da Terra – Rio-92
No final da década de 1980, a ONU havia decidido organizar a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD). Esta Conferência, que ficou
conhecida como Cúpula da Terra ou ECO-92, realizou-se no Rio de Janeiro, em 1992, e contou
com representantes de 172 países, inclusive 116 chefes de estado.
Paralelamente à Conferência, 4 mil entidades da sociedade civil do mundo todo organi-
zaram o chamado Fórum Global das ONGs (na Conferência em Estocolmo, em 1972, esse nú-
mero era em torno de 500 ONGs, apenas).
O Fórum Global das ONGs, de 1992, elaborou quase quatro dezenas de documentos e
planos de ação, demonstrando o grau de organização e de mobilização atingido pelas ONGs
nesta década final do século XX.
Os documentos resultantes da Cúpula da Terra foram os seguintes:
• a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e

• a Agenda 21.
Vamos conhecer um pouco de cada um desses documentos?

 Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento


Nessa declaração estão agrupadas as conclusões que resultaram da Conferência das Na-
ções Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, reunida no Rio de Janeiro em 1992. É um
documento fundamental para concretizar os objetivos referentes ao equilíbrio ecológico do
planeta e ao desenvolvimento sustentável global.
A Declaração do Rio é composta de 27 princípios essenciais à proteção do ambiente e ao

26 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

desenvolvimento sustentável, fundamentais para o futuro da humanidade. Esses princípios


orientam um novo tipo de atitude do ser humano na Terra, na busca de proteção dos recursos
naturais, de desenvolvimento sustentável e de melhores condições de vida para todos os po-
vos do planeta.

De que modo você, como cidadão brasileiro, pode fazer valer a sua autoridade
pública na defesa do meio ambiente?

 Agenda 21
Esse importante documento político, resultante da ECO-92, é um plano de ação a ser
implementado pelos governos, agências de desenvolvimento, organizações das Nações Uni-
das e grupos setoriais independentes em cada área onde a atividade humana afeta o meio
ambiente.
A execução da Agenda 21 deve levar em conta as diferentes condições dos países e regi-
ões e a plena observância de todos os princípios contidos na Declaração do Rio sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento.
Trata-se de uma pauta de ações a longo prazo, estabelecendo temas, projetos, objetivos,
metas, planos e mecanismos de execução para diferentes temas da Conferência. Esse progra-
ma contém quatro seções, 40 capítulos, 115 programas e, aproximadamente, 2.500 ações a
serem implementadas.
As quatro seções da Agenda 21 abrangem os seguintes temas:
• dimensões econômicas e sociais – as relações entre meio ambiente e pobreza, saúde,
comércio, dívida externa, consumo e população;

• conservação e administração de recursos – as maneiras de gerenciar recursos físicos


para garantir o desenvolvimento sustentável;

• fortalecimento dos grupos sociais – as formas de apoio a grupos sociais organizados e


minoritários que colaboram para a sustentabilidade; e

• meio de implementação – os financiamentos e o papel das atividades governamen-


tais e não-governamentais.
No Brasil, a Agenda 21 já está com versões propostas pelos Governos Federal e Estaduais,
além de planos elaborados pelas prefeituras das capitais de estado e de outros municípios. A
Agenda 21 representa, atualmente, o resultado de um grande número de iniciativas da ONU
que vão desde a Conferência Internacional sobre População (México, 1984) até as conferênci-
as sobre educação ambiental (Tbilisi, 1977) e educação (Tailândia, 1990), passando pela Con-

SENAI 27
SMS – Meio Ambiente – Histórico da conscientização ambiental

ferência da Mulher (Nairobi, 1985) e pelo Protocolo de Montreal (1987) sobre substâncias que
agridem a camada de ozônio.

Um dos slogans do movimento ambientalista é “pensar globalmente e agir local-


mente”. Isso quer dizer que todos nós precisamos buscar soluções para os pro-
blemas ambientais em nível local, na nossa cidade, no nosso bairro, na empresa
em que trabalhamos etc. Que tipo de atuação você tem tido nesse sentido? Já
obteve resultados? Quais, por exemplo?

28 SENAI
O meio ambiente
e a poluição

Introdução

Contaminação da água

Contaminação do ar

Contaminação do solo

Desequilíbrios globais

2
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Introdução
A palavra “poluição” vem do latim poluere e significa sujar, corromper, profanar. É qual-
quer tipo de alteração das características originais do ambiente, capaz de prejudicar os seres
vivos que nele habitam. Podemos dizer, portanto, que o desequilíbrio ecológico de uma de-
terminada região não é provocado apenas pela extinção de uma espécie, mas também pela
poluição desse ambiente, que é bastante prejudicial.
O conceito de poluição é ainda apresentado no art. 3o da Lei no 6.938, de 31/08/81, que
trata da Política Nacional de Meio Ambiente, cujo trecho transcrevemos a seguir.

Art.3o – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio
ambiente;
III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta
ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota ;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,
direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
V – recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Condições adversas – são condições desfavoráveis.


Biota – é o conjunto de seres vivos de um ecossistema.

SENAI 31
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Quando substâncias tóxicas e microrganismos patogênicos são lançados no ambiente,


eles acarretam a poluição dos recursos naturais, resultando em prejuízos para a saúde do ser
humano. Dizemos, nesses casos, que há contaminação.
É, pois, a respeito dessa contaminação, ou seja, das fontes de poluição industrial e de seu
impacto sobre a água, o ar e o solo, que falaremos neste segundo capítulo, que você começa a
estudar agora.

Microrganismos patogênicos – são organismos microscópicos como, por exem-


plo, bactérias, fungos e vírus, que provocam ou podem provocar uma doença,
direta ou indiretamente.

Contaminação da água
A água é indispensável ao homem, pois todos nós dependemos dela para sobreviver. Ela
é nossa bebida e alimento. É usada para a higiene, é fonte de energia, é matéria-prima, é via
de transporte e, ainda, é usada para atividades recreativas.
Do total de água existente no mundo, cerca de 97% são de água salgada, e os 3% restantes
são de água doce, sendo que 2,15% estão nas geleiras e apenas 0,85% nos rios, lagos e lençóis
subterrâneos. Mas dessa água doce, apenas 0,0081% tem qualidade para ser consumida. Ob-
serve essa distribuição na Figura 1.

Figura 1

32 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Considerando esses dados e, ainda, a importância da água para todos os seres vivos,
torna-se cada vez mais necessário conhecer bem as fontes disponíveis desse recurso natural
estratégico, para então controlar suas formas de utilização e sua qualidade, de modo a racio-
nalizar seu uso e evitar problemas futuros. Somente a partir de uma utilização mais controla-
da e responsável é que os recursos hídricos terão sua renovação garantida e estarão disponí-
veis no futuro. Mas o gerenciamento da água está se tornando cada vez mais difícil, tendo em
vista o crescente consumo desse recurso em todo o mundo, devido ao aumento da população
mundial e da produção industrial.

Recursos hídricos – diz respeito à água armazenada nos rios, lagos, lençóis
subterrâneos etc.

Hoje, em termos mundiais, o maior consumo de água se dá na agricultura, para a irriga-


ção, que utiliza 65% do total do planeta. Em seguida vem a indústria, que consome 25%, e, por
fim, as atividades domésticas, que registram um consumo de 10% de água.
Veja, no Gráfico 1, essa distribuição.

Gráfico 1 – Distribuição do consumo de água

Para você ter uma idéia de como o consumo de água vem aumentando, atual-
mente, um europeu usa uma média de 340 litros de água por dia, contra uma
média de 13 litros diários que uma pessoa daquela região usava nos tempos
medievais (do século V ao século XV). Estima-se, hoje, que o consumo de água
vai dobrar nos próximos 20 anos e que sua disputa terá dimensões parecidas
com a da guerra do petróleo, podendo até ser motivo de várias guerras. Há
países, inclusive, que já importam água de outros países para seu consumo,
como é o caso de Israel, Arábia Saudita e Kuwait. Daí a água ser considerada,
na atualidade, como um recurso estratégico.

SENAI 33
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Porém, apesar dessa crescente necessidade de água, o homem vem poluindo os rios,
lagos e mares do planeta, das mais diversas formas. Uma delas se dá por meio do despejo de
esgoto doméstico e industrial em suas águas, sem o tratamento adequado, lançando resíduos
poluidores que vão desde o detergente não-biodegradável até o resíduo de petróleo.

A água que o homem consome precisa receber tratamento especial para não
acarretar perigos para a sua vida. Segundo a ONU, existem 1,3 bilhão de pes-
soas em todo o mundo que não têm acesso à água limpa e, por isso, correm
riscos constantes de contaminação. E cerca de 25 mil pessoas morrem diaria-
mente por utilizarem água contaminada.

No Brasil, a poluição de nossos rios, lagos e mares é tanta, que nos coloca como o país
que mais intensamente polui as suas águas, entre todos os demais da Terra. Talvez isso se dê
pelo fato de não darmos a devida importância a esse recurso, por considerarmos que ele exis-
te em abundância em nosso território, uma vez que 15% da água doce do mundo encontra-se
em solo brasileiro. Um dos maiores resultados dessa ação tão inconseqüente está no alto nú-
mero de internados nos hospitais brasileiros – 70% – por problemas ocasionados pela água
poluída.

Depois de ler este poema escrito por um filósofo chinês no século IV antes de
Cristo, reflita sobre suas palavras, tendo em vista a problemática da água, nos
dias atuais.
Água
A água é o sangue da terra.
Insubstituível.
Nada é mais suave e,
no entanto, nada a ela resiste.
Aquele que conhece seus
princípios pode agir
corretamente, tomando-a
como chave e exemplo.
Quando a água é pura,
o coração do povo é forte.
Quando a água é suficiente,
o coração do povo é tranqüilo.

34 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

O ciclo da água
A água está ao nosso redor, ainda que nem sempre possamos perceber isso claramente.
Ela está no ar, como chuva, gelo, vapor ou neblina. Ou, então, nos lagos, correntes, rios, mares
e geleiras.
Quando bebemos um copo d’água ou enchemos um balde com a água limpa e fresca de
um rio, essa água é nova para nós. Mas, na verdade, ela não é nova. A água que temos em
nosso planeta é a que sempre tivemos e a que sempre teremos. Nós não produzimos água. O
que ocorre é que esse recurso tem sido reciclado uma ou outra vez, desde o começo do uni-
verso, por diversas formas. Esse processo natural de reciclagem da água é o que chamamos de
ciclo da água, um movimento contínuo em que a água vai da terra para o ar e, depois, volta do
ar para a terra.
Observe a Figura 2.

Figura 2 – Ciclo da água

Como você deve ter percebido, o ciclo da água acontece da seguinte maneira: a água que
está nos mares, oceanos, lagos, rios e plantas se evapora pela ação da luz solar. Esse vapor é
condensado, ou seja, transforma-se em líquido, voltando à Terra em forma de chuva. As águas
das chuvas podem sofrer escoamento superficial no solo, infiltração, escoamento subterrâ-
neo ou evaporação. Quando então evapora, a água retorna para a atmosfera, completando-se
o ciclo.

SENAI 35
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

A poluição dos rios e lagos


Quando um rio está muito poluído, e já não possui peixes ou plantas em suas águas,
dizemos que ele é um rio morto. O mesmo dizemos de um lago, quando isso também acontece.
Mas de que maneiras um rio ou um lago pode ser poluído e até vir a morrer?
Uma das formas de poluição de um rio ou um lago é quando uma grande quantidade de
esgoto é despejada nele. Nesses casos, então, os dejetos servem de alimentos para certas bac-
térias que ali vivem, facilitando sua multiplicação. Essas bactérias, para respirar, passam a
consumir uma enorme quantidade de oxigênio que está dissolvido na água. Como conseqüên-
cia, o oxigênio fica insuficiente para os peixes respirarem e eles acabam morrendo.
A poluição dos rios e lagos pode ocorrer, ainda, quando o esgoto doméstico é lançado
sem tratamento prévio. Isso porque o excesso de matéria orgânica (fezes) acumula-se na su-
perfície da água dos rios e lagos, impedindo a entrada de luz. Assim, os vegetais ficam impedi-
dos de realizar fotossíntese e, conseqüentemente, de produzir oxigênio. Depois de algum tem-
po, essas algas e alguns animais que elas alimentam morrem e, assim, sucessivamente, mor-
rem todos os animais, sobrevivendo apenas as bactérias anaeróbias.

Bactérias anaeróbias – são microrganismos que vivem em ausência de oxigênio.

A morte de nossos rios e lagos também pode ser acarretada pelas substâncias tóxicas ou
pela água muito quente que são despejadas neles. Vejamos um exemplo, para o caso da água
quente. Uma indústria se instala perto de um rio e usa sua água para aquecer as caldeiras,
devolvendo-a depois para o rio, porém já bastante aquecida. Com o aquecimento da água do
rio, o gás carbônico que estava dissolvido nela diminui. Diminuindo o gás carbônico, muitas
plantas não podem fazer a fotossíntese e morrem. Com menos plantas, há menos oxigênio na
água e os animais vão desaparecendo. Essa indústria, ao aquecer a água do rio, vai acabando
com toda a sua vida animal e vegetal.
Os detergentes não-biodegradáveis, aqueles que não se decompõem, também poluem
os nossos rios e lagos, podendo causar a sua morte. Esse tipo de detergente forma um grande
volume de espuma sobre a superfície da água, impedindo a penetração de oxigênio. Sem oxi-
gênio, as plantas morrem, assim como os animais e os microrganismos que dependem dela
para sobreviver. Além disso, o detergente se infiltra no solo e chega aos lençóis subterrâneos,
de onde vem a água que muitas pessoas bebem. Essa água poluída, quando usada pelo ho-
mem, pode causar problemas intestinais.
Outra atividade que polui os rios e lagos é o uso indevido de agrotóxicos e fertilizantes,
pois eles modificam as características do solo e são prejudiciais à saúde humana. Também

36 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

são levados para os corpos d’água como rios e lagos, por meio da água da chuva e pela irriga-
ção, contaminando os mesmos.
Há ainda as terras desnudas, que são facilmente carregadas para os lagos e rios, diminu-
indo seu leito e ocasionando o assoreamento. A cada ano, são lançadas um bilhão de tonela-
das de solo fértil em nossos rios, lagos e lagoas.

Terras desnudas – são terras sem vegetação.


Assoreamento – é o acúmulo de materiais nos leitos dos rios, lagos e lagoas,
em função do depósito de terra, areia, argila, detritos etc., em geral devido ao
mau uso do solo.

Para diminuir a poluição das águas, muitas medidas têm sido tomadas em todo o mun-
do. Na maioria dos países, as indústrias que produzem substâncias tóxicas têm sido obriga-
das, por lei, a tratar seus resíduos antes de lançá-los nos rios, de modo a torná-los inofensivos.
A não obediência às leis de proteção aos reservatórios naturais de água acarreta o pagamento
de pesadas multas pelas empresas infratoras, que podem até ser fechadas, em caso de reinci-
dência.

A poluição dos mares


O oxigênio necessário para renovar a atmosfera é produzido, principalmente, pelas algas
marinhas. Assim, se o mar for poluído com resíduos industriais tóxicos, esgotos sem trata-
mento, petróleo e seus derivados, essas algas podem morrer e diminuir tanto o oxigênio da
Terra, que a vida se tornará impossível. E é isso o que vai acontecer, se o homem continuar
transformando os mares em enormes lixeiras. Além disso, não devemos nos esquecer de que
as algas marinhas podem ser extremamente úteis ao futuro da humanidade, como uma im-
portante fonte de alimento.
Outra conseqüência da poluição dos mares é a redução da vida animal, como o extermí-
nio de peixes, crustáceos e moluscos que são largamente utilizados como alimento pelo
homem.

Leia mais sobre esse assunto no Texto de apoio V – Frutos do mar, que trata da
qualidade dos alimentos vindos do mar, diante da contaminação e saturação de
nossas águas oceânicas.

SENAI 37
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Medidas para diminuir a poluição da água


Considerando tudo o que vimos até aqui a respeito da poluição das águas de nossos rios,
lagos e mares, verificamos como é necessário adotar medidas, visando diminuir essa polui-
ção. Veja algumas sugestões a seguir, algumas delas até bem simples de serem colocadas em
prática, seja individual ou coletivamente:
• reciclar a água industrial, utilizando-a, sempre que possível, no próprio processo;

• não jogar o óleo do carro no esgoto, pois, na maioria das vezes, ele é lançado direta-
mente nos rios e lagos. Meio litro de óleo é suficiente para causar uma mancha vene-
nosa de milhares de metros quadrados;

• utilizar detergentes biodegradáveis, ou seja, que se decompõem e, por isso, agridem


menos o meio ambiente;

• não jogar lixo nos rios, lagos, lagoas e mares;

• não utilizar o esguicho de água para varrer quintais e calçadas, como substituto da
vassoura;

• certificar-se de que o sistema séptico de esgoto está sendo esvaziado periodicamen-


te e mantido de forma adequada;

• proteger o jardim de modo a minimizar e escoamento das chuvas e a erosão do solo;

• evitar o uso de fertilizantes, herbicidas e pesticidas tóxicos líquidos em sua proprie-


dade. Ao invés disso, pense na utilização de métodos orgânicos para melhorar e pro-
teger seu gramado e jardim;

• considerar a possibilidade de comer menos produtos animais, especialmente carne.


Lembramos que cerca de 50% da água utilizada nos Estados Unidos destina-se à
produção ineficiente de alimentos (ração) para a criação de gado, ao invés de plan-
tações voltadas para o consumo humano; e

• diminuir o desperdício de água.


E por que é tão importante evitar esse desperdício?
Já vimos que a quantidade de água disponível em nosso planeta não aumenta. Por outro
lado, o crescimento da população mundial e da atividade industrial vem acarretando um con-
sumo cada vez maior desse recurso. Daí a necessidade de uma administração adequada da
água disponível, não só em relação à qualidade, mas também à quantidade. É nesse contexto
que o desperdício de água precisa ser combatido, de modo a evitar que ela nos falte um dia.
No Quadro 1 você encontrará algumas sugestões para fazer um uso mais econômico desse
recurso tão imprescindível a todos nós. Analise-as com atenção.

38 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Quadro 1

Individualmente, cada um de nós pode contribuir para o uso mais racionaliza-


do e econômico de água. Nesse sentido, o que você tem feito para evitar o des-
perdício de água, seja em sua casa, no trabalho, em casa de um amigo, na
escola, em um restaurante etc.? Quais das sugestões apresentadas nesse qua-
dro você já coloca em prática? E quais você ainda precisa incorporar à sua
rotina?

Contaminação do ar
A poluição do ar ocorre devido à emissões de gases, vapores, partículas e poeiras, decor-
rentes das ações humanas e, também, de fenômenos naturais tais como incêndios
espontâneos, ventos, vulcões etc.
Dentre as substâncias tóxicas lançadas ao ar pelas indústrias, podemos citar o dióxido de
enxofre, o gás sulfídrico, o gás sulfuroso, as partículas metálicas de chumbo e zinco, os óxidos
de nitrogênio e as substâncias usadas na fabricação de inseticidas. Tais produtos podem pro-
vocar desde as simples alergias até as doenças mais graves, como o câncer.

SENAI 39
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

No Brasil, uma situação extremamente grave é a da cidade de Cubatão, um dos maiores


parques industriais do estado de São Paulo, localizada em um vale cercado de montanhas,
onde a circulação do ar fica muito prejudicada. Numa escolha muito infeliz, instalaram-se lá
indústrias químicas, de fertilizantes, de papel e de celulose, de material elétrico, de cimento,
além de uma siderúrgica (COSIPA – Companhia Siderúrgica Paulista) e uma refinaria da
PETROBRAS, que traz na sua esteira uma série de outras indústrias ligadas aos subprodutos
do refino do petróleo. Praticamente, todas elas são muito poluentes.
A conseqüência é que o ar de Cubatão se tornou irrespirável, tamanha é a quantidade de
substâncias nocivas lançadas na atmosfera. Lá são comuns as doenças respiratórias, as mo-
léstias degenerativas, o câncer, as lesões em órgãos internos, como fígado, cérebro e rins. As-
socia-se também à poluição atmosférica o grande número de nascimentos de crianças sem
cérebro (anencéfalas). Apenas no ano de 1980, 40 crianças em cada mil nasceram mortas,
enquanto outras 40 – muitas delas deformadas – morreram antes de completar uma semana
de vida.
Logicamente, os danos devidos à poluição em Cubatão não se restringem à espécie hu-
mana. Toda a natureza também é afetada, chegando a ocorrer a destruição da floresta nas
encostas da Serra do Mar. Os vegetais que conseguem se desenvolver aparecem retorcidos,
deformados, com folhas manchadas e raízes podres.
Grandes áreas da Mata Atlântica, que cobre a região de Cubatão, estão simplesmente se
desnudando pela ação da toxidez do ar. Conseqüentemente, as fortes chuvas da região provo-
cam desmoronamentos e avalanches que podem assorear rios, causar inundações e soterrar
casas e indústrias ao pé do morro.
É bem verdade que a situação de Cubatão já foi pior. O órgão oficial paulista de combate
à poluição, a CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), tem desenvol-
vido um intenso trabalho junto às indústrias da região e às autoridades municipais para mu-
dar esta triste primazia de Cubatão: a de ser a cidade com o ar mais poluído do mundo. Novos
processos já foram desenvolvidos por muitas indústrias para reduzir os produtos residuais
tóxicos. A maioria das fábricas mandou instalar filtros em suas chaminés para diminuir a
quantidade de venenos lançados ao ar. Esforços para combater a poluição estão sendo feitos,
mas os resultados efetivos ainda vão demorar algum tempo para se tornarem evidentes.
Nos países mais desenvolvidos, onde esse problema é particularmente grave, uma legis-
lação rigorosa antipoluição obriga as indústrias a procurarem soluções, sob pena de serem
proibidas de funcionar.
A mortalidade provocada pela poluição do ar é difícil de ser estimada. Mas certamente,
milhares de pessoas morrem a cada ano, vítimas de alguma doença em que o ar sujo tem um
papel determinante. Os mais atingidos são as crianças, os idosos, as mães que amamentam e
as mulheres gestantes.

40 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

A poluição do ar gerada em uma localidade pode afetar pessoas residentes em


áreas distantes do local de emissão. São os efeitos globais da poluição!

A poluição do ar causada pela ação do homem, por meio do mau uso dos recursos natu-
rais e pelos empreendimentos industriais altamente poluidores, vem acarretando graves pro-
blemas ambientais, tanto em nível global como regional. Dentre esses problemas estão a for-
mação da chuva ácida, a intensificação do efeito estufa, os efeitos dos poluentes na inversão
térmica e a destruição da camada de ozônio.

A chuva ácida
A chuva ácida é provocada pelos óxidos de nitrogênio e de enxofre que são lançados na
atmosfera. Esses óxidos gasosos, por sua vez, são provenientes da combustão nos motores e,
também, da queima de combustíveis fósseis (carvão vegetal e petróleo) que ocorre nos pro-
cessos industriais. Quando os óxidos entram em contato com o vapor d’água, eles reagem,
transformando o vapor em ácidos. Com isso, aumenta a acidez da atmosfera e da água de
chuva. Observe a Figura 3.

Figura 3

SENAI 41
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

A acidez da água da chuva ocasiona problemas de saúde, queima as plantas e deixa os


recursos hídricos mais ácidos, provocando a morte da fauna e da flora aquática, sem contar
com os estragos que causa em prédios e monumentos.
A chuva ácida, como vemos, não conhece fronteiras. Até porque os poluentes produzi-
dos em um local podem ser carregados pelos ventos e provocar chuvas ácidas em locais bem
distantes.
Por isso, há hoje leis internacionais que obrigam as indústrias a usar filtros contra gases
poluentes, embora a adoção de medidas que previnam ou reduzam as emissões destes
poluentes na natureza seja responsabilidade de cada um de nós.
Vejamos então algumas medidas que podem ser colocadas em prática, tanto individual
como coletivamente, em defesa de nosso meio ambiente:
• substituir o petróleo por outras fontes de energia não-poluentes como, por exemplo,
a energia solar ou a energia eólica;

• reduzir o teor de enxofre nos óleos combustíveis;

• diminuir o tráfego em áreas urbanas, incentivando o uso do transporte público ou


do transporte solidário ou, ainda, a implantação de rodízio de veículos automotores;

• promover a diminuição ou extinção das queimadas;

• não queimar o lixo ou folhas de árvore;

• substituir o carro particular pela bicicleta; e

• manter o carro bem regulado, para diminuir a emissão de gases. Vale lembrar que os
veículos atuais são obrigatoriamente dotados de catalisadores, cuja função é filtrar
os gases poluentes emitidos por eles.

A implantação de um programa de rodízio de automóveis pode reduzir as emis-


sões de monóxido de carbono em até 30%, sem contar que resultará em maior
conscientização dos cidadãos sobre a gravidade do problema da poluição do
ar. Pensando sobre a questão, o que você pode fazer nesse sentido ou sugerir a
um colega da empresa? Que processos de trabalho você poderia sugerir em sua
empresa, visando diminuir o tráfego em áreas urbanas e também o consumo de
combustível?

Energia eólica – é a energia produzida pela ação dos ventos.

42 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

O efeito estufa
A energia proveniente do Sol atravessa o espaço e a atmosfera terrestre na forma de radi-
ação. Essa radiação, em contato com a Terra, transforma-se em calor, aquecendo a Terra e sua
atmosfera, e fornecendo as condições necessárias à manutenção da vida no planeta.
Veja, na Figura 4, como isso ocorre.

Figura 4

A queima de petróleo e seus derivados, como a que ocorre, por exemplo, nos motores de
automóveis, ônibus e caminhões, assim como as queimadas das matas geram uma grande
concentração de gás carbônico. Esse gás age na atmosfera de modo semelhante ao vidro em
uma estufa de plantas, ou seja: deixa passar a radiação solar e retém o calor, fazendo aumen-
tar, gradativamente, a temperatura da Terra.
A aumento de temperatura da Terra provoca alterações climáticas que afetam a agricul-
tura e os ecossistemas. Nas áreas costeiras, podem ocorrer inundações, e as terras produtivas
podem vir a se tornar áridas e desérticas.

Ecossistemas – é o conjunto formado pelos elementos vivos (como os animais e


as plantas) e pelos elementos não-vivos (como solo, água e ar) de uma mesma
área, que estão ligados entre si, trocando substâncias e influenciando uns aos
outros. Um exemplo de ecossistema é a caatinga, com seu solo arenoso, clima
seco e quente, e determinadas espécies de vegetais e animais adaptadas a viver
nessa situação. A troca entre os seres vivos da caatinga com as suas condições
ambientais é que vai caracterizar esse ecossistema.

Uma das maneiras de o homem prevenir o problema do efeito estufa é promover o reflo-
restamento de grandes áreas, pois isso vai possibilitar maior absorção do dióxido de carbono
(gás carbônico) da atmosfera.

SENAI 43
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

A inversão térmica
Sabemos que o ar quente é mais “leve” e menos denso que o ar frio e, por isso, ele tende
a subir, enquanto o ar frio tende a descer. Assim, os poluentes liberados no ar, e que são mais
quentes que ele, sobem e vão se dispersar nas camadas mais altas da atmosfera. Esse é o
fenômeno normal.
Mas no inverno, principalmente, e nos centros urbanos, algumas condições climáticas
podem inverter esse movimento, dando origem ao que chamamos de inversão térmica. Com
isso, o ar não se aquece e, permanecendo frio, ele não sobe, o que impede o movimento das
correntes de ar verticais que ajudam a dissipar as fumaças e os gases poluentes.

Figura 5

Desse modo, os gases poluentes ficam presos nas camadas mais baixas da atmosfera,
criando uma névoa sobre a cidade, composta de gases tóxicos e poluentes, que causam danos
à nossa saúde, tais como: irritação nos olhos, pneumonia, bronquite, enfisemas, agravamen-
to das doenças cardíacas, mal-estares e intoxicação.

44 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

A camada de ozônio
O oxigênio, além de fazer parte do ar que respiramos, também se encontra no ozônio
(O3), um gás que compõe uma camada situada na alta atmosfera, entre 15 e 40km de altitude.
O ozônio tem a capacidade de absorver os raios ultravioleta emitidos pelo Sol, que são
extremamente prejudiciais à vida e, por isso, a camada de ozônio desempenha a importante
função de proteger a Terra dos efeitos nocivos desses raios. Sem esse escudo protetor, as radi-
ações ultravioleta atingem diretamente a Terra, podendo alterar a composição de moléculas,
inclusive aquelas que constituem os seres vivos.
Observe a Figura 6.

Figura 6

Nos últimos tempos, o mundo está alarmado por uma diminuição significativa das es-
pessuras da camada de ozônio, a que chamamos de buraco na camada de ozônio, e a respeito
do qual você já deve ter ouvido falar. Os cientistas atribuem esse buraco ao uso de compostos
à base do gás CFC – Cloro, Flúor e Carbono –, como é o caso do gás freon, empregado pela
indústria em sistemas de refrigeração e aerossóis (comumente usados em desodorantes). Um
outro tipo de gás, que é liberado pelos extintores de incêndio e pelas luzes do tipo néon, tam-
bém contribui para diminuir a camada de ozônio na atmosfera.

SENAI 45
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

A partir do momento em que os CFCs são emitidos, eles demoram de 10 a 20


anos (ou até 50 anos, segundo alguns autores) para serem transportados até a
estratosfera. Isso significa que, se pararmos hoje de liberar CFCs na atmosfe-
ra, 50 anos depois ainda estaremos sofrendo as suas conseqüências.

Vejamos, então, como se dá a destruição da camada de ozônio.


O gás freon é um gás quimicamente inerte, ou seja, ele não reage com outras substâncias.
Assim, quando ele é liberado na atmosfera, atinge grandes altitudes, sendo quebrado apenas
pela radiação ultravioleta do Sol. Quando ocorre essa quebra, são liberados átomos de cloro,
que reagem com o oxigênio do ozônio. Este é então decomposto, formando-se um buraco na
sua camada.
A destruição da camada de ozônio acarreta vários problemas ambientais, dentre os quais
destacamos:
• danos à saúde do homem – câncer de pele; enfraquecimento do sistema imunológico
do organismo e incidência de catarata;

• danos às plantas – redução do seu crescimento; maior susceptibilidade às pragas,


doenças e pestes; qualidade inferior das sementes; e

• alterações imprevisíveis no clima do planeta.


A Academia de Ciências dos Estados Unidos estima que a redução de 1% da camada de
ozônio pode provocar 10 mil casos de câncer de pele por ano, só naquele país. Destaca, ainda,
que a redução da camada de ozônio também contribui para o efeito estufa.
Considerando todos esses efeitos do gás CFC em nosso ambiente, o uso desses compos-
tos tem sido proibido em diversos países do mundo, visando proteger a integridade dos siste-
mas ambientais globais.

Se você fosse convidado a participar de um programa de combate ao uso de


substâncias que concorrem para o aumento do buraco na camada de ozônio, de
que forma poderia contribuir? Que ações você colocaria em prática, seja no
plano individual, seja no coletivo? E na empresa, que realizações você faria ou
sugeriria aos colegas?

46 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Contaminação do solo
A vida humana, como a de outros organismos, depende muito da terra e, especialmente,
do solo. Os nutrientes presentes no alimento que ingerimos originam-se no solo, pois é lá que
ocorrem importantes etapas do seu ciclo de vida.
Diferentemente do que muitas pessoas pensam, no solo encontramos seres vivos e não-
vivos. Uma colher de chá de solo fértil pode conter 5 bilhões de bactérias, 1 milhão de
protozoários e 200 mil algas e fungos. Essa variedade de seres vivos recicla os nutrientes ne-
cessários às plantas e aos animais, além de degradar o lixo que jogamos fora. O solo é, portan-
to, o berço da renovação da vida na Terra.
Podemos entender o solo como a camada externa de material mineral e orgânico que
recobre a crosta terrestre, na qual os vegetais desenvolvem suas raízes, retirando os elemen-
tos necessários para sua nutrição.
Mas apesar de sabermos que o solo é a fonte de nutrientes capaz de saciar as necessida-
des dos seres vivos, o homem passou a degradá-lo desde que começou a praticar a agrope-
cuária. Muitas florestas foram devastadas para dar lugar às lavouras e aos pastos, de modo a
atender à demanda crescente de alimentos.
Uma vez perdida a cobertura vegetal, o solo também foi perdendo sua fonte de nutrien-
tes, que é a matéria orgânica em decomposição. Foi necessário, então, desenvolver técnicas
agrícolas que restaurassem ou aumentassem a fertilidade do solo e diminuíssem o tempo de
colheita. Para resolver esse problema, o homem inventou fertilizantes químicos e máquinas
agrícolas capazes de arar grandes áreas em pouco tempo, empregando menos mão-de-obra.
Por outro lado, uma vez que o ambiente natural foi completamente modificado, dando
lugar à monocultura intensiva, houve quebra da cadeia alimentar e, com isso, insetos e pra-
gas, de um modo geral, perderam seus predadores naturais. Sem a ameaça dos predadores, e
com alimentação farta das plantações, insetos e pragas começaram a se proliferar. Para
combatê-los, então, o homem passou a utilizar os agrotóxicos.

Monocultura intensiva – é a prática do cultivo de uma só espécie agrícola,


realizada em grandes áreas.

Quando o homem altera o meio ambiente natural em favor do desenvolvimento econô-


mico, o novo equilíbrio ecológico que se estabelece a partir dali dificilmente lhe traz apenas
benefícios. Então, se de um lado o desmatamento para a agricultura e o uso de fertilizantes e
agrotóxicos possibilitaram o aumento da produção agrícola, de outro acarretaram sérios pro-
blemas como erosão, desertificação, salinização, contaminação do solo, perda da fertilidade
natural, poluição dos rios, lagos e mares e disposição inadequada de resíduos sólidos.
Vamos então analisar alguns problemas relacionados com o mau uso do solo pelo homem.

SENAI 47
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

A desertificação
Com a perda da camada vegetal, o solo é carregado pelas águas das chuvas e dos ventos,
indo depositar-se, em grande parte, nos leitos dos rios, o que diminui a profundidade desses
rios. Assim, com as próximas chuvas, os leitos dos rios vão minguando cada vez mais, de tão
ralos que ficam. Sem umidade no solo, as sementes que sobraram na terra não conseguem
germinar. É um ciclo contínuo de empobrecimento do solo, até que ele, sem vegetação e sem
água, vira deserto.
Nesse caso, então, dizemos que ocorreu a desertificação do solo.

No Brasil, a desertificação já atinge a parte semi-árida das regiões Nordeste e


Norte e o estado de Minas Gerais. Ao todo, uma área de aproximadamente 181
mil km2.

A salinização
A salinização do solo ocorre, principalmente, nas regiões áridas e semi-áridas, por meio
da atividade de irrigação do solo para a agricultura. Nessas regiões, a temperatura é alta, fa-
zendo com que a evaporação das áreas cultivadas e das áreas desnudas, sem vegetação, ocor-
ra rapidamente. O resultado disso é o acúmulo de sal no solo (sais de potássio, sódio, magnésio
e cálcio) e a conseqüente perda da fertilidade.
Estudos científicos mostram que a região do Crescente Fértil, na Mesopotâmia, que foi o
berço da agricultura, esgotou-se provavelmente devido ao problema de salinização dos solos
da região.

Cerca da metade de toda a terra irrigada no mundo já apresenta problemas de


salinização e de saturação do solo. E uma outra parte bastante significativa é
abandonada, anualmente, em virtude desses problemas. No Nordeste do Brasil,
por sua vez, aproximadamente 30% das áreas irrigadas dos projetos públicos
apresentam problemas de salinização, sendo que algumas delas já nem produzem.

O uso de fertilizantes
Os fertilizantes têm contribuído bastante para o aumento da produção de alimentos. Na
China, por exemplo, desde a Segunda Guerra Mundial, essa produção aumentou em mais de
60%, em grande parte devido aos fertilizantes. Em todo o mundo, o uso de fertilizantes cres-
ceu consideravelmente nos últimos anos, tendo aumentado nove vezes, apenas no período
de 1950 a 1986.

48 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Os fertilizantes artificiais são constituídos, basicamente, da mistura de nitrogênio, fósfo-


ro e potássio. Aplicando esses fertilizantes no solo, o homem tenta supri-lo de nutrientes que
resultam da decomposição da matéria orgânica e das rochas.
Mas esse tipo de intervenção do homem traz muitas conseqüências.
Com a chuva ou a irrigação, os nutrientes são facilmente carregados para os rios, lagos e
mares, formando os nitratos e fosfatos, que tornam essas águas poluídas e afetam a saúde das
pessoas. Os nitratos dos fertilizantes podem envenenar o sangue, provocar câncer gástrico
nos adultos e malformação do feto. Além disso, o uso de fertilizantes à base de sulfato de
amônio torna o solo mais ácido, inibindo o crescimento das plantas.

O uso de agrotóxicos
Em todo o mundo, o emprego de agrotóxicos aumentou rapidamente depois de 1950, e
estima-se que tal crescimento ainda vai continuar. Na Índia, por exemplo, o seu uso aumen-
tou 40 vezes, entre meados dos anos 1950 e meados dos anos 1980.
Os agrotóxicos, assim como os fertilizantes, ajudam a aumentar a produção, mas tam-
bém trazem sérios problemas. Vejamos alguns deles:
• muitos agrotóxicos são tóxicos não apenas às pestes que eles pretendem combater,
mas também às pessoas e à vida selvagem. O número de envenenamentos por
pesticidas, em todo o mundo, chega a 2 milhões a cada ano, com mais de 40 mil
casos fatais;

• o uso contínuo dos agrotóxicos aumenta a resistência das pragas a eles. Por volta de
1980, mais de 400 insetos desenvolveram resistência a agrotóxicos, juntamente com
mais de 100 espécies patogênicas às plantas, e numerosos roedores e vermes parasi-
tas; e

• os agrotóxicos permeiam toda a cadeia alimentar, afetando os seres vivos.


Apenas nos Estados Unidos, os custos indiretos do uso de agrotóxicos para a saúde pú-
blica e para o meio ambiente foram estimados entre US$ 1 e 2 bilhões a cada ano.

O desmatamento
Outra forma de degradação ambiental que acarreta a destruição de animais e vegetais e
que, conseqüentemente, degrada e contamina o solo é a prática sem controle do desmata-
mento.
No Brasil, essa prática tem alcançado níveis alarmantes, especialmente ao longo de ro-
dovias como, por exemplo, a Rio-Bahia e a Belém-Brasília. O desmatamento também ocorre
com freqüência em torno das instalações de novos pólos industriais, como aconteceu com a
Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, que destruiu mais de 100km2 de mata por ano.

SENAI 49
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

A ação da indústria madeireira no Brasil, juntamente com as queimadas, é a


grande responsável pela destruição de uma parte enorme da capa vegetal da
Floresta Amazônica, maior que a área ocupada pela França. E é isto que nos
coloca, atualmente, na posição de maior devastador de florestas do mundo, ao
lado de outros países asiáticos.

Medidas para diminuir os problemas com o solo


Muito ainda pode ser feito para diminuir ou até acabar com práticas que conduzem à
degradação e contaminação do solo. Dentre as várias medidas possíveis de serem adotadas
pelo homem nesse sentido, relacionamos essas, para você analisar:
• aumentar o uso de fertilizantes orgânicos, inclusive o de resíduos das plantações e
dos animais, para manter e melhorar a fertilidade e a capacidade de retenção de
água no solo;

• controlar o uso de pesticidas e utilizar equipamentos de segurança durante a aplica-


ção dos mesmos;

• promover o agroflorestamento, ou seja, o plantio conjugado de árvores e de alimentos;

• incentivar métodos de plantio que protejam o solo da ação do vento e da chuva, tais
como o que consiste em cobrir as plantas com matéria vegetal;

• evitar o supercultivo, ou seja, repetidas plantações da mesma cultura sem um perío-


do de pouso entre elas;

• utilizar a técnica de culturas intercaladas, cultivando espécies diferentes em um


mesmo pedaço de terra;

• efetuar pesquisas sobre a capacidade de suporte de terras mais frágeis, como o semi-
árido, por exemplo, de modo a descobrir métodos produtivos e menos destrutivos; e

• combater o desmatamento.
Quanto ao combate de nossas matas e florestas, há muitas medidas a serem adotadas.
Muitas delas, inclusive, estão ao alcance de qualquer um de nós, como você vê no destaque.

50 SENAI
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

Combata o desmatamento!
• Denuncie o desmatamento à Secretaria de Meio Ambiente Municipal e
Estadual e ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Natu-
rais Renováveis (IBAMA). A maioria deles ocorre em áreas protegidas por
lei e, conseqüentemente, é ilegal.
• Realize o reflorestamento de áreas degradadas, plantando árvores nativas
daquele local específico.
• Pressione nossos políticos para elaboração de uma legislação florestal mais
restritiva.
• Plante árvores. Em caso de dúvidas sobre as espécies adequadas à região,
procure o Jardim Botânico, o Horto Florestal, o IBAMA ou a Secretaria de
Meio Ambiente do seu município ou estado. Se cada um se tornar respon-
sável pelo plantio de uma árvore, e cuidar para que ela sobreviva, a quali-
dade de vida das nossas cidades será bem melhor.
• Consuma produtos de madeira e de papel de áreas que são reflorestadas.
• Consuma papel reciclado.
• Procure alternativas econômicas para as florestas. Cientistas norte-ame-
ricanos apontaram que a exploração comercial de plantas medicinais ori-
ginárias das florestas tropicais, como é o caso da Floresta Amazônica, pode
ser mais lucrativa do que a devastação dessas regiões, para o desenvolvi-
mento da agricultura ou a exploração madeireira.

Desequilíbrios globais
Os efeitos causados pela degradação do ambiente geram grandes problemas para um
país e influem na qualidade de vida do seu povo. Esses efeitos vêm ocorrendo em várias regiões
do mundo, e muitos deles, inclusive, se caracterizaram como grandes catástrofes.
Vamos ver?
 América do Norte – chuva ácida sobre os Estados Unidos e o Canadá, provocada pela
emissão de gases provenientes de complexos industriais. Contaminação dos Esta-
dos Unidos devido às atividades da indústria armamentista. Poluição atmosférica
na Cidade do México.

SENAI 51
SMS – Meio Ambiente – O meio ambiente e a poluição

 Amazônia – as queimadas na Amazônia podem afetar o equilíbrio climático do pla-


neta, uma vez que essa floresta representa cerca de 33% das florestas tropicais úmi-
das do mundo.

 Leste europeu – é uma das regiões do planeta mais afetadas pela poluição industrial.
A ex-Alemanha Oriental emitia três vezes mais dióxido de enxofre do que a ex-Ale-
manha Ocidental, apesar de sua produção industrial e sua superfície serem bem
menores. O rio Danúbio, que banha a Alemanha, é um dos mais poluídos do mundo.

 Urais – a república autônoma Bashkiria, nos Urais (na antiga URSS – União das Re-
públicas Socialistas Soviéticas), com 4 milhões de habitantes, pode se tornar inabi-
tável, devido à contaminação do solo e do ar com resíduos de usinas petroquímicas.

 Região do Golfo Pérsico – o pior derramamento de óleo da história aconteceu duran-


te a Guerra do Golfo, nos dois primeiros meses de 1991, quando cerca de 10 milhões
de toneladas de petróleo cru caíram nas águas do Golfo. A queima de petróleo em
mais de 400 poços do Kuwait, destruídos durante a guerra, provocou uma gigantesca
nuvem negra, que se deslocou pela região e chegou à Turquia. Essa nuvem pode pro-
vocar chuva ácida.

 Chernobyl – em 26 de abril de 1986, à 1h24min, explodiu o reator número 4 da cen-


tral nuclear de Chernobyl, na então URSS. Em um raio de 30km, 135 mil pessoas
foram evacuadas, e outras 500 mil tiveram que deixar suas casas, gradativamente. A
nuvem radioativa atingiu quase toda a Europa.

 Mar de Aral – desertificação do Mar de Aral, na antiga URSS, devido à retirada de


água para irrigação.

 Bhopal – em 3 de dezembro de 1984, um tanque com 50 mil litros de isocianato de


metila, um produto altamente tóxico, explodiu nos depósitos da Union Carbide, em
Bhopal, na Índia. A nuvem tóxica matou cerca de 1.800 pessoas e deixou 200 mil
feridos ou doentes.

52 SENAI
Resíduos sólidos

Introdução

Classificação dos resíduos sólidos quanto à origem

Classificação dos resíduos sólidos quanto aos riscos

A coleta dos resíduos sólidos

Disposição dos resíduos sólidos

Gerenciamento dos resíduos sólidos

Armazenamento, manuseio e transporte


dos resíduos sólidos

3
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Introdução
A contaminação do solo é ocasionada, em grande parte, pelos resíduos sólidos.
Mas o que é um resíduo sólido?
Um resíduo é, em outras palavras, um lixo. E lixo, de acordo com o Dicionário de Aurélio
Buarque de Holanda, é “tudo aquilo que não se quer mais e se joga fora; coisas inúteis, velhas
e sem valor”.
Já para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), lixo é definido como “restos
das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou
descartáveis, podendo-se apresentar no estado sólido, semi-sólido ou líquido, desde que não
seja passível de tratamento convencional”.
O lixo sólido e o semi-sólido constituem os resíduos sólidos, cuja definição, de acordo
com a Norma NBR-10004, da ABNT, é a seguinte: “resíduos nos estados sólido e semi-sólido,
que resultam de atividades da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, co-
mercial, agrícola, de serviços e de varrição”.
Nessa mesma definição também estão incluídos como resíduos sólidos:
• os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água e os gerados em equipa-
mentos e instalações de controle de poluição; e

• os líquidos que não podem ser lançados na rede pública de esgotos ou nos rios, lagos
e mares, como é o caso dos óleos minerais, por exemplo.
Vemos, assim, como é grande a variedade de resíduos sólidos. É disso que trataremos
neste novo capítulo, classificando os resíduos em função de sua origem e dos riscos que re-
presentam para o homem e o meio ambiente, bem como analisando sua destinação e
gerenciamento.

SENAI 55
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Classificação dos resíduos


sólidos quanto à origem
Os resíduos sólidos podem ser agrupados em: doméstico, comercial, público e domicili-
ar especial. Veja o que caracteriza cada um desses grupos.
 Resíduo doméstico – é produzido nos domicílios residenciais e inclui, entre outros:
papel, jornais velhos, embalagens de plástico e de papelão, vidros, latas e resíduos
orgânicos, como restos de alimentos, trapos, folhas de plantas ornamentais.

 Resíduo comercial – compreende o resíduo produzido em estabelecimentos comer-


ciais e varia de acordo com a natureza da atividade. Os restaurantes e hotéis produ-
zem, principalmente, restos de comida; os supermercados e lojas, embalagens; os
escritórios, sobretudo, grandes quantidades de papel. O resíduo comercial também
é gerado pela indústria, pois ela produz lixo de escritório e resíduos provenientes da
limpeza de seus pátios e jardins.

 Resíduo público – é constituído de resíduo proveniente de varrição, capina, raspa-


gem etc. dos logradouros públicos (ruas e praças) e de móveis velhos, galhos gran-
des, aparelhos de cerâmica, entulhos de obras. Também incluem os materiais inú-
teis que a população deixa nas ruas ou que são retirados das residências por meio do
serviço de remoção especial.

 Resíduo domiciliar especial – inclui entulhos de obras, pilhas, baterias, lâmpadas flu-
orescentes e pneus. Os entulhos de obra, também conhecidos como resíduos da
construção civil, só estão enquadrados neste grupo devido à grande quantidade em
que são gerados e, também, pela importância que sua recuperação e reciclagem vêm
assumindo no cenário nacional.

A questão do lixo também é tratada nos seguintes textos de apoio, ao final deste
material: II, III, IV, VIII, X e XIV. A leitura de tais textos vai ampliar seus conhe-
cimentos sobre esse assunto tão importante para todos nós.

Grandes e pequenos geradores de resíduos


Tanto o grupo de resíduo comercial de um modo geral como os entulhos de obras, em
particular, podem ser divididos em dois subgrupos: o de pequenos geradores de resíduos e o
de grandes geradores.

56 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

O regulamento dos serviços de limpeza urbana do município define precisamente cada


um desses subgrupos, em geral adotando como limite entre eles a quantidade média de resí-
duos gerados diariamente em uma residência particular com cinco moradores.
Um parâmetro comumente empregado para a definição desses dois subgrupos de resí-
duos é o seguinte:
• pequeno gerador de resíduos comerciais – é o estabelecimento que gera até 120 li-
tros de lixo por dia; e

• grande gerador de resíduos comerciais – é o estabelecimento que gera um volume


de resíduos superior a 120 litros de lixo por dia.

Um sistema de limpeza urbana deve criar os subgrupos de pequenos e grandes


geradores, pois a coleta dos resíduos dos grandes geradores pode ser tarifada,
transformado-se em fonte de receita adicional. O grande gerador de resíduos
também pode ter seu lixo coletado e transportado por empresa particular
credenciada pela prefeitura, diminuindo o custo da coleta para o município.

No caso do entulho de obra que, como vimos, é um resíduo domiciliar especial, os


parâmetros adotados para a definição do pequeno e grande gerador de resíduos são os se-
guintes:
• pequeno gerador de resíduos de obras – é a pessoa física ou jurídica que gera até
1.000kg por dia ou, então, 50 sacos de 30 litros; e

• grande gerador de resíduos de obras – é a pessoa física ou jurídica que produz mais
de 1.000kg por dia ou, então, 50 sacos de 30 litros.

O entulho de obras
A indústria da construção civil é a que mais explora os recursos naturais e, também, a
que mais gera resíduos, compostos de uma mistura de materiais inertes, tais como concreto,
argamassa, madeira, plásticos, papelão, vidros, metais, cerâmica e terra.
No Brasil, a tecnologia construtiva normalmente aplicada favorece o desperdício na exe-
cução das novas edificações. Enquanto em países desenvolvidos a média de resíduos prove-
niente de novas edificações encontra-se abaixo de 100kg/m2, no Brasil este índice gira em
torno de 300kg/m2 edificado.
Em termos quantitativos, o entulho de obras corresponde a algo em torno de 50% da
quantidade em peso de resíduos sólidos urbanos que são coletados em cidades com mais de
500 mil habitantes de diferentes países, inclusive o Brasil.

SENAI 57
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Em termos de composição, os resíduos da construção civil são uma mistura de materiais


inertes, tais como concreto, argamassa, madeira, plásticos, papelão, vidros, metais, cerâmica
e terra.

As pilhas e baterias
As pilhas e baterias têm como princípio básico converter energia química em energia
elétrica, utilizando um metal como combustível. Seus principais usos são:
• funcionamento de aparelhos eletroeletrônicos;

• partida de veículos automotores e máquinas em geral;

• telecomunicações;

• telefones celulares;

• usinas elétricas;

• sistemas ininterruptos de fornecimento de energia, alarme e segurança (nobreak);

• movimentação de carros elétricos; e

• aplicações específicas de caráter científico, médico ou militar.


As pilhas e baterias podem ser cilíndricas, retangulares ou em botões e contêm um ou
mais dos seguintes metais: chumbo (Pb), cádmio (Cd), mercúrio (Hg), níquel (Ni), prata (Ag),
lítio (Li), zinco (Zn), manganês (Mn) e seus compostos.
As substâncias das pilhas que contêm esses metais possuem características de
corrosividade, reatividade e toxicidade. E quando essas substâncias possuem cádmio, chum-
bo, mercúrio, prata e níquel, causam impactos negativos sobre o meio ambiente e, em especi-
al, sobre o homem. Outras substâncias presentes nas pilhas e baterias, como o zinco, o
manganês e o lítio, embora não sejam limitadas pela NBR-10004, também ocasionam proble-
mas ao meio ambiente.
Atualmente já existem no mercado pilhas e baterias fabricadas com elementos não-tóxi-
cos, que podem ser descartadas, sem problemas, juntamente com o lixo domiciliar.

As lâmpadas fluorescentes
As lâmpadas fluorescentes comuns, de forma tubular, como também as lâmpadas fluo-
rescentes compactas, possuem um pó em seu interior que se torna luminoso e que contém
mercúrio. Quando essas lâmpadas são quebradas, queimadas ou mesmo enterradas em ater-
ros sanitários, elas liberam mercúrio, que se transforma em resíduos perigosos, pois ele é
tóxico para o sistema nervoso humano e, quando inalado ou ingerido, pode causar uma enor-
me variedade de problemas.

58 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Uma vez lançado no meio ambiente, o mercúrio tem suas concentrações aumentadas
nos tecidos dos peixes, tornando-os menos saudáveis para a nossa alimentação, ou mesmo
perigosos, se eles forem ingeridos freqüentemente. As mulheres grávidas que se alimentam
desse peixe contaminado transferem o mercúrio para os fetos, que são particularmente sen-
síveis aos seus efeitos tóxicos.
A acumulação do mercúrio nos tecidos também pode contaminar outras espécies selva-
gens, como marrecos e aves aquáticas, entre outros.

Os pneus
São muitos os problemas ambientais gerados pela destinação inadequada dos pneus. Se
deixados em ambiente aberto, sujeito a chuvas, eles acumulam água, servindo como local
para a proliferação de mosquitos. Se encaminhados para aterros de lixo convencionais, pro-
vocam “ocos” na massa de resíduos, causando a instabilidade do aterro. Se são destinados a
unidades de incineração, a queima da borracha gera enormes quantidades de gases tóxicos,
necessitando de um sistema de tratamento dos gases extremamente eficiente e caro.
Por todas estas razões, o descarte de pneus é hoje um problema ambiental grave e ainda
sem uma destinação realmente eficaz.

Você pode saber mais a respeito do problema dos pneus no mundo atual, lendo
o Texto de apoio VIII – Reciclagem de pneus e o Texto de apoio IX – Um fim
para os restos da indústria, ambos apresentados no fim deste material.

Classificação dos resíduos


sólidos quanto aos riscos
Os resíduos sólidos são classificados de acordo com os riscos potenciais que acarretam
ao meio ambiente e à saúde pública. É na Norma NBR-10004, da ABNT, que esses resíduos
são classificados, de modo que possam ter manuseio e destinação adequados.
Vejamos então o que caracteriza cada uma das três classes de resíduos sólidos definidas
na referida norma.

SENAI 59
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

 Classe I – resíduos perigosos


Nesta classe estão agrupados os resíduos sólidos que podem apresentar riscos à saúde
pública ou ao meio ambiente, e que tenham uma das seguintes características:
• inflamabilidade;

• corrosividade;

• reatividade;

• toxicidade; e

• patogenicidade, ou seja, que contêm microrganismos ou toxinas capazes de produ-


zir doenças.
Um exemplo de resíduo perigoso, de classe I, é a substância das pilhas, que contém chum-
bo, cádmio, mercúrio, níquel, prata, lítio, zinco, manganês ou seus compostos e, por isso, tem
características de corrosividade, reatividade e toxicidade. As lâmpadas fluorescentes, os resí-
duos da área rural, como as embalagens de pesticidas ou de herbicidas, e os resíduos gerados
em indústrias químicas e farmacêuticas também compõem essa classe I de resíduos perigosos.
 Classe II – resíduos não-inertes
Nesta outra classe estão os resíduos sólidos que não se enquadram nas classes I e III, e
que podem ter propriedades como:
• combustibilidade;

• biodegradabilidade; e

• solubilidade em água.
Os resíduos desta classe são, basicamente, aqueles com características de lixo doméstico.
 Classe III – resíduos inertes
Esta classe reúne os resíduos que não se degradam ou não se decompõem quando dis-
postos no solo.
A Norma NBR-10004 considera que resíduos inertes são as rochas, tijolos, vidros e certos
plásticos e borrachas que não são decompostos prontamente. Portanto, estão nesta classe III
resíduos como, por exemplo, restos de construção, entulhos de demolição, pedras e areias
retirados de escavações.

60 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

A coleta dos resíduos sólidos


A coleta do lixo é uma atividade pública de grande importância social, feita regularmen-
te para remover o lixo domiciliar, os resíduos dos estabelecimentos comerciais, hospitalares,
das pequenas indústrias, dos supermercados etc. Ela também pode ser realizada em caráter
excepcional, quando se trata de remover, por exemplo, restos de exumações, limpeza de ce-
mitérios, materiais de podas de árvores, móveis, colchões e animais mortos. Há ainda o lixo
que não é coletado pelo serviço público, como é o caso dos resíduos das grandes indústrias ou
dos entulhos de construção.
Vejamos então, a seguir, a quem cabe a responsabilidade pela coleta dos resíduos sóli-
dos, bem como o código de cores estabelecido para alguns desses resíduos.

Responsabilidade da coleta dos resíduos


De um modo geral, os responsáveis pela coleta dos diferentes resíduos sólidos são a pre-
feitura do município em que ele foi gerado ou, ainda, o próprio gerador do resíduo. Essa res-
ponsabilidade varia em função da origem e da classe dos resíduos.
Veja o Quadro 1.

Quadro 1

SENAI 61
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Veja qual é o tempo de decomposição de alguns resíduos sólidos, quando estão em


local que proporciona essa decomposição:
• papel – 2 a 4 semanas • tecido de algodão – 1 a 5 meses
• corda – 3 a 4 meses • meia de lã – 1 ano
• vara de bambu – 1 a 3 anos • goma de mascar – 5 anos
• estaca de madeira pintada – 13 anos • lata de conserva – 100 anos
• pilhas – de 100 a 500 anos • lata de alumínio – 500 anos
• sacos e copos de plástico – 450 anos • pneus/borracha – mais de 500 anos
• vidro – tempo indeterminado • garrafas de plástico – tempo
indeterminado
Considerando toda essa vida do lixo, a enorme quantidade de resíduos que produ-
zimos a cada dia, e os problemas que o lixo acarreta para o meio ambiente, o que
você pode fazer, tendo em mente três ações básicas: reduzir o volume de lixo, reutilizar
materiais e reciclar os produtos?
O lixo é coisa séria e problema de todos nós!

Código de cores dos resíduos


No ano de 2001, por meio da Resolução nº 275, do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), o governo brasileiro estabeleceu um código de cores para alguns tipos de resídu-
os sólidos, a ser usado na identificação de coletores e transportadores, assim como nas cam-
panhas informativas para a coleta seletiva.
A resolução foi transcrita a seguir, para seu conhecimento e análise.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA, no uso das atribui-


ções que lhe confere a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, e tendo em vista o disposto
na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e no Decreto no 3.179, de 21 de setembro de
1999, e
Considerando que a reciclagem de resíduos deve ser incentivada, facilitada e ex-
pandida no país, para reduzir o consumo de matérias-primas, recursos naturais não-
renováveis, energia e água;
Considerando a necessidade de reduzir o crescente impacto ambiental associado
à extração, geração, beneficiamento, transporte, tratamento e destinação final de maté-
rias-primas, provocando o aumento de lixões e aterros sanitários;
Considerando que as campanhas de educação ambiental, providas de um sistema
de identificação de fácil visualização, de validade nacional e inspirado em formas de
codificação já adotadas internacionalmente, sejam essenciais para efetivarem a coleta
seletiva de resíduos, viabilizando a reciclagem de materiais, resolve:

62 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Art.1o – Estabelecer o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser


adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas
informativas para a coleta seletiva.
Art. 2o – Os programas de coleta seletiva, criados e mantidos no âmbito de órgãos
da administração pública federal, estadual e municipal, direta e indireta, e entidades
paraestatais, devem seguir o padrão de cores estabelecido em Anexo.
§ 1o – Fica recomendada a adoção de referido código de cores para programas de
coleta seletiva estabelecidos pela iniciativa privada, cooperativas, escolas, igrejas, orga-
nizações não-governamentais e demais entidades interessadas.
§ 2o – As entidades constantes no caput deste artigo terão o prazo de até doze me-
ses para se adaptarem aos termos desta Resolução.
Art. 3o – As inscrições com os nomes dos resíduos e instruções adicionais, quanto à
segregação ou quanto ao tipo de material, não serão objeto de padronização, porém
recomenda-se a adoção das cores preta ou branca, de acordo com a necessidade de
contraste com a cor base.
Art. 4o – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

JOSÉ SARNEY FILHO


Presidente do CONAMA

De acordo com essa resolução, o código de cores para diferentes tipos de resíduo é o
seguinte:

Quadro 2

SENAI 63
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Disposição dos resíduos sólidos


Os resíduos sólidos, de acordo com a classe à qual pertencem, podem ter destinos
diferentes:
• resíduos da classe I – vão para aterros sanitários construídos especificamente para
esta finalidade ou, então, são queimados em incineradores especiais; e

• resíduos das classes II e III – são incinerados ou vão para aterros sanitários, desde
que preparados para este fim e estejam submetidos a controles ambientais.
Vamos ver então, com mais detalhes, em que consiste um aterro sanitário e a destruição
térmica do lixo.

Aterro sanitário
O aterro sanitário é um processo de eliminação de resíduos sólidos bastante utilizado,
que consiste na deposição controlada de resíduos sólidos no solo e sua posterior cobertura. É
uma obra de engenharia que deve ser orientada por quatro objetivos:
• diminuição dos riscos de poluição provocados por cheiros, fogos, insetos;

• utilização futura do terreno disponível, por meio de uma boa compactação e cober-
tura;

• minimização dos problemas de poluição da água, provocados por lixiviação; e

• controle da emissão dos gases que são liberados durante os processos de degrada-
ção dos resíduos.

Lixiviação – processo em que os nutrientes são retirados do solo por meio da


lavagem.

O aterro sanitário tem vantagens e desvantagens, como você poderá analisar:

Quadro 3

64 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Um aterro sanitário é um reator biológico em evolução, que produz resíduos gasosos,


resíduos sólidos e resíduos líquidos.
 Resíduos gasosos
Esse tipo de resíduo resulta da fermentação aeróbia, que se desenvolve na superfície, e
da fermentação anaeróbia, que ocorre nas camadas mais profundas. Essa fermentação dá
origem a gases como gás carbono (CO2), metano (CH4), vapor d´água, oxigênio (O2), nitrogê-
nio (N2), ácido sulfúrico e sulfetos. O gás metano, proveniente da fermentação anaeróbia nos
aterros sanitários, pode ser aproveitado para a produção de biogás.

Fermentação aeróbia – que ocorre com a presença de oxigênio.


Fermentação anaeróbia – capaz de ocorrer em ausência de oxigênio.
Biogás – gás combustível gerado de matéria orgânica vegetal ou animal.

 Resíduos sólidos
Os resíduos sólidos dos aterros sanitários são os resíduos mineralizados.
 Resíduos líquidos
Esses resíduos, também chamados de lixiviados, variam de local para local e dependem
de aspectos como:
• teor de água dos resíduos;

• isolamento dos sistemas de drenagem;

• clima (temperatura, volume de chuva, evaporação);

• permeabilidade do substrato geológico;

• grau de compactação dos resíduos; e

• idade dos resíduos.


Os lixiviados têm elevada concentração de matéria orgânica, de azoto e de materiais tó-
xicos, razão pela qual eles devem ser recolhidos e tratados, de modo a impedir a sua infiltra-
ção no solo.

Azoto – é o mesmo que nitrogênio.

A prática generalizada de tratamento dos resíduos líquidos é o seu enterramento em ter-


renos adjacentes, muitas vezes sem preparação, em solos inadequados e perto de espécies da
nossa flora e fauna, dando origem a focos de poluição e de contaminação localizados. Uma
forma de minimizar esses efeitos é a seleção cuidadosa do local onde será instalado o aterro
sanitário, a sua impermeabilização e o seu recobrimento sistemático com terra.

SENAI 65
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Destruição térmica
A incineração e o co-processamento são exemplos de processos de tratamento dos resí-
duos sólidos por meio da combustão controlada, realizada em instalações próprias. Por esses
processos, os resíduos sólidos são transformados em gases, calor e materiais inertes como
cinzas e escória de metal, possibilitando reduzir o volume e o peso dos resíduos em cerca de
90% a 60% ou, então, que as cinzas sejam incorporadas ao cimento.

Escória – é um resíduo proveniente da fusão de certas matérias e que contém


sílica.

Dentre os inconvenientes desses sistemas de destruição térmica, destacamos:


• no Brasil, ainda há poucas instalações licenciadas pelos órgãos ambientais para a
realização desses processos;

• as cinzas e as escórias produzidas por esses sistemas provocam a poluição do solo;

• as águas de resfriamento das escórias e as de lavagem de fumos, bem como as águas


que escorrem dos solos contaminados, acarretam a poluição da água;

• as cinzas que se dispersam no ar e as dioxinas poluem o ar. Essas dioxinas têm um


elevado teor tóxico e são causadoras de doenças, como câncer; hiperpigmentação
da pele; danos no fígado; alterações enzimáticas, no metabolismo dos lipídios, nos
sistemas endócrinos e no sistema imunológico.

Saiba um pouco mais sobre a incineração do lixo, lendo o Texto de apoio XI –


O problema da incineração do lixo, na seção “Para saber mais”.

Gerenciamento dos
resíduos sólidos
A redução do lixo deve ser o objetivo principal de um efetivo programa de gerenciamento
de resíduos, especialmente dos resíduos industriais.
Veja, na pirâmide, que reduzir o lixo está no topo da figura como a ação mais desejável. À
medida que caminhamos nessa pirâmide, indo do topo para a base, vamos das ações mais
desejáveis para as menos desejáveis.

66 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Analise a Figura 1 e pense a respeito dessa hierarquia.

Figura 1

A empresa que se empenha em reduzir seus resíduos e a toxicidade deles certamente


estará diminuindo os riscos de ser responsabilizada por danos que eles possam provocar.
Além disso, ela terá menos gastos com a limpeza de suas instalações, ou mesmo com sua
desativação, em caso de precisar cumprir regulamentos futuros ou por ocasião de sua venda.
Implementar medidas de prevenção da poluição evita o acúmulo de resíduos no local,
tornando as limpezas menos extensas e dispendiosas durante a desativação.

Armazenamento, manuseio e
transporte dos resíduos sólidos
No tratamento dos resíduos sólidos, há uma série de cuidados a serem observados no
seu armazenamento, manuseio e transporte.
Vamos ver?

SENAI 67
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

Armazenamento dos resíduos


Segundo a ABNT, armazenamento é a guarda temporária dos recipientes em instalações
apropriadas, até o seu recolhimento. Difere de acondicionamento que, segundo a mesma
ABNT, diz respeito ao ato de embalar os resíduos sólidos em recipientes próprios, para protegê-
los de risco e facilitar o seu transporte.
Os resíduos sólidos devem ser acondicionados e armazenados em separado, de forma a
evitar a mistura de resíduos incompatíveis. Assim, resíduos que possam reagir entre si devem
ficar em locais separados para evitar explosões, liberação de calor e de gases tóxicos.
É muito importante controlar os materiais estocados, determinando seu tipo, procedên-
cia, quantidades e movimentação. Deve-se, ainda, manter um registro de acidentes, vaza-
mentos, danificação de recipientes etc.
A área de estocagem dos resíduos deve ser escolhida de forma a minimizar o impacto
ambiental, problemas com a vizinhança, locais com riscos de acidentes devido a tráfego in-
tenso, à ocorrência de curtos-circuitos ou a fenômenos naturais como chuvas fortes, erosão,
inundação, recalques e tremores de terra.
Por questões de segurança, o armazenamento deve se feito em local que não permita
acesso de estranhos, esteja distante de mananciais e de núcleos populacionais, mas que te-
nha facilidades de acesso, iluminação e outras condições necessárias às situações de emer-
gência.
No acondicionamento e armazenamento dos resíduos perigosos, deve-se destacar, cla-
ramente, a sua identificação e informações necessárias ao seu manuseio. É imprescindível
que todo o pessoal envolvido com o armazenamento desses resíduos tenha recebido treina-
mento, de forma a estar apto a manuseá-los em condições normais e, também, em situações
de emergência.
Resumindo, uma instalação de armazenamento de resíduos exige operações de planeja-
mento, manutenção, inspeção periódica, pessoal especializado e treinado, equipamentos de
segurança, procedimentos e o devido controle operacional.

Há normas específicas para armazenamento em tanques, com a necessária pre-


visão de áreas de contenção, de modo a evitar a dispersão de resíduos líquidos.
Algumas dessas normas são, por exemplo, a NBR-7505 e a NB-98, ambas refe-
rentes ao armazenamento de petróleo e derivados.

Manuseio dos resíduos


Da mesma forma que o armazenamento, o manuseio de resíduos perigosos também exi-
ge pessoal treinado e equipado adequadamente. O treinamento desses funcionários deve in-
cluir, entre outros assuntos:

68 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

• informações sobre os riscos apresentados pelo manuseio de cada resíduo;

• execução das tarefas de coleta, transporte e armazenamento dos resíduos com utili-
zação dos equipamentos de proteção individual; e

• procedimentos para situações de emergência, de modo a minimizar a contamina-


ção e maiores acidentes.

Figura 2 – Manuseio de resíduo perigoso com uso de equipamento de proteção

Transporte dos resíduos


Há uma diferença de abordagem no que se refere ao transporte dentro das instalações da
empresa (transporte interno) e ao transporte da empresa para outros locais (transporte
externo).
Em todos os casos, no entanto, é importante considerar as medidas preventivas contra
acidentes, com a correta identificação de resíduos, rota de transporte, plano de emergência e
treinamento correspondente, além de procedimentos e equipamentos compatíveis com os
resíduos e os meios de transporte utilizados.
O transporte de resíduos para fora da empresa deve atender às exigências do órgão esta-
dual de controle ambiental, referentes às seguintes questões:
• adequação dos equipamentos para o transporte dos resíduos;

• utilização, apenas, dos locais autorizados pelo referido órgão;

• acondicionamento e identificação correta dos resíduos;

SENAI 69
SMS – Meio Ambiente – Resíduos sólidos

• transporte de resíduos que possuam, necessariamente, o CADRI (Certificado de Apro-


vação de Destinação de Resíduo Industrial), documento emitido pelo órgão estadual;

• licenciamento da transportadora pelo órgão ambiental local;

• licenciamento de transporte ou manifesto de todos os órgãos ambientais envolvi-


dos, quando o transporte é interestadual;

• uso da ficha de emergência, em caso de acidentes; e

• existência de placas padronizadas no veículo, com o código de identificação dos re-


síduos.

70 SENAI
A empresa e o
meio ambiente

Introdução

Imagem pública da empresa

A gestão ambiental na empresa

4
SMS – Meio Ambiente – A empresa e o meio ambiente

Introdução
O emprego de substâncias e de tecnologias perigosas ao meio ambiente, tanto nas guer-
ras, como para fins pacíficos, ao longo do tempo foi gerando um movimento de
questionamento sobre sua legitimidade e conveniência. Fatos importantes forjaram a cons-
ciência ambiental da sociedade, dos governos, e das empresas e instituições. Dentre esses
fatos podemos citar:
• Primeira Guerra Mundial (1914-1918) – 1.300 mil mortos por envenenamento pelo
gás mostarda;
• Hiroshima, no Japão (agosto de 1945) – 30 mil mortes instantâneas no momento da
explosão nuclear;
• Europa e mundo (maio de 1968) – Primeiros movimentos “verdes”;
• Seveso, na Itália (10 de julho de 1976) – Vazamento de dioxina;
• Alaska (24 de março de 1989) – Vazamento de 40 milhões de litros de petróleo de um
navio, contaminando 1.600km de praias e matando mais de 33 mil pássaros e um
número não conhecido de peixes e animais marinhos; e
• outros fatos já comentados aqui, tais como o vazamento de gás tóxico em Bhopal, na
Índia (1984), e a explosão de um reator nuclear em Chernobyl, na URSS (1986).
A lista pode ser aumentada com outros acidentes. Mas com a diferença de que, atual-
mente, a repercussão na imprensa falada e escrita é bastante grande, com mobilização da
população atingida e seus representantes políticos ou de organizações não-governamentais.
Todos estes fatos catastróficos foram produzindo uma mudança gradativa de postura da
sociedade e de suas instituições, bem como das empresas, principalmente aquelas que em-
pregam tecnologias de alto impacto ambiental.
É, pois, para falar da empresa diante da questão ambiental que apresentamos este
capítulo.
Vamos lá?

SENAI 73
SMS – Meio Ambiente – A empresa e o meio ambiente

Imagem pública da empresa


À medida que a qualidade do meio ambiente se torna questão da maior importância
para a sociedade, a política da empresa e as práticas para o controle de resíduos influenciam
cada vez mais as atitudes dos seus empregados e da comunidade em geral.
As atitudes da comunidade serão mais positivas para as empresas que operem e divul-
guem um programa completo de prevenção da poluição. A maioria das comunidades resiste
à escolha de suas áreas para instalações de disposição de resíduos.
A empresa pode melhorar sua imagem junto à comunidade e clientes, ao criar produtos
mais compatíveis com o meio ambiente e evitar o consumo excessivo de recursos materiais e
energéticos. Ou seja, a empresa pode conseguir uma melhor imagem adotando a prevenção
da poluição do que se concentrando apenas no tratamento e na disposição de seus resíduos.
Mas, a mudança de atitude é sempre gradativa, lenta e incompleta. E, assim, em uma
mesma empresa podemos encontrar, convivendo lado a lado, posturas conservadoras, indi-
ferentes, ou renovadoras.
Essas posturas podem ser resumidas da seguinte maneira:
• ausência da consciência em relação às responsabilidades pela poluição, demonstra-
da em depoimentos como: “A poluição é um mal necessário, símbolo do progresso
tecnológico e elemento obrigatório de suas atividades”; “Nosso negócio é produzir e
dar emprego. A poluição não nos diz respeito”;
• consciência sem comprometimento, como expressa esta fala: “A poluição existe, mas
outros devem cuidar dela”. Trata-se, neste caso, de uma atitude reativa, em que se faz
apenas o necessário, para evitar multas e punições. Não são destinados esforços e
recursos para atacar as fontes de poluição;
• comprometimento, em que a poluição é assumida como um problema a ser resolvi-
do por todos nós e atacado diretamente nas fontes geradoras – é a chamada postura
proativa; e
• sustentabilidade, compreendendo que nosso compromisso também se estende às
futuras gerações. Os recursos naturais não foram herdados por nós, de nossos ante-
passados, mas tomados emprestados de nossos descendentes.
Não é possível ignorar, no entanto, as marcas deixadas pelos acontecimentos que leva-
ram às normas ambientais da série ISO 14000:
• grandes acidentes ambientais divulgados amplamente pela mídia;
• direitos assegurados aos cidadãos – Código de Defesa do Consumidor;
• direitos assegurados pela Constituição e pela legislação ambiental;
• análise da contabilidade ambiental das empresas, por parte de acionistas, credores e
seguradoras;

74 SENAI
SMS – Meio Ambiente – A empresa e o meio ambiente

• marketing verde em relação aos produtos cuja produção ou utilização causam me-
nor impacto sobre o meio ambiente;
• atividade crescente das ONGs, que adquiriram base científica e tecnológica mais
fundamentada e, por isso, deixaram de ser consideradas como simplesmente
alarmistas; e
• pressão dos consumidores, manifestada pela escolha de produtos ambientalmente
corretos e pela utilização de todos os mecanismos disponíveis para fazer valer seus
direitos, quando se sentirem prejudicados pelos produtos que adquiriram.

As empresas que investiram numa imagem “mais verde”, utilizando processos


menos poluidores, e que colaboraram para a preservação do meio ambiente
são mais respeitadas, têm a simpatia do público e crescem mais do que as ou-
tras. Que tipo de postura você considera que essas empresas adotaram para
investir em uma imagem mais verde? E que medidas elas provavelmente im-
plantaram para viabilizar essa postura?

A gestão ambiental
na empresa
As empresas podem utilizar duas abordagens para administrar as suas questões
ambientais: ou elas tratam essas questões no momento em que elas ocorrem ou, então, ante-
cipam-se à sua ocorrência, tratando-as de forma integrada.
É com o propósito dessa segunda alternativa que a empresa assume um Sistema de Ges-
tão Ambiental (SGA), assim definido pela ABNT:

Norma NBR ISO 14001 – ABNT


“a parte do sistema de gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades
de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para
desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental.”

Esta norma, ao definir o SGA como sistema de gestão global, quer dizer que a gestão
ambiental deve ser implementada de forma integrada, com o gerenciamento global da empresa
ou instituição. A ação do SGA não deve ocorrer de forma desintegrada do gerenciamento da
empresa. Meio ambiente não deve ficar restrito a uma sala, a um departamento, ou a um
conjunto de pessoas que atuam de forma isolada na empresa, mas sim permear toda a
organização.

SENAI 75
SMS – Meio Ambiente – A empresa e o meio ambiente

A função do Sistema de Gestão Ambiental é organizar todas as ações da empresa relati-


vas às questões ambientais de suas atividades, produtos e serviços. Ao estruturar as ações
ambientais de uma empresa, o SGA torna possível o maior atendimento às leis e regulamen-
tos ambientais, minimizando os riscos financeiros decorrentes de aplicações de multas e
penalizações por parte das agências de controle ambiental.
O SGA também possibilita às organizações significativa economia de tempo e ganho de
competitividade, decorrente da melhoria de seus processos e da construção de uma imagem
“verde”.
Dentre as diversas vantagens propiciadas pela implementação de um Sistema de Gestão
Ambiental, citamos:
• economizar por meio da conservação de matérias-primas e insumos;
• satisfazer as expectativas ambientais dos clientes;
• satisfazer os critérios para as linhas de financiamentos;
• limitar aspectos de operações de risco;
• obter seguros a custo mais baixo; e
• manter boas relações com as partes interessadas.

Insumos – diz respeito à matéria-prima, equipamentos, recursos financeiros,


horas de trabalho etc., ou seja, tudo aquilo que é necessário para produzir
mercadorias ou serviços.

A Norma NBR ISO 14001


A NBR ISO 14001 refere-se aos requisitos de um Sistema de Gestão Ambiental, isto é, ao
que a empresa precisa fazer para garantir que está protegendo o meio ambiente. Ela, no en-
tanto, não prescreve critérios específicos de desempenho ambiental, permitindo que a em-
presa desenvolva sua política e objetivos, a partir dos requisitos legais, das informações refe-
rentes aos impactos ambientais significativos e dos aspectos ambientais que possam ser oriun-
dos e controlados pela organização.
A Norma NBR ISO 14001 se aplica a todos os tipos e tamanhos de organizações que
queiram:
• implementar um sistema de gestão ambiental;
• garantir que sua atuação esteja em conformidade com sua política ambiental;
• demonstrar essa conformidade para terceiros, sejam eles ONGs, agências de contro-
le ambiental, seguradoras, grupos de pressão etc.;

76 SENAI
SMS – Meio Ambiente – A empresa e o meio ambiente

• buscar certificação de seu Sistema de Gestão Ambiental, por meio de um organismo


externo, chamado de certificação de terceira parte; e
• realizar uma autodeclaração de conformidade do SGA com a Norma ISO 14001.

A complexidade de um Sistema de Gestão Ambiental, a quantidade de documen-


tos e de recursos que a empresa vai utilizar, depende do porte da empresa e do
tipo de atividade que ela desenvolve. O SGA de uma micro ou pequena empresa
é bem simplificado.

A Norma NBR ISO 14001 compreende um ciclo PDCA, que você vai observar na Figura 1.
Veja, antes, a que se refere cada letra da sigla deste ciclo:

Figura 1 – Ciclo PDCA

As etapas para a implementação da Norma NBR ISO 14001 na empresa você pode anali-
sar no Quadro 1. Veja o que compreende cada uma delas.

Quadro 1

SENAI 77
SMS – Meio Ambiente – A empresa e o meio ambiente

O projeto de um SGA
Como estratégias de um projeto de SGA (Sistema de Gestão Ambiental), podemos enu-
merar as seguintes:
• identificar os efeitos ambientais significativos resultantes das atividades, produtos
ou serviços passados, atuais ou propostos da organização;
• identificar os efeitos ambientais resultantes de incidentes, acidentes e situações po-
tenciais de emergência;
• identificar as leis e os regulamentos aplicáveis e os padrões industriais relevantes;
• refletir prioridades que tenham sido identificadas através dos objetivos e metas
ambientais;
• facilitar as ações corretivas e a melhoria do processo; auditar sistemas e revisar as
atividades, de modo a assegurar que a política seja atendida e que continue
relevante; e
• estabelecer e atualizar os processos e procedimentos operacionais.
Os resultados que se esperam, com a implantação de um projeto de Sistema de Gestão
Ambiental, são:
• diagnóstico da situação atual das organizações em relação à gestão ambiental;
• conscientização e implementação de um SGA por parte das organizações;
• integração organização/comunidade, obtida pela divulgação das ações desenvolvi-
das pela organização na busca do desenvolvimento industrial ecologicamente sus-
tentável; e
• subsídios para elaboração de estratégias de adequação do parque industrial às no-
vas exigências de mercado.

78 SENAI
Para saber mais

Texto de apoio I – A Lei no 9.605/98, dos crimes ambientais


Texto de apoio II – Destino do lixo eletrônico
já preocupa os especialistas
Texto de apoio III – Lixo inteligente
Texto de apoio IV – Avanços e problemas de lixo
Texto de apoio V – Frutos do mar
Texto de apoio VI – A carta do chefe indígena Seattle – 1855
Texto de apoio VII – Arrumar o homem
Texto de apoio VIII – Reciclagem de pneus
Texto de apoio IX – Um fim para os restos da indústria
Texto de apoio X – Vidro
Texto de apoio XI – O problema de incineração do lixo
Texto de apoio XII – Ecologia e replanejamento
Texto de apoio XIII – Fibra de coco e látex
na indústria automobilística
Texto de apoio XIV – Estrela faz jogo de
plástico ecológico
Texto de apoio XV – Contra o desperdício
SMS – Meio Ambiente – Para saber mais

TEXTO DE APOIO I

A Lei no 9.605/98,
dos crimes ambientais
A Lei no 9.605, dos crimes ambientais, foi sancionada em 12 de fevereiro de 1998 pelo
Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Ela tem o grande mérito de tratar os
crimes ambientais e as punições em função dos danos causados à natureza de uma forma
mais sistemática.
Outra importante alteração trazida por essa lei é que ela permite, pela primeira vez no
Direito brasileiro, responsabilizar criminalmente o diretor, o administrador, o gerente e a pró-
pria empresa – cada um recebendo penas separadamente. Pela legislação anterior, somente
as pessoas jurídicas respondiam criminalmente por danos ao meio ambiente.
A lei dos crimes ambientais trata das sanções, das penas aplicáveis e de quem pode ser
punido. Define, também, os crimes e penas correspondentes.
Analise alguns dos pontos principais dessa lei.

 Penas alternativas
Empresas e pessoas condenadas por crime ecológico podem ser perdoadas se repara-
rem os danos. Crimes com penas de até 4 anos, que constituem a maioria, podem ter penas
alternativas, tais como o pagamento de indenizações ou a prestação de serviços à comunidade.

 Multas
As multas anteriores à Lei de Crimes Ambientais eram relativamente baixas. Em valores
atuais, a menor e a maior multa cobrada pela CETESB, no estado de São Paulo, seriam, res-
pectivamente, de R$ 83,70 e R$ 83.700,00. Já pela Lei no 9.605/98, as multas podem alcançar
R$ 50 milhões!

 Punição às empresas
As autoridades ambientais podem embargar obras ou atividades, demolir obras e sus-
pender as atividades de empresas infratoras. A justiça pode também proibi-las de receber
incentivos ou fazer contratos com o poder público.

 Crimes contra animais


A justiça pode inocentar quem mata animais selvagens para alimentação própria, no
caso de famílias pobres, e, ainda, aqueles que mantêm, em cativeiro, animais silvestres que
não são ameaçados de extinção. Todavia, maus-tratos a animais domésticos ou silvestres são
punidos com multa e prisão, que podem ser substituídas por penas alternativas.

 Crime de poluição
Quem causa poluição ambiental em níveis que provocam ou possam provocar dano à
saúde humana, mortandade de animais ou destruição significativa da flora pode ter pena de
5 anos de prisão. No caso de provocar a morte de alguém, a pena poderá ser dobrada.

SENAI 81
SMS – Meio Ambiente – Para saber mais

 Fiscais
A Lei no 9.605/98 prevê punições para funcionário público corrupto ou displicente que
faça afirmação enganosa, sonegue informações, conceda licença, autorização ou permissão
em desacordo com as normas ambientais.

 Balões
Fabricar, vender, transportar ou soltar balões são atos passíveis de prisão e multa, pelo
risco de causar incêndios em florestas e áreas urbanas.
A Lei dos Crimes Ambientais, por suas características inovadoras, procura demonstrar a
necessidade de combinar penalização dos crimes ambientais com uma ação educativa, ca-
paz de prevenir a ocorrência de novas agressões ao meio ambiente.
Constitui uma atitude altamente educativa incentivar a necessária reparação dos danos
causados, oferecendo, como contrapartida, o perdão das penalidades impostas.
É igualmente educativo não utilizar a punição como simples ato do poder de repressão,
mas possibilitar a substituição da pena imposta por ações que beneficiem os prejudicados e a
sociedade como um todo.
O princípio do poluidor-pagador demonstra que os responsáveis pela poluição devem
utilizar seus próprios recursos para corrigir o dano produzido. Os gastos não devem ser trans-
feridos para o Estado ou para a sociedade, que espera uma atuação responsável de todos, em
função não só de sua capacidade e autoridade, como também dos deveres decorrentes dos
cargos que ocupam.

Veja sobre o que dispõem algumas outras leis, decretos, resoluções etc. a respeito
do meio ambiente:
• Lei Federal no 6.938/81 – Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação.
• Lei no 9.795, de 27/04/99 – Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Polí-
tica Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.
• Decreto no 79.367, de 09/03/77 – Dispõe sobre normas e o padrão de potabilidade
de água, e dá outras providências.
• Decreto no 79.437, de 28/03/77 – Promulga a Convenção Internacional sobre
Responsabilidade Civil em Danos Causados por Poluição por Óleo, de 1969.
• Resolução CONAMA no 20, de 18/03/86 – Dispõe sobre a classificação das
águas doces, salobras e salinas, em todo o Território Nacional, e determina os
padrões de lançamento.
• Resolução CONAMA no 01, de 08/03/90 – Dispõe sobre a emissão de ruídos,
em decorrência de quaisquer atividades, determinando padrões, critérios e di-
retrizes.

82 SENAI
SMS – Meio Ambiente – Para saber mais

TEXTO DE APOIO II

Destino do lixo eletrônico já


preocupa os especialistas*
A recente expansão da tecnologia da informação gerou um efeito inesperado – o vertigi-
noso crescimento do lixo eletrônico, sobretudo nos países avançados. Pesquisa do Conselho
Nacional de Segurança dos Estados Unidos (National Safety Council – NSC) colocou 2002 como
o ano em que o número de PCs obsoletos superaria o dos novos no mercado americano.
Em 2004, serão 315 milhões de computadores fora de linha, só nos Estados Unidos. Ao
revelar o destino das 20,6 milhões de máquinas descartadas em 1998, a NSC mostrou que 15%
foram para aterros e mais de 70% ainda estavam largados na garagem do consumidor. Apenas
11% foram reciclados e 3% doados.
Computadores contêm elementos preciosos e perigosos. Entre as preciosidades, há ouro
e prata dos circuitos eletrônicos, além dos recicláveis mais comuns, como plásticos e vidro.
Campeão no quesito toxicidade é o monitor: o tubo de raios catódicos tem mais de 20% do
volume em chumbo, metal pesado que acarreta sérios danos à saúde. Os outros perigosos são
baterias (com níquel e cádmio) e circuitos eletrônicos, contendo mercúrio, arsênico e outros
metais tóxicos.

Raios catódicos – partículas minúsculas de luz presentes no tubo do monitor de


um computador.

Estimando que mais da metade das substâncias tóxicas dos aterros dos Estados Unidos
tenha origem eletrônica, a EPA (Agência de Proteção Ambiental) determinou que, em empre-
sas nas quais a sucata eletrônica passe dos 100 quilos mensais, esta seja considerada tóxica,
indo para aterros especiais. Estados como Massachussets têm leis mais severas: qualquer tubo
de raios catódicos (TV ou monitores) não pode ir para aterro comum ou incineração.
Os ambientalistas querem mais. Usando a própria informática, a SVTC (Silicon Valley
Toxics Coalition), ONG sediada no Vale do Silício, Califórnia, lidera campanha contra o lixo
eletrônico, divulgando mapas da poluição das indústrias do setor e propondo para os Estados
Unidos as mesmas regras em discussão na Europa.
Mas a União Européia enfrenta o lobby da indústria americana contra duas diretivas em
debate. Uma pretende impor a responsabilidade ampliada dos fabricantes, para que recebam
e reciclem eletroeletrônicos usados, sem custo para o consumidor. Outra quer banir substân-
cias tóxicas em equipamentos que serão fabricados a partir de 2008 (mercúrio, cádmio, cro-
mo hexavalente e retardadores de chamas com bromo).

* Extraído de Empresas & Tecnologia, ano 3, no 471, 21 de março de 2002.

SENAI 83
SMS – Meio Ambiente – Para saber mais

A entidade denuncia atitudes contraditórias das multinacionais. Nos Estados Unidos,


empresas como IBM e HP têm programas para receber computadores usados, cobrando de
US$ 13 a US$ 30 do consumidor, valor que inclui a taxa de transporte e a possibilidade de
reformar e doar o equipamento para instituição sem fins lucrativos. Na Europa, a mesma IBM
também receberia usados, sem custo para o consumidor. A Sony, por sua vez, ofereceria in-
centivo financeiro na Alemanha para receber obsoletos e não na América do Norte.
Organizações ambientalistas americanas estimam que entre 50% a 80% do lixo eletrôni-
co coletado nos Estados Unidos para reciclagem seja despachado em contêineres para países
como China, Índia, Paquistão e outros emergentes.
Especializado na reciclagem de plásticos, elemento que compõe 70% da CPU, o enge-
nheiro químico e professor Antonio Carlos Coelho, da Escola Politécnica da USP, adverte que
a preocupação com lixo eletrônico ainda não chegou ao país. “Nunca recebemos consultas a
respeito desse assunto nos laboratórios da USP. E, nas cooperativas de catadores, só vi chegar
uma carcaça de impressora”.
“Produtos eletroeletrônicos não foram planejados para a futura desmontagem”, critica
Coelho, ensinando que, tradicionalmente, designers projetavam o equipamento para depois
técnicos desenvolverem materiais diferenciados para cada peça, atendendo requisitos de
durabilidade, consistência, flexibilidade, resistência e impacto. “Hoje, grandes fabricantes tra-
balham no redesenho das máquinas para viabilizar a produção das peças com poucos mate-
riais. Outra tendência é facilitar o upgrade, tornando-os mais duráveis”, diz o professor.
O novo design também deve simplificar a desmontagem do produto, reduzindo a mão-
de-obra da reciclagem. “Estes pontos estão no projeto de selo verde para notebooks, em deba-
te na Europa. Para ganhar o selo, o computador teria de conter, no máximo, dois tipos de
plástico”, exemplifica ele.
Lembrando que a única norma para lixo eletrônico no Brasil é a Resolução 257 do
CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que obriga empresas a receber, dispor cor-
retamente ou reciclar baterias com cádmio, mercúrio ou chumbo, o professor Jorge Tenório,
do Departamento de Engenharia Metalúrgica e Materiais da mesma escola, prevê a mudança
de cenário, caso um projeto de lei proposto pelo deputado federal Emerson Kapaz (PPS) seja
aprovado. “O texto propõe o princípio poluidor-pagador na coleta e tratamento de lixo indus-
trial. Se quem polui mais paga mais, a reciclagem vira bom negócio”.
Hoje, é difícil até saber quantos computadores nosso país tem. De um lado, faltam dados
sobre sua vida útil. De outro, a ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica)
só informa o faturamento do segmento, que teria sido de R$ 13,95 bilhões em 2001. Já institu-
tos de pesquisa internacionais estimaram que o país teria comercializado entre 3 e 3,5 mi-
lhões de máquinas no ano: 60% a 70% das vendas corresponderiam ao “mercado cinza”, não
oficial. (SC).
Ver mais sobre o lixo eletrônico em http://www.epa.gov/epr/products/electronics.html
e http://www.svtc.org/cleancc/pubs/ poisonpc.htm

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TEXTO DE APOIO III

Lixo inteligente*
Quando o assunto é reciclagem, é preciso dar a palavra a Emerson Kapaz, deputado fe-
deral pelo PPS e relator da nova Política Nacional de Resíduos, que vai pôr ordem no proble-
ma do lixo e da reciclagem no país. A mais recente idéia de Kapaz é colocar no relatório que
estará pronto para ser votado em abril um artigo que isenta dos impostos federais (IPI, PIS,
COFINS) as empresas que trabalharem exclusivamente com material reciclado.
Já foi até falar com Everardo Maciel, que aprovou a idéia e promete regulamentá-la logo
que virar lei. Depois disso, vai falar com os governadores, para livrar essas empresas, em geral
cooperativas e firmas de pequeno porte, também do ICMS. Uma lei como essa pode desentu-
pir nossos bueiros, limpar nossos rios, evitar a contaminação ambiental, criar empregos e
riqueza, acabar com o desperdício, diminuir o tamanho dos aterros sanitários. O único lobby
contrário, e nada desprezível, parece ser o das empresas de lixo.

* Extraído de Empresas & Tecnologia, ano 3, no 471, 18 de março de 2002.

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TEXTO DE APOIO IV

Avanços e problemas
de lixo*
Muitas mudanças aconteceram no projeto da Política Nacional de Resíduos Sólidos, des-
de que o tema foi comentado neste espaço (Estado, 07/12/2001). E o substitutivo de que é
relator o deputado Emerson Kapaz, ao mesmo tempo em que registra vários avanços, conti-
nua a conter opções preocupantes, assim como desperta dúvidas em pontos relevantes.
Entre os avanços, vale a pena destacar:

• o artigo que consagra o direito da sociedade à informação nessa área – bem como
sua representação paritária com a do poder público nos conselhos gestores dos fun-
dos distritais e municipais de limpeza urbana que administrarão os recursos desti-
nados a essa área, obrigatoriamente constantes dos orçamentos – é um avanço im-
portante tanto para a gestão como para a fiscalização da aplicação dos recursos;

• o incentivo à formação de cooperativas e/ou associações de trabalhadores autôno-


mos para coleta e separação de resíduos reutilizáveis ou recicláveis, que deverão ter
incentivos fiscais (assim como as empresas exclusivamente recicladoras);

• a responsabilização do produtor/importador de produtos que gere o chamado “lixo


tecnológico” pelo gerenciamento, coleta e destinação desses itens (eletrodomésti-
cos, eletrônicos, veículos, pilhas, baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes ou de va-
por de mercúrio e de sódio, poluentes persistentes etc.) – que precisam de destinação
final específica, separada do lixo domiciliar –, bem como a proibição de importar
pneus usados; além disso, o fabricante ou importador deverá “valorar financeira-
mente” os produtos retornados pelo consumidor; a obrigatoriedade de uso de em-
balagens retornáveis em bares, restaurantes, lanchonetes e padarias (descartáveis,
só em eventos e apresentações públicos);

• a disposição de fixar limites para metais pesados nas embalagens; a definição de


regras claras para aterros sanitários e a fixação de prazos para a redução do lixo orgâ-
nico a ser neles depositado.
Vários outros avanços importantes poderiam ser registrados. Mas, no espaço disponível,
é preciso registrar também algumas falhas e/ou omissões preocupantes.
A primeira delas – repetindo o comentário de dezembro – está no não-enfrentamento do
problema das embalagens. Se não houver responsabilização clara dos produtores pela coleta
e destinação desse tipo de resíduo – como já acontece em muitos países –, dificilmente se
chegará a uma solução satisfatória. Já se comentou aqui que a Alemanha, por exemplo, criou

* Artigo do jornalista Washington Novaes, publicado no Estado, em 8 de março de 2002.

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um sistema (green dot, ponto verde) que obrigou os fabricantes a ter uma instituição nacio-
nal, para a qual contribuem, na proporção do número, dimensões, peso do que produzem.
Essa instituição, que arrecadou quase R$ 5 bilhões em 1999, encarrega-se da coleta desses
produtos (com separação obrigatória pelos consumidores) em todo o país e pela destinação.
Graças a esse sistema, em oito anos o volume de embalagens coletadas reduziu-se em 15% –
o que não é pouco.
Não querem os produtores de embalagens no Brasil incorporar esse custo, por temerem
repassá-lo aos preços. Mas, se a regra for geral, todos terão de fazê-lo, sem alterar a
competitividade. E os custos da destinação do produto de alguma forma sempre serão pagos
pelo cidadão – se não for no preço de compra, será no custo dos serviços públicos da área.
Mais justo que seja pago só pelo consumidor específico. Outro problema está na hesitação
quanto aos resíduos da área de saúde, embora introduzida a elogiável coleta seletiva antes da
destinação. Deveria ter sido adotado o sistema já recomendado pelos sanitaristas, de só obri-
gar a tratamento prévio ou incineração os materiais perfurocortantes, capazes de criar uma
via de entrada no corpo humano para patógenos. Preferiu-se exigir tratamento prévio para
todos os resíduos considerados “sépticos”, que contenham agentes patogênicos. Um custo a
mais.
Já nos resíduos radioativos, estabelecer a destinação nos termos da legislação vigente
consolida a impropriedade da lei aprovada pelo Congresso, que estabelece competência ex-
clusiva da Comissão Nacional de Energia Nuclear para decidir tudo sozinha.
A responsabilização dos proprietários de imóveis e/ou construtores apenas pela coloca-
ção de seus entulhos em locais autorizados pelo poder público parece insuficiente. Seria ne-
cessário exigir a reciclagem, com os custos correspondentes, tal como acontece na Europa,
nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão.
Também preocupa que o substitutivo não contemple claramente a questão dos efluentes
rurais nas criações (suinocultura, bovinocultura, avicultura), outro grave problema já discuti-
do. Tão grave que esse setor, na Europa e nos Estados Unidos, está transferindo parte de suas
atividades para países como o nosso, pouco rigorosos com custos ambientais.
O financiamento do sistema de gestão de resíduos também deixa muitas dúvidas. Deci-
diu-se que haverá fundos municipais e distritais, que esses fundos poderão receber recursos
advindos das tarifas a serem cobradas aos usuários, que se farão cadastros de todos os produ-
tores de resíduos – para poder cobrar de cada um segundo o volume ou peso produzidos. Mas
isso acontecerá de fato, ainda mais sabendo que, com a terceirização dos serviços de coleta e
destinação, as informações passaram quase todas para as empresas concessionárias (que re-
cebem por tonelagem, não têm interesse especial na redução do lixo, que deve ser o primeiro
e principal objetivo de qualquer política)?
Também cabe perguntar, de novo, por que só prever a coleta seletiva, no prazo de dois
anos, em municípios com mais de 100 mil habitantes. Por que não todos?
Há muito o que discutir. E a sociedade precisa com urgência participar, manifestar-se.

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TEXTO DE APOIO V

Frutos do mar
Alimento para o homem? Veneno para o homem?
Nas décadas de 1950 e 1960 os cientistas afirmavam que o problema da escassez de ali-
mentos para a humanidade estaria resolvido com o aproveitamento dos frutos do mar.
Atualmente os cientistas consideram que esse aproveitamento passou a ser um grande
problema para a humanidade, devido ao envenenamento dos oceanos.
A contaminação e a saturação das águas oceânicas hoje, quer na sua superfície, quer nas
suas profundezas, são tão grandes, que fazem os cientistas afirmarem que “o mar é um caldo
tóxico”.
Essa contaminação tem sido provocada por muitos fatores:
• materiais transportados por rios, que consistem em toda a imundície das cidades,
com seus esgotos e resíduos industriais;
• dejetos e resíduos domésticos e industriais lançados diretamente nos oceanos, pelas
cidades litorâneas;
• chuvas ácidas;
• mudanças físicas produzidas nos habitats costeiros, principalmente nos manguezais
e recifes de corais, como conseqüência das pressões crescentes da população e de
expansão urbana, agrícola e industrial, quase sempre mal planejada;
• substâncias derramadas por acidentes, ou catástrofes ocorridas em refinarias,
oleodutos, terminais de carga e descarga, além de colisões, naufrágios e incêndios
de navios petroleiros; e
• lançamentos deliberados de águas de lacre; todo navio petroleiro, ao desembarcar
suas cargas, necessita introduzir água nos seus depósitos para manter a estabilida-
de. Normalmente, após a retirada do óleo, o navio permanece com um resíduo no
tanque correspondente a 4% de sua carga total. Quando a água usada como lastro é
lançada ao mar próximo ao terminal petroleiro, para dar lugar ao petróleo, nova-
mente, vários milhares de toneladas de óleo são jogados propositadamente no oce-
ano. Um petroleiro médio transporta 200 mil toneladas de óleo. Os grandes chegam
a levar 500 mil. Calculemos quanto de resíduo cada um deles lança ao mar, junta-
mente com a água de lacre:
- petroleiro médio –
- petroleiro grande –
“Todo óleo despejado no mar, seja por acidente ou por lavagem de tanques, espalha-se
numa fina lâmina sobre a água, bloqueando as trocas gasosas desta com o ar. Os estômatos

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das plantas marinhas fecham-se, impedindo a entrada e saída de gases; as aves e animais
marinhos morrem em lenta agonia, asfixiados, com suas penas e peles grudadas por uma
grossa camada de óleo.” (Chiavenato, O Massacre da Natureza, p. 115)
Diante dessa situação, percebemos que a grande fonte de alimento, o oceano, tem sido
vítima de uma implacável guerra química; essa guerra, se não tiver como resultado a extinção
dos frutos do mar, no mínimo irá torná-los totalmente imprestáveis ao consumo.

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TEXTO DE APOIO VI

A carta do chefe
indígena Seattle – 1855*
Este texto é um manifesto do chefe indígena Seattle, que viveu entre 1790 e 1866 e lide-
rou os índios Duwamish, do estado de Washington; constitui-se numa resposta à proposta de
compra das suas terras, feita pelo então presidente dos Estados Unidos, Franklin Pearce, em
1855.
Há muita controvérsia com relação ao texto, porque foram publicadas várias versões do
mesmo; há diferentes traduções para o português, inclusive uma feita pela ONU.
A versão transcrita a seguir foi traduzida de um original em inglês, localizado na Seattle
Historical Society, por Magda Guimarães Khouri Costa, e publicada pela Editora Babel Cultu-
ral Ltda., São Paulo, 1987.
O Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra. Manda, tam-
bém, palavras de amizade e cordialidade. É gentil da sua parte, mesmo sabendo que ele tem
pouca necessidade de retorno da nossa amizade. Mas consideraremos sua proposta. Pois sabe-
mos que se nós não vendermos, o homem branco poderá aparecer, com armas de fogo, e ficar
com nossa terra.
É possível comprar ou vender o céu e o calor da terra? Tal idéia é estranha para nós. Se não
possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como podem comprá-los? Cada pedaço desta terra
é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada areia da praia, cada
bruma nas densas florestas, cada clareira e cada inseto a zumbir são sagrados na memória do
meu povo. A seiva que corre através das árvores carrega as memórias do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem, quando vão caminhar entre as
estrelas. Nossos mortos nunca esquecem esta bonita terra, pois ela é a mãe do homem vermelho.
Somos partes da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs, o cervo, o
cavalo e a grande águia são nossos irmãos. Os cumes rochosos, os sulcos úmidos nas campinas,
o calor do corpo do potro, e o homem – todos pertencem à mesma família.
Deste modo, quando o Grande Chefe manda dizer que quer comprar nossa terra, ele pede
muito de nós. O Grande Chefe manda dizer que ele nos reservará um lugar onde possamos viver
contentes. Ele será nosso pai e que nós seremos seus filhos. Assim, consideraremos sua oferta de
comprar nossa terra. Mas não será fácil, pois esta terra é sagrada para nós.
Esta água brilhante, que corre nos riachos e rios, não é somente água, mas o sangue de
nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada e

* Extraído de SEATTLE (Chefe índio). Preservação do meio ambiente: manifesto do Chefe Seattle ao Presidente dos Esta-
dos Unidos. São Paulo: Babel Cultural, 1987.

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devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada, e que cada reflexo do espírito, na cristalina
água dos lagos, revela acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das
águas é a voz dos meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, eles saciam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e
alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar às
suas crianças que os rios são nossos irmãos, e seus também, e vocês devem, daqui em diante, dar
aos rios a bondade que dariam a qualquer irmão.
O homem vermelho sempre temeu o avanço do homem branco, como a névoa da monta-
nha corre antes do sol da manhã. Mas as cinzas dos nossos pais são sagradas. Suas sepulturas
são solo sagrado e, portanto, estas colinas, estas árvores, esta porção do mundo são sagradas
para nós. Sabemos que o homem branco não entende nossos costumes. Uma porção da terra,
para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, como um forasteiro que vem à noite e
tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a
conquista, continua simplesmente seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus pais. E não
se importa. Rouba a terra de seus filhos. E não se importa. As sepulturas de seus pais e os direitos
de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, sua terra, seu irmão e o céu como coisas para serem
compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou contas coloridas. Seu apetite devorará a
terra e deixará somente um deserto.
Eu não sei. Nossos costumes são diferentes dos seus costumes. A visão de suas cidades causa
dor aos olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não
compreenda.
Não há um lugar calmo nas cidades do homem branco. Nenhum lugar para escutar o
desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu
sou um selvagem e não compreenda. O ruído parece apenas insultar os ouvidos. E o que resta da
vida se um homem não pode escutar o choro solitário de um pássaro ou o coaxo dos sapos em
volta de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o
suave murmúrio do vento, encrespando a face do lago, e o próprio aroma do vento, limpo por
uma chuva do meio-dia, ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro
– o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. O homem branco parece
não sentir o ar que respira. Como um animal agonizando há vários dias, é insensível ao mau
cheiro. Mas se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um
lugar onde até mesmo o homem branco possa ir sentir o vento adoçado pelas flores das campinas.
Portanto, nós consideraremos sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitá-la,
vou impor uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra maneira de agir. Avistei um milhar de
búfalos apodrecendo na campina, abandonados pelo homem branco que lhes atirou de um
trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como pode ser um fumegante cavalo-

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de-ferro mais importante que o búfalo sacrificado por nós apenas para permanecermos vivos.
Que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, homens morreriam de uma
grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais breve acontece com o homem. Há
uma ligação em tudo.
Deve ensinar, às suas crianças, que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que
respeitem a terra digam a seus filhos que a terra é enriquecida com as vidas de nosso povo.
Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas crianças; que a terra é nossa mãe. Tudo o
que ocorrer com a terra ocorrerá aos filhos da terra. Se os homens desprezam o solo, estão des-
prezando a si mesmos.
Isto sabemos. A terra não pertence ao homem; é o homem quem pertence à terra. Isto sabe-
mos. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em
tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não teceu a trama da
vida; ele é meramente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido fará a si mesmo.
Mas consideraremos sua oferta de ir à reserva que você tem para o meu povo. Viveremos
isolados e em paz. Pouco importa onde passaremos o final de nossas vidas. Nossas crianças
viram seus pais humilhados na derrota. Nossos guerreiros sentiram vergonha depois da derrota
e tornaram ociosos seus dias, contaminando seus corpos com doces e bebidas fortes. Pouco im-
porta onde passaremos o final de nossos dias. Não são muitos. Poucas horas mais, poucos inver-
nos mais. E não deixaremos as crianças das grandes tribos, que viveram nesta terra, ou que
agora perambulam em pequenos grupos nas florestas, lamentarem diante dos túmulos de um
povo, outrora tão forte e esperançoso quanto o seu. Mas por que eu deveria lamentar a passa-
gem do meu povo? Tribos são feitas de homens, nada mais. Homens vêm e vão, como as ondas
do mar.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não
pode estar isento do destino comum. Apesar de tudo, podemos ser irmãos. Veremos. Uma coisa
sabemos – e que o homem branco poderá um dia descobrir – nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês
podem pensar que o possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não o podem. Ele é o Deus
do homem, e sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. Esta terra
é preciosa para Ele e feri-la é desprezar seu Criador. Os homens brancos também passarão, tal-
vez mais breve do que todas as outras tribos. Continuem contaminando suas camas, e em uma
determinada noite vocês serão sufocados pela sua própria ruína.
Mas nas suas desaparições vocês brilharão intensamente, iluminados pela força de Deus
que os trouxe a esta terra e, por alguma razão especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e
sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos quan-
do os búfalos são exterminados, os cavalos selvagens são domados e os recantos secretos da
densa floresta são impregnados do cheiro de muitos homens e a visão dos morros é obstruída
por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. Que é

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dizer adeus ao potro veloz e à caça? É o fim da vida e o início de uma subvida.
Portanto, consideraremos sua oferta de comprar nossa terra. Se concordarmos, será para
assegurarmos a reserva que vocês prometeram. Lá, talvez, poderemos sobreviver nossos derra-
deiros dias como desejamos. Quando o último homem vermelho desaparecer desta terra, e sua
memória for apenas a sombra de uma nuvem se movendo sobre a pradaria, estas praias e flo-
restas ainda estarão mantendo os espíritos do meu povo. Pois meu povo ama esta terra como o
recém-nascido ama a batida do coração de sua mãe. Portanto, se lhes vendermos nossa terra,
procurem dar amor a ela assim como nós a amamos. Cuidem dela como nós a cuidamos. Guar-
dem, na memória das suas almas, com todos os seus corações, preservem esta terra para as suas
crianças, e amem ela como Deus ama a todos. Uma coisa nós sabemos: o nosso Deus é o mesmo
Deus. Esta terra é preciosa para ele. Mesmo o homem branco não pode estar isento do destino
comum. Apesar de tudo, podemos ser irmãos. Veremos.
Este texto é considerado um dos mais conscientes pronunciamentos sobre a defesa do
meio ambiente. Apesar de ter sido escrito em meados do século XIX, pode ser reputado como
bastante atual, mesmo no século XXI. Revela a preocupação de um povo, por muitos conside-
rado primitivo, com a preservação ambiental. Deve servir de lição a todos os seres humanos,
para que possa ser mantida, no planeta, a vida e não a subvida a que o autor se refere.

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TEXTO DE APOIO VII

Arrumar o homem*
Não boto a mão no fogo pela autenticidade da estória que estou para contar. Não posso,
porém, duvidar da veracidade da pessoa de quem a escutei e, por isso, tenho-a como verda-
deira. Salva-me, de qualquer modo, o provérbio italiano. “Se não é verdadeira... é muito
graciosa!”
Estava, pois, aquele pai carioca, engenheiro de profissão, posto em sossego, admitido
que, para um engenheiro, é sossego andar mergulhado em cálculos de estrutura. Ao lado, o
filho, de 7 ou 8 anos, não cessava de atormentá-lo com perguntas de todo jaez, tentando con-
quistar um companheiro de lazer.
A idéia mais luminosa que ocorreu ao pai, depois de dez a quinze convites a ficar quieto
e a deixá-lo trabalhar, foi a de pôr nas mãos do moleque um belo quebra-cabeça trazido da
última viagem à Europa. “Vá brincando enquanto eu termino esta conta”, sentencia entre os
dentes, prelibando pelo menos uma hora, hora e meia de trégua. O peralta não levará menos
do que isso para armar o mapa do mundo com os cinco continentes, arquipélagos, mares e
oceanos, comemora o pai-engenheiro.
Quem foi que disse hora e meia? Dez minutos cravados, e o menino já puxava triunfante:
“Pai, vem ver!” No chão, completinho, sem defeito, o mapa do mundo.
Como fez, como não fez? Em menos de uma hora era impossível. O próprio herói deu a
chave da proeza: “Pai, você não percebeu que, atrás do mundo, o quebra-cabeça tinha um
homem? Era mais fácil. E quando eu arrumei o homem, o mundo ficou arrumado!”
“Mas esse garoto é um sábio!”, sobressaltei, ouvindo a palavra final. Nunca ouvi verdade
tão cristalina: “Basta arrumar o homem (tão desarrumado quase sempre) e o mundo fica ar-
rumado!”

* Artigo de Dom Lucas Moreira Neves publicado no Jornal do Brasil, em janeiro de 1997.

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TEXTO DE APOIO VIII

Reciclagem de pneus
De acordo com dados coletados pelo CEMPRE (Compromisso Empresarial para a
Reciclagem), o Brasil produz cerca de 32 milhões de pneus por ano. Exporta, aproximada-
mente, um terço dessa produção, e o restante é vendido no mercado interno. Ultimamente,
objetivando pressionar as indústrias para diminuir o preço final do pneu para o consumidor
brasileiro, o país tem importado pneus “seminovos”, ou de “meia-vida”.
Mais cedo ou mais tarde, todo esse material atinge tal nível de desgaste que é descartado,
quase sempre, de maneira incorreta: ou vai para os lixões, ou é jogado na beira de rios e estra-
das, ou ainda é abandonado no quintal das casas, onde acumula água que atrai roedores e
insetos transmissores de doenças.
Para minimizar este problema é aconselhável fazer a reciclagem e o reaproveitamento
dos pneus, o que já ocorre de diferentes formas, em vários países.
O processo de reaproveitamento da matéria-prima consiste, basicamente, em cortar os
pneus velhos em lascas, depois triturá-las para obter pó de borracha, sendo este passado por
várias peneiras e separado em diferentes granulações. Em seguida, é tratado quimicamente,
para que a borracha seja desvulcanizada e se torne apropriada para novas formulações. Sofre,
então, refino mecânico, passando a ser viscosa e possível de ser prensada. Enfim, o material
toma a forma de fardos de borracha regenerada, podendo ser outra vez vulcanizada e usada
para fabricar tapetes de carro, solas de sapatos, pisos industriais e borrachas de vedação.
Há também outras formas de aproveitar os pneus usados, utilizando-os por inteiro, ou
antes que o ciclo descrito anteriormente chegue ao seu final. Como exemplos podem ser cita-
dos os casos a seguir:

• 70% dos pneus usados dos transportes de carga e passageiros do Brasil, depois de
algum tempo de utilização, são recauchutados e adquirem uma sobrevida corres-
pondente a 40% do tempo de sua vida útil;

• pneus inteiros têm sido usados para drenagem de gases em aterros sanitários;

• outra forma de reaproveitamento de pneus inteiros já inúteis para a sua primitiva


finalidade é a produção de objetos artesanais;

• a carcaça – definida tecnicamente como “combinação de tecidos especiais e borra-


cha, que através de ar retido sob pressão exerce a função estrutural de sustentação
do veículo” – tem sido reaproveitada como estrutura de recifes construídos artificial-
mente no mar, com o objetivo de aumentar a produção pesqueira;

• sendo altamente combustíveis, com poder calorífico superior ao do carvão, as car-

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caças inteiras são queimadas, no Brasil, de modo controlado, para aquecer caldeiras
das indústrias de papel e celulose e fábricas de cal e cimento; este processo é regula-
mentado por lei, que determina o padrão aceitável de emanação de fumaça; a mes-
ma lei proíbe a queima a céu aberto, que produz fumaça negra de forte odor (dióxido
de enxofre); e

• pedaços triturados de pneus, medindo em média 5 centímetros, podem ajudar na


aeração do composto orgânico; como os pedaços triturados não se transformam em
adubo, o produtor de composto orgânico deve ter o cuidado de retirar as partículas
de borracha antes de comercializar o seu produto final.
Até há pouco tempo atrás afirmava-se que os pneus radiais (aqueles que possuem uma
cinta de aço) não podiam ser reaproveitados. Foi desenvolvida uma tecnologia que está sen-
do utilizada em vários países, inclusive no Brasil, que permite regenerar a borracha a frio,
usando solventes para separar o tecido do aço e possibilitando, até mesmo, reaproveitar os
óxidos nele contidos.
É possível afirmar que a reciclagem de pneus possibilita economizar energia, diminuir o
consumo de petróleo usado como matéria-prima virgem para fabricá-los e melhorar as pro-
priedades de materiais feitos com borracha, adicionando matéria-prima reciclada.
O grupo alemão Degussa, que atua em diferentes setores da indústria brasileira desde
1953, tem demonstrado interesse em trazer para o Brasil, num futuro próximo, a sua tecnologia
para fabricar “pneu verde”. O chamado “pneu ecológico”, lançado em 1997 na Europa, Ásia e
Estados Unidos, é o resultado da invenção de um sistema para misturar dois produtos quími-
cos usados na fabricação da borracha – sílica e organosilano – que permite a economia de
combustível, maior aderência em pistas escorregadias e aumento de sua durabilidade.

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TEXTO DE APOIO IX

Um fim para os
restos da indústria*
Durante uma recente operação de limpeza do Rio Tietê, a cidade de São Paulo assistiu a
uma cena aterradora: mais de 2 mil pneus retirados do leito do rio foram se acumulando às
suas margens, criando uma paisagem de desolação e um enorme problema ambiental. O que
fazer com eles? A solução tem sido a doação desse material para empresas que produzem
solas de sapato, tapetes de carro e tiras para estofados. Mas essas empresas, pequenas, ainda
não têm capacidade de produção em larga escala.
Para o engenheiro químico paulista João Jayme Iess existe, porém, uma rentável alterna-
tiva: queimar todos esses pneus. Transformando-os em fonte de energia mais barata do que
os atuais combustíveis fósseis – cujas reservas, como se sabe, hão de se esgotar um dia. Mas
ele tranqüiliza: a população não verá nenhuma fumaça negra e poluente toldando o céu das
grandes cidades. O método que o engenheiro propõe é o co-processamento, a queima de
resíduos industriais em fornos de cimento.
Tradicionalmente, os fornos de cimento usam carvão, coque de petróleo, óleo ou gás
natural como combustível. O co-processamento usa resíduos perigosos da indústria, como
pneus velhos, óleo, tintas, solventes, medicamentos vencidos e até agrotóxicos para gerar
energia. As cinzas resultantes da queima desses produtos ficam incorporadas ao cimento.

Coque de petróleo – subproduto de baixa qualidade do petróleo que também é


usado como combustível, sendo mais barato que os demais e menos prejudicial
ao meio ambiente.

Todo mundo sai ganhando. Primeiro as indústrias, que se livram de suas indesejáveis
sobras. Empresas como Ciba, Pirelli e Mercedes Benz já estão economizando 50% no descarte
de seus resíduos. Para esse trabalho, elas contratam os serviços da Resicontrol, empresa de
Sorocaba, SP, especializada em buscar e adequar os resíduos da indústria às normas
ambientais. Ganham também os fabricantes de cimento, como a Companhia Ribeirão Gran-
de, ligada ao Grupo Votorantim, que economizou 500 mil reais em combustível nos últimos
dois anos. E, por fim, é o meio ambiente que sai lucrando. “A queima dos resíduos industriais
a 1.700 graus Celsius transforma quimicamente as substâncias químicas perigosas, fazendo
com que as emissões de gases na atmosfera sejam muito menos poluentes. E o material que é
agregado ao cimento (metais pesados como cromo e mercúrio, por exemplo) fica encapsulado
em concentrações não maiores do que as naturais”, afirma o engenheiro.

* Extraído da Revista Globo Ciência, agosto de 1998. p. 29.

SENAI 97
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TEXTO DE APOIO X

Vidro
A lenda conta que o vidro foi descoberto ocasionalmente há 4 mil anos por navegadores
fenícios, ao fazerem uma fogueira na praia: com o calor, a areia, o salitre e o calcário das con-
chas reagiram, formando o vidro.
A indústria vidreira desenvolveu-se rapidamente, mas a coleta seletiva só começou na
década de 1960 nos Estados Unidos, que hoje já conta com 6 mil pontos de coleta de embala-
gens de vidro.
No Brasil a primeira iniciativa organizada surgiu em 1966, em São José do Rio Preto, inte-
rior de São Paulo. Em 1986 a Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de
Vidro (ABIVIDRO) lançou um programa nacional de coleta, que atualmente envolve 7 mi-
lhões de pessoas em 25 cidades. Em nosso país o vidro corresponde a 2% dos resíduos urba-
nos. Nos Estados Unidos, o índice é de 6,3%, equivalente a 11,3 milhões de toneladas por ano.
O Brasil produz, em média, 800 mil toneladas de embalagens de vidro por ano, usando
cerca de um quarto de matéria-prima reciclada na forma de cacos. Parte deles foi gerada como
refugo nas fábricas e parte retornou por meio da coleta.
Os Estados Unidos produziram 10,3 milhões de toneladas em 1990, totalizando 41,1 bi-
lhões de embalagens, principalmente para alimento (33%) e cerveja (31%). Desse total, 500
mil a 1 milhão de toneladas foram importadas.
O principal mercado para recipientes de vidro usados é formado pelas vidrarias, que
compram o material de sucateiros na forma de cacos, ou recebem diretamente de suas cam-
panhas de reciclagem. Além de voltar à produção de embalagens, a sucata pode ser aplicada
na composição de asfalto e pavimentação de estradas, construção de sistemas de drenagem
contra enchentes, produção de espuma e fibra de vidro, bijuterias e tintas reflexivas.
Devido ao peso, uma das principais dificuldades para a reciclagem do vidro é o custo do
transporte da sucata. Os sucateiros e vidrarias costumam exigir o mínimo de 10 toneladas
para fazer a coleta a uma distância não superior a 400 quilômetros.

98 SENAI
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TEXTO DE APOIO XI

O problema de
incineração do lixo*
A instalação de incineradores de lixo no município de São Paulo tem causado muita po-
lêmica entre os ambientalistas. As usinas de incineração de lixo liberam uma substância tóxi-
ca, a dioxina, nome genérico de uma família de moléculas orgânicas que têm em comum a
presença de cloro.
As dioxinas são liberadas pela queima de material plástico, papel organoclorado (tratado
com cloro) e por outras atividades que necessitam de reações com cloro, tais como fabricação
de herbicidas, agrotóxicos e conservantes de madeira (principalmente os que têm substânci-
as para matar o cupim).
Pesquisas feitas pela EPA – Environmental Protection Agency (Agência Ambiental Norte-
americana, órgão federal dos Estados Unidos, com funções semelhantes à CETESB) – com-
provaram que as dioxinas, ao cair na cadeia alimentar, são facilmente assimiladas pelos seres
vivos, devido à sua semelhança com moléculas existentes no metabolismo animal e vegetal.
Provocam a diminuição do número de células de defesa do organismo, afetando o aparelho
imunológico. Além disso, ao entrar em uma célula do corpo humano, as dioxinas alteram o
seu código genético, fazendo com que ela se reproduza de forma errada, causando câncer.
Como as dioxinas têm a forma estrutural semelhante ao estrógeno, hormônio feminino, au-
mentam a incidência de casos de câncer mamário, doença hoje considerada epidêmica, pois
é desenvolvida por uma entre nove mulheres no mundo atual.
A Prefeitura de São Paulo está instalando três usinas de incineração de lixo:

• em São Mateus – zona leste – construção a cargo da Vega-Sopave (grupo OAS) em


conjunto com a empresa italiana Martin;

• próxima ao aterro sanitário de Santo Amaro – zona sul – sob a responsabilidade da


empreiteira Etesco, consorciada à empresa francesa De Bartolomeis; e

• junto ao parque Anhangüera – zona oeste – aguardando licitação para ser construída.
As empresas que constroem as usinas terão direito de operá-las por um prazo de 20 anos;
findo esse período, elas passarão a ser operadas pela Prefeitura de São Paulo.
Segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo, a instala-
ção de incineradores de lixo não trará prejuízos ambientais e nem para a saúde da população
metropolitana, pois os incineradores serão colocados na zona urbana, o que impedirá a con-
taminação dos alimentos por dioxinas; isto só ocorreria se eles fossem construídos na zona

* São Paulo, 1994.

SENAI 99
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rural, como em Londres e Paris. Além disso, mesmo na zona urbana, eles não serão causado-
res de aumento da poluição, pois suas chaminés terão 100 metros de altura, o que facilitará a
dispersão dos poluentes.
Cabem aqui uma observação e uma pergunta:

• observação – na Bélgica, o governo compra toda a produção de leite de regiões próxi-


mas a usinas de incineração de lixo e a destrói, evitando que a população se conta-
mine ingerindo dioxinas; e

• pergunta – será que a instalação de incineradores (cujos equipamentos serão im-


portados, esclareça-se) é a melhor forma de administrar o problema do lixo do mu-
nicípio de São Paulo?

100 SENAI
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TEXTO DE APOIO XII

Ecologia e replanejamento
Nos anos 1960 previa-se que a demanda de água nos 39 municípios da região metropoli-
tana da Grande São Paulo seria da ordem de 80m³/s, no ano de 2010. Para suprir tal demanda
haveria necessidade de investimentos de US$ 10 bilhões, para captar e trazer as águas do Rio
Juquiá (Vale do Ribeira) para a região metropolitana.
Cálculos mais recentes revelaram uma nova situação. A previsão feita hoje, para o ano
2010, considera que serão suficientes 69,7m³/s, ou seja, 15m³/s além da oferta atual, que é de
55m³/s.
A diminuição na demanda tem como causa principal a reversão da tendência de cresci-
mento da população, registrada por diferentes institutos de pesquisa. Tal reversão tem sido
causada pela diminuição do fluxo migratório para o centro-sul.
Pesquisas do SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados) comprovam que entre 1970
e 1980 a Grande São Paulo recebeu mais de 2 milhões de migrantes; a região metropolitana
era, então, o maior pólo de atração populacional do estado. No período de 1980 a 1991 o saldo
migratório tornou-se negativo, fato considerado inédito, na região, nos últimos 50 anos. A
partir de 1991, a população da Grande São Paulo, que contava com 15,4 milhões de habitan-
tes, passou a aumentar apenas em função do seu crescimento vegetativo. A taxa anual de
crescimento ficou somente em 1,86%, muito abaixo dos 4,46% verificados na década anterior.
Houve, portanto, necessidade de se fazer um replanejamento no sistema de captação e
abastecimento de água da Grande São Paulo. Considera-se hoje que se forem realizadas obras
para manutenção do sistema de distribuição, com o objetivo de reduzir as perdas de água da
rede SABESP e aumentar a oferta de mananciais como a Billings e o sistema Capivari-Monos,
haverá água suficiente.

SENAI 101
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TEXTO DE APOIO XIII

Fibra de coco e látex na


indústria automobilística
Com a finalidade de utilizar novas matérias-primas na indústria, a empresa alemã Daimler
e Benz, com o apoio do UNICEF, está produzindo, experimentalmente, látex e fibra de coco
na ilha de Marajó, para confeccionar bancos de veículos automotivos, em substituição aos de
espuma de poliuretano.
A experiência foi apresentada, com sucesso, no I Seminário Internacional sobre a Utili-
zação de Fibras de Coco e Látex, realizado em São Paulo, em março de 1994.
O uso dessas fibras naturais apresenta uma série de vantagens, tais como: geração de
muitos empregos nas zonas produtoras de coco e borracha (Nordeste e Norte, respectiva-
mente); possibilidade de operação de um banco genético para fazer frente à competição de
outros países produtores de borracha; facilidade de reciclagem; ausência de poluição; econo-
mia de divisas, pois a espuma de poliuretano é derivada do petróleo, que depende de impor-
tações; aumento da segurança, pois a fibra de coco e látex é isolante térmico mais eficiente do
que o poliuretano (este, em caso de incêndio do veículo, expele gás cianídrico, letal ao ser
humano); conforto térmico, pois a espuma de poliuretano é inadequada ao clima tropical,
tornando o ato de dirigir desconfortável, principalmente nos dias mais quentes; aproveita-
mento da fibra de coco, que hoje é totalmente desperdiçada.
De acordo com os organizadores do seminário, o uso de fibras naturais como a de coco e
látex possibilita a criação de um programa de qualidade de vida com desenvolvimento auto-
sustentado, estando, assim, em sintonia com a atual tendência mundial de uso de materiais
recicláveis e renováveis, de diminuição da poluição ambiental e de redução do volume de lixo
nas grandes cidades.
Na Europa já é grande o incentivo governamental ao emprego de fibras naturais como
forma de preservação do meio ambiente. No Brasil, durante a realização do seminário, a As-
sociação Brasileira de Polímeros lançou uma proposta de criação de um projeto de desenvol-
vimento de fibras naturais para reforço de plásticos.

Poliuretano – substância em forma de esponja, resina ou borracha, usada como


isolante térmico ou acústico ou, ainda, como adesivo.

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TEXTO DE APOIO XIV

Estrela faz jogo de


plástico ecológico
A Estrela apresentou, durante a 14ª Feira Internacional de Brinquedos (ABRINQ), em São
Paulo, amostras dos primeiros brinquedos feitos em plástico biodegradável. O novo material
foi desenvolvido, a partir da cana-de-açúcar, pela Copersucar, em conjunto com o Instituto
de Pesquisa Tecnológica do Estado de São Paulo (IPT).
O investimento na produção dos dois jogos, Pula Macaco e Morcegos Equilibristas, ainda
não foi dimensionado, segundo Carlos Tilkian, presidente da Estrela. Mas a nova matéria-
prima deve ter um custo três vezes maior do que o plástico comum. “Nesse primeiro momento
a empresa vai absorver este custo porque acreditamos na inovação que isso representa”, diz.
Os brinquedos chegam às lojas a partir do segundo semestre e custarão cerca de R$15,00.
A Estrela pretende produzir e vender 40 mil unidades de cada. Segundo o presidente da em-
presa, será feita uma campanha especial para o lançamento destes produtos, a fim de con-
quistar a simpatia dos consumidores. O principal retorno, segundo Tilkian, será institucional.
“Além disso, esta divulgação pode viabilizar o projeto. Assim, poderá ganhar escala e conse-
qüentemente reduzir os custos”, diz. Ele acrescenta que esta medida visa sensibilizar pais e
crianças quanto ao problema da preservação do meio ambiente.
A Copersucar e o IPT ficaram surpresos com o interesse da Estrela, que tomou conheci-
mento do projeto. “Imaginamos que o plástico biodegradável interessaria mais ao pessoal de
embalagem”, diz João Guilherme Sabino Ometto, presidente da Copersucar, acrescentando
que 20% do lixo urbano é de origem plástica comum.
O projeto já consumiu mais de US$ 5 milhões. Em conjunto, Copersucar e IPT chegaram
ao plástico biodegradável através de um processo biológico, onde um microrganismo é utili-
zado para a fermentação que produz uma resina. Em seguida o produto ganha pigmentação e
é enviado para a indústria, no caso a Estrela, conforme Carlos Eduardo Vaz Rossell, chefe da
divisão de processo tecnológico da Copersucar.
A capacidade de produção, feita na cidade de Serrana, na região de Ribeirão Preto (SP), é
de uma tonelada por semana. Segundo Celso Lellis Bueno Netto, chefe de biotecnologia do
IPT, o plástico biodegradável já foi patenteado e custará entre US$ 17 e US$ 22 o quilo, poden-
do cair para US$ 3 ou US$ 7. “O Brasil tem fartura da matéria-prima básica, o açúcar. O que
falta é escala de produção”, diz Bueno Netto. O quilo da resina é obtido através de três quilos
de açúcar. O plástico, quando exposto a condições ideais de degradação, é destruído entre
dois a seis meses, enquanto o plástico comum leva mais de 50 anos.

SENAI 103
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TEXTO DE APOIO XV

Contra o desperdício
Você já pensou sobre o que está ao nosso alcance fazer para combater o desperdício?
Podem ser pequenas ações de nosso dia-a-dia que, quando colocadas em prática, vão mu-
dando nossos hábitos e, assim, contribuindo para reduzir os diversos tipos de desperdício
que ocorrem em nosso país.
Para ajudá-lo em sua reflexão, apresentamos algumas sugestões relacionadas com a eco-
nomia de energia e o aproveitamento de alimentos.

 Economia de energia nas residências


• Evite acender lâmpadas durante o dia, aproveitando a luz do sol ao máximo.
• Utilize lâmpadas com potência compatível com o ambiente.
• Prefira usar lâmpada fluorescente.
• Utilize pinturas de cor clara para ambientes internos.
• Instale geladeira em local ventilado e não abra a sua porta sem necessidade.
• Passe a roupa de uma só vez.
• Evite tomar banhos demorados.
• Desligue aparelhos (ventilador, TV, ar-condicionado) ao sair do cômodo da casa.
• Apague a luz do cômodo da casa, ao sair dele.

 Economia de energia nas empresas

• Ao desligar máquinas operatrizes, desligue também seus dispositivos.

• Desligue a iluminação das salas que não estejam sendo utilizadas (horário de almo-
ço ou final de expediente, por exemplo).

• Aproveite ao máximo a iluminação e ventilação naturais.

• Suba e desça alguns degraus pela escada, evitando usar o elevador.

• Desligue o ar-condicionado uma hora antes do término do expediente (mantenha


as portas e janelas fechadas).

 Aproveitamento de alimentos

• Vinho azedo – use como vinagre.

• Frutas muito maduras – aproveite para fazer geléias e recheios de tortas.

• Parte branca da melancia – faça doce, como o que se faz com mamão verde.

• Casca de maçã – faça suco, chá ou licor.

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• Casca de jabuticaba – use para fazer licor.

• Talos de couve, taioba e brócolis – refogue junto com feijão, ou use na sopa.

• Osso de pernil – cozinhe para fazer caldos.

• Restos de angu – frite-os.

• Sementes de abóbora ou de melão – seque por 24 horas, toste no forno e use como
tira-gosto.

• Cascas de batata – frite-as.

• Leite azedo – transforme em doce ou coalhada.

• Sobra de feijão – faça sopa com legumes.

• Sobra de arroz – tempere e faça bolinhos.

Que outras ações você acrescentaria a estas, para combater o desperdício den-
tro de sua casa ou na empresa em que trabalha?

Mudando pequenos hábitos como esses, estaremos desencadeando um processo que


tem como objetivo final a modificação de muitos outros comportamentos de todos nós, prin-
cipalmente ligados ao nosso modo de produzir e, que, por conseqüência, afetam o meio am-
biente.
Toda grande mudança, porém, somente ocorrerá se houver a participação aberta e de-
mocrática de todos, iniciando com a conscientização de cada um de nós e a partir da dimi-
nuição do desperdício em nossa própria casa. Assim, estaremos, de forma inteligente, econo-
mizando, produzindo melhor e a custo bem mais baixo e, no final, ajudando ao nosso meio
ambiente.

SENAI 105
SMS - Meio Ambiente – Referências bibliográficas

Referências bibliográficas
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Barreto (org.). Programa de desenvolvimento de docentes: Competências básicas. Rio de Janei-
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BRASIL. Lei no 6.938 - Da Política Nacional de Meio Ambiente. Brasília: 31 de agosto de 1981.

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___________. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão em Investimento e Saúde. Saúde


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CALLENBACH, E. et alli. Gerenciamento ecológico. São Paulo: Editora Cultrix, 1993.

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