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Ci Nat A10 GR Raarl 090810 PDF
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A Hipótese Gaia
Autores
aula
10
CI_NAT_A10_RAARL_090810.indd S11 09/08/10 15:25
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitor
José Ivonildo do Rêgo
Vice-Reitor
Nilsen Carvalho Fernandes de Oliveira Filho
ISBN 85-7273-285-3
CDD 574.5
RN/UF/BCZM 2005/45 CDU 504
Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou
reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
N
esta aula, você verá como houve uma modificação, ao longo dos séculos, na maneira
de entender o mundo. Se no início predominavam visões fantásticas e mitológicas da
Terra e do universo e depois passamos para uma descrição de um mundo subordinado
aos nossos desejos e do qual éramos donos, hoje, entendemos nosso planeta como um sistema
dinâmico e integrado, com capacidade de responder a modificações em suas partes. Essa
abordagem retoma uma discussão holística conhecida como Hipótese Gaia, muito parecida em
sua abordagem com a do índio Seatle, cuja carta nós já discutimos. As implicações desse novo
olhar é um assunto muito interessante que faz parte da história da ciência e do pensamento
do homem.
Objetivos
Após estudar esta aula, você deverá ser capaz de:
A
maneira como nós, os seres humanos, entendemos o mundo tem mudado incrivelmente
através dos tempos. O homem primitivo tinha uma visão limitada de tudo. Seu universo
resumia-se às imediações de onde habitava. Com pouco conhecimento sobre os seres
vivos e o meio ambiente que lhe cercava, tinha uma descrição mágica e mítica, como você viu
em nossa primeira aula.
No entanto, nossa espécie sempre se destacou por possuir uma grande curiosidade,
capacidade de experimentação e aprendizado. Quando analisamos as inscrições rupestres,
percebemos um acurado modo de observação e registro da realidade pelos nossos ancestrais,
sendo esse processo o início do acúmulo de conhecimentos sobre o mundo em que vivemos.
Atividade 1
Faça um desenho simples da Terra, do sistema solar e de uma pessoa
situada no nordeste brasileiro, de uma no pólo norte e de outra no
pólo sul.
sua resposta
Com o transcorrer da história, o homem foi formulando prováveis descrições de como o
mundo é e de como funciona. Durante a Antigüidade Clássica, cerca de 1000-500 a.C., nossa
visão de mundo era muito diferente da atual. Imaginava-se que nosso planeta fosse plano!
O pensador grego Anaximandro (c. 610-545 a.C.), considerado o pai da astronomia grega,
achava que sobre a terra, que era um cilindro plano, havia um vento que trazia o calor do fogo
existente no céu. Por outro lado, acertadamente, ele achava que a vida tinha se iniciado no
meio aquático e que o homem descendia de animais de outras espécies.
Anaxímenes (c. 525 a.C.) afirmou que a Terra flutuava no ar e que o Sol se escondia
atrás de partes altas da terra, tal como atrás de grandes montanhas. Por isso, tínhamos uma
variação de dia e noite. Uma representação dessa idéia está mostrada na Figura 3. <http://www.perseus.tufts.edu/GreekScience/Students/Ellen/Empedocles.jpg>.
Aristóteles (384-322 a.C.), um dos maiores gênios que já existiu, imaginava que o
mundo era constituído, na verdade, por três mundos:
o terrestre (formado pelos quatro elementos: água, terra, fogo e ar);
Mesmo durante a Idade Média, ainda pensava-se que existia o mundo dos mortos abaixo
de nós, o Hades; o Paraíso ou Éden, acima, residência dos deuses e eleitos; e que a terra era
plana e cercada por águas.
<http://nrumiano.free.fr/Images_cg/Anccosm_E.gif>.
Fonte: The mytological world view. Disponível em:
Figura 4 – Visão mitológica do mundo onde a Terra era plana e envolvida por uma campândula de cristal na qual
estavam fixadas as estrelas.
Nicolau Copérnico (1453-1543), em 1543, demonstrou que a Terra gira em torno do Sol
e que não é o centro do universo, derrubando, assim, o geocentrismo e substituindo-o pelo
heliocentrismo. Com essa teoria, inicia-se o processo de conduzir o homem ao seu devido lugar
no cosmos. Essa mudança de referencial da Terra para o Sol representa o que para muitos foi
a primeira grande revolução científica na história da humanidade.
Das revoluções nos céus, passamos agora para as terrestres. Charles Darwin (1809-1882)
derrubou mais um grande mito que nos colocava como o centro da criação, o antropocentrismo.
Com sua teoria da evolução, demonstra a origem animal do homem, a qual descende de seres
tidos, até então, como inferiores, derrubando junto a teoria criacionista cristã.
Outra grande revolução deu-se quando deixamos de ver nosso planeta como algo inerte,
estático, ou seja, como um planeta onde coexistem organismos vivos e uma porção inanimada
e independente formada pelos continentes, montanhas, nuvens e oceanos. Por incrível que
pareça, até o início do século XX era assim que pensávamos.
Aquela forma limitada de ver a Terra foi auxiliada pela separação das ciências em suas
áreas específicas. Os geólogos e biólogos (para ficar só com essas duas especialidades), em
sua maioria, possuíam visões restritas sobre nosso planeta. Do ponto de vista dos geólogos,
a Terra era uma bola de rochas sobre um núcleo líquido, umedecida pelos oceanos e com uma
tênue camada de ar nos isolando do espaço sideral. Já para os biólogos, os organismos vivos
eram entidades isoladas tão adaptáveis que estavam preparados para quaisquer mudanças
materiais que pudessem ocorrer durante a história do planeta.
<http://www.makingthemodernworld.org.uk/stories/the_age_of_
ambivalence/02.ST.06/img/IM.0208_zl.jpg>.
Fonte: James Lovelock. Disponível em:
O nome da teoria foi sugerido pelo escritor britânico William Golding (1911-
1993), amigo de Lovelock, e é o nome da Deusa da mitologia grega Gaia ou Geia,
a personificação da Terra, que representa o elemento primordial do qual saíram as
raças divinas. Nasceu depois do Caos (personificação da vida primordial, anterior
à criação) e antes de Eros (Deus do amor). Sem o auxílio de nenhum elemento
masculino, engendrou o Céu (Urano), as Montanhas e o Mar. Os antigos gregos
consideravam que Gaia possuía o segredo dos destinos.
Apesar de não ter formulado a teoria com James Lovelock, muitos outros cientistas se
referiram ao assunto antes de Lovelock. Entre outros, podemos destacar:
Outro marco no desenvolvimento desse pensamento foi em 1900, com a teoria das placas
tectônicas formulada pelo geólogo, meteorologista e explorador alemão, Alfred Wegener (1880-
1930), afirmando que os continentes movem-se envolta do planeta como cubos de gelo em
um copo. Dessa forma, foi formulada a teoria da deriva continental, isto é, os continentes
não possuíam no passado a conformação como vemos hoje em dia e continuam afastando-se
uns dos outros.
Atividade 2
Pesquise na Internet sobre o projeto Viking, tentando descobrir:
sua resposta
Segundo Lovelock, a atmosfera de um planeta onde não existe vida deve estar em
equilíbrio, isto é, todas as reações químicas possíveis já ocorreram e os gases da atmosfera
estão relativamente inertes. Por outro lado, se existe vida, os gases não estão em equilíbrio e
muitas reações acontecem. A exceção seria o início e fim da existência de organismos vivos,
quando poderia haver uma atmosfera em equilíbrio químico mesmo na presença de vida.
Levando isso em consideração, podemos traçar um paralelo entre as atmosferas de
Vênus, de Marte, da Terra atual e primitiva (tabela a seguir). Observe que Vênus e Marte
possuem atmosferas em equilíbrio químico, ricas em dióxido de carbono, com pouco
nitrogênio e praticamente sem oxigênio.
O planeta Terra possui atualmente uma atmosfera rica em nitrogênio, pobre em dióxido
de carbono e com bastante oxigênio, mas no passado, quando ainda não existia vida, possuía
uma atmosfera muito parecida com as dos outros dois planetas.
A Terra atual, rica em vida, possui uma atmosfera altamente oxidante e reativa devido à
presença de oxigênio (O2). A atmosfera de hoje é constituída por uma rara e instável mistura
de muitos gases, indicando que não está em equilíbrio químico, estando, no entanto, bem
adaptada às necessidades da vida. Por essa óptica, espera-se que exista vida na Terra, o que
todos nós sabemos ser verdade.
Os níveis atuais de oxigênio e dióxido de carbono em nossa atmosfera são ideais. Menos
oxigênio comprometeria a respiração dos seres vivos; mais (por exemplo, 25 ao invés dos
21%), o planeta arderia em chamas espontaneamente. Sem o dióxido de carbono não haveria
a fotossíntese e uma quantidade maior levaria a um aquecimento do mar e da atmosfera. Ao
consumir e exalar esses gases, os seres vivos ajudam a mantê-los em equilíbrio. Lovelock
sugere que a vida em si mantém a composição da atmosfera.
Um novo olhar
Ao voltar o olhar do espaço sideral e dos planetas do sistema solar para a Terra, Lovelock
lançou uma nova forma de ver nosso planeta como até então ninguém havia feito.
A primeira vez que Lovelock expôs essa teoria foi em 1972, em uma nota na revista
Atmospheric Environment, com o título “Gaia vista através da atmosfera”. Utilizou como
embasamento a composição química da atmosfera e seu estado de desequilíbrio químico.
Posteriormente, ele publicou artigos juntamente com a bióloga e evolucionista americana Lynn
Margulis (1938). Em 1979, publicou o primeiro livro sobre o assunto, Gaia, um novo olhar
sobre a vida na Terra. Esse livro começou a ser escrito em 1975, quando o módulo espacial
Viking estava para aterrissar em Marte.
O ponto chave da hipótese Gaia é que esta prevê que o clima e a composição química
da Terra são mantidos em equilíbrio. Nosso planeta age como um sistema que se auto-
regula, sendo estabilizado por mecanismos físicos, químicos, geológicos e biológicos que
interagem para manter o que podemos chamar de homeostasia. Assim, precisamos ver o
planeta Terra como uma entidade complexa envolvendo a biosfera terrestre, a atmosfera,
a hidrosfera e a litosfera. Através de Gaia, a Terra mantém um equilíbrio com condições
relativamente constantes.
Essa teoria deixa de lado a visão de nosso planeta como um monte de rochas resfriadas
na superfície e líquidas em seu interior, como até então se considerava, e a descreve como
uma espécie de superorganismo, que funciona como um sistema dinâmico capaz de regular
a composição atmosférica, o clima e a salinidade dos mares, o que manteria esse sistema
sempre adequado para a vida.
A hipótese Gaia pressupõe que nosso planeta esteja vivo, levando-nos ao conceito de vida.
Essa é uma tarefa difícil. Todos nós sabemos o que ela é, mas como objeto de investigação
científica, que exige uma definição precisa, fica muito difícil de formular.
Atividade 3
Fonte: VELOSO, Caetano. Terra [letra de música]. Disponível em: <http://www.caetanoveloso.com.br/>. Acesso em: 10 maio 2005.
nosso sistema solar, vemos que ele se destaca por sua diversidade de tons e
movimentos. Girando na imensidão do cosmos, ela nos carrega, nos sustenta
em seu ventre como “uma mãe”. À luz dos conhecimentos adquiridos até agora,
dentro do contexto desta aula, faça uma interpretação do seguinte trecho da
música Terra, de Caetano Veloso, que compôs em 1978, após observar fotos de
nosso planeta tiradas do espaço.
Note que a temperatura de uma superfície escura é maior do que de uma superfície clara,
como acontece quando pisamos descalços sobre o asfalto ou sobre uma calçada branca. Isso
ocorre porque superfícies escuras absorvem mais do que refletem os raios do sol, fato que se
dá inversamente nas superfícies claras.
As margaridas pretas, devido a sua cor, absorvem mais energia solar e se aquecem
mais rápido do que as margaridas brancas. Imaginemos que o mundo das margaridas esteja
inicialmente muito frio. Nessa condição, as margaridas pretas teriam vantagem biológica
sobre as brancas e cresceriam mais rapidamente, aumentando sua população e escurecendo
a superfície do planeta.
Com a superfície mais escura, o planeta absorve mais energia solar e começa a se aquecer.
O aumento da temperatura faz com que as margaridas brancas comecem a ter vantagem sobre
as pretas e cresçam mais depressa, aumentando sua população. Brevemente, haverá mais
flores brancas do que pretas e a superfície do planeta irá refletir mais energia solar e voltará
a se resfriar. E as vacas? Bem, as vacas estarão sempre comendo as margaridas, sejam elas
pretas ou brancas.
Visto que os oceanos cobrem dois terços da superfície terrestre, eles têm uma
importância fundamental na formação das nuvens e são o principal elemento na regulação da
temperatura do nosso planeta. Principalmente devido à produção do gás carbônico produzido
por organismos marinhos do fitoplâncton, que através do efeito estufa mantém a Terra na
temperatura à qual estamos acostumados. Assim, aumentando artificialmente a quantidade
de CO2, estamos contribuindo para o aumento do efeito estufa e, portanto, para a elevação
da temperatura do planeta.
Os indus acreditam que não existe fim, e que a morte é sempre seguida pelo renascer,
sendo o Deus Brama o responsável pela destruição e renascimento. Os antigos islandeses
acreditavam que Odim, ainda jovem, teve a visão de que o mundo terminaria em uma grande
batalha quando homens e deuses sucumbiriam. Uma tribo do gabão, os Fang, imaginam que
um dia o Sol caçará as estrelas e a Lua e as comerá.
Os cientistas hoje acreditam que uma estrela média como o Sol, que tem cinco bilhões
de anos, vive em média dez bilhões de anos. Como você já estudou na aula sobre o Sol, o
processo de extinção de uma estrela ocorre porque, devido à alta pressão e temperatura em
seu interior, ocorre a fusão do hidrogênio, que ao se fundir transforma-se em hélio. Nesse
processo, a massa inicial é menor que a final e essa diferença é transformada em energia. Por
outro lado, o He assim gerado é mais denso e impede que a energia do Sol se dissipe, levando
a um aquecimento progressivo da estrela, que culmina com a sua explosão. Nesse momento,
a temperatura solar chegaria a 100 milhões de graus centígrados, expandindo-se violentamente.
Nesse caso, a Terra será carbonizada pela alta temperatura. Mercúrio e Vênus, por estarem mais
próximos, serão os primeiros a sucumbirem à catástrofe.
Mas, não se deprima. Isso provavelmente ocorrerá daqui a cinco bilhões de anos! Até
lá, caso nossa espécie ainda exista, provavelmente teremos desenvolvido tecnologia que nos
permita colonizar planetas fora de nosso sistema solar.
Mais preocupante são os acontecimentos atuais que dizem respeito a extinções de seres
vivos. Na história de nosso planeta, já ocorreram várias extinções. Destas, pelo menos duas
foram em grande escala. A primeira ocorreu há 250 milhões de anos, quando cerca de 90%
de todos os seres vivos do planeta pereceram (alguns autores se referem a um número entre
92-95%). A segunda grande extinção ocorreu há 65 milhões de anos, quando 50% de todas as
espécies morreram, incluindo os últimos dinossauros. Para nosso alívio, e por isso estamos
aqui agora, os primeiros ancestrais mamíferos do homem sobreviveram à primeira catástrofe
e nossos ancestrais primatas, à segunda.
Dez mil anos atrás a população mundial era de cerca de cinco milhões de habitantes.
Em 1850, havia 1 bilhão, em 1950, 2,5 bilhões. Acredita-se que em 2020 haverá pelo menos
8 bilhões de seres humanos no planeta. Nossa espécie alcançou esse sucesso graças ao
somatório de alguns aspectos, desde uma forma impressionante de adaptação ao meio
ambiente, ao desenvolvimento de um sistema nervoso altamente eficiente. Aparentemente,
somos os únicos seres vivos capazes de olharmos criticamente para nosso passado e presente
e sonharmos com nosso futuro.
Encontramo-nos hoje em uma encruzilhada nunca dantes atingida por nenhuma das
civilizações que nos precederam. De um lado, temos a ciência e a técnica necessárias para
levar nosso planeta adiante, preservando ao mesmo tempo o ambiente, a vida e a sociedade.
Por outro lado, temos o poder, a ambição e o fanatismo suficientemente aguçados para utilizar
essa mesma ciência e técnica para provocar a destruição do meio ambiente e de nossa própria
espécie. Desse modo, é pertinente afirmar que o nosso futuro depende cada vez mais das
decisões individuais e coletivas que tomamos hoje.
Auto-avaliação
Sistematize o pensamento do homem em relação ao nosso planeta no decorrer
1 dos anos, desde a Antigüidade Clássica até os dias de hoje.
Referências
About Tsunamis, Gaia, and Ecology. Disponível em: <http://www.ecolo.org/lovelock/gaia_
tsunamis-article-01_05.htm>. Acesso em: 10 maio 2005.
Empedocles double sphere system: day and night. Disponível em: <http://www.perseus.tufts.
edu/GreekScience/Students/Ellen/Empedocles.jpg>. Acesso em: 10 maio 2005.
LOVERLOCK, James. Gaia: a new look at life on earth. Oxford: Oxford University Press, 1979.
_______. Healing Gaia: practical medicine for the planet. [s.l]: Harmony Books, 1991.
TURNEY, Jon. Lovelock & Gaia: signs of Life. Columbia: Columbia University Press, 2003.
EMENTA
A Ciência e seus métodos, levantamento da realidade local, o Universo, o Sistema Solar e a Terra, a atmosfera
e o clima, a biosfera, a hidrografia, a flora e a fauna, a interferência humana no meio ambiente, uma primeira
identificação de problemas ambientais.
AUTORES
AULAS
03 A Terra – atmosfera
08 Clima e tempo
09 O Homem – origens
10 A Hipótese Gaia
11 Poluição
12 Ciência e ética