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Comunhão

no espírito

Marcelo Almeida
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Curso Pastoral Vinha – Sistema Vinha de Ensino

Direção Geral Aluízio A. Silva


Direção Acadêmica Luiz Antônio Rigonato
Direção Administrativa Messias Lino de Paula Filho

Edição e revisão de texto Aline Monteiro


Projeto gráfico e diagramação Michele Araújo Fogaça

Exceto as de outra forma indicadas, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Sagrada, Edição Revista e Atualizada
(RA), trad. João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), São Paulo, SP, 1993.

Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a
autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo
artigo 48 do Código Penal.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2010
Sumário

Cap 1 – A experiência da comunhão no espírito 5

Cap 2 – Amalgamados em Cristo 11


Cap 3 – Em cristo 17

Cap 4 – Três obstáculos na mente 21

Cap 5 – Aprendendo a colocar a mente no espírito 23

Apêndice 1 – Orar lendo a palavra 27

Apêndice 2 – Uma maneira simples de tocar o Senhor 33


Capítulo

1
A EXPERIÊNCIA DA COMUNHÃO NO ESPÍRITO

Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com Ele. (1 Coríntios 6.17)

1.1 Fomos destinados a ser espirituais


Todos os seres humanos são dotados de um espírito, o sopro de Deus, que, no entanto, por
causa do pecado, permanece amortecido no viver diário do ímpio. Esse espírito foi criado para
conter Deus e é a região mais elevada de nosso ser, o que nos qualifica para nos relacionarmos
com o Senhor.

Na queda, o espírito do homem perdeu a finalidade porque Deus já não era percebido; Sua
voz, Seu amor, Sua condução, Sua presença já não fluíam mais no homem; já não havia mais
comunhão com Deus. Ao perder a comunhão, foi também perdida a Vida divina e, como
consequência, o homem passou a viver noutra base: a vida da alma.

Assim, em função da queda, todos os seres humanos morreram espiritualmente, perderam a


vida de Deus e tornaram-se presos à alma.

Desde que nascemos, nossa alma é desenvolvida de todas as formas: intelecto, emoções e von-
tade. O espírito, entretanto, permanece morto, aguardando o dia de nosso novo nascimento.
6 Comunhão no espírito

1.2 O novo nascimento é a base para a comunhão com Deus

...O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito é


espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.
(João 3.5-7)

O novo nascimento, o nascimento no espírito, é um nascimento para Deus. Sendo assim,


para o bem de nosso progresso espiritual, devemos compreender sua importância.

No texto mencionado acima, a primeira coisa que Jesus diz é que: “Aquele que é nascido da
carne é carne”, ou seja, qualquer um nascido da união física de um homem com uma mulher é
carne. Todos nós passamos por esse primeiro nascimento, senão não existiríamos!

O nascimento da carne traz com ele uma base que nos caracteriza como seres carnais. A
Bíblia diz que aquele que nasceu do primeiro nascimento tem uma base para a vida, que é
carne. Aquele que nasceu da carne não a tem como um dos seus componentes; mais que isso,
a Palavra de Deus qualifica todo o seu ser como carnal. Todas as suas cogitações, inclinações e
intenções, seu ser total e o pendor de sua vida são para a carne. Não interessa quão boa e edu-
cada seja sua família ou quão moralmente aprovada seja sua origem. Interessa menos ainda se
são religiosos ou não, se frequentam uma igreja ou se são ímpios. A Bíblia diz que aquele que
nasceu somente no primeiro nascimento é carne. Toda a base de sua vida é carnal. Toda a sua
tendência é para a carne e tudo o que faz tem essa mancha.

Alguém que só experimentou o primeiro nascimento tem um grave problema: não pode ter
comunhão com Deus, pois está incapacitado para se relacionar com Ele ou ouvir Sua voz. Tal
pessoa será incapaz de descer às profundezas espirituais em íntima amizade com o Altíssimo e
ser conduzida pelo Espírito Santo. Seu espírito, embora exista, é amortecido, atrofiado e sem
a Vida divina. É como um rádio que tem tudo para sintonizar uma estação, mas permanece
desligado, apagado.

Quando o Senhor Jesus diz para Nicodemos: “O que é nascido da carne, é carne; o que
é nascido do Espírito é espírito”, vemos a impressionante força do segundo nascimento. O
nascimento do espírito é tão poderoso, tão forte, tão determinante que é capaz de alterar toda
a base de vida anterior. É tão profundo que altera a nossa natureza!

Por termos nascido da carne, ela era nossa base anterior, ou seja, éramos carnais. Porém, essa
base é alterada pelo nascimento do Espírito e qualquer um que tenha nascido do segundo nas-
cimento tornou-se espiritual. Segundo a Escritura, o novo nascimento não acontece na esfera
do intelecto nem do corpo, e quem quer que tenha experimentado um encontro real com Jesus
numa experiência de conversão genuína é espírito. Que forte é essa afirmação!

Quando nascemos do Espírito, fomos finalmente qualificados a tocar em Deus, ouvi-lo e ser
guiados por Ele no espírito, recebendo uma vida genuinamente espiritual. Isto é algo tão forte
e poderoso que se tornou uma segunda base de vida, pois como o Senhor Jesus foi categórico
em dizer, “...aquele que é nascido do Espírito, é espírito”. Portanto, no segundo nascimento,
nascemos para o Espírito Santo, para Deus, para a esfera espiritual. Nosso espírito agora está
vivo! Aleluia!
A experiência da comunhão no espírito 7

1.3 Características de uma pessoa não regenerada


Qualquer pessoa não regenerada tem uma tendência para a carne. Esse é o fator determinan-
te em sua vida e conduta. Suas inclinações básicas são para satisfazer seus apetites físicos, as ne-
cessidades e desejos dos sentidos e do corpo. Será alguém natural, com análises sempre naturais
e provenientes do plano mental e material, nunca do espiritual. Não importa quanto tempo
passemos com alguém não regenerado, só o ouviremos cogitar das coisas naturais. Nenhuma
vida fluirá daquela fonte seca, nenhuma edificação.

A Bíblia afirma que a boca fala do que o coração está cheio. Portanto, uma pessoa que não
tem o Senhor e não experimentou essa regeneração, falará somente do que é natural e terreno.
Gastará tempo em conversas intermináveis acerca de esportes, política, comida, turismo, traba-
lho, casamento, relações familiares, ciências, fofocas, competições, cobiças, conversas malicio-
sas e tolices sem fim. Além de falar das aflições decorrentes desse plano carnal, injusto e estéril,
falará apenas a partir desse vazio espiritual; sua boca apenas reproduzirá esse vazio, expressando
sua real base de vida: sua alma e seu viver carnal.

O apóstolo Paulo nos faz entender algo importante quando diz: “... em mim mesmo, isto é,
na minha carne...” (Rm 7.18). Em outras palavras, ele está dizendo que seu “EU” e sua carne
eram uma só coisa. Assim, vemos que nossa alma, por ter caído na concupiscência da carne e
ter sido feita escrava dos apetites do corpo, tornou-se também “carne”.

Quando a área que se destaca na alma são as emoções, o que é muito comum em artistas,
poetas, cantores e muitos religiosos, a característica marcante dessa pessoa não regenerada será a
emotividade. Assim, ela será uma pessoa melindrosa, supersensível, inconstante, volúvel, intem-
pestiva, exagerada, mística, susceptível e facilmente influenciada por circunstâncias exteriores.
Crentes regenerados, embora não espirituais, tenderão a manifestar as mesmas características.

Se, entretanto o perfil de sua alma for intelectual, expressará lógica, razão, incredulidade,
prazer por divagações intelectuais sem fim, teorias filosóficas fúteis, será alguém calculista, in-
diferente, questionador, arrogante, irreverente e, normalmente, pessoas assim se colocam acima
de Deus, coroando o próprio intelecto no lugar da divindade.

Na história humana, existe a tendência de valorizar mais a razão e o intelecto que as emoções
e a vontade. As filosofias ocidentais coroaram a razão em detrimento das outras faculdades da
alma. Para Deus, no entanto, Seu veredicto permanece: tudo aquilo que não tem sua fonte
no espírito é carnal, não importa quão elevado pareça. Assim, uma pergunta básica deve ser
respondida: em que base de vida eu vivo? Se não for na base da vida de Deus dentro de mim,
sou carnal!

Além do perfil emocional ou racional, há ainda aquele em que a vontade predomina. O indi-
víduo com esta característica marcante será alguém extremamente forte e obstinado. Teimosia,
radicalismo, pensamentos fixos e irracionais, obstinação tola e força de vontade admirável são
algumas de suas expressões. Mesmo com prejuízos, uma pessoa assim tenderá a levar o que quer
até o fim.

Pessoas não regeneradas viverão sempre numa base de vida que, fatalmente, as arrastará para
cometerem vários tipos de pecados sem, contudo, sentirem qualquer culpa ou condenação.
8 Comunhão no espírito

1.4 Deus é um ser espiritual

Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito


e em verdade. (João 4.24)

Há crentes que esperam que Deus fale em sua mente ou através das emoções. Tais pessoas
não compreendem que Deus é espírito, portanto, falará e se moverá no âmbito do espírito.
Deus não é um pensamento, deste modo, Ele não falará à nossa mente, não tocará nosso inte-
lecto. Ele até poderia falar audivelmente, como já o fez, mas essa não é a regra.

Deus escolheu falar ao espírito humano, portanto, é no espírito que Ele irá falar, nos dirigir,
mover, fortalecer, edificar e compungir; o Senhor tornará nosso coração contrito pelo espírito e
fortalecerá nossa fé no espírito. Enfim, tudo fluirá da parte de Deus a partir do nosso espírito.
O espírito humano é o “Quartel General” de Deus para conquistar nossa vida, e somente pela
Nova Aliança é que o Senhor Jesus conseguiu fazer de nós seres espirituais.

Para conhecer mais profundamente esse assunto, ver Apêndice 1 no final da apostila.

1.5 Um grande romance


É importante entendermos o princípio por trás do propósito eterno da redenção operada
por Deus.

A Bíblia é um grande romance entre um Deus apaixonado e um homem rebelde e pecador.


Ela é o livro do amor de Deus e relata seu anseio por comunhão, intimidade, relacionamento
e proximidade com o homem. Mas, como Deus poderia ter comunhão com o homem, sendo
Ele totalmente divino e espiritual e o homem todo carnal e cheio de pecado? Seria impossível!
Não pode haver amor e romance entre dois seres de natureza e essência diferentes.

Então, por causa desse enorme desejo divino de compartilhar Seu amor conosco, Deus
enviou Seu Filho para que Ele se tornasse semelhante ao homem e, assim, fizesse o homem
semelhante a Si mesmo. Jesus veio nos fazer seres espirituais para que Deus pudesse nos dar Seu
imenso amor e ser correspondido.

Eva é um símbolo de toda a humanidade, é um símbolo da Igreja no Éden, e foi tirada


daquilo que o próprio Adão era. Do mesmo modo, nós fomos tirados do que o próprio Cristo
é e, quando o Senhor Jesus ressuscitou, Ele nos habilitou a nascermos no Espírito para, assim,
podermos nos tornar Sua noiva e nos casarmos com Ele. Pode haver, agora, um romance,
pois o desejo intenso do Senhor se cumpre quando a divindade se reveste de humanidade e a
humanidade caída passa a receber a natureza divina dentro de si. É por isso que o Senhor Jesus
e a Igreja são comparados com o noivo e sua noiva, pois isso nos fala de casamento, de amor.

Agora, há um homem no céu que também é Deus; Ele é o noivo. E, aqui na terra, nós tam-
bém somos homens que carregam dentro de si um espírito vivificado pela divindade dentro de
nós. Agora pode haver casamento, pode haver romance.
A experiência da comunhão no espírito 9

Deus nos fez nascer no Espírito porque Ele está apaixonado por nós. No evangelho segundo
João, lemos que Deus “... tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo
13.1b). E, no capítulo 3, vemos que Ele “…amou de tal maneira…” (Jo 3.16 ), que mesmo
sabendo que seria negado, traído, abandonado, nos amou até o fim. Esse é o amor de Deus pela
humanidade, e é baseado nesse amor que Ele quer se relacionar com o homem.

Na obra da redenção, Cristo, que era divino, tornou-se humano. E nós, que éramos somente
humanos, recebemos de Seu conteúdo divino em nosso espírito, possibilitando, então, que
agora haja estreito, profundo e íntimo amor entre nós.
Capítulo

2
AMALGAMADOS EM CRISTO

Na Igreja dos primeiros séculos, circularam cartas e escritos que não têm valor canônico,
isto é, que não foram incorporados às Escrituras Sagradas. Mesmo assim, são de grande impor-
tância ao revelar valores e ênfases que a Igreja cristã nascente viveu e experimentou. Segundo
muitos estudiosos, nesses escritos, o termo “amalgamados”, derivado de “amálgama”, era usado
em profusão – atualmente, na língua portuguesa, o uso dessa palavra se restringe quase exclu-
sivamente a contextos técnicos.

Um amálgama é formado a partir de alguns componentes que, ao se juntarem, sofrem


uma troca química e formam um terceiro elemento. Este, por sua vez, perde a característica
dos elementos que o originaram para adquirir características distintas. Um exemplo bastante
comum é visto na odontologia, quando os dentistas misturam o mercúrio à limalha de prata
para formar um amálgama usado na restauração de dentes. Uma vez solidificado o composto,
torna-se impossível desfazê-lo, pois se tornou um novo material.

Outro bom exemplo de amálgama é um bolo. Reunimos todos os ingredientes, misturamos


tudo e levamos ao forno. O calor consolidará um amálgama com todos os elementos que
sofrem uma troca química e o resultado disso é um bolo. Se, depois de misturados, alguém
requisitar de volta os ovos, será impossível separá-los. Se outro ainda pedir de volta o leite ou a
farinha, será impossível restituí-los. Foram amalgamados!

Na Igreja primitiva havia um entendimento muito forte do que era um amálgama. Havia
uma poderosa e profunda revelação de que o Senhor Jesus tinha se unido ao nosso espírito
12 Comunhão no espírito

e, portanto, tínhamos sido “amalgamados” no Espírito de Cristo, pois “aquele que se une ao
Senhor é um espírito com Ele” (1Co 6.17).

As implicações desse versículo são assombrosas! A Bíblia diz que nos unimos ao Senhor e nos
tornamos um espírito com Ele. Fomos amalgamados e, agora, é impossível nos tirar de Cristo
– e muito menos tirá-lO de nós. Oh, verdade bendita e gloriosa! Esse é o centro da Bíblia e o
coração do projeto redentor de Deus.

Esta deveria ser a primeira verdade ministrada aos novos crentes assim que nascessem, pois
impediria que muitos de nós vivêssemos uma vida miserável durante anos na Igreja. Fomos
amalgamados. Glória a Deus! O Espírito de Cristo foi ministrado para dentro do nosso espí-
rito. Agora não tem mais volta: nosso espírito foi misturado com o Espírito do Senhor. Ele foi
amalgamado conosco e nós somos UM!

2.1 O Deus residente em nós


E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convos-
co, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece;
vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei
para vós outros. Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis;
porque eu vivo, vós também vivereis. Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e
vós, em mim, e eu, em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me
ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei
a ele. Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a
nós e não ao mundo? Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu
Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. (João 14.16-23, grifo nosso)

São impressionantes as implicações desse texto e devemos tomá-lo como fato em nossa vida,
afinal, é algo dirigido diretamente do Senhor para nós. Se cremos em Cristo e acreditamos que
o que Ele diz é digno de aceitação e não meras palavras bonitas, poderemos tomar essas palavras
de Jesus como fatos revolucionários em nossa vida.

2.2 Enviarei o Consolador que estará para sempre em vós


Nos versos 16 e 17, Jesus disse que enviaria o Espírito Santo para estar para sempre conosco
e habitar em (dentro de) nós. O Espírito Santo veio morar dentro de nós. Ele já foi enviado e
não há lugar na Escritura onde somos ensinados a esperar que Ele desça de novo, pois Ele já
desceu e, agora mesmo, está aqui em nosso interior. Ontem à noite, quando nos deitamos para
dormir, Ele estava lá dentro do nosso espírito. Hoje, quando tomamos o café-da-manhã, Ele
estava EM nós; quando tomamos banho, Ele também estava lá.

Depois que nascemos de novo, o Espírito Santo veio habitar dentro de nós e nunca mais se
retirou. Talvez nossa alma tenha estado por demais agitada para perceber isso; talvez o pecado
tenha maculado nossa consciência e impedido que enxergássemos esse fato, mas nada disso
pode mudar esta realidade: o Espírito Santo nos foi dado e habita para sempre em nós.
Amalgamados em Cristo 13

Você já falou com o Espírito Santo hoje? Faça isso agora, voltando-se para o endereço de
Deus dentro de você e, imediatamente, entrará em contato com essa Presença bendita e mara-
vilhosa. Se Ele disse que estaria aí, então Ele está! Simplesmente confie no que Ele diz e toque
agora em Sua doce Presença.

2.3 Vós estais em mim e eu estou em vós


Nos versículos 18 a 20, Jesus disse ainda mais: não apenas o Espírito Santo viria morar
dentro de nós, mas Ele mesmo, o Senhor Jesus Cristo, depois de ressuscitado, habitaria em nós.
Isso é um fato, uma realidade, um firme fundamento sobre o qual poderemos caminhar. Esta
não pode ser uma mera doutrina evangélica aceita intelectualmente, mas uma realidade viva e
experimental em nossa vida, pois o que o Senhor ensina aqui é o cerne da Bíblia: o Deus mi-
nistrado como vida para dentro do nosso espírito se tornou a nossa própria vida. É, finalmente,
o homem tomando do fruto da árvore da vida (Jesus), ingerindo-o para dentro de si. ZOE, a
própria Vida com a qual Deus vive, veio morar em nós e se fez uma só vida conosco. “Aquele
que se une ao Senhor é um espírito com Ele” (1Co 6.17).

2.4 Meu Pai o amará e viremos e faremos nele morada


Nos versos de 21 a 23, a verdade se completa: Jesus diz que o Pai também viria para fazer
de nós Sua morada. Isso significa que o Deus que lançou o fundamento das estrelas, o Deus
Onipotente e Eterno, mora em nós. Pense em Jeová Saboah, em Jeová Makadeshkem, em Jeová
El Olam, em Jeová Jireh, o Grande El Shadai do Velho Testamento, o Deus de Abraão, Isaque
e Jacó. Esse é o Deus que Jesus Cristo afirma, em Sua Palavra, que veio habitar em nós. Esse é
o Deus a quem nos unimos e fomos amalgamados.

É preciso haver um esclarecimento aqui: as Escrituras nunca dizem que nos tornamos Deus
por termos sido unidos a Ele. Em espírito, entretanto, nosso espírito foi unido e se fez um com
o Senhor. Esse é o maior fato da nossa experiência com Deus; é a base de toda a Escritura e do
plano eterno de Deus.

2.5 Cristo nos evangelhos e em Atos


A diferença básica entre os quatro evangelhos e o livro de Atos é que, nos evangelhos, Cristo
é revelado como “Emanuel”, Deus conosco, ou seja, um Deus que está fora de nós. Porém, no
livro de Atos, Ele foi mostrado como Deus residente em nós, dentro de nós. Nos evangelhos,
Jesus é o unigênito, isto é, o único gerado naquela nova base; alguém com uma natureza santa
expressando a glória de Deus. Depois de Atos, Ele não era mais o unigênito, mas se tornou o
“primogênito”, pois passou a morar dentro de nós para ser o primeiro entre muitos irmãos.

Hoje, Jesus não é mais o único de uma espécie, não é mais Emanuel, um Deus do lado
de fora. Agora, Ele é Deus do lado de dentro, em nosso interior. Na prática, Deus mudou
de endereço: a divindade que habitava no céu mudou-se para dentro de seres humanos que
14 Comunhão no espírito

se tornaram Sua residência. Este é o novo endereço de Deus: nosso espírito. Deus dentro de
NÓS. Oh maravilhosa graça!

2.6 Um vaso para conter Deus

Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho do seu Filho,


é minha testemunha de como incessantemente faço menção de vós.
(Romanos 1.9, grifo nosso)

Paulo servia a Deus no seu espírito humano. Isso nos remete para outra ilustração rica sobre
termos recebido o Senhor dentro de nós. Somos vasos para conter o Espírito de Deus. Somos
esse recipiente idealizado e feito para tal fim. Um vaso, do ponto de vista natural, serve tanto
para decoração quanto para conter algo. Porém, como vasos, não fomos projetados apenas para
sermos mostrados em público, mas para recebermos um precioso conteúdo, um recheio: o
próprio Senhor! Nosso conteúdo é o próprio Deus.

Em Romanos 9, Paulo menciona vasos de honra (v. 21) e vasos de misericórdia preparados
para a glória (v. 23). Por isso, o fato de sermos vasos de honra, preparados para a glória, significa
que fomos designados para conter Deus como nossa honra e glória. Sendo assim, Deus Se sente
confortável no homem. Entretanto, não Se sentiria confortável num animal sem um espírito
renascido ou mesmo num anjo. Somente num homem Deus sente-se em casa, em descanso. O
céu pode ser o lugar temporário da habitação de Deus, mas Seu verdadeiro lar é dentro de nós.
No livro do Apocalipse, vemos claramente essa bendita verdade.

2.7 Um Deus que reside e reveste


Muitos confundem o ato de receber o Senhor como Deus residente com o recebimento do
Espírito Santo para revestimento de poder. No primeiro caso, Jesus sopra o Espírito para den-
tro dos discípulos e diz: “...recebei o Espírito Santo” (Jo 20.22). Isto é, recebei-o como sua nova
base de vida e natureza. Por outro lado, ainda antes de ser elevado aos céus, Ele dá a ordem:
“Mas recebereis poder ao descer sobre vós o espírito Santo” (At 1.8). Como isso seria possível se
Ele já houvesse soprado sobre eles o Espírito Santo? É incontestável que são duas experiências
distintas e incorrem em grave erro aqueles que privam a Igreja da segunda experiência.

O Espírito de Deus veio primeiro para transformar o espírito. Mas, num segundo momento,
veio para revestimento de poder e capacitação para o trabalho. Foram dois momentos distintos.
Porém, depois disso, Jesus mostrou ainda que, no futuro, o Espírito não viria de cima para
baixo, mas fluiria de dentro para fora. Chegará o tempo em que, do nosso interior, fluirão rios
de vida, rios de água viva. A adoração será algo espiritual, a fé virá a partir do nosso espírito;
a revelação, os dons espirituais e o amor de Deus fluirão a partir do espírito; tudo Deus fará a
partir do nosso espírito.
Amalgamados em Cristo 15

Muitas vezes, não experimentamos os poderes do mundo vindouro, como diz a Bíblia, por-
que insistimos em procurar Deus onde Ele não está.

Deus tem uma maneira de trabalhar oposta ao modo como o diabo trabalha. O Senhor ten-
ta atrair nossa atenção para dentro de nós, porque é lá que Ele está, nossa fonte de vida, força
e autoridade. Deus trabalha para que voltemos a atenção para nosso interior.

O diabo, ao contrário, trabalha para atrair nossa atenção para fora, pois, ao fazer isso, nos
afasta da real fonte de suprimento e solução para nossos problemas. Em sua sutileza, o inimigo
usa estratégias aparentemente espirituais, como levar os irmãos a criarem expectativas a respeito
de homens e mulheres ungidos e poderosos, de cultos marcantes ou estratégias mirabolantes
com aparência de poder e de realidade espiritual. Ainda que Deus use pessoas, ao manter os
crentes com expectativas exteriores, o inimigo conseguirá mantê-las longe da fonte.

Não podemos alcançar nada de Deus com expectativas externas, pois Ele está dentro de nós.
Nossa vida só mudará quando tivermos revelação de que Deus mora em nosso interior. Essa
verdade fundamental de Deus dentro de nós é tão crucial para nosso progresso que não pode
ser mera doutrina com a qual concordamos. Tem que ser experiência viva, revelada e concreta!
Caso contrário, o prejuízo será de anos e anos de busca nos lugares mais áridos onde o Senhor
não está.

Como consequência dessa revelação em nosso espírito, virá uma consciência de santidade,
reverência e temor de Deus com a qual jamais sonhamos; um nível de intimidade e comunhão
com Ele que jamais imaginamos ser possível. Uma imensa paz e um profundo gozo em nosso
espírito serão realidades no caminhar diário. Carregamos o Santo em nós por onde quer que
formos. Nossa comunhão com Deus será íntima, pois teremos descoberto que o endereço dEle
é dentro de nós.

2.8 Nada tem poder para nos separar dEle


Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os princi-
pados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profun-
didade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor. (Romanos 8.38-39, grifo nosso)

Por mais que tentasse separar-nos, ninguém conseguiria nos retirar de Cristo; os homens
mais poderosos e influentes dessa presente geração jamais conseguiriam se assim o quises-
sem. O diabo com todos os seus demônios e seus estratagemas são impotentes para conseguir
afastar-nos de Cristo. Nada seria capaz de fazê-lo. E mais: se, de fato, somos nascidos de Deus,
nem o pecado pode retirar de nós o Espírito residente.

Em nossa fraca consciência, achamos que podemos agradar a Deus por nossa própria força.
Assim, só nos sentimos em condições de orar, ter paz e comunhão com Deus quando não de-
tectamos nada de errado e pecaminoso diante de nossa visão fraca e parcial. Porém, é bom estar
claro que, mesmo desejando ser fiel a Deus, sempre estamos carregados de pecados. São ini-
16 Comunhão no espírito

quidades e transgressões das quais nem temos consciência, motivações carnais e tolas que estão
sempre diante de nós. Porém, se Deus as revelasse de uma vez, certamente nos desesperaríamos.

Assim, nossa confiança para termos comunhão com Deus deve ser fundamentada na jus-
tificação perfeita operada por Cristo e no fato de Ele ter-nos feito sua morada no espírito,
NUNCA no que fazemos de certo, ou no que deixamos de fazer. Assim, mesmo se pecarmos ou
chegarmos a ter consciência de algum pecado, isso não espantará o Espírito Santo. Ele já tratou
com todos os pecados naquele único dia e único sacrifício. Ele não nos purifica em partes, mas
já o fez totalmente! Aleluia!

O texto bíblico acima citado diz que nada poderá nos separar do amor de Deus. Isso aconte-
ce porque estamos debaixo de uma aliança eterna e, portanto, não está condicionada aos nossos
tropeços e fracassos ou às nossas inconstâncias. Deus quis nos assegurar que não é com base no
que nossa humanidade, em processo de transformação, pode fazer. O fundamento é aquilo que
Ele, o Cordeiro, fez no Calvário. E a Bíblia afirma que o que Jesus fez é totalmente aceitável por
Deus, satisfez Seus altíssimos padrões, e é nessa base que Ele foi ministrado para dentro de nós.
Capítulo

3
EM CRISTO

A Bíblia é cheia de expressões, tais como: “em Cristo”, “em quem”, “no qual”, “nEle”, “por
meio de”, “por quem”. Todas essas expressões significam que Ele está em nós, age por meio de
nós e flui Sua doce presença através de nós.

Em Romanos 3.6, Paulo diz que aqueles que foram colocados em Cristo, batizados em
Cristo, de Cristo se revestiram. Há uma mistura, um amálgama, que resultará numa comunhão
íntima, profunda e cada vez mais poderosa e viva. Devemos aceitar o desafio de buscar essa
experiência. Ela será tão simples como respirar, que não nos exige esforço algum. Do mesmo
modo, o Senhor não imporia a condição de aprendermos algo complicado e difícil a fim de nos
relacionarmos com Ele.

3.1 Bebendo de Cristo como vida


Há uma dimensão profunda a ser experimentada ao nos voltarmos para o Senhor em nosso
espírito. Podemos tomar o Senhor como nossa própria vida e, ao fazer isso, não estamos citan-
do uma poesia, proferindo palavras bonitas ou simplesmente fazendo algo interessante. Essa
atitude é um fato concreto e objetivo.

No Evangelho segundo João, há várias expressões como: “Eu sou a ressurreição e a VIDA”,
“a VIDA estava nEle”, “Sou a água da VIDA” ou “Eu sou o pão da VIDA”, referindo-se à
“ZOE”, que é a própria vida eterna de Deus. De acordo com a Bíblia, essa foi a vida ministrada
18 Comunhão no espírito

para dentro de nós. Sendo assim, Deus é nossa própria vida, e isso é um fato, uma realidade es-
piritual. Podemos nos voltar para o Senhor em nosso espírito, confiando que Ele diz a verdade
ao falar que habita para sempre dentro de nós, fazendo a seguinte oração:

“Oh, Senhor! Neste momento, eu O tomo como minha VIDA. Bebo


e me satisfaço em Ti como a minha própria VIDA. Oh, bendita VIDA
que desceu do céu! Transborda dentro de mim!

Isso é muito mais que uma mera oração verbalizada; é um desfrute para dentro de nosso
espírito. Podemos orar, beber e sentir esse fluir!

3.2 Tomando o Senhor como alimento


A Bíblia também diz que Jesus é o pão, é o alimento, é a água. Devemos ingerir o próprio
Jesus como alimento. O pão, usado por Jesus como símbolo tem muito a revelar: depois de en-
golido, é processado dentro de nós e passa a fazer parte de nós mesmos. Depois de ser apreciado
e matar a fome, já dentro de nós, o pão é digerido e se transforma em glicose. Esta é assimilada
pela corrente sanguínea e distribuída para cada célula do nosso corpo na forma de energia pura.
Dessa forma, o pão que comemos se faz realmente uma só substância conosco. O Senhor Jesus
é, de fato, o nosso pão!

O padrão de maturidade da vida cristã não é esperar que chegue o domingo para se alimen-
tar, e sim, cada um de nós, sozinho, se alimentar todos os dias do Senhor através de uma íntima
e real comunhão com Ele. Nossa atenção não deve ser voltada para fora, mas para dentro, onde
Ele está. É em nosso interior que está a resposta, é lá que está a vida. Deus quer que cresçamos
em comunhão e intimidade com Ele, que bebamos dEle como água que sacia a sede, que acaba
com a sequidão e que leva à mananciais de águas vivas.

3.3 Tomando o Senhor como deleite

E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-


vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de
coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais... (Efésios 5.18,19)

Podemos simplesmente desfrutar do Senhor como nosso deleite, nosso doce gozo no espíri-
to. Somos nós que nos enchemos do Espírito falando, declarando e confessando a Palavra. Se
começarmos a beber e a fluir do Senhor onde estivermos, a vida e o poder de Deus se mani-
festarão. Se houver alguém no ambiente que necessite deles, receberá essa preciosa influência;
se estiver enfermo, será curado; se houver alguém a quem o Senhor pretende alcançar com
contrição e arrependimento, a contrição de Deus tomará conta de seu coração diante de nós.
Quando não tivermos força, podemos tomá-lO como força. Queremos unção? Devemos nos
voltar para dentro de nós, pois o Cristo, o Ungido, está em nosso interior agora mesmo, onde
Em cristo 19

quer que estejamos. Ele é a própria unção. Devemos tomar dEle como nossa unção, alegria,
direção, libertação, defesa, cura...

Ao experimentar, degustar e beber do Senhor como fonte de deleite, nos aprofundaremos


nessas águas caudalosas até que se tornem torrentes que transbordam do nosso interior – de
dentro para fora, pois a fonte está dentro de nós. Essa é uma verdade básica, portanto não
devemos dizer que o Senhor virá nos visitar ou que está ao nosso redor. Ainda que seja verdade,
pois Ele está em todos os lugares, o maior fundamento de nossa vida é que Ele está em nós para
sempre, pois: “...aquele que se une ao Senhor é UM espírito com Ele”! Essa é a porta de entrada
para um caminho de maturidade e progresso espiritual genuínos.

Muita gente se equivoca achando que é possível dissecar e estudar Deus com a mente.
Porém, devemos nos lembrar de que Ele é Espírito. Essa é a porta para um genuíno conhe-
cimento de Deus; é a porta para a unção, para a revelação, para experiências mais íntimas
e para frutos abundantes. Deus não nos quer para a obra, para nos ter meramente como
empregados; Ele nos quer para Si. O Senhor não quer um servo, um fazedor de coisas, Ele
quer intimidade conosco.
Capítulo

4
TRÊS OBSTÁCULOS NA MENTE

O obstáculo que temos para o avanço na vida cristã, para a comunhão com Deus, é a
nossa mente difusa, indisciplinada e dispersa. Ela pensa em várias coisas ao mesmo tempo,
sai daqui, vai acolá, lembra-se, perde a linha do que pensava há pouco e já se dirige para
outro pensamento.

Quando nos convertemos, nosso espírito humano é vivificado e a alma deve aprender a
segui-lo. Assim, a mente terá a chance de não deter mais o controle das rédeas da direção de
nosso ser. Se decidirmos adorar a Deus, a mente deverá seguir obediente.

Porém, é nesse ponto que encontramos o problema de todos esses anos vivendo indepen-
dentes de Deus. Quando começamos a por em prática essas verdades espirituais, há momentos
em que a presença de Deus flui de maneira tremenda, mas também há outros nos quais,
aparentemente, nada acontece. Quando estamos buscando o Senhor em nosso espírito, nossa
mente tenta nos levar para as coisas naturais que estão à nossa volta, talvez nos lembrando de
algo que precisaríamos fazer naquela hora, como ir ao banco, fazer o almoço, buscar as crianças
na escola, ou até nos lembre que esquecemos o leite no fogo. Tudo isso flui nesse momento
porque a mente ainda é indisciplinada, difusa, está acostumada a anos à fio de independência.
Por isso, às vezes, parecerá difícil colocar a mente no espírito, pois ela está acostumada a não
seguir orientação alguma.
22 Comunhão no espírito

4.1 A independência da alma e da mente.


A alma acostumou a ser independente e a mente é desgovernada. Foi assim que viemos do
mundo e conhecemos Jesus, pois não sabíamos que estávamos em um bombardeiro cerrado do
inimigo. Quando conhecemos Cristo é que tomamos conhecimento de que nossa mente é o
único lugar a que os espíritos malignos têm acesso para nos atacar. Fisicamente, em circunstân-
cias normais, o diabo não pode nos tocar. Mas, se abrirmos uma brecha e formos complacentes
com o pecado, ele nos tocará, sim. E nossa mente é o lugar da batalha.

4.2 A mente atacada cede ao inimigo.


O diabo pode induzir nossos pensamentos lançando dardos em nossa mente. Às vezes, eles
são um pensamento relâmpago ou uma sugestão absurda que invade nossa linha de raciocínio
normal. Antes de receber a Cristo, nossa mente vivia em desgoverno, pois as pessoas no mundo
são manipuladas e induzidas por espíritos malignos que as dirigem através da mente, às vezes
até para cometerem crimes bárbaros. Nunca percebem que estão sendo marionetes nas mãos
do maligno e pensam que vivem na liberdade de escolha, mas seus desejos, sensações, sugestões
e pensamentos estão sendo manipulados. Quando chegamos a Cristo, tomamos conhecimento
desse problema em nossa mente e em nossa alma.

4.3 A mente era uma aliada de Satanás


A Bíblia mostra que Adão tinha uma comunhão íntima com Deus em seu espírito, pois esta
era a parte de seu ser que tinha primazia sobre as outras e, assim, o Senhor podia falar e ter
um relacionamento de amizade com ele. Satanás, então, estimulou a independência em Adão,
incitando-o a tomar iniciativas longe da direção de Deus, a deixar Deus à parte. Ele estimulou
Adão a se divorciar da comunhão, da amizade com Deus.

Quando a alma de Adão foi estimulada e ele decidiu aceitar e seguir a sugestão do diabo,
passou a andar à parte da direção de Deus. Na prática, sua alma tomou o lugar do espírito,
deixando-o em um lugar secundário.

Por causa dessa independência, o homem morreu espiritualmente. Assim, desde que nas-
cemos, vivemos em um contexto no qual somente nossa mente (uma das funções da alma)
é estimulada a funcionar. O sistema do mundo funciona assim. Todo o sistema ideológico,
religioso, educacional, filosófico e político, caminha nessa racionalidade morta para Deus.

Quando nos entregamos a Cristo, nosso espírito é vivificado, mas nossa mente ainda precisa
ser disciplinada a fim de romper com a independência do Espírito. Esta é a principal dificul-
dade que encontramos: queremos servir ao Senhor, tomá-lO como nosso alimento, mas nossa
mente não acompanha nosso espírito. Porém, depois que nosso espírito é vivificado e colocado
em evidência, o Espírito Santo que habita em nós espera que nossa mente volte ao seu lugar,
que se sujeite ao espírito.
Capítulo

5
APRENDENDO A COLOCAR A MENTE NO ESPÍRITO

O Espírito Santo nos oferece várias ferramentas para disciplinar nossa mente, como veremos
a seguir.

5.1 O dom de línguas

O que fala em outra língua a si mesmo se edifica... (1 Coríntios 14.4a)

O que fala em línguas edifica a si mesmo, e Deus quer que todos falemos em línguas para
que sejamos edificados.

Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a


minha mente fica infrutífera. (1 Coríntios 14.14)

Quem ora em línguas tem seu espírito orando de fato, mas a mente fica infrutífera. O fato
de não entender coisa alguma, faz com que a mente seja disciplinada a seguir o espírito.

Estamos acostumados a exercitar a mente para orar, ler a Bíblia e realizar muitas outras ati-
vidades. Então, Deus nos deu um dom em que a mente não tem que se exercitar; ao contrário,
24 Comunhão no espírito

ela precisa ficar quieta, calada e acompanhar o espírito. Dessa maneira, Deus pode trazer nossa
mente cativa para o caminho estabelecido por nosso espírito.

Portanto, se quisermos ser edificados, Deus nos oferece essa possibilidade através de falar em
línguas. Temos, entretanto, que tomar cuidado, pois a mente é hábil em aprender as coisas do
espírito e transformá-las em cópia. Podemos facilmente falar em línguas com base no que já
decoramos na mente sem, entretanto, voltar-nos para o espírito. Esse é um tremendo tropeço
para teólogos racionais que tiram seu prazer dos exercícios mentais teológicos e filosóficos, pois
as coisas de Deus se discernem espiritualmente, e, sem perceber, eles caem no mesmo problema
dos fariseus do passado.

...dou graças a Deus, porque falo em línguas mais do que todos vós.
Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendi-
mento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua.
(1 Coríntios 14.17-19)

Nesse trecho, Paulo quis dizer que, dentro da igreja, para que os demais irmãos sejam edi-
ficados, é preciso haver compreensão, entendimento. Ele diz que as reuniões da igreja não são
o melhor lugar para se falar em línguas, contudo, afirma também que falava em línguas muito
mais do que todos eles. Paulo falava em línguas enquanto fazia qualquer outro tipo de ativida-
de: andando, viajando, enquanto estava nas prisões, trabalhando, etc. Ele orava em línguas para
edificar seu espírito e disciplinar a mente.

Citaremos aqui três motivos pelos quais as pessoas têm dificuldades em receber o dom
de línguas:

a. Bloqueio teológico
Pessoas que foram doutrinadas que o dom de línguas foi para a dispensação do tempo dos
apóstolos, em um contexto especial, e que Deus não batiza mais no Espírito Santo nem cura
mais, enfrentam dificuldade para receber esse e outros dons. Há uma estrutura de pensamento
com argumentos teológicos que as bloqueará. Meu conselho é que tais pessoas se livrem dessa
mentira do diabo com um ato de sua vontade, recusem essa argumentação e, sinceramente,
busquem o que Ele tem para a sua vida.

b. Ansiedade
Há pessoas que entram em conflito quando todos à sua volta estão falando em línguas e ela
não. Assim, sua mente se enche de dúvidas, chegando a perguntar se o dom é mesmo para elas,
se vem de Deus ou se é da sua mente. Ficam procurando entender o que acontece, debatendo-se,
divagando em mil argumentos, abrindo a mente para acusações do maligno sobre sua falta de
mérito etc. Não recebemos os dons de Deus nessa peleja toda. É simples como piscar os olhos!
Ele disse que nos daria, portanto, só precisamos crer nEle e, alegremente, agradecer, voltando-se
para ele com intensidade e amor. A partir de então, podemos ficar na expectativa do que Ele nos
Três obstáculos na mente 25

dará. Qualquer que seja a porção daquele dia, devemos nos alegrar e ficar satisfeitos. Infelizmente,
a maioria de nós não tem essa maturidade no começo da caminhada com Cristo.

Não é com o raciocínio que se fala em línguas, mas com o espírito. Muitas vezes, o Espírito
Santo quer nos conduzir à maneira dEle, e, às vezes, do modo que menos esperamos. Deus age
assim a fim subverter os caminhos traçados pelo homem e manter-nos humildes seguindo sua
sensível e suave condução.

c. Acusação
É quando o inimigo fala que não somos bons o suficiente, não somos santos, nem perfei-
tos, aprovados ou suficientemente merecedores para recebermos o dom de línguas. Quando
acatamos um desses argumentos, Deus não tem como nos batizar no Espírito Santo, pois nós
mesmos nos excluímos.

Devemos lançar isso fora, porque não é propósito de Deus que acatemos esse tipo de argu-
mento. O dom de línguas não é dado por merecimento, mas já foi concedido, já é nosso e nos
apropriamos dele por fé.

5.2 Adoração
Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito
e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. (João 4.23)

Esta é a segunda ferramenta preciosa que Deus nos dá para disciplinarmos nossa mente em
seguir o espírito. A Bíblia diz que a adoração funciona no âmbito espiritual. Assim, quando che-
gamos diante de Deus para adorá-lO, ao mesmo tempo em que ficamos embevecidos com Sua
presença, somos edificados na presença dEle e nos perdemos nos rios caudalosos de Sua presença,
nossa mente terá que seguir nosso espírito à medida que oramos e navegamos em nosso Senhor.

5.3 Contemplar o Senhor

Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na casa


do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do
Senhor, e meditar no seu templo. (Salmo 27.4)

Contemplar o Senhor é voltar-se para Ele em espírito, em silêncio, apenas para apreciar
Sua Grandeza e mergulhar em Sua presença. Quando nos dispomos a contemplar a beleza do
Senhor, nossa mente vai seguindo a trilha que nosso espírito está mostrando. Quanto mais
contemplamos o Senhor, mais vamos sendo transformado à imagem dEle. Devemos ativamen-
te induzir nosso coração a buscar a Deus e estar na presença dEle. Um coração derramado a
contemplar o Senhor é uma alma que encontrou o lugar secreto à sombra do Onipotente!
26 Comunhão no espírito

5.4 Orar a Palavra

O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que


eu vos tenho dito são espírito e são vida. (João 6.63)

A Palavra é viva, ela é Espírito e é vida. Orar a Palavra de Deus para disciplinar nossa mente
requer uma atitude ativa. A ordem de enchermos a nós mesmos no Espírito requer falar, cantar
e orar de um modo espiritual. Deus nos leva, assim, para regiões íntimas e profundas nEle. Isso
é baseado numa atitude e posicionamento ativos – induzimos nosso coração a ir em direção ao
Senhor – e é o que Deus espera e requer de nós. Ele não pode trabalhar e vê-se impedido de
agir por causa da nossa passividade.

Ao orar a Palavra, daremos um firme leito de rio para nossa mente seguir, levando-a a
descansar nos trilhos que a Escritura nos dá. Orando assim, não teremos que formular frases
nem exercitar a mente. Nesse momento, não tomaremos a Palavra para meditarmos, nem para
descobrirmos novas verdades, mas estritamente para dar à mente o caminho vivo da disciplina.

Há várias maneiras de orarmos a Palavra. Podemos tomá-la como fonte de conhecimento de


Deus, como manual de princípios espirituais ou como um livro de histórias. Podemos usá-la
também como arma, pois ela é espada, ou ainda, como temos ensinado aqui, como alimento.
A Palavra é espírito e vida, porque não vem de uma pessoa qualquer, mas da própria boca de
Deus. A Palavra pode ser bebida para dentro do nosso espírito, pode ser comida e pode ser
instrumento de vida para nós.

Essa é uma maneira completamente diferente de se aproximar da Palavra de Deus. Podemos


ir até ela em busca de conhecimento, mas se a tomarmos como alimento para dentro de nosso
espírito, como nossa vida, poderemos tomar cada palavra, não para meditar nela, mas para
disciplinar nossa mente.

Quando tomamos a Palavra de Deus, comemos e bebemos dela como se desfrutássemos


de uma gostosa sobremesa. Sorvemos cada palavra para dentro do nosso espírito, como se
comêssemos algo delicioso para deleite do nosso paladar natural. E, como consequência extra,
receberemos muita revelação. Ficaremos assustados com tanta luz.

Desta forma, quando colocarmos diante da mente a trilha que o espírito está orando, ela a
seguirá. Assim, estaremos disciplinando nossa mente a seguir nosso espírito.

À medida que reservarmos tempo para estar diante do Senhor orando em línguas, contem-
plando e adorando-O, receberemos o resultado do que estamos plantando. Na medida em que
semearmos, colheremos. Cada vez que usarmos uma dessas ferramentas, estaremos disciplinan-
do nossa mente, nos enchendo do Espírito, e, cada vez mais, nossa alma estará sendo transfor-
mada, pela renovação da nossa mente (Rm 12.1-2). Por isso, devemos tomar, comer e beber do
“Eu Sou”, pois Ele é a fonte de tudo o que precisamos para Ter uma vida cristã transbordante.
Apêndice

1
ORAR LENDO A PALAVRA

Quando um bebê nasce, sua necessidade mais imediata é tomar leite para se alimentar. Sem
alimento, a criança nova não somente deixará de acompanhar o crescimento normal, mas bre-
vemente virá a se tornar fraca e, eventualmente, poderá até morrer. Da mesma forma, depois
que somos salvos e nascidos de novo, nossa necessidade mais imediata é que aprendamos a
beber o Senhor como nosso leite e alimento espiritual. Sem esse alimento, nós também não
temos o crescimento normal e em pouco tempo estaremos espiritualmente mortos.

Nos Evangelhos, o Senhor Jesus Se apresenta como um banquete para nós bebermos e
comermos. No quarto capítulo de João, Ele diz ser “a água viva” para bebermos. No sexto ca-
pítulo do mesmo livro, diz que Ele é “o pão da vida” para ser comido. Depois, em 1 Coríntios
12, lemos: “E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”. Nós O bebemos e comemos e,
em consequência disso, nos deleitamos Nele e O recebemos como nosso alimento espiritual.
Temos que louvar a Deus por Jesus Cristo se apresentar a nós como um banquete para satisfa-
zer todas as nossas necessidades e ser nosso suprimento. Todos nós sabemos que Seu nome é o
grande “EU SOU”, ou seja, “EU SOU tudo quanto Meu povo precisa”.

“Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite


espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para a salvação, se
é que já provastes que o Senhor é bom. (1 Pedro 2.2-3)
28 Comunhão no espírito

Esses versículos são importantes para nós, porque nos dizem claramente como experimentar
o Senhor: beber o “leite genuíno (puro) da Palavra”. Se quisermos experimentar Cristo, temos
que beber o leite da Palavra. Assim, estaremos nutridos para o crescimento espiritual.

Quando bebemos o leite da Palavra, na realidade, estamos provando o Senhor, não ape-
nas conhecendo esse ou aquele aspecto acerca dEle. Portanto, o modo para nós provarmos o
Senhor é simplesmente tomando o leite da Palavra. A Palavra não é somente para estudarmos e
aprendermos. O modo pelo qual o Senhor alimenta o Seu corpo é pela Sua Palavra. Se deseja-
mos nos deleitar no Senhor e sermos alimentados por Ele, precisamos vir à Palavra para provar
do Senhor.

Todavia, a idéia que muitos de nós temos a respeito da Bíblia é que ela é uma espécie de
ensino, um livro cheio de doutrinas. Deste modo, nós chegamos à Palavra com a intenção de
entendermos e sabermos alguma coisa. Em toda a nossa vida cristã, quanto da Palavra temos
ingerido como alimento para nosso espírito? Devemos responder honestamente que a maioria
de nós tem ingerido muito pouco. Não devemos ler a Bíblia para aprender e entender somente;
ela não é a “árvore do conhecimento”, mas a “árvore da vida”! Se pegarmos a Palavra de Deus
como a “árvore do conhecimento”, nós a usaremos erradamente porque, em 2 Coríntios 3.6,
lemos que “a letra mata”. Nunca devemos pegar a Palavra como um livro de letras, mas como
um livro de vida.

Todos os cristãos sabem que a função da Palavra de Deus é revelar Deus a nós, mas, ainda
que isto seja verdade, essa não é sua principal função. A principal função da Bíblia é expandir
Deus dentro de nós como vida e como suprimento de vida. Não só nos fornecer conhecimento
a respeito de Deus e do Seu amor, mas expandir o próprio Deus dentro de nós. Sempre que ler-
mos a Bíblia, não devemos somente tentar conhecê-la ou entendê-la, mas apropriarmo-nos de
algo da essência de Deus para dentro de nós, assim como fazemos ao comer nossa comida. Da
mesma forma que nosso alimento natural, essa substância será absorvida dentro de nosso ser.

Em 1 Timóteo 4.6, lemos que somos “alimentados com as palavras de fé”. Sem dúvida,
temos lido esse versículo várias vezes, mas temos notado a palavra “alimentados”? O conceito
do apóstolo Paulo era que a Palavra de Deus é comida para alimentar os filhos de Deus e,
assim como ele, nós também devemos ter a mesma percepção a respeito dela. Não devemos
considerá-la apenas como conhecimento, mas como comida para alimentar-nos e suprir-nos a
toda hora.

1 Timóteo 1.10 trata de “tudo o que se opõe à sã doutrina”. De acordo com o texto original,
a palavra “sã” significa saudável. E “saudável”, no grego, é equivalente à palavra “higiene”, que
está muito relacionada com saúde. A Palavra de Deus não é somente sã doutrina para a mente,
mas doutrina saudável para vida. Devemos ter mais do que uma palavra sã; devemos ter uma
palavra saudável que nos alimenta e supre.

As Escrituras revelam no mínimo três casos daqueles que comeram a Palavra de Deus. O
primeiro é Jeremias, que disse: “Achadas as tuas palavras, logo as comi;” (Jr 15.16). Comer algo
não é meramente recebê-lo, mas absorvê-lO. Absorver é receber alguma coisa dentro de nós,
digerir e fazer disto parte de nós mesmos.
Apêndice 1 – Orar lendo a P a l av r a 29

O segundo caso de alguém que tenha comido a Palavra de Deus é narrado no livro de
Ezequiel, onde o profeta comeu a Palavra de Deus (Ez 3.1-3).

Finalmente, em Apocalipse 10, nós vemos que o apóstolo João também comeu a Palavra de
Deus.

Jeremias disse: “as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração” (Jr 15.16b). A
Palavra, depois de ter sido comida, vem a ser gozo e também alegria. A Palavra de Deus é
prazer; depois de estar em nós e ser absorvida bem dentro de nós, torna-se alegria em nosso
interior e regozijo exterior.

A Palavra, na verdade, é uma satisfação; ela é até mais doce e mais agradável do que o mel
para o nosso paladar. Através desses versículos, percebemos que a Palavra de Deus não é somen-
te para nós aprendermos, mas para nós a provarmos, comermos, deleitarmos nela e digeri-la.

O Senhor Jesus também fala da Palavra de Deus como alimento espiritual: “Não só de pão
viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Toda palavra
que procede da boca de Deus é comida espiritual para nos alimentar. Essa é a comida pela qual
devemos viver.

Qual a substância, a essência da Palavra de Deus? A resposta é encontrada em 2 Timóteo


3.16: “Toda Escritura é inspirada por Deus...”. A tradução de João Ferreira de Almeida diz
“inspirada por Deus”, mas o significado na língua original é “soprada por Deus”.

Sabemos que “Deus é Espírito” (Jo.4:24); o Espírito é a essência e a natureza de Deus. Visto
que a Palavra é o sopro de Deus, e Deus é Espírito, tudo que é soprado por Deus tem de ser
Espírito! Então, a essência, ou a natureza da Palavra de Deus é Espírito. O Espírito é a pro-
funda essência da Palavra de Deus, por isso o Senhor Jesus disse que as palavras que Ele disse
“são Espírito e são vida” (Jo 6.63). Uma revelação, um pensamento ou uma doutrina nunca
poderiam ser vida, mas porque a Palavra é Espírito, eles são vida. A natureza deste livro é a
essência do próprio Deus. Assim, todas as vezes que lidamos com esse livro, devemos saber que
estamos tocando Deus mesmo.

Tendo visto que a Palavra de Deus é a essência do próprio Deus e que ela é para o nosso gozo
espiritual e alimentação, devemos saber a maneira certa de chegarmos a ela.

Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a


palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no
Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos
os santos... (Efésios 6:17-18)

É dessa maneira que devemos olhar para a Palavra de Deus.

Para esclarecer o versículo 17, é melhor adicionar a palavra que é absolutamente correta,
de acordo com a construção gramatical da língua original. Podemos traduzir deste modo:
“Tomai... a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, com toda oração e súplica”. De acordo
com essa passagem, devemos, portanto, nos alimentar “...com toda oração e súplica”. Isso é o
30 Comunhão no espírito

que nós chamamos “ORAR-LER”! Novamente, devemos repetir: a Palavra de Deus deve ser
tomada “com toda oração”.

Podemos, simplesmente, pegar a Palavra de Deus e orar-lendo alguns versículos pela manhã
e à noite. Não há necessidade de exercitarmos a mente para tirar dela algum proveito, nem é
necessário refletir sobre o que foi lido. Somente orar com as mesmas palavras que lemos. Em
cada página e em cada versículo, existe uma oração viva.

Não há necessidade de fechar os olhos quando oramos. Em todos os 66 livros da Bíblia,


não achamos um versículo que mencione que devemos fechar os olhos para orar, mas há um
versículo que diz que “Jesus [...] levantou os olhos ao céu, e disse: Pai...” (Jo 17.1). Ele estava
olhando em direção ao céu enquanto orava. Não que devamos agora argumentar sobre doutri-
nas, mas devemos reconhecer que não há necessidade de fecharmos os olhos quando oramos.
Seria melhor se fechássemos a nossa mente!

Por exemplo, ao orarmos-lermos Gálatas 2.19, devemos apenas olhar para a página impressa
que diz: “Estou crucificado com Cristo”. Então, com os olhos na Palavra e orando do fundo
de nosso interior, damos glória ao Senhor dizendo “Eu estou crucificado com Cristo. Amém!
Louvado seja o Senhor! Aleluia!

Quando usarmos o texto de João 10.10, podemos ler: “Eu vim para que tenham vida”.
Então, com os olhos ainda na Bíblia, podemos dizer: “Eu vim para que tenham vida. Louvado
seja o Senhor! Aleluia!”

Não há necessidade de compormos alguma sentença ou criarmos uma oração; somente


veremos que toda a Bíblia é um livro de oração. Podemos abrir em qualquer página e começar
a orar com qualquer porção da Palavra.

A Bíblia é o livro santo; é diferente de qualquer outro e nenhuma palavra se compara às


suas, até a melhor do mundo, pois toda palavra nesse livro é a Palavra de Deus. O mundo tem
somente as palavras dos seres humanos, mas a Bíblia tem a Palavra de Deus! Por isso, mesmo
que não entendamos alguma passagem, ainda assim estamos nos alimentando enquanto ora-
mos e lemos, porque a Palavra de Deus é Seu sopro. Não há necessidade de explicações ou de
expormos a Palavra; devemos simplesmente orar com ela.

Para maior satisfação, alimentação e orar-ler a Palavra correta e adequadamente, precisa-


mos do Corpo, a Igreja. Nós podemos gostar de orar-ler a Palavra individualmente, mas se
tentarmos isso com um grupo de cristãos, estaremos no terceiro céu! Isso acontece porque
o alimento é para todo o Corpo, não meramente para um membro sozinho. Não comemos
comida simplesmente por causa do nosso braço; tampouco pensamos que a mão pode comer
por ela mesma. Não! O alimento é para o Corpo todo, não somente para os membros, e deve
ser comido pelo Corpo. Portanto, a melhor maneira de orar-ler é com os outros membros do
Corpo. Lucraremos orando-lendo sozinhos, mas veremos a diferença quando nos reunirmos
com outros irmãos e irmãs.

Quando nos reunimos com os irmãos para orar-ler, existem quatro palavras que devem
ser lembradas: rápido, curto, verdadeiro e novo. Primeiro, precisamos orar rapidamente, sem
hesitar. Quando somos rápidos para orar, não temos tempo para usar nossa mente e considerar.
Apêndice 1 – Orar lendo a P a l av r a 31

Depois, nossas orações devem ser curtas porque orações longas precisam de alguma composi-
ção. Devemos proferir somente uma frase ou uma sentença, não orações longas, fazendo isso
de uma maneira rápida, breve. E precisamos também ser verdadeiros, não atores, dizendo algo
de modo verdadeiro. Finalmente, nossas orações devem ser novas, e a melhor maneira disso
acontecer é não orarmos com as nossas palavras, mas com as palavras da Bíblia. Cada passagem,
cada linha desse livro pode ser usada como oração que será bem nova, cheia de frescor.

Milhões têm provado que esta é a maneira certa de se chegar à Palavra de Deus e isso tem
revolucionado suas vidas. Pode não funcionar tão bem no começo, mas com prática e cora-
ção sincero, tocaremos o Espírito vivo. Se tentarmos tanto individualmente como no Corpo,
seremos capazes de testificar das riquezas de Cristo que têm sido doadas a nós pelo “orar-ler”
a Palavra de Deus. Veremos a bênção e o crescimento em nossa vida espiritual. Haverá uma
grande mudança. Entrando em contato com a Palavra desse modo, para saborear a Cristo e
sermos alimentados por Ele, cresceremos para a maturidade e seremos cheios de vida plena com
Aquele que vive.
Apêndice

2
UMA MANEIRA SIMPLES DE TOCAR O SENHOR

Em suas epístolas, Paulo nos revela, clara e enfaticamente, o ponto fundamental, o objetivo
máximo do andar cristão: “Para O conhecer” (Fp 3.10); “Para mim o viver é Cristo” (Fp 1.21);
“Cristo, que é a nossa vida” (Cl 3.4). Por meio desses versículos, todos nós podemos ver que a
realidade e o ponto central da vida cristã é simplesmente o próprio Cristo. Como pessoas que
nasceram de Deus e têm Cristo vivendo em seu interior, todos os cristãos precisam ser leva-
dos, pela misericórdia do Senhor, ao ponto de não mais serem surpreendidos estudando sobre
Cristo ou fazendo alguma coisa para Ele, ou mesmo servindo-O. Mas, ao contrário, estejam na
realidade de tocá-Lo e experimentá-Lo de uma maneira viva a cada dia.

Romanos 5.10 testifica: “Porque se nós, éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus
mediante a morte de Seu Filho, muito mais, tendo sido reconciliados, seremos salvos em Sua
vida”. Esse “muito mais” quer dizer mais de Cristo. A experiência inicial de salvação de um
cristão é verdadeiramente maravilhosa. Ele é agora uma pessoa nascida de Deus, mas “muito
mais” ele deve ser salvo pela vida de Cristo. Toda pessoa que conhece Cristo como seu Salvador
pode e deve ser levada a essa experiência de “muito mais”, a qual consiste em penetrarmos na
plenitude e realidade de uma vida completamente centrada em Cristo, experimentando-O,
tocando-O e desfrutando-O a cada momento.

Como nós podemos experimentar Cristo de uma maneira prática como nossa própria vida
a cada momento? O Senhor nos deu uma maneira simples.
34 Comunhão no espírito

Tudo o que precisamos fazer é invocá-Lo, e então tocaremos Aquele que é o suprimento que
dá vida. Em Romanos 10.12b-13, a Bíblia diz: “... porque o mesmo Senhor de todos é rico
para com todos os que O invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo”. No passado, talvez tivéssemos o conceito de que esses versículos eram aplicáveis somen-
te a uma experiência inicial de salvação, mas todos sabemos que cada cristão precisa de uma
salvação diária do pecado, do ego, das fraquezas humanas, etc. Do lado positivo, ele também
precisa de um suprimento abundante do Senhor para nutri-lo e fortalecê-lo, a fim de que ele
possa amadurecer para dentro de Cristo em todas as coisas. O caminho para a realização disso é
simplesmente pelo invocar o Senhor. Ele é rico para com todos os que O invocam. Nós vemos
que, em 2 Timóteo 2.22, Paulo incita Timóteo a viver a vida cristã com aqueles que invocam
o Senhor com um coração puro.

A experiência de Cristo pelo cristão na forma proposta por Deus deve ser real para o crente
e um testemunho para aqueles que estão no mundo. Qual era o testemunho dos primeiros
cristãos? Era este: eles eram o povo que invocava o nome do Senhor. Vemos isso em Atos 9.14,
onde está escrito que Paulo, antes de sua conversão, perseguia todos aqueles que invocavam
o nome do Senhor. Ele recebeu “autoridade dos principais sacerdotes para capturar todos os
que invocavam Seu nome”. 1 Coríntios 1.2 reafirma isso, mostrando-nos claramente que os
primeiros cristãos eram aqueles que, em todo lugar, invocavam o nome do Senhor.

Muitos cristãos, hoje, têm começado a praticar o invocar o nome do Senhor a cada dia, a cada
hora e a cada momento, de uma maneira simples e prática. Para seu gozo, eles têm descoberto
que o Senhor é tudo o de que necessitam, e que eles podem tocá-Lo e ter comunhão com Ele a
qualquer hora e em qualquer circunstância, simplesmente invocando-O do mais profundo de seu
interior. O nosso invocar ao Senhor não deveria ser, de uma maneira objetiva, invocando o Cristo
que habita nos céus, mas invocando o Cristo que é o Espírito e que habita profundamente no
interior do nosso ser. Assim sentiremos o fluir e a comunhão de Cristo dentro de nós.

“Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adora-


rão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes o que o Pai procura
para Seus adoradores. Deus é Espírito; e importa que os Seus adorado-
res, que O adoram, O adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.23, 24).

Essa verdadeira adoração ou comunhão deve ser constante e vivificante para todo cristão.
A verdadeira adoração nesses versículos não consiste em tomar parte ou guardar certas regras,
formas, rituais ou regulamentos, mas, ao contrário, em invocar o Senhor do mais profundo de
seu ser, contando e tendo comunhão com Jesus Cristo, a Verdade, a Realidade. O desejo do
Pai para nós é que possamos desfrutar e participar dessa verdadeira adoração, que é tocar e ter
comunhão com Seu Filho durante todo o tempo, e a cada dia. Quer no trabalho, na sala de
aula, dirigindo um carro, conversando com um amigo ou em reuniões com outros cristãos, Seu
desejo é que nós contatemos e tenhamos comunhão com o nosso Senhor.

Novamente, temos de louvar e agradecer o Senhor porque Ele não somente nos disse que
precisamos invocá-Lo, adorando-O em espírito e em realidade, mas Ele também nos deu
uma maneira muito prática e simples para tocá-Lo nessa verdadeira adoração. A Bíblia nos dá
exemplos claros que nos mostram que podemos tocar e experimentar o Senhor em adoração,
Apêndice 2 – Uma m a n e i r a s i m p l e s d e t o ca r o Senhor 35

simplesmente invocando o Seu nome. Em Mateus 8.2, lemos: “E eis que um leproso, tendo-
se aproximado, adorou-O, dizendo: Senhor...” Depois, em Mateus 15.25, nós lemos: “Ela,
porém, veio e O adorou, dizendo, Senhor...”

Esses versículos nos ajudam a ver que podemos participar da verdadeira adoração em qual-
quer lugar, a qualquer hora, e em qualquer situação. Qualquer que seja nossa circunstância
imediata, podemos adorá-Lo simplesmente orando: “Ó Senhor, Ó Senhor”. Muitos cristãos
estão descobrindo que o simples respirar Seu nome, “Ó Senhor”, quando são tentados, oprimi-
dos ou apenas distraídos, leva-os a um verdadeiro contato e comunhão com o Senhor, e a uma
completa libertação do ego, do pecado, do mundo, etc. Quando clamamos ao Senhor desta
maneira, do profundo do nosso interior, temos uma sensação profunda de Cristo e da Sua vida
fluindo e movendo-Se dentro de nós.

Nos Salmos, vemos que, quando os salmistas oraram ao Senhor, eles clamaram: “Ó Senhor”,
mais de 180 vezes. Numa ocasião, um salmista disse: “De todo o coração eu Te invoco, ouve-
me, Senhor” (Sl 119.145). Em outra ocasião, um deles disse: “Então invoquei o nome do
Senhor: Ó Senhor...” (Sl 116.4). Na verdade, não é algo leve invocar o Senhor; contudo, é tão
simples e prático, pois, dessa maneira, podemos diariamente, a cada momento, tocar e experi-
mentar Cristo como nossa satisfação interior e nosso gozo.

A Bíblia nos dá outro exemplo da verdadeira adoração em Apocalipse 19.4: “E os vinte e


quatro anciãos e quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que está sentado sobre
o trono, dizendo: Amém! Aleluia!”. 2 Coríntios 1.20 diz: “ Porque quantas são as promessas
de Deus, Nele é o sim, porquanto também por Ele é o Amém para Deus”. E em Apocalipse
3.14 encontramos que “Amém” é outro nome dado a Cristo. Quando clamamos “Amém” do
profundo do nosso interior, sentimos que tocamos Cristo, da mesma maneira que quando
invocamos “ó Senhor, Ó Senhor”, porque assim como Seu nome é Senhor, Seu nome também
é Amém. Então, em 1 Crônicas 16.36 vemos que o nosso clamar “Amém” é um verdadeiro
louvor ao Senhor. “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, desde a eternidade até a eternidade.
E todo o povo disse: Amém! e louvou ao Senhor”. Clamarmos “Amém” do profundo do nosso
interior é invocar o Senhor e tocá-Lo.

“Aleluia” significa: “Louvado seja o Senhor”. Isto é, “Louvai a Jeová”, e inúmeras vezes o
salmista usou “aleluia” na sua adoração e louvor a Deus. Os últimos cinco Salmos começam
e terminam com esta palavra celestial de adoração. Nós também encontramos essa palavra
oferecida em adoração a Deus em Apocalipse 19.1, 3, 4, 6. Hoje ela ainda é a mesma; nós
podemos adorar e ter comunhão com o nosso Senhor dessa mesma maneira simples. Durante
todo o dia, clame apenas: “Ó Senhor, Amém, Aleluia”, do mais profundo do seu ser. Do mais
profundo do seu ser, simplesmente respire: “Ó Senhor”, “Amém”, “Aleluia”, e você provará a
doçura e a realidade do próprio Senhor. Você começará a perceber, cada vez mais, que Sua vida
é verdadeiramente uma vida que salva. Hoje, muitos cristãos têm descoberto que eles podem
conhecê-Lo, que podem ser trazidos para dentro do poder da Sua ressurreição, experimentar
Sua salvação espontânea, e andar em unidade com Ele, clamando a cada momento: “Ó Senhor,
amém, aleluia!”

Texto extraído do livro Oração – O Primeiro e o Último Recurso de Witness Lee e Watchman Nee

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