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período
º
HISTÓRIA
Introdução ao
Ensino de História
Alysson Luiz Freitas de Jesus
Filomena Luciene Cordeiro
Alysson Luiz Freitas de Jesus
Filomena Luciene Cordeiro Reis
introdução ao
ensino de História
2ª EDIÇÃO
2013
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Ministro da Educação Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Aloizio Mercadante Oliva Betânia Maria Araújo Passos
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
A história e o historiador: da antiguidade aos dias atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
História: relações entre passado e presente e a produção do conhecimento histórico 25
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
O historiador e as metodologias de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Análise crítica das competências do ensino de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2 O ensino e a aprendizagem de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
História e ensino: novos fatos e novas abordagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
História - Introdução ao Ensino de História
Apresentação
A disciplina Introdução ao Ensino de História é um dos conteúdos de fundamental impor-
tância para o profissional que atuará como pesquisador e professor de história. A disciplina His-
tória tem as suas particularidades e, por isso mesmo, tem suas próprias ferramentas e instrumen-
tos de análise. Você, como historiador, tem a responsabilidade de compreender qual o papel que
exerce na sociedade e, especialmente, como deve desempenhá-lo.
Com isso, essa disciplina objetiva permitir ao aluno refletir sobre questões teóricas e práticas
do ofício do historiador. Portanto, se o “ser historiador” é um ofício, devemos, então, compreen-
der de que forma exercê-lo e, principalmente, qual a importância que o ensino da História tem
para a sociedade em geral. Como o título da própria disciplina diz, trata-se de uma “introdução”,
o que nos coloca diante de um desafio inicial, que deve ser percorrido durante todo o seu curso.
Assim, quando estiver estudando “História Antiga”, “História do Brasil Império” ou “História Con- Figura 1: Clio, a musa
temporânea”, você deverá ter em mente que o ensino de História é o eixo que norteia toda a teo- dos historiadores,
ria e toda a prática da sua formação acadêmica. inspirou vários
Os objetivos dessa disciplina são muito claros: homens a pensar na
importância da História
• estabelecer uma relação entre a evolução da história e a função do historiador em distintos para a sociedade.
momentos históricos; Fonte: Café História:
• compreender as relações entre passado e presente na produção do conhecimento histórico história feita com cliques.
e no ofício do historiador; Disponível em: < http://
cafehistoria.ning.com/
• propiciar uma melhor compreensão sobre os métodos do historiador em sala de aula; group/clioamusadahis-
• analisar as novas fontes e abordagens da história nas últimas décadas e a função do historia- tria>. Acesso em 31 mai.
dor nos dias atuais. 2013.
Tendo isso em mente, esse material foi produzido e dividido em cinco grandes unidades. ▼
Na primeira unidade, intitulada “A História e o Historiador: da antigui-
dade aos dias atuais”, vamos percorrer o caminho que a disciplina História
atravessou nos últimos séculos, refletindo sobre o papel que ela exercia
em diferentes sociedades. Nem sempre nos damos conta de que a história
foi de fundamental importância para a constituição de inúmeras socieda-
des, antigas, modernas e contemporâneas.
Na Unidade 2, intitulada “História: relações entre passado e presente e
a produção do conhecimento histórico”, você perceberá o quanto a histó-
ria está presente no seu cotidiano e em que medida o estudo do passado
é fundamental para compreender o mundo em que vivemos. Se o tempo
é a principal preocupação do historiador, é no conhecimento do passado e
no questionamento do presente que a história tem o seu sentido.
A Unidade 3, “O historiador e as metodologias de ensino”, aborda a
importância da História na sociedade, bem como as formas de se estrutu-
rar a produção do pensamento historiográfico por meio das suas metodo-
logias de ensino.
Na Unidade 4, “Análise crítica das competências do ensino de Histó-
ria”, avaliamos mais detidamente a questão do ensino de História, a partir
das suas possibilidades nas relações de ensino e aprendizagem.
Por fim, a última unidade, “História e Ensino: novos fatos e novas
abordagens”, evidencia como se pode pensar os diversos domínios his-
toriográficos e os instrumentos que o historiador tem em suas mãos para exercer sua atividade
docente.
Entender como é possível “ensinar História” é, também, compreender como explicar o nos-
so próprio mundo, o que confere ao historiador um papel dinâmico e central na sua sociedade.
Afinal, se nem todos sabem para que serve a história, o historiador tem a obrigação de sabê-lo,
para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Você também tem esse papel. Então, mãos
à obra.
Você perceberá, portanto, que essa disciplina será fundamental para todo o seu curso. Nas
demais disciplinas temáticas, é imprescindível que você saiba a função e as metodologias para o
ensino da História.
9
UAB/Unimontes - 1º Período
O texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades e subunidades. Você de-
verá perceber que as questões para discussão e reflexão que acompanham o texto, bem como
as sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem aos sites, para acessar bibliotecas vir-
tuais na web, etc. são muito importantes. As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto,
aparecendo com os respectivos ícones. A leitura dos textos complementares indicados também
é importante, pois mostram os possíveis desenvolvimentos e ampliações para o estudo e a dis-
cussão. São recursos que podem ser explorados de maneira eficaz por você, pois buscam promo-
ver atividades de observação e de investigação que permitem desenvolver habilidades próprias
da análise sociológica e exercitar a leitura e a interpretação de fenômenos sociais e culturais.
Ao planejar esta disciplina, consideramos que as questões e sugestões seriam fundamentais,
de forma a familiarizar o acadêmico, gradativamente, com a visão e procedimentos próprios da
disciplina.
Agora é com você! Explore tudo, abra espaços para a interação com os colegas, para o
questionamento, para a leitura crítica do texto, bem como para as atividades e leituras comple-
mentares.
Bom estudo!
Os Autores
10
História - Introdução ao Ensino de História
Unidade 1
A história e o historiador: da
antiguidade aos dias atuais
1.1 Introdução
A própria expressão “legitimidade da história”, empregada por Marc Bloch, PARA SABER MAIS
desde as primeiras linhas, mostra que para ele o problema epistemológico da
história não é apenas um problema intelectual e científico, mas também um O mundo em que
problema cívico e mesmo moral. O historiador tem responsabilidades e deve vivemos hoje tem total
“prestar contas” (LE GOFF In: BLOCH, 1988, p. 17). relação com o passa-
do. Passado, presente
e futuro na história
Você terá notado que a reflexão acima constitui um importante desafio. A sociedade não estão conectados. Por
forma historiadores apenas para atuar no nível intelectual, mas, sobretudo, em um nível moral e exemplo, a história dos
cívico. “Prestar contas” à sociedade é fazer com que aquilo que estudamos possa atingir às pesso- gregos e dos romanos,
as mais “comuns”, em especial se notarmos a dimensão da responsabilidade do historiador. está relacionada à nos-
sa história de hoje, no
Essa é uma das questões mais urgentes da nossa prática e que norteará toda a nossa re-
tempo presente. Para
flexão. Você tem consciência dessa responsabilidade? Pois é para isso que refletiremos sobre o ampliar seus conheci-
ensino da história. mentos leia: REIS, José
Esta unidade está dividida nos seguintes tópicos: Carlos. A história entre a
1.2 Reflexões sobre a História, do mundo antigo ao mundo contemporâneo; filosofia e a ciência. Belo
Horizonte: Autêntica,
1.3 A História como ciência a partir do século XIX;
2004.
1.4 A História: do século XX ao século XXI;
1.5 A História hoje: ensino;
1.6 A “História nova”: pesquisa e função social.
Vamos pensar essas questões sempre tendo como referência o homem do presente que
quer conhecer o seu passado e, assim, reconhecer-se nele.
11
Figuras 2 e 3: Em ►
sociedades antigas,
como Grécia e Roma, a
História foi adquirindo
espaço e credibilidade
nas relações sociais e
políticas.
Fonte: Fonte 02 e 03:
História e Atualidade
2013. Disponível em
http://historiaeatualidade.
blogspot.com.br/2008/05/
tal-revoluo-francesa.html. O legado da Grécia para o mundo ocidental é por todos nós conhecido. As suas cidades-
Acesso em 31 mai. 2013.
-estado, a função da mulher na sociedade, a estrutura tirânica e democrática de poder, enfim, são
exemplos da relação entre o passado grego e o presente ocidental.
No tempo de Péricles, o comparecimento às assembleias era aberto a “todo” cidadão. As
assembleias reuniam centenas de atenienses do sexo masculino, com idade superior a dezoito
anos. Todos os que compareciam tinham o direito de fazer uso da palavra. As assembleias eram
espaços para debates públicos que possibilitavam o exercício da democracia.
Atividade Elas foram um importante elemento da construção da História das sociedades ocidentais,
inspirando seus regimes democráticos no exemplo grego.
Pesquise o que é de-
mocracia para o povo
grego e o que significa
democracia para as
sociedades atuais. Após
a realização da pesqui-
sa, poste no fórum o
que aprendeu sobre o
assunto.
Figura 4: Modelo de ►
Assembleia democrática
Fonte: Webquests. Dis-
ponível em: <http://www.
eb23-monte-caparica.rcts.
pt/webquests/republica/
images/constituint1911_s_
inaug1.jpg>. Acesso em 31
mai. 2013.
ATIVIDADE
Pesquise quem foi He-
ródoto de Halicarnasso
e Tucídides e poste no
fórum de discussão Você acredita que a democracia é o direito de todos participarem da vida pública e política?
para compartilhar as in- Os gregos nos ensinaram que não, pois mulheres, escravos e estrangeiros não eram considera-
formações encontradas.
dos cidadãos gregos. E hoje? Como se estrutura a democracia? Talvez inspirados nos gregos, a
12
História - Introdução ao Ensino de História
maioria dos estados ocidentais vivem sob uma “democracia representativa” em que, por meio de
eleições, o povo se faz representado. A história da Grécia, portanto, permite-nos pensar a nossa
própria história. ATIVIDADE
Os gregos foram os primeiros a tratar a história como objeto de pesquisa sistemática, se- Pesquise o que são
parando as lendas dos fatos. Heródoto de Halicarnasso (484-425 a.C.), conhecido como o “pai anais, crônicas e ha-
da história”, relatou as guerras Greco-pérsicas. Ele também se preocupou em conhecer os povos giografias e registre no
cujas histórias contava, visitando o Egito, a Península Itálica e a Ásia Menor. diário de bordo suas
Outro historiador, Tucídides (460-400 a.C.), pode ser considerado o criador da história objeti- descobertas
va, escrevendo a famosa obra “História da Guerra do Peloponeso”.
◄ Figuras 5 e 6: Heródoto
de Halicarnasso e a
obra de Tucídides,
“Historia de La guerra
Del Peloponeso”.
Fonte: Disponível em:
<http://fabiopestana-
ramos.blogspot.com.
br/2011/>; <https://www.
google.com.br/search?
Falvaroherasgroh.blogs-
pot.com> . Acesso em: 18
maio 2013.
13
UAB/Unimontes - 1º Período
uma falsificação. A partir de Lorenzo Valla, há a necessidade de explicar uma história “verdadei-
ra”, que conta com documentos “verdadeiros”. O Iluminismo, no século XVIII, reforça a concepção
científica e racional para analisar e explicar as coisas e os acontecimentos humanos. Dessa forma,
no século XIX, o positivismo encontra um campo propício para pensar e escrever a história numa
nova perspectiva.
Figura 7: A Igreja ►
Católica estabeleceu
durante séculos
o monopólio do
conhecimento e da
cultura, submetendo a
História ao “olhar” do
clero.
Fonte: Catolicismo Apos-
tólico Romano. Disponível
em: < http://luisafray.
galeon.com/luisa/VATI-
CANO_PORTADA.jpg >.
Acesso em 31 mai. 2013.
DICA
Para ampliar seus
conhecimentos visite
o site: http://francis-
cotrindade.blogspot.
com.br/2005/11/histria-
-cincia-nova-verdade-
-crtica.html que trata
sobre Lorenzo Valla e a
trajetória da História.
DICA
Retome o Caderno
Didático de História
Moderna e relembre os
seguintes movimentos
e sua repercussão na
sociedade: Renasci-
mento, a Reforma e a
Contrarreforma, a Re- No mundo em que você vive, você pauta as suas decisões impulsionado por questões de
volução Científica, o Ilu- cunho espiritual ou racional? Por mais que a primeira opção ainda faça parte do seu dia a dia –
minismo e a Ilustração, em especial por vivermos em um país essencialmente católico – não podemos negar que a razão
as Revoluções Burgue- é elemento indispensável na compreensão do nosso mundo, o que confere ao historiador a ne-
sas, a Independência
dos Estados Unidos e a
cessidade da objetividade e do racionalismo no pensamento histórico.
Revolução Industrial.
GLOSSÁRIO
Antropocentrismo:
1.3 A história como ciência a partir
Diz-se de teoria que
tem o homem como re-
ferencial único ou que
do século XIX
interpreta o Universo
em termos de valores,
No século XIX, a história vai ganhar maturidade. É consenso entre os historiadores que, nes-
feitos e experiências
humanas. se período, a história adquire parte do seu referencial teórico-conceitual. O século XIX se estrutu-
rou a partir das ideias liberais pós-Revolução Francesa, e os princípios de liberalismo e nacionalis-
mo vão ser fundamentais para a formação e maturidade da história como ciência. Nesse século,
o historiador, se respaldando em métodos científicos, será “juiz”, pois analisará os documentos
verificando a sua veracidade, assim como Lorenzo Valla havia se pronunciado no século XV.A Crí-
tica Interna e a crítica Externa constituirão procedimentos para qualquer historiador, dessa época
14
História - Introdução ao Ensino de História
até nossos dias. De acordo com Guy Bourdé e Hervé Martin (1983), a Crítica Externa consiste no
historiador indagar em relação às seguintes questões:
a. crítica da restauração:características originais e indícios de restauração e intervenção.
b. crítica da autoria:onde viveu o autor; momento e circunstância que se encontrava no mo-
mento da escrita do documento.
c. crítica da procedência:as informações que compõem o documento constituem-se de co-
nhecimento direto ou indireto e de como se deu.
◄ Figuras 8 e 9:
Historiadores
pesquisando
documentos em
arquivos
Fonte: Disponível em
<http://jqmf.blog.uol.com.
br/; htmlhttp://cemiiserj.
blogspot.com>. Acesso em
18 mai. 2013.
ATIVIDADE
Pesquise sobre Her-
menêutica e poste no
fórum de discussão
com o intuito de par-
tilhar as informações
encontradas.
É nesse contexto, portanto, que a História recebe parte da sua cientificidade, estruturando a
sua importância na sociedade e o papel do historiador como agente transformador.
15
UAB/Unimontes - 1º Período
▲ Você sabia que nem todos os homens ligados às ciências humanas e sociais consideram a
Figuras 10 e 11: história uma ciência? Existe um debate intenso sobre a cientificidade da história. Historiadores
Momentos da franceses, ingleses, alemães e mesmo brasileiros vêm, nas últimas décadas, debatendo sobre
Revolução Francesa
essa questão. Marc Bloch, um dos maiores historiadores das últimas décadas, diz: A história é
Fonte: Enciclopedia.
Disponível em: http:// uma ciência, mas uma ciência que tem como uma de suas características o fato de ser poética,
www.enciclopedia.com. pois não pode ser reduzida a abstrações, a leis e a estruturas.
pt/readarticle.php?article_ O positivismo, nesse sentido, permitiu à história adquirir parte da sua conotação científica,
id=740http://www.
historiadomundo.com. estruturando as suas primeiras bases metodológicas. A transição entre o século XIX e o século XX
br/francesa/revolucao- foi ainda mais produtiva.
-francesa/>. Acesso em 18 O homem é filho do seu tempo, o que determina o olhar do historiador sobre o mundo. A
mai. 2013.
história é busca, portanto, escolha. Seu objeto não é o passado: “a própria noção, segundo a qual
o passado como tal possa ser objeto de ciência é absurda”. Seu objeto é “o homem”, ou melhor,
“os homens”, e mais precisamente “homens no tempo” (Bloch, 2001, p. 24).
PARA SABER MAIS As primeiras décadas do século XX foram marcadas por guerras, e o homem passou a enten-
Na transição entre o der o seu mundo a partir de uma nova concepção de tempo, própria do século XX.
século XIX e XX, eclodiu
a primeira guerra mun-
dial. Você sabia que a
história também passa-
ria por intensas trans-
formações? para saber
mais sobre o assunto
busque informações Figura 12: Campo de ►
em sítios eletrônico. batalha da Primeira
Guerra Mundial.
Fonte: Fórum Portabi-
lidade. Disponível em:
< http://2.bp.blogspot.
com/-4gSqzZEvMWg/
UHrgX4wb7jI/
AAAAAAAAAaM/-
-zDf0Go7fVI/s320/1%C2
%AA+G.+Mundial+ING
Laterra.jpghttp://forum.
portaltibia.com.br/index.
php>. Acesso em 18 mai.
2013.
16
História - Introdução ao Ensino de História
Figura 13: Eric Hobsbawm Figura 14: Edward Palmer Thompson Figura 15: Christopher Hill.
Fonte: Blogfolha. Disponível em: http://gera- Fonte: Blogfolha. Disponível em: http://fatosocio- Fonte: Blogfolha. Disponível em: http://
caox2.com.br/wp-content/uploads/2012/10/O- logico.blogspot.com.br/2010/07/thompson. Acesso www.wantchinatimes.com/news-subclass-
-historiador-Eric-Hobsbawm-size-598.bmp. em: 30 maio 2013. -cnt.>. Acesso em: 30 maio 2013.
Acesso em: 30 maio 2013.
França e Inglaterra propunham novos formatos para se pensar a história, mas o mundo está
se transformando após meados do século XX e, dessa forma, veremos emergindo grupos apre-
sentando novas metodologias e modos de aliança entre fonte, teoria e conceito para a historio-
grafia. Na Itália, teremos um grupo de historiadores, que também por meio da Revista Quademi
Stori, publicam trabalhos inovadores da História Social, enfocando a Micro-história. Giovanni Levi
e Carlo Ginzburg são os propulsores dessa nova perspectiva historiográfica.
17
UAB/Unimontes - 1º Período
▲
Figura 16: Giovanni Levi
Fonte: Minaloto. Disponí- Figura 18: Queda do ►
vel em: <http://minaloto. Muro de Berlim
org/index.php?option;
Fonte: Nacionalismo de
Acesso em: 30 mai. 2013.
Futuro. Disponível em:
<http://nacionalismo-de-
-futuro.blogspot.com/
2004/04/o-declnio-da-
-europa-e-ideologia_16.
html>. Acesso em: 30
mai. 2013.
▲
Figura 17: Carlo
Ginzburg
Fonte: Minaloto. <http://
teoriasemetodologias-
dahistoria.blogspot.com.
br>. Acesso em: 30 mai.
2013.
18
História - Introdução ao Ensino de História
▲ ▲
Figura 19: Cartazes de obras cinematográficas Figura 20: Cartazes de obras
Fonte: Minefpp. Disponível em <http://minefpp.blogspot. cinematográficas
com/2007/03/cinema-corrompido.htmlhttp://filmes_ Fonte: Minefpp. Disponível em <http://minefpp.
portugueses.blogs.sapo.pt/30159.html Acesso em blogspot.com/2007/03/cinema-corrompido.htm-
30 mai. 2013. lhttp://filmes_portugueses.blogs.sapo.pt/30159.
html Acesso em 30 mai. 2013.
Atualmente, recursos audiovisuais, como os filmes, por exemplo, são importantes ferramen-
tas no processo de ensino. A História é um recurso muito utilizado pelos diretores. Os filmes for-
necem importantes impressões sobre sociedades do passado e do presente.
As novas abordagens historiográficas possibilitam novos campos para debates. Os historia-
dores e os professores de história podem trabalhar com temáticas antes impensadas nas salas
de aula ou fora dela. A música, motor propulsor do conhecimento e da sensibilidade humana,
levada para as aulas de história dão dinamismo e propiciam interação com o mundo que rodeia
o aluno e o professor. Abaixo: temos a música de Renato Russo, denominada “Duas Tribos”:
BOX 1
Vou passar / Quero ver
Volta aqui / Vem você
Como foi / Nem sentiu
Se era falso / Ou fevereiro
Temos paz / temos tempo
Chegou a hora / E agora é aqui.
Cortaram meus braços / Cortaram minhas mãos
Cortaram minhas pernas / Num dia de verão
Num dia de verão / Num dia de verão
Podia ser meu pai / Podia ser meu irmão
Não se esqueça / Temos sorte
E agora é aqui / Quando querem transformar
Dignidade em doença / Quando querem transformar
Inteligência em traição / Quando querem transformar
Estupidez em recompensa / Quando querem transformar
Esperança em maldição: / É o bem contra o mal
E você de que lado está? / Estou do la...do do bem
E você de que lado está? / Estou do la...do do bem.
Com a luz e com os anjos / Mataram um menino
Tinha arma de verdade / Tinha arma nenhuma
Tinha arma de brinquedo / Eu tenho autorama
Eu tenho Hanna-Barbera / Eu tenho pêra, uva e maçã
Eu tenho Guanabara / E modelos revell
O Brasil é o país do futuro / O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro / O Brasil é o país
Em toda e qualquer situação / Eu quero tudo pra cima/Pra cima
Fonte: <http://www.musica.com/letras.asp?letra=1080692>.
19
UAB/Unimontes - 1º Período
20
História - Introdução ao Ensino de História
BOX 2
Carta Testamento
21
UAB/Unimontes - 1º Período
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, in-
cessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para
defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu
sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o
Figura 24: Getúlio
Vargas foi, talvez, o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre
principal representante convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a
da história republicana fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.
brasileira, e legou Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos
importantes fontes manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será
para a História do Brasil.
uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao
Fonte: Geocities. Dis-
ponível em: <http://4. ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha
bp.blogspot.com/- vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui
-3crUUW8LEV4/ escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e
Ubla2UonyEI/
AAAAAAAACdg/55 meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a
VUjJ9YCCE/s1600/200px- espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram
-Get%C3%BAlio_Vargas meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serena-
_-_retrato_oficial_
de_1930.JPGwww. mente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
br.geocities.com/.../ (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas).
fotos/Getul-a.gif>.
Acesso 19 jun. 2013.
Fonte: Ebooksbrasil. Disponível em<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/cartatestamento.html>. Acesso 19 jun. 2013.
▼
Como podemos observar, Vargas lança mão de inúmeras informações sobre o Brasil
e o mundo em meados do século XX. Sua história pessoal é abordada no texto, associada
às dificuldades que o país enfrentava, em especial devido à difícil relação com os Estados
Unidos da América.
Além disso, uma forte dose emocional é notável no seu testamento, tratando-se,
portanto, de um texto com clara intenção: comover e chamar a atenção para o momento
político que o país atravessava na sua política interna e internacional.
Quais as questões que você, como historiador, pode fazer a essa fonte? Como um
aluno pode compreender o Brasil da época e o Brasil de hoje a partir dessa carta-testa-
mento? Seria possível relacionar a postura de Getúlio à alguns políticos da atualidade?
Essas questões só encontram respostas a partir de reflexões no cotidiano da sala
de aula, exigindo do professor habilidade para lidar com as diferentes posições sobre o
tema. Mesmo assim, uma questão é indiscutível: um historiador consciente do seu papel
em sala de aula, ao trabalhar essa fonte, se verá diante de inúmeras possibilidades.
Não apenas a carta-testamento de Getúlio Vargas, mas toda a sua trajetória política
pode ser uma importante fonte para o professor de História no ensino da história republi-
cana brasileira.
Figuras 25 e 26: ►
Velório do Presidente
Getúlio Vargas e
jornal noticiando a
sua morte.
Fonte: Disponível em:
<http://www1.folha.
uol.com.br/folha/es-
pecial/2002/ eleicoes/
historia-1951.shtml>;
<http://www.etno.com.
br/tags/morte/>. Acesso
em: 30 maio 2013.
22
História - Introdução ao Ensino de História
função social
Existe diferença entre
ser um bom professor
de história e um bom
pesquisador em histó-
ria? Vamos levar essa
Franceses e ingleses foram os principais responsáveis pelas inúmeras mudanças da ciência discussão para o fórum.
história, nas últimas décadas. Com essas mudanças, o ensino de história se modernizou, fruto de
pesquisas cada vez mais qualificadas.
Se as pesquisas permitiram um avanço da produção histórica, por que o professor não deve
levar a prática da pesquisa para o ensino? Hoje é imprescindível que a pesquisa faça parte do
cotidiano da sala de aula. Ser espectador do processo de ensino-aprendizagem não é mais sufi-
ciente. A disciplina história exige que o aluno participe da construção das reflexões feitas na sala
de aula para que, futuramente, participe também da construção de sua cidadania.
◄ Figuras 27 e 28: A
relação professor-
aluno deve permitir a
interação na construção
do conhecimento.
Fonte: Imagem Ufrj. Dis-
ponível em: http://www.
imagem.ufrj.br/index.
php?acao=detalhar_
imagem&id_img>; <http://
www.igeduca.com.br/CF//
misc/vicios/manual.htm>.
Acesso em: 30 maio 2013.
ATIVIDADE
Como dissemos, as atuais formas de se fazer história permitem uma ampliação do papel do Procure se informar
historiador e das fontes. com os professores de
história da sua cidade
A história nova ampliou o campo do documento histórico; ela substituiu uma como eles estão traba-
história fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma lhando a disciplina na
história baseada numa multiplicidade de documentos (...). Uma estatística, uma sala de aula e quais as
curva de preços, uma fotografia, um filme, são, para a história nova, documen- novas metodologias
tos de primeira ordem (LE GOFF, 1998, p. 28). adotadas para possi-
bilitar a apreensão do
Levantar uma problematização em sala de aula requer do professor de história uma enorme conteúdo. Poste no
fóruns com a finalidade
habilidade em pesquisa, isto é, ser historiador. Mas, a pergunta que fizemos anteriormente per- de dividir a suas infor-
manece: “Afinal, para que serve a história?” Vamos, portanto, aumentar o nosso desafio com duas mações com o colega,
novas questões: “Afinal, para que serve o ensino de história?” e, “Afinal, como ensinar história?”. A o tutor e o professor
resposta a essas perguntas parece ainda mais simples: história tem uma função social. formador.
Encontramo-nos em um momento em que o capitalismo se acha numa crise estrutural. Suas
promessas de progresso e felicidade para todos não apenas não se cumpriram como também
descobrimos que são irrealizáveis. O que devemos fazer é começar a construir, ao mesmo tempo, DICA
uma nova história e um novo projeto social, para que questões como democracia e bem-estar
Leia o livro de Le Goff,
social possam se tornar realidade. Jacques. A história
O atraso social e político da América Central, a fome e as misérias da África, as tensões do nova. São Paulo: Mar-
Oriente Médio, enfim, o mundo só será compreendido e transformado quando descobrirmos a tins Fontes, 1988. Para
função social da história, bem como a função das demais ciências sociais. um maior enriqueci-
mento sobre o assunto.
A fome e a miséria do mundo nunca serão realmente encaradas com responsabilidade se
não descobrirmos que a história – como tantas outras ciências – deve cumprir uma função social
e resolver os problemas das sociedades que dela necessitam.
23
UAB/Unimontes - 1º Período
Referências
BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé. As escolas históricas. Portugal: Publicações Europa – América,
1983.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
tor, 2001.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989). São Paulo: UNESP, 1997.
FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. Bauru, SP: EDUSC, 1998.
REIS, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
REIS, José Carlos. História e Teoria: Historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio
de Janeiro: FGV, 2006.
24
História - Introdução ao Ensino de História
Unidade 2
História: relações entre passado
e presente e a produção do
conhecimento histórico
2.1 Introdução
Você deve ter observado, na Unidade 1, que o principal objetivo foi analisar a evolução pela
qual a história passou nos últimos séculos. Desde a antiguidade, em especial pelo pensamento
grego, passando pela Idade Média, onde o mundo teocêntrico dominou o cotidiano do homem,
a história passou por intensa transformação.
No século XIX, como vimos, a história absorveu princípios de ciência e, no século posterior,
passou a ser analisada sob diversas formas. Nos dias atuais, a história se transformou em uma
ciência complexa, contribuindo na formação da nossa sociedade. Novas abordagens e novas me-
todologias permitem ao historiador aproximar a história e o ensino de História da realidade do
seu público. Nossa proposta, portanto, foi avaliar como se deu essa evolução.
Nessa segunda unidade, vamos analisar como a história permite estabelecer um diálogo
entre o tempo do passado e o tempo do presente. Na verdade, é impossível conceber a análise
histórica e o próprio ensino de História sem entender o diálogo fundamental entre passado e
presente.
Propomos, ainda, exemplificar como se dá a produção do conhecimento histórico, identifi-
cando os principais elementos que o professor de História deve levar em conta na produção das
suas aulas e das suas pesquisas. Você já deve ter notado que ser professor de história é, também,
ser um bom pesquisador, não é mesmo?
Antes, porém, faremos uma breve análise sobre as transformações que o ensino de História
sofreu no Brasil no último século.
Esta unidade está dividida nos seguintes tópicos:
2.1 A História do ensino de História no Brasil;
2.2 Passado e presente: imagens construindo a história;
2.3 Ensino de História: do Positivismo ao Marxismo;
2.4 A produção do conhecimento histórico e o ensino de História; Figura 31: Estudar
história é viajar
2.4.1 O tempo;
Fonte: Educador Brasil
2.4.2 Os homens; Escola. Disponível em:
2.4.3 A obsessão pelas origens. <http://educador.brasi-
lescola.com/estrategias-
-ensino/>. Acesso em: 30
maio 2013.
de história no Brasil
Estudar a história do ensino é tarefa das mais importantes para
compreender o papel da educação e a tarefa do educador na sociedade.
A História como disciplina escolar é fundamental no funcionamento das
escolas primárias e secundárias.
A partir da década de 1970, vários trabalhos foram produzidos ten-
do como tema “a história do ensino de História”.
25
UAB/Unimontes - 1º Período
DICA
O fato consiste em que a educação e,
Leia esses artigos que
nos ajudam a pensar especificamente o ensino de História, por
o uso da fotografia em meio do seu papel social, apresenta a histó-
História: Hoje existem estudos significativos que ria da humanidade e nos faz perceber como
CARDOSO, Heloísa privilegiam as práticas escolares no ensino de sujeitos sociais e não meros coadjuvantes.
Helena Pacheco. Me- História, apesar de verificarmos a dificuldade Para tanto, conforme tratamos anteriormen-
mórias e imagens: (re)
pensando os significa- do professor de História em entender o seu te, novas fontes, metodologias e abordagens
dos do memorial JK. In: papel como pesquisador. Tanto profissionais tornam-se frequentes e imprescindíveis nas
MACIEL, Laura Antunes da área de História como de Educação pesqui- salas de aula.
et al. (Orgs.). Outras sam acerca da História da Educação e, entre os Nesse sentido, a iconografia, isto é, o uso
histórias: memórias e objetos de estudo, encontram-se a disciplina das imagens e ilustrações como fontes do en-
linguagens. São Paulo:
Olho d’Água, 2006. p. de História. Esses trabalhos abordam o ensino sino de História, ainda é pouco estudada e de-
177 - 193. de História no âmbito do ensino básico, funda- batida pelos pesquisadores e professores de
BRITES, Olga. Retratos mental, médio e superior. Pensar o ensino de História, mas constitui um material importante
de infância. Infância, História no Brasil é importante para nos perce- para (re)leituras da nossa sociedade. Uma ima-
história e fotografia: bermos como cidadãos com direito à memó- gem é, antes de tudo, uma representação so-
São Paulo nos anos de
1930. In: Outras histó- ria. A partir da produção desses trabalhos, o bre fatos e ideias do passado ou do presente.
rias: memórias e lingua- professor de História e, sobretudo as autorida- Por que os historiadores ainda não se preocu-
gens. MACIEL, Laura des da educação pública e privada, deve aten- param da maneira devida com relação a essas
Antunes et al. (Orgs.) tar para os resultados e, assim, verificar a atua- fontes? Mais à frente, teremos a oportunidade
São Paulo: Olho d’Água, ção dos profissionais da área e propor políticas de pensar um pouco sobre essas iconografias.
2006. p. 262 – 272.
públicas eficientes e eficazes. Voltemos ao ensino de História.
26
História - Introdução ao Ensino de História
A fotografia, por exemplo, é uma ótima fia e no estudo de história. Nesse sentido, levar ATIVIDADE
oportunidade que o professor de História os alunos a esses ambientes acrescentará na Pesquise no acervo de
possui para trabalhar na sala de aula. Contra- sua formação, assim como pode-se trabalhar sua família as fotogra-
por as vivências de tempos passados com os também os comportamentos que se devem ter fias, converse sobre elas
atuais mostra aos alunos como o homem se em lugares como estes. Na biblioteca, nos ar- e verifique os detalhes
transforma no decorrer da sua trajetória. quivos e nos museus os professores de história das antigas como
vestuário, móveis, estilo
terão a oportunidade de apresentar aos alunos de pose, lugares etc.
os documentos na sua diversidade e possibili- Após a pesquisa, poste
dades de estudo. no fórum sobre o as-
sunto e partilhe o que
aprendeu com o tutor e
colegas de curso.
27
UAB/Unimontes - 1º Período
Ao tratar sobre ensino de história, é im- vro didático da escola, mesmo que haja indica-
Atividade possível não abordar o livro didático, que con- ções, tanto por parte das instituições públicas
tinua sendo o principal instrumento de ensino como privadas. Essa é uma responsabilidade
Pesquise na internet
artigos e textos que da maioria dos professores. Os livros didáticos que deve ser enfrentada pelo professor de his-
reflitam sobre o ensino permanecem como principal fonte para os tória no âmbito escolar. Por isso, deve ser leva-
de História no Brasil. professores de História em sala de aula,como da a sério e, nesse momento, a seleção desse
Ver sites sobre História principal referência de estudo para os alunos. material constituirá numa concepção de histó-
e educação e história
Os próprios pesquisadores, quando decidem ria realizada a partir do formato da historiogra-
da educação.
pesquisar sobre o ensino de História, ainda uti- fia que será estudada com os alunos.
lizam o livro didático como principal referência. Essas questões revelam mais um aspecto
Você sabe da importância do livro didático? da complexidade de se pensar e de executar o
Você sabia que o livro didático é um material papel de professor de História.
fortemente regulamentado pelo Estado? Como Na Unidade 1, recorremos à carta-testa-
é possível, portanto, ao professor de História mento de Getúlio Vargas para indicar a impor-
ensinar de maneira livre e independente, sem tância das fontes no ensino de História. Agora,
a influência direta da intencionalidade do livro recorreremos a fragmentos dela para refletir-
didático? No entanto, sabemos que o professor mos um pouco sobre a intencionalidade dos
de História é quem colabora na escolha do li- livros didáticos.
BOX 23
Carta Testamento (fragmento)
28
História - Introdução ao Ensino de História
Nem todos os professores sabem, mas os livros didáticos atendem não apenas a interesses
escolares. Os livros são produzidos para serem comercializados e, nesse sentido, têm que atender
a interesses de mercado. Além disso, o Estado tem um importante papel na reprodução e acei-
tação desses livros. Nada pode ser colocado em seus textos de forma a agredir os interesses da
elite nacional. A carta de Getúlio é um exemplo. Da mesma forma, temos o golpe de 1964, mui-
tas vezes sendo apresentado de forma amena nos livros didáticos de história. Com sabemos, esse
momento foi bastante conturbado na história do Brasil, que muitos querem e preferem esquecer,
no entanto, a história são muitas e não única, possibilitando várias versões. A partir desses exem-
plos, os professores de história poderão listar vários outros assuntos que também são escritos de
forma enviesada nos livros didáticos. O conhecimento e a sensibilidade do profissional da histó-
ria permitirão outras leituras desses acontecimentos.
DICA
Quer saber mais sobre
o assunto? Leia o
livro de Itamar Freitas.
Histórias do ensino de
História no Brasil. São
Cristóvão: Editora da
UFS, 2010.
29
UAB/Unimontes - 1º Período
Atividade
Liberdade, igualdade e
fraternidade: você acre-
dita nesses princípios
para o seu cotidiano?
Vamos refletir no fórum
No segundo caso, a queda das torres gêmeas também revelaria o início de um novo mundo.
O ataque às torres representou um enorme desafio ao poder capitalista norte-americano. Após
o 11 de setembro de 2001, o mundo passou a conviver com uma nova realidade: a presença do
terrorismo e os questionamentos sobre o intocável poder dos Estados Unidos da América.
30
História - Introdução ao Ensino de História
▲
Essas duas imagens demonstram claramente o quanto passado e presente se confundem na Figura 46: O Ataque ao
percepção de análise do historiador. A impressão que se passa é que a história estaria se repetin- World Trade Center:
do, 200 anos depois da Revolução Francesa. Mas, será que é tão simples assim? símbolo do terrorismo e
Uma importante questão a levantar é o impacto que tais imagens provocaram em suas épo- da oposição ao Império
dos EUA.
cas. No caso da queda da Bastilha, por mais que tal evento tenha sido de enorme importância,
Fonte: Jornalismo Educati-
com certeza a imagem não teve uma exploração tão intensa quanto o caso das torres gêmeas. vo. Disponível em: <http://
O evento de 11 de setembro de 2001 foi filmado sob diversos ângulos e analisado sob inúmeras www.klickeducacao.com.
perspectivas. Isso revela o quanto a mídia e os recursos audiovisuais são imprescindíveis para o br/.../Ba/2766/1045.jpg>.
Acesso em: 30 maio 2013.
historiador do século XXI.
31
UAB/Unimontes - 1º Período
A exposição da mídia torna o presente uma importante arma para a reflexão do historiador.
A história encontra sua razão de ser nos homens vivos, e não só no conhecimento do passado.
GLOSSÁRIO Um dos aspectos mais importantes para se compreender “para que serve a História” é entender a
importância que ela exerce no nosso dia a dia.
Terrorismo: modo de
coagir, combater ou Estudamos História para conhecer e transformar a vida. Nossas angústias e interrogações
ameaçar pelo uso siste- são a força motriz que nos impulsiona a conhecer o passado e, daí, tentar identificar e analisar
mático do terror. criticamente as condições do nosso presente.
O historiador Caio Boschi nos oferece uma importante reflexão sobre o passado e o presen-
te na História:
BOX 4
Fonte: Caio Boschi, História: Por que e para que?, Revista Nossa História, setembro de 2004, p. 98.
32
História - Introdução ao Ensino de História
Como percebemos, o passado só tem sentido por causa do presente. É o homem do pre-
sente que se interessa pelo homem do passado. O interesse pelo passado tem sentido porque
o homem do presente pode se conhecer e reconhecer nele. Marc Bloch (2001) afirma que essa
relação entre passado e presente o tempo todo é o elemento fundamente para o profissional da
história.
Vários historiadores, entre eles Marc Bloch, estabeleceram uma forte crítica aos positivistas. ATIVIDADE
Para Bloch, o historiador não deveria apenas coletar fatos e fontes, mas sim ser “o produto de
uma construção ativa de sua parte para transformar a fonte em documento e, em seguida, cons- Pesquise a biografia de
Karl Marx e a maneira
tituir esses documentos, esses fatos históricos, em problema” (BLOCH, 2001, p. 19). como ele compreendia
Mesmo assim, a História Positivista foi fundamental em sua época, possibilitando à História a História e registre no
absorver parte da sua cientificidade. seu Diário de Bordo.
33
UAB/Unimontes - 1º Período
Ainda no século XIX, mas principalmente durante grande parte do século XX, o Marxismo
Figura 52: Karl Marx possibilitou uma nova leitura da História.
Fonte: Site sua pesquisa. A partir do que Marx chamou de materialismo histórico, foi possível reinterpretar o ensino
com. Disponível em:
http://1.bp.blogspot.
de História no mundo e no Brasil.
com/-AtytdgPqS64/TxS- Como ciência da História, o Marxismo apresenta três hipóteses principais:
QJPx_eZI/AAAAAAAABBs/ • “enfatiza o papel das “contradições”, priorizando o estudo dos “conflitos sociais”;
jKdysJXnU0U/s1600/Karl_
Marx_001.jpg >. Acesso
• o Marxismo foi uma das primeiras teorias “estruturais” da sociedade. Assim, abandonou a ên-
em 30 maio 2013. fase no evento e abriu o caminho da história “científica”. “A verdade” de uma sociedade está
▼ em sua estrutura econômico-social;
• mesmo sem o saber, mas podendo vir a sabê-lo, os homens “fazem a
história”. Os homens transformam o mundo e a si mesmos (REIS, 2004, p.
55-57).
Com certeza, você já estudou ou leu algo sobre a concepção mar-
xista da História. A maioria dos livros didáticos usa as relações econômi-
cas e sociais como ponto de partida para explicar os eventos históricos.
Marx e o materialismo histórico são ainda a base nas discussões e deba-
tes do ensino de História. É importante frisar que, mesmo sem notar, os
professores de História continuam se utilizando de Karl Marx nas rela-
ções de ensino-aprendizagem.
A ex-URSS (União da Repúblicas Socialistas Soviéticas), por meio
da Revolução Russa de 1917, foi a primeira nação do mundo a aceitar os
princípios do marxismo e do socialismo e tentar transformar sua história
a partir das bases teóricas propostas por Marx.
Conforme abordamos anteriormente, houve um revisionismo na
perspectiva da escrita e concepção da história marxista. Surgiu a partir
da década de 1950, na Inglaterra, historiadores como Edward Thomp-
son que, ao pensar e escrever a história, diz que o econômico não é a
determinante, pois o homem é um ser integral e, dessa forma, trata do
que denomina de “Economia Moral da Inglaterra no século XVIII”, no li-
vro “Costumes em Comum: Estudos sobre a cultura popular tradicional”.
Thompson faz o mesmo percurso com outras obras como: “As peculiari-
dades dos ingleses e outros artigos” e “A Formação da Classe Trabalha-
PARA SABeR MAiS dora Inglesa”. Para expor esse tema, traz os modos de viver da Inglaterra nesse século, que com-
Karl Marx foi o respon- põem das vivências da época. Em “A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao
sável pela principal pensamento de Althusser”, Thompson revisa o materialismo histórico a partir de uma nova cate-
mudança no campo goria como a experiência de classe, revendo os modelos que viam o materialismo apenas como
das ciências sociais e
humanas nos últimos
modo de produção.
150 anos. O marxismo Com Thompson, temos vários nomes que, inclusive, propõem outras fontes para o diálogo,
tornou-se referência no na história, como Stuart Hall.
pensamento historio- Como podemos verificar, o ensino de história foi se transformando ao longo do tempo. À
gráfico de vários países, medida que os homens vão vivendo e pensando a vida, a própria história, bem como o ensino
entre os quais o Brasil.
Visite o site: http://
de história, vai mudando de acordo com a realidade. Hoje as possibilidades são muitas para se
educarparacrescer.abril. ensinar e aprender história.
com.br/aprendizagem/
karl-marx-307009.shtml
e saiba mais sobre a sua
biografia.
34
História - Introdução ao Ensino de História
2.5.1 O tempo
A História é uma ciência que estuda os homens no tempo, já dizia Bloch (2001). O historia-
dor não pensa apenas no “humano”, mas deve, também, entender o que é a duração. O tempo
também é perigoso para o historiador, pois nem todas as sociedades e civilizações entendem o
tempo da mesma forma.
Antigamente, o tempo era mais lento, mais gradual, pois acompanhava o ritmo do mundo
antigo. É o caso de Roma, por exemplo. Hoje, o tempo é mais dinâmico, mais veloz, pois acompa-
nha o ritmo alucinante de um mundo globalizado. Será que viver na Nova York do século XIX é a
mesma coisa que viver na Roma do século X? Com certeza, não. E somente o tempo pode expli-
car essa diferença.
▲
É nesse sentido que o historiador deve usar o tempo como uma das suas principais ferra-
Figura 54 e 55: O tempo
mentas na pesquisa e no ensino de História.
em Roma indicava
a forma como os
romanos encaravam
2.5.2 Os homens o mundo - lento,
cotidiano simples. O
tempo na cidade de N.
Não existe sentido em estudar História se não for para compreender e mudar a vida dos ho- York (EUA), em pleno
século XXI, demonstra
mens. A História é uma ciência humana e, como tal, deve se preocupar com os problemas dos um tempo dinâmico
homens em seus tempos. Para Marc Bloch (2001), “o bom historiador se parece com o ogro da Fonte: Blog Só para ajudar.
lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça.” Disponível em: <http://
Nesse sentido, a História deve pensar antes de tudo nos homens, para compreendê-los e www.soparaajudar.blog-
ger.com.br/roma5.jpg>. e
para apresentar soluções para as suas vidas. As guerras, a fome e a miséria só serão compreendi- <http://static.hsw.com.br/
das com o estudo dos homens no seu tempo. gif/capitalism-1.jpg>. Aces-
so em 30 maio 2013.
35
UAB/Unimontes - 1º Período
▲
Figuras 56 e 57: O
homem e/na história 2.5.3 A obsessão pelas origens
Fonte: Blog O Bom
Caminho. Disponível em:
<http://obomcaminho. Bloch (2001) nos deixa ainda uma última lição: o historiador deve ser obcecado pelas origens.
blogspot.com.br>; <http:// Conforme nos propusemos nessa unidade, estabelecer uma ligação entre passado e presen-
www.brasilescola.com/
artes/a-arte-na-historia. te é fundamental para entender História. Por mais que nossas indagações sejam fruto de nossas
htm>. Acesso em 30 maio experiências do presente, é no passado que buscamos as respostas. Assim, se não compreender-
2013. mos as origens dos fatos, dificilmente conseguiremos ensinar História com qualidade. Onde es-
tariam as origens da corrupção no Brasil? Onde estariam as origens do ódio entre judeus e pa-
lestinos? Onde estariam as origens do poder dos Estados Unidos da América sobre o restante do
mundo?
Essas questões revelam que o historiador e o professor de História devem, incessantemente,
buscar as origens dos fatos. Somente assim é possível produzir um conhecimento histórico que
atinge diretamente o interesse dos alunos e é possível responder à inquietante pergunta que ain-
da atormenta tantos e tantos profissionais da área de História: “Afinal, para que serve a História?”
Referências
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
tor, 2001.
BOSCHI, Caio César. História: Por que e para que? In: Revista Nossa História, set. 2004.
FONSECA, Thaís Nívia de Lima e. História e Ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
REIS, José Carlos. A História entre a Filosofia e a Ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
36
História - Introdução ao Ensino de História
Unidade 3
O historiador e as metodologias
de ensino
3.1 Introdução
Esta unidade objetiva apresentar o significado de história e sua utilidade no âmbito intelec-
tual e social, assim como discutir acerca da produção histórica, pois essas questões permearam
até o momento todo o debate das Unidades anteriores.
Dessa forma, a proposta consiste em pensarmos as seguintes indagações:
3.2 O que é história?
3.3 Para que serve a história?
3.3.1 Como compreender a história de um povo?
3.4 Como produzir história?
Essas são inquietações que perpassam as discussões no campo da história, proporcionando-
-nos refletir acerca do nosso papel como profissional da história. Vamos lá!!!
37
UAB/Unimontes - 1º Período
38
História - Introdução ao Ensino de História
39
UAB/Unimontes - 1º Período
Dessa forma, e de acordo com De Decca, "a história não é o passado morto", mas possibi-
ATIVIDADE lidades de explicar o universo social do homem através do historiador, profissional da área de
Veja o vídeo “Conceito história e, cuja matéria-prima utilizada são as "fontes históricas", que constituem os vestígios do
e utilidade da histó- passado.
ria” no site: https://
www.youtube.com/
watch?v=P7A2CCePzTU
e poste no fórum o que
você apreendeu sobre
o assunto com seus co-
3.3 Para que serve a história?
legas, tutor e professor
formador.
A história, de acordo com Reis (1996), é A sociedade moderna valida os conheci-
constituidora da cultura ocidental. A civiliza- mentos pela sua utilidade. Mas a história ser-
ção ocidental é histórica: os gregos criaram viria para quê? Se a história estuda e analisa o
o gênero histórico; os romanos utilizaram da passado, como não consegue evitar as epide-
ATIVIDADE história para conquistar outros povos e ex- mias, guerras, catástrofes, infelicidades e con-
Procure conhecer os pandir seu território; e, na Idade Média, os flitos? Se o passado não se repete, para que
seus antepassados. cristãos, profundamente históricos – os livros conhecê-lo? Marc Bloch afirma que conhecer o
Construa a sua gene- sagrados revelam essa tendência –, utilizaram acontecimento do "passado" é referência para
alogia e poste no seu
Diário de Bordo. da história para criarem raízes e se identifica- o "presente". O conhecimento histórico, para
rem como povo de Deus em busca da terra Marc Bloch, é um prazer, pois possibilita conhe-
prometida. Enfim, a civilização ocidental, di- cer o outro, ou seja, saber o que o outro viveu
ferente das outras civilizações, cultivou a sua e sentiu durante a sua trajetória e sua luta pela
GLOSSÁRIO
memória deixando marcas e registros conten- sobrevivência. A história coloca o "homem do
Abaixo algumas dis- do informações que diziam respeito a ela. presente" em contato com o "homem do passa-
ciplinas auxiliares da Porém, qual a importância de registrar os do" e, por sua vez, se reconhece nele.
História.
Arqueologia: estuda acontecimentos do passado? Qual a diferença Lucien Febvre diz que a história possibili-
objetos, restos de entre conhecer ou não o passado do homem? ta o diálogo dos vivos com os mortos. A alian-
animais e plantas, ossos Para que analisar esse passado? Por que com- ça "passado – presente" é significativa, porque
humanos e outras anti- preender o que o homem fazia no tempo de o homem organiza o primeiro em função do
guidades. “ontem”? Tudo isso parece sem sentido ou segundo.
Filologia: procura
entender as línguas e significado. José Carlos Reis diz que essas
os textos antigos. questões geram dúvidas sobre a validade da
Cronologia: estabelece história.
corretamente as datas Bloch (2001) explica a validade da histó-
históricas. ria quando se depara, conforme abordagem
Diplomática: serve
para ler, interpretar e acima, com o filho questionando o pai acerca
compreender docu- da utilidade da história. A questão é posta e
mentos políticos do aguarda resposta. Marc Bloch é tranquilo em
passado. responder que se a história não tivesse uma
Genealogia: procura utilidade significativa como outras ciências,
entender a origem e
desenvolvimento das ela serviria para divertir as pessoas, satisfazer
▲
famílias, desde os seus um gosto ou uma curiosidade ou apenas para
mais remotos antepas- o prazer de conhecer o ser humano e a possi- Figura 64: Movimento estudantil em Montes Claros,
sados até os dias de MG. Junho de 2008.
bilidade dele se reconhecer nele. E se a histó-
hoje. Fonte: Blog Mandato Popular Lipa Xavier Disponível em
ria fosse considerada apenas uma poesia, ela <http://farm4.static.flickr.com/>. Acesso em: 29 ag. 2013.
revelaria e tocaria a sensibilidade do homem
por meio da forma inteligente de abordá-lo. Georges Duby, de acordo com José Carlos
Reis (1996), afirma que a história é legítima por-
que consiste no trabalho do historiador. Dessa
forma, esse profissional lida com uma atividade
de conhecimento e não com uma arte de viver.
Figura 63: Passado e ►
Jacques Le Goff diz que o historiador tem que
presente reivindicar o SABER HISTÓRICO em toda ativida-
Fonte: Blog passado e de científica e na práxis, pois essa é a tarefa do
Presente Juntos. Dispo- historiador. Paul Marie Veyne é bastante enfá-
nível em: <http://haznos. tico dizendo que a história é uma atividade in-
org/passado-e-presente-
-juntos-imagens/>. Acesso telectual própria do historiador, que a organiza
em 31 maio 2013. por meio da inteligência de dados que se refe-
rem à temporalidade. José Carlos Reis, ao mos-
trar os relatos desses historiadores, revela a im-
40
História - Introdução ao Ensino de História
A partir dessas curiosidades, o historiador busca sua matéria-prima, ou seja, as fontes his-
tóricas que são os vestígios do passado. De acordo com Edgar De Decca (1991), o historiador,
no momento da construção do conhecimento histórico, deve estar atento às seguintes questões
relativas às fontes, que constituem uma diversidade enorme, pois são os vestígios deixados pelo
homem no decorrer da sua existência:
a) O olhar sobre as fontes deve:
• ser cauteloso;
• ter apurado senso crítico;
• estar atento às várias versões.
b) As fontes são marcas do passado, ou seja, não são o passado. Por isso, apresentam o
modo de viver do povo de uma determinada época e espaço geográfico, inserido em um contex-
to político, econômico, social, cultural, religioso, etc.
c) O historiador executa uma pesquisa empírica. Para que esse trabalho historiográfico pos-
sa acontecer, o diálogo entre fontes, teoria e conceito deve ser observado e constante.
d) O recorte temporal e espacial deve ser observado e explicado na pesquisa, de forma clara
e objetiva.
e) O historiador, ao fazer seu estudo, não parte de acontecimentos cristalizados, prontos e
acabados, mas de fontes que são indícios, registros, rastros ou vestígios do que aconteceu com a
humanidade, aliando conceito e teoria.
f ) Na história, tudo é relativo, pois a verdade varia de acordo com as fontes trabalhadas.
Nesse sentido, a história é diferente das ciências naturais, pois não pode levar os aconteci-
mentos para um laboratório como ocorre com a biologia. Por outro lado, a história não é uma
opinião qualquer, que não demanda estudo, pesquisa e análise de documentos, independente
do seu caráter, fazendo uma aliança entre fonte-teoria-conceito.
Figura 68: O ►
historiador e as fontes
Fonte: Blog Metodologia
Cientifica. Disponível
em:<http://profludfuzzi-
metodologia.blogspot.>.
Acesso em: 31 mai. 2013.
42
História - Introdução ao Ensino de História
Referências
BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: História. Brasília: MEC/ESF, 1998.
BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.
DECCA, Edgar S. O Estatuto da Historia. In: Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais
(ANPUR), v. 34, p. 7-23, 1991.
HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
43
História - Introdução ao Ensino de História
Unidade 4
Análise crítica das competências
do ensino de história
4.1 Introdução
Esta unidade objetiva fazer uma análise crítica das competências do ensino de História no
âmbito escolar e científico.
Dessa forma, propomos conversar sobre as seguintes questões:
4.2 O ensino e aprendizagem de história;
4.2.1 Tempo: dimensão da análise da história;
4.2.2 Fato histórico;
4.2.3 Sujeito da história;
4.2.4 Tempo, fato e sujeito histórico: concepções para a construção do saber histórico escolar;
4.3 A história e a historiografia no Brasil;
4.3.1 Possibilidades de atuação profissional dos estudantes de história;
4.3.2 Breve histórico do ensino e/ou da disciplina de história no Brasil;
4.4 Concepção de história e de historiografia;
4.4.1 História tradicional;
4.4.2 História nova;
4.4.3 Importância das concepções da história nova.
Refletir todas essas problemáticas nos faz perceber as competências do ensino de história e
o papel do historiador.
45
UAB/Unimontes - 1º Período
46
História - Introdução ao Ensino de História
Dessa forma, alunos e professores são mais livres para compreender e apreender os aconte- ATIVIDADE
cimentos à sua volta, fazendo sempre a aliança "passado-presente". Nessa perspectiva, podem-se Pesquise na internet
escolher temas para estudar, como comportamentos de mulheres e crianças, formas de desenho sobre os motivos que
ou a independência política de um povo. levaram ao dia Interna-
cional das Mulheres e
poste no fórum deba-
tendo sobre o assunto
4.2.3 Sujeito da história com o tutor, colegas
e professor formador,
numa perspectiva do
Assim como os fatos históricos, o sujeito histórico pode ser apresentado como personagens campo do ensino de
que desempenham ações isoladas ou heróicas, como reis, príncipes ou generais. Essa aborda- história.
gem histórica coloca o destino dos homens nas mãos daqueles poucos que têm poder de deci-
são, sobretudo política.
Outra concepção de sujeito histórico consiste nos homens como agentes sociais, ou seja, in-
divíduos, grupos ou classes sociais inseridos em contextos históricos que produzem para si, mas
também para a coletividade. Nessa perspectiva, sujeitos históricos são trabalhadores, patrões, es-
cravos, crianças, mulheres, políticos, velhos, prisioneiros, enfim, todos os homens.
A forma como o professor e aluno concebem o tempo, o fato e o sujeito histórico resultará
em trabalhos e apreensões diferentes de história.
Atentar para os conceitos de tempo, de fato e de sujeito histórico possibilitará aos alunos,
com o auxílio do professor, estabelecer relações, comparações relativizar sua própria atuação no
tempo e no espaço em que se encontram inseridos. Enfim, a partir dessas concepções, o aluno
poderá ler e compreender a realidade e se posicionar, fazendo escolhas e tomando partido para
agir de forma criteriosa no mundo em que vive.
47
UAB/Unimontes - 1º Período
ATIVIDADE
Recordando as aulas
de história, vamos
relembrar a escola.
Rememorar as nossas
primeiras aulas de his-
tória. De que assuntos
tratavam? Quais os
A trajetória do curso de história ocorre de acordo com o contexto histórico em que se en-
recursos utilizados pelo contra inserido. Verifica-se, na década de 1960, que o curso de História:
professor? Decoração • enfrenta muitas dificuldades com o regime militar;
da sala de aula? O que • é extremamente vigiado e fiscalizado pelo Estado;
mais marcou?Poste no • as bibliografias não são atualizadas;
seu Diário de Bordo.
• as publicações controladas;
• as pesquisas proibidas e o intercâmbio difícil de ser concretizado.
Nas décadas de 1970 e 1980, surgem os primeiros cursos de pós- graduação stricto sensu
e as pesquisas são estimuladas e divulgadas em eventos, despertando o interesse dos estu-
dantes de história e propiciando as trocas de experiências.
Na década de1990, os currículos são reformulados com o objetivo de formar o “profissio-
nal de história”: o professor, o pesquisador, o agente cultural e o comunicador de massa.
48
História - Introdução ao Ensino de História
b. Pesquisador:
• O historiador é o profissional que melhor sabe interpretar os movimentos da ci-
vilização através de seus vestígios, por menores que sejam. Assim, o que para o
leigo pode não passar de meros cacos de um objeto doméstico, para o historia-
dor pode constituir prova definitiva de gostos, costumes, rituais e crenças. Nesse
sentido, também cabe ao historiador identificar equívocos históricos e destruir
mitos por meio da pesquisa histórica.
Agente cultural:
• órgãos de documentação: arquivo, biblioteca, museu, casa de cultura, centro cul-
tural, centro de documentação etc;
• no âmbito dos órgãos públicos e das organizações não governamentais, o histo-
riador presta assessoria e consultoria para a preservação de monumentos históri- ▲
cos, a identificação e a manutenção de documentos e a administração de museus; Figura 73: Pesquisadora
• outro importante nicho de trabalho para o historiador é o turismo histórico, em que geral- no Arquivo da
mente assessora e orienta eventos e roteiros em torno de patrimônios. Unimontes. 2001.
Fonte: SPDOR/DDI/Uni-
c. Comunicação: montes.
• Cinema, telenovela, teatro, documentários: o historiador é requisitado para dar consultoria
na reconstituição de cenários para cinema ou televisão, para colaborar na elaboração de ro-
teiros de documentários e dramatizações que busquem retratar períodos históricos deter-
minados.
• Carnaval.
a. Século XIX:
O ensino de história na escola fundamental estava incluso nos programas escolares e apre-
sentava as seguintes características:
• era articulado às tradições europeias e francesas;
• privilegiava o ensino de história universal;
• a história do Brasil era estudada em conjunto com a história universal, porém ocupando po-
sição secundária.
b. Século XX:
O ensino de história tem influência europeia muito forte, mas as experiências norte-ameri-
canas chegam ao Brasil por meio da disciplina denominada Estudos Sociais. A partir de então, o
Brasil assimila e adota essa nova perspectiva para pensar e concretizar o ensino de História.
c. Década de 1930:
Esse é um período de renovação educacional no Brasil. Anísio Teixeira publica uma proposta
de ensino de Estudos Sociais inspirada no modelo norte-americano.
Surgem possibilidades de implantação da disciplina de Estudos Sociais nos currículos. Esse é
um momento de muitos debates acerca desse assunto.
49
UAB/Unimontes - 1º Período
d. Década de 1940:
Esse período constitui-se no Estado Novo, com Getúlio Vargas no Governo. O Ministério da
Educação e Saúde Pública estabelece e, pela primeira vez, a disciplina de História do Brasil terá au-
tonomia, não estando vinculada a uma outra disciplina como Estudos Sociais. Esse fato demons-
trará a valorização da história nacional em contrapartida à história universal tão privilegiada.
e. Década de 1950:
Nesse período, por intermédio do Convênio entre Brasil e Estados Unidos da América, Minas
Gerais implanta a disciplina de Estudos Sociais com o objetivo de formar e aperfeiçoar professo-
res para a Escola Normal e primária, bem como produzir e distribuir novos materiais didáticos.
Esta experiência em Minas Gerais faz referência às outras ocorridas no Brasil.
f. Década de 1960:
História e Geografia são fundidas nesse período e ensinadas juntas, porém como Estudos
Sociais.
Em Minas Gerais, a disciplina de Estudos Sociais é obrigatória na escola primária e optativa
para o ensino médio por meio da Lei de Diretrizes e Bases de 1961.
Em 1964, com o golpe militar, a disciplina de Estudos Sociais é direcionada à formação mo-
ral e cívica dos alunos, e o país adota uma política nacional, tendo como referência a educação
norte-americana.
g. Década de 1970:
O ensino de História, na escola fundamental, norteou-se pelas Diretrizes da Reforma Educa-
cional que constituiu na Lei n° 5.692/1971. A partir dessas diretrizes, o governo edita leis e pare-
ceres normatizando princípios e doutrinas, assim como regulamentando a implantação da refor-
ma educacional.
Em relação ao ensino de História, constata-se nesse período:
• é objeto de controle dos dirigentes educacionais;
• os livros didáticos são escritos de acordo com o programa oficial;
• história torna-se alvo de controle e pretexto para perseguições políticas;
• apresenta discussão limitada aos programas de ensino elaborados pela Secretaria de Educação.
50
História - Introdução ao Ensino de História
i. Década de 1990:
Surgem novas propostas curriculares para o ensino da história e da geografia. Em 1997, são
elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais pelo Ministério da Educação.
Esse é um período significativo para o ensino da história porque as mudanças curriculares
são diretrizes veiculadoras de propostas culturais, pedagógicas e ideológicas, ou seja, constitui
um documento que seleciona o que deverá ser ensinado; porém, é um “currículo real” construído
a partir da concepção de educação, história, conhecimento e da prática social.
j. Século XXI:
O século XXI vem consagrar as percepções realizadas no decorrer dessa trajetória de cons-
trução do ensino da história. A concepção de história traz consigo novos olhares e modos, tanto
de ensinar como de escrever a história, sempre tendo como sujeito o homem.
51
UAB/Unimontes - 1º Período
▲
Figura 76: Quadro Os documentos contemplados para pesquisa são oficiais e escritos e não escritos, entre eles,
Independência ou leis, registros, sítios arqueológicos, edifícios, objetos de museu como selos, mapas, vestuário e
Morte mais conhecido moedas.
com “O Grito do
Ipiranga" de Pedro
Américo (óleo sobre b. Sujeitos da história:
tela - 1888) Os sujeitos da história são figuras do mundo político, econômico e religioso, como reis, presi-
Fonte: Sitio Bussola esco- dentes, generais, grandes empresários, latifundiários e autoridades religiosas. Estes são atores in-
lar. Disponível em http:// dividuais que constroem a história sozinhos como grandes heróis inseridos em grandes eventos.
http://www.vinistoria.com.
br/wp-content/gallery/
independencia-do-brasil/ c. Objetos de estudo:
independncia_ou_morte. Os objetos de estudos são assuntos diplomáticos, políticos e religiosos. Apresentam uma pre-
jpg>. Acesso em 10 junh.
2013.
ocupação com fatos do passado que se encontram organizados no tempo linear e progressista.
Esse formato de escrever e ensinar a história é característico desde a antiguidade até o sécu-
lo XVIII, quando a Ilustração e/ou Iluminisimo repensa as ciências, entre elas, a História.
A história Nova começa a dar seus primeiros passos a partir de 1929, com Marc Bloch e Lu-
cien Febvre, por meio da Revista de Annales, que procura a interação entre "passado e presente"
e constitui nova perspectiva para o ensino e a escrita da história. Nesse sentido, apresenta as se-
guintes características:
a. Fontes de estudo:
Apresenta registros da ação do homem no decorrer da sua trajetória de vida, entre elas:
• Fontes orais como entrevistas e relatos;
• Fontes audiovisuais como fotografias, discos, vídeos, obras de arte, programas de TV e rádio
e outros;
• Documentos escritos não oficiais como cartas, diários etc.
b. Sujeitos da história:
O sujeito da história são todos os homens: brancos, índios e negros; ricos e pobres; governa-
dos e governantes, enfim, todos. Estes sujeitos não são atores individuais.
c. Objetos de estudo:
A História Nova privilegia os acontecimentos do cotidiano da vida humana e não fatos isola-
dos e fragmentados, mas relacionados às formas de ensinar e viver do homem.
52
História - Introdução ao Ensino de História
ATIVIDADE
BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.
53
História - Introdução ao Ensino de História
Unidade 5
História e ensino: novos fatos e
novas abordagens
5.1 Introdução
Os primeiros capítulos deste trabalho abordaram a história da história, revelando os cami-
nhos trilhados desde a Antiguidade até os dias de hoje pelos historiadores e a historiografia.
Nesse sentido, a Escola dos Analles e a Escola Britânica proporcionaram a construção de vá-
rias histórias e não apenas de uma única história, que, por sua vez, apresenta um leque de pos-
sibilidades de pesquisa e estudo para os historiadores. O campo histórico trabalha com várias
dimensões, abordagens e domínios historiográficos.
Nesse sentido, vamos estudar nesta Unidade os seguintes tópicos:
5.1 Dimensões, abordagens e domínios historiográficos;
5.1.1 Dimensões historiográficas;
5.1.2 Abordagens historiográficas;
5.1.3 Domínios historiográficos;
5.2 Ensino de história: novos fatos e novas abordagens;
5.2.1 Livros didáticos;
5.2.2 Novas temáticas;
5.3.2.1 Patrimônio cultural;
5.3.2.2 História em quadrinhos;
5.3.2.2 A figura de heróis e a tradição nacional;
5.3.2.3 O papel das mulheres, dos negros, dos índios, dos operários e excluídos da história;
5.3.2.4 A mídia;
5.3.2.5 Outras histórias, outras memórias e versões.
55
UAB/Unimontes - 1º Período
56
História - Introdução ao Ensino de História
57
UAB/Unimontes - 1º Período
Nesse sentido, de acordo com José D'Assunção Barros, pode-se citar como abordagens
históricas:
• História Serial;
• História Quantitativa;
• História Qualitativa;
• Análise do Discurso;
• História Oral;
• História Regional/Local;
Figura 83: História da • História Imediata;
Arte • Micro-História;
Fonte: Blog Brasil Escola. • Biografia.
Disponível em: <http://
www.brasilescola.com/his-
toriag/historia-da-arte>.
Acesso em 31 mai. 2013. 5.2.3 Domínios historiográficos
▼
Os domínios historiográficos consistem nos temas possíveis de se-
rem trabalhados pelo historiador e professor de história. Entre eles, po-
demos citar:
• História da Arte;
• História da Sexualidade;
• História Urbana;
• História Rural;
• História das Massas;
• História dos Marginais;
• Historia do Direito;
• História das Representações.
58
História - Introdução ao Ensino de História
• educacional/cultural;
• depositário dos conteúdos escolares; ATIVIDADE
• instrumento pedagógico;
Pesquisar o patrimônio
• veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura. cultural da sua cidade.
Poste no fórum e
Apesar da ambiguidade do livro didático, ele tem um papel a desempenhar no âmbito es- partilhe com o tutor e
colar. Ele é portador de textos que auxiliam a compreensão da história como um conhecimento colegas a situação da
científico, assim como amplia o número de informações por meio de uma linguagem acessível. sua cidade. Veja quais
as atitudes estão sendo
Porém, o livro didático é condicionado por diversas razões, entre elas, econômicas, ideológicas e tomadas nas outras
técnicas. cidades e compare com
Nessa perspectiva, um governo ditatorial pode aproveitar do livro didático com o objetivo a sua.
de manter a ordem vigente. Esse fato é constatado, por exemplo, durante a Ditadura Militar no
Brasil. Da mesma forma, o livro didático é um instrumento que deve ser selecionado com crité-
rios bem definidos pelo professor que, diante de sua posição em relação às questões, sobretudo
políticas e econômicas, pode utilizá-lo para oprimir ou transformar a realidade em que vive.
Enfim, o livro didático não pode ser apenas uma exposição fria e mecânica dos conteúdos
de história, mas deve ser um instrumento utilizado pelo professor para desvendar as experiên- Figuras 85 e 86:
cias do homem, consciente do seu papel na sociedade em que vive. Casarões da Fafil e dos
Maurício em Montes
Claros-MG que se
5.3.2 Novas temáticas encontram em processo
de restauração. Camilla,
Bolsista de Iniciação
Científica Júnior,
A concepção da História Nova possibilita o estudo de novas temáticas, sobretudo relativas FAPEMIG/Unimontes,
às vivências dos homens de hoje, fazendo sempre a relação passado-presente. restaurando a Coleção
Nesse sentido, a História Nova discute, entre outras temáticas, as relacionadas abaixo: do Jornal Gazeta do
Norte.
Fonte: Projeto “Tratamen-
5.3.2.1 Patrimônio cultural to Documental do Fórum
Gonçalves Chaves e da
Imprensa
Norte-Mineira: um Resgate
O patrimônio cultural é um tema possível de ser trabalhado na história através de uma da História e da Memória”,
nova perspectiva, diferente da proposta da classe dominante. Pensar o patrimônio cultural a PROBIC Júnior - 2007.
partir das vivências dos homens e não a partir de monumentos que denotam os “heróis nacio- ▼
nais” é ter a possibilidade de reconstruir novos fatos por meio de novas abordagens.
O patrimônio cultural é o conjunto de bens, materiais ou morais, pertencen-
tes a uma pessoa, uma empresa, uma instituição ou uma coletividade.
Esses bens remetem ao modo de viver de um povo que tem uma diversidade
enorme na forma de estabelecer relações. Tudo o que o homem faz, cria ou inven-
ta é o resultado do seu processo ensino-aprendizagem no mundo em que vive. Há
jeitos diferentes de viver, ou seja, de fazer festas e comidas, tratar o meio ambien-
te e os animais, cuidar dos doentes, conceber o mundo que o rodeia, tratar a edu-
cação das crianças, tratar as mulheres e as crianças, construir a moradia, brincar,
cantar e dançar. Enfim, tudo isso é patrimônio cultural.
O ensino de história possibilita repensar o patrimônio cultural do país, do es-
tado, da cidade ou da comunidade dos homens. Esse repensar significa rever con-
ceitos para, a partir das diferenças próprias dos homens, verificar o que os identi-
fica em um determinado local. O homem, por meio do patrimônio cultural, cria o
senso de pertença. O cotidiano é importante para o homem porque possibilita o
“criar raízes” e se identificar com o outro.
Conhecendo o patrimônio cultural de uma comunidade, entende- se um
pouco o que ela é, ou seja, sua história. Por isto, os historiadores, para escrever os
livros de História, vão procurar informações estudando os bens do patrimônio cul-
tural. Eles pesquisam documentos nos arquivos, museus e bibliotecas, analisam
fotografias, leem livros, entrevistam pessoas, analisam os objetos e peças, estu-
dam os bens de forma criteriosa, visando obter respostas e responder suas curio-
sidades acerca do assunto.
Conhecendo o patrimônio cultural da sua comunidade, o homem saberá do
seu valor e, por isso, a ideia de conservá-lo e preservá-lo fará parte de sua consci-
ência, pois consiste na memória social.
59
UAB/Unimontes - 1º Período
60
História - Introdução ao Ensino de História
DICA
CARVALHO, José
Murilo. A formação das
almas: o imaginário da
república no Brasil. São
Paulo: Companhia das
Letras,1989.
ATIVIDADE
Busque em livros didá-
ticos, jornais, revistas,
internet e outros instru-
mentos de informação
fotografias de heróis
A escola é o espaço criado pelo Estado para formar o cidadão por meio do ensino das tradi- do Brasil. Após,analise
ções inventadas. Os livros didáticos, as aulas dos professores, as festas e as comemorações obje- e partilhe sua experi-
ência com o tutor e os
tivam produzir, com os estudantes, atitudes sacralizadas em relação à Nação. O culto à bandeira colegas.
nacional, por exemplo, é um ritual em homenagem à pátria.
Porém, historiadores questionam essas datas comemorativas e, no decorrer do processo his-
tórico, é possível rever e reescrever esses acontecimentos ou fatos.
5.3.2.4 O papel das mulheres, dos negros, dos índios, dos operários e Figura 90: Livro “O
queijo e os vermes”, de
excluídos na história Ginzbur
Fonte: Blog Leituras
di Gibi. Disponível em
Verifica-se, de um lado, a construção de heróis e, do outro, o esquecimento de figuras signi- <http://leiturasdogiba.blo-
gspot.com.br/2008/07/o-
ficativas no processo histórico, entre elas, as mulheres, os negros, pobres e as crianças. -queijo-e-os-vermes>.
Deixar no esquecimento essas personagens é ressaltar uma história da elite, feita apenas Acesso em 31 mai. 2013.
por um determinado grupo, ou seja, aqueles que detêm o prestígio social, poder político e eco- ▼
nômico.
A Nova História propõe uma história construída por "todos os homens" como
sujeitos. Essa proposta faz parte das discussões historiográficas atuais.
Nesse sentido, Ginzburg (1987), em seu livro “O queijo e os vermes”, aborda o
cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição no século XVI. Do-
menico Scandella, também conhecido por Menocchio, era um moleiro reprimido
pela Igreja. A fonte de pesquisa utilizada por Ginzburg (1987) para compreender
essa personagem foi o processo inquisitório. Menocchio, por meio desse processo,
foi condenado.
A classe operária também é um grupo excluído da historiografia oficial. O estu-
do dessa classe se dá por meio da história marxista que privilegia a luta de classes
configurada, sobretudo, com o surgimento do capitalismo.
Trazer a figura do negro para a sala de aula consiste em repensar as seguintes
questões:
• rever a história da África esquecida ou tratada de forma incoerente e inade-
quada à realidade histórica;
• conhecer os trabalhos existentes acerca dessa temática, a fim de se ter emba-
samento teórico para argumentar nas discussões suscitadas.
O estudo e os debates gerados através da questão do negro possibilitarão aos
61
UAB/Unimontes - 1º Período
Figuras 93 e 94: ►
Telejornal e Telenovela
Fonte: Sitio Rede Noticias.
Disponível em <http://
novelas.redenoticia.com.
br/novela-salve-jorge> e
< http://www.trapo.com.
br/?p=3106 >. Acesso em
O telejornal apresenta as informações. Cada emissora de TV faz a abordagem conveniente à
31 mai. 2013. empresa e suas alianças.
Humberto Eco, citado por Bittencourt (2001), propõe alguns eixos de pesquisa para análise:
62
História - Introdução ao Ensino de História
DICA
BITTENCOURT, Circe
(Org.) O saber histórico
na sala de aula. São
Paulo: Contexto, 2001.
• Modificações introduzidas pelas novas situações nos grupos humanos. Quais exigências es-
tes grupos dirigem ao meio televisivo?
ATIVIDADE
• Quais as novas atitudes coletivas diante destes fenômenos?
• Verificar os ritmos das famílias apresentadas pela TV. Como é a organização familiar e a vida Assista a um telejornal
e analise, de acordo
doméstica? com proposta de Circe
• Quais os hábitos culturais? Bittencourt:
• Fruição de outros tipos de espetáculo (outros meios). Assistência do material:
• Hábitos gerais de consumo. Impressões primárias e
espontâneas e:
• Verifique texto, ima-
Também é importante o professor trabalhar com os alunos a questão do real, verdadeiro e gem e som; serviços,
imaginário, pois a TV deixa tudo isso muito confuso. A TV se realiza como entretenimento e se- crônica e informações.
dução, por isso exige mais preparação teórica e de metodologias do professor para alcançar o • Buscar o sentido
objetivo proposto pelo trabalho e não apenas constituir “um simples assistir”. explícito e implícito
das notícias em pauta.
Articular a notícia com
o conteúdo estudado,
5.3.2.6 Outras histórias, outras memórias e versões. valores e ideologia.
• Posicione diante do
conteúdo da notícia.
As concepções de história e historiografia hoje no Brasil propõem novas abordagens e te- Verificar o enfoque
máticas para pesquisa e estudo. Nesse sentido, o ensino de história alia teoria, conceitos e fontes dado por outros tele-
jornais. Refletir sobre a
para escrever e reescrever outras histórias e outras memórias.
notícia.
A descoberta de novas fontes e o uso de novas metodologias de trabalho, sobretudo em um • Sistematize os valores
país democrático, possibilitam novas versões historiográficas. e opiniões acerca do
Nesse sentido, com a abertura política na década de 1980 e o surgimento de pós-gradua- trabalho executado,
ções stricto sensu em História no Brasil, pesquisas trazem à tona novas histórias, outras versões a articulação com o
conteúdo estudado em
completamente diferentes daquelas trabalhadas durante o período do regime militar.
sala de aula e as formas
de recepção do docu-
mento televiso.
Referências
• Vamos levar nossa
discussão para o en-
contro presencial.
63
UAB/Unimontes - 1º Período
BITTENCOURT, Circe (Org.) O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2001.
DICA BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé. As escolas históricas. Portugal: Publicações Europa – América,
CARVALHO, José 1983.
Murilo. Tiradentes: um
herói para a República. BORGES, Vavy Pacheco. O que é história? São Paulo: Contexto, 1985.
In: A formação das
almas: o imaginário da BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.
república no Brasil. São
Paulo: Companhia das CARDOSO, Ciro Flamarion BRIGNOLI, Héctor Pérez. Os métodos da história. Rio de Janeiro: Gra-
Letras,1989. al, 1983.
PINSKY, Jaime (Org.).
O ensino da história ____. Os domínios da história. Rio de Janeiro: Campos, 1997.
e a criação de fato. In:
Por outras histórias FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. Bauru/SP: EDUSC, 1998.
do Brasil. São Paulo:
Contexto, 2001. Essas CARVALHO, José Murilo. A formação das almas: o imaginário da república no Brasil. São Paulo:
leituras são importan-
tes para que amadu- Companhia das Letras,1989.
reça intelectualmente
sobre o assunto. Divida FURET, François. A oficina da história. Lisboa/Portugal: Gradiva, 1927.
com os colegas e o
tutor no fórum sobre LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas/SP: UNICAMPI, 1994.
a contribuição desses
livros para você. BARROS, José D'Assunção. O campo histórico: as especialidades e abordagens da história. Rio
de Janeiro: CELA, 2002.
JANNOTTI, Paula Fernanda. A escola: a ideologia nos textos didáticos. 1992. (Apostila ISE/Uni-
montes)
HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
PINSKY, Jaime (Org.). O ensino da história e a criação de fato. In: Por outras histórias do Brasil.
São Paulo: Contexto, 2001.
REIS, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. São Paulo: Àtica, 1996.
64
História - Introdução ao Ensino de História
Resumo
Unidade I
A primeira unidade trata de reflexões acerca dos significados da história, desde o mundo
antigo até o mundo contemporâneo. Trabalha-se a construção desse campo de estudo como ci-
ência a partir do século XIX e as diversas correntes da história que se desenvolvem a partir do
século
XX. A unidade trata, ainda, da questão da História hoje em relação ao ensino e da história
nova, em suas dimensões de pesquisa e função social.
Unidade II
A segunda unidade trata das relações entre passado e presente e a produção do conheci-
mento histórico, estuda a história do ensino de História no Brasil, as relações entre passado e
presente, por meio das imagens. Propõe, também, a investigação dos caminhos do ensino de
história, do Positivismo ao Marxismo e inquire acerca de questões fundamentais relacionadas ao
conhecimento histórico, tais como o tempo, os homens e a obsessão pelas origens.
Unidade III
A terceira unidade pretende levar o acadêmico a responder questões muito importantes
como o que é história, para que serve a história, como compreender a história de um povo e
como produzir história.
Unidade IV
A quarta unidade se propõe a fazer uma análise crítica das competências do ensino de his-
tória. São analisadas questões fundamentais como o ensino e a aprendizagem de história; o tem-
po: dimensão da análise da história; o fato histórico; quem são os sujeitos da história, como se
constroem as interações entre tempo, fato e sujeito histórico e as concepções para a construção
do saber histórico escolar. Outro ponto importante nessa unidade refere-se à questão da atuação
profissional dos graduados em história.
Unidade V
A quinta e última unidade trata da questão da história e sua relação com o ensino, enfati-
zando as novas dimensões, abordagens e domínios historiográficos. Discute, ainda, as novas te-
máticas, entre elas a questão do livro didático, o uso dos recursos didáticos e das novas tecnolo-
gias, a questão do patrimônio histórico, cultural e artístico. Faz uma importante discussão, ainda,
da figura dos heróis e a tradição nacional, do papel das mulheres, dos negros, dos índios, dos
operários e excluídos na história, da mídia e enfoca, por fim, as novas possibilidades no campo
da história a partir da possibilidade de utilização de outras memórias e versões.
65
História - Introdução ao Ensino de História
Referências
Básicas
ANASTASIA, Carla Maria Junho; PAIVA, Eduardo França. História, imagens e textos. Belo Hori-
zonte: Dimensão, 2003.
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1983.
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Complementares
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67
UAB/Unimontes - 1º Período
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http://www.ebooksbrasil.org/eLibris
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68
História - Introdução ao Ensino de História
Atividades de
aprendizagem - AA
1) História é a ciência que
2) No limiar do século XX, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o historiador francês Ernest
Lavisse fornecia as instruções para o ensino da História aos jovens de seu tempo, das quais se
reproduz o trecho seguinte.
Ao ensino histórico incumbe o dever glorioso de fazer amar e de fazer compreender a pátria, to-
dos os nossos heróis do passado, mesmo envoltos em lendas. Se o estudante não leva consigo a
viva lembrança de nossas glórias nacionais, se não sabe que nossos ancestrais combateram por
mil campos de batalha por nobres causas, se não aprendeu o que custou o sangue e o esforço
para constituir a unidade da pátria e retirar, em seguida do caos de nossas instituições envelhe-
cidas, as leis sagradas que nos fizeram livres, se não se torna um cidadão compenetrado de seus
deveres e um soldado que ama sua bandeira, o professor perdeu seu tempo.
Com o auxílio das ideias defendidas pelo historiador Lavisse, julgue os itens que se seguem.
(1) A História é escrita pelos pesquisadores e deve ser ensinada pelos mestres com o compromis-
so de quem pesquisa e ensina as grandes questões de seu tempo.
(2) A visão excessivamente patriótica do autor expõe concepções que, no alvorecer do século XX,
entendiam que o historiador tinha como função glorificar a nação, o Estado e as instituições.
(3) O "ensino histórico", no contexto do Brasil contemporâneo, deve ser, sobretudo, um instru-
mento de combate para fazer que as armas intelectuais estejam a favor da unidade da pátria e
do amor de cada cidadão pela sua bandeira.
(4) A revolução metodológica no ensino da História tornou-a, no fim do século XX, completa-
mente racional e neutra, sem qualquer possibilidade de interferência da ideologia na teoria.
3) Por muito tempo, os historiadores acreditaram que deveriam e poderiam reproduzir os fatos
"tal como haviam ocorrido". Entre as características do conhecimento histórico que assim produ-
ziam, assinale a afirmativa CORRETA.
a) ( ) Ao privilegiarem a realidade dos fatos, os historiadores esperavam produzir um conheci-
mento científico, que analisasse os processos e seus significados.
b) ( ) Era uma história linear, cronológica, de nomes, fatos e datas, que pretendia uma verdade
absoluta, expressão da neutralidade do historiador.
c) ( ) Como se percebeu ser impossível chegar à verdadeira face do que "realmente aconteceu",
todo o conhecimento histórico ficou marcado pelo relativismo total.
d) ( ) Os fatos privilegiados seriam aqueles poucos que eram amplamente documentados,
como as festas populares e a cultura das pessoas comuns.
e) ( ) Os historiadores usavam fontes históricas bem dinâmicas como, por exemplo, os recursos
audiovisuais.
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UAB/Unimontes - 1º Período
4) Para o povo Nuer, que vive na região centro-oeste da África, "[...] o relógio diário é o gado,
o círculo das tarefas pastoris, fundamentalmente a sucessão de tarefas e suas relações mútuas.
Assim, se as atividades dependem dos corpos celestes e das mudanças físicas, estas só são signi-
ficativas em relação às atividades sociais. [...] Tudo isso é corroborado pela falta de um termo ou
de uma expressão equivalente ao vocábulo 'tempo', encontrado nos idiomas ocidentais. Desse
modo, não há como falar de tempo como algo concreto, que pode ser perdido, economizado e
assim por diante". (PRITCHARD, E. E. Evans. In: SCHWARZ, Lilia. "Falando sobre o Tempo". Revista
Sexta-Feira, n. 5, p. 17. São Paulo: Hedra, 2000.)
5) Disserte acerca desse enunciado, de acordo com o conteúdo discutido e proposto na unidade.
“Marc Ferro inicia sua difundida obra a respeito da história ensinada às crianças, em diferentes
partes do mundo, dizendo que a imagem que nós temos dos outros povos ou de nós mesmos é
associada à história que nos foi contada quando éramos crianças.”
Lana Maria de Castro Siman
“(...) os historiadores se veem no inesperado papel de atores políticos. Eu costumava pensar que
a profissão do historiador, ao contrário, digamos da de físico nuclear, não pudesse, pelo menos,
produzir danos. Agora sei que pode. Nossos estudos podem se converter em fábricas de bombas
(...). Essa situação nos afeta de dois modos. Temos uma responsabilidade pelos fatos históricos
em geral e pela crítica do abuso político-ideológico da história em particular.”
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.17-18.
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História - Introdução ao Ensino de História
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