Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Como
citar:
ATHIAS,
Renato.
Filme
Etnográfico
–
o
exótico,
o
diferente
e
o
respeito
ao
outro.
In:
Bollettin,
Paride
CONTRO-‐SGUARDI
Diálogos
de
antropologia
visual
entre
Brasil
e
Itália
-‐
Dialoghi
di
antropologia
visuale
tra
Brasile
e
Italia.
São
Paulo:
Pró
reitoria
de
Cultura
e
Extensão
Universitária
-‐
USP,
2014,
pp.
80-‐100
Filme
etnográfico
–
o
exótico,
o
diferente
e
o
respeito
ao
outro
Renato
Athias
(LAV/UFPE)
O
que
nos
interessa,
neste
texto,
é
explorar
algumas
questões
relacionadas
ao
gênero
de
documentário,
que
costumamos
denominar
de
“filme
etnográfico”.
Essas
reflexões,
aqui
colocadas,
têm
a
ver
com
o
que
chamamos
de
“estudos
de
recepção”
(principalmente
no
campo
disciplinar
da
comunicação
social),
e
estão
baseadas
na
minha
experiência
de
organizador
das
últimas
cinco
edições
do
Festival
Internacional
do
Filme
Etnográfico
do
Recife,
que
se
realiza
anualmente
na
cidade
do
Recife
no
Brasil.
Acredito
ser
interessante
relembrar
aqui,
que
esse
gênero
de
documentário
está
na
raiz
da
discussão,
iniciada
por
André
Leroi-‐Gourhan
(1948),
quando
ele
assinalava
uma
possível
definição
do
filme
etnográfico
ou
etnológico,
como
ele
o
denomina.
Ao
desenvolver
uma
possível
definição,
ele
classificou
os
filmes
documentários
em
três
categorias,
que
são
as
seguintes:
1)
Filmes
de
Pesquisa
–
“a
pesquisa
de
Cinema
é
um
meio
de”
gravação
científica;
2)
Documentário
Público
–
(o
filme
“onde
o
exotismo
está
presente”
e
que
é
uma
forma
de
filme
de
diário
de
viagem),
e
o
3)
Filme
do
“Meio
especializado”
(le
film
de
milieu)
–,
realizado
sem
uma
intenção
científica,
mas
que
assume
um
valor
etnológico,
pela
maneira
como
uma
história
é
contada,
ultrapassando
o
meio
especializado
para
o
qual
o
filme
foi
realizado.
As
definições
são
tantas
e
aqui
também
evidenciamos
aquela
de
Timothy
Asch
(1973),
que
enfatiza
o
filme
etnográfico
como
um
instrumento
de
ensino
na
antropologia.
Nesse
caso,
nós
colocamos
em
evidência
que
um
filme
etnográfico
se
situa,
justamente,
na
referência
ao
retrato
de
uma
realidade
específica,
e
na
descrição,
através
dos
movimentos
de
uma
câmara,
e
com
um
importante
elemento
reflexivo
na
composição
da
narrativa
imagética,
o
que
Vertov
(1929)
insistia
em
colocar
em
seus
filmes.
81
Na
realidade,
nós,
que
trabalhamos
nesse
campo
disciplinar
da
antropologia,
podemos
dizer
que
essas
três
características
em
conjunto
envolvem
o
que
denominamos
de
“filme
etnográfico”.
O
cinema
etnográfico
diz
respeito
às
relações
sociais
no
mundo,
e
todos
estão
de
acordo
que
Robert
Flaherty
foi
um
dos
pioneiros
do
gênero,
especialmente
com
Nanook
do
Norte,
que,
em
1922,
nos
permitiu
descobrir
os
povos
das
regiões
polares.
O
gênero
vai
experimentar
um
segundo
fôlego,
e
um
revival,
no
final
dos
anos
de
1950,
com
o
advento
das
câmeras
leves
de
16
mm.
Alguns
cineastas
irão
explorar
a
técnica
do
cinema
direto,
como
Jean
Rouch,
o
mais
famoso
deles,
e
que
está
fortemente
associado
a
essa
“Nova
Vaga”.1
Mas
será
nos
finais
dos
anos
de
1980
e
início
dos
anos
de
1990,
com
as
novas
tecnologias
digitais,
que
vai
surgir
um
interesse
muito
maior
nesse
gênero
de
documentários.
Como
diz
Jean
Rouch,
em
uma
entrevista
sobre
o
“Bilan
du
Filme
Ethnográphique”
e
a
visualização
de
filmes
etnográficos:
Au
départ
c'est
André
Leroi-‐Gourhan,
le
véritable
créateur
du
film
ethnographique,
qui
dès
1948,
avait
organisé
une
première
confrontation
des
films
ethnographiques.
Plus
récemment,
il
nous
a
semblé
intéressant
de
faire
suivre
le
Festival
du
Cinéma
du
Réel,
qui
se
tient
à
Beaubourg
et
présente
des
films
sociologiques
et
ethnographiques,
par
un
bilan
où
il
serait
possible
de
montrer
des
films
qui
n'avaient
pas
été
sélectionnés
car
“trop
ethnographiques”,
le
“Cinéma
du
Réel”
s'orientant
en
effet
de
plus
en
plus
vers
le
cinéma
documentaire.
Ces
deux
manifestations
sont
donc
complémentaires.
(ROUCH,
1986)
André
Leroi-‐Gourhan
foi
sempre
lembrado
como
1
Apenas
em
1967,
a
Unesco
publica
um
primeiro
e
um
único
catálogo
82
pioneiro
em
desenvolver
um
debate,
sob
o
ângulo
metodológico,
em
torno
do
filme
etnográfico,
e
em
geral
todos
os
que
trabalham
com
esse
gênero
de
documentário
se
referem
a
seu
artigo
germinal
sobre
o
filme
etnológico
(FREIRE,
2011,
p.
155).
Ele
reconheceu
nos
primeiros
filmes
de
Jean
Rouch
essa
perspectiva
antropológica
do
debate
em
torno
do
“outro”,
em
filmes
que
davam
uma
nova
importância
à
imagem
em
movimento,
em
sua
discussão,
e
concebidos
como
o
produto
de
uma
longa
batalha
entre
o
gesto
técnico
e
os
de
fala,
depois
de
uma
mudança
marcada
por
profundas
transformações
nas
técnicas
gerais
de
expressão.
Nos
anos
de
1950,
de
acordo
com
José
da
Silva
Ribeiro
(2007),
é
que
o
filme
etnográfico
se
torna
uma
disciplina
institucional,
com
especialistas
de
critérios
reconhecidos
(BRIGARD,
1979).
Aparecem
os
primeiros
realizadores
e
seus
primeiros
filmes,
notadamente,
Jean
Rouch,
Les
Maîtres
Fous
(1955),
John
Marshall,
The
Hunters
(1958),
Robert
Gardner,
Dead
Birds
(1964)
e
Tim
Asch,
The
Feast
(1969).
Durante
esse
período,
foram
criados
os
primeiros
programas
de
formação.
Dentre
estes,
encontra-‐se
a
criação
do
Comité
du
Film
Ethnographique,
em
1953,
por
Jean
Rouch,
Enrico
Fulchignoni,
Marcel
Griaule,
André
Leroi-‐Gourhan,
Henri
Langlois
e
Claude
Lévi-‐Strauss,
domiciliado
no
Musée
de
L’Homme
e
os
programas
de
formação:
PIEF
–
Program
in
Ethnographic
Film,
criado
em
1966
por
Robert
Gardner
e
Asen
Balicki,
na
Universidade
de
Harvard,
e
no
mesmo
ano
a
criação
do
Laboratoire
de
Audiovisuel
en
Sciences
Religieuses,
por
Jean
Rouch,
Claude
Lévi-‐Strauss,
Germaine
Dieterlen,
na
École
Pratique
des
Hautes
Études.
Marc
Piault
explora,
em
um
artigo
de
1995,
um
debate
que
me
parece
oportuno,
e
que
diz
respeito
ao
propósito
do
espaço
e
do
tempo
de
visualização;
e
o
que
ele
chama
de
“ruptura
com
o
cruzeiro
colonial”,
com
relação
à
exibição
de
filmes
etnográficos
na
Europa
até
os
anos
de
1990.
Piault
coloca
em
evidência
que:
Il
n’y
avait
plus
de
place
pour
un
cinéma
ethnologique
qui
aurait
tenté
de
rendre
compte
de
la
dynamique
et
de
l’autonomie
d’une
83
société ́
autochtone
en
même
temps
que
des
modalités
réelles
du
changement.
La
colonisation
en
état
de
marche
ne
pouvait
accepter
des
images
que
dans
la
mesure
où
elles
contribuaient
à
la
justification
de
cette
éventuelle
transition
de
la
sauvagerie
ou
de
la
simplicité ́
primitives
à
l’instrumentalisation
indigène.
(1995,
p.
14)
No
caso
do
Brasil,
e
talvez
de
outros
países,
a
década
de
1980
vai
acondicionando
por
mais
tempo
e
mais
espaço
esse
tipo
de
produção.
E
talvez
a
isso
possamos
associar
que,
na
história
da
antropologia,
nasce
uma
crítica
aos
estudos
antropológicos
vinculados
a
posturas
colonialistas.
Com
propriedade,
Faye
Guinsburg
assinala
que:
o
filme
etnográfico
na
atualidade
não
pode
pretender
(assim
como
não
pode
mais
a
Antropologia
em
geral)
ocupar
a
mesma
posição
no
mundo
que
ocupou
até
mesmo
vinte
e
cinco
anos
atrás
[...].
O
gênero
faz
parte
agora
de
um
inquietante
leque
de
imagens
provenientes
de
todo
o
planeta
e
de
uma
igualmente
complexa
diversidade
de
tecnologias
para
sua
produção
e
circulação.
(1995,
p.
74)
E,
são
justamente
os
festivais
que
colocam,
por
um
tempo
e
em
um
espaço,
esse
conjunto
de
imagens
sobre
a
alteridade
em
telas
e
compartilham,
com
outros
grupos
sociais,
uma
série
de
filmes,
narrativas
imagéticas
que
mostram
o
diferente,
o
“exótico”,
mas
sobretudo
colocam
a
possibilidade
de
que
as
pessoas
visualizem
e,
assim,
possam
se
confrontar
consigo
mesmas,
através
dessas
imagens,
que
mostram
os
outros
e
o
“exótico”.
O
filme
etnográfico
como
gênero
documental
está
presente
nas
atividades
de
antropólogos
brasileiros,
há
muitos
anos.
O
livro
organizado
por
Bela
Feldman-‐Bianco
e
Miriam
Moreira
Leite 2 :
Desafios
da
imagem.
Fotografia,
iconografia
e
vídeo
nas
ciências
sociais,
já
aponta
algumas
das
questões
2
FELDMAN-‐BIANCO,
Bela;
MOREIRA
LEITE,
Miriam.
Desafios
da
imagem.
Fotografia,
iconografia
e
vídeo
nas
ciências
sociais.
Campinas,
SP:
Papirus,
1998.
84
importantes,
no
que
se
refere
à
divulgação
do
filme
etnográfico,
especificamente
o
texto
de
Patrícia
Monte-‐Mór,
que
explora
algumas
das
questões
que
acredito
serem
importantes
nos
festivais
de
filmes
etnográficos.
E,
se
olharmos
algumas
produções
fílmicas,
podemos
perceber
que
certos
filmes
produzidos
no
Brasil,
nos
inícios
do
século
XX,
fazem
parte
de
um
conjunto
significativo
de
filmes
que
consideramos
etnográficos.
Aqui,
como
exemplos,
faço
referência
aos
filmes
e
às
fotografias
produzidos
pelo
Major
Reis
para
a
Comissão
Rondon.
Em
vários
casos,
esses
filmes
são
exibidos
em
certos
festivais,
e,
em
outros
casos,
alguns
filmes
utilizam
imagens
e
sequências
desses
filmes
em
produções
atuais
sobre
os
povos
indígenas.
No
Brasil,
talvez
o
mais
antigo
festival
(mostra)
de
filmes
etnográficos
tenha
sido
aquele
organizado
pela
antropóloga
Patrícia
Monte-‐Mór,
no
Rio
de
Janeiro,
e
que
acontece
desde
1993.
A
Mostra
Internacional
do
Filme
Etnográfico,
como
é
chamada,
é
um
festival
que
coloca
em
evidência
os
documentários
etnográficos,
tendo
foco
específico
na
diversidade
das
culturas.
É
um
festival
que
não
é
competitivo,
em
grande
parte
realizado
através
de
uma
curadoria
esmerada
e
que
certamente
aponta
a
produção
clássica,
nacional
e
internacional.
O
diálogo
entre
o
Cinema
e
a
Antropologia
é
muito
antigo,
sendo
inúmeras
as
produções
sobre
essa
relação,
algo
muito
bem
desenvolvido
no
livro
de
Claudine
de
France
(1998).
Acho
importante
ressaltar
nesse
texto
que
foi
a
partir
dos
inícios
dos
anos
de
1990
que
surgiram
os
principais
festivais
do
filme
etnográfico,
tanto
aqui
no
Brasil,
como
a
Mostra
do
Filme
Etnográfico
no
Rio
de
Janeiro,
o
Forum
Doc,
em
Belo
Horizonte,
a
Mostra
Amazônica
em
Manaus,
o
FIFER
em
Recife,
para
citar
alguns.
Fora
do
Brasil,
também
para
citar
alguns,
ressaltamos
o
Margaret
Mead
Film
and
Vídeo
Festival,
em
Nova
York,
o
Festival
Jean
Rouch,
em
Paris,
o
Festival
Etnográfico
de
Nuoro,
Sardenha,
o
Contro-‐Sguardo,
em
Perugia,
o
Festival
de
Gottingham,
na
Alemanha,
o
Festival
do
Royal
Anthropological
Institute,
na
Inglaterra,
o
Festival
Etnográfico
de
Délhi,
na
Índia.
Não
são
muitos,
porém
bastante
eficientes
em
suas
produções.
85
Assim,
o
filme
etnográfico
ou
o
cinema
etnográfico,
como
gênero
documental,
compreende
uma
vasta
gama
de
interesses
que
abarca
uma
grande
variedade
de
utilização
da
imagem
em
movimento,
sobretudo
relacionada
às
populações
humanas,
nos
seus
aspectos
de
sociabilidade
e
manifestações
culturais.
Essas
produções
colocam
em
relevo
muitos
documentos
e
até
mesmo
resultados
de
pesquisas
ainda
em
construção
ou
ainda
não
muito
bem
elaboradas.
Os
métodos
e
as
técnicas
utilizadas
no
cinema
etnográfico,
de
acordo
a
minha
experiência,
são
bastante
variados
e
estão
muitas
vezes
associados
a
tradições
teóricas
diferenciadas,
que
muitas
vezes
podem
ser
percebidas
na
exibição
de
um
filme.
Essas
produções
apoiam
as
sequências
imagéticas
na
descrição,
naquilo
que
se
pode
ver,
ou
melhor,
no
que
a
câmara
pode
captar
e
passar
de
uma
forma
descritiva.
As
imagens
funcionam
como
arquivos
sobre
um
determinado
grupo
social,
muitas
vezes
são
recebidas
e
entendidas,
por
um
público,
como
exóticas,
fora
de
um
contexto
urbano,
em
sua
grande
maioria,
criando
assim
um
grande
estranhamento.
Nesses
cinco
anos
da
existência
do
Festival
Internacional
do
Filme
Etnográfico
do
Recife
(FIFER),
podemos
perceber
nos
filmes
que
foram
exibidos
que
estes
procuraram,
em
geral,
descrever
as
técnicas,
o
modo
de
viver,
a
arte,
as
formas
de
subsistência,
os
rituais,
as
cerimônias
etc.
E
aqui,
talvez
possamos
entrar
na
primeira
questão
desse
debate:
sobre
o
que
os
festivais
de
filmes
etnográficos
querem
mostrar
através
de
sua
seleção
para
um
público
amplo,
além
da
possibilidade
de
revelar
outros
modos
de
vida,
outros
modos
de
olhar
o
mundo.
Nesse
sentido,
nos
alinhamos
a
Marc
Piault,
que
assinala
os
festivais
de
filmes
etnográficos
como
espaços
para
romper
o
olhar
“colonial”
sobre
o
outro,
permitindo
que
esse
“olhar”
possa
ser
compartilhado
com
outros.
Assim,
analisando
os
filmes
exibidos
durante
o
FIFER,
evidenciamos
dois
grandes
grupos
ou
duas
grandes
categorias
de
produções
visuais
que
foram
vistas
durante
esse
festival.
Evidentemente,
podem-‐se
organizar
em
diversas
categorias
as
centenas
de
filmes
que
o
FIFER
registrou
nesses
últimos
cinco
últimos
anos,
mas
não
convém,
nesse
momento,
ampliar
a
86
caracterização
dessas
centenas
de
filmes,
para
além
desses
dois
grandes
grupos,
tendo
em
vista
discutir
o
impacto
do
festival
em
uma
determinada
audiência.
O
primeiro
conjunto
de
filmes,
que
sem
dúvida
representa
um
número
elevado,
e
que
foram
vistos
nas
diversas
mostras
do
FIFER,
são
aqueles
documentários
produzidos
sobre
os
ameríndios,
povos
diferentes,
sobre
as
sociedades
tradicionais,
os
povos
indígenas,
sobre
os
quilombolas,
sobre
os
ciganos,
por
exemplo,
que
se
encontram
vivendo
nas
fronteiras
de
Estados
nacionais
da
América
Latina.
Essa
produção
filmográfica
talvez
seja
a
maior,
em
termos
de
número,
apresentada
em
festivais
de
filmes
etnográficos
no
Brasil,
e
foi,
até
então,
a
categoria
de
filmes
mais
inscrita
no
FIFER.
Para
muitos,
esse
grupo
de
filmes
se
enquadraria
no
que
seria,
de
fato,
um
filme
etnográfico,
uma
vez
que
os
outros
retratados
pertencem
a
outras
sociedades,
distintas
daquela
a
que
pertencemos.
Nesse
caso,
uma
parcela
do
exótico
é
apresentada
como
forma
de
ampliar
o
estranhamento,
e
poder
servir
como
espelho
para
situações
que,
nos
contextos
das
sociedades
ocidentais,
promovem
esse
tipo
de
festivais.
Esta
produção
pode
ainda
se
subdividir
em
dois
grupos,
tendo
em
vista
os
realizadores,
em
conjuntos
bem
específicos:
os
filmes,
realizados
pelos
próprios
índios
ou
quilombolas,
e
os
filmes
produzidos,
sob
uma
temática
específica,
sobre
os
índios.
Entre
esses
filmes,
o
Festival
recebeu
produções
muito
variadas.
Desde
o
filme
“denúncia”
até
uma
descrição
bem
específica
de
um
determinado
ritual
ou
prática
tradicional
de
uma
comunidade
quilombola.
Porém,
o
que
se
pode
perceber,
durante
esses
festivais,
principalmente
através
dos
filmes
que
foram
premiados,
é
que
as
produções
sobre
os
povos
indígenas,
em
que
houve
um
grande
envolvimento
da
comunidade
indígena
na
realização
do
filme,
foram
os
que
mais
interessam
às
pessoas.
Esses
filmes
são
os
que
mais
recebem
público,
e
se
pode
verificar
que
é
uma
audiência
bastante
interessada.
Nessa
mesma
categoria,
o
festival
recebeu
vários
filmes
sobre
os
povos
indígenas
de
outros
países,
o
que
nos
pareceu
muito
bom
para
ampliar
o
conhecimento
sobre
essa
alteridade,
fora
do
contexto
87
brasileiro.
O
outro
conjunto
de
produções
filmográficas,
também
muito
grande,
apresentado
nos
festivais
de
filmes
etnográficos,
diz
respeito
aos
aspectos
dos
“modos
de
vida”
da
sociedade
ocidental.
Apresentam
outros
olhares
sobre
o
cotidiano.
A
relação
entre
as
pessoas,
nos
contextos
sociais
das
cidades
ou
de
comunidades
inseridas
em
distintas
situações,
em
geral
de
grupos
em
situações
de
risco
e
marginalizados.
Esses
filmes
apresentam,
geralmente,
temáticas
muito
variadas
sobre
o
dia
a
dia
da
vida
das
pessoas,
principalmente
em
contexto
urbano.
Evidentemente,
nesse
conjunto
de
filmes,
não
deixam
de
aparecer
os
filmes
denúncia,
relacionados
principalmente
com
as
questões
ambientais.
São
documentários,
em
geral,
com
muitas
entrevistas
e
muitas
narrações.
Alguns
desses
filmes
envolvem
muito
bem
a
audiência
na
temática
apresentada;
outros
enfatizam
a
descrição
exaustiva
de
processos
que,
em
geral,
estão
desaparecendo
e
que
merecem
ser
documentados.
O
que
pudemos
perceber
durante
as
edições
do
Festival
do
Filme
Etnográfico
em
Recife
é
que
o
público,
em
geral,
associa
muito
mais
o
caráter
etnográfico
das
produções
fílmicas
a
povos
tradicionais.
E
isso
me
pareceu
ser
comum
às
diversas
audiências
do
festival,
tanto
aquela
que
se
encontra
nos
auditórios
da
Universidade,
quanto
as
outras
pessoas
que
não
têm
relação
com
ela
e
vão
a
salas
fora
dos
espaços
universitários.
Marcius
Freire
(2006,
p.
160),
discutindo
os
documentários,
apresenta
duas
possibilidades,
ao
olhar
os
documentários
pela
“linguagem”
dessas
produções,
problematizando
uma
distinção
entre
uma
“linguagem
científica”
e
uma
“descrição
literária”
muito
próxima
a
ficção.
Ele
considera
que:
a
distinção
entre
a
descrição
científica
e
a
descrição
literária
não
está,
portanto,
no
próprio
texto,
mas
em
um
status
que
lhes
é
dado
independentemente
dos
fatos
que
as
motivaram;
e
tal
status
lhes
é
atribuído
por
fatores
que
lhes
são
exteriores:
o
lugar
de
fala
do
autor;
a
crítica
especializada;
os
especialistas
em
estudos
literários,
etc.
(FREIRE,
2006,
p.
160)
88
Em
outras
palavras,
nós
podemos
dizer
que
será
exatamente
a
relação
entre
realizador/audiência
que
dá
possibilidade
de
“sentido”
à
produção
visual,
ou
que
possibilita
a
distinção
entre
as
linguagens.
As
produções
realizadas
pelos
próprios
índios,
não
só
pelo
argumento
de
autoridade,
pois
os
realizadores
são
índios,
mas
pelo
fato
de
passarem
mais
diretamente
a
mensagem,
não
intermediada,
de
um
determinado
evento
fílmico,
vão
poder
fazer
a
distinção
entre
um
documentário
e
uma
ficção.
Não
nos
interessa
entrar
aqui
nesse
debate,
mas
simplesmente
problematizar
que
será
justamente
essa
oposição
realizador/audiência
a
mais
forte
e
a
mais
importante,
nas
diversas
audiências
de
um
festival
etnográfico.
É
preciso
que
se
diga
que
não
é
o
contato
que
se
passa
na
tela,
e
na
narrativa
sonora
do
filme,
que
revela
se
o
que
se
está
assistindo
é
uma
ficção
ou
um
documentário.
A
representação
das
pessoas,
o
cenário,
a
iluminação
e
os
enquadramentos
de
uma
sequência
fílmica,
editados
por
um
realizador,
não
fornecerão
a
evidência
de
que
aquele
registro
visual
pertence
a
um
mundo
histórico
ou
a
um
mundo
criado
para
ser
filmado.
Diante
das
questões
colocadas,
eu
acredito
ser
importante
dizer
que
os
festivais
de
filmes
etnográficos
colaboram
efetivamente,
como
disse
Marc
Piault,
para
romper
com
o
discurso
colonialista
sobre
o
outro.
As
imagens
são
fortes
e
têm
o
grande
poder
sobre
as
pessoas
de
ampliar,
sobretudo,
o
respeito
pelo
outro.
Esses
espaços
de
visualização
são
praticamente
a
única
maneira
de
se
observar
essas
produções
visuais,
pois
esses
filmes
não
entram
em
programação
de
televisões
do
“main
stream”,
estando
à
margem
de
qualquer
programa,
até
mesmo
de
emissoras
públicas.
Esses
festivais
se
colocam
como
um
espaço
de
respeito,
insistindo
que
as
pessoas
deveriam
ser
vistas,
principalmente
como
fazendo
parte
de
uma
sociedade
intercultural,
onde
esse
outro
“etnografado”
ou
exótico
possa
também
ter
um
lugar
específico,
sobretudo
participar
como
protagonista
de
suas
próprias
demandas.
No
caso
do
FIFER,
sem
dúvida,
o
festival
do
filme
etnográfico
provocou
esse
olhar,
nesses
últimos
cinco
anos,
até
mesmo
no
89
âmbito
das
instituições
que
ajudam
a
promover
esses
festivais,
tornando-‐se
um
espaço
importante
para
discutir
e
entender
esse
outro
diferente
de
nós.
90
Il
film
etnografico
–
l’esotico,
il
diverso
e
il
rispetto
per
l’altro
Renato
Athias
In
questo
articolo
ci
interessa
riflettere
su
alcune
questioni
in
relazione
al
genere
di
documentario
che
siamo
abituati
a
chiamare
“Film
Etnografico”.
Queste
riflessioni
qui
presentate
hanno
a
che
fare
con
ciò
che
comprende
gli
“studi
della
ricezione”
(principalmente
nel
campo
della
comunicazione
sociale),
e
si
basano
sulla
mia
esperienza
di
organizzatore
delle
ultime
cinque
edizioni
del
Festival
do
Filme
Etnográfico
do
Recife,
che
è
realizzato
annualmente
nella
città
di
Recife
in
Brasile.
Penso
sia
interessante
ricordare
qui
che
questo
genere
di
documentari
si
situa
alla
base
della
discussione,
iniziata
da
Leroi-‐
Gourham
(1948),
quando
indica
una
possibile
definizione
del
film
etnografico
o
etnologico,
come
lui
o
denomina.
Per
sviluppare
una
possibile
definizione,
egli
ha
classificato
i
film
documentari
in
tre
categorie:
1)
Film
di
Ricerca:
“le
ricerca
è
uno
strumento
di”
registrazione
scientifica;
2)Film
Pubblico:
il
film
“in
cui
l’esotismo
è
presente
e
che”
è
una
forma
di
film
come
diario
di
viaggio;
e
il
3)
Film
di
“Ambito
Specializzato”
[Le
Film
de
Milieu,
realizzato
senza
un
intento
scientifico,
ma
che
assume
un
valore
etnologico
per
la
maniera
in
cui
una
storia
viene
raccontata
ed
oltrepassa
il
capo
specializzato
per
il
quale
è
stato
realizzato.
Le
definizione
sono
molteplici
e
evidenziamo
qui
anche
quella
di
Timothy
Ash
(1973),
il
quale
enfatizza
il
film
etnografico
come
uno
strumento
di
insegnamento
in
antropologia.
In
questo
caso
noi
sottolineiamo
che
un
film
etnografico
si
situa
giustamente
nel
riferimento
ad
una
realtà
specifica
e
nella
descrizione
attraverso
i
movimenti
di
una
telecamera,
con
un
importante
momento
riflessivo
nella
composizione
della
narrazione
immagetica,
ciò
che
Vertov
(1929)
insisteva
nel
collocare
nei
suoi
film.
91
In
realtà,
per
noi
che
lavoriamo
con
questo
campo
disciplinare
dell’antropologia,
possiamo
dire
che
queste
tre
caratteristiche
assieme
coinvolgono
ciò
che
denominiamo
Film
Etnografico.
Il
cinema
etnografico
parla
delle
relazioni
sociali
nel
mondo,
e
tutti
sono
d’accordo
che
Robert
Flaherty
è
stato
uno
dei
pionieri
del
genere,
in
particolare
con
Nanook
do
Norte,
che,
nel
1922,
ci
ha
permesso
di
scoprire
i
popoli
della
regione
artica.
Il
genere
vedrà
un
secondo
respiro,
un
“revival”,
alla
fine
degli
anni
Cinquanta,
con
l’avvento
delle
telecamere
da
16mm.Alcuni
cineasti
esploreranno
la
tecnica
del
cinema
diretto,
come
Jean
Rouch,
il
più
famoso
di
loro
e
che
è
fortemente
legato
a
questa
“Nuova
ondata”3.
Ma
sarà
alla
fine
degli
anni
Ottanta
e
inizio
dei
Novanta
con
le
nuove
tecnologie
che
sorgerà
un
interesse
molto
maggiore
per
questo
genere
di
documentari.
Come
disse
Jean
Rouch
in
un’intervista
a
proposito
del
Bilan
du
Filme
ethnográphique
e
sulla
visualizzazione
di
film
etnografici:
Au
départ
c'est
André
Leroi-‐Gourhan,
le
véritable
créateur
du
film
ethnographique,
qui
dès
1948,
avait
organisé
une
première
confrontation
des
films
ethnographiques.
Plus
récemment,
il
nous
a
semblé
intéressant
de
faire
suivre
le
Festival
du
Cinéma
du
Réel,
qui
se
tient
à
Beaubourg
et
présente
des
films
sociologiques
et
ethnographiques,
par
un
bilan
où
il
serait
possible
de
montrer
des
films
qui
n'avaient
pas
été
sélectionnés
car
“trop
ethnographiques”,
le
“Cinéma
du
Réel”
s'orientant
en
effet
de
plus
en
plus
vers
le
cinéma
documentaire.
Ces
deux
manifestations
sont
donc
complémentaires
(Rouch,
1986)
André
Leroi-‐Gourham
è
sempre
stato
ricordato
come
un
pioniere
nello
sviluppare
una
discussione
di
taglio
metodologico
a
riguardo
del
film
etnografico,
e
in
generale
tutti
coloro
che
3
Solo
nel
1967
l’UNESCO
pubblica
il
primo,
e
unico,
catalogo
di
film
92
lavorano
con
questo
genere
di
documentari
fanno
riferimento
ad
un
suo
articolo
seminale
sul
film
etnografico
(Freire,
2001:
155).
Egli
riconobbe
nei
primi
film
di
Jean
Rouch
questa
prospettiva
antropologica
della
discussione
su
“L’altro”,
film
che
davano
una
nuova
importanza
all’immagine
in
movimento,
nella
loro
discussione,
e
che
erano
concepiti
come
il
prodotto
di
una
lunga
battaglia
tra
il
gesto
tecnico
e
la
parola,
dopo
un
lungo
cambiamento
segnato
da
profonde
trasformazioni
nelle
tecniche
generali
di
espressione.
È
negli
anni
Cinquanta,
secondo
José
da
Silva
Ribeiro
(2007)
che
il
film
etnografico
diviene
una
disciplina
istituzionale
con
specialisti
dai
criteri
riconosciuti
(Brigard,
1979).
Appaiono
i
primi
realizzatori
e
i
loro
primi
film,
notoriamente
Jean
Rouch,
Les
Maîtres
Fous
(1955),
John
Marshall,
The
Hunters
(1958),
Robert
Gardner,
Dead
Birds
(1964)
e
tim
Ash,
The
Feast
(1969).
Durante
questo
periodo,
furono
creati
i
primi
programmi
di
formazione.
Tra
questi
si
trova
la
creazione
del
Comité
du
Film
Ethnographique,
nel
1953,
da
parte
di
Jean
Rouch,
Enrico
Fulchignoni,
Marcel
Griaule,
André
Leroi-‐Gourham,
Henri
Langlois
e
Claude
Lévi-‐Strauss,
presso
il
Musé
de
l’Homme,
ed
i
programmi
di
formazione:
Program
in
Ethnographic
Film,
creato
nel
1966
da
Robert
Gardner
e
Asen
Balicki
all’Università
di
Harvard
e,
nello
stesso
anno,
la
creazioen
del
Laboratoire
de
Audiovisuel
en
Sciences
Religieuses
da
parte
di
Jean
Rouch,
Claude
Lévi-‐Strauss,
Germaine
Dieterlen,
all’École
Pratique
des
Hautes
Études
–
Sorbone.
Marc
Piault
analizza
in
un
suo
articolo
del
1995
un
dibattito
che
mi
sembra
opportuno,
e
che
riguarda
lo
spazio
ed
il
tempo
di
visualizzazione,
e
che
egli
definisce
di
:
rottura
con
la
crociera
coloniale”
in
relazione
all’esibizione
di
film
etnografici
in
Europa
fino
agli
anni
Novanta.
Piault
mette
in
evidenza
che:
Il
n’y
avait
plus
de
place
pour
un
cinéma
ethnologique
qui
aurait
tenté
de
rendre
compte
de
la
dynamique
et
de
l’autonomie
d’une
société́
autochtone
en
même
temps
que
des
modalités
réelles
du
changement.
La
colonisation
en
état
de
marche
ne
pouvait
accepter
des
images
que
93
dans
la
mesure
où
elles
contribuaient
à
la
justification
de
cette
éventuelle
transition
de
la
sauvagerie
ou
de
la
simplicité́
primitives
à
l’instrumentalisation
indigène
(1995
:
14)
Nel
caso
del
Brasile,
e
forse
di
altri
paesi,
la
decadenza
degli
anni
Ottanta,
condizionerà
per
più
tempo
e
più
estesamente
questo
tipo
di
produzione.
Forse
possiamo
associare
a
ciò
che
nella
storia
dell’antropologia
nasce
una
critica
agli
studi
antropologici
vincolati
alle
posizioni
colonialiste.
Con
acutezza,
Faye
Guinsburg
segnala
che:
il
film
etnografico
nell’attualità
non
può
pretendere
(così
come
non
lo
può
fare
l’Antropologia
in
generale)
di
occupare
la
stessa
posizione
nel
mondo
che
ha
occupato
fino
a
soli
venticinque
anni
fa
[…].
Il
genere
fa
parte
adesso
in
un
inquietante
ventaglio
di
immagini
provenienti
da
tutto
il
pianeta
e
di
una
ugualmente
complessa
diversità
di
tecnologie
per
la
lor
produzione
e
circolazione
(1995:
74).
E
proprio
i
Festival
mettono,
in
un
tempo
ed
in
uno
spazio,
questo
insieme
di
immagini
sull’alterità
su
schermi
e
condividono
con
altri
gruppi
sociali
una
serie
di
film,
narrazioni
immagetiche,
che
mostrano
il
differente,
“esotico”,
ma
soprattutto
pongono
la
possibilità
che
le
persone
visualizzino
e,
soprattutto,
si
confrontino
con
se
stesse,
attraverso
queste
immagini
che
mostrano
gli
altri
e
gli
“esotici”.
Il
film
etnografico
come
genere
documentario
è
presente
nelle
attività
degli
antropologi
brasiliani
da
molti
anni.
Il
libro
organizzato
da
Bela
Feldman-‐Bianco
e
Miriam
Moreira
Leite,
intitolato
Desafios
da
Imagem.
Fotografia,
iconografia
e
vídeo
nas
ciências
sociais,
già
indica
alcune
questioni
importanti
in
riferimento
alla
divulgazione
del
film
etnografico,
in
particolare
il
testo
di
Patrícia
Monte-‐Mór
che
indaga
alcuni
temi,
che
credo
siano
importanti
nel
Festival
di
Film
Etnografici.
E,
se
guardiamo
ad
alcune
produzioni
filmiche,
possiamo
percepire
che
certi
film
prodotti
in
Brasile
all’inizio
del
XX
Secolo
fanno
parte
di
un
94
insieme
significativo
di
film
che
consideriamo
come
etnografici.
Qui,
ad
esempio,
faccio
riferimento
ai
film
e
alle
fotografie
prodotte
dal
Maggiore
Reis
per
la
Commissione
Rondon.
In
alcuni
casi
questi
film
vengono
esibiti
in
certi
festival,
in
altri
casi
alcuni
film
utilizzano
immagini
e
sequenze
di
questi
film
nelle
produzioni
attuali
sui
popoli
indigeni.
In
Brasile,
forse
il
più
antico
festival
(mostra)
di
film
etnografici
sia
stato
quello
organizzato
dall’antropologa
Patrícia
Monte-‐Mór,
a
Riod
e
Janeiro,
che
esiste
dal
1993.
La
Mostra
Internacional
do
Filme
Etnográfico,
come
è
chiamata,
è
un
festival
che
mette
in
evidenza
i
documentari
etnografici,
avendo
come
obiettivo
specifico
la
diversità
delle
culture.
È
un
festival
che
non
è
competitivo,
gran
parte
del
quale
è
realizzato
con
una
curatela
attenta,
e
che
certamente
indica
nella
direzione
della
produzione
classica
nazionale
e
internazionale.
Il
dialogo
tra
il
Cinema
e
l’Antropologia
è
molto
antico
e
sono
innumerevoli
le
produzioni
su
questa
relazione,
ben
sviluppata
nel
libro
di
Claudine
de
France
(1998).
Credo
sia
importante
mettere
in
risalto
che
è
stato
a
partire
dall’inizio
degli
anni
Novanta
che
sono
sorti
i
principali
festival
di
film
etnografico,
sia
qui
in
Brasile,
come
la
Mostra
do
Filme
Etnografico
a
Rio
de
Janeiro,
il
Forum
Doc
a
Belo
Horizonte,
la
Mostra
Amazônica
a
Manaus,
il
FIFER
a
Recife,
per
citarne
alcuni.
Fuori
dal
Brasile,
sempre
per
citarne
alcuni,
evidenziamo
il
Margaret
Mead
Film
Film
and
Video
Festival
di
New
York,
il
festival
Jean
Rouch
a
Parigi,
il
festival
Etnografico
di
Nuoro,
in
Sardegna,
Contro-‐Sguardi
a
Perugia,
il
Festival
di
Gottingham
in
Germania,
il
Festival
della
Royal
Anthropological
Insitute
in
Inghilterra
e
il
festival
Etnografico
di
Delhi,
in
india.
Non
sono
molti,
ma
sono
abbastanza
efficienti
nelle
loro
produzioni.
Pertanto,
il
Film
Etnografico
o
il
cinema
etnografico,
come
genere
documentario,
comprende
una
vasta
gamma
di
interessi,
e
abbraccia
una
grande
varietà
di
utilizzi
dell’immagine
in
movimento,
e
soprattutto
mette
in
relazione
le
popolazioni
umane
nei
loro
aspetti
della
sociabilità
e
delle
manifestazioni
culturali.
Queste
produzioni
mettono
in
risalto
molti
documenti
e
95
perfino
i
risultati
di
ricerche
i
cui
esiti
sono
ancora
in
una
fase
di
costruzione
non
molto
ben
elaborata.
I
metodi
e
le
tecniche
utilizzate
nel
cinema
etnografico,
secondo
la
mia
esperienza,
sono
molto
variati
e
sono
molte
volte
associati
a
tradizioni
teoriche
differenziate
che
molte
volte
possono
essere
percepite
nell’esibizione
di
un
film.
Queste
produzioni
appoggiano
le
sequenze
immagetiche
nella
descrizione,
i
ciò
che
si
può
vedere,
o
meglio
in
ciò
che
la
telecamera
può
captare
e
trasmettere
in
maniera
descrittiva.
Le
immagini
funzionano
come
archivi
su
di
un
determinato
gruppo
sociale,
ma
molte
volte
vengono
ricevute
e
comprese
dal
pubblico
come
esotiche,
nella
loro
grande
parte
al
di
fuori
del
contesto
urbano,
creando
così
un
grande
straniamento.
In
questi
cinque
anni
di
esistenza
del
Festival
Internacional
do
Filme
Etnográfico
do
Recife
(FIFER)
abbiamo
potuto
osservare
nei
film
che
sono
stati
esibiti
che
essi
cercavano,
in
generale,
di
descrivere
tecniche,
modi
di
vivere,
arte,
forme
di
sussistenza,
rituali,
cerimonie,
ecc.
Qui,
forse,
potremmo
addentrare
la
prima
questione
di
questo
dibattito
su
ciò
che
i
festival
di
film
etnografici
vogliono
mostrare
attraverso
le
loro
selezioni
a
un
pubblico
ampio,
oltre
alla
possibilità
di
rivelare
gli
altri
modi
di
vivere,
altri
modi
di
guardare
il
mondo.
In
questo
senso,
seguiamo
Marc
Piault
che
segnala
i
festival
di
film
etnografici
come
spazi
per
rompere
lo
sguardo
“coloniale”
sull’altro,
permettendo
che
questo
“sguardo”
possa
essere
condiviso
con
altri.
Così,
analizzando
i
film
esibiti
durante
il
FIFER,
evidenziamo
due
grandi
gruppi
o
due
grandi
categorie
di
produzioni
visuali
che
sono
state
visualizzate
durante
questo
festival.
Evidentemente
si
possono
organizzare
in
diverse
categorie
le
centinaia
di
film
che
il
FIFER
ha
collezionato
in
questi
ultimi
anni,
ma
non
conviene
in
questo
momento
ampliare
la
caratterizzazione
di
queste
centinaia
di
film
oltre
ai
due
gruppi
per
discutere
l’impatto
del
festival
sul
pubblico.
Il
primo
insieme
di
film,
che
senza
dubbio
rappresenta
un
numero
elevato,
e
che
sono
stati
visti
durante
le
diverse
mostre
del
FIFER,
sono
quei
documentario
prodotti
sui
popoli
amerindi,
96
popoli
diversi,
sulle
società
tradizionali,
i
popoli
indigeni,
sui
quilombola,
sugli
zingari,
ad
esempio,
che
si
trovano
a
vivere
alle
frontiere
degli
stati
nazionali
dell’America
Latina.
Questa
produzione
filmica
forse
è
la
maggiore,
in
termini
numerici,
presentata
nei
festival
di
film
etnografici
in
Brasile,
ed
è
stata,
fino
ad
oggi,
la
categoria
di
film
che
più
ha
avuto
iscritti
al
FIFER.
Per
molti
i
film
di
questo
gruppo
si
inquadrerebbero
in
ciò
che
sarebbe,
di
fatto,
un
film
etnografico,
perché
gli
altri
ritratti
appartengono
a
altre
società
distinte
da
quella
a
cu
noi
apparteniamo.
IN
questo
caso,
una
parte
dell’esotico
viene
presentata
come
forma
di
ampliamento
dello
straniamento,
e
può
servire
come
specchio
per
situazioni
che,
nei
contesti
delle
società
occidentali,
promuovono
questo
tipo
di
festival.
Questa
produzione
può
esser
anche
divisa
in
due
gruppi,
osservando
i
realizzatori,
insiemi
ben
determinati.
Ossia
i
film
realizzati
dagli
stessi
indigeni
o
quilombola
e
i
film
prodotti
su
una
tematica
specifica
relativa
agli
indigeni.
Tra
questi
film,
il
Festival
ha
ricevuto
produzioni
molto
variate.
Da
film
di
“denuncia”
ad
una
descrizione
ben
specifica
di
un
determinato
rituale
o
pratica
tradizionale
di
una
comunità
afrodiscendente.
Però,
ciò
che
si
può
vedere
durante
questi
festival,
principalmente
attraverso
i
film
che
sono
stati
premiati,
è
che
le
produzioni
sui
popoli
indigeni
nelle
quali
c’è
stato
un
grande
coinvolgimento
della
comunità
indigena
nella
realizzazione
del
film
sono
stati
quelli
che
più
hanno
interessato
le
persone.
Questi
film
sono
quelli
che
hanno
più
pubblico,
e
si
può
constatare
che
è
una
platea
abbastanza
interessata.
In
questa
stessa
categoria
il
festival
ha
ricevuto
vari
film
sui
popoli
indigeni
di
altri
paesi,
e
ci
è
sembrato
un
bene
ampliare
la
conoscenza
di
questa
alterità
al
di
fuori
del
contesto
del
Brasile.
L’altro
insieme
di
produzioni
filmiche,
anch’esso
molto
grande,
presentate
nei
festival
di
film
etnografici
riguarda
gli
aspetti
dei
“modi
di
vita”
della
società
occidentale,.
Presentano
altri
sguardi
sulla
quotidianità.
La
relazione
tra
le
persone
nei
contesti
sociali
delle
città
o
comunità
inserite
in
diverse
situazioni,
in
generale
di
gruppi
in
situazioni
di
rischio
o
marginalizzati.
In
generale
questi
film
presentano
temi
molto
97
vari
sulla
quotidianità
delle
persone
principalmente
nei
contesti
urbani.
Evidentemente,
in
questo
insieme
non
mancano
i
film
di
denuncia
in
relazione
principalmente
alle
questioni
ambientali.
Sono
documentari,
in
generale,
con
molte
interviste
e
molte
narrazioni.
Alcuni
di
questi
film
coinvolgono
molto
bene
il
pubblico
nel
tema
presentato,
altri
enfatizzano
una
descrizione
esauriente
di
processi
che,
in
generale,
stanno
scomparendo
e
meritano
di
essere
documentati.
Ciò
che
abbiamo
percepito
durante
le
edizioni
del
FIFER
è
che
il
pubblico,
in
generale,
associa
molto
di
più
il
carattere
etnografico
delle
produzioni
filmiche
ai
popoli
tradizionali.
Questo
mi
sembra
essere
un
tratto
comune
ai
diversi
pubblici
del
festival,
sia
di
quello
che
si
trova
negli
auditori
dell’università,
sia
delle
altre
persone
che
no
hanno
vincoli
con
l’università
e
vanno
alle
sale
esterne
all’università.
Marcius
Freire
(2006:
160),
discutendo
i
documentari,
presenta
due
possibilità
osservando
i
documentari
attraverso
il
“linguaggio”
di
queste
produzioni,
problematizzando
un
“linguaggio
scientifico”
e
una
“descrizione
letteraria”
molto
vicina
alla
fiction.
Egli
afferma:
la
distinzione
tra
descrizione
scientifica
e
la
descrizione
letteraria
non
è,
quindi,
nel
testo
stesso,
ma
in
uno
status
che
gli
è
dato
indipendentemente
dai
fatti
che
le
hanno
motivate;
e
tale
status
gli
è
attribuito
da
fattori
che
gli
sono
esterni:
il
luogo,
le
parole
dell’autore,
la
critica
specializzata,
gli
specialisti
in
studi
letterari,
ecc.”
(:
160).
In
altre
parole,
possiamo
dire
che
sarà
proprio
la
relazione
tra
realizzatore
e
pubblico
che
renderà
possibile
il
“senso”
della
produzione
visuale,
o
che
renderà
possibile
la
distinzione
tra
i
linguaggi.
Le
produzioni
realizzate
dagli
stessi
indigeni,
non
solo
per
l’autorità,
perché
i
realizzatori
sono
gli
stessi
indigeni,
ma
per
il
fatto
di
passare
più
direttamente
un
messaggio,
non
mediato,
di
un
determinato
evento
filmico,
possono
fare
la
distinzione
tra
un
documentario
e
una
fiction.
Non
ci
interessa
entrare
qui
in
questa
discussione,
ma
semplicemente
problematizzare
che
sarà
giustamente
questa
98
opposizione
realizzatore/pubblico
la
più
forte
e
la
più
importante
nelle
diverse
platee
di
un
festival
etnografico.
È
importante
dire
che
non
è
il
contatto
che
viene
trasmesso
sullo
schermo,
e
nella
narrazione
sonora
del
film,
che
rivela
se
si
ciò
a
cui
si
sta
assistendo
è
una
fiction
o
un
documentario.
Non
saranno
la
rappresentazione
delle
persone,
lo
scenario,
l’illuminazione,
e
le
inquadrature
di
una
sequenza
filmica
editata
da
una
realizzatore
che
daranno
l’evidenza
che
quel
registro
visuale
appartiene
a
un
mondo
storico
o
ad
un
mondo
sviluppato
per
essere
filmato.
Di
fronte
alle
questioni
che
abbiamo
posto,
credo
sia
importante
dire
che
i
festival
di
film
etnografici
collaborano
effettivamente,
come
disse
Marc
Piault,
a
rompere
il
discorso
colonialista
sull’altro.
Le
immagini
hanno
un
grande
potere
sulle
persone
per
ampliare,
soprattutto,
il
rispetto
verso
l’altro.
E
questi
spazi
di
visualizzazione
sono
praticamente
l’unica
maniera
di
vedere
queste
produzioni
visuali,
perché
esse
non
entrano
nella
programmazione
delle
televisioni
main
stream,
situandosi
ai
margini
di
ogni
programma,
anche
delle
televisioni
pubbliche.
Questi
festival
si
collocano
come
uno
spazio
di
rispetto,
insistendo
che
le
persone
dovrebbero
essere
viste
principalmente
come
parte
di
una
società
interculturale,
dove
questo
altro
etnografato
o
esotico
possa
avere
anche
un
suo
luogo
specifico,
e
soprattutto
possa
partecipare
come
protagonista
delle
sue
proprie
domande.
Nel
caso
del
FIFER,
senza
dubbio,
ha
provocato
questo
sguardo,
negli
ultimi
cinque
anni,
perfino
all’interno
delle
istituzioni
che
aiutano
a
promuovere
questi
festival
ed
è
diventato
uno
spazio
importante
per
discutere
e
comprendere
questo
altro
diverso
da
noi.
99
Bibliografia
100