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8 - A Entrevista em Psicoterapia Breve Operacionalizada.

Psicoterapia Psicanalítica:- um prazo determinado requer uma ou


duas entrevistas iniciais, porque o dinamismo será desvendado com o
andamento das sessões.

Psicoterapia Breve Operacionalizada:- sua duração exprime um


paradoxo:- requer um longo e pormenorizado trabalho de entrevista, isso
porque para planejar a psicoterapia breve o terapeuta, precisa:-

a) De um minucioso exame para detectar as situações-problema


b) Determinar se há uma situação-problema inicial e qual
c) Compreender quais as conexões entre as mesmas
d) Através das histórias pregressas, desde a infância conseguir formular
algumas conjecturas sobre prováveis padrões psicodinâmicos que se
cristalizam sob a forma de complexos inconscientes, influindo nas soluções das
situações-problema pregressas e atuais.

Uma entrevista desenvolve-se pelos seguintes passos:-

1) Queixa:- dificuldades ou sintomas que levaram o sujeito a procurar


ajuda.

Não direcionar perguntando nome, trabalho, etc, porque o ponto de


urgência emocional do paciente está naquilo que o trouxe para a consulta –
deixar o paciente falar sobre a sua queixa.

2) Anamnese:- História e evolução das queixas:-

a - Quando começaram

b - O que as faz piorar ou melhorar

c - O que estava acontecendo no período circunstancial. (aqui já é


possível a investigação:-
* da interação dos fatores externos atuais (f/e)) com os fatores internos
(f/i)

* qual a intensidade possível dos fatores tensionais (f/t), fatores


defensivos (f/d) e suas interações

* o que incrementa ou dificulta a adequação das soluções às situações-


problema.

3) História Pregressa do Paciente:- busca de acompanhamento,


desde a infância das relações e acontecimentos significativos da história do
paciente; indagação pormenorizada do passado do paciente nas varias fases
de sua vida.

a - Fazer conjecturas:

* quais fatores que colaboram para uma solução , ou contribuem para


soluções inadequadas , das situações - problema

* Quais fatores externos interferiram para as mesmas soluções.

b - Daí podem surgir pistas para elaborar as conjecturas psicodinâmicas


que serão formuladas como interpretações teorizadas:

- Articulando as soluções às (s/p) do passado, suas motivações


psicodinâmicas subjacentes (seja por soluções adequadas ou inadequadas)
será às vezes possível descobrir os padrões de soluções.

- Padrões de Soluções:- Resultados das interações entre complexos


inconscientes; soluções que se estabeleceram na infância e na adolescência e
se repetem através da transferência, utilizando as situações externas para
satisfazer hora ao ID, hora ao superego .
- A capacidade adaptativa do sujeito interagindo com as oportunidades
ambientais do passado, pode ir perpetuando esses padrões de soluções das
S/P, e talvez, influindo nas demais.

4) Interrogatório Complementar:- Investigar em quais outras áreas


haveria sintomas ou dificuldades.

a- Às vezes a queixa é menos relevante do que os achados


complementares. Podem ser necessários outros procedimentos, como na
clínica médica:- a solicitação de exames ou a consulta de outros especialistas
para definir o diagnóstico global.

Exemplo:-

Testes de Inteligência para esclarecer se há ou não deficiência mental


quando a queixa estiver ligada à Pr – mau aproveitamento escolar ou
ocupacional.

Testes Projetivos para indícios de traços psicóticos ocultos.

Testes Vocacionais para a orientação de um adolescente.

Consulta a um neurologista ou psiquiatra para verificação de possíveis


componentes orgânicos – lesões cerebrais; intoxicações.

Clínico Geral para esclarecimento de distúrbios psicossomáticos.

b - Afora os procedimentos gerais para entrevista em psicoterapia breve


operacionalizada (PBO), interessa detectar as situações-problema por setor de
adaptação (A-R), (Pr), (S-C) e (Or).

- É através do rastreamento das s/p que a PBO se organiza e executa.


- No adulto, geralmente as s/p já possuem um histórico de s/p
precedentes que quase funcionam como uma fatalidade, ou destino psíquico,
por assim dizer, que nos permitem às vezes até prever os próximos passos dos
pacientes.

- No adulto, geralmente as s/p já possuem um histórico de s/p


precedentes que quase funcionam como uma fatalidade, ou destino psíquico,
às vezes nos permitindo até prever os próximos passos dos pacientes.

A solução inadequada do passado predispõe a soluções inadequadas do


futuro. O somatório das perdas, frustrações e arrependimentos (ou fugas de
responsabilidade) que as acompanham geralmente são uma inclinação para a
depressão.

Adaptativamente - A depressão pode ser aguda quando a perda é


recente; ou crônica, quando ocorre uma superposição cumulativa

Psicanaliticamente – o sujeito realiza soluções inadequadas porque


possui uma fixação na posição depressiva, criando uma disposição masoquista,
uma necessidade de fracasso como punição por uma culpa persecutória
inconsciente.

A teoria da adaptação ajuda e entender como se dá o encadeamento


pelo qual o sujeito realiza soluções inadequadas (tratamento de um por que
operacional, processual).

A teoria psicanalítica explica a causa das soluções inadequadas


(dinâmico inconsciente).

O trabalho na PBO utiliza ambas as linhas teóricas para integrar, o


como e por que são “escolhidas” as situações inadequadas.
Ao fazer a entrevista em PBO, então, logo após o conhecimento da
queixa (1º passo) o entrevistador prossegue com a anamnese (2° passo) para
conhecer as s/p que deram origem às soluções inadequadas. Com isso ele faz
um rastreamento do início do processo até o presente - define qual o setor
adaptativo considerado e se há uma inter-relação setorial entre os setores
(A-R, Pr, Or, Pr.). A seguir vem a inadequação sobre a história no passado do
paciente, desde a infância, soluções inadequadas cuja importância no presente
ele ignora.

O interrogatório complementar é muito importante - A falta dele pode


trazer surpresas desagradáveis, como o encontro de soluções inadequadas
importantes que às vezes comprometem o andamento da psicoterapia.

Exemplo:- Emprego pouco remunerado do paciente que mal dá para


pagar algumas sessões de psicoterapia; Alguma doença que desaconselha a
sua atividade sexual.

Com esse último passo, se fecha o panorama das s/p passadas e atuais,
quais as soluções adequadas ou inadequadas que foram realizadas e como se
articulam no presente para compor as queixas. Também é de grande valia, os
achados do interrogatório complementar.

Uma simples leitura, não habilita o leitor a ser um competente


entrevistador:- é necessário participar de grupos de estudo e supervisões.

Algumas recomendações técnicas para auxiliar o entrevistador a


vislumbrar o campo da entrevista em PBO e suas complexidades mais
evidentes.

1) Uma entrevista psicológica é um processo angustiante para o paciente


(e para o entrevistador).
Algumas angústias são observadas logo no primeiro contato e podem ser
lidadas com recursos suportivos.

Exemplo:- Se o paciente vem à entrevista por imposição (esposa,


médico, autoridade) ___ assegurar ao paciente o sigilo ético-profissional.

2) Medo de ser considerado louco ___ esse temor provavelmente se


assenta sob um autodiagnóstico inconsciente gerado no superego ___
assegurar que o leigo desconhece a psicopatologia e tende a exagerar nas suas
percepções últimas ___ o realmente louco não reconhece a sua condição ___
esse reasseguramento aumenta a confiança do paciente no terapeuta e
fornece a emergência de material mais intimo que o paciente reluta em
revelar.

3) Alguns pacientes não possuem suficiente contato consigo próprio para


comunicar um material que “deveria” fluir por si só:- Nesses casos, é
necessário que a partir do ponto que o paciente sente não ter mais nada a
dizer; o entrevistador conduza a entrevista. Nesses casos, para que não haja a
exacerbação da angústia e a preservação da colaboração do paciente seja
mantida a melhor técnica a ser usada é um percurso têmporo – espacial =
proceder no espaço afetivo da periferia para o centro; do mais distante
afetivamente para o último (dos sentimentos mais amenos para os mais
intensos); do passo mais remoto para o presente.

Exemplo:- das relações sexuais da infância, para a adolescência e


destas para as do adulto. Dos setores de adaptação à sequência menos
ansiogênica é:- S-C para Or e Pr para A-R.

4) O setor A-R é o mais difícil de se abordar na entrevista, devidos às


suas implicações emocionais ___ Se o paciente não se refere diretamente na
queixa de dificuldades com os familiares é possível que no interrogatório
complementar ele se saia com evasivas.
Exemplo:- Se a queixa é com a esposa e não existem no momento
queixas com familiares da infância, costumam surgir fórmulas prontas:-

“Tudo bom”. O relacionamento é bom. Meu pai é legal, etc. Sem


esclarecer de que modo é “ser distante”; “ser submissa” e como esse modo de
ser influenciaram na relação com o paciente.

___ Para poder desenvolver uma compreensão da dinâmica subjacente


atual são imprescindíveis dados sobre as relações da infância, abrangendo
pais, irmãos e outros parentes ou pessoas próximas (avós, tios, empregados
que tiveram contato afetivo prolongado com o paciente).

Pedir descrições de situações vividas no passado ajuda formar melhor


juízo dos relacionamentos reais.

Ficando atento para comunicações não verbais – envelhecimento, surdez,


olhos marejados, voz embargada, gaguejar, lapsos de memória, atos falhos,
confusões – obtém-se pistas sobre a importância de eventos passados e que
ainda possuem significados emocional de relativa intensidade, mais sobre os
quais os pacientes não tem geralmente consciência.

5) Não se deve, tomar notas durante a entrevista, pois o principal nela é


o contato emocional com o paciente, o uso da empatia ou uso da intuição, que
realmente permite compreender, em nível consciente e inconsciente as
dificuldades do entrevistado.

O fato de tomar notas introduz um fator de angústia persecutória: a


fantasia de que o que esta sendo escrito pode ser usado para conhecimento de
outras pessoas alheias aquela situação confidencial.
Os temas mais importantes para serem abordados no interrogatório
complementar poderão ter uma referencia a partir dos quadros de itens
referentes aos aspectos mais importantes da avaliação de adequação, por
setor adaptativo, constantes no capítulo 3 ( Escala Diagnóstica Adaptativa
Operacionalizada e sua aplicação) do livro Psicologia Clinica Preventiva.

Entrevista diante de situações-problema ocultas:-

Situações-problema ocultas:- O paciente compreende a consulta com um


quadro clínico sintomático (sintomas psíquicos ou orgânicos ou ambos):- Mal
sabe dizer quando iniciaram e menos ainda quais os fatos antecedentes que
poderiam ter alguma relação com essas situações sintomáticas.

___ Freud:- admitia um rigoroso determinismo psíquico, referindo-se a


causalidade intrapsíquica oculta nas associações livres do paciente.
Associações estas, que de livre só tinham a aparência, porque eram sempre
guiadas por determinações inconscientes, ainda que envoltas por elaborações
complexas que dificultavam a compreensão de sua origem no reprimido; e que
adequadamente elaboradas pelo analista deixavam antever sua origem. Assim,
quando o entrevistador defronta-se com uma situação destas pode conjecturar
que o paciente apresenta uma forte dissociação entre consciente e
inconsciente (que, geralmente, ocorre no quadro que Freud chamou de
“histórias de angústia”) e, por essa razão, não consegue estabelecer relações
entre situações vividas e sintomas.
O entrevistador baseado no pressuposto da causalidade poderá
pacientemente esmiuçar os acontecimentos ao redor do momento em que os
sintomas apareceram ou exacerbaram, se já tinham surgido previamente
dando pistas para uma possível reprodução no presente; uma investigação
minuciosa possivelmente trará dados que permitam iniciar uma probabilidade
causal.

O entrevistador deverá ter muito tato para não angustiar ou irritar o


paciente. Ele não deve participar, sugerir ou induzir o paciente a revelar uma
teoria que por enquanto só está na mente do terapeuta.

Se o fizer poderá encontrar o que previamente havia forçado o paciente


a aceitar e não terá descoberto nada; apenas criará uma falsa causalidade que
lhe custará tempo para desfazer (se é que conseguirá) e ao paciente trará
dissabores desnecessários.

Situação-problema oculta:

- sintomas psíquicos e orgânicos

- não consegue relacionar o início dos sintomas a nenhum fato ocorrido


em sua vida

- dissociação entre consciente e inconsciente

- conflito agudo e intolerável (solução do ego é empurrá-lo para o


inconsciente :livra-se do conflito mas continua perseguido por suas
consequências)

O Trabalho de Entrevista em PBO exige bastante estudo e supervisão


porque tem a ver com o lançamento dos alicerces do processo psicoterápico:-
se estes não estabelecem de maneira sólida, todo o edifício pode ruir e, assim,
provocar efeitos desastrosos.
Sem sacrifício a humildade não se chega à construção profissional
consistente.

___ Pista sobre os possíveis dinamismos inconscientes que originaram


as soluções inadequadas ou adequadas às s/p:- é o encadeamento das
soluções passadas com as atuais, auxiliando a formular conjecturas para
apoiar as interpretações teorizadas a serem utilizadas no desenvolvimento da
PBO.

Resumo da busca do histórico das situações-problema durante a entrevista.

Quando Quem Como Por quê


Dados Pessoas Forma de Conjecturas
relevantes desde o relevantes no atendimento das sobre as relações
nascimento. relacionamento necessidades, inconscientes do
passado e atual. desejos e emoções. paciente com figuras
introjetadas no
passado e no
Fornecem presente
pistas sobre:-
origem, evolução e Fornecem Fornecem
repetição das pistas sobre:- padrões sobre os
soluções. pessoas que modos de
favoreceram ou soluções:- às sp Fornecem
dificultaram pistas sobre (f/Oi +)
soluções (f/Oe+) e e ( f/Oi
-)

-) contratransferências
(f/Oi
e transferências

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