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CENTRO DE HUMANIDADES - CH
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPINA DE METODOLOGIA DA PESQUISA HISTORICA I
PROFESSORA: PROF. DR. FRANCISCO JOSÉ GOMES DAMASCENO
FORTALEZA
2015
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A pesquisa aqui proposta nesse projeto tem como objetivo analisar o processo de
construção identitária no cristianismo do século IV, tomando destaque para a identidade do grupo
das virgens ascetas, que fora sendo produzido pelos autores e lideres cristãos ao longo dos
tempos, dando enfoque especial em Macrina, uma virgem capadócia que, junto com sua mãe
Emélia de Cesareia, fundaram um retiro para virgens em Anési, próximo ao rio Íris, na região do
Ponto (ZIERER, 2013, p. 307). Essa pesquisa tem a intenção de fomentar os estudos das relações
de gênero sobre os cristãos antigos, entendendo uma série de nuanças contextuais que
fundamentaram a construção dos discursos dos conhecidos Pais da Igreja. Para isso utilizaremos
a biografia Vida de Santa Macrina, onde o autor e irmão da biografada Gregório de Nissa faz
uma descrição dessa virgem e “toda” a sua vida, além de algumas obras do Nisseno que
contribuam para analisar essa identidade forjada e moldada de Macrina e a identificação desta
com grupo de mulheres ascetas.
Macrina foi uma virgem que nasceu em Cesaréia por volta de 325, filha mais velha de
Emélia e Basílio, o Idoso. Sua família pertencia a um alto segmento da aristocracia helenizada da
Ásia Menor que prontamente aceitou o cristianismo. Sua avó Macrina, a Velha sofreu com a
grande perseguição do imperador Diocleciano. Gregório, por sua vez, nascera em 335, e se
tornou bispo de Nissa, com a ajuda de seu irmão Basílio de Cesareia (330-379),
aproximadamente em 371 d. C. Sua família é bastante conhecida na Igreja oriental, muitos deles
se tornaram santos da igreja, inclusive Macrina.
A vida de Macrina está descrita na sua biografia que fora produzida poucos anos depois
de sua morte. Gregório escreve a vida dessa virgem a pedido do Monge Olímpio e a ele destina
essa carta-biografia, porém Marotta (1989) descreve em nota explicativa de sua tradução da obra
que nos manuscritos apresentam nomes diferentes: “Ierio, Olimpio, Eutropio, Cesario”. Vida de
Macrina é um texto um tanto incomum no meio das outras produções do Nisseno, pois é
desprovida de polêmicas filosóficas ou discussões teológicas (MAROTTA, 1989. p. 5). É uma
biografia em formato de carta, que apesar da estrutura epistolar, ultrapassou o tamanho comum,
de acordo com ele próprio:
A forma desse volume, se alguém pode julgar pelo título, é aparentemente epistolar, mas
este volume excede o de uma carta, estendendo como faz na extensão de um livro.
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Minha apologia deve ser que o assunto no qual tu me ofereceste escrever é maior do que
pode ser condensado nos limites de uma carta. (GREGÓRIO DE NISSA, Vida de
Macrina).
Posterior ao édito de tolerância religiosa, assinado em Milão no ano de 313, pelos dois
Augustos do império romano, Constantino do lado ocidental e Licínio do lado oriental, passando
a considerar o cristianismo religio licita para que se pudesse tratar dos assuntos cristãos em pé de
igualdade com os pagãos (VEYNE, 2010, p. 17), pondo fim de vez ao período de perseguições.
Ações cuja família de Gregório também vivenciou. A partir daí a realidade dos cristãos mudou,
eles não tinham tanto que se preocupar com os ataques externos, mas agora com os embates
internos. Dito em outras palavras, não havia um único direcionamento e uma organização
funcional específica, mas várias tendências interpretativas da missão de Jesus, vários
cristianismos que ficaram registrados na história como heresias. Os problemas levantados pelas
várias tendências inquietavam os religiosos da igreja de Roma, que se denominava católica
(universal em grego). Assim, o grupo de religiosos que defendeu a primazia de Roma se
organizou e se dizia representante da verdadeira ortodoxia cristã porque representava o poder
universal que a cidade ocupava como dirigente de um grande império. Passaram então a formular
alguns dogmas e apologias sobre as grandes questões do cristianismo. Uma das grandes questões
que ganharam destaque em alguns textos cristãos foi a questão da ascese da alma, ou seja, a
procura de uma elevação espiritual.
As mudanças ocorridas nos séculos III e IV, a perseguição dos cristãos no século III, as
invasões bárbaras e a conversão de Constantino, constituíram-se em panos de fundo para
a formação e desenvolvimento do ascetismo cristão. Longe das perseguições e dos
martírios, homens e mulheres tentaram encontrar na ascese individual a perfeição
exigida anteriormente dos cristãos em tempos difíceis. Decidiram viver longe do mundo
do qual eles faziam parte em busca da mais perfeita santidade por meio de seu sacrifício
individual, um auto martírio. (SIQUEIRA, 2004, p. 186.)
neste período que tentou-se formular um ideal de mulher ascética, em que fora apresentado uma
gama de regras comportamentais as mulheres cristãs, para que essas se distanciassem das práticas
mundanas e se ligassem ao divino.
A nossa escolha pelo século IV se dá pelo fato de processos relatados na fonte estarem
sendo descritos desde o início do século, mas a obra em si fora copilada na década de 380, não só
a biografia, mas outras obras que também serão analisadas. Gregório não deixa explícito
nenhuma data específica, mas compreendemos que o processo de composição da identidade de
Macrina e do grupo em que ela é identificada está muito ligado a processos longos
principalmente se considerarmos a memória como fonte para essa descrição identitária, por vezes
externos, isso implica numa série de analises de relações que também não se delimitam e um
pequeno espaço social. As redes de interações entre os pensamentos cristãos ultrapassam
fronteiras, mas com o intuito de delimitar o nosso recorte, escolhemos pela região da Ásia Menor,
que atualmente concentra parte do território turco. Contudo, entendemos que é necessário, para a
execução da pesquisa, problematizar o nosso objeto para podermos ser mais diretos e objetivos.
2. Problematização e justificativa
Os estudos sobre as identidades cristãs vêm crescendo bastante nos últimos anos no Brasil
dentre estes os que observam as relações de Gênero estão ganhando espaço no meio acadêmico.
Tais estudos são importantes para perceber, através dos pensamentos dos primeiros cristãos, as
características desse período, as origens e as bases do cristianismo, as diferenças e semelhanças
da mentalidade ocidental atual. Como ponto principal desse estudo tentar-se-á perceber e analisar
como se deu a identificação da imagem de Macrina com o grupo das mulheres cristãs que se
dedicavam à vida religiosa, tentando perceber, também, a construção, ou mesmo uma
reconstrução, de uma identidade cristã de ideal ascético feminino e o entendendo como parte de
uma rede de relações em um período de várias transformações políticas, sociais e religiosas.
Esse contexto social é de extrema importância, por isso um dos grandes problemas que
levantamos é onde estava inserido o discurso de Gregório de Nissa, em que campo filosófico
cristão. O cristianismo desse período passava por um processo de produção de uma identidade
com o intuito de ser única, por isso, nesse período muitos debates teológicos ocorreram, além de
uma série de concílios dentre os quais Gregório participou de alguns, tudo isso para produzir
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dogmas e apologias sobre as questões da fé cristã, ou seja, uma identidade cristã. Como dito,
várias formas de encarar os ensinamentos de Cristo surgiram e a Igreja de Roma logo procurou
barra-los formulando uma identidade oficial do grupo, que passará a ser apresentada no discurso
de muitos padres, inclusive do próprio Nisseno. O próprio discurso da Igreja Romana estava num
contexto social e isso também deve ser trabalhado, principalmente a partir da bibliografia.
Contudo, mesmo sabendo que os homens é quem detinham o poder da escrita, será que
realmente existia uma relação de dominação absoluta dos homens? Essas mulheres tinham
alguma importância? Qual o motivo de Gregório escrever sobre sua irmã e posiciona-la dentro do
grupo das seguidoras do estilo de vida da virgindade? Eles eram irmãos, ou seja, da mesma
família, isso traria alguma diferença sobre a imagem da família, algum prestígio? Essas são
algumas das tantas perguntas que surgem quando estamos trabalhando com uma visão de
terceiros. Gregório apresenta Macrina, não apenas nessa obra, como “mestre” (ho didáskalos)
com o termo no masculino, em outros momentos a descreve como “a virgem” (parthénos). Assim
como em um trecho um tanto intrigante na biografia dela que diz: “Nesse caso, foi uma mulher
que nos forneceu o nosso assunto; se de fato, ela devia ser uma mulher de estilo, eu não sei se é
conveniente designá-la pelo seu sexo, a quem ultrapassou tanto o seu sexo” (GREGÓRIO DE
NISSA, Vida de Macrina). Dando a entender que o sexo feminino não é digno de Macrina, por
isso esta ultrapassou a sua condição natural, e é assim que as relações de gênero entram nessa
discussão.
mulher na sociedade. Outro grande debate é quanto à ordenação feminina nos dias de hoje, tanto
na Igreja Católica, quanto as Protestantes mostram, em seus grupos mais conservadores,
discordância com a ordenança feminina, por vezes baseiam-se nas suas ideias atuais sobre os
antigos cristãos. O estudo aqui proposto tende a problematizar a ideia de opressão masculina
absoluta e indistinta de recorte espaço-temporal. Tentando juntar-se aos outros trabalhos sobre
essas relações, trazendo uma visão de que muitas mulheres ocupavam posições dentro da Igreja.
Como o problema central desta pesquisa é analisar o modo em que se deu a construção da
identidade de Macrina por parte de seu irmão Gregório de Nissa, faz-se necessário também
perceber a importância e a relação da memória para a construção dessa identidade. Por isso é
muito importante analisarmos atentamente para o pano de fundo dos escritos do Nisseno. O
próprio escritor deixa-nos claro que a construção de seu texto tem bases em uma memória
individual dele:
Nosso interesse por ela não foi baseado na narrativa de outros, mas nossa conversa foi
uma descrição acurada daquilo que aprendemos pela experiência pessoal, nem precisava
ser autorizada por estranhos. Nem mesmo a referida virgem era desconhecida no nosso
círculo familiar para fazer necessário aprender as maravilhas da sua vida através dos
outros, mas ela veio dos mesmos pais que nós sendo então que falaremos da primeira
fruta ofertada, porque ela foi a primeira nascida do útero de minha mãe. (GREGÓRIO
DE NISSA, [s.d.], p. 2).
livro da professora Adriana Zierer (2013) se toma como base e até mesmo inspirador dessa
pesquisa, por trabalhar sobre essa obra específica de Gregório, porém não se aprofundara tanto.
Portanto, ver-se que além de possível é necessário estudarmos sobre o cristianismo antigo,
sua multiplicidade e especificidades. E um estudo sobre Gregório de Nissa e Macrina é
importante para percebermos as relações de gênero no cristianismo, além de ver a posição e a
importância da mulher no período. Tentamos somar uma discussão sobre as relações de gênero a
um grupo de estudos que tem muito a crescer.
3. Objetivos
3.1. Geral
Analisar o processo de representação identitária e de identificação de Macrina feita por
Gregório de Nissa, entendendo-a dentro de um contexto mais amplo do discurso cristão.
3.2. Específicos
Com o intuito de dar suporte às análises que pretendemos fazer sobre a construção
identitária de Macrina e o grupo das virgens cristãs do século IV e V estabelecemos um quadro
teórico onde discutiremos os principais conceitos que serão utilizados nesta pesquisa, tentando
levantar o tão necessário dialogo interdisciplinar.
Os estudos que trabalham com o conceito de identidade estão largamente centrados nas
sociedades contemporâneas, mas é evidente que este não está preso em uma masmorra temporal,
pode ser trabalhado em outros contextos, porém é necessário devida atenção na utilização desse
conceito. Essa centralização do conceito nesse período tem, em essência, o seguinte argumento:
As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em
declino, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui
visto como um sujeito unificado. A assim chamada "crise de identidade" é vista como
parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e
processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que
davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. (HALL, 2000, p. 7).
Para ilustrar a importância da “crise da identidade” Woodward nos apresenta uma citação
de Mercer onde este afirma que a identidade só se torna um problema quando está em crise
(WOODWARD, 2008, p. 19). Contudo, em meio a esses argumentos sobre a utilização do
conceito de identidade, que se dá basicamente no contexto de qualquer mudança histórica que
possa gerar sensação de deslocamento, argumentamos se essa “crise da identidade” é
exclusividade da modernidade. As mudanças culturais ocorridas no império romano entre os
séculos III e VI, cujo abalou a noção do “eu”, não seriam uma crise? O processo de cristianização
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da sociedade romana, a nosso ver, abalou decisivamente as identidades, tanto coletivas como
pessoais, formando uma nova sociedade romana, nova não no sentido de criada, mas de recriada.
Alguns indivíduos que vivia no império romano projetavam a partir de seus escritos e da
oralidade suas características identitarias, a procura de uma legitimação para o grupo que mais
tarde seriam chamados de cristãos.
Para Stuart Hall o sujeito de identidade unificada e estável está se tornando fragmentado
na pós-modernidade. Esse sujeito assume identidades diferentes e em diferentes momentos (Hall,
2000, p. 12-13). Ou seja, o sujeito assume uma multiplicidade de identidades, às vezes
contraditórias. Ele divide as noções sobre identidade em três concepções: Sujeito do Iluminismo,
sujeito sociológico e sujeito pós-moderno. Na primeira, o sujeito é um indivíduo totalmente
centrado, unificado, cujo o centro constitui um núcleo onde o indivíduo nascia com ele e mesmo
com o desenvolver deste esse núcleo permanecia o mesmo. E esse centro era a identidade da
pessoa. Na concepção do sujeito sociológico, essa identidade era formada pela interação dos
indivíduos com “outras pessoas importantes para eles” e era a partir da “interação” entre o eu e a
sociedade que são construídas as identidades. Na terceira concepção, o sujeito é tido como não
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tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. Essa seria a noção de identidade para os
sujeitos pós-modernos.
No plano das ideias, Macrina poderia ter múltiplas identidades, porém a documentação
disposta a nós não nos permite analisarmos tal perspectiva. Os textos que nos apresentam sobre
ela é produzido por terceiros, e tem uma finalidade própria. Desta maneira, a identidade forjada
que temos de Macrina é uma identidade sólida, unificada, de acordo com Woodward, essencial,
ou seja, tendo um centro essencial, imutável. Pois no contexto em que está sendo produzida e de
acordo com as possíveis intenções de Gregório, uma Macrina de múltiplas identidades, poderia
não fazer surtar efeitos da maneira esperada.
ganharam espaço na historiografia, tanto como sujeitos como objetos, dando, assim, margem para
a elaboração de um grupo de estudos históricos que ficaria conhecido por História das Mulheres.
E alguém com forma e brilho mais esplêndido que um ser humano apareceu e dirigiu-se
à criança que ela estava carregando pelo nome de Thecla, que Thecla, eu quero dizer,
que é tão famosa entre as virgens. [...] Mas parece-me que a aparição não fala tanto para
guiar a mãe para a escolha certa do nome, mas para prever a vida da jovem criança e
para indicar pelo nome que ela deveria seguir o modo de vida do nome. (GREGORIO
DE NISSA, Vida de Macrina, p. 3).
Ainda nesse percurso tomamos o conceito de Gênero o qual tomaremos por base as
discussões levantadas por Scott (1995). Correntemente essa categoria é entendida como o estudo
das relações sociais entre homens e mulheres. Nos estudos sobre as relações de gênero “as
identidades masculina e feminina são construções sociais e culturais que impõem aos sexos
condutas, práticas, espaços de poder e anseios diferentes.” (SILVA, K. V.; SILVA, M. H., 2010,
p. 166). Esse conceito permite-nos entender o processo de forjamento da identidade de Macrina, a
partir de uma percepção mais atenciosa, pois é um escrito feito por um homem. Com isso,
podemos analisar a visão masculina sobre uma mulher, cabe lembrar que quando observadores,
na sua maioria, os homens acabam construindo uma imagem feminina reduzida ou ditada por
estereótipos. E essa imagens femininas “nos dizem mais sobre os sonhos ou os medos dos artistas
do que sobre as mulheres reais. As mulheres são imaginadas, representadas em vez de serem
descritas ou contadas” (PERROT, 2008, p. 17). Assim, entendemos que no processo de
elaboração da imagem de Macrina, Gregório apresenta-nos os ideais esperados de uma mulher,
ou melhor, uma virgem cristã dos séculos IV e V.
Por último, acredito ser necessário salientar novamente que a História Cultural e as
discussões por ela levantadas são tidas como essenciais para a produção desse estudo. Devido a
todas as mudanças ocorridas ao longo do tempo neste campo historiográfico, hoje é possível
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elaborarmos trabalhos que estejam preocupados com as identidades femininas. Portanto, nosso
trabalho se encaixa nesse grupo de estudos históricos.
Esse trabalho pretende analisar a identidade de Macrina produzida por Gregório de Nissa,
assim percebendo como esse discurso se alinha com os ideais ascéticos propagados no
cristianismo, principalmente entre os séculos IV e V, que, por sua vez, está produzindo uma
identidade própria em meio a sociedade romana.
Para a execução desse trabalho utilizaremos algumas obras de Gregório de Nissa. Como
principal fonte, temos Vida de Macrina, uma biografia, onde o autor descreve a vida de sua irmã,
não apenas dela, mas também de algumas pessoas que viveram com ela, como sua mãe, seus
irmãos e algumas mulheres que viviam no retiro administrado por ela. A obra foi produzida
pouco tempo depois da morte de Macrina, mas especificamente entre os anos de 380 e 383.
Além desta obra, é nosso objetivo analisar a retratação da santa em outras obras, mesmo
com caráter secundário, como Dialogos com Macrina sobre Alma e Ressureição, onde o bispo de
Nissa apresenta o resultado do último diálogo com sua irmã, na ocasião da sua visita a Anési logo
depois da morte de seu irmão Basílio. Nessa obra, Macrina será descrita como mestre (ho
disdáskalos) com o termo no masculino e Gregório mostrará o fruto dos ensinamentos de sua
irmã e “mãe”. É comum afirmar a existência de paralelos entre o diálogo A Alma e a ressureição
com o Fedón platônico e Gregório faz uma explícita e desejada analogia de Macrina com o
Sócrates do Fédon (SANTOS, 2011, p. 28).
Temos também o intuito de analisar algumas das cartas de Gregório que resistiram ao
tempo, como por exemplo, a carta 19 intitulada To a certain John especially on Macrina do livro
de Anna M. Silvas, Gregory of Nyssa: the letters (2007), onde ela traduz algumas cartas do
Nisseno. Nessa carta ele também descreverá Macrina, mas de forma mais resumida. O
interessante é a maior proximidade da morte de sua irmã, já que provavelmente fora escrito no
mesmo ano do falecimento desta.
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E para entender mais sobre o contexto da fala de Gregório, tomaremos El Tratado sobre
la virginidad (2000) em que ele descreverá o comportamento das virgens. Essa obra é
considerada a primeira das suas produções, por volta de 371, mesmo antes de ser bispo de Nissa.
Essa obra fez de Gregório conhecido sobre o assunto da virgindade e ascetismo. Assim, ao nosso
ver, esse trabalho expõe muito os traços do pensamento filosófico e teológico do autor, dando um
embasamento do posicionamento dele sobre o ideal de comportamento feminino.
Nesse trabalho tentaremos justapor, combinar e cruzar as fontes documentais para uma
melhor análise do pensamento de Gregório de Nissa, focando nas questões relativas ao
comportamento feminino, tentando perceber a construção da identidade do grupo das mulheres
virgens ou daquelas que se entregaram ao estilo de vida ascético, tomando em especial o caso de
Macrina. Também acreditamos ser necessário sair de um texto para outro texto, sair da fonte e
mergulhar no referencial em que se insere o objeto estudado (PESAVENTO, 2003, p. 65).
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Analisar a bibliografia sobre o assunto no contexto estudado é necessário, pois entendemos que o
pensamento do Bispo de Nissa está bem posicionado no seu tempo. Por fim, acreditamos ser
possível o estudo aqui proposto, e o faremos norteados por um cronograma, para garantir a
execução e a sua organização estratégica.
Cronograma
Leitura Bibliográfica X X X X
Tratamento das
X
informações coletadas
Redação do Texto I
X
(Cap. 1 e 2)
Redação do Texto II
X
(Cap. 3, Intr. e Conc.)
Revisão do Texto X
Defesa de Monografia X
Bibliografia
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
15
PERROT, Michelle. Minha História das Mulheres. São Paulo: Contexto, 2008.
______. Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Col. Oficinas da
História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PESAVENTO, S. J. História & história cultural. 2ª Edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade.
Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995, pp. 71-99.
SILVA, Gilvan Ventura da(Org.). Conflito cultura e intolerância religiosa no Império
Romano. Vitória: GM Gráfica e Editora, 2008.
SILVA, T. T; WOODWARD, K.; HALL, S. Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos
Culturais. Petrópolis: Vozes, 2008.
SIQUEIRA, Silvia Alves Marcia. A mulher na visão de Tertuliano, Jerônimo e Agostinho séc.
II – V d. C. Tese de doutorado. Faculdade de Ciências e Letras – UNESP – Assis, 2004.
VAINFAS, Ronaldo. Casamento, Amor e Desejo no Ocidente Cristão. São Paulo: Ática, 1992.
VEYNE, Paul. A Sociedade Romana. Lisboa: Edições 70, 1993.
______. Quando o Nosso Mundo se Tornou Cristão [312-394]. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010.
16
ZIERER, Adriana. Vida de Macrina: santidade, virgindade e ascetismo feminino cristão na Ásia
Menor do século IV. In: Da ilha dos bem-aventurados a busca do santo Graal: uma outra viagem
pela Idade Média. São Luiz: Editora UEMA, 2013.
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Martins Fontes: São Paulo, 2007.