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O MÁRTIR DO GÓLGOTA
Introdução
Devia anunciar-se a sua vinda com grandes e assombrosos
ass ombrosos
acontecimentos, e assim sucedeu.
Os ímpios idólatras do Olimpo do Homero, os adoradores
sensuais de Venus,
dos ladrões, a prostituta,
os corrompidos e de Mercúrio,
cortezãos o deus
do Capitólio,
definhavam em languidez nos braços da indolência e do
amor.
Aquela paz inalterável enchia-os de admiração, e um dia dia
foram ao templo consultar o oráculo de Apolo para
saberem quanto tempo ela duraria.
O oráculo respondeu-lhes estas palavras: “Até que se dê o
caso de uma Virgem dar à luz”.
Julgando, segundo a ordem natural, que seria impossível
que semelhante vaticínio sucedesse, colocaram esta
inscrição na elevada porta: “Templo da paz eterna”.
Entretanto, a sibila Cumeia, a poetisa, inspirada, predizia a
vida de Cristo na cidade ímpia dos sibaritas. Otávio
Augusto fez reunir o conselho e a profetisa foi interrogada.
O César queria saber se nasceria outro homem mais
Do Oriente chegavam alguns idólatras, que depositavam aos
pés de um berço a primeira pedra do cristianismo.
cristi anismo.
A voz do anjo despertou nas suas cabanas os pastores, e
êstes achavam-se junto de um leito aos pés do qual ia
morrer o mundo pagão.
O escravo, sacudindo os grilhões, lançou um olhar em tôrno
de si e permaneceu com o ouvido atendo, até que a
sua fisionomia se foi animando pouco a pouco, e um sorriso
melancólico assomou aos seus lábios.
Despontava-lhe no coração a esperança; os grilhões caiam
despedaçados aos seus pés, porque estas palavras
pronunciadas por Deus: “Todos somos irmãos” haviam
chegado aos seus ouvidos.
Reuniram-se então os desgraçados em volta de Jesus Cristo,
que, qual pastor das almas, atravessava a terra para
11
Sim, assassinei-o, porque assim devia fazê-lo: a navalha que
me vendeste foi o instrumento de que me servi.
Agradeço-te em nome
te as vinte onças de meu pai, e em meu
romanas. meu nome entrego-
1O onocrótalo é o corvo noturno dos hebreus e dos gregos. Têm nas fauces outro
estômago qu enche depois de farto para ruminar a carne nos
momentos de fome. O seu pio é triste e horrível; às vezes com o pescoço na
água imita o zurrar do onago.
12
Cumpriu
Parece-mea palavra, disse Abadon,
que poderemos dirigindo-se
tirar proveito aos seus.
deste rapaz.
CAPÍTULO VII
O BATISTMO DE SANGUE
Dimas, medianamente instruido, nas Escrituras sagradas
por um rabino, amigo inseparável de seu pai, tinha a
vantagem
vantag em de ssaber
aber ler
ler e escrever
escrever o h hebreu
ebreu ccom
om bastante
bastante
correção.
Então os bandidos aconselhavam Dimas abandonar o seu s eu
nome que nenhuma significação divina tinha entre os
hebreus, e tomar outro que expressasse uma condição
celeste ou honrosa para aquele que o usasse.
Todos os sentimentos como um filho,fi lho, gritava um bandido:
ponhamo-lhe o nome de Davi2, que é o nome que lhe
corresponde. Não, não, dizia outro. Jeová enviou-o para o
meio de nós, e portanto deve chamar-se Samuel 3.
Dimas ouvia com o sorriso nos lábios as contendas dos seus
companheiros, e acabava por convencê-los que o
nome posto pelo pai era melhor e o único que devia trazer
um filho.
Dimas conheceu que para conseguir seu intento era preciso
deixar correr o tempo e os acontecimentos, ou
rodear-se de nova gente por conseguinte resolveu esperar
melhor ocasião.
Uma noite os bandidos souberam pelos seus esculcas que
uma caravana que conduzia a Jerusalém preciosas
mercadorias de Tiro, havia acampado em um barranco das
cordilheiras de Jope.
Abadon tratou
tratou de a assaltar,
assaltar, e saiu da inace
inacessivel
ssivel gguarida,
uarida,
seguido dos seus terríveis companheiros.
1Pe nt ate uc ho, palavra grega que significa cinco volumes e que são: o Gê ne s
is, o E
livro quexoosdosamaritanos
, o Le v ític oveneram,
, o s N úmetendo-o
r o se ocomo
D e ute r o no
divino mio . Éúnico.
e como o único
2 Ama d o
3Posto por Deus
13
Sem as formosas brisas da noite, sem a viração perfumada
do zéfiro noturno, o mundo seria um árido deserto,
um paramo inabitável.
Os salteadores deslisavam de rocha em rocha em direção ao
ponto indicado pelos esculcas. Seria meia noite
quando se detiveram no cume de um outeiro.
Uriés, que era o mais conhecedor do terreno, separou-se
dos companheiros para explorar as cercanias do outeiro,
pois segundo os seus cálculos, a caravana devia achar-se
acampada por aqueles sitios.
- Que há? Disse-lhe secamente o capitão aoa o vê-lo chegar.
- Isso talves seja apreensão tua, atalhou outro bandido.
- Tenho bons olhos; já sabes que me engano poucas vêzes...
mórmente de noite.
- Nada tem de singular, tornou a dizer Abadon, que em
alguma cidade dos arredores se tenha reunido um ou
para o nosso capitão como trofeu de vitória, exclamou
Dimas cheio de ardor.
- Tens razão: desçamos à planície, repôs o velho capitão.
Os romanos não podiam fazer mais que bater-se até morrer,
e assim o fizeram. Porém as suas mortes deviam
custar caro aos samaritanos.
A lua, sempre clara e formosa, alumiou, com os seus dúbios
esangue
poéticos
emraios aquele
que seis combate,
homens aquela
haviam cenaodo
exalado último alento
e seis ficado gravamente feridos.
14
Já o dia ia bem adiantado quando chegaram ao monte
Hebal. A poucos passos da entrada subterrânea os
bandidos detiveram-se.
- Que devemos fazer aos camelos? Perguntou Uriés
dirigindo-se a Dimas, como se êste fosse o chefe da
quadrilha.
Descarregai-os e, em seguida,
lado do mar, daí-lhes a voz de voltai-lhes
marcha e quea cabeça
vão para o
18
A mulher hebreia purificava-se solenemente no templotemplo
oitenta dias depois do parto, oferecendo
o ferecendo no altar
sagrado um cordeirinho branco ou duas rolas, sendo pobre,
ou uma côroa de ouro, sendo rica.
Ana criou
criou Maria ao peito,
peito, porque Judá as mães tin
tinham
ham a
obrigação de amamentar os filhos.1
CAPÍTULO II
A VIRGEM DE SION
the phl l i ns4 ,tale t5 em respeito aos anjos do santuário.
1 Em todos os livros da Escritura não se encontram senão três amas: a de
Rebeca, a de Mefibosél e a de Joás. Deve notar-se que Rebeca, a espôsa de
Isaac, era estrangeira; e os outros princípes
Te phili m, pequeno pedaço de pergaminho, sôbre o qual os fariseus escreviam
com tinta feita de próposito versículos da Escritura, colocando-o
depois no braço direito ou ao meio da testa. Estava isto muito em voga no
tempo de Cristo e era um sinal de distinção. (Bernage, Hist. dos Judeus,
livro VII, cap. VII
5Tale t, manto quadrado que os judeus levavam para fazerem a oração, e com
o qual cobriam o rosto.
19
pecadores.
“O senhor reinará em todos os séculos: o teu Deus, ó Sion,
reinará em todas as gerações”.
1Sacrificador ordinário
2 Nos quatros cantos do altar dos holocaustos havia quatro pilares pequenos e
ocos, por onde se via o sangue das vítimas. Eram estes os c o r no s do
altar em que
3Besnage tanto
afirma quefala a Sagrada
para o simplesEscritura.
sacrifício (de
Hist. dos Judeus
um cordeiro )
empregavam-se
dezoito sacrificadores
4Os judeus não se serviam nem do sôpro da boca, nem de foles para acenderem
o fogo do altar; excitavam a chama derramando óleo sôbre os
carvões acesos. – (Hist. dos Judeus)
5Território de Nauplus (Turquia asiática) único bosque d’onde se tirava a lenha
para os sacrifícios. – (Correspondên
Correspondência
cia do Oriente, tomo IV)
6Gran sacerdote hebraico e descendente de Sansão, que morreu ao saber que os
filisteus se haviam apoderado da Arca santa, no ano de 1112 antes de
Cristo.
7Enquanto o pontífice dava a benção, o povo era obrigado a tapar dos olhos com
as mãos, afim de não vêr a mão do sacerdote, cousa que não era
permitida. Os judeus imaginavam que Deus estava atrás do sacerdote, e os
olhava através das suas mãos estendidas, e não se atreviam a levantar os
olhos para êle, porque ninguém pode vêr Deus e viver ao mesmo tempo.
(Besnage, liv VII)
8Esta oração é a mais antiga de tôdas as que os judeus conservam; alguns
escritores respeitáveis afirmam que estava em uso antes de Cristo, e que os
Apóstolos a adotaram com preferência na Sinagoga.
20
Maria permaneceu no templo de Salomão até aos quinze
anos, sendo modêlo de virtude e santidade entre as suas
companheiras.
Fio da Virgem1 formosa até ao deslumbramento, e que
a teria adorado como a um
Deus, se não soubesse que havia um só.
Santo Epifânio, no século IV, descreve-a deste modo: “A sua
estatura era mais que mediana; a tez, levemente
Na pura e imaculada urna, que encerrava o seu espiríto,
haviam-se reunido tôdas as perfeições que o Eterno pode
conceder à criatura.
- Cobre a cabeça com o teu manto, e segue-me
- Para onde, senhor?
-suspiro
No seuda
leito de Jeová
vida. morteoestá
estáum homem para
chamando exalando o último
a casa
festividades
dizia: Nossaum estandarte
Senhora, com uma Virgem e uma legenda que
a rica.
2 As azeitonas na Palestina são de um verde azulado.
3O sepulcro chama-se entre os judeus a “casa dos vivos”, para mostrar que a
alma imortal aind vive depois de se separar da matéria. – (Besnage, liv
VII, cap. XXIV)
4Túnica de luto de lã de camelo
21
Zacarias, espôso de Isabel e pai de S. João Batista, o
Precursor de Cristo, foi o tutor que Joaquim escolheu para
sua filha na hora da morte.
CAPÍTULO III
O ANEL DE OURO
Moisés disse: “Quem não deixar descendência em Israel,
será maldito”.
Por conseguinte, a lei obrigava Maria a tomar esposo.
Qual de
entre os deuses é semelhante a ti, ò Eterno?
Estas cousas eram a esperança do povo Israelita desde que
os assírios, derrotando-o com suas vencedoras
legiões, o levaram cativo para as margens do Eufrates.
22
z uc e s1 ,
Neste lugar assinava o marido e as testemunhas, e em
seguida continuava o contrato. “Maria consentiu em ser
espôsa de José, e de própria vontade, conforme os seus bens,
ajuntou à soma anteriormente indicada oitocentos z uc e s2 .
Depois desta cerimônia deram-se louvores ao Deus de
Israel, sendo no fim abençoados os dois esposos por um
sacerdote, que representava o pai de Maria.
24
Antes de transpôr os humbrais dos ricos parentes da rosa de
Nazaré, diremos duas palavras a respeito do pai de
S. João Batista. Ouçamos o que diz Ataulfo da Saxônia,
referindo-se ao texto de S. Lucas:
Até aqui! Ataulfo da Saxônia.
- Eu sou velho, minha espôsa também. Como poderei saber
que é verdade o que me dizes?
Os olhos do enviado de Jeová despediram um raio de luz
celestes, que foi ferir a língua do incrédulo.
Isabel lançou-se nos seus braços dizendo:
- O Deus de Jacó ouviu as minhas súplicas. Sou mãe! Sou
mãe! Sinto nas minhas entranhas o germen de um
CAPÍTULO V
A PAZ SEJA CONTIGO
A jovem e formosa viajeira, montada n’a modesta burrinha
e rodeada de algumas boas mulheres, que com ela se
dirigiam para as montanhas da Judéa, abandonou em uma
manhã a pátria adotiva.
1Segundo o que estabelecera Davi, os sacerdotes judáicos estavam dividios em
24 turnos, cada um dos quais servia no templo uma semana. Cada
turno estava subdividido em sete partes. Zacarias era dos turnos de Abia. –
(Prid Hist. dos Judeus)
25
Kar avanse re y
via sanguinária
A virgem viu chegar a nobre anciã com o semblante alegre
alegre e
cheio de felicidade, e inclinando para o chão a
fronte, disse com doçura:
- A paz seja contigo!1
Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do
teu ventre!
rinoceronte; porém
o qual consumia segundo
todos oTaalherva
os dias mu dde
dos judeus
dez é o touroque
montanhas, primitivo,
tornavam a
cobrir-se de nova vegetação durante a noite para o alimentar. Êste touro, no
dia do juízo, será comido pelos fiéis em um banquete presidido pelo Messias
que, segundo êles, deve vir ainda salvá-los.
26
“Então, à imitação do Salmista, a Virgem Santa convidava a
natureza inteira a bendizer com Ela o Criador. Nas
suas excursões através dos prados comprazia-se na
contemplação das flôress, que encontrava ante os seus
passos.
par aiz os
profeta e mais que profeta
O vinho das colinas de Engahdi, que o mordomo do
príncipe dos sacerdotes guardava em cubos de pedra,
circulava em ricas taças que os criados enchiam com
semblante alegre.
Maria, tão sóbria no seio da abundância como no da
mediania, contentava-se com algumas frutas, um pouco de
pão, e um copo de água da fonte deNa pht oa .
Assim decorreram
decorrera
para a idosa m três
Isabel umameses, d
durante
urante
filha terna os quais Maria
e solícita. Maria foi
27
O EDITO DO CÉSAR
28
José adorou os misteriosos decretos do Eterno, e vendo em
Maria, a mãe do futuro Redentor, envergonhou-se
das suspeitas que concebera.
ímpio império
- Nada de bom pode sair da Galiléia, haviam dito as
Escrituras.
E os profetas designavam Belém de Judá como o lugar
destinado ao nascimento do Messias.
K ar avanse r ay
k aravanse r ay
CAPÍTULO VII
O BERÇO DO MESSIAS
1 A época da vinda de Cristo não é dogma: é sómente o seu nascimento. A
multidão de autores que escreveram sôbre este assunto, discrepa de
2Os jumentos da Palestina são de notável beleza.
29
Belém, terra imortal, cidade santificada, desperta do teu
sono, porque está a amanhecer o dia, e uma multidão de
dromedários trepa pela tua suave encosta.
Os cavalos árabes, esporeados pelos cavaleiros
luxuosamente vestidos, relincham e caracolam,
manifestando
assim o fogo do seu sangue e a pureza da raça.
- A paz seja contigo, bom velho, disse José saudando o judeu.
- Que queres?
- Minha espôsa e eu vimos escrever os nossos nomes no
livro de Cesar; somos de Nazaré, e pedimos-te por
E voltando grosseiramente as costas a José, pôs-se a falar
afávelmente com um romano, cujo cinturão de ouro e
30
- Não cabes aqui, galileu, respondiam-lhe os inopistaleiros
inopi staleiros
habitantes de Belém.
E José, tornava a suplicar, e as suas súplicas eram
desatendidas.
. Os dois esposos deram graças ao céu por lhes ter
deparado aquela asilo selvagem; e Maria apoiando-se ao
braço de uma
formava José,espécie
foi sentar-se sôbreestreito
de assento uma pedra nua que
e incômodo.
Pouco a pouco seus olhos foram acostumando-se à
obscuridade que os rodeava ; e então viram que não
estavam
sós. Um boi manso e tranquilo ruminava pausadamente
pa usadamente os
últimos restos do seu jantar.
José colocou a jumentinha junto ao boi, em seguida
estendeu o manto de peles aos pés da Virgem, e sentou-se
s entou-se
sem descerrar os lábios.
Maria, a imaculada nazarena, a filha de Davi, a imortal
senhora nossa, deu à luz naquele miserável presépio, sem
31
CAPÍTULO I
OS PASTORES
Algumas choças humildes agrupadas pelo amor na raiz de
um monte indicavam ás peregrinas caravanas que
aquilo era uma povoação. Esta povoação chamava-se o povo
dos Pastores.
Era o mês de dezembro, e o curso das estrêlas marcava meia
noite.
- Má profissão é a do pastor, velho Sof, quando se tem que
estar de vela em uma noite como esta.
- Tens razão, mancebo, respondeu o velho sem levantar a
cabeça; porém Abraão foi pastor e era melhor que nós;
e isso deve consolar-te.
- Porém, êsse patriarca criava a lã dos seus rebanhos para
seus filhos, enquanto que nós só trabalhamos para
pagar o tributo a Cesar e alimentar os vícios dos ímpios
romanos que, em má hora, invadiram nossa terras.
- Os romanos, que Jeová confunda, riem-se dos sofrimentos
dos judeus, disse outro pastor intervindo na
conversação.
- Como para êles não somos mais que um bando de
escravos...
- Ai dos ímpios romanos! Ai dos torpes adoradores do
sombrio Molok e da lúbrica Venus, se o Messias
prometido desce dos céus a salvar os filhos de Israel da
escravidão!...
E ao pronunciar estas palavras, nos olhos da ancião na
expressão do seu semblante, via-se algo extraordinário e
profético.
- Muito tarde, o Messias, bom velho, atalhou outro pastor.
E, entretanto, o sanguinário Herodes trata-nos como
cães e ri-se da nossa dôr e das nossas esperanças.
- Respeitemos os decretos e desígnios de Jeová.
- Melhor seria se todos os israelitas corressem a unir-se com
os bandos de homens livres da montanha para
expulsarem os estrangeiros de Judá.1
CAPÍTULO V
OS PEREGRINOS
O nascimento de Jesus foi um grito de alarme as divindades
pagãs. Só Deus podia conseguir tão imenso triunfo.
Só da Deus era dado arrancar do coração do homem a
peçonhaextratar
Vamos que o erro nele havia
algumas introduzido.
das suas estrofes, servindo-nos da
tradução do abade Orsini. Dizem assim:
“Sôbre as montanhas solitárias e ao longo dos murmurantes
ribeiros, só se escutam pranto e lamentos. O gênio
vê-se forçado a afastar-se dos vales que habitava no meio
dos pálidos choufos”.
Por fim os reis Magos, depois de treze dias de viagem, viram
ao longe os altivos minaretes, as galhardas torres e
as fortes muralhas de Jerusalém.
Perto do caminho que seguiam murmurava a clara corrente
de uma fonte e os ilustres viajantes detiveram-se. A
uma voz do chefe do comboio os o s dromedários deitaram-se
no chão e os reis apearam-se.
Então quatro escravos africanos estenderam uma rica
alfombra de pano fino recamado de ouro sôbre a fresca
erva, e, sentando-se nela dos Magos, serviram-lhe em
delicados cestinhos de palmas saborosas tâmaras e
enroscados
40
mich mich, frugal
encarregados almoço dos orientais.
dos dromedários deram a Outros escravos
estes a sua ração de
favas secas.
De repente e quando mais tranquila se achava a luxuosa
caravana dos reis, Gaspar pôs-se em pé e exclamou com
assombro:
O estrêla, a estrela desapareceu!
Melchior e Baltazar levantaram-se, apantando da boca as
frutas que lhe iam levar as mãos. A estrêla tinha
desaparecido entre as flutuantes nuvens que se moviam
sôbre a cidade tributária.
43
Herodes nunca conseguiu a metamorfose que se propunha
levar a cabo. Esparta nunca teria tido Atenas, ainda
que todos os tiranos do mundo lhe houvessem proposto. O
Gólgota estava destinado a Jesus Cristo; Delfos a Apolo.
................
....................................
.........................................
........................ .........................................
.........................................
.....................
Entremos no palácio de Herodes, e, atravessando alguns
salões, nos achamos num aposento luxuosamente
adornado. Num leito de marfim, estendido sobre fôfas
almofadas de pano de grã, acha-se o rei de Jerusalém.
Ambos guardam silêncio, como se temessem interromper a
silenciosa imobilidade do monarca.
Por fim Herodes levanta-se um pouco sôbre os almofadões.
Aquele movime
movimento nto exe
executado
cutado p pelo
elo senhor
senhor põe em pé
os esposos favoritos que lhes assistem.
E depois, dirigindo a palavra a seu cunhado, continuou:
Salomé, pegando então num frasco de prata, derramou
algumas gotas numa taça do mesmo metal e foi apresentá-
la a seu irmão, dizendo:
- Isto te sossegará, meu irmão.
O enfermo pegou na taça e, depois de lançar um olhar para
o líquido que lhe apresentavam, disse com voz
pausada:
- Bem sei que tu não me farás mal, porque me queres e teu
esposo também: vós sois a minha única família; eu
desejo pagar-vos os vossos serviços; veremos.
E bebeu o contéudo da taça num só trago.
- Mas meus filhos, que estão em Roma continuou, porque
não sacrificam de boa vontade uma galinha preta no
altar de Eucalápio para que eu recobre a saúde?
- Teus filhos, disse Aleixo com gravidade, acercando-se do
leito do enfermo, em vez de anelarem o teu
restabelecimento, acusam-te ante o César Augusto.
44
Um sorriso infernal lhe passou pelos lábios ao dizer estas
palavras. Depois percorreu com a vista as linhas
varinha misteriosa?
Prostarem-se ante o Filho de um pobre operário três
poderosos reis do Oriente, no tempo da vinda de Jesus
Cristo, era tão inversossímil, tão portentoso, como esgotar o
Oceano à força de braços e converter o deserto de Saara
num vergel
poderia frondoso
levar dasportentosa
a cabo tão margens do Eufrates! Só Deus
transformação. Só o
Filho
de Deus podia conduzir junto do seu berço, com os pés
descalços e o pó na fronte, Gaspar, Melchior e Baltazar.
Postos de joelhos ante Jesus, os potentes reis adoraram o
recém-nascido como os príncipes do Oriente
Ori ente adoravam
então os seus deuses e soberanos.
51
Abriram os ricos cofres que levavam e tiraram para
depositar aos
perfumes pésdo
árabes deIemem.
Messias, ouro puro de Ninive a granel e
- Tu és o Messias prometido... Tu és o meu Deus, o teu
glorioso nome cravar-se-á no meu coração eternamente e
murmurando estas palavras.
- O Messias nasceu; Jeová apiedou-se por fim dos
descendentes de Jacó; creio nele e hei de adorá-lo enquanto
viver.
Esta revelação foi feita em sonhos, segundo o Evangelo, e no
dia seguinte os discípulos de Zoroastro deram
graças
as Aquele
praias cujas tenda
infecundas está
do lago no sol,, e
Maldito emencontrarem
para vez de tomarem
B e m-bui e r
de cor negra ou escura,
: que do Oriente havia de nascer a fé verdadeira do
Messias anunciado pelos profetas.
CAPÍTULO IV
A ANCIÃO E A PROFETISA
52
Simeão o homem justo
-deuses.
-
- -
José terminada a cerimônia prescrita pela lei, saiu do
templo e, reunindo-se com a sua santa Espôsa, abandonou a
cidade sacerdotal, e, tomando o caminho de Galiléia,
dirigiu-se a Nazaré.
CAPÍTULO
O BOSQUE V HOSPITALEIRO
Ainda o eco misterioso da divina relevação soava nos
ouvidos de José, quando precipitadamente chegou à porta
do quarto de dormir de sua Espôsa e lhe disse com voz
agitada:
- Maria, desperta e deixa o teu leito, pega em teus braços o
inocente Menino e prepara-te para fazer uma viagem
- Entra, José, e não temas: Jesus sorri, e o seu sorriso é
como o arco-iris da tarde que dissipa
dissi pa as carregadas
nuvens.
54
- Deus manda-nos executar o que te disse, tornou o ancião.
- Partamos, pois, e do céu Jeová vele por nós durante a
viagem, disse Ma
Maria
ria com santa
santa resignação.
resignação.
Trindade da terra
- Ouviste, Maria? Perguntou a Virgem.
- Ouço, murmurou Maria, assim como o ruído de armas e
passos de cavalos, no extremo oposto deste vale.
- Sim, para a montanha, pelo caminho romano que conduz
-àsSão
ribeiras de Efa;
romanos, talvez sejam
murmurou José;comerciantes decompreendo
ainda que não
bem as palavras, creio que cantam a canção do
famoso gladiador.
Maria não despregou os lábios; só pensava em seu Filho,
que apertava carinhosamente ao seio. A voz ia-se
ia -se
aproximando e pouco depois as brisas do campo levaram
até aos ouvidos da Santa Família a canção romana.
Cessando a voz, as patas dos cavalos ouviam-se a pequena
distância.Os fugitivos mal respiravam. Um momento
depois, os capacetes
cavaleiros brilhavam.romanos e as lanças trácias dos
- O dia está belo, lhes disse; subi comigo para que vosso
Filho aspire o ar puro da montanha.
Os hóspedes seguiram Dimas, admirando-se da
benevolência do bandido. Dimas, fascinado ante o olhar de
Jesus, não apartava os olhos daquele formoso Menino.
-muros
Aquelas
sãoovelhas
nossa; eque tranquilamente
aquele cordeirinhopastam
branco àcomo
sombra dos
leite de sua mãe é teu; eu te dou para te lembrares da
hospedagem que te ofereceu o facínora dos montes de
Samaria.
- Se és bom, se no teu coração ainda não se extinguiu o
amor aos desgraçados, porque não abandonas esta vida
de sobressaltos e crimes, que pode conduzir-te à perdição?
57
- Tua morte será gloriosa... e morrerás comigo.
Trinta e dois anos depois, Cristo, sôbre o Calvário,
recompensava com estas palavras a caridade hospitaleira do
Bom Ladrão:
“Hoje, estarás comigo no Paraíso”.
A tradição sobre que baseamos a lenda que precede, diz diz
assim:
CAPÍTULO VII
A CARAVANA
58
Cristo), e desde então as suas torres derruídas servem de
assento a seus pacíficos habitantes quando, nos ardentes
mêses
de canícula, vão respirar a brisa da tarde à sombra das suas
belas palmeiras.
Dimas tinha cumprido a palavra, porque um branco
cordeirinho começava a saltar junto de Maria, a qual, com
doce e maternal solicitude, mostrava a seu Filho o presente
do bandido.
- Maria, lhe disse José, depois de terminar o trabalho: Deus
quis conduzir-nos sãos e salvos à porta do deserto;
Deus nos tirará a salvo das terríveis solidões que vamos
atravessar em breve.
CAPÍTULO I
OS FILHOS DA VESTAL
Uma esperança animava ainda o vingativo coração do
assassino de Mariana: era que seu filho não lhe havia
noticiado definitivamente a evasão dos caldeus.
-rei
Gostaria muito,como
tão poderoso exclamou o adolescente,
o nosso que tu fosses um
aliado Otaviano
Augusto.
O Idumeu sorriu-se. O menino inocentemente tinha
afagado um desejo que Herodes teria realizado até à custa
da
sua honra.
- Povo valente, eu te saúdo e venero, o teu nome ficará
gravado na minha memória.
Herodes, sempre bom e condescendente com seu neto,
entretinha-se ensinando-lhe deste modo ameno a história
militar das nações.
- Não, meu filho, seus domínios alargaram-se pelas
conquistas. A origem de Roma tem uma história fabulosa, é
quase um conto.
- Oh! Pois já sabes que eu morro pelos contos e pelas
histórias.
- Ouve-o, pois meu filho,
fi lho, e não esqueças que um rei, por
pequeno que seja o seu reino, pode com o seu valor
convertê-lo em grande e poderoso.
Herodes abandonou a mesa e, estendendo-se no seu branco
leito, fez com que seu neto se sentasse à cabeceira
sôbre uns almofadões, e depois continuou desde modo:
63
CAPÍTULO II
AS VÍBORAS DO ESCRAVO
- Ah! Finalmente dignas-te vir ver êste pobre rei enfêrmo,
meu valente general. Trarás novas desses caldeus?
- E meu filho Arquelau que diz? perguntou o Idumeu de
modo estranho, que gelou o sangue do neto.
-deTeu filho, lheentregando-se
Jerusalém, respondeu o romano,
às fúriasacha-se no teu palácio
do averno. paláci o
64
- Oh!, a moléstia torna-me impotente! E Herodes levou a
mão ao peito, rasgando a magnífica túnica escarlate,
como se um áspide o houvesse mordido no coração.
Como se estas palavras fossem de uma pitonisa, correu-se
um tapete
Cingo, da parede
o etíope, e a escura
apareceu e feroz
na câmara defigura de
Herodes.
Herodes, ao ver o escravo, sorriu-se com ferocidade
f erocidade
indescritível Cingo permaneceu impassível. Nem um só
músculo do seu rosto se agitou.
- Verútidio, meu amigo, exclamou Herodes, espera-me na
antecâmara, que talvez precise dos teus serviços. E tu,
Aquiab, já são horas de tomares o banho; vai-te.
Aquiab beijou a mão do avó e saiu. Verutídio fez o mesmo,
mas não sem volver antes um olhar de desprêzo ao
escravo negro, cujo favor para com o rei o desgostava
altamente na sua qualidade de general e de romano.
Herodes e
- Pois bem, Cingo, emprega tuas víboras nesses dois
Meninos.
- Então quer dizer que os belemistas se propuseram ocultá-
o cultá-
lo? Pois tanto pior para eles... Eu tencionava arrancar
uma só espiga, e êles opõem-se, Cingo, será preciso segar
todo o campo.
O escravo inclinou a cabeça em sinal de acatamento, ainda
sem compreender as palavras do amo.
Herodes dizia todas estas palavras para si próprio, dando
largos passos pela câmara.
Por desgraça, os tiranos que passaram sôbre a terra com a
fronte coroada como uma maldição, como um açoite
do céu, tiveram servos leais, fiéis executores dos seus
horríveis desígnios, que não vacilaram em dar o sangue por
êles.
Porque a ferocidade, o crime, o assassínio, costumam ter
também seus admiradores; almas empedernidas, seres
degradados e repugnantes que lambem carinhosamente a
ensanguentada mão do verdugo, e se sorriem com desprêzo
65
Antípatro não trazia arma mas, em compensação seu traje
estava perfumado como o duma cortesã de Roma.
Herodes tinha também um filho de que nos ocuparemos
mais adiante.
O rei, ao voltar-se
Antípatro ao lado, afranziu
cabeçaoesobrolho;
achar-se com
mas seu
êle, filho
antes de lher
dar tempo para que fizesse a pergunta que sem dúvida estava
formando, exclamou com voz melíflua:
- Meu pai, Augusto manda-te de Roma um emissário a
quem acompanham vários soldados pretorianos: queres
recebê-lo?
- Que entre êsse enviado de Roma, disse Herodes sentando-
se nos almofadões, depois de colocar a coroa de
louro na cabeça e o manto de púrpura sôbre os ombros.
Antípatro fez uma saudação acompanhada dum sorriso e
saiu da câmara do pai.
Pouco depois quatro escravos levantavam a pesada e larga
cortina da porta do camarim de Herodes para que
passasse o mensageiro de Roma.
CAPÍTULO III
A LEI DAS DOZE TÁBUAS
l ati cl ávi as
66
Lei das Dozes
Tábuas.
- Saúde ao César Augusto, exclamou Herodes, vendo entrar
na câmara o enviado de Roma.
pat r ono
Êste fez uma reverência, pegou no rôlo e começou a
desdobrá-lo pausadamente. A segunda carta de Otávio
Augusto, imperador de Roma, dizia assim:
“Ao rei de Judeia, por nosso favor,
f avor, Herodes, o Escalonita,
do Capitólio: saúde.
Lei das Doze TábuasDe c ê nvi r osAug ust o” .
Herodes terminou
desencontradas a carta, que
comoções procurando dominar
lhe agitavam as
o coração.
cão”.Cuidado
O homem com
queo entrava acariciou a cabeça do cão com
familiaridade; êste fechou preguiçosamente os olhos,
CAPÍTULO VII
- Saúde ao César, exclamaram a um tempo Mecenas e
Agripa.
- Para ti a quisera eu, meu querido administrador.
- Ah! A minha, poderoso Augusto, é u”a menina malcriada
que há algum tempo anda descontente por dentro do
meu ser.
E Mecenas, dizendo estas palavras, procurou sentar-se no
leito. César tinha-se sentado sem cerimônia ao lado de
Agripa.
75
- As mulheres são egoístas, senhor; nenhuma delas
compreende sacrificar um instante de felicidade pelo
público,
disse Mecenas.
- E todavia, nada lhes agrada tanto como exigir sacrifícios
dos homens, tornou Agripa.
-a Os deuses
nossa obra!me concedam
terminou vida suficiente para ver terminada
Mecenas.
SANGUE NO ROSTO
86
- Eu cortei vinte cabeças, vêde aqui os dentes das mães.
Mais tranquilo que os seus satélites, o escravo favorito
encaminhou-se para o palácio de seu senhor. Como
sempre, penetrou no quarto de dormir de Herodes pela
porta
entrousecreta. O Idumeu passeava agitado, quando Cingo
cruel, o Rei de Judá não deve inspirar-te o menor receio: eis
aqui a sua cabeça. E o escravo, desdobrando a ponta do
manto, apresentou a cabeça do menino que tão cruelmente
arrebatara dos braços da última belemita.
- É estranho, murmurou, parece que já vi esta cara...
Cingo nada dizia. Orgulhoso por ter desempenhado tão
fielmente a terrível missão de seu senhor, esperava
impassível a recompensa que, segundo o costume, devia
seguir
A mulhoerserviço
mulher soltouprestado.
soltou um ru
rugido
gido reconhece
reconhecendo
ndo Cingo.
Cingo. Hero
Herodes
des
voltou a cabeça.
- Tu aqui, Rebeca! perguntou o rei com estranheza.
- Sim... eu! Exclamou a mulher com um rouco e nervoso
acento. Eu... que venho entregar ao rei de Jerusalém o
que êste infame assassinou por ordem tua!
E Rebeca estendeu o braço na direção de Cingo.
- Deixai-me! Deixai-me! gritou o rei com acento ameaçador
depois de um momento; mais levai êsse corpo
ensanguentado da minha presença. Sua vista abrasa-me os
olhos e faz-me arder o coração.
Rebeca levantou o destroçado corpo do menino,
embrulhando-o na saia e depois lançando um olhar
ameaçador
ao escravo, exclamou em tom profético.
- Ai do assassino dos primogênitos de Judá! Seu nome será
maldito pelos séculos dos séculos, e na hora da sua
morte, as fúrias do inferno se deleitarão em despedaçar-lhe
as entranhas com as línguas de fogo!
Rebeca saiu da câmara do rei, apertando contra o peito o
cadáver do inocente mártir. Cingo ia também sair,
quando Herodes exclamou, levantado-se:
- Espera...
- Senhor, castiga-me; sou digno de tua cólera. E Cingo
inclinou a cabeça, como se esperasse o golpe que devia
vingar o seu rei.
87
- Se tu consegues
prometo-te apresentar-me
em recompensa as cabeças
um talento de João
hebreu, e e Jesus,
- Éros, escravo de Marco Antonio, imortalizou
i mortalizou o seu nome
morrendo aos pés do seu senhor; a minha única
ambição é imortalizar o meu morrendo por ti.
- Parte, e não esqueças que te espero.
- Nunca descanso quando o meu senhor me encarrega de
alguma coisa.
- Socorro... Socorro!... que morro!
CAPÍTULO VII
PRELÚDIOS DA MORTE
88
improbo trabalho, com o sorriso e os beijos de seus filhos, e
encontraram a incrível realidade ante os absortos olhos, a
dôr, a desesperação, as lágrimas e os gritos de raiva e
vingança foram incalculáveis.
Mas aquele céu sem nuvens, aquela manhã risonha tinha
sido substituída por uma noite de dor, dor tanto mais
terrível, tanto mais inconsolável, quando estavam mui longe
de esperar.
....................................
.........................................................
.........................................
.........................................
.....................
....................................
.........................................................
.........................................
..........................
......
....................................
....................................................
................
Perguntam por João e a pergunta fica sem resposta, porque
todos ignoram seu paradeiro, ameaçam com a morte
os criados, e estes lançam-se aos pés dos verdugos
derramando lágrimas.
Cingo precisava duma vítima para aplacar a raiva do seu
senhor. Pergunta pelo velho sacerdote e diz-se-lhe que
se acha de semana no templo de Jerusalém.
Parte de Ain, chega a Jerusalém, penetra na câmara de
Herodes pela porta secreta com o fim de informar da sua
A PROFANAÇÃO
Cingo, que permanecera oculto atrás das pregas duma
cortina, entrou na sala apenas viu que se achava só o seu
senhor. O escravo, andando nas pontas dos pés para não
fazer barulho, acercou-se do leito do seu senhor.
O enfêrmo
- Ah! És tu, abriu os olhos
meu leal Cingo,e viu
vi u a negra
disse figura.
com voz desfalecida. Não
sabes! Os médicos desconfiam, a ciência é
impotente, e deixam-me morrer, mas ai deles! O meu
último suspiro será a sua sentença de morte.
- Senhor, lhe disse o escravo: se a saúde, se a vida pudesse
transmitir-se como a riqueza, tua não morrerias,
- Quando me vir livre desta horrível enfermidade, hei de
nomear-te general das legiões herodianas, hei de dar-te
90
Cingo ficou
inocente em Jerusalém.
e manchar O anegro
com êle, devia
casa de derramar
Deus. O santosangue
sacerdote Zacarias, pai do Batista, sábio, preceptor da
Virgem,, estav
Virgem estavaa sentenciado
sentenciado à mo
morte.
rte.
Os verdugos não recuaram ante o horroroso e sacrílego
crime. Cingo e seus infames companheiros
apresentaram-se no templo de Sion com o punhal homicida
na dextra.
O velho sacerdote achava-se desempenhando os santos
ofícios do átrio interior da casa de Jeová.
Os verdugos perguntaram-lhe por seu filho; êle que
ignorava e seu paradeiro, respondeu ingenuamente que
estava em casa de Ain, e que se ali não se achava êle não o
sabia.
A morte de Zacarias foi o sangrento epílogo com que
terminou a terrível tragédia dos mártires de Belém. O
sangue do justo, manchava os mármores da casa do Santo
dos Santos.
Não estava longe o dia em que o sangue de Deus devia
correr pelas ásperas ladeiras do Gólgota.
LIVRO
A SÉTIMO
ÁGUIA DE OURO
CAPÍTULO I
A VIA SANGRENTA
Herodes chega a Caliroe, e os banhos daquela águas
medicinais, tão célebres então, pioram-lhe a saúde.
- Tenho fome... muita fome... Daí-me alguma coisa que
comer,
Saloméporque morro.
consultou com um olhar os médicos; mas êstes que
perderam a esperança de o salvar e que temem
desobedecer às ordens de um rei bárbaro e cruel que pode
mandá-los degolar na sua presença, respondem que se lhe
dê
91
Herodes estava ébrio e, na sua embriaguez, pede em altos
gritos que o transportem para o seu palácio de Jericó.
Todos temem desobedecer-lhe, e as suas ordens, cumprem-
se imediatamente. Chega a Jericó, mas em que estado!
Proibe-se a entrada no quarto do rei a toda a gente; e os
escravos; crendo que o seu senhor morreu, espalham esta
nova, que corre a Judéia, enchendo de júbilo quantos a
ouvem.
via sangrenta
O ardente corcel, alheio às comoções que agitam o coração
do dono, que a tais horas da noite cruza tão
solitários caminhos, continúa galopando com incansável e
impertubável regularidade.
Deve ser aqui, murmurou
Imediatamente emcantou
um rouxinol voz baixa o cavaleiro.
a poucos passos do
cavaleiro; que se pôs em pé, e, como se o vomitasse a
terra, um homem se levantou dentre as matas.
O cavaleiro, ao ver levantar-se uma sombra ao seu
s eu lado,
empunhou por precaução a espada que lhe pendia do
talim.
92
Então o homem deu alguns passos, e agachou-se, agarrando
com seus robustos braços uma rocha. O cavaleiro
fez o mesmo. Pouco depois a boca duma gruta chou-se
aberta antes êles.
94
- Agora, disse o essénio, cada qual revele a seus irmãos
aquilo com que conta para o dia do levantamento; e
dirigindo-se a Antípatro disse-lhe: fala tu primeiro
pri meiro que és o
mais moço.
-à Eu
vossa voz. replicou Judas, ofereço como Matias os meus
também,
discípulos, e respondo com a cabeça pelo seu valor e
patriotismo.
- Tu és como o mais
mai s velho o mais prudente; a ti compete
pois dirigir o movimento, disse Dimas.
- Permití-me que vos diga, meus irmãos, tornou Antípatro
com melíflua voz, que a moléstia de meu pai poderia
auxiliar os nossos planos, e não devemos desprezar esta
ocasião.
festa das
Os quatro sortes das afirmativamente
responderam sortes com a cabeça.
das sortesEste r
- Quando cair a águia que pousa sôbre o pórtico do templo,
os meus soldados desembainharão a espada pela
pátria, exclamou Dimas entusiasmado.
- O mesmo prometemos à frente dos nossos discípulos
derribar esse padrão de ignomínia que rouba o sono aos
judeus descendentes de Jacó.
- Agora, o Leão de Judá afie as garras como em outros
tempos, e o glorioso estandarte dos Macabeus tremula,
do barranco e detiveram-se. Ali deviam separar-se.
- Deus seja convosco, disseram uns aos outros.
- A celebração dassor te s seja tão propícia aos judeus de
agora, como o foi para os judeus no tempo deEste r,
exclamou Sedoc.
CAPÍTULO III
O TEMPLO DE SION
Enquanto o Eterno não concedia morada fixa aos judeus
para lhe elevaem um templo estável, as doze tribos de
Israel serviram-se dum portátil, durante os seus longos anos
de errante peregrinação.
Aonde iam?...
iam?... Vamos vê
vê-lo.
-lo.
LIVRO OITAVO
A AGONIA
CAPÍTULO I
A DUPLA CADEIA
Retrocedemos algumas horas.
Tomemos o fio da nossa
noss a narração desde o momento em que
o príncipe Antípatro, vendo perdida sua causa
abandonou o templo, buscando na fuga a salvação da vida
ameaçada tão de perto pela vencedora espada dos romanos.
100
- Escravo, és livre, celebra a tua alegria e a minha desdita
com esses siclos que semeio a teus pés. E, enterrando o
acicate nos ilhais do corcel, partiu a galope rasgado.
O escravo deitou-se de bruços no chão e começou a apanhar
as moedas com avidez. Aquilo era uma fortuna para pa ra
ele; nunca seus olhos tinham visto tanto dinheiro junto e
aquele dinheiro era seu. Tanta emoção transtornava-o e
nem
Então Arquelau, pois era ele, fez voltar o corcel em direção
ao templo e Cingo, o escravo favorito
f avorito de Herodes,
Cingo conheceu que o galope dos cavalos era tão igual, que
nada adiantaria, pois só no caso em que seu inimigo
desse um tropeção poderia conseguir alcança-lo.
Cingo, resolvido a levar a cabo a sua estratégia, agarrou-se
com força, às crinas do cavalo,
cava lo, e, com risco de cair,
conseguiu tirar-lhe a sela e a manta e mais arreios, deixando
dentro em pouco o cansado animal em pêlo.
Esta manobra foi executada com tanta rapidez, que Cingo
não pôde ve-lo por causa do quebrado do terreno.
Antípatro teve cuidado de picar a ancar do cavalo com a
adaga que tinha na mão ao cair, de modo que o corcel,
livre do pêso do dono e ferido
f erido pelo ferro, redobrou o veloz
galope.
Cingo, sempre estendido sobre o pescoço do corcel,
esperava impaciente
juntassem o instante
para apoderar-se do em que os cavalos se
inimigo.
-sentidos
Sai vós,sobre o leito.
exclamou a irmã do rei dirigindo-se aos escravos e
soldados; mas chamai imediatamente os médicos,
porque o rei creio que morreu.
Os escravos sairam sem voltar as costas.
Então Aquiab informou seus tios do que tinha acontecido, e
todos cercaram a cama procurando auxiliar o
enfêrmo.
Naquela noite espalhou-se por Jericó a notícia de que o rei,
cansado dos seus padecimentos, pusera termo à vida
cravando
parte comum punhaldo
a rapidez nocostume.
coração. Esta nova voou por toda
O príncipe Antípatro, que gemia num calabouço desde a
noite em que o terrível Cingo e arrancou dos braços da
- Eu creio, amigo Cocels, que aquele velho leproso fez
f ez bem
em matar-se; quando o homem não pode beber nem
amar, a vida é um estôrvo.
- Tens razão, Heráclio, eu peço aos deuses imortais de
Roma que, como primeiro sintoma da velhice, me enviem
o último suspiro da minha vida.
- Ah! esquecia-me dizer-te que a sentinela que esta noite
dormir no seu posto, tem pena de morte. As rondas
- Em Roma, a morte dum imperador é sempre uma fortunaf ortuna
para as suas legiões, porque o novo rei espalha ás
107
Era Cingo, o negro, que aproximando-se do miserável leito
do desgraçado príncipe, pousou ambas as coisas no
chão, dizendo com voz pausada.
- Boas noites, meu príncipe.
CAPÍTULO IV
O LIVRO DE JÓ
Antípatro assentou-se sôbre a palha e disse com
naturalidade.
109
consolando-me com gemidos, e buscando alívio aos meus
males com lágrimas e suspiros, então cheio de sobressalto
me
vejo acometido de espanto com as imagens e sonhos que me
perturbam
Eu não tenhoa alma.
esperança de viver; compadece-te Senhor, de
mim, e cesse já o castigo. Não é muito o que te peço,
pois que é tão pouco o que me resta viver.
Que é o homem para que mereça que Tu ponhas nele o teu
coração, e o olhes como alguma coisa grande?
O rabino ficou pálido como um agonizante. Herodes, com os
olhos fitos no aturdido velho, ria-se de maneira
cruel.
Salomé, Aleixo e Aquiab tremiam, conhecendo que o pobre
leitor
do rei.ia receber uma sentença de morte dos lábios
De repente, reanimou-se a fisionomia do rabino, e,
ajoelhando-se junto da cama de Herodes, disse com voz
severa e clara:
- Mui poucos, senhor, porque te ofendi segundo parece, e a
minha vida está pendente dos teus lábios; a minha
estrela pode eclipsar-se quando à tua rale vontade se antoje.
Herodes humanizou a dura expressão do semblante, e,
deixando-se cair sobre os almofadões, disse com tom de
Cingo,que tudo tinha ouvido, oculto atrás da cortina
decidiu-se a entrar na câmara desobedecendo à ordem do
seu senhor. Chegou-se ao leito e esteve contemplando
alguns segundos o enfêrmo.
Herodes abriu os olhos e viu ao seu lado o escravo favorito.
No rosto do enfêrmo brilhou um raio de alegria e
CAPÍTULO V
ONDE SE PROVA QUE O AMOR
DOMESTICA AS FERAS
- És um servidor leal, Cingo, e quisera antes de exalar o
último sôpro de vida recompensar os teus serviços.
Dize-me, que ambicionas? Que queres? Pede, estou pronto a
satisfazer os teus desejos.
181
CAPÍTULO V
PROFECIAS
Jesus levantou a radiosa fronte, e exalando um doloroso
suspiro, estendeu a mão para a cidade, dizendo como
profético acento:
- Vês aqueles grandes edifícios, aquelas torres altivas que
desafiam as nuvens? Pois de tudo isso não ficará pedra
Jesus fez uma pequena pausa, e continuou exalando segundo
suspiro:
Jesus guardou silêncio. O pranto corria dos seus olhos. Os
apóstolos, ante aquela terrível profecia, estavam
absortos. O Nazareno, que não desviava o doloroso olhar de
Jerusalém, tornou pela terceira vez a falar, e disse:
184
CAPÍTULO VI
O GRANDE SINÉDRIO
li sc hathagasi th
pal e t ohs
Caifás presidia aquela noite ao supremo
s upremo tribunal. Anás, seu
genro, receoso de que alguns anciãos quisessem
deferir a causa para depois de terminada a festa
f esta dos Asmos,
porque segundo a lei não lhes era lícito tirar a vida a
ninguém no dia festivo da Páscoa, nem exerce o juízo das
almas, tinha comprado alguns membros cujos nomes a
história nos conservou. São os seguintes: Sumus, Datam,
Gamabel, Levi, Neftali,
Naquele momento Alexandre,
de confusão Siro, Roboam
e dúvida e Amer.
em que todos
falavam e o medo e o temor não os deixavam entender-se,
apresentou-se no sinédrio um executor das sentenças e
disse:
Ilustre senado, no átrio das Nações espera um homem a
vossa licença para entrar; diz que se chama Judas e que
é discípulo do falso Profeta que transtorna a paz da cidade
santa.
Os sacerdotes olharam uns para os outros perguntando-se
que queria aquele homem, discípulo de Jesus. Anás, o
- A quem buscais?
Malco e alguns anciãos responderam-lhe:
- A Jesus Nazareno.
- Sou Eu, disse com magestade Cristo, adiantando-se um
passo.
- A quem buscais?
- A Jesus Nazareno, disseram algumas vozes com temor.
- Disse-vos que sou Eu. Se me buscais a Mim, deixai esses . E
indicou com um gesto os apóstolos, que
contemplavam com temor aquela cena.
- Sois soldados de Tibério, e fugis diante de um homem!
Covardes! Ai do que não cumpra o seu dever! A pena
das baquetas lhes cairá nas costas!
Esta ameaça deteve os fugitivos, que se agruparam ao redor
do decurião. Entretanto, Jesus tinha dito a Pedro:
- Mete a espada na bainha! O cálix que me deu meu Pai, não
tenho de o beber?
Depois, inclinou-se para o chão, pôs a mão na ferida de
Malco, e curou-º
Malco tivera a orelha arrancada, e achava-se bom, como se
nada lhe houvesse sucedido. O miserável, em vez de
agradecer o milagre que nele acabara de operar Jesus,
atirou-se como uma hiena a Ele e começou
c omeçou a atá-lo.
Enquanto o atacavam disse-lhes com doçura:
- Como a um ladrão saistes para prender-me, com espadas e
paus, e quando estava convosco ensinando
no templo, não me prendieis... Mas é preciso que se cumpra
a Escritura.
Os discípulos tinha desaparecido, exceto Pedro e João, que,
escondidos atrás de uma árvore, observaram,
transpassados de dor, os insultos que prodigalizavam ao
ao
Mestre.
Os anciãos, os soldados e os criados de Anás, que desde a
saída de Getsemani não tinham cessado de dirigir-lhes
palavras grosseiras e insultos miseráveis redobraram seus
horríveis gritos ao entrar na cidade.
patranhas.
Pedro julgou-se perdido. Sua razão ofuscou-se e o medo
pôs-lhe na língua palavras e juramentos que mais tarde
deviam causar-lhe dolorosas lágrimas de arrependimento.
- Não o conheço, disse: o Deus de nossos maiores não dê
ouvidos às minhas súplicas, se tendo tido contato com
esse Galileu de quem falais.
na bk a
- Ainda é muito cedo para incomodar Pilatos; esperai que o
sol possa iluminar o rosto do Réu, e do juiz. Os
fariseus tem medo de o sentenciar de noite.
CAPÍTULO V
196
O SUICIDA
- Que é de meu Filho? exclamou Maria com doloroso
acento.
- É que venho encomendar-te outro trabalho, tornou Malco.
Precisamos de outra cruz para outro réu, um falso
profeta.- Ah! Pois então será preciso que nos esmeremos.
Disse-te de que madeira a quer o tribunal?
A poucos passos da casa, havia um grupo de gente que
rodeava um homem. Este gritava com toda a força
fo rça dos
pulmões, dizendo:
- Este homem está louco, disse um soldado.
so ldado.
- Filho da minha alma!
A dois passos da grade via-se um grupo cuja dor era imensa,
Madalena, João e Pedro choravam, dirigindo
através da grade olhares dolorosos para Jesus.
- Eu não tenho deixado de ver-te, minha Mãe, desde o
momento da nossa separação, disse o Mártir; bendita
b endita serás
entre as mulheres como bendito será o fruto do teu ventre,
que hoje é objeto de zombaria e escárnio.
Naquela dolorosa cena as lágrimas substituiram as
palavras; dor profunda, imensa, indescritível; cruel
amargura
a que a pena do homem não dará nunca o elevado
sentimento de que foi digna.
-ambos filhos
Senhor, deCaio,
disse Taragona. O governador
os juízes do sinédrio,tinha em Caio um
os sacerdotes e os
fariseus, recusam se a entrar no palácio, porque
-Gestas”.
Ah! Com que finalmente os crucificam, disse
di sse o carcereiro,
dando voltas ao molho de chaves que lhe pendia da
207
tuas sandálias; prepara o teu bordão de viagem. Infeliz!
Disseste-meanda; pois tu andarás até à consumação dos
séculos. Anda, anda, Samuel Beli-Beth; maldito como a tua
pátria, vaguearás pelo universo até o dia do juízo final.
Neste instante u’a mulher saiu da casa da frente com um
lenço na mão. Era Seráfia. Aproximou-se do divino
divi no
Galileu, cujo rosto se achava banhado de suor e sangue, e
ajoelhou-se diante d’Ele dizendo:
- Senhor, meu Jesus, permite que esta humilde pecadora
limpe o teu divino rosto com este lenço tecido pelas
Seráfia soltou um grito de alegria. Algumas mulheres a
cercaram. No lenço tinha ficado impresso por três partes
o rosto do Mártir. Cada um dos crudelíssimos espinhos da
sua coroa despedia um raio de luz. Seráfia estava absorta.
- Seráfia, deixa o teu nome e toma o deVe r ôni c a, pois nas
tuas mãos deixo a minha verdadeira imagem.
CAPÍTULO IV
A CRUZ
- Observai! Jesus não pode com o enorme peso do lenho.
Bom homem, disse olhando para Simão, ajudai-o antes
Ai, caiu pela quarta
quarta vez
vez desma
desmaiado.
iado. Sim
Simão
ão deixou a cruz e
correu a levantar o Nazareno.
Um grupo de mulheres que esperava o jovem Mestre para o
ver passar, vendo em tão doloroso estado o que seis
dias antesdeentrara
caminho rosas ecoberto de flores
de plantas, e de
pôs-se bênçãos por um
a chorar.
Jesus ergueu a fronte, abatida pela dor, manchada pelo
sangue, e disse-lhes:
- “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! chorai por vós
e por vossos filhos; porque virão em breve dias em
que dirão: Bem aventurados as estéreis e os ventres que não
conceberam e os peitos que não amamentaram!”
Uma senda estreita e tortuosa, semeada de grossas e duras
pedras, conduzia ao cume do Gólgota, desde o lugar
Caio Ápionão
pareceu despediu Simão,
ter ouvido agradecendo-lhe;
a ordem do romano, emas Simão
permanecia cravado junto ao corpo desfalecido de Jesus.
OS MORTOS FALAM
Samu
Sa mue el Be Belili-B
-Bet
eth,
h, depo
depois is de ap apos
ostr
trof
ofar
ar Je
Jesu
suss na
agonia, desceu do Gólgota e começou a caminhar sem
sabe
sa berp rpar
ara
a onde
onde,, como como impe
impelilido
do pela
pela atater
erra
rado
dora
ra vo
vozz da
con
co nsciê
sciênc ncia
ia..A esc scuuridã
idão er era a cocom
mpleletta; o te temmor dosdos
hab
abitita
ant
nte
es deJer eJeru usa
salé
lém
m tã tãoo grandande, qu quee a gen entte se
atropelava pelas ruas.
Samuel parecia insensível ao espanto geral. Seguia seu
caminho com a fronte inclinada e como se a maldição de
Deus lhe pessase sobre a cabeça.
Sem o perceber, atravessou grande parte da cidade de
Beceta e, torneando as fraldas do monte Mória, achou-se
nas portas das Águas. Parou fatigado fa tigado no vale dos Cadáveres,
que conduz ao sepulcro de Absalão.
Ali limpou
limpou o suor que lh lhee inundava
inundava a fronte
fronte e,e, erguendo
erguendo a
cabeça, retrocedeu dois passos, aterrado.
Os pro rofefettas ac achhavam
avam-s -se e se
sent
nta
ado
doss sobsobre os se seu
us
sep
se pulcrlcros comcom os desca escarrna
nado doss br
braaços
ços na direç ireçã
ão do
Gólgota.Aqueles esqueletos envoltos nos brancos sudários,
que se levantavam das sepulturas para chorarem a morte
de DeusDeus,a ,ate
terrrrav
avam
am Samu
Samuel el,, qu
quee os olha
olhava
va co
com m olho
olhoss
espantados.
O trovão, rugia-lhe sobre a cabeça; a terra tremia-lhe
debaixo dos pés. Então, ao resplendor dum relâmpago,pôde
ver que os esqueletos se puseram em pé que dos seus
olhos sem luz corriam lágrimas de sangue. Caiu de joelhos,
eestendendo as mãos em direção aos mortos, murmurou
com voz aterradora:
- Perdão!... Perdão!...
Os profetas responderam-lhe com a voz espantosa dos
sepulcros:
- Anda!
Imediatamente, em toda extensão do vale de Josafá, se
escutou um gemido, cujo eco repetiu de modo fúnebre:
- Anda, anda, anda!
Samuel
Então viupôs-se
umas em pé de
letras possuido de um pânico
fogo esculpidas sobrehorrível.
as pedras
do sepulcro, que diziam:Absa l ã o.
212
Então viu com horror que um esqueleto se achava sentado
no poial da sua porta. Fitou os olhos espantados
naquele espectro dos túmultos, soltou um grito, e disse com
medroso acento:
- Sara, Sara! Minha espôsa, tu também deixas o sepulcro
para amaldiçoar-me?
O espectro respondeu com doloroso acento:
- Samuel, Deus permite-me que abandone por um instante
o sepulcro e que venha despedir-me de ti e dizer-te:
Anda, maldito de Deus, anda até a consumação dos séculos!
A visão desapareceu.
Samuel desfalecido, entrou em casa e foi refugiar-se junto
ao berço do filho, que apenas contavadoze meses.
Ali ao meno
menoss julgava-se
julgava-se seguro
seguro dos mort
mortos.
os. Fitou os
aterrados olhos no formoso menino que dormia no
berç
be rço;
o;ma
mas,
s, na
naqu
quel
ele
e mome
momentnto,
o, o me
meni
nino
no leva
levant
ntou
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e, e
pond
po ndo-
o-se
se em pépé,, es
este
tend
ndeu
eu a mã
mãoz
ozin
inha
ha em dire
direçã
çãoo ao
Gólgota, e dissecom voz doce e sonora, que devem ter os
anjos:
- Samuel Beli-Beth, anda, anda, anda!
Samuel retrocedeu até tocar com a cama da sua velha mãe;
que, muda, paralítica, havia muitos anos, pôs-se em
pé, e disse com claro acento:
- Anda, anda, anda, maldito de Deus!
Samuel não pôde resistir a tanta comoção e caiu
desamparado no chão. Naquele momento ouviu-se uma
pancada
na porta da rua, logo outra, depois outra.
Estas três pancadas pausadas, sem que ele pudesse
compreender a causa, reanimaram subitamente, o espírito
aterrado do judeu. Pôs-se em pé e perguntou:
- Quem é?
Uma voz que não tinha nada da terra, respondeu:
- O que Deus envia. Abre.
-recobrado
Entra, se aqueres,
passadarespondeu
energia. Samuel, que parecia ter
Feijó,
Feij ó, no tomo
tomo segu
segund
ndo
o das
das suas
suas Ca
Cart
rtas
as er
erud
udititas
as,,
falando extensamente sobre o judeu errante, diz que no de
1129apareceu o judeu errante na Inglaterra, em 1547 em
Hamburgo, em 1575 em Madrid, em 1609 em Viena, em
1610, em1612 em Astran, em 1643 em Paris, em 1694 em
Moscou, e finalmente indica-se nos fins do século XVII em
Londrespela segunda vez, como assegura uma carta da
duquesa Hortência de Mazzarino, irmão do célebre cardeal
do mesmosobrenome.
Acrescenta Feijó, que um homem astuto e sagaz,
instruído na história em oito ou nove línguas, que vida
maisagradável podia escolher que a de se fingir judeu, o
erra
er rant
nte,
e, ch
cham
aman
ando
do a at
aten
ençã
çãoo do
doss pr
prín
ínci
cipe
pess e pe
pess
ssoaoass
poderosas, ouque estranho seria que depois o imitassem
outros embusteiros?
Em todo o caso, se a tradição é uma fábula, como
deve crer-se, é preciso convir que em nada pode
representarcom tanta exatidão o disperso povo de Israel,
que nunca pôde reunir-se, como esse homem,
amaldiçoado por Deus emcujos ouvidos ressoa claramente
o anda, anda, anda! da tradição.
Nós demos-lhe uma forma fantástica, porque em anda
afet
afetaa o do dogm
gma,
a, as
assi
sim
m co
como
mo nos
nos se
serv
rvim
imos
os du
dum
m nome
nome
queninguém cita, em vista dos diferentes pareceres que
desde o célebre historiador Matias de Paris (o primeiro que
deu àluz a tradição do judeu errante no ano de 1299) até
nós se tem adotado.
CAPÍTULO VIII
TRÊS DIAS DEPOIS
213
Quatro soldados da sinagoga, encostados as suas lanças
guardavam o sepulcro de pedra que encerrava o divino
corpo do Salvador.
Aqueles mercenários de Roma, emprestados por Pilatos aos
sacerdotes
fariseus. israelitasum
Formando riam-se
grupomuito
a unsdo receio
doze dosdo sepulcro
passos
achavam-se mais oito homens. O dia não estava longe. O
- Mestre!
Jesus recuou, dizendo:
- Não me toques; ainda não subi a meu Pai; mas vai a meus
irmãos e dize-lhes o que viste.
Tinha aparecido a Madalena primeiro que aos
Apóstolos, mas depois que a sua Mãe, a quem dedicou a
suaprimeira visita ao ressuscitar. Entrevista venturosa foi
esta para aquela Mãe aflita; cena doce, felicidade imensa,
com aqual recompensou o Redentor do mundo a incrível
amargura que sofrera a Flor de Nazaré, a Estrela do mar.
Madalenavoltou pressurosa a Jerusalém. Encontrou os dois
apóstolos que poucos momentos antes tinham observado
detidamenteo vazio sepulcro e, com gozo indefinível que
lhe transbordava na alma, lhes diz:
- Cristo ressuscitou, eu o vi, como vos vejo a vós. Ouvi a doce
voz que me comoveu
comoveu o cor
coração,
ação, en
enchend
chendo-o
o-o de
alegria e de gôzo.
Pedro e João creram o que Madalena lhes disse; mas ao
participarem-no a seus irmãos, a dúvida achou cabida
em alguns deles.
Naq
aquuel
ela
a mesm smaa tar
ard
de, dois discíiscípu
pulo
loss de Cr
Cris
istto
caminhavam tristes e meditabundos de Jerusalém para a
aldeiade Emaus, que dista duas léguas da cidade santa.
Falavam com doloroso acento dos tristes acontecimentos
daquelesdias.
A morte de Jesus,
Jesus, seu jovem M Mestre,
estre, era o motivo
motivo da
conversação.
- Sim, Lucas, dizia um deles, Jesus Nazareno era um Homem
sem igual, um grande Profeta.
- Amigo Cléofas, respondeu Lucas, Cristo foi poderoso
conosco, e amado de todo o povo. Os fariseus
cometeram um crime horrível.
Neste momento, apareceu-lhes um desconhecido, que
disse:
- A paz seja convosco: de que falais, irmãos?
Contaram-lhe os acontecimentos que o povo
jerossolimitano presenciara tres dias antes, e que umas
mulheres
CAPÍTULO X
O SEPULCRO DAS ROSAS
Alguns anos depois uma pequena e veloz barca fendia com a
deigada proa as águas transparentes e azuladas do
mar Icário.
Duas mulheres, formosas como aquele mar que se
estendia ante os seus olhos, e um homem, cuja
docefisio
ision
nomia expressava a bondade do coração,
acha
achava
vam
m se se
sent
ntad
ados
os no banq
banqui
uinh
nho
o de popa
popa do barc
barco,
o,
contempla lan
ndo ascostas pitorescas da As Asiia Menor,
semeadas de plátanos e açucenas.
Os três viajantes vestiam o traje judaico, pobres desterrados
que buscavam em solo estranho a paz de existência. exis tência.
A barca chegou à praia, e os viajantes saltaram sobre a
finíssima alfombra de areia que separa a cidade de Efeso do
mar.
- Quão belo é este solo! Quão brilhante o firmamento! Quão
claro o mar que o acaricia! exclamou o homem,
embevecido na contemplação da paisagem.
- João, meu filho, disse uma das mulheres; lembra-me o
formoso solo da Galiléia, o transparente lago de
Tiberíades, o pitoresco jardim de Zabulon.
- É verdade, murmurou em voz baixa o homem.
- Pobres desterrados! tornou a mulher.
A SS. Virgem, Maria Madalena e João, o discípulo favorito
de Jesus, pois estes eram os viajantes, entraram na
cidade de Efeso.
O ódio insaciável dos fariseus a Jesus tinha-os feito emigrar,
dispersando os apóstolos da fé pelo mundo.
A miste
misteriosa
riosa Flôr do Evangelho,
Evangelho, a Mãe do Márt Mártir
ir do
Gólg
Gó lgot
ota,
a, sesem
m ma mais
is pare
parent
ntes
es sosobr
bre
e a te terr
rra
a qu
que e Jo
João
ão –
seufilho adotivo, e Madalena, sua inseparável amiga, viu
passar um, outro e outro sono, em país estrangeiro, sentada
àsombra duma daquelas frondosas árvores que
aformoseiam as vizinhanças de Efeso, e com os dolorosos
olhos no marIcário, como procurando no seu longínquo
horizonte as palmeiras da Galiléia, céu da sua pátria.
Dura
Du rant
nte
e aque
aquele less mo
mome
mentntos
os de dodocece cocont
ntem
emplplaç
ação
ão,,
enquanto Maria e Madalena vagueavam por esse
mund
mu ndoe
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anta
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dos sesent
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os que
que tatant
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João,, o mo mode
deststo
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ador
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Bets
Be tsaid
aida,
a, oamo
oamoro roso
so dis
discí
cípu
pulolo de CrCris
isto
to,, ocup
ocupavava-
a-se
se em
escr
es crev
ever
er um liv livro
ro cuja
cuja ma
mararavi
vilho
lhosa
sa ciên
ciêncicia,
a, cu
cuja
ja po
poes
esia
ia
inesgotável deviaser imortal.
Uma nova desgraça fez rebentar de novo as lágrimas
dos olhos da Virgem. Madalena, a doce amiga, aenamorada
de Jesus, deixou de existir. A Virgem e João companharam
217
- Pedro! murmurou a Virgem com desfalecido acento. A
minha hora aproxima-se, e meu Filho espera-me: logo
cerrarei os olhos à vida terrestre.
Algumas horas depois, quando a noite estendia pelo
firmamento as sombras, quando os débeis clarões de uma
lâmpada banhavam com sua vacilante luz a habitação que
ocupavam os apóstolos, Maria deu um suspiro e,
Depois, exalando um gemido, elevou a sua alma à região do
Paraíso. A Virgem deixara de existir; mas a
formosura do seu rosto era tamanha, as rosas
ro sas de suas faces
tão puras, que os apóstolos ficaram estáticos contemplando-
ª
No dia seguinte, o corpo embalsamado da Virgem foi
colocado sobre um leito de flores, e coberto com um véu
fúnebre tecido pelas donzelas de Sion.
Os apóstolos conduziram-no aos ombros ao horto de
Getsemani, onde lhe estava destinada a sua derradeira
mansão sobre a terra.
- Quem morreu? Que fazeis vós aqui? perguntou o
viandante.
Aquela voz fez palpitar todos os corações, e os discípulos
pronunciaram ao mesmo tempo um nome: Tomé!
- Sim, sou eu, meus irmãos, lhes disse, que venho
novamente reunir-me convosco. Tão desfigurado me achais
que não me conhecestes
respondei-me: senão quando
a quem guardais vos falei. Mas
nesse sepulcro?
- A Maria de Nazaré, a Flôr mística do Evangelho, a Mãe do
Redendor do Mundo, disse Pedro com voz pausada
E PÍLOGO
218
NEM PEDRA SOBRE PEDRA
Quarenta anos depois que o Homem-Deus exalou no cume
do Calvário o seu derradeiro alento, Jerusalém era um
montão de ruínas.
A profecia do Lírio de Nazaré havia-se cumprido.