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Uma Luz em Lugar Escuro 1

UMA LUZ EM LUGAR ESCURO

N OITE de procela. Na escuridão opaca erra uma embarcação, batida


rudemente pelos vagalhões. Mastros partidos, leme em pedaços,
largou-se ao sabor das ondas. Mas – mistérios da Providência! – o barco
erradio, impelido de vaga em vaga, aproxima-se a pouco e pouco da
costa. Num promontório que avança ousado pela fúria marinha a dentro,
a luz robusta de um farol perscruta o negror impenetrável.
– Navio em perigo! brada o faroleiro. E num instante, homens
afeitos aos perigos do mar aprestam um barco e enviam-no em socorro
dos que se acham prestes a perecer.
E ei-los todos salvos.
Essa fragílima nau desarvorada simboliza a humanidade, batida
pela borrasca inexorável de seis mil anos de pecado. O farol bendito, que
lhe depara o providencial salvamento, é a Santa Escritura, e notadamente
sua parte profética. Por isso é que disse São Pedro (II Ped. 1:19-21):
"Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem
em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o
dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo,
primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular
elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade
humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo
Espírito Santo."

Lendo os versículos anteriores, veremos que o apóstolo descreve a


transfiguração de Cristo. Fora ele, juntamente com Tiago e João,
testemunha ocular do significativo acontecimento. Ouvira a voz do Pai
celestial, declarando ser Jesus o Seu Filho dileto; e vira com os próprios
olhos a glória ofuscante que irradiava de Cristo, pois, na linguagem de S.
Mateus (17:2), "o Seu rosto resplandeceu como o Sol, e os Seus vestidos
se tornaram brancos como a luz."
E a vista dessa como que miniatura da segunda vinda do Senhor à
Terra, constituía por certo um episódio bem de molde a confirmar
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inabalavelmente a fé dos presentes. Ouvir a voz de Jeová e ver-Lhe a
glória! Como, então, duvidariam eles de Deus, da origem divina de Jesus
e Sua missão na Terra?!
Mas, até nisto há possibilidade de engano. A vista e o ouvido
podem, às vezes, iludir-nos. E o apóstolo, prevendo quiçá uma sisuda
objeção de algum representante da humana ciência, quer excluir em
absoluto toda e qualquer possibilidade de dúvida. Por isso acentua:
"Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética"!

A Pedra de Toque

O elemento profético é, com efeito, a principal pedra de toque da


autenticidade das Escrituras Santas. É o elemento que prima pela
ausência nos volumes sagrados das religiões não cristãs, e pelo qual,
pois, o Livro do cristão patenteia irrefutavelmente a sua incomparável
superioridade sobre eles todos.
O próprio Jeová lança aos deuses falsos o seguinte repto:
"Apresentai a vossa demanda, diz o Senhor; alegai as vossas razões,
diz o Rei de Jacó. Trazei e anunciai-nos as coisas que hão de acontecer;
relatai-nos as profecias anteriores, para que atentemos para elas e
saibamos se se cumpriram; ou fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-
nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses;
fazei bem ou fazei mal, para que nos assombremos, e juntamente o
veremos." Isaías 41:21-23.

O mesmo Deus declara, assim, residir em Sua presciência, isto é, na


capacidade de prever, profetizar, a Sua prerrogativa divina. "Anunciar o
fim desde o princípio" (Isaías 46:9 e 10) constitui, por assim dizer, as
credenciais da Divindade. De onde se conclui que essa mesma qualidade
é o que mais sublimemente, e sobrenaturalmente, ergue acima de todas
as cartilhas religiosas a Bíblia Sagrada.
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Frederico o Grande e Seu Marechal

Pediu certa vez Frederico o Grande da Prússia, que era incrédulo, a


um seu marechal muito crente, que lhe desse uma prova da existência
divina. Sem titubear, volveu o interpelado:
– Majestade, os judeus!
Este povo envolve, efetivamente, uma história longa e triste, que a
todo momento vem de novo lembrar-nos a infalibilidade das profecias
escriturísticas.
No capítulo 28 de Deuteronômio, Moisés, da parte do Senhor,
apresenta aos hebreus, reunidos em multidão ao redor do monte Gerizim,
dois caminhos: o da obediência aos mandamentos de Deus, e as grandes
bênçãos advindas de segui-lo; e a estrada larga da impiedade, com o
cortejo sem fim de males que lhes acarretaria.
Vejamos apenas alguns versículos referentes a este último aspecto
(Deut. 28:48-53 e 64 e 65):
"Assim, com fome, com sede, com nudez e com falta de tudo, servirás
aos inimigos que o Senhor enviará contra ti; sobre o teu pescoço porá um
jugo de ferro, até que te haja destruído. O Senhor levantará contra ti uma
nação de longe, da extremidade da terra virá, como o vôo impetuoso da
águia, nação cuja língua não entenderás; nação feroz de rosto, que não
respeitará ao velho, nem se apiedará do moço. Ela comerá o fruto dos teus
animais e o fruto da tua terra, até que sejas destruído; e não te deixará
cereal, mosto, nem azeite, nem as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas,
até que te haja consumido. Sitiar-te-á em todas as tuas cidades, até que
venham a cair, em toda a tua terra, os altos e fortes muros em que
confiavas; e te sitiará em todas as tuas cidades, em toda a terra que o
Senhor, teu Deus, te deu. Comerás o fruto do teu ventre, a carne de teus
filhos e de tuas filhas, que te der o Senhor, teu Deus, na angústia e no
aperto com que os teus inimigos te apertarão."
"O Senhor vos espalhará entre todos os povos, de uma até à outra
extremidade da terra. Servirás ali a outros deuses que não conheceste, nem
tu, nem teus pais; servirás à madeira e à pedra. Nem ainda entre estas
nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso, porquanto o
SENHOR ali te dará coração tremente, olhos mortiços e desmaio de alma."
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Quão flagrantemente se cumpriu esta sentença, que os próprios
judeus pronunciaram sobre si, desviando-se do caminho verdadeiro já
desde os tempos de seus reis e posteriormente rejeitando a salvação que
Cristo lhes viera trazer! Seu orgulho nacional os cegou por tal forma que
não reconheceram, na vinda do Cordeiro divino, o cumprimento das
mesmas profecias que liam todos os sábados nas sinagogas. E encheram
a transbordar a taça de sua iniqüidade, quando, preferindo o celerado
Barrabás ao manso Nazareno, bradaram: "Seu sangue caia sobre nós e
sobre nossos filhos!" E o sangue caiu, pesado, sobre eles e sua
descendência infeliz.
Daí por diante a história do povo judeu passou a ser um longo e
doloroso drama, com cenas a renovar-se sempre ante os nossos olhos, até
aos dias de hoje.
Mas, vejamos dois dedos da agitada história daquela nação. No ano
70 de nossa era deixava ela definitivamente de existir, quando Jerusalém
foi tomada pelo general Titio. Se bem que já antes tivessem sido um
povo avassalado pelos romanos, a "nação feroz de rosto" que "voa como
a águia", nesse ano é que se dispersaram pelo mundo e deixaram de ter
pátria, justificando a lenda do judeu errante. Desde então só se
reconhecem, como diz Meyer, pela "pressão que sobre eles tem pesado,
ora mais, ora menos, e que nos primeiros séculos se mostrava
isoladamente, mas mais tarde, isto é, na última metade da Idade Média,
passou a sistemática tirania."
Na tomada de Jerusalém, dois milhões de judeus foram mortos ou
vendidos como escravos. No longo cerco, mulheres chegaram a comer
seus filhos. Sessenta anos depois massacraram, os mesmos romanos,
mais de meio milhão. Perseguidos por todos, e de toda parte
escorraçados, culpavam-nos os supersticiosos de quanta calamidade
desabasse sobre a Terra. Na destruição de Jerusalém pereceram todos os
sacerdotes.
Da Inglaterra foram os judeus expulsos em 1290; da França, três
vezes; em 1492, da Espanha e em 1496 de Portugal. Em1880 começou a
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perseguição na Alemanha. Na Ucrânia e Galícia Oriental calculam-se em
mais de cento e cinqüenta mil os que pereceram de 1918 a 1920. E que
diríamos dos massacres recentes, que têm manchado a história de nações
ditas civilizadas?
No cativeiro, diz Deuteronômio 28:36, serviriam eles "a outros
deuses, feitos de madeira e de pedra." No mesmo dia em que foi
destruído o templo de Jerusalém, era-o também o de Júpiter Capitulino,
em Roma. O imposto que os hebreus tinham de pagar ao seu templo
(meio siclo por ano), foram então obrigados a pagar àquele. Milhares
tiveram de, sob pena de morte, prestar culto aos deuses romanos.
É claro que disto não se deve depreender que todos os judeus
estejam condenados a inexorável rejeição por parte de Deus. Foram, sim,
rejeitados como nação. Bem sabemos, porém, que muito judeu existe
hoje que, volvendo-se individualmente a Deus e ao Cristianismo, ali
encontrou aceitação do Pai que não repele a nenhum pecador que se Lhe
aproxime, arrependido. E dir-se-ia mesmo que ainda repousa sobre
aquele povo inextinguível, algo da bênção original.

Nínive

Foi Nínive outrora uma cidade próspera e populosa. Disse-o Jonas:


"Ora, Nínive era cidade mui importante diante de Deus e de três dias
para percorrê-la" (3:3).
Essa cidade arrependeu-se e voltou-se ao Senhor, quando da
pregação de Jonas. Decaiu, porém, no antigo estado, merecendo a
predição de Sofonias 2:13-15, onde Deus ameaça torná-la uma
"desolação e terra seca como o deserto", "pousada de animais". A
"cidade alegre e confiante", como lhe chama ainda o profeta, não deu
ouvidos à advertência, e hoje que existe dela? Arrasaram-na os
babilônios e os medos, e acabou completamente sepultada por milhões
de toneladas de terra.
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Pormenor interessante. "O palácio é destruído", declarou o profeta
Naum (2:6), descrevendo o cerco e tomada de Nínive. E conta a história
que o rei se atirou no meio das chamas em que ardia o seu palácio.

O Preço da Idolatria

Era Tiro, nas costas da Fenícia, uma cidade afamada pela idolatria e
corrupção imoral, com que soube contaminar o próprio povo hebreu. Por
isso lhe coube, por intermédio de Ezequiel (26:3-5), o seguinte vaticínio:
"Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu estou contra ti, ó Tiro, e farei
subir contra ti muitas nações, como faz o mar subir as suas ondas. Elas
destruirão os muros de Tiro e deitarão abaixo as suas torres; e eu varrerei o
seu pó, e farei dela penha descalvada. No meio do mar, virá a ser um
enxugadouro de redes, porque eu o anunciei, diz o Senhor Deus; e ela
servirá de despojo para as nações."
Nabucodonosor começou a destruição da cidade, fazendo "que o
seu exército ... prestasse grande serviço contra Tiro", na linguagem
sugestiva de Ezequiel (29:18). Alexandre terminou a obra. Cumprindo
ainda a profecia de Joel 3:8, esse monarca vendeu em cativeiro 30.000
cidadãos de Tiro. Esta cidade seria, ainda, segundo outra predição
(Zacarias 9:3 e 4), "consumida pelo fogo". Alexandre incendiou-a.
Havia uma Tiro continental, e outra na ilha próxima. Alexandre,
diante da tenaz resistência dos ilhéus, arrasou a cidade do continente e
com os escombros construiu um dique até à ilha. Que circunstanciado
cumprimento da profecia acima!
Bruce, percorrendo há cerca de um século as paragens da antiga
Tiro, lá encontrou, segundo refere, uma "pedra onde os pescadores
enxugam suas redes". E diz Meyer que "o sítio da outrora brilhante
capital se acha agora como 'uma penha descalvada', lugar onde os poucos
pescadores que ainda freqüentam aquela região estendem as redes ao
Sol." "Toda a vila de Tiro só tem cinqüenta ou sessenta famílias pobres,
que vivem obscuramente do produto de suas poucas terras e
insignificantes pescas" – diz Volney. 1
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O Árabe e a Cidade Maldita

O Dr. Ciro Hamlin, missionário na Turquia, foi certa vez abordado


por um oficial do exército turco, o qual lhe pedia provas da inspiração
divina da Escritura. O interpelado ladeou a questão, começando a falar
em suas muitas viagens, e demorando-se especialmente no que respeitava a
Babilônia. Chegando a essa altura o oficial interrompeu o doutor,
dizendo:
– Este nome sugere-me um incidente interessante que lá se deu
comigo. Sou muito amigo de caçadas, e ouvindo dizer que nas ruínas
daquela cidade abundavam os leões e outras feras, resolvi para lá ir.
Ajustei um sheik e alguns auxiliares para me acompanharem. Chegamos
a Babilônia e armamos nossas tendas. Pouco antes de se pôr o Sol, tomei
a espingarda e percorri os arredores. As cavernas que existem pelas
ruínas estão infestadas de caça, a qual, porém, raro se vê antes do anoitecer .
Avistei um ou dois animais a distância, e voltei então ao acampamento,
com a intenção de dar início ao meu esporte logo que o Sol entrasse.
Qual não foi, porém, minha surpresa ao achar os homens desarmando as
tendas! Dirigi-me ao sheik e protestei veementemente. Ajustara-o por
uma semana e ia pagar-lhe bem, e eis que se dispunha a partir, agora que
nosso contrato apenas começara. Coisa alguma que lhe dissesse, porém,
o podia persuadir a ficar.
"– Não é seguro, dizia ele; mortal algum se atreve a ficar aqui
depois de posto o Sol. Nas trevas, saem espíritos, duendes e toda sorte de
fantasmas, das cavernas e covas, e todo o que aqui for por eles achado, é
levado e se torna um deles.
"Vendo que não o podia persuadir, disse eu:
"– Bem, eu já lhe estou pagando mais do que devia; mas, se você
ficar, pagar-lhe-ei o dobro!
"– Não! volveu ele; não ficarei nem por todo o dinheiro do mundo.
Nenhum árabe já viu o Sol pôr-se em Babilônia. Mias quero fazer o que
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for justo. Iremos a um lugar a uma hora de distância, e para aqui
voltaremos ao raiar do dia.
"E foram-se. Tive de desistir de minha diversão."
Tomando então da Escritura Sagrada, abriu-a o Dr. Hamlin em
Isaías 13 e pôs-se a ler ao oficial os versículos 19 a 22:
"Babilônia, a jóia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus, será como
Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou. Nunca jamais será
habitada, ninguém morará nela de geração em geração; o arábio não armará
ali a sua tenda, nem tampouco os pastores farão ali deitar os seus rebanhos.
Porém, nela, as feras do deserto repousarão, e as suas casas se encherão
de corujas; ali habitarão os avestruzes, e os sátiros pularão ali. As hienas
uivarão nos seus castelos; os chacais, nos seus palácios de prazer; está
prestes a chegar o seu tempo, e os seus dias não se prolongarão."
– É isto exatamente! exclamou o coronel, terminada a leitura. Mas o
que o senhor leu é da história universal!
O missionário replicou que não era história universal, mas sim
profecia, ao que o oficial se mostrou muito surpreendido, prometendo
meditar sobre o caso.
Ora, a profecia contra Babilônia fora dada ao tempo em que essa
cidade se achava no apogeu da sua glória. Eis alguns dados sobre o que
constituiu essa glória:
"Nabucodonosor tornou Babel uma das sete maravilhas do mundo,
digna de figurar como a sede do reino áureo de uma idade de ouro.
Reconstruindo a pirâmide de terraços do antigo templo de Belo, de 188
metros de altura, fundou a leste do Eufrates um novo bairro com o burgo
real. A ponte aí lançada sobre o Eufrates media 900 metros de comprimento
sobre 30 de largo. Por cima do burgo real elevava-se uma construção de
granito em forma de terraços, de cerca de 125 metros em quadrado. Sobre
vastas arcadas, mantidas por possantes colunas, estavam dispostas
enormes lajes ligadas entre si por gesso e asfalto, e cobertas de espessa
camada de terra em que vicejavam os mais ricos espécimes da flora oriental.
Tais eram os célebres jardins suspensos de que nos fala a história. Afora as
grandiosas obras de defesa, adornavam a cidade esplêndidos jardins, ricos
pomares e virentes prados. Dentro de um perímetro de 484 quilômetros
agitava-se uma população de meio milhão de habitantes. Poderosas
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cidadelas e uma muralha tripla de dimensões colossais, flanqueavam a
cidade. A muralha principal, que era ladeada de um largo fosso, media 62
metros de altura sobre 13 de largo. Duzentas e cinqüenta e cinco torres se
projetavam no ar, sobrelevadas pelo templo de Marduc, de 200 metros de
altura. Cem portais de bronze davam acesso à cidade." 2
Já Heródoto, em sua História, Livro I, dá uma viva descrição de
Babel, dizendo que "em magnificência ela ultrapassou todas as cidades
de que temos conhecimento".
Vejamos, como aliás já nos foi em parte revelado pelo oficial turco,
a que ficou reduzida essa beleza toda, segundo o testemunho do
arqueólogo Layard, que por lá andou em 1845:
"Montões informe de detritos entulham várias geiras de terreno. De todos
os lados, fragmentos de vidro, mármore, louças de barro, tijolos com inscrições,
acham-se de mistura com aquele solo peculiar, nitroso e branqueado, que,
resultando dos destroços das antigas habitações, impede ou destrói a
vegetação e torna o lugar de Babilônia um deserto despido e medonho. As
corujas em bandos que chegam às vezes a quase uma centena, saem de matos
ralos, e os chacais bravos acoitam-se pelas concavidades ." 3
E outros viajantes ainda, como por exemplo Porter e Keppel,
referem que os esconderijos das ruínas babilônicas servem de morada a
leões e chacais, e corujas ali fazem os seus ninhos. Jeremias, em seu
capítulo 51, versículos 24 a 26, secunda a profecia de Isaías, predizendo
a "assolação perpétua" da grande cidade.
Os mesmos profetas (Isaías 10; Jeremias 51), vaticinam a queda e
devastação dos grandes reinos da Assíria e Caldéia, aquelas regiões
fertilíssimas das quais disse Heródoto que o trigo produzia a 200 e 300
por um, havendo espigas da largura de quatro dedos. No entanto,
"tornaram-se as suas cidades em desolação, terra seca e deserta"
(Jeremias 51:43).
Diz Fraser: "Toda a planície está cheia de vestígios de antigas
habitações; hoje, porém, nada mais oferece à vista senão um enorme
deserto seco, uma triste solidão." E atesta Porter: "Cada pedacinho de
solo, até onde alcança a vista, é completamente estéril."
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A Terra dos Faraós

"Tornar-se-á o mais humilde dos reinos e nunca mais se exaltará


sobre as nações; porque os diminuirei, para que não dominem sobre as
nações" – tais são as palavras com que o profeta Ezequiel (29:15) prediz
a sorte do Egito, o velho berço de uma grande civilização. Vemos que o
país não seria destruído, mas decairia a pouco e pouco, nunca deixando
de ser nação sujeita.
Sobre ele deixou Volney, o já citado ateu francês, este testemunho:
"Privado já há dois mil anos de seus legítimos donos, tem visto seus
férteis campos cair sucessivamente, presa dos persas, macedônios,
romanos, gregos, árabes, georgianos e, finalmente, dos tártaros, encobertos
sob o nome de turco-otomanos. Os mamelucos, comprados como escravos,
e introduzidos no exército, usurparam prontamente o poder, e elegeram um
chefe. Se seu primeiro estabelecimento foi um sucesso extraordinário, sua
continuação não o é menos. São substituídos por escravos comprados em
seu país de origem. Tudo que o viajante contempla ou ouve, recorda-lhe que
se encontra no país da escravidão e da tirania." 4
Notemos ainda o versículo 12 do capítulo 30 de Ezequiel, no qual o
Senhor diz: "Venderei a terra, entregando-a nas mãos dos maus; por
meio de estrangeiros, farei desolada a terra." O Egito destacou-se pela
crueldade de seus regentes. Fala Malte Brun no "arbitrário domínio dos
desumanos governantes do Egito" – governantes que, há 2.500 anos, têm
sido sempre estrangeiros.
Os edomitas, povo próspero e afamado nos dias de Moisés, foram
objeto de predições de Jeremias (49), Ezequiel (35) e Obadias (18), que
profetizaram sua destruição. Hoje os restos de Petra, com seus palácios
talhados na rocha, atestam as glórias passadas do poderoso "monte de
Seir". Refere um viajante que, percorrendo aquela região, dentro de oito
dias encontrou trinta cidades em ruínas.
Além de outras profecias pormenorizadas, sobre as quais se têm
escrito volumes e volumes, há ainda as referentes ao primeiro advento de
Cristo, as quais corroboram igualmente a autenticidade da Escritura.
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Eis delas um resumo, da pena fecunda e insuspeita de Camilo
Castelo Branco:
"Anunciaram os profetas o Messias; e tão dentro da alma da nação hebréia se
entranhara a esperança de Sua vinda que, nos derradeiros tempos, o aparecimento de
S. João Batista suscita nos judeus a certeza de que é chegado o Cristo, e os
samaritanos por igual se entram do mesmo convencimento. 'Eu sei', diz a samaritana a
Jesus, 'que o Messias está próximo, e tudo nos será enviado por Ele quando chegar.'
"Não se restringiram, porém, os profetas a predizer a vinda do Salvador. O retrato
que eles predefinem do Messias é tão minucioso, que impossível seria confundi-lo com
os seus contemporâneos.
"Disseram que nasceria duma virgem. Isa. 7:14.
"Que nasceria em Belém, aldeia obscura e incógnita. Miq. 5:2.
"Que seria da tribo de Judá e raça de Davi. Gên. 10; Isa. 10:11; Sal. 39; Jer. 23.
"Que seria pobre, e anunciaria a boa nova aos pobres. Zac. 9:9 e 10; Isa. 40:3.
"Que seria obscuro e sem magnificência ; mas que um dia se Lhe prostrariam os
reis. Isa. 53:4.
"Que a voz deste precursor soaria no deserto. Isa. 41:3.
"Que semearia milagres e benefícios em Seu caminho. Isa. 11; 40; 42; 53; Zac. 9.
"Que o espírito do Eterno, espírito de sabedoria, de inteligência, de conselho, de
força, e de temor seria com Ele, e O faria brilhar em pleno resplendor de justiça; porém,
ao mesmo tempo, a Sua onipotência seria sublime de doçura e humildade. Dan. 9:26;
Isa. 6:10; 55:2.
"Que seria ludíbrio de desprezos e contradições, repelido e perseguido por Seu
povo. Mal. 10:11.
"Que seria traído por um dos Seus discípulos. Zac. 11:12 e 13.
"Vendido por trinta moedas. Zac. 13:7.
"Desamparado dos Seus. Salmos.
"Caluniado por testemunho. Isa. 53:1.
"Que, espontaneamente, Se deixaria levar à morte, como cordeiro sem defesa, e
mudo entre as mãos daquele que o afoga. Isa. 53:2.
"Que seria esbofeteado, cuspido, afrontado, cravado de pés e mãos. Isa. 53:3.
"Que os transeuntes insultariam Suas agonias trejeitando. Sal. 21; Isa., Jer. e
Zac.
"Que seria contado entre os celerados e supliciado com eles. Sal. 21:7 e 8.
"Que Lhe jogariam aos dados a túnica. Sal. 21:8 e 19.
"Que Lhe dariam fel e vinagre. Sal. 21:22.
"Que seria gloriosa Sua sepultura; ressuscitaria ao terceiro dia; alumiaria toda a
carne com o reflexo do Seu espírito. Sal. 15:9 e10; Isa. 11; Joel 11:28.
"As profecias realizaram-se em Jesus Cristo." 5
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O Segundo Advento de Cristo

O capítulo 2 do livro de Daniel esboça-nos um longo trecho de


história universal. Tome a Bíblia e leia-o. O monarca Nabucodonosor
teve um sonho, divinamente inspirado, em que se lhe revelou o
conhecido fato histórico dos quatro impérios universais: Babilônia,
Média-Pérsia, Grécia e Roma. Foram-lhe estes representados sob o
símbolo de uma grande estátua, cuja cabeça de ouro representava
Babilônia; o peito e os braços de prata, o segundo império; o ventre e as
coxas de cobre, o seguinte; e as pernas de ferro, o quarto – Roma – que,
pela invasão dos bárbaros, acabou por ser dividido em dez reinos,
representados na estátua pelos dez dedos dos pés. Compulse qualquer
compêndio de História Universal. Confronte com ele os detalhes desse
capítulo de Daniel: você se surpreenderá com a harmonia entre ambos.
O mesmo trecho da história do mundo repete-se no capítulo 7 desse
profeta, com algumas ampliações. Note, entretanto, que aí já a imagem
não é a mesma: as nações da Terra, que ao espírito envaidecido de um
monarca assumem o glorioso aspecto de uma estátua a faiscar
reverberações em seu brilho metálico, aos olhos de um servo de Deus,
alheio às seduções das glórias humanas, não passam de – feras! E são
porventura outra coisa as grandes potências que se espreitam umas às
outras, num afã de ser cada qual a primeira a lançar-se sobre vítimas
indefesas?
Daniel não admite um quinto reino universal fundado por homens.
Carlos V, Napoleão e outros tentaram contrariar este pormenor da
profecia. Fracassaram. Daniel 2, versículos 44 e 45 dão o epílogo da
História Universal:
"Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será
jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá
todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, como viste que do
monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o
bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de
ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel, a sua interpretação ."
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Virá, sim, um quinto reino universal, mas não humano. Será ele o
eterno reino de nosso Senhor Jesus Cristo, que "há de vir a julgar os
vivos e os mortos," como afirma o Credo – e tudo indica que isso será
em breve.

Não Pode Haver Fraude

Mas, alegará alguém, não foram porventura as profecias produzidas


depois de ocorridos os acontecimentos de que tratam?
Absolutamente não! Senão vejamos: Já há 1.800 anos, Tácito, o
historiador grego do primeiro e segundo séculos, chamou às Escrituras
"os antigos escritos dos sacerdotes".
Sabe-se, ainda, que a Versão dos Setenta, ou Septuaginta, foi trabalho
feito cerca de 300 anos antes de Cristo. Logo, o Velho Testamento tem
de ter pelo menos 2.200 anos de idade.
Além das muitas profecias já cumpridas há também, a aumentar
nossa fé na divina autoridade da Escritura, as inúmeras que hoje se estão
a realizar flagrantemente ante nossos olhos. Tal, por exemplo, essa cujo
cumprimento se vem estendendo através de perto de dois milênios, na
história do povo semita. A ela já nos referimos páginas atrás.
Veja, ainda, os sinais preditos pelo próprio Salvador e pelos
apóstolos, relativos a Sua volta ao mundo e ao estabelecimento de Seu
reino eterno, tais como os que alinhamos no último capítulo.
Sim, prezado leitor, as profecias da Escritura Sagrada interessam a
história passada, presente e futura. E que abundância delas existe! Cerca
de mil, das quais oitocentas no Velho Testamento e duzentas em o Novo.
Tomemos, pois, a peito a advertência do apóstolo em I
Tessalonicenses 5:20: "Não desprezeis as profecias."

Referências:

1. Famous Infidels, who Found Christ, Lee S. Wheeler.


Uma Luz em Lugar Escuro 14
2. Sucessos Preditos da História Universal, Casa Publicadora
Brasileira.
3. Ruins of Niniveh and Babylon, Layard.
4. Viagens, Vol. I, Constantino Volney.
5. Divindade de Jesus, Camilo Castelo Branco.

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