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O Desejado de Todas as Nações 1

O DESEJADO DE TODAS AS NAÇÕES

O PRIMEIRO advento de Cristo foi, como vimos, objeto dos mais


sentidos anseios da humanidade, através dos séculos e milênios. Esses
anseios benditos realizaram-se, felizmente. De que nos valeria, porém, a
vinda do Messias; que adiantaria haver Ele baixado ao mundo; ter-Se
sacrificado sobre a cruz; haver descido ao seio do abismo; ressurgido do
império da morte; ascendido ao Céu, para ocupar Seu lugar à destra do
Pai – que bênção colheríamos nós de tudo isto, se o mesmo Senhor nosso
nunca mais volvesse à Terra?!
O segundo advento de Cristo é, pois, o complemento indispensável,
o glorioso remate do divino plano da redenção.
Vejamos em rápidos traços como, simultaneamente com os anelos
pela primeira vinda do Messias, prevaleceu, através de todos os tempos,
o mesmo desejo ardente quanta à Sua volta – desde a época dos
patriarcas e da história. hebréia, até à era apostólica e aos nossos dias.

Na Dispensação Antiga

Já Enoque, o sétimo depois de Adão, aquele homem tão santo que


Deus o arrebatou para Si, profetizou: "Eis que veio o Senhor entre suas
santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos
todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente
praticaram." S. Judas 14 e 15. É evidente que aqui, como nas demais
passagens apresentadas em seguida, não se trata do primeiro advento de
Cristo, mas sim do segundo, em que Ele virá como juiz e não como
impotente criancinha.
As mais cruéis agonias de moléstia repugnante, não conseguiram
apagar no coração do patriarca Jó, o confortador anelo de redenção, ao
voltar Cristo à Terra para salvar Seus filhos. "Porque eu sei que o meu
Redentor vive", dizia aos amigos que o visitavam. E, enquanto raspava
com um caco de telha as feridas, deformado pela doença a ponto de a
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custo ser reconhecido pelos visitantes que com ele ficaram sete dias,
mudos, "porque viam que a dor era mui grande" enquanto isso o aflito
patriarca exclamava triunfante: "Vê-Lo-ei por mim mesmo, os meus
olhos O verão, e não outros" (Jó 19:25, 27).
Eis como se expressava o salmista: "Vem o nosso Deus e não guarda
silêncio; perante ele arde um fogo devorador, ao seu redor esbraveja grande
tormenta." "Porque vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e
os povos, consoante a sua fidelidade." Salmo 50:3; 96:13.
"Eis que o Senhor Deus virá com poder, e o seu braço dominará; eis
que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa."
anuncia o mais suave dos profetas (Isaías 40:10).
Consideramos, capítulos atrás, o esboço profético do cativo hebreu
na corte de Babilônia., no qual se resumem dois mil e quinhentos anos de
história universal, indo até ao estabelecimento do reino eterno de Cristo
no mundo. O mesmo profeta via, pelos olhos da fé, o tempo em que "Se
levantará Miguel, o grande Príncipe," para livrar o Seu povo, e em que
ressurgirão os que dormem no pó da terra, "uns para a vida eterna, e
outros para vergonha e horror eterno." Daniel 12:1 e 2.

Mais de Trezentas Referências

O grande apóstolo dos gentios aguardava, como Abraão, uma


cidade que "está nos Céus, donde também aguardamos o Salvador, o
Senhor Jesus Cristo" (Filipenses 3:20). E essa expectativa leva-o a
exortar a seu filho espiritual, Tito: "Educando-nos para que, renegadas a
impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata,
justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação
da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus." Tito 2:12 e13.
S. Pedro, outra estrela de primeira grandeza no firmamento
evangélico, fala repetidamente no glorioso acontecimento, em especial
no terceiro capítulo de sua segunda epístola.
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"Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor", exorta
paternalmente S. Tiago (5:7). Enfim, só no Novo Testamento há mais de
trezentas referências à segunda vinda de Cristo.
O testemunho do próprio Jesus por certo já serviu de conforto a
muita alma acabrunhada: "Não se turbe o vosso coração; credes em
Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se
assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E,
quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim
mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também." S. João 14:1-3.
Quando, após a ascensão de seu amado Senhor, os discípulos
alongavam o olhar, num derradeiro anseio por apanhar os últimos raios
da glória que desaparecia na altura, postaram-se de súbito dois anjos ao
seu lado, mitigando-lhes a saudade com estas palavras: "Esse Jesus que
dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir." Atos
1:11. E os discípulos, reconfortados, "então voltaram para Jerusalém,"
confiantes na promessa angélica.

Intuição Geral

Jesus Cristo "há de vir a julgar os vivos e os mortos" – é o próprio


Credo que o diz. O padre Júlio Maria, em comentário, considera "dogma
claríssimo a segunda vinda de Jesus Cristo." Referindo-se à proximidade
desse advento, observa ainda: "Sim; eu o diviso!... Não, meus amigos,
não é um vôo da fantasia, uma quimera da. Imaginação!... É a convicção
profunda do dogma, a certeza iluminada da fé!"
"Nós sabemos que Ele tornará a vir, e com brevidade" – afirmava
João Knox. Os irmãos Wesley, fundadores do metodismo, Alberto
Barnes, Spurgeon, e tantos outros, não só partilhavam da mesma idéia
como também a pregavam.
Longe iríamos se quiséssemos aqui registrar as inúmeras
exteriorizações do anelo universal pela vinda de Cristo, através de todos
os tempos. É da boca do povo o ditado: "De dois mil não passará." O
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glorioso segundo advento do Senhor Jesus é como que uma intuição
geral da humanidade.
Não é escopo deste livro tratar pormenorizadamente do fato em
apreço, porquanto várias outras obras publicadas pela mesma casa
editora desta, já dele trataram exaustivamente. Por demais incompleto
ficaria, entretanto, o nosso já tão conciso estudo, se lhe não
acrescentássemos, em ligeiras linhas, um apanhado geral do glorioso
evento que constitui a viga-mestra do edifício escriturístico.
Assim, vejamos resumidamente o que diz a Escritura sobre o modo
da vinda do Senhor.

Como Voltará Jesus

Ao contrário do que ensinam alguns, isto é, que essa vinda se dará


por ocasião da morte do indivíduo, ou que será secreta, diz S. João, no
Apocalipse, que "todo olho O verá, até quantos que O traspassaram."
"Todos os povos da terra se lamentarão", declara o próprio Jesus, "e
verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
muita glória." S. Mateus 24:30. E compara Ele mesmo essa vinda com o
relâmpago, que "sai do oriente e se mostra até ao ocidente," sendo, pois,
visível a todos. (Versículo 27) Virá em companhia de "todos os anjos"
(S. Mateus 25:31).

O Objetivo de Sua Vinda

E qual a significação e objetivo de Sua vinda f Para os justos que se


acharem nos sepulcros quando Jesus voltar, este acontecimento
representará a ressurreição e arrebatamento para o Céu. "Assim como,
em Adão, todos morrem," adverte S. Paulo em I Coríntios 15:22, "assim
também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua
própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua
vinda." (ênfase suprida)
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Os justos que se acharem vivos nessa ocasião, serão
"transformados ... num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da
última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis." I
Cor. 15:51-52.
Em I Tessalonicenses 4:16 e 17, esclarece o apóstolo mais que "o
Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e
ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro." Depois os justos vivos serão "arrebatados
juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares".
E o ardoroso e incansável príncipe dos apóstolos conclui a advertência
com esta chave de ouro: "E, assim, estaremos para sempre com o Senhor.
Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras."
Quanto aos ímpios vivos, esconder-se-ão, apavorados, nas cavernas
das montanhas, suplicando aos montes e rochedos que caiam sobre eles,
a fim de os esconder "da face dAquele que se assenta no trono"
(Apocalipse 6:15 e16). Serão, porém, aniquilados "pelo esplendor da Sua
vinda" (II Tessalonicenses 2:8), pois naquele dia, horrendo para os
pecadores impenitentes, "os elementos se desfarão abrasados; também a
terra e as obras que nela existem serão atingidas." II S. Pedro 3:10
Os ímpios que nessa ocasião estiverem repousando na morte, só
ressurgirão mil anos depois, quando Cristo descerá de novo à Terra,
desta vez acompanhado de todos os remidos, a fim de aqui estabelecer o
Seu reino sempiterno. (Ver Apocalipse 20.) Ressurgidos, serão então
comandados por Satanás num cerco à cidade santa. Uma chuva de fogo e
enxofre porá termo, para sempre, ao pecado e aos pecadores.
Cumprir-se-á então, em toda a beleza de sua amplitude, o cântico de
Miquéias (4:8): "A ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti
virá; sim, virá o primeiro domínio, o reino da filha de Jerusalém."
Um dos objetivos da volta de Cristo ao mundo e o objetivo
máximo, de todos o mais sublime e desejável – será, pois, restaurar o
homem a seu original estado de graça e comunhão com Deus,
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restituindo-lhe o domínio perdido. Eis o remate indescritivelmente
glorioso, do plano da redenção.

O Plano Original

Ao criar a Terra, e nela o homem, predestinara-a Deus para


aprazível lugar de habitação de seres santos. "Sede fecundos, multiplicai-
vos", ordenou ao santo par, pois criara a Terra "para ser habitada".
(Isaías 45:18). A população ir-se-ia multiplicando, até que enchesse
razoavelmente a Terra, e nesta viveriam eternamente, sob a bênção de
Deus e a luz de Seu olhar.
A rebelião de Satanás retardou o plano de Deus, mas de maneira
alguma o frustrou. Cumprir-se-á ele plenamente, quando Cristo vier para
pôr termo à angústia humana. E esta, afirma-o Naum (1:9), "não se
levantará por duas vezes."
O inefável plano divino para com a Terra e seus habitantes sofre,
desde o Paraíso, a fúria dos ataques do arquiinimigo do bem e da felicidade .
Levou ele à desobediência nossos primeiros pais, lançando-os nas
agonias do afastamento de Deus. Induziu Caim a assassinar o irmão.
Mais tarde, levou a tal ponto a multiplicação do mal sobre a Terra, que o
Senhor a mergulhou no dilúvio, salvando oito justos apenas.

A Luta Entre o Bem e o Mal

A mente acanhada do homem, que vê tudo com olhos míopes e tudo


quer explicar como se fosse o seu mundo o centro único e a maior razão
de ser do universo, essa mente julga por vezes lobrigar nos atos da
Divindade, motivos desumanos, cruéis. Mas tal conclusão só pode
sobrevir aos que não discernem em cada ato de Deus um novo elo na
cadeia mirífica do plano da redenção.
A cada irrupção do mal, provocada pelo arqui-rebelde, teve o amor
de Deus – o amor, notemos bem – de contrapor o remédio heróico de
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Sua intervenção. Esse remédio único visava e visa sempre
exclusivamente o bem – mediato, quando não imediato. Assim é que à
multiplicação da iniqüidade antediluviana, opôs Ele o remédio da
destruição, pela água.
– Por que destruição? perguntará algum leitor.
Para grandes males, grandes remédios. Não percamos de vista que
era o desígnio supremo do Pai celestial – para nossa felicidade – velar
sobre o cumprimento integral de Seu plano de redimir o homem e tornar
a Terra repleta de seres santos. E notemos com que paternal solicitude
interveio sempre em defesa desse desiderato. Não houvesse Ele
extirpado a perversa geração antediluviana – aliás não sem lhes dar o
prazo de cento e vinte anos, mais que suficiente para se arrependerem –
os poucos justos que restavam no mundo seriam, como disse alguém,
"absorvidos pelos ímpios". Esta calamidade, diz muito bem Reaser,
"teria significado a dissolução do eterno propósito de Jeová. Ademais,
como seria possível a semente da mulher,' o Deus-Homem, que deveria
nascer na família humana a fim de cumprir o Seu eterno propósito, fazer
Seu aparecimento na geração de Adão, a menos que fosse preservada a
linhagem justa? 1
Antes de incriminar a Deus, conviria que o acusante precipitado
considerasse um pouco o ponto a que chegara a perversidade dos homens
da época de Noé, como toda vez que os juízos divinos têm caído sobre o
mundo. Os antediluvianos, assim como os que foram por ordem divina
destruídos pelos invasores hebreus nas terras por eles conquistadas,
tinham a taça de sua iniqüidade a transbordar de tal forma, que o pejo
nos inibe de aqui lhes expor as chagas imundas. Em vez de acusar a
Deus de crueldade, bem mais razão há para Lhe admirar a longanimidade e
misericórdia – causas únicas de ainda existir este mundo.
O amor infinito de Deus foi que O levou, pois, a intervir sempre
que o Seu plano maravilhoso estivesse em jogo. Assim, por exemplo, na
opressão exercida pelos faraós egípcios sobre os piedosos descendentes
de Abraão, escolhidos por Deus para servir de agasalho à semente
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prometida. O rei que afinal perseguiu os israelitas, em sua saída para
Canaã, foi, com todo o seu exército, tragado pelas águas do Mar Vermelho .
A mesma solicitude divina vemos através da história dos pecados e
murmurações dos hebreus na jornada pelo deserto. Logo que Satanás
conseguia parcialmente o seu fim, levando aquele povo ao pecado (com
o que visava sua final destruição e, conseqüentemente, também a do
plano divino), Deus intervinha, castigando os culpados e ressalvando os
inocentes.
O mesmo se dava com os inimigos externos de Israel, quando
Satanás por eles pretendia aniquilá-lo. Certa ocasião em que os assírios
sitiavam Judá, tribo da qual fora predito que o cetro dela não se desviaria
até que viesse Siló, o Cristo (Gênesis 49:10) interpôs-se o anjo do
Senhor, ferindo a cento e oitenta e cinco mil soldados (II Reis 19:35).
Satanás procurou ainda contaminar o povo escolhido de Deus com a
idolatria e extrema corrupção de Babilônia, Média-Pérsia e Grécia. E
afinal, nascido o Varão prometido, a Semente da mulher, que de esforços
envidou o inimigo por meio de Roma pagã, para destruí-Lo! Basta
lembrar o morticínio das inocentes crianças, ordenado por Herodes, e
que fora profetizado já por Jeremias (31:15).
E as lutas do príncipe das trevas contra o povo justo e a efetivação
integral do plano divino, prosseguiram através dos séculos, ainda aquém
do Calvário, como por exemplo nas perseguições aos Cristãos, às quais
dezenas de milhões de mártires pagaram o tributo de sua vida. Mas,
como no tempo de Elias, em que o grande profeta julgava ser o único
que restasse fiel, Deus lhe revelou haverem ainda ficado em Israel sete
mil cujos joelhos se não dobraram a Baal (I Reis 19:18), assim também
em todas as outras crises espirituais por que passou o mundo, Jeová
providenciou para que existissem santos na Terra.
Da mesma forma que Satanás não logrou evitar o cumprimento da
primeira parte do plano divino para a redenção do homem, a qual levava
até ao primeiro advento de Cristo, assim também não conseguirá jamais
frustrar a parte final desse plano, que culminará na volta gloriosa do
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Redentor. E, tivessem nossos olhos mais da unção divina, e veríamos
sem dúvida, ainda hoje, a mesma solicitude de Deus em Seu trato com
indivíduos e nações, e o mesmo empenho em levar ao triunfo a integral
consumação de Seu desígnio.

Quando?

Está, pois, à nossa frente ainda a gloriosa culminância do plano


divino. E quando se efetivará ele? Quando se cumprirá perfeita e
cabalmente o desígnio de Deus para com a humanidade ? Quando virá,
enfim, "esse Jesus" longamente ansiado?
Se bem que não se possa saber o dia nem a hora, como disse o
próprio Cristo, é, entretanto, bem visível que tal acontecimento não pode
demorar. Ao contrário, está iminente. Senão, vejamos ligeiramente
alguns dos sinais indicadores de sua proximidade, dados nas Escrituras.
Predisse o próprio Cristo, para as vésperas de Seu retorno, guerras,
fomes, terremotos (S. Mateus 24:6 e 7).
– Sempre os houve, dirá alguém.
E é verdade. Nunca, porém, na escala em que se vêem observando.
A progressão dessas e outras calamidades, não se dá em proporção ao
aumento da população ou outros quaisquer fatores alegados. No caso dos
terremotos, por exemplo: No século XIV houve apenas 137; no seguinte,
174; e foram aumentando respectivamente a 253, 378, 640, e no século
XIX, a 2.119!
Quanto às guerras – ai! – dói-nos o coração ao simples pensamento
dos horrores inomináveis das lutas modernas e de suas avolumantes
proporções e freqüência.
Os dias finais da história terrestre seriam, disse mais Cristo, como
os dias de Noé e de Ló, em que a preocupação dos homens consistia
unicamente nos prazeres terrenos (S. Lucas 17:26-30). E quando, mais
do que hoje, avultou a lassidão moral e a procura dos prazeres dos
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sentidos, em manifestações ostensivas e repugnantes, mesmo em países
que até ontem se prezavam de ser os mais puritanos?
A multiplicação da iniqüidade é outro traço distintivo de nossa
época, segundo o disse ainda Jesus, em S. Mateus 24:12. Desenvolvendo
o mesmo pensamento, pinta o apóstolo S. Paulo (II Timóteo 3:1-4), um
quadro em que aparecem nitidamente as condições predominantes na
sociedade nos últimos dias:
"Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os
homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores,
desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis,
caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores,
atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,
tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder."
Veja se não temos aí um retrato fiel das condições modernas da
sociedade humana! E qual a exortação do apóstolo a seu filho espiritual
Timóteo, e que é aplicável a todos nós ? – "Foge também destes."
Sim, deve o crente leal manter-se afastado de tudo que o possa
contaminar ou atrasar na carreira cristã. Como o lírio em meio do charco
desabrocha a flor alvíssima, deve ele, sitiado embora pelo influxo das
paixões terrenas, erguer ao Alto os olhos e abrir o coração à atmosfera
pura e ao santificador poder que de lá irradiam. E, longe de participar de
desordens e violências, cumpre-lhe seguir o sublime conselho do
apóstolo S. Tiago (5:7 e 8):
"Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o
lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as
primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o
vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima."
O mundo religioso, infelizmente, corre parelhas com o social, em
matéria de desintegração doutrinária.
"O Espírito afirma expressamente", adverte mais o inspirado
apóstolo em sua outra epístola a Timóteo, "que, nos últimos tempos,
alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a
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ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm
cauterizada a própria consciência" (I Timóteo 4:1, 2).
Não temos aí a indicação insofismável do crescimento do número
de ensinadores religiosos que, vestindo o manto da piedade, praticariam
enganos sutis, de modo a seduzir a muitos? E não é verdade que se
multiplica assombrosamente o número dos "falsos profetas" que, na
linguagem do próprio Cristo em S. Mateus 24:24, fariam "grandes sinais
e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos."
Longe iríamos se quiséssemos declinar aqui todos os sinais
indicadores da brevidade da volta de Cristo. E não sendo esse o escopo
principal deste livro, abstemo-nos de continuar.

Nas Vésperas

Pelos inúmeros sinais que já se cumpriram e os muitos outros que


se estão cumprindo à nossa vista, reconhecemos inconfundivelmente
achar-nos nas vésperas do evento glorioso que assinalará o remate do
plano divino para a redenção do homem.
E a lembrança constante desse acontecimento soberano, que lindos
frutos ela sazona em nossa vida espiritual! Além de nos segredar
conforto nas horas escuras, induz-nos a uma constante vigilância, como
o servo fiel, da parábola de Jesus. Leva-nos à purificação da vida, a essa
santificação sem a qual ninguém verá a Deus. Anelantes para conhecer a
vontade do Senhor a nosso respeito, seremos atentos leitores de Sua
Palavra. E guiados pela diretriz desse pensamento dominante, a nossa
vereda será bem aquela do justo, a qual é "como a luz da aurora que vai
brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Provérbios 4 :18).

O Glorioso Remate

A volta do Senhor é, pois, o remate glorioso do plano da redenção.


Este não somente permeia, satura e domina todo o conteúdo das
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Sagradas Letras. Ele é, em verdade, a alma, a própria razão de ser de sua
existência. Sob a sua luz mirífica, tudo nelas se aclara, desvanecem-se
todas as dúvidas.
Não poderíamos discorrer sobre a Escritura sem falar no plano da
salvação. Nem a este nos poderíamos referir, sem mencionar o segundo
advento de Jesus. Como o plano divino para a reabilitação do homem é o
fio de ouro que reúne em precioso colar todas as pérolas das verdades
escriturísticas, assim é o segundo advento de Cristo o áureo fecho que o
remata.
Através de todo o drama secular da humanidade, de todo o milenar
conflito entre o bem e o mal, percebe-se nitidamente esse desígnio
maravilhoso, como que a servir de diretriz ao próprio Deus, em Seu trato
com a humanidade.
A consumação integral do propósito divino está para bem breve,
prezado leitor. Mais do que naquela época sombria para o povo
escolhido, quando o profeta Ageu (2:9) lhes levantou o ânimo caído,
reavivando neles a esperança do Messias, é Cristo hoje o "Desejado de
todas as nações".
Glória inefável! – dentro em bem pouco Se manifestará Ele.
Cumprir-se-á então o sonho dos sonhos de todas as eras, o angustioso
anseio das multidões. Terá voltado a casa paterna o filho pródigo, depois
de haver por seis milênios esbanjado os bens de que o cumulara a
munificência do Pai Celestial. E será reintegrado plenamente em todos
os direitos de filho. Sim, terá então tornado ao redil a única ovelha
perdida, dentre os inumeráveis mundos que rolam na imensidão infinita
dos espaços.
Gozo inexprimível, quando os anjos guiarem Adão através dos
portais da cidade santa, revelando-lhe aos olhos extasiados, uma a uma,
as glórias do paraíso perdido e restaurado, numa sucessão de que os
séculos, os milênios, as eternidades não conhecerão termo!
Alegria bastante, por certo, para romper todas as fibras de nosso
coração, não se achasse ele então já transformado e possuidor da
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imortalidade, será aquela que nos possuirá no momento em que os anjos
nos tomarem pela mão para incorporar-nos no cortejo sem fim dos
santos, em seguimento a nossos primeiros pais!

Possamos todos, ao raiar brilhante daquela manhã eterna, exclamar


com o profeta Isaías (25:9): "Eis que este é o nosso Deus, em quem
esperávamos, e ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos;
na sua salvação exultaremos e nos alegraremos."

Referência:

1. O Destino do Mundo, G. W. Reaser.

Muitos se lembram da sensacional odisséia do Cap. E.


B. Rickenbacker e seus seis companheiros, na última
guerra. Obrigados, por falta de combustível, a descer com
seu avião em pleno oceano, ficaram por vinte e um dias
flutuando a esmo, em balsas de borracha, "perdidos na
imensidão do Oceano Pacífico, perseguidos pela fome,
pela sede, pelos tubarões, imobilizados pelas calmarias e
finalmente salvos pela fé."

A leitura diária das admiráveis promessas dos


Evangelhos, na Bíblia que um dos náufragos conseguira
salvar, e as fervidas preces, miraculosamente atendidas,
levaram o piloto, irreverente incrédulo, a render-se
humildemente à fé. "Naqueles dias ofuscantes encontrei o
meu Deus", conclui o Ten. Whittaker, narrando
comovedoramente essa epopéia, em seu formoso livro Fui
Piloto de Rickenbacker.
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A Majestade das Escrituras

AQUELE que fala neste livro (as Escrituras Sagradas), tem a Seu
dispor as mais recônditas cordas do coração humano, de modo que as
sabe tanger à vontade, com mão leve ou vigorosa, na justa medida que
o Espírito se propôs. Releia as cenas em que Rute e Boaz aparecem
nas planícies de Belém, aquelas em que Abraão e Isaque se encontram
no monte Moriá, as de Davi e Jonatã, de Elias e Eliseu, as de Naamã o
sírio, da viúva de Sarepta, ou da Sunamita, e, sobretudo, as relativas à
vida e morte do Filho do homem; e, depois, busque em todos os livros
dos homens alguma coisa semelhante. Leia, se você quiser, os quatro
Vedas, e a volumosa coleção de Pauthier, os livros sagrados do Oriente,
Confúcio, Manon, Maomé; e veja se encontra ali oito linhas que
rivalizem com essas incomparáveis narrativas da Escritura....
Essa Palavra dá testemunho de si mesma, não só por suas
asserções, mas por seus feitos, como a luz, como o calor, como a vida,
como a saúde; pois que em si mesma conduz centelhas de saúde, vida,
calor e luz. Poderá alguém provar-me, mediante cálculos corretos, que
neste instante o Sol deve estar acima do horizonte; terei, entretanto,
qualquer necessidade desses cálculos, se meus olhos contemplam o
próprio astro, se em seus raios me banho e por eles sou fortalecido?...
Uma das mais concludentes provas da divina autoridade das
Escrituras, não há dúvida, é sua majestade, que nos enche de respeito
e reverência; é a imponente unidade desse livro, cuja composição se
estende por um período de quinze séculos, e que tantos autores teve,
alguns dos quais escreveram nada menos de dois séculos antes dos
fabulosos tempos de Hércules, de Jason e dos Argonautas; outros, nos
heróicos dias de Príamo, Aquiles e Agamemnon; outros, nos dias de
Tales e Pitágoras; outros na época de Sêneca, Tácito, Plutarco, Tibério
e Domiciano; e todos, não obstante, seguem o mesmo plano,
constantemente avançado, como se entre eles houvera perfeito
entendimento mútuo, rumo de um único grandioso fim – a história da
redenção do mundo pelo Filho de Deus. – L. Gaussen, Theopneuistia.
O Desejado de Todas as Nações 15

Sobre a Escritura Sagrada

A BÍBLIA é uma corrente onde o elefante pode nadar e o


cordeiro andar. – Papa Gregório I, o Grande.

Os fiéis devem ser incitados à leitura das Santas Escrituras,


porque é a fonte mais abundante da verdade e que deve permanecer
aberta a todas as pessoas, para que dela tirem a pureza de
moralidade e de doutrinas a fim de destruir inteiramente os erros
que se espalham tão largamente, nestes tempos corruptos. – Papa
Pio VI.

Não cessaremos de admoestar a todos os fiéis a que leiam, dia a


dia, sobretudo os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as Epístolas,
e que se compenetrem intimamente do seu espírito. Em nenhuma
família católica devem faltar estes livros, que por meio de cotidiana
leitura e meditação devem ser assimilados. – Papa Bento XV, na
Encíclica Spiritus Paraclitus.

Por muito tempo temos desejado dar impulso à nobre ciência


das Escrituras Sagradas e ao estudo delas uma direção adaptada às
necessidades do dia.... É nosso propósito e desejo fervoroso ver um
aumento no número dos trabalhadores aprovados e perseverantes na
causa das Escrituras Sagradas: e mais especialmente, que aqueles
que a Divina Graça tem chamado a Ordens Sagradas manifestem,
dia a dia, como o seu estado ordena, diligência e cuidado em ler,
meditar e explicar a Bíblia. – Papa Leão XIII, em sua Encíclica de
13 de dezembro de 1898.
O Desejado de Todas as Nações 16
Na Encíclica Spiritus Paraclitus, dada em Roma a 15 de
setembro de 1920, cita o Papa Bento XV as seguintes palavras de S.
Jerônimo: "Não é o erro dos pais e dos antepassados que temos de
seguir, mas sim a autoridade das Escrituras e a vontade do Senhor
que é Deus." "Libertemos o nosso corpo do pecado, e nossa alma se
abrirá à sabedoria; cultivemos nossa inteligência pela leitura dos
livros santos, e nossa alma encontrará aí o seu alimento de cada
dia."

Cita ainda o Papa Bento XV os conselhos do mesmo S.


Jerônimo à matrona Leta, sobre a educação de sua filha: "Procurai
que ela estude todos os dias alguma passagem das Escrituras... Que
em vez das jóias e sedas ela aprecie os Livros Divinos... Deverá em
primeiro lugar aprender o Saltério, recrear-se com os seus cânticos,
e haurir uma regra de vida nos provérbios de Salomão. O
Eclesiastes lhe ensinará a pisar aos pés os bens do mundo; Jó lhe
fornecerá um modelo de força e de paciência. Passará em seguida
aos Evangelhos, que deverá ter sempre entre mãos. Assimilará
avidamente os Atos dos Apóstolos e as Epístolas. Depois de ter
recolhido estes tesouros no místico escrínio de sua alma, aprenderá
os profetas, o Heptateuco, os livros dos Reis e dos Paralipômenos,
para terminar sem perigo pelo Cântico dos Cânticos."

A ignorância das Sagradas Escrituras é origem de todos os


erros, a porta da perdição; faz perder a honra, a virtude e a salvação.
Porque é na Palavra de Deus e nos ensinamentos de Cristo onde
achamos a luz da vida, a salvação do mundo, a porta do Céu, o
alimento da alma e verdadeiro gozo para o coração que ama a Deus.
– Tomas Kempis.
O Desejado de Todas as Nações 17
A leitura das Sagradas Escrituras é para nós uma necessidade,
porque nos ensina o que devemos fazer ou não fazer, e aquilo ao
que devemos aspirar. É o que se nos diz no Salmo 119: "Lâmpada
para os meus pés é Tua palavra, e luz para o meu caminho."
Perseverai, pois, na leitura e meditação das Escrituras Sagradas,
andai segundo a lei de Deus, mostrai zelo na leitura da Escritura
santa e não vos deixeis desviar dela jamais. – São Bernardo.

Sinto pena e verdadeira dor quando, pensando no gozo e nos


estímulos que me proporciona o estudo das epístolas de S. Paulo,
vejo ao meu redor pessoas que não sabem sequer quantas cartas
escreveu o apóstolo.
Credes que a leitura das Santas Escrituras não é senão para os
sacerdotes, quando delas necessitais mais do que eles. Porque os
que vivem sem disciplina no mundo estão expostos cada dia às
feridas da vida e têm mais necessidade de cura.... Não quereis nem
sequer tocar com o dedo o evangelho, quando vo-lo dão. Por que
desprezais assim as Sagradas Escrituras? Estes sentimentos provêm
do diabo. Ele vos quer impedir de contemplar esse tesouro, para que
não possais dele obter todo o bem que encerra. – São Crisóstomo.
A Bíblia é um dos meios mais poderosos para fortalecer a fé e
dar aos homens um caráter cristão. Tal era a convicção de todos os
pais da igreja e de todos os santos....
É, pois, evidente que todo empenho por limitar a leitura das
Santas Escrituras redunda numa inovação na igreja, e deve, por esta
razão, ser desaprovado. Demais, a experiência tem demonstrado já
as tristes conseqüências que tem para o povo a privação das Santas
Escrituras. A leitura regular da Bíblia tem sido em certos países o
fundamento sólido do cristianismo no círculo familiar e na
sociedade, ao passo que a supressão dessa prática tem sido entre os
O Desejado de Todas as Nações 18
católicos a causa de um debilitamento de sua fé. – Fragmento de
uma certa do Monsenhor Hulst, Arcebispo de Paris.

Favoreçam, pois [o Papa dirige-se aos bispos] e prestem apoio


às piedosas associações que se propõem difundir entre os fiéis as
edições da Bíblia, e em especial dos Evangelhos, e procurar com
todo o empenho que sua leitura diária se faça nas famílias cristãs
reta e santamente. – Papa Pio XII.

O monsenhor João Straubinger, professor de Sagradas


Escrituras no Seminário Arquidiocesano de La Plata, comentando a
recente encíclica em que Pio XII faz essa assertiva, diz em A Nação,
de Buenos Aires, de 25 de julho de1944, que o Papa deseja "que a
Palavra de Deus, dirigida aos homens por meio das Sagradas
Escrituras, seja cada dia mais total e perfeitamente conhecida e com
mais veemência amada."

Como Jesus é homem e Deus, assim o Evangelho é simples e


sublime. Como Jesus Cristo é o Verbo de Deus, oculto sob a
humildade da carne, assim o Evangelho é a sabedoria de Deus sob a
simplicidade da linguagem. De cada uma de suas páginas, de cada
um dos seus versículos quase, destaca-se o homem com as suas
fraquezas, avulta a majestade de Deus com a Sua onipotência. Fosse
o Evangelho leitura mais assídua, manual mais freqüentado e
meditado e não veríamos tantos desvios da sólida piedade. – D.
Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de S. Paulo, no livro No
Calvário.

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