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1. Introdução
A agroecologia tem sua base estruturada em práticas agrícolas
relacionadas com o conhecimento agronômico, ecológico e a conhecimento
empírico acumulado por várias gerações de agricultores e comunidades
tradicionais no decorrer de anos, décadas e até mesmo séculos, mantendo o foco
sempre na preocupação com a produção de alimentos ecológicos com manejo
sustentável do agrossistema em que está inserido.
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O presente artigo foi apresentado no SICI 2015 – Simpósio Internacional de Ciências Integradas,
realizado na UNAERP – Campus Guarujá, em 2015.
Os caminhos da agricultura sustentável que aqui, será superficialmente,
destacados, além de evidenciarem a existência de diferentes formas de
pensamento em relação à produção agrícola, apontam para a importância da
compreensão sobre as formas como a política econômica se apropria e define
aos processos produtivos afim, de fortalecer os meios do capital na agricultura
familiar sustentável. O interessante nesse processo, é que isso ocorre,
geralmente, e totalmente fora das perspectivas e reais interesses da grande
maioria dos agricultores familiares e comunidades tradicionais, os quais são os
maiores responsáveis pela produção de alimentos no país e no mundo.
Ao defender e incentivar a produção de sementes crioulas na agricultura
familiar, a meta é sempre resgatar e estimular os valores da cooperação e
solidariedade junto às comunidades rurais, onde está toda força do resgate e
produção de espécies sementeiras que estão sendo extintas. O desafio de
resgatar e manter espécies de sementes ancestrais e locais só se torna viável,
através do manejo correto das práticas agrícolas respeitando o meio ambiente e
todas as formas de vida nele envolvido, resgatando e conservando valores,
conhecimentos, a cultura e a soberania alimentar dos povos.
Neste sentido, podemos dizer que a Agroecologia não é apenas produzir
sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos e organismos geneticamente
modificados. Mas é uma nova forma de se relacionar com a natureza e com o
outro. É o resgate do agricultor como protagonista do processo produtivo. É o
reforço a uma ética de respeito à vida em todas as suas expressões e ao ser
humano, construindo uma sociedade ecológica, justa e solidária.
Segundo Primavesi (2002), a Ecologia se refere ao sistema natural de cada
local, envolvendo o solo, o clima, os seres vivos, bem como as inter-relações
entre esses três componentes. Trabalhar ecologicamente significa manejar os
recursos naturais respeitando a teia da vida. A Agroecologia depende muito da
sabedoria de cada agricultor desenvolvida a partir de suas experiências e
observações locais.
A partir desta realidade é que buscamos desenvolver um sistema de
produção, beneficiamento e que tenha em seu principal objetivo fazer com que o
homem do campo possa ter uma forma de agricultura e de organização que
garanta a sua soberania alimentar.
Para Machado, Santilli e Magalhães (2008), o manejo da diversidade
genética de plantas requer uma constante interação do homem com o ambiente,
que influencia a construção dos agroecossistemas. Em áreas tropicais, os
estresses abióticos e bióticos produzem seus efeitos sobre tais práticas. Por sua
vez, os métodos ditos “modernos” de manejo da diversidade genética acabam por
dilapidá-la, ao promover a uniformidade genética e o desenvolvimento de
materiais genéticos altamente dependentes de insumos externos.
Um dos maiores problemas da humanidade hoje com relação a produção
de alimentos e sanar a fome do mundo está na mão das grandes empresas
multinacionais que juntas são detentoras da propriedade de mais de 70% das
variedades alimentares que estão em produção no mundo, onde afirmam que
conseguem produzir muito mais em menos espaço de terra, mas não conseguem
sequer acabar com a fome nos países onde está inserida sua maior produção.
2. Objetivo
O objetivo desse trabalho é mostrar, através da prática de manejo
adequado, a agricultura familiar e comunidades rurais, responsáveis por 90% da
alimentação que vai para a mesa do brasileiro, tenham o conhecimento
necessário para produzir sua própria semente e seu armazenamento, realizando
o plantio em cada ciclo de cada cultura, tornando-o detentor de sua própria
semente e da segurança alimentar de todos que estão envolvidos em seu
processo produtivo.
3. Revisão de literatura
Apenas em meados da década de 70 começaram a surgir preocupações
com os métodos convencionais de produção agrícola que afeta todo o
ecossistema inclusive a biodiversidade genética. A partir desse momento que
Instituições ligadas a Agroecologia iniciaram o processo de conservação de
sementes locais, nativas ou também conhecidas como crioulas.
A erosão genética (redução da variabilidade genética) está ligada a
diminuição da produção agrícola e ao aumento da suscetibilidade das plantas a
pragas e doenças. E a diminuição da diversidade genética de plantas torna o
abastecimento alimentar vulnerável e insustentável para suprir a falta de alimento
no mundo.
As causas da erosão genética são os processos de transformação das
práticas e dos sistemas agropecuários tradicionais, tais transformações provocam
a perda de conhecimento sobre espécies nativas e variedades locais e bem como
seus usos tradicionais.
Com essas mudanças bruscas o acervo mantido por agricultores familiares
vai sendo reduzindo gradualmente, onde o fator de exigências de mercado induz
o agricultor a deixar de plantar suas variedades adaptadas ao meio inserido, e dar
início a produção de cultivares comercial.
Para que se inicie todo um processo de recuperação de espécies genéticas
consideradas crioulas em locais que sofreram um processo de extinção dessas
variedades, torna necessário o desenvolvimento de algumas estratégias que
futuramente não venha afetar os aspectos ambientais, culturais, sociais e
econômicos, e todos os aspectos que envolvem a agrobiodiversidade.
A primeira condição de uma agricultura que seja fonte de saúde e de
realização humana resume-se em poucas palavras: respeito pelo homem e pela
vida. Não nos esqueçamos de que o agricultor tem, em suas mãos, não só a
saúde de seus contemporâneos, mas igualmente o futuro da humanidade.
(AUBERT, 1974, citado por BONILLA, 1992).
Sementes crioulas são aquelas sementes que não sofreram modificações
genéticas por meio de técnicas, como de melhoramento genético, inclusive, nesse
contexto, a transgenia. Estas sementes são chamadas de crioulas ou nativas
porque, geralmente, seu manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais,
como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos, agricultores familiares, etc.
Contudo, semente crioula ou nativa é um termo, pois não é reduzido
apenas a sementes em si, mas também pode se referir a plantas produtoras de
tubérculos, como batata, cará, mandioca, entre outros alimentos conhecidos. A
semente além de ser um alimento, representa muito mais, pois retrata a cultura de
cada comunidade, já que é por meio da alimentação que um povo mais expressa
sua cultura seu modo de viver.
A conservação dos recursos genéticos é atualmente uma das questões
mais importantes e controversas da humanidade. Em plena mudança global, onde
os ecossistemas enfrentam grandes mudanças climáticas e fortes pressões
antropogénicas, a erosão e perda de diversidade genética é uma realidade cada
vez mais atual e devastadora, causando prejuízos irreparáveis para o
agrobiodiversidade.
Segundo Almeida (2004), o contínuo e acelerado processo de erosão
genética verificado nos dias atuais coloca em risco a permanência desse curso
histórico co-evolutivo. Em decorrência dos efeitos da rápida e ampla
disseminação do modelo técnico-científico da Revolução Verde, as agriculturas, e
com elas as agrobiodiversidades (também no plural), vêm sendo padronizadas.
Esse modelo opera em escala global sob a hegemonia das nações ricas e suas
companhias transnacionais que, de forma voraz, buscam o controle tecnológico e
dos mercados. Por outro lado, se eximem da responsabilidade social e ambiental
pela perda do patrimônio genético desenvolvido pela humanidade no decorrer de
milênios.
Com todo esse sistema de deterioração da biodiversidade genética, muitos
movimentos, de forma silenciosa e pouco visível para o conjunto das sociedades,
desenvolvem estratégias de resistência. Estão envolvidos nesse processo,
aldeias e grupos, ou mesmo programas de desenvolvimento agrícola orientados
pelo enfoque agroecológico, que se fundamentam na revalorização das espécies
e variedades locais para que sejam estruturados agroecossistemas altamente
diversificados e pouco dependentes de insumos externos.
São experiências que procuram resgatar e multiplicar sementes e raças de
animais ainda presentes nas áreas rurais. Preservam também as espécies
silvestres que cumprem múltiplas funções para as famílias e comunidades rurais e
que vêm sendo paulatinamente eliminadas pela tendência à especialização dos
sistemas de produção e pela destruição dos remanescentes de vegetação natural.
Durante a década de 70 e início dos anos 80, a resistência a uma
privatização generalizada desembocou na primeira solução. Os recursos
deveriam ser de livre acesso nas duas pontas, foi o que declarou em 1983 a
Resolução Internacional sobre Recursos Fitogenéticos da FAO (Organização de
Alimento e Agricultura). Quase 10 anos mais tarde, a saída dada pela CDB
(Convenção da Diversidade Biológica) foi a segunda: privatizar nas duas pontas e
trocar tecnologia por acesso a recursos genéticos. Recursos genéticos não
seriam patrimônio da humanidade e sim objeto da soberania dos países em que
se localizassem. E a compensação pelo acesso a eles seria essencialmente a
transferência de tecnologia (CUNHA, 1999).
O desenvolvimento de modelos de tecnologias disponibilizadas a produção
agroecológicas adaptadas a cada tipo de região do país, e forma de utilização
dessas tecnologias por pequenos produtores são questões que precisam ser
amadurecidas com o intuito de melhorar a produtividade e a segurança alimentar
dentro do país, uma vez que quase todo alimento consumido internamente vem
da agricultura familiar.
Quando se analisam os limites do modelo tecnológico herdado da
Revolução Verde, e se examinam as propostas orientadas ao desenvolvimento
sustentável, se evidencia que a transição a uma agricultura de base ecológica não
é um processo unilinear, mas sim de múltiplas dimensões, o que refere a própria
complexidade da noção de sustentabilidade agrária, enquanto meta a ser
alcançada á médio e logo prazos (KHATOUNIAN, 2001, p. 82).
Manter seu banco genético acaba sendo uma grande dificuldade
encontrada, pois o pequeno agricultor se torna vulnerável as facilidades
apresentadas pelo mercado convencional de sementes tratadas com química,
hibridas e transgênicas.
A situação atual se faz necessário que uma verdadeira modernização da
agricultura seja realizada, exige que os princípios de manejo dos recursos
naturais e a seleção de tecnologias usadas no processo produtivo sejam o
resultado de uma nova forma de aproximação e integração entre as ciências da
ecologia e a agronomia. Os estilos de agricultura deverão ser compatíveis com a
heterogeneidade dos agroecossistemas, levando-se em conta os conhecimentos
locais, os avanços científicos e a socialização e o uso de tecnologias menos
agressivas ao ambiente e à saúde das pessoas.
Por mais que a agricultura moderna tenha avançado em técnicas que
procurem ultrapassar os limites estabelecidos pela natureza, a prática agrícola
continua a ser uma atividade essencialmente dependente do meio ambiente,
desarmando o otimismo exagerado dos que apostaram na possibilidade do
capitalismo superar os limites naturais. Esta constatação, embasada pelo
aumento crescente de problemas de degradação ambiental, aliada à má
distribuição da riqueza gerada a partir do processo de industrialização da
agricultura, justificou um aumento crescente da demanda por práticas alternativas,
ecologicamente equilibradas, para a produção agrícola, assim como pelo também
crescente, reconhecimento científico do potencial dessas práticas (USDA,1984;
ALTIERI, 1987; ALTIERI, 1995; NRC, 1989; LAMPKIN, 1990; EHLERS, 1996).
O futuro do Brasil esta ligado à sua terra. O manejo adequado de seus
solos é a chave magica para a prosperidade e bem estar geral. A natureza em
seus caprichos e mistérios condensa em pequenas coisas, o poder de dirigir as
grandes; nas sutis, a potência de dominar as mais grosseiras; nas coisas simples,
a capacidade de reger as complexas (PRIMAVESI, 2002).
4. Conclusão
Podemos concluir com que a biodiversidade genética e segurança
alimentar esta nas mãos da agricultura familiar, por se tratar de modelos de
produção que visam formas alternativas com uma visão holística para a
propriedade rural bem como seus meios de produção dentro do contexto
sustentável.
A erosão genética é causada pelas grandes multinacionais do setor
agrícola, que tem como visão de agricultura como um ganho de capital tirando da
agricultura familiar a soberania alimentar.
A ciência agroecológica resgata, sob novas bases tecnológicas e
econômicas, a lógica da complexidade das sociedades camponesas tradicionais e
seu conhecimentos desprezados pela agricultura moderna como forma de vencer
o desafio de estabelecer uma agricultura sustentável. Integra para isto, princípios
ecológicos, agronômicos e socioeconômicos, como forma de melhor entender o
efeito das tecnologias sobre a produção agrícola e a sociedade como um todo em
manter a biodiversidade de genética vegetal, impulsionado a garantir a soberania
alimentar das comunidades.
5. Referências
ALMEIDA, P. Revalorizando a agrobiodiversidade. Agriculturas - v. 1. nº 1 -
novembro de 2004.