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GESTÃO AMBIENTAL PARTICIPATIVA: a lacuna entre a proposta e a

implementação
REBELO, Silene
Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL
silene.rebelo@unisul.br

RESUMO
A presente pesquisa foi desenvolvida objetivando identificar os elementos
necessários para a efetivação de um processo de gestão ambiental
participativa, a nível local, voltada para a sustentabilidade. No intuito de atender
tal objetivo buscou-se um pequeno município agrícola, que apresentasse
características favoráveis à pesquisa. Escolheu-se Atalanta, situado no Alto
Vale do Itajaí/SC, por sua pequena dimensão territorial, pela presença de uma
organização não governamental de cunho ambiental atuando na região e,
também, por possuir todas as nascentes dos seus rios dentro dos limites
administrativos do município. Através de entrevistas realizadas com os
diferentes atores sociais do município, internos e externos, levantaram-se
dados referentes a: a) valores norteadores das atitudes atuais; b) percepção
de problemas; c) atribuição de responsabilidades; e d) motivação à
participação. Com a análise dos dados, procurou-se detectar quais são os
principais entraves para a solução dos problemas ambientais, a nível local.
Conclui-se que a lacuna existente entre uma proposta de gestão ambiental
participativa, voltada para a sustentabilidade, e sua implementação, centra-se,
basicamente, na ausência de um efetivo processo educativo voltado para as
questões ambientais, tanto da população em geral como dos técnicos e
dirigentes das diferentes instituições, e de um trabalho voltado para estímulo da
organização da sociedade civil que possibilite o exercício pleno da cidadania.

Palavras chaves: gestão ambiental; participação; sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa foi desenvolvida objetivando identificar os


elementos necessários para a gestão ambiental participativa, a nível local,
voltada ao desenvolvimento sustentável, utilizando como área teste o município
de Atalanta/SC.
Tal objetivo foi traçado em função da percepção da crise
paradigmática contemporânea, centrada na discussão do esgotamento do
estilo de desenvolvimento dito tradicional e na identificação da ineficiência dos
planos, programas e projetos que visam solucionar os problemas na área
ambiental.
Atalanta foi escolhida como área teste por apresentar: pequena
dimensão territorial, em torno de 90 Km2; uma organização não governamental,
de cunho ambiental, atuando na região, fato este que enriqueceu o quadro de
atores sociais interferindo no município, e, também, por possuir todas as
nascentes dos seus rios dentro dos limites administrativos do município, o que
confere a Atalanta a possibilidade do controle da qualidade de suas águas
fluviais.
Para atender o objetivo central do presente trabalho, identificar os
elementos necessários para a gestão ambiental participativa, a nível local,
voltada ao desenvolvimento sustentável, foi realizado uma pesquisa de campo,
que buscou mostrar como os habitantes e os tomadores de decisão percebem
e interpretam o ambiente e seus problemas.
Tal pesquisa adotou a metodologia de gestão ambiental desenvolvida
por Dourojeanni (1993), como uma referência das etapas necessárias à
execução de um processo de gestão do ambiente, que primasse pela
participação e buscasse a sustentabilidade.
O modelo de pesquisa utilizado privilegiou os dados e análises
qualitativas e foi sendo construído ao longo do processo do levantamento de
dados. Optou-se pela aplicação de entrevistas com roteiro estruturado pelas
características do objetivo da pesquisa e do ambiente trabalhado.

2. OBJETIVOS

O objetivo geral desta pesquisa foi identificar os elementos


necessários para a Gestão Ambiental Participativa, em nível local, voltada ao
desenvolvimento sustentável, utilizando como área teste o município de
Atalanta - SC.
Os objetivos específicos foram os seguintes:
1. Verificar quais são os parâmetros da problemática ambiental do
município: atores e fatores;
2. Analisar os principais entraves para as soluções dos problemas
ambientais do município.
3. REFERENCIAL TEÓRICO

Para alcançar os objetivos da pesquisa, adotou-se a metodologia de


gestão ambiental desenvolvida por Dourojeanni (1993), como marco referencial
teórico norteador de um dos eixos da problemática da pesquisa. Tal
metodologia parte do marco conceitual/operativo que conjuga os processos,
passando pela idéia de crescimento econômico, eqüidade e sustentabilidade
na sua execução num ambiente bem definido. Os processos ocorrem em três
eixos explicitados a seguir:
1 - Materialização de ações: visa o crescimento econômico e a
sustentabilidade; é o processo central e condutor do método. É composto por
dez etapas.
a) identificação dos atores envolvidos no processo de gestão;
b) determinação dos critérios que governam as ações dos atores;
c) detecção dos problemas vinculados à qualidade de vida e
conservação dos recursos naturais como expressam e sentem
cada um dos atores participantes;
d) transformação dos problemas ou demandas em objetivos;
e) delimitação e classificação dos espaços geográficos dentro dos
quais se pretende alcançar os objetivos;
f) determinação das restrições que se devem superar para alcançar
os objetivos;
g) proposição de soluções para superar as restrições detectadas, com
o fim de alcançar os objetivos;
h) determinação de estratégias a serem seguidas para executar as
soluções;
i) elaborar programas, projetos, atividades, tarefas que permitam
executar as estratégias;
j) coordenar a execução das atividades projetadas.
2 - Transação entre os atores: visa a eqüidade: ocorre em cada
passo da seqüência e as transações mais concretas devem realizar-se em
nível de restrições e soluções. A seqüência se aplica normalmente em ciclos
iterativos que passam dum nível de percepção, com transações e acordos
gerais, até níveis de execução, com acordos claros e específicos entre os
atores.
3 - Processo de integração de disciplinas, visa a integração: ocorre
em cada passo do processo. Normalmente esta integração se realiza a partir
dos diagnósticos ambientais, sendo que a análise de sistemas e a elaboração
de modelos são a chave para a integração das disciplinas.
Esta última proposta aproxima-se mais do referencial teórico do
presente trabalho e, por isso, foi adotada em parte na metodologia do presente
trabalho.
Ao se adotar este referencial, buscou-se permear a pesquisa pelas
etapas necessárias à execução de um processo de gestão do ambiente, que
primasse pela participação e buscasse a sustentabilidade. Tal metodologia,
apresenta estas características, além de ter aplicabilidade em pequenas áreas,
como é o caso de Atalanta, ter caráter estratégico e sistêmico e basear-se na
perspectiva da interdisciplinaridade.
O trabalho baseou-se no eixo articulador da metodologia,
materialização das ações, procurando-se alcançar a etapa ‘f’.
A metodologia, em razão de seu caráter participativo, pressupõe que
o desencadeamento do processo de gestão se efetive através da tomada de
decisão dos próprios habitantes e usuários do ambiente, para a detecção dos
problemas e busca de estratégias de ação para a solução. Porém, como este
projeto de pesquisa não partiu da tomada de decisão dos habitantes e usuários
do ambiente em questão e sim do anseio do pesquisador em buscar quais os
elementos necessários ao processo de gestão, a metodologia não foi utilizada
apenas para o intuito a que se propõe, que é de conduzir o processo de
gestão ambiental. Deste modo, não foi utilizada em sua íntegra e sofreu,
durante o desenvolvimento do trabalho, adaptações e complementações de
acordo com os objetivos da pesquisa e com as condições do ambiente de
estudo e das informações disponíveis.
Assim, buscou-se a participação dos habitantes e dos usuários do
ambiente através da realização de entrevistas.
4. METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em duas partes não seqüenciais.


A primeira parte foi dividida em três etapas: a) identificação e seleção
dos atores sociais que têm atuação, direta ou indireta, sobre o ambiente; b)
realização de entrevistas com os atores sociais selecionados; c) ordenamento
dos dados.
Nesta parte do trabalho procurou-se contemplar as três primeiras
etapas do eixo condutor da metodologia de Dourojeanni que são: a)
identificação dos atores envolvidos no processo de gestão; b) determinação
dos critérios que governam as ações dos atores; c) detecção dos problemas
vinculados à qualidade de vida e conservação dos recursos naturais, tal como
expressam e percebem cada um dos atores participantes no processo.
A segunda parte da pesquisa foi subsidiada pelos dados coletados na
primeira parte. Através das análise dos dados das entrevistas buscou-se
levantar quais são os principais obstáculos para a solução dos problemas
ambientais.
Esta parte baseou-se nas próximas três etapas da metodologia de
Dourojeanni, ou seja: d) definição de objetivos a partir de problemas levantados
nas entrevistas; e) realização do diagnóstico dos ambientes em que se
pretende alcançar os objetivos; e f) determinação dos obstáculos a serem
superados para o alcance dos objetivos.
Cabe reforçar que estas etapas foram realizadas não na perspectiva
da elaboração de um plano efetivo de ação, porém na busca da delimitação
das condições necessárias para a elaboração e efetivação dum processo de
gestão e para o levantamento dos entraves que devem ser superados para
alcançar tais condições, ou seja, na busca dos objetivos do presente trabalho.
Privilegiou-se o modelo de pesquisa que se baseia nos dados e
análises qualitativas. Tal abordagem
parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o
sujeito, uma interdependência viva entre sujeito e objeto, um vínculo
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O
conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma
teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de
conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O
objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e
relações que sujeitos concretos criam em suas ações. (CHIZZOTTI, 1995, p.
79)

Este tipo de pesquisa apresenta algumas características particulares:


a) a delimitação e formulação do problema não são uma definição apriorística,
exige a imersão do pesquisador no contexto ecológico e social que condiciona
o problema para, através de um processo indutivo, poder delimitá-lo; b) o
pesquisador deve manter uma conduta participante; c) os pesquisados são
reconhecidos como sujeitos que identificam seus problemas e propõem ações
mais eficazes; d) os dados não são coisas isoladas ou fixas, eles acontecem
num contexto fluente de relações; e) privilegia algumas técnicas, porém é
construída a partir da acuidade do pesquisador em adequar tais técnicas aos
problemas enfrentados (CHIZZOTTI, 1995).
A partir destes pressupostos, a metodologia de trabalho para a
realização da presente pesquisa foi sendo construída ao longo do processo e
não se configura como um modelo único exclusivo e estandartizado.

4.1. O roteiro das entrevistas

Optou-se pela aplicação de entrevistas, pois este método de coleta de


dados apresenta uma série de características favoráveis, tanto com relação ao
ambiente pesquisado como ao objeto da pesquisa. Tais característica são: 1)
maior flexibilidade, pois conta com o auxílio do entrevistador para o
esclarecimento do conteúdo das perguntas e para a condução da entrevista; 2)
possibilidade de atingir uma amostra melhor do universo da pesquisa, visto que
o entrevistador busca e registra a informação e o entrevistado somente
necessita responder as perguntas; 3) ser mais adequada para a obtenção de
informações a respeito de assuntos complexos ou polêmicos, pois apresenta a
tendência de conseguir, com mais êxito, uma atmosfera propícia para o
entrevistado dissertar sobre assuntos em relação aos quais não tenha, ainda,
opinião claramente definida; e 4) aplicabilidade em quase todos os segmentos
da população, independente do nível de escolaridade ou outro fator limitante
(GOODE, 1973; SELLTIZ et al., 1975).
Atalanta é um município onde o nível de escolaridade é baixo, sendo
que, segundo a secretaria municipal de educação, a maioria da população
acima de 18 anos possui o primeiro grau incompleto. Isto faz com que a
obtenção de dados através da fala seja mais produtiva, visto que a leitura e a
escrita são pouco utilizadas. Além do que, a temática da pesquisa trata de um
tema complexo e polêmico.
As perguntas foram formuladas procurando apreender a realidade
local. Tomou-se como uma referência para a confecção do roteiro de entrevista
o trabalho realizado por Crespo & Leitão (1993). Tal trabalho procurou localizar
onde se encontra posicionada a corrente principal, majoritária, do pensamento
brasileiro sobre o meio ambiente. Foi realizado através de duas pesquisas,
uma qualitativa junto aos formadores de opinião e outra quantitativa junto à
população brasileira em geral. O roteiro das entrevistas para as duas pesquisas
seguiu a mesma matriz temática. Entretanto, na pesquisa qualitativa abordou-
se tal matriz temática com mais profundidade e criou-se outro roteiro com
aspectos da problemática ambiental mais diretamente associados à área de
atuação dos setores entrevistados.
Buscou-se então, adaptar a matriz temática e as perguntas
formuladas dentro de cada bloco do trabalho acima citado, aos objetivos do
presente projeto e às condições e particularidades do ambiente estudado.
O roteiro das entrevistas foi estruturado em quatro blocos de
perguntas: a) dados gerais; b) o município; c) problemas e soluções e d) as
condições naturais.
O primeiro bloco de perguntas foi composto, basicamente, de
perguntas fechadas, pois visava traçar o perfil do entrevistado, apresentando
desta forma um aspecto quantitativo.
Os demais blocos primaram pelo uso de perguntas abertas,
intercaladas por algumas perguntas fechadas para auxiliar a posterior análise
dos dados. Nestes blocos, procurou-se identificar os critérios que governam as
ações dos atores, quais os principais problemas vinculados à qualidade de vida
e conservação dos recursos naturais dentro da ótica de cada grupo de atores e
entre eles e qual a perspectiva de solução dos problemas elencados. As
informações obtidas, nestes blocos, apresentam um aspecto qualitativo.
Embora as entrevistas apresentassem um roteiro padronizado, sua
aplicação não se deu de forma uniforme e rígida, deixando que o entrevistado
respondesse livremente as perguntas.

4.2. A seleção dos atores sociais e condução das entrevistas

A análise preliminar das características físicas e sócio-econômicas do


município, realizada através de levantamento bibliográfico, demonstrou que o
município de Atalanta é essencialmente agrícola e com características de
ocupação de solo potencialmente favoráveis à existência de desequilíbrios
ambientais. A partir desta análise realizaram-se as primeiras visitas ao
município, as quais subsidiaram o desenvolvimento desta etapa do trabalho.
A primeira instituição local contatada foi a Prefeitura Municipal de
Atalanta, através do prefeito. Este se mostrou interessado com a temática do
trabalho e colocou-se à disposição para o fornecimento de auxílios, tanto no
que diz respeito a consultas e ao fornecimento de documentos como ao acesso
aos funcionários das diferentes secretarias municipais.
A partir daí, estabeleceu-se contato com o secretário da agricultura,
também vice-prefeito, que igualmente mostrou-se disposto a colaborar para a
realização do trabalho. A Secretaria Municipal de Agricultura localiza-se junto
ao escritório local da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de
Tecnologia de Santa Catarina - EPAGRI o que possibilitou também o contato
com os técnicos que ali trabalham e que do mesmo modo dispuseram-se a
colaborar.
A secretária municipal de educação, igualmente se dispôs a colaborar
com o que fosse necessário.
Esses contatos iniciais possibilitaram identificar, com mais facilidade,
quais eram os principais atores sociais do município.
Como a base econômica do município é a agricultura, centrada
principalmente nas culturas de cebola, fumo e milho/feijão, a maior parte da
população é de agricultores. Estes têm uma associação, cuja atuação não se
revelou efetiva.
A associação mais ativa do município é a Associação de Paes e
Mestres - APP, porém de atuação restrita ao âmbito escolar.
As interferências externas ao município são produzidas
principalmente pelas empresas de fumo e de suinocultura, sendo que as
fumageiras têm maior expressão, além da Associação de Município do Alto
Vale - AMAVI, da Associação de Preservação do Alto Vale do Itajaí -
APREMAVI e da EPAGRI.
A partir destas informações delimitou-se o universo dos atores a
serem entrevistados em três níveis de atuação: a) população local, b)
tomadores de decisão local e c) tomadores de decisão regional.
Como o município é essencialmente agrícola e a Associação dos
Agricultores não tem expressão significativa nas decisões locais, julgou-se que
a coleta de dados junto a população local traria informações mais significativas
para a pesquisa. Desta forma, optou-se por entrevistar uma parcela da
população local, com idade acima de 18 anos.
Tais entrevistas foram realizadas com o apoio da rede de ensino
público municipal, através dos seus professores.
Aplicou-se a primeira versão do roteiro de entrevista com os
professores, sendo que esta atividade serviu como pré-teste das entrevistas e
como orientação e treinamento dos mesmos.
O quadro da rede pública municipal de ensino era composto de vinte
e quatro profissionais. Cada professor se comprometeu em realizar dez
entrevistas na comunidade onde atua. Foram entregues duzentos e quarenta
roteiros de entrevista.
Entre os tomadores de decisão local foram selecionados para serem
entrevistados o prefeito, os secretários municipais de agricultura, de educação
e de obras, quatro vereadores e os técnicos locais da EPAGRI.
Dos tomadores de decisão regional, entrevistou-se os representantes
da AMAVI, da APREMAVI, da EPAGRI regional e de duas empresas
fumageiras, a Souza Cruz e a Universal.
As empresas fumageiras foram escolhidas em função da
representatividade no município.
A realização das entrevistas com os tomadores de decisão local e
regional, como dirigentes e líderes locais e atores regionais com interferência
no ambiente do município, seguiu o mesmo roteiro aplicado ao universo de
referência da população local, porém com pequenas adaptações. Transferiu-se
o enfoque das perguntas para a esfera regional e buscou-se identificar as
linhas prioritárias de atuação dos órgãos e das empresas. Estas entrevistas
foram realizadas pela proponente do presente trabalho.

4.3. O tratamento dos dados

O objetivo central da análise dos dados das entrevistas foi detectar


quais os principais entraves para a solução dos problemas ambientais na
esfera de execução, ou seja o nível local, de um programa de gestão ambiental
participativa com vistas à sustentabilidade.
Dentro desta perspectiva, priorizou-se, para o tratamento dos dados
obtidos nas entrevistas, cinco grupos qualitativos de análise: a) critérios e
valores norteadores de atitudes; b) percepção de problemas; c) atribuição de
responsabilidades e d) motivação a participação. Tais grupos buscaram
detectar aspectos relacionados com o objetivo geral do presente trabalho,
através da análise das respostas das questões relacionadas com cada grupo,
que serviram de indicadores de análise.
Através da análise dos critérios e valores norteadores das atitudes
dos diferentes atores sociais entrevistados, procurou-se detectar a existência
ou não de critérios ecológicos/ambientais nas respostas e caso estes
estivessem ausentes quais os predominantes.
Analisando-se a percepção dos problemas dos entrevistados
pretendeu-se verificar quais eram os problemas prioritários levantados e como
eram vistos e priorizados os problemas de ordem ambiental
Procurou-se situar como se dá a atribuição de responsabilidade para
a solução dos diferentes problemas levantados, dos mais gerais aos mais
específicos, e com isso verificar se os diferentes atores sentem-se parte dos
problemas ou simplesmente vítimas sem quaisquer responsabilidade.
Como o novo estilo de desenvolvimento proposto, o desenvolvimento
sustentável, pressupõe a que as tomadas de decisão e as ações se dêem de
forma participativa, procurou-se verificar se quem toma as decisões está
disposto a ceder espaço a um processo participativo e se quem hoje só analisa
e por vezes critica as decisões está disposto a participar. Também procurou
verificar como a participação é vista.
Os dados obtidos através das entrevistas realizadas com o universo
de referência da população local do município foram organizados através da
criação de um banco de dados, no programa de computador “Microsoft
ACCESS”, o que possibilitou uma maior facilidade no agrupamento e na
interpretação das informações.
O restante das informações obtidas através das entrevistas, com os
tomadores de decisão local e regional, foi analisado manualmente.

5. RESULTADOS

Observou-se que a maioria dos entrevistados dos três grupos de


atores - universo de referência da população local, tomadores de decisão locais
e regionais - não apresentou como prioritários critérios e valores
ecológicos/ambientais na idealização do local para morar e nem como requisito
para melhoria do município ou região.
Complementando esta observação, verificou-se que a maioria dos
entrevistados não percebeu como prioritários, num primeiro momento, os
problemas ambientais. Contudo, quando se referenciou este tipo de problema,
houve uma valorização das questões relativas ao ambiente. Isto demonstrou
uma pré-disposição, da maioria dos entrevistados, para a absorção dos valores
e critérios condizentes com a sustentabilidade.
Outro dado importante, com relação à percepção dos problemas, é o
distanciamento existente, por parte dos tomadores de decisão regionais, entre
as propostas institucionais dos programas e projetos das diferentes empresas,
que visam abranger questões ambientais, com o que está acontecendo na
prática.
Os dados referentes à atribuição de responsabilidades demonstraram
que a maioria do universo de referência da população local, não se sentiu parte
dos problemas de ordem mais geral e da agricultura e, também, não se
responsabilizou pela realização de melhorias no município. Contudo, com
relação aos problemas ambientais específicos do município, a infestação de
borrachudos e o déficit hídrico, a maioria dos entrevistados deste grupo
responsabilizou-se tanto pela sua existência como pela sua solução.
A maioria dos demais atores entrevistados, tomadores de decisão
locais e regionais, de modo geral, responsabilizaram-se por todos os
problemas levantados durante a entrevista. Porém ocorreram exceções com
relação aos problemas da agricultura para os tomadores de decisão local, que
atribuíram a solução à esfera do governo federal e da existência dos problemas
ambientais para os tomadores de decisão regionais, que conferiram igual
responsabilidade à população em geral, da qual fazem parte, e aos
agricultores.
A atribuição da responsabilidade de solução dos problemas mais
gerais do município, pela maioria do universo de referência da população, pode
ser justificada pela ausência da participação da sociedade nas decisões
tomadas de forma geral. Da mesma forma, justifica-se a atribuição da
responsabilidade de solução dos problemas da agricultura à esfera federal,
pela maioria dos tomadores de decisão local, pois não existe uma parceria nas
diferentes escalas governamentais para o estabelecimento de uma política
agrícola voltada para a realidade do país.
Já a atribuição da responsabilidade pela existência dos problemas
ambientais, pela maioria dos tomadores de decisão regionais, aos agricultores,
reforça o distanciamento entre aqueles atores e a realidade prática dos
programas e projetos propostos.
A maioria dos tomadores de decisão, tanto locais como regionais,
manifestaram-se de forma positiva quanto à importância do processo
participativo para a solução dos problemas. Contudo as iniciativas tomadas
para estimular a organização e a conseqüente participação da sociedade na
solução dos problemas, indicaram que este estímulo se dá através de uma
participação manipulada ou dirigida, a qual não viabiliza a participação como
prática libertadora e promotora da igualdade.

6. CONCLUSÕES

A gestão ambiental participativa, voltada para a sustentabilidade,


requer que o processo de intervenção solucione conflitos de ordem política,
econômica, social e territorial, assumindo um caráter político, estratégico,
técnico-científico, sistêmico e histórico, que dê conta da complexidade do
ambiente, e permita a participação como uma prática libertadora e promotora
de igualdade.
Sob esta perspectiva, a lacuna existente entre a proposta e a
implementação deste tipo de processo, a nível local, pôde ser delimitada,
através da análise dos dados coletados em campo, em dois pontos básicos: 1)
a ausência de um efetivo processo educativo voltado para as questões
ambientais, tanto da população em geral como dos técnicos e dirigentes das
diferentes instituições, e 2) a inexistência de um trabalho voltado para o
estímulo da organização da sociedade civil, que possibilite o exercício pleno da
cidadania.
A necessidade de se referenciar os problemas ambientais para que
eles fossem valorizados demonstrou que esta absorção só será viável através
da realização de trabalhos efetivos de educação ambiental, não só voltados
para as crianças e adolescente, mas para a população em geral e sobretudo
para os técnicos e tomadores de decisão nas diferentes escalas de atuação.
Convém frisar que já foram realizados, a nível estadual, alguns
programas de educação ambiental, como o do Governo do Estado de Santa
Catarina, denominado “Viva Floresta Viva”, e o da Companhia Souza Cruz, “O
Clube da Árvore”, que, como afirmou Santos Neto (1997, p.14), são programas
de educação ambiental fadados à manutenção das condições atuais. Tais
programas carecem de uma avaliação constante e de maior envolvimento da
sociedade civil organizada na sua concepção. Isto faria com que se
aproximassem mais da realidade e pudessem ser avaliados em termos de
qualidade e não somente respaldados pela número de pessoas atingidas.
Desta forma, a educação ambiental necessária para se atingir a
sustentabilidade deve ter as seguintes diretrizes: a) ser processo
interdisciplinar de construção de conceitos a partir da realidade vivenciada
pelos educandos; b) ser participativa através do envolvimento comunitário e
das diferentes instituições que constituem a sociedade; e c) promover a
cidadania.
Assim, para se efetivar a gestão ambiental é necessário, na sua
concepção, a inclusão de um processo educativo com as característica citadas
anteriormente, direcionado para todos os envolvidos no processo.
O distanciamento existente, por parte dos tomadores de decisão
regionais, entre as propostas institucionais dos programas e projetos das
diferentes empresas, que visam abranger questões ambientais, com o que está
acontecendo na prática, ressalta a necessidade da constante avaliação dos
processos de intervenção. Isto só poderá ser alcançada através da concepção
de propostas com caráter sistêmico, ou seja que permitam a flexibilidade e
possibilitem a durabilidade do processo pela adequação e inclusão de novas
idéias e comportamentos.
Para que a maioria da população se responsabilize pelos problemas e
legitime os processos de intervenção propostos, faz-se necessário que ela
participe. Porém, para que esta participação ocorra de forma efetiva é
necessário que a população esteja disposta a participar e se organize para
tanto e que os tomadores de decisão disponham-se a fomentar um processo
participativo.
O dados referentes à motivação para a participação demonstraram
que a maioria do universo de referência da população local dispõe-se a
participar. Contudo, esta participação manifestou-se de forma passiva para os
problemas onde a população não apresenta maiores esclarecimentos e nunca
teve a oportunidade de atuar, seja na tomada de decisões ou na simples
realização de tarefas. Já com relação aos problemas em que já participou,
mesmo de forma dirigida, a participação manifestou-se de maneira ativa.
Isto demonstrou que para se estabelecer um processo participativo há
a necessidade de criar condições para que ele aconteça, pois, mesmo a
participação sendo inerente à natureza social do homem, ninguém nasce
sabendo participar e sim aprende no decorrer da sua história pessoal onde o
conhecimento da natureza dos problemas e das formas possíveis de solução
são imprescindíveis para a participação ativa.
Uma comprovação disto foi o trabalho desenvolvido na comunidade
Alto Dona Luiza, do município de Atalanta, por Rebelo & Santos Neto (1997).
Neste trabalho,
(...) o estímulo à participação, a metodologia e dinâmica aplicadas às
reuniões e às informações passadas à comunidade criaram uma identidade
da mesma com o espaço trabalhado, levando-a a organizar-se de forma a
modificar suas relações com este espaço. Estas novas relações conduziram a
um aprimoramento na organização da comunidade, bem como melhorias
visíveis na sua qualidade de vida atual e possibilidades de sustentabilidade
ambiental a curto, médio e longo prazo (REBELO & SANTOS NETO, 1997, p.
220-1).

Para finalizar, conclui-se e recomenda-se que sejam feitos estudos de


metodologias que possibilitem preencher os dois pontos básicos apresentados
como lacuna existente entre a proposta e a implementação da gestão
ambiental participativa, voltada para a sustentabilidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 2a ed. São


Paulo: Cortez, 1995. 164 p. (Biblioteca da educação. Série1. Escola; v. 16)

CRESPO, Samyra & LEITÃO, Pedro. O que o brasileiro pensa da ecologia.


Rio de Janeiro, MAST/CETEM/ISER, 1993. 253 p.

DOUROJEANNI, Axel. Procedimientos de gestion para el desarrollo


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GOODE, W. J. & HATT, P. K. Métodos em pesquisa social. 4a ed. São Paulo:


Companhia Editora Nacional, 1973. 488 p.

REBELO, Silene & SANTOS NETO, Adelino. Educação ambiental para a


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REUNIÃO ESPECIAL DA SBPC, 5, 1997, Blumenau. Anais da 5a Reunião
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SANTOS NETO, Adelino. A cartografia como instrumento para educação


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Florianópolis: UFSC. 1997. Curso de Pós-graduação em Geografia.
Dissertação de Mestrado, 114p.

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