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Marcos Santos/USP imagens

Djavan ou
“De la musique avant
toute chose ”
Ivan Siqueira
resumo abstract

Por meio do levantamento de questões This article is an attempt to address the


estéticas e biográficas, o artigo busca method of writing songs employed by
analisar o método de composição do Djavan, one of the greatest songwriters
cancionista Djavan, tendo em vista o and singers of the 20th century in Brazil, by
exame de algumas de suas apontadas highlighting his musical singularities such
singularidades: estranheza, prevalência as asymmetric rhythmic forms, a feeling
de sonoridades sobre referência textual, of strangeness and prevalence of musical
assimetrias rítmicas e diversidade de aspects over the sense of lyrics. It also
influências – Bossa Nova, MPB, música deals with his major influences – Brazilian
nordestina, jazz e pop. popular music, music from the Northeast,
Bossa Nova, jazz and pop music.
Palavras-chave: Djavan; estranhamento;
estética musical. Keywords: Djavan; strangeness; musical
aesthetics.
N
UMA MÚSICA ESTRANHAMENTE BELA

a noite de 4 de fevereiro de ascensão social (Fernandes, 1964). Ocorre que


1975, no Teatro Municipal de Djavan não era carioca. E, a despeito de ser um
São Paulo, a Rede Globo pro- negro nordestino com vínculo às suas tradições
movia a final do “Abertura: culturais, sublinhava também apetências pela mú-
Festival da Nova Música Bra- sica americana, em especial o jazz.
sileira”. Djavan Caetano Viana As singularidades que supostamente ofere-
(1949) alcançaria o segundo ceriam obstáculo à fruição da sua composição se
lugar com “Fato Consumado”, deviam à característica fusão rítmica e às sonorida-
sendo superado por “Como um des linguísticas que tendiam a prevalecer sobre as
Ladrão”, de Carlinhos Verguei- propriedades verbais da referência textual. Era mais
ro, mas vencendo o favoritismo uma busca por uma paisagem sonora impressionista
de “Ébano” (Luís Melodia) e do que um discurso no qual as palavras remeteriam
o experimentalismo de “Vou a temas típicos da tradição da canção popular. Para
Danado pra Catende” (Alceu Valença e Ascen- Djavan, é como se as palavras se despojassem da
so Ferreira). Para uma crítica da época, não era carga semântica em função de uma outra ordem de
exatamente o novo que teria prevalecido, e que a necessidade conectada à materialidade sonora:
segunda colocação teria sido conquistada por um
“samba inexpressivo”, conforme matéria publicada “Para-raio
na Revista Pop em março daquele ano (Figura 1).
A dificuldade de compreensão, que não impe- Descalço num pequeno espaço
diria ampla aceitação pelo público, marcaria um Deitado em quarto crescente
determinado aspecto da audição da obra de Dja- Pálido, cálido, espírito ausente
van desde o início da sua carreira. Extensamente Calado, de corpo fechado
relatada por ele em entrevistas, essa dificuldade
teria surgido ainda entre os seus primeiros par- Não traço, não sigo, não sou obrigado
ceiros musicais em Alagoas sempre que mostrava Não faço segredo, não sou bem dotado
composições próprias. Cabeça feita, visão na estrada
Essa “estranheza” pode ser vislumbrada já em Esqueço do medo, não choro por nada
seu primeiro trabalho: A Voz, o Violão, a Músi-
ca de Djavan (1976). Produzido pelo excepcional
Aloysio de Oliveira, o mesmo de Chega de Sauda-
de (João Gilberto, 1958), tratava-se aparentemente IVAN SIQUEIRA é professor da Escola de
Comunicações e Artes da USP e autor de,
de mais um disco de samba na “linha evolutiva” entre outros, A Música na Prosa de
dos “homens de cor” em busca de integração e Guimarães Rosa (Todas as Musas).

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No braço do mar luminosidade da lua; ou o crescimento dos sonhos


Bem na ponta da areia alargando o espaço pequeno).
A terra treme, o tempo serra O fato é que as rupturas estão menos nos
Quem manda na chuva é o vento versos do que nas conexões entre eles. É que a
sucessão das frases não conduz a uma narrativa
E para-raio sugerida pela expressão “Descalço num pequeno
Cata-vento espaço”, mas ao livre fluxo. E mesmo o título não
E para-raio oferece pistas esclarecedoras sobre as intenções
E para o tempo dos versos. Afinal, qual seria a relação entre “es-
E para tar descalço”, “corpo fechado”, “visão na estrada”
E para-raio e “para-raio”? O que sabemos é que o refrão é
Cata-vento”. ritmicamente uniforme e cíclico, o que facilita a
sua imediata assimilação pelo ouvinte. Além do
Pode-se conjecturar que se trata de uma su- que, há pouca informação semântica a ser deco-
cessão de imagens sem a definição de um tema. dificada: “Para-raio/Cata-vento [...]”.
Mas sabedores que somos da biografia do com- Não sendo um expoente do mundo do samba
positor, é possível recompô-las num quadro em carioca, o compositor do dito “samba inexpressi-
que o eu lírico se mostra tributário do índice de vo” viria a sedimentar um novo jeito de compor e
reverberação das aflições do espírito contingen- de cantar samba que, no entanto, adotava alguns
ciado pelas condições sociais do meio (descalço procedimentos de continuidade em relação às ge-
– uma das marcas da pobreza e da herança da rações anteriores. Da Bossa Nova, a harmonização
escravidão). Como num caleidoscópio, as ima- sofisticada que dissolvia os já óbvios pontos fortes
gens se fragmentam num quadro articulado por de regularidade do gênero a partir da incorporação
outras lógicas, por isso deslocamentos como o de intervalos dissonantes: D6(9) A7(4/9) Gm7(9)
“quarto crescente” (talvez imiscuído pela pouca C7(13) F7M(9) (Gava, 2002).

figura 1

Fonte: Revista Pop, março de 1975

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No segmento a seguir, a melodia se vale No entanto, esses sambas de métricas irregu-
praticamente da sucessão de dois graus da es- lares mostram refrãos melodicamente mais fá-
cala – tônica (ré) e sétima maior (dó sustenido) ceis de cantar em construções linguísticas bem
até alcançar o quinto grau (lá) via ascendência mais simples do que as estrofes. “Flor de Lis”, o
por graus conjuntos (dó, ré, mi, fá sustenido) e maior sucesso do disco, reúne parte dessas pe-
posterior descendência. O que se ouve é tensão culiaridades numa narrativa mais linear sobre
(sétima maior) e relaxamento (tônica). Do pon- uma desilusão amorosa: “Valei-me, Deus/ É o
to de vista rítmico, uma “divisão africana” que fim do nosso amor [...]”.
constantemente desloca os pontos de repouso, O aprimoramento desses atributos musicais
suprime os acentos regulares, a hierarquia dos constituiria o inequívoco estilo de Djavan: nas
acentos e a típica quadradura dos compassos estrofes – registros de voz mais graves, métricas
(Chernoff, 1979). A primeira frase percorre cin- irregulares, descontinuidades semânticas e busca
co compassos, como se nota na Figura 2. por sentidos sonoros; no refrão – amplitude de
Como se observa, as dissonâncias favorecem a registro, maior regularidade rítmica, mensagem
coloração e a sofisticação do material sonoro. São linguística mais explícita, a exemplo de “Muito
como pano de fundo do cenário em que a melodia obrigado, por tudo que eu tenho passado” (“Mui-
transita tendo como característica a síncope. Logo, to Obrigado”). É o típico refrão para o público
diferentemente do uso frequente das dissonâncias cantar junto, por isso os alongamentos vocálicos
da bossa de Tom Jobim (cf. “Águas de Março”), e o caráter emotivo (Tatit, 1997, p. 101). Nesse pri-
aqui não se trata propriamente de funções harmô- meiro álbum, a música que possivelmente melhor
nicas conduzindo o fluxo melódico (Siqueira, 1999, represente essa vocação para o canto e o gosto
p. 15). É como se os acordes cumprissem uma es- por nuançar a melodia seja “Magia”, cuja letra
pécie de função rítmica e coloração para acentuar se estrutura em torno da repetição ad libitum de
o balanço da melodia. E para isso contribui a ba- “Reserve o mito da magia só para você”.
tida inovadora do violão de Djavan para o samba. Há ainda os falsetes e a adaptação de vocaliza-
A audição dos sambas desse primeiro álbum ções jazzísticas (scat singing) à prosódia do idioma
sugere a existência sistêmica de sucessões rítmicas nacional – uma de suas marcas registradas (Elme
de frases curtas e outras mais longas, sendo que & Fernandes, 2014). Embora sinalizasse suficiente
o ponto de repouso é frequentemente fugidio. É potencial para renovar o samba – batida inovadora
assim em “Na Boca do Beco”, “Para-raio”, “E que no violão, articulação, divisão, canto sincopado –,
Deus me Ajude”, “Maria das Mercedes” e “Muito o gênero paulatinamente iria perder espaço na sua
Obrigado”. Melodicamente, “Maria das Mercedes” obra. É que o seu objetivo era se distinguir pela
é quase uma variação dos primeiros compassos de fusão em uma atitude que seletivamente incorpo-
“Muito Obrigado” (ou vice-versa). rava samba, coco, embolada, repente, jazz e pop.

figura 2

Fonte: Djavan, 1997, p. 132

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ESTÉTICA Açaí, guardiã


Zum de besouro um ímã
Branca é a tez da manhã”.
Na década de 1980, Djavan se consolidaria
como um dos grandes compositores e cantores
Aqui, a busca pela tradicional inteligibilidade
do país, perfilando-se ao lado da geração an-
gramatical de sujeitos e predicados inequívocos
terior, que tinha proporcionado níveis de exce-
fatalmente conduzirá à incompreensão. Djavan
lência à musicalidade do cancioneiro nacional
buscou interpretar essa canção no programa “O
– a chamada MPB: Chico Buarque, Caetano
Som do Vinil”, de Charles Gavin (ex-Titãs). E em
Veloso, Gilberto Gil. Em praticamente todos
resposta à sugestão de nonsense proferida por um
os seus discos do período, o compositor lo-
crítico, especialmente no refrão de “Açaí”, o com-
grou alcançar hits, sucesso de público e crítica
positor menciona que “Açaí guardiã” estaria co-
(melhor compositor de 1981 pela Associação
nectada ao sentido social do contexto da fruta no
Paulista dos Críticos de Arte), embora continu-
Nordeste, onde ela tem grande importância. Mas
asse praticamente ignorado pela academia até
o fato é que há muito mais em jogo.
o presente. Um exemplo desse reconhecimento
A sequência (solidão, assombração, coração,
é Alumbramento (1980), seu terceiro álbum de
paixão, tubarão, ilusão) alude à rima das mais
estúdio, no qual fez parcerias com Aldir Blanc
comuns na língua portuguesa. Embora tenhamos
e Paulo Emílio (“Tem Boi na Linha”), com Ca-
substantivos majoritariamente femininos, a sono-
caso (“Lambada de Serpente”) e com Chico
ridade “ão” sugere masculinidade e se contrapõe
Buarque (“Alumbramento”, “A Rosa”). É tam-
ao feminino de (manhã, sã, afã, clã, guardiã, ímã).
bém desse disco um dos seus maiores sucessos:
Avoluma-se ainda a prevalência da subjetividade.
“Meu Bem Querer”.
E mesmo os substantivos concorrem para funções
Em 1982, a consagração nacional com um
adjetivas em que predominam adjuntos adnomi-
desfile de sucessos que exibiriam uma poten-
nais (solidão de manhã; rajada de vento; som de
cialidade já na trilha da internacionalização:
assombração; clã de sereia; castelo de areia; ira de
“Pétala”, “Sina”, “Capim”, “Açaí”, “Samurai”.
tubarão; zum de besouro). A partir dessa materia-
Se há artistas que cantam porque compõem,
lidade sonora pode-se observar o desenvolvimento
Djavan compõe para exercer o ofício de cantar.
dos sons no canto e o seu prolongamento nas fra-
E de tal modo que o seu cancioneiro, estando
ses. E, por via de “místico”, a sonoridade do fone-
vinculado à tradição da canção (letra, melodia,
ma /i/ se interpõe entre o masculino /ão/ e o femi-
harmonia), libera-se frequentemente do “dever”
nino /ã/ (místico, ira, ilusão, si, açaí) até juntar-se
de elaborar narrativas, salvo se considerarmos
ao feminino (ímã). Sem prejuízo das construções
as suas narrativas como sonoras e rítmicas.
metafóricas, o som é o principal elemento de liga-
ção, continuidade e confluência dos sentidos.
“Açaí

Solidão de manhã
ASCENSÃO SOCIAL
Poeira tomando assento
Rajada de vento Mas por que o estranhamento a uma estética
Som de assombração fundada em parte na alinearidade e em outros pa-
Coração radigmas poéticos se consideramos que o território
Sangrando toda palavra sã da canção é essencialmente de “caráter multidi-
mensional” (Morin, 1973, p. 156)? Inicialmente,
A paixão, puro afã porque a conhecida “primeira geração” da MPB
Místico clã de sereia consolidou um modelo de canção em que a letra
Castelo de areia conformava, ainda que por meio de metáforas,
Ira de tubarão, ilusão frases e orações pautadas pela fala cotidiana de
O sol brilha por si uma prosódia particularmente fundada em balizas

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e acentos do Sudeste (RJ/SP), a despeito da presen- Com isso, postula-se aqui a hipótese de que o
ça dos baianos Gil e Caetano. trabalho com as sonoridades foi uma das estraté-
Havia ainda, entre as décadas de 1960 e 1970, gias desenvolvidas pelo compositor para alcançar
uma suposta pressão político-ideológica que indi- um patamar de requinte análogo ao dos seus ído-
cava que a canção deveria cumprir uma função so- los. A isso se somam os idiomatismos empresta-
cial específica, tendo em vista o regime de exceção dos do jazz face ao seu corolário de refinamento
instaurado pela ditadura militar (1964-85); mesmo e modernidade. Se assim for, a estética de Djavan
considerando que as canções, salvo exceções, não acenaria para as potencialidades do simbolismo
propusessem nenhum programa de enfrentamen- na contemporaneidade.
to, mas amiúde endereçavam a solução dos nossos
dramas ao “dia que virá” (Galvão, 1976). “Antífona
Por outro lado, Djavan não ostentava nem for-
mação nem aura de universitário, cabedal muitas Indefiníveis músicas supremas,
vezes atribuído à geração anterior, mesmo a quem Harmonias da Cor e do Perfume...
não concluísse seus cursos (Chico Buarque – ar- Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
quitetura; Caetano Veloso – filosofia). A mãe de Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...”
Djavan era lavadeira e o queria militar, ele flertava (Cruz e Souza).
com o futebol antes de encontrar definitivamente
a música. Chico, Caetano e Gil eram seus ídolos, Na busca pelo sentido do som enquanto artífice
sendo possível perscrutar a influência que exerce- de requinte, salvo referências contidas e pontuais,
ram sobre ele no que diz respeito à concepção de vão se eclipsando as indicações biográficas presen-
qualidade na letra da canção popular. tes nos primeiros trabalhos, sendo raras as tema-
Se o estilo acadêmico dessa tríade maior não tizações sobre o negro – “o negro que lute pra po-
lhe convinha, ele que tratasse de conceber um jeito der sonhar em mudar isso aqui” (Soweto, 1987) –,
de angariar qualidade para o seu projeto de com- ainda que eventualmente haja menções explícitas à
positor. E o que se observa, desde as primeiras África – “Nvula leza Kia” e “Umbiumbi” (Seduzir,
composições, é justamente a prevalência da mú- 1980), “Nkosi Sikekel`l Afrika” (Meu Lado, 1986).
sica sobre a letra, ainda que essa tendência tenha De crooner de boate a artista internacional
arrefecido e encontrado um equilíbrio nos seus consagrado, o talento artístico de Djavan lhe pro-
trabalhos mais pop (Luz, 1982; Lilás, 1984; Meu porcionou ascensão social por meio da música. A
Lado, 1986; Não É Azul, mas É Mar, 1987; Dja- década de 1990 o encontra com uma obra já con-
van, 1989). Não seria propriamente o som antes do solidada e reconhecida (Coisa de Acender, 1992;
sentido, mas o sentido veiculado por meio do som, Novena, 1994; Malásia, 1996; Bicho Solto, 1998).
a exemplo da “Art Poétique”, cujo canto enaltece E surgem hits como “Linha do Equador” (parceria
os versos ímpares, os ritmos isométricos/hetero- com Caetano Veloso), “Se”, “Nem um Dia”, “Sor-
métricos e os elementos sonoros enquanto chave ri” (versão de João de Barro da canção de Charles
privilegiada para a imersão nos desígnios da alma Chaplin e Geoffrey Parsons) e “Eu te Devoro”.
por meio das impressões que a entrelaçam: No século XXI, depois de alguns discos, Dja-
van lança o primeiro trabalho integralmente ba-
“De la musique avant toute chose, seado em canções de outros compositores, Ária
Et pour cela préfère l’Impair (2010). O ciclo se completa, estão lá as influências
Plus vague et plus soluble dans l’air, mencionadas no seu primeiro trabalho: Luiz Gon-
Sans rien en lui qui pèse ou qui pose” zaga, Chico Buarque, Caetano Veloso, o samba, o
(Paul Verlaine, 1874)1. jazz. E com eles a fonte do seu aprendizado sonoro
e rítmico com a língua, que começara com a sua
mãe – lavadeira que entoa melodias.
1 Tradução livre: “A música antes de qualquer coisa/ E por Não sendo acadêmico, Djavan soube reco-
isso a preferência pelo ímpar/ Particularmente o vago e
o que se desmancha no ar/ Sem nada que pese ou que nhecer e tirar grande proveito das peculiarida-
prenda”. des da prosódia natural da língua portuguesa

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falada entre nós e da sua projeção contínua que ao gênio subjaz uma extraordinária força
de “sonoridades f luidas” que resistem “às imaginativa – os gênios com “G maiúsculo”
marcações rígidas” em face do seu natural seriam menos afetados pelo desejo. Contudo, a
“movimento sincopado” (Mammi, 1992). grandeza da arte de Djavan repousa na beleza
Schopenhauer (1985, p. 17) concebia a arte e excepcional força criativa do desejo de di-
como “o modo de encarar as coisas independen- versidade que agrega iguais e diferentes numa
temente do princípio da razão”, aludindo que geometria sonora que, nos melhores momentos,
aos homens comuns é facultado imaginar, mas aponta para o insondável da alma humana.

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