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SISTEMA CEASA BRASILEIRO

Profo. Marden Manuel Rodrigues Marques

✓ Apresentar a implantação e o funcionamento do Sistema CEASA


brasileiro.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

✓ Entender a história das Centrais de Abastecimento e a sua influência


no abastecimento, na cadeia de suprimentos e com relação a
segurança alimentar e nutricional;

✓ Desenvolver, por meio do seu conhecimento, ações estratégicas


para a modernização dos diferentes mercados de hortigranjeiros.

✓ Estamos iniciando um novo tema. Essa aula apresenta um


panorama do abastecimento no Brasil. Portanto, poderá contribuir
para a tarefa proposta na primeira aula.
SISTEMA CEASA BRASILEIRO

Histórico do Abastecimento no Brasil

O processo de abastecimento no Brasil é muito recente e foi impulsionado,


de certa maneira, pela urbanização dos grandes centros e pela preocupação com
a saúde da população.

Durante o século XIX e início do século XX ocorreram vários surtos


epidêmicos nos centros urbanos, tornando a investigação sobre a saúde pública
essencial. Com isso, além das concepções higienistas havia também uma
preocupação com a qualidade da alimentação da população.

O principal ponto, no município do Rio de Janeiro, para a comercialização


de hortifrutigranjeiros era entre a Praça XV de Novembro e a Rua da Alfândega,
enquanto a venda de pescado acontecia na Praia do Peixe, que ficava entre a Rua
do Mercado e a Praça das Marinhas. Esse comércio era, em sua maioria,
frequentado por escravos de ganho, que montavam barracas de madeira com
cobertura de folha de bananeira para venderem os seus produtos. Em 1834 a
Câmara Municipal solicitou que fosse construído um mercado público adequado
para as atividades de vendas dos alimentos.

Mercado Público da Candelária

O Mercado Público da Candelária teve as suas obras iniciadas em 1835, e


funcionou entre 1841 e 1911. Foi projetado pelo renomado arquiteto Auguste
Henri Victor Grandjean de Montigny, que construiu o primeiro mercado fechado
de pátio aberto do Brasil, e que serviu de modelo para a construção de outros
mercados públicos fechados, principalmente, na segunda metade do século XIX,
no Rio de Janeiro (Mercado Público da Glória e Mercado Público da Praça da
Harmonia) e em São Paulo.

Este mercado era dividido em três partes: o centro, destinado às vendas


de frutas, verduras e aves. O lado do mar, para a venda de pescado fresco, e os
lados, que faceavam a Rua do Mercado e o Largo do Paço, destinados às vendas
de cereais, legumes, entre outras mercadorias.

Figura 1: Mercado da Candelária em 1869 (GORBERG, 2003, p.19).

Em 1911, um incêndio acabou com o Mercado Público da Candelária. O


prédio foi demolido e o comércio deslocado para o Largo de Moura, onde já havia
um bom número de estabelecimentos comerciais, no recém-inaugurado Mercado
Municipal da Praça XV de Novembro.

Na área onde se encontrava o Mercado Público da Candelária foi


construído o prédio da Bolsa de Valores do rio de Janeiro.

Figura 2: Prédio da Bolsa de Valores do Rio de janeiro.


Mercado Público da Glória

A partir de uma Resolução da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, de 22


de dezembro de 1840, o Mercado Público da Glória foi projetado pelo arquiteto
Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, e teve as suas obras iniciadas em 1856
e terminadas em 1858.

Infelizmente, o mercado nunca conseguiu cumprir o seu propósito de


funcionar como uma feira para pequenos produtores, sendo gradativamente
transformado em cortiço, com problemas de higiene e meretrício.

Figura 3: Mercado Público da Glória (por Jean Marie Expilly).

Mercado Público da Praça da Harmonia

Embora o Mercado Público da Candelária já estivesse em funcionamento


e as obras do Mercado da Glória encaminhada, a Câmara Municipal do Rio de
Janeiro estabeleceu a necessidade de construção de outro mercado, sendo este
localizado na Praça da Harmonia, no bairro da Gamboa, zona central da cidade,
oficialmente Praça Coronel Assunção.

O Mercado Público da Praça da Harmonia, projetado em 1855, também


pelo arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva iniciou as suas atividades
por volta de 1860, com o propósito de absorver parte da excessiva demanda do
Mercado Público da Candelária. No entanto, devido a sua baixa movimentação foi
se transformando em um cortiço, assim como o Mercado Público da Glória.

Em 1897, o local foi desapropriado e transformado em trapiche e


entreposto, sofrendo uma grande epidemia de peste bubônica no ano de 1900. O
prédio foi arruinado por um incêndio e os restos do mercado foram utilizados como
trincheira durante a Revolta das Vacinas.

O prédio do Mercado Público da Praça da Harmonia era formado por


paredes espessas executadas com pedra, cal e madeiramento de lei. Possuía
quatro entradas, uma em cada fachada, e o pátio central, se destacava pela
presença de um chafariz de cantaria.

Mercado Municipal da Praça XV

Em agosto de 1891, o Conselho da Intendência Municipal da cidade do Rio


de Janeiro aprovou o plano de obras para a construção de uma praça de mercado,
nos termos da Portaria do Ministério da Fazenda n o 42, de 08 de junho de 1891.
Foi contratado para a obra o engenheiro Nuno Álvarez Pereira e Souza. Para a
construção do novo mercado foi escolhida a Praça de Dom Manuel.

Em 15 de novembro de 1902, assume a Presidência da República o Dr.


Rodrigues Alves, que nomeia para o cargo de Prefeito da cidade do Rio de
Janeiro, então capital do Brasil, o engenheiro Francisco Pereira Passos que já
havia prestado relevantes serviços ao país. A Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro, por meio de licitação pública, firmou contrato de 50 anos com a
Companhia do Mercado Municipal, e em 1903 iniciaram-se as obras do novo
mercado.

O Mercado Municipal da Praça XV de Novembro foi projetado pelo


Engenheiro Alfredo Azevedo Marques. Construído a partir de estruturas de ferro
pré-moldadas fabricadas na França, ocupava uma área de 22.500m2 e era
ladeado por quatro torreões octogonais importados da Bélgica, que possuíam o
andar superior envidraçado, além de um grande torreão central, encimado por um
lanternim e um relógio de quatro mostradores.
Desde a sua inauguração em 14 de novembro de 1907, o Mercado
Municipal da Praça XV de Novembro foi um importante entreposto de venda de
gêneros alimentícios. Possuía 16 ruas internas e 200 lojas que comercializavam
gêneros alimentícios nacionais e importados, secos e molhados. Em seus becos
internos funcionavam depósitos e circulavam carrinhos puxados por tração
humana, apelidados de “burro sem rabo” pela população. O mercado não fechava
e o período de maior movimento era entre as 3 e 4 horas da manhã, quando
chegavam carros e caminhões com as mercadorias.

Figura 4: Mercado Municipal da Praça XV de Novembro.

Figura 5: O entorno do Mercado Municipal da Praça XV de Novembro.


Nos anos 50, o aumento do tráfego de veículos na então capital levou o
governo da época a propor uma solução para melhorar o acesso entre as zonas
Norte e Sul, por meio de um viaduto que margeasse a orla, desde a Zona Portuária
ao Centro da cidade. A construção do elevado Juscelino Kubitschek,
popularmente conhecido como perimetral, foi iniciada em 1957 e provocou a
demolição do Mercado Municipal da Praça XV de Novembro. Estima-se que na
época mais de 320 empresas e cerca de 10 mil famílias ficaram sem trabalho.

Figura 5: Elevado Juscelino Kubitschek cortando o Mercado da Praça


XV de Novembro.

Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara (CADEG)

Com a notícia de que não haveria a renovação de contrato, já que o


Mercado Municipal da Praça XV Novembro seria demolido para a construção do
elevado Juscelino Kubitschek (perimetral), e que a prefeitura não teria verba para
a construção de outro mercado, a Associação dos Mercados Municipais resolveu,
em assembleia, construir a Central de Abastecimento do Distrito Federal (CADIF),
para isso formou uma comissão para encontrar um terreno que fosse adequado
para essa finalidade. O terreno encontrado foi uma área de 100.000 m 2, na rua
Capitão Felix, em Benfica, que pertencia a antiga fábrica de cigarros Veado.

As obras começaram no dia 6 de setembro de 1957 e terminaram no início


de janeiro de 1962, já no período do Estado da Guanabara, que ocasionou a
substituição do nome para Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara
(CADEG). Na época o Estado da Guanabara era governado por Carlos Lacerda,
que colaborou com a nova iniciativa e direcionou para a CADEG o abastecimento
do Rio de Janeiro.

O Início das Centrais de Abastecimento no Brasil

Com o crescimento acelerado dos centros urbanos no país, o processo de


distribuição de produtos hortigranjeiros tornou-se caro, complexo e ineficiente. Até
a década de 1960 a comercialização de hortigranjeiros era uma atividade informal,
sem nenhuma informação de mercado e que se dava através dos mercados
municipais, nas ruas e praças públicas. Haviam grandes perdas de alimentos, por
estes ficarem exposto ao tempo, no chão e sem nenhuma embalagem. As vendas
diretas ou por meio de atravessadores geravam dificuldades na formação dos
preços, na homogeneização da produção, e principalmente na distribuição dos
produtos ao mercado varejista, já que não havia nenhuma regulamentação. O
produtor não tinha espaço, e com isso, sentia-se estimulado a parar de produzir.
Os caminhões causavam engarrafamentos de trânsito, tanto que o problema
urbanístico foi um dos principais responsáveis pela urgência na organização da
comercialização.

O Governo Federal, percebendo que todos esses problemas acabariam


ocasionando uma grave crise no abastecimento, promoveu uma intervenção
planejada, criando o Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento (SINAC). No
entanto, iniciativas já haviam sido tomadas pelos Estados de Pernambuco e São
Paulo. A seguir você conhecerá como surgiram essas iniciativas, conhecidas
como as primeiras centrais de abastecimento do Brasil, em seguida será
apresentado o Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento (SINAC).
As Primeiras Centrais de Abastecimento do Brasil

Centrais de Abastecimento do Recife (CARE)

O primeiro registro de criação de uma Central de Abastecimento data de


1957, no Recife/PE. O documento denominado “Plano Mínimo Inicial de
Abastecimento do Recife”, criado pelo Departamento de Agricultura, Mercados e
Matadouros da prefeitura, recomendava a criação de uma Central de
Abastecimento para a cidade.

No mesmo ano, desembarcava em Recife, o pernambucano Josué de


Castro, que chefiava o Conselho Coordenador de Abastecimento, órgão federal
criado para elaborar uma política nacional de abastecimento nos centros urbanos.
Josué de Castro e seus técnicos tinham como missão iniciar por Pernambuco a
implantação dessa política nacional. Tomando conhecimento do trabalho
elaborado pela prefeitura, Josué de Castro convidou o Engenheiro Agrônomo
Lindalvo Farias, idealizador das primeiras ideias sobre a regulação do
abastecimento no Estado.

Em 1960, a recém-criada Superintendência de Desenvolvimento do


Nordeste (SUDENE), envia ao Recife um grupo de técnicos franceses com a
missão de realizar um estudo sobre o abastecimento urbano no Nordeste
brasileiro e propor soluções. Após dois anos de trabalho, o grupo francês
apresentou o relatório denominado “Contribuições ao Estudo da Infraestrutura de
Abastecimento Urbano do Nordeste Brasileiros”, que sugeria, entre outras
medidas, a criação de três centrais de abastecimento: uma no Recife/PE, uma em
Fortaleza/CE e uma em Salvador/BA.

Em 1962 foi então criada, a Central de Abastecimento de Pernambuco S.A.


(CAPESA), vinculada à SUDENE, por meio da Resolução n o 380, de 04 de abril
de 1962, que aprovou a Proposição 007/1962, da Secretaria Executiva do
Conselho Deliberativo da Sudene. Em 1963, por meio da Resolução no 851/1963,
a empresa teve a sua atuação ampliada para todo o Nordeste, e por isso, passou
a se chamar Centrais de Abastecimento do Nordeste S.A. (CANESA), sociedade
de economia mista, encarregada de implantar as centrais de abastecimento
nordestinas. Entretanto, devido ao Golpe Militar de 1964, todos os dirigentes da
SUDENE e da Centrais de Abastecimento do Nordeste S.A. foram afastados dos
cargos e o projeto de implantação das centrais de abastecimento nordestinas teve
as suas obras paralisadas.

Em 1968, depois de ter as obras retomadas, seguindo um novo projeto e


sob a denominação Central de Abastecimento do Recife (CARE), a Central do
Recife foi inaugurada e passou a funcionar efetivamente.

A Central de Abastecimento do Recife (CARE) mudou sua razão social


para Centrais de Abastecimento de Pernambuco S.A. (CEASA-PE) em 1973. No
ano seguinte, a SUDENE transferiu o controle acionário da CEASA-PE para a
Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL), ficando a seguinte composição
societária: COBAL (78%), SUDENE (12%), Governo de Pernambuco (8%),
Prefeitura do Recife (0,1%) e pessoas físicas (1,9%). Em 1987, a União repassou
definitivamente o controle acionário para o Governo de Pernambuco.

Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP)

No início da década de 1960 o ritmo de crescimento de São Paulo indicava


a necessidade de se criar um entreposto atacadista de distribuição de alimentos
capaz de atender a população do Estado. A CEAGESP - Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo foi criada em 31 de maio de 1969,
por meio da fusão de duas empresas do setor de abastecimento agroalimentar,
pertencentes ao governo do Estado de São Paulo, a CAGESP - Companhia de
Armazéns Gerais do Estado de São Paulo, criada em 1930, e o CEASA - Centro
Estadual de Abastecimento S.A., criado em 1966.

Em 1997 a empresa foi federalizada, decorrente do acordo de negociação


da dívida do Estado de São Paulo com a União, e o controle acionário foi
transferido para a União por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social - BNDES, ficando a empresa inclusa no Programa Nacional
de Desestatização – PND, em razão de suas atividades finalísticas estarem
vinculadas ao abastecimento agroalimentar. Portanto, desde então a gestão da
empresa está jurisdicionada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - MAPA.
SISTEMA NACIONAL DE CENTRAIS DE ABASTECIMENTO (SINAC)

Como visto acima, até o final da década de 1960 existiam apenas duas
experiências de regularização do abastecimento alimentar, a Central de
Abastecimento do Recife (CARE), inaugurada 1968 e a Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), inaugurada em 1969.
No entanto, a crise no abastecimento era generalizada, acometendo todos os
grandes centros urbanos do país. Como instrumento para resolver esse problema,
em 1969, o governo federal criou o Grupo Executivo de Modernização do
Abastecimento (GEMAB), que tinha como missão coordenar a implantação do
Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento (SINAC), tendo como foco a
instalação de centrais de abastecimento (BELIK, 2001).

O SINAC foi criado com base no modelo espanhol Mercasa, e tinha como
objetivo principal o estabelecimento de uma rede de informações técnicas entre
todas as unidades atacadistas regionais, funcionando como um ponto de
referência para o comércio entre produtores e distribuidores atacadistas,
promovendo, portanto, o equilíbrio entre a oferta e a demanda (CUNHA, et al.,
2013).

Segundo Gomes Jr et al. (2016), para os idealizadores do SINAC, o


problema do estrangulamento da circulação e comercialização da produção de
alimentos, particularmente hortigranjeiros, seria resolvido com a operação de
espaços de comercialização, onde a reunião de seus agentes (produtores e
atacadistas) por si, graças à "mágica da livre concorrência", reduziria custos e por
conseguinte, os preços desses produtos para o consumidor, barateando os gastos
com alimentação.

Seguindo essa lógica, criado por meio do Decreto no 70.502 de 11 de maio


de 1972, o SINAC tinha como objetivos:

1) Reduzir custos de comercialização;

2) Reduzir custos das organizações;

3) Melhorar os produtos e serviços de classificação e padronização;


4) Propiciar condições operacionais para a coleta, análise e divulgação de
informações de mercado desenvolvidas pelo Serviço de Informação do Mercado
Agrícola (SIMA), do Ministério da Agricultura;

5) Reduzir os custos para o varejo e estimular os supermercados;

6) Reduzir a flutuação da oferta de produtos;

7) Aperfeiçoar o mecanismo de formação de preços e elevar o nível de renda das


empresas agrícolas; e

8) Eliminar problemas urbanísticos causados pela comercialização atacadista em


lugares inadequados.

Com a criação do SINAC, o Governo delegou à então Companhia


Brasileira de Alimentos (COBAL) a gestão do Sistema. Assim, foram criadas no
país, 21 Centrais de Abastecimento S.A. (CEASAS). Essas empresas eram de
economia mista, sendo acionista a União, os estados e municípios onde se
localizavam as sedes. Em apenas três, a União não era a majoritária, Distrito
Federal, Minas Gerais e Bahia.

Portanto, com a criação do primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento –


PND, que vigorou de 1972 a 1974 foram implantadas CEASAS nas seguintes
cidades:

Ano CEASA/UF Mês de Operação


Brasília/DF Setembro
1972 Fortaleza/CE Outubro
São Gonçalo/RJ Dezembro

Salvador/BA Março
1973 Aracaju/SE Março
Porto Alegre/RS Setembro

Belo Horizonte/BH Março


1974 Rio de Janeiro/RJ Agosto
João Pessoa/PB Setembro

Na elaboração dos primeiros projetos, houve a participação de organismos


internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura (FAO), contratação de grandes empresas de engenharia, para
elaboração dos projetos e treinamento de técnicos da COBAL e técnicos dos
governos estaduais, nos Estados Unidos e Europa, principalmente, na Espanha,
para o conhecimento de técnicas de planejamento, construção e operação de
mercados atacadistas. No entanto, com o funcionamento das primeiras CEASAS
(Brasília/DF, Fortaleza/CE e São Gonçalo/RJ), houve a necessidade de correções
dos projetos, para a realidade brasileira. A COBAL passou então a projetar ao
invés de contratar projetos, utilizando o trabalho conjunto de engenheiros,
arquitetos, técnicos de mercado, o que criou uma “expertise” própria de projetos e
construções de mercados em função das características de sua operação. Com
isso, os projetos foram simplificados e melhorados. Na época do IIº PND, que
vigorou de 1975 a 1979, foram implantados os mercados nas seguintes cidades:

Ano CEASA/UF Mês de Operação


Manaus/AM Fevereiro
Campinas/SP Março
Maringá/PR Abril
1975
Belém/PA Maio
Goiânia/GO Agosto
Maceió/AL Dezembro

Curitiba/PR Julho
Campina Grande/PB Julho
1976
Natal/RN Outubro
Teresina/PI Dezembro

Vitória/ES Junho
1977 Mossoró/RN Julho
São Luiz/MA Outubro

Foz do Iguaçu/PR Fevereiro


Florianópolis/SC Março
1978 Anápolis/GO Maio
Uberlândia/MG Outubro
Novo Hamburgo/RS Novembro

Juiz de Fora/MG Março


1979 Campos dos Goytacazes/RJ Março
Campo Grande/MS Agosto
No final da década de 1970 foram construídos mais de vinte Mercados
Expedidores Rurais (Mercados Regionais do Produtor Rural), com o intuito de
facilitar a comercialização entre os produtores e atacadistas. Também foram
implantados diversos equipamentos varejistas, como: hortomercados, varejões,
sacolões, mercados volantes, etc.

Finalizando foram construídos na década de 1980 os seguintes mercados


do interior:

Ano CEASA/UF Mês de Operação


Londrina/PR Janeiro
Macaé/RJ Maio
1982
Cascavel/PR Outubro
Caxias do Sul/RS Novembro

Naquele momento estavam em operação 34 centrais de abastecimento


nas áreas urbanas, 32 mercados do produtor nas zonas produtoras e 158
equipamentos varejistas, sendo: 27 hortomercados, cinco feiras cobertas, 50
sacolões, dois sacolões volantes, oito módulos de abastecimento, sete feiras livres
e 59 varejões. No entanto, iniciava-se também o declínio do SINAC, com um forte
investimento do governo federal nas “Cidades Hortigranjeiras”, que visavam ligar
os produtores diretamente aos varejistas. Obviamente esse projeto não deu certo,
tendo em vista que os agricultores não tinham todos os produtos para fornecer,
além da constância da oferta.

Com o novo governo federal, em 1985, iniciou-se a discussão da


privatização de empresas estatais. As CEASAS, portanto, passaram a fazer parte
da lista das privatizáveis. Em 1986, com grande alarido na imprensa, o governo
resolveu “privatizar” vinte e uma CEASAS. Para isso, editou o Decreto n.º 93.611,
de 21 de novembro 1986. Nesse Decreto, o governo autorizava a COBAL a
transferir o controle acionário para os respectivos estados e municípios.
Determinava, ainda, nos casos de não concordância dos governos estaduais, que
as CEASAS poderiam ser transferidas para a iniciativa privada. No mesmo
decreto, estabelecia que o processo de transferência ficasse a cargo do CIP -
Conselho Interministerial de Privatização. Na época, foram feitos editais de
licitação, mas não houve interessados.
Demonstrando completo desinteresse pelas centrais de abastecimento, e
amparado pelo parecer do Conselho Interministerial de Privatização – CIP, o
Governo editou o Decreto, de nº 2.400, de 21 de dezembro de 1987, onde todas
as ações da COBAL passaram para a União. Em seguida realizou a doação
dessas ações para os respectivos estados. Em 18 de junho de 1988, foi assinado
o Contrato de Compra e Venda de Ações entre a União Federal e a COBAL, que
resultou no fim do SINAC.

Atualmente existem 73 centrais de abastecimento federais, estaduais,


municipais ou privadas, distribuídas pelas regiões norte, nordeste, centro-oeste,
sul e sudeste, atuando de forma descentralizadas.

Figura 6: Distribuição geográfica das centrais de abastecimento em funcionamento no Brasil.

Desafios das Centrais de Abastecimento no Século XXI

O fim do SINAC representou a falta de aperfeiçoamento dos sistemas


técnicos e operacionais das centrais de abastecimento, pois até o início da década
de 1980, existia uma estratégia coordenada e organizada para essa finalidade.
Mas a partir do final da década de 1980, não houve uma continuidade desse
modelo, fragilizando o abastecimento nacional de alimentos, assim como a
representatividade das centrais de abastecimento. Investimentos em
monitoramento do volume de entrada e comercialização de hortigranjeiros,
informatização dos dados de origem e destino dos produtos, padronização das
embalagens, classificação e armazenamento, produção programada, controle de
qualidade, calendários de comercialização, entre outros, são alguns dos exemplos
de ações que deixaram de ocorrer a partir daquele momento.

As centrais de abastecimento enfrentam, atualmente, problemas


relacionados a infraestrutura ultrapassada, baixa automação e arquitetura
urbanística inadequada para o presente. A alta dependência do carregamento ou
descarregamento manual limita a logística interna, aumentando os custos e
reduzindo a eficiência de distribuição. Neste caso, a automação poderia
possibilitar a diminuição no manuseio dos produtos, preservando melhor a
qualidade e reduzindo as perdas.

Atualmente a capacidade de carga e as dimensões dos caminhões e


carretas utilizados para transporte de hortigranjeiros são incompatíveis com as
áreas das centrais de abastecimento destinadas ao tráfego, manobra e
estacionamento desses veículos. Além disso, a localização de algumas centrais,
em regiões tomadas pela esfera urbana, dificulta a ampliação ou modificação
dessas áreas, ruas ou pátios.

O desinteresse governamental faz com que as centrais de abastecimento


caminhem sozinhas, de forma descentralizada, limitada e sem autonomia para
realizar investimentos em infraestrutura e tecnologia. No entanto, as centrais de
abastecimento continuam cumprindo o seu papel no abastecimento da população,
uma vez que operacionalizam milhões de toneladas de alimentos anualmente.

Fonte: Banco de dados do Prohort referente ao ano de 2017. Os dados levam em consideração a
comercialização de 31 centrais de abastecimento.
Atividades Finais

1. De acordo com o texto, a organização do abastecimento está ligada ao


processo de urbanização dos grandes centros. Entre as opções abaixo,
assinale com “F” as opções falsas e com “V” as opções verdadeiras.

Durante o século XIX e início do século XX ocorreram vários surtos


epidêmicos nos centros urbanos, tornando a investigação sobre a saúde
pública essencial. Com isso, além das concepções higienistas havia também
uma preocupação com a qualidade da alimentação da população.

Nos anos 50, o aumento do tráfego de veículos na então capital levou o


governo da época a propor uma solução para melhorar o acesso entre as zonas
Norte e Sul, por meio de um viaduto por onde seguiriam os caminhões
destinados ao Mercado Público da Candelária.
Com o crescimento acelerado dos centros urbanos no país, o processo
de distribuição de produtos hortigranjeiros tornou-se caro, complexo e
ineficiente. Até a década de 1960 a comercialização de hortigranjeiros era uma
atividade informal, sem nenhuma informação de mercado e que se dava
através dos mercados municipais, nas ruas e praças públicas.
Os caminhões causavam engarrafamentos de trânsito, tanto que o
problema urbanístico foi um dos principais responsáveis pela urgência na
organização da comercialização.

No início da década de 1960 o ritmo de crescimento do estado de Minas


Gerais indicava a necessidade de se criar um entreposto atacadista de
distribuição de alimentos capaz de atender a população do Estado.

Investimentos em monitoramento do volume de entrada e


comercialização de hortigranjeiros, informatização dos dados de origem e
destino dos produtos, padronização das embalagens, classificação e
armazenamento, produção programada, controle de qualidade, calendários de
comercialização, entre outros, são alguns dos exemplos de ações que
deixaram de ocorrer a partir daquele momento.
A localização de algumas centrais, em regiões tomadas pela esfera
urbana, possibilita a ampliação ou modificação dessas áreas, ruas ou pátios
destinados a caminhões e carretas.
2. De acordo com o Decreto no 70.502 de 11 de maio de 1972, o SINAC
tinha como objetivos:

a) Reduzir custos de comercialização; reduzir custos das organizações;


proporcionar maiores investimentos em tecnologia na indústria
alimentícia e; eliminar problemas urbanísticos causados pela
comercialização atacadista em lugares inadequados.

b) Aumentar a rede de centrais de abastecimento no Brasil e na América


do Sul, consequentemente aumentando a participação do Brasil no
Mercosul.
c) Propiciar condições operacionais para a coleta, análise e divulgação
de informações de mercado desenvolvidas pelo Serviço de Informação
do Mercado Agrícola (SIMA), do Ministério da Agricultura; melhorar os
produtos e serviços de classificação e padronização e; aperfeiçoar o
mecanismo de formação de preços e elevar o nível de renda das
empresas agrícolas. de comercialização para a agricultura familiar, por
d) Criar alternativas
meio de chamadas públicas amparadas pelas leis 11.347/2009 e
11.326/2006.
e) Todas as alternativas estão incorretas.

GABARITO

1. Sequência: V, F, V, V, F, V, F.
2. Alternativa “c”.
REFERÊNCIAS

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operacional das CEASAS do Brasil. Editora: AD2, Belo Horizonte, 2011, 239 p.

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