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Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC

Departamento de Ciências da Educação – DCIE


Colegiado de Pedagogia
Disciplina: Estágio Supervisionado em Anos Iniciais do Ensino Fundamental I
Docente: Rosenaide Ramos
Discentes: Ingrid Thaís Batista Guimarães
Kezia Torcate de Souza
Data: 12 de junho de 2012

Essas duas primeiras semanas foram de medo e ousadia, medo do novo, de


não atender as expectativas dos professores e da coordenação da escola, de não
sermos aceitas pelos alunos, de não contribuirmos com suas aprendizagens. E
ousadia de enfrentarmos esses medos para experimentar essa nova experiência
indispensáveis para nossa formação. Sentir medo nesse momento para nós significa
ter compromisso com a responsabilidade a nós confiada. Para Freire e Shor, é
preciso ter consciência das dificuldades e limitações, sermos sensíveis, nos
incomodarmos com a realidade que se apresenta inacessível para nós principiantes
na sala, pois sem incomodo, não há mudança, não se aprimora. (FREIRE, SHOR,
1986).
A maioria das teorias estudadas na universidade é fundamental para
ensinarmos, mas o detalhe é que para aprender, o aluno precisa querer ter interesse
no que está sendo ensinado, mas como atender a 24 interesses diferentes? Afinal,
na sala de aula o grupo é importante, mas é apenas um conceito que dar nome a um
conjunto de indivíduos, sendo assim, não ensinamos a CPA II V8, ensinamos a
sujeitos reais com histórias de vida singulares, interesses próprios e muitas outras
singularidades que não seriamos capazes de enumerar. “[...] o mais importante é
saber-se professor, um para muitos, mas concomitantemente um para cada um, pois
grupo é apenas um conceito. O aluno não é um conceito é uma pessoa [...]”
(TORREÃO, 2010, p. 14).
Este tem sido para nós o maior desafio nessas duas semanas de regência,
conseguirmos a atenção e interesse dos alunos na hora da explicação dos
conteúdos. Eles parecem mais interessados pela conversa e brincadeiras, muitas
vezes de mau gosto, coisas de pré-adolescentes, mas como despertá-los para a
importância do aprendizado dos valores e dos conteúdos propriamente ditos? Por
isso desde o período de observação registramos e discutimos o perfil, percebido por
nós, de cada aluno, fizemos também, perguntas sobre o que eles gostam de ler, e
neste momento queremos descrever nossas percepções e dificuldades encontradas
neste período de estágio, a fim de contarmos com a orientação das professoras
orientadoras do estágio. Sabemos que não há respostas prontas para essas
questões, mas que teremos o apoio para encontrá-las, embora elas não sejam úteis
há todos os tempos e espaços, mas serão experiências inesquecíveis auxiliadoras
de outras novas que provavelmente virão.
Algo que tem se confirmado como característica da maioria é o gosto pela
oratória, é fato, falam o tempo todo, tentam nos convencer de todas as formas que
precisam ir ao banheiro, ou beber água, ou que já escreveram o bastante e ainda,
que têm razão nesta ou naquela questão com os colegas, são polêmicos, não
deixam passar nada, querem explicação para tudo de diferente que acontece na
sala. Isto tem sido empecilho, porque, se não paramos para argumentar com eles
sobre essas questões acima citadas, eles não desistem, insistem para conseguirem
o que querem ou serem convencidos de seus erros. Estamos tentando transformar
esses empecilhos em benefícios para o desenvolvimento e aprendizagem de cada
um, através da correção das atividades por eles mesmos, vindo ao quadro
discutindo com os colegas as questões, fazendo leitura coletiva, fazendo trabalhos
em grupo, atividades que apresentam desafios como, cruzadinha, caça-palavras,
texto fatiado, etc.
Não tem sido fácil, por causa do barulho que eles fazem alguns não param
quietos, procuram confusão o tempo todo: escondem objetos alheios, jogam bola de
papel no colega, "xingam", discutem futebol, falam de namoradas. Este perfil é de
quase todos os meninos, maioria na sala de aula. As meninas não atrapalham
diretamente, mas estão sendo sempre importunadas pelos meninos, elas também
conversam baixinhos entre si, então raramente compreendem o assunto explicado.
Geralmente a compreensão acontece na correção da atividade. Devido aos
entraves, as aulas passam rapidamente e algumas atividades ficam prejudicadas por
a grande maioria da turma copia os conteúdos e responde as atividades, como
também se interessa por leitura coletiva, discussão dos conteúdos e apresentação
das respostas por eles encontradas. O problema é que dificilmente todos se
envolvem na mesma atividade ao mesmo tempo, geralmente quando chega à vez de
um apresentar o outro não se importa e cuida de dar um jeito para atrapalhar. Eles
criam muitos conflitos, precisamos interromper a aula a todo o momento para
resolver problemas, separar brigas, pedir que se calem, falem baixo, ou não
pronuncie determinada palavra de baixo escalão. Muitas vezes é inútil falar, eles
insistem no erro. A aula passa com muito tempo empenhado nestas questões, então
o conteúdo que poderia ser trabalhado em um determinado período, se estende pelo
dobro do tempo. Não queremos fazer de conta, queremos atingir os objetivos
estipulados. Estes compreendem para além dos conteúdos pragmáticos, a saber, a
educação para utilização consciente de seus potenciais com fins, benéficos, próprios
e coletivos.
Ingrid - Mais uma semana termina, e as angústias, os conflitos internos e os
meus medos de como estagiária e futura profissional tornam cada vez maiores, pois
as situações do presente momento nos permitem refletirmos acerca de como é
grande a responsabilidade do educador, daquele profissional que quer fazer o seu
trabalho valer (que tenha resultados positivos), e sair das “aparências” de que tudo é
bom, e tá dando certo. Não sei se essa angústia é por conta de não ter experiência
com essa faixa etária dos alunos, mas enfim, eles conversam demais, brincam por
demais, e acaba que muita das coisas que planejamos para aquele dia não
acontecem pelo tempo que perdemos chamando atenção dos mesmos a todo
instante. Apesar de todo contratempo essa tem sido uma experiência ímpar para
minha formação pessoal (no que diz respeito às relações interpessoais) e
principalmente profissional (preparação para tal cargo), e acreditamos que no fim
tudo dará certo.
Kezia - Os desafios tem sido constantes, as possibilidades infinitas, mas
parece que nenhuma se encaixa nessa realidade, temos até fundamentado estas
questões, encontrado realidades similares, mas nada tem sido bom o bastante que
possa domar essa explosão de energia que encontramos nessa turma de pré-
adolescentes, que faça com que eles pareçam interessados em aprender. Mas, paro
e me pergunto: será que é assim mesmo? Eles não parecem interessados, mas
aprendem? É próprio dessa faixa etária? Não será em vão nossa dedicação, embora
os resultados não apareçam agora, mas depois surtirão efeito? Apesar de tudo,
tenho tido prazer em estar com eles, são intensos, imprevisíveis, carinhosos e
individualmente únicos. Com certeza serão inesquecíveis!
REFERÊNCIAS:

SHOR, Ira; FREIRE, Paulo. O sonho do professor sobre a educação libertadora.


In:______. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. Trad. Adriana Lopez. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1985. Prefácio. Prefácio, p. 10-17.

TORREÃO, Rita Célia Magalhães. O mistério do educar. In:______. Nas asas da


borboleta: filosofia de Bergson e educação. 2010. Tese (Doutorado) – Faculdade de
Educação, Universidade Federal da Bahia. Cap. 3, p.14.

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