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Data de Publicação 2014
Resumo A presente dissertação tem como objecto de estudo estabelecer uma
leitura crítica sobre o pensamento e consequente praxis de dois
arquitectos, Alvar Aalto e Siza Vieira, que construíram um conjunto
de projectos estruturados a partir da tipologia do pátio, em três escalas
diferentes. O capitulo II investiga o elemento arquitectónico pátio,
identificando o seu surgimento, a sua função e como este foi sendo
reconfigurado e evoluindo no tempo. Procuramos aferir o encadeamento
cronológico sobre as ...
Palavras Chave Aalto, Alvar, 1898-1976 - Crítica e interpretação, Vieira, Álvaro Siza,
1933- - Crítica e interpretação, Pátios, Casas com pátio
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-FAA] Dissertações
http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e A rtes
Mestrado integ rado em Arquitec tura
Co
onstituição
o do Júri:
Pre
esidente: Proff. Doutor A
Arqt. Joaquim José Ferrão
F de O
Oliveira Brraizinha
Orientador: Proff. Doutor A
Arqt. Bernardo d'Ore
ey Manoel
Arg
guente: Proff. Doutor A
Arqt. Fernando Manuuel Dominggues Hipóliito
Disssertação a
aprovada em:
e 29 de
d Outubro
o de 2014
Lisboa
a
2014
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Lisboa
Julho 2014
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Lisboa
Julho 2014
Nuno Manuel Silva Duarte
Lisboa
Julho 2014
Ficha Técnica
Autor Nuno Manuel Silva Duarte
Orientador Prof. Doutor Arqt. Bernardo d'Orey Manoel
Assistente de orientação Mestre Arqt. Pedro Jorge Ribeiro Guedes Lebre
Título Alvar Aalto e Siza Vieira, as três escalas de pensar e construir o
pátio
Local Lisboa
Ano 2014
Alvar Aalto e Siza Vieira, as três escalas de pensar e construir o pátio / Nuno Manuel Silva Duarte ;
orientado por Bernardo d'Orey Manoel, Pedro Jorge Ribeiro Guedes Lebre. - Lisboa : [s.n.], 2014. -
Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da
Universidade Lusíada de Lisboa.
LCSH
1. Pátios
2. Casas com pátio
3. Alvar, Aalto, 1898-1976 - Crítica e interpretação
4. Vieira, Álvaro Siza, 1933- - Crítica e interpretação
5. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
6. Teses - Portugal - Lisboa
1. Courtyards
2. Courtyard houses
3. Aalto, Alvar, 1898-1976 - Criticism and Interpretation
4. Vieira, Álvaro Siza, 1933- - Criticism and interpretation
5. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
6. Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon
LCC
1. NA2858.D83 2014
Dedico este trabalho à minha família pelo
apoio ao longo destes anos.
Quero agradecer ao Prof. Doutor Arqt.º Bernardo d´Orey Manoel pelo seu
acompanhamento e orientação, especialmente ao Mestre Arqt.º Pedro Guedes Lebre
pela sua paciência, dedicação e perseverança.
Ao Museu Alvar Aalto e ao Atelier do Arqt.º Siza Vieira, na sua pessoa, pela
autorização, disponibilização e envio dos desenhos referentes aos casos de estudo.
No capítulo III procede-se à leitura crítica de seis casos de estudo, três por autor. Este
capítulo está estruturado em três subcapítulos; o pátio privado correspondente ao
edifício unifamiliar, o pátio semi-privado referente ao edifício público e o pátio público
inserido numa estrutura urbana. Este processo de investigação, através do
cruzamento dos casos de estudo, inseridos nas respectivas escalas, tem como
objectivo identificar e esclarecer as semelhanças e diferenças no modo de pensar e
configurar os respectivos pátios.
The present dissertation has its subject of study to establish a critical reading about the
thinking and consequent praxis of two architects, Alvar Aalto and Siza Vieira, who built
a number of projects structured from the typology of patio, in three different scales.
In Chapter III we proceed to the critical reading of six cases of studies, three per
author. This chapter is structured in three subchapters; the private patio corresponds to
the unifamiliar building, the semi-private patio regarding the public building and public
patio inserted into an urban structure. This process of research, by crossing the case
studies, inserted in the respective scales, aims to identify and clarify the similarities and
differences in the way of thinking and configure their patios.
The patio assumes the role element capable of aggregate and articulates the
programmatic spaces in the built structure. The patio as a fundamental element in
thinking and building the architectural objects ever since. The courtyard as a generator
of lived space.
Ilustração 1 - Da esquerda para a direita, fotografia de Alvar Aalto (Museu Alvar Aalto),
fotografia de Álvaro Siza Vieira. (Vieira)............................................................................... 35
Ilustração 10 – Planta ideal de uma casa Tarma, pátio quadrado. (Blaser, 1997) ................ 50
Ilustração 16 – Planta palácio del Conte Ottaulo de Thieni, Vicenza, Itália. (Palladio,
1570) ................................................................................................................................... 53
Ilustração 18 – Pátio do Hospital dos Cidadãos de Neustadt, Viena. (Blaser, 1997) ............ 55
Ilustração 22 – Projecto de Josef Frank para uma casa de campo em Los Ângeles,
EUA, 1930. (Blaser, 1997) ................................................................................................... 57
Ilustração 23 – Projecto de Josef Frank da casa D para Dagmar Grill, 1947. (Blaser,
1997) ................................................................................................................................... 57
Ilustração 34 – Efeito véu na floresta existente no terreno. (Ilustração nossa, 2013) ........... 75
Ilustração 36 - Quarto para visitas sem fundações. (Ilustração nossa, 2013) ....................... 76
Ilustração 43 - Vista do pátio com a parede virada a Noroeste. (Ilustração nossa, 2013)..... 79
Ilustração 44 – Experiencias realizadas com mais de cinquenta tipos de tijolo por Alvar
Aalto, quer nas paredes quer no piso do pátio. (Ilustração nossa, 2013) ............................. 81
Ilustração 53 – Esquema com identificação dos pátios. (Ilustração nossa, 2013) ................ 86
Ilustração 54 – O pátio construído pela subtracção matéria. (Ilustração nossa, 2013) ......... 87
Ilustração 55 – O pátio construído pelos diferentes limites. (Ilustração nossa, 2013) ........... 87
Ilustração 76 – Maqueta, pátio interior na parte posterior. (Gomes, 2011) ......................... 102
Ilustração 78 – Desenhos Casa Beires, de cima para baixo; Alçado Poente, planta de
coberturas, alçado Nascente. (Gomes, 2011) .................................................................... 103
Ilustração 80 – Planta programa funcional, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013)............... 104
Ilustração 81 – Planta programa funcional, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013) .................. 104
Ilustração 82 – Esquema identificação espaços, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) ...... 105
Ilustração 85 – O corredor exterior situado entre o edifício e o muro a Este. (Alves) ......... 106
Ilustração 86 – Esquema circulação geral, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) ............... 107
Ilustração 95 – Os vãos para o segundo pátio, alçado Norte. (Alves) ................................ 112
Ilustração 102 – A altura do pátio privado coincide com uma directriz na proporção
Vitrúviana, em 1/4 da altura da raiz de dois. (Ilustração nossa, 2013)................................ 117
Ilustração 103 – O alçado revela uma aproximação da proporção 3:2, quer nos vãos
do pátio público quer no corpo mais elevado. (Ilustração nossa, 2013) ............................. 117
Ilustração 104 – Câmara Municipal de Säynätsalo. (Ilustração nossa, 2013) ..................... 119
Ilustração 106 – Projecto urbanístico para Säynätsalo, 1944 – 1947. (Aalto, 1942) ........... 120
Ilustração 109 – Alçado e corte da proposta com o nome de “Cúria”. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 121
Ilustração 110 – Vista Sul, a Biblioteca no piso superior e as lojas no piso inferior,
actualmente já ocupadas pela mesma. (Ilustração nossa, 2013) ....................................... 122
Ilustração 111 – Escadas de acesso ao pátio, lado Este (Ilustração nossa, 2013)............. 123
Ilustração 112 – Escadas de acesso ao pátio, lado Oeste (Ilustração nossa, 2013) .......... 123
Ilustração 113 – Vista do tijolo no exterior do edifício. (Ilustração nossa, 2013) ................. 124
Ilustração 114 – Vista do tijolo no interior do edifício. (Ilustração nossa, 2013) .................. 124
Ilustração 115 - Vista dos vereadores para mesa do presidente. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 124
Ilustração 116 – Pintura do artista Francês Joseph Léger. (Ilustração nossa, 2013) .......... 124
Ilustração 118 - Bancos em madeira reservados ao público. (Ilustração nossa, 2013) ...... 125
Ilustração 121 – Esquiço da torre San Gimignano, província de Siena em Itália. (Aalto,
1948) ................................................................................................................................. 128
Ilustração 123 - Corredor visto pelo lado interior. (Ilustração nossa, 2013) ........................ 131
Ilustração 124 - Corredor e pátio visto do exterior. (Ilustração nossa, 2013) ...................... 131
Ilustração 125 – Pátio relvado com algum pavimento ainda visível. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 131
Ilustração 126 – O Pátio e o seu espelho de água. (Ilustração nossa, 2013) ..................... 131
Ilustração 129 – Esquema identificação espaços, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)........ 133
Ilustração 130 – Esquema identificação de acessos, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013) ... 134
Ilustração 131 – Esquema circulação geral, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)................. 135
Ilustração 134 – A porta vista a partir do corredor privado, sem a presença da luz
natural. (Ilustração nossa, 2013) ........................................................................................ 136
Ilustração 135 – Esquema identificação do pátio, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013) ........ 137
Ilustração 138 – Vão de janela para o pátio, de frente para a Biblioteca. (Ilustração
nossa, 2013) ...................................................................................................................... 140
Ilustração 139 – Plano vidro da Biblioteca, virado para Sul. (Ilustração nossa, 2013) ........ 140
Ilustração 140 – Da esquerda para a direita: Vista do corredor a partir do pátio. Interior
do corredor. Vista do pátio a partir do corredor. (Ilustração nossa, 2013) .......................... 140
Ilustração 141 – Ala esquerda do volume em forma de U. (Ilustração nossa, 2013) .......... 141
Ilustração 142 – Vista da ala esquerda a partir do corredor. (Ilustração nossa, 2013) ....... 141
Ilustração 143 – Pormenor das Heras. (Ilustração nossa, 2013) ........................................ 142
Ilustração 144 – Vista interior do quarto através das Heras. (Ilustração nossa, 2013) ....... 142
Ilustração 145 – Vista dos elementos existentes no pátio. (Ilustração nossa, 2013) .......... 142
Ilustração 146 – Estátua em bronze, 1928, Väinö Aaltonen. (Ilustração nossa, 2013) ....... 142
Ilustração 147 – A água e verticalidade no pátio. (Ilustração nossa, 2013) ........................ 143
Ilustração 148 – Paisagem Finlandesa, a água e verticalidade. (Ilustração nossa, 2013) .. 143
Ilustração 151 - Corte da Câmara Municipal, revelando a inversão de uma das regras
Vitrúvianas utilizadas para a proporção na altura do torre, mais precisamente 3/4 da
raiz de dois (√2). (Ilustração nossa, 2013) ......................................................................... 145
Ilustração 152 – Pavilhão Carlos Ramos. (Ilustração nossa, 2013) .................................... 146
Ilustração 153 – Planta localização Pavilhão Carlos Ramos. (Vieira, 2011) ....................... 147
Ilustração 154 – Pavilhão Carlos Ramos visto do jardim. (Ilustração nossa, 2013) ............ 147
Ilustração 155 – Duas imagens sobre a Casa cor-de-rosa. (Ilustração nossa, 2013) ........ 148
Ilustração 156 – Guia de granito que parte do Pavilhão. (Ilustração nossa, 2013) ............. 148
Ilustração 157 – Ponto onde a guia de granito se divide. (Ilustração nossa, 2013) ............ 148
Ilustração 158 – Planta do Pavilhão Carlos Ramos. (Vieira, 2011) .................................... 149
Ilustração 159 – O pavilhão dobra-se em U criando um pátio. (Ilustração nossa, 2013) .... 149
Ilustração 161 – O pavilhão termina antes das Camélias. (Ilustração nossa, 2013) ........... 150
Ilustração 164 – Figura antropomórfica no topo Sul esquerdo. (Ilustração nossa, 2013) ... 152
Ilustração 165 – Figura antropomórfica no topo Sul direito. (Ilustração nossa, 2013)......... 152
Ilustração 166 – Vista do interior para o pátio, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) .......... 152
Ilustração 167 – Vista do interior para o pátio, segundo piso. (Ilustração nossa, 2013) ..... 152
Ilustração 168 – O portão marca a passagem para o Pavilhão. (Ilustração nossa, 2013) .. 154
Ilustração 170 – A entrada, a escada e o volume. (Ilustração nossa, 2013) ....................... 154
Ilustração 173 – Alçado Norte confronta o muro de pedra. (Ilustração nossa, 2013).......... 155
Ilustração 174 – Vista do pátio para o interior do edifício. (Ilustração nossa, 2013) ........... 156
Ilustração 175 – Vista do pátio para o jardim. (Ilustração nossa, 2013).............................. 156
Ilustração 176 – Planta de localização do Pavilhão Carlos. Ramos (Vieira) ....................... 156
Ilustração 177 – Planta programa, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) ............................ 157
Ilustração 178 – Planta programa, primeiro andar. (Ilustração nossa, 2013) ...................... 157
Ilustração 179 – Planta identificação espaços, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) ......... 157
Ilustração 180 – Planta identificação espaços, primeiro andar. (Ilustração nossa, 2013) ... 157
Ilustração 184 – Planta circulação geral, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) .................. 159
Ilustração 185 – Planta circulação geral, primeiro andar. (Ilustração nossa, 2013) ............ 159
Ilustração 186 – Planta circulação pública / privada, piso térreo. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 160
Ilustração 187 – Planta circulação pública / privada, primeiro andar. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 160
Ilustração 190 – Planta com identificação do pátio. (Ilustração nossa, 2013) ..................... 161
Ilustração 199 – Fotografia aérea sobre o centro da cidade de Seinäjoki. (Vallas, 2012)... 169
Ilustração 200 – Vista do anfiteatro para a Igreja. (Ilustração nossa, 2013) ....................... 170
Ilustração 201 – Vista da Igreja para o anfiteatro. (Ilustração nossa, 2013) ....................... 170
Ilustração 204 – A grande avenida pedonal inicia o arranque a partir das escadas.
(Ilustração nossa, 2013) .................................................................................................... 171
Ilustração 205 – Malha ortogonal do pavimento. (Ilustração nossa, 2013) ......................... 171
Ilustração 207 – O espelho de água na praça. (Ilustração nossa, 2013) ............................ 172
Ilustração 208 – O tom azul muda de brilho consoante o ângulo de visão. (Ilustração
nossa, 2013) ...................................................................................................................... 173
Ilustração 211 – Alçado Sul do edifício da Biblioteca. (Ilustração nossa, 2013) ................. 174
Ilustração 214 – Auditório do Teatro em forma de cunha. (Ilustração nossa, 2013) ........... 176
Ilustração 215 - Vista da torre Igreja. (Weston, 1995) ........................................................ 178
Ilustração 217 – Planta com identificação dos edifícios. (Ilustração nossa, 2013).............. 179
Ilustração 219 – Vista para a praça a partir da paróquia. (Ilustração nossa, 2013) ............ 181
Ilustração 220 – A praça elevada da igreja, entendida como um pátio (ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 182
Ilustração 223 – Planta programa funcional, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013) ................ 184
Ilustração 224 – Esquema identificação espaços, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)........ 184
Ilustração 225 – Esquema identificação de acessos, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013) ... 185
Ilustração 227 – Esquema circulação geral, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)................. 186
Ilustração 230 – Esquema com identificação do pátio. (Ilustração nossa, 2013) ................ 187
Ilustração 232 – Vista para a parede natural, construída pelos arbustos existentes. Por
detrás deles encontra-se o espaço entendido como pátio privado. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 189
Ilustração 233 – Vista do pátio a partir da praça. (Ilustração nossa, 2013) ........................ 190
Ilustração 234 - A vegetação ajuda a reforçar o limite entre o pátio e a praça.
(Ilustração nossa, 2013) .................................................................................................... 190
Ilustração 238 – Fotografia do pátio e das janelas dispostas no limite em seu redor.
(Ilustração nossa, 2013) .................................................................................................... 194
Ilustração 239 – Planta da Câmara Municipal com o estudo da relação, através da raiz
de dois (√2), entre a largura do pátio e o limite do espelho de água. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 195
Ilustração 241 – Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. (Ilustração nossa, 2013)......... 196
Ilustração 243 – Planta Biblioteca Viana do Castelo com as salas de leitura no primeiro
piso. (Vieira)....................................................................................................................... 198
Ilustração 244 – Alçado Sul e corte longitudinal da Biblioteca, com as salas de leitura
no primeiro piso e serviços no piso térreo. (Vieira)............................................................. 198
Ilustração 249 – O espaço público construído pela parte inferior das salas de leitura,
permitindo a continuação de permeabilidade visual entre a cidade e o rio. (Ilustração
nossa, 2013) ...................................................................................................................... 201
Ilustração 251 – Planta programa funcional, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013)............. 202
Ilustração 252 – Planta programa funcional, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013) ................ 202
Ilustração 253 – Esquema dos espaços público / privados, piso térreo. (Ilustração
nossa, 2013) ...................................................................................................................... 202
Ilustração 254 – Esquema dos espaços público / privados, 1º andar. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 202
Ilustração 255 – Esquema com identificação de acessos público / privado, piso térreo.
(Ilustração nossa, 2013) .................................................................................................... 203
Ilustração 256 – Entrada principal da Biblioteca. (Ilustração nossa, 2013) ......................... 204
Ilustração 258 – Esquema identificação circulação geral, piso térreo. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 204
Ilustração 262 – Esquema identificação do pátio(s). (Ilustração nossa, 2013) ................... 206
Ilustração 264 – Esquiço do volume das salas de leitura, a partir da pequena praça ao
nível da rua. (Ilustração nossa, 2013) ................................................................................ 207
Ilustração 266 – O apoio no volume do piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) .................... 208
Ilustração 268 – Esquiço revela a nossa posição em relação aos vãos quando
sentados nas mesas de leitura. (Ilustração nossa, 2013) ................................................... 210
Ilustração 269 – Em cima, vista para o exterior quando sentados. Em baixo, vista para
o exterior quando de pé. (Ilustração nossa, 2013) ............................................................. 210
Ilustração 270 – Esquiço com um corte das salas de leitura, na sua relação entre o
posicionamento do leitor e linhas de visão, com o dimensionamento do vão de janelas
e o piso térreo, a rua. (Ilustração nossa, 2013) .................................................................. 211
Ilustração 271 – Planta com verificação da utilização da raiz de dois (√2) nos espelhos
de água que enquadram os pilares de apoio do volume superior, sugerindo também o
uso dessa matriz na organização da malha estrutural construtiva. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................................. 212
Ilustração 274 – Imagem das ruas do filme “Round Midnight”. (Tavenier, 1986) ................ 217
Ilustração 276 – Fotos das ruas existentes na travessa do Baluarte e no Bairro dos
Contrabandistas. (Ilustração nossa, 2011) ......................................................................... 218
Ilustração 281 – Procura e ensaios do gesto urbano, Esquiço dos primeiros estudos.
(Ilustração nossa, 2011) .................................................................................................... 223
Ilustração 282 - Maqueta final em Junho, escala 1/200. (Ilustração nossa, 2012).............. 223
Ilustração 283 – Planta do piso térreo. (Ilustração nossa, 2012) ........................................ 224
Ilustração 284 - Maqueta final em Junho, escala 1/200. (Ilustração nossa, 2012).............. 225
Ilustração 285 – Planta do piso -1. (Ilustração nossa, 2012) .............................................. 225
Ilustração 286 – Planta de localização do Centro Cultural de Jazz. (Ilustração nossa,
2012) ................................................................................................................................. 226
Ilustração 287 - Planta programa funcional, piso térreo. (Ilustração nossa, 2014) ............. 226
Ilustração 288 - Planta programa funcional, piso -1. (Ilustração nossa, 2014).................... 227
Ilustração 289 – Esquema espaços público / privados, piso térreo. (Ilustração nossa,
2014) ................................................................................................................................. 227
Ilustração 290 – Esquema espaços público / privados, piso -1. (Ilustração nossa, 2014)... 228
Ilustração 291 - Esquema com identificação de acessos público / privado, piso térreo.
(Ilustração nossa, 2014) .................................................................................................... 229
Ilustração 292 - Esquema identificação circulação geral, piso térreo. (Ilustração nossa,
2014) ................................................................................................................................. 229
Ilustração 293 – Esquema identificação circulação geral, piso -1. (Ilustração nossa,
2014) ................................................................................................................................. 230
Ilustração 295 – Esquema identificação circulação pública / privada, piso -1. (Ilustração
nossa, 2014) ...................................................................................................................... 231
Ilustração 296 - Esquema identificação do pátio(s). (Ilustração nossa, 2014) .................... 231
Ilustração 299 – Maqueta de estudo em Março, escala 1/500. (Ilustração nossa, 2012) .... 234
Ilustração 301 – Maqueta de estudo em Maio, escala 1/200. (Ilustração nossa, 2012) ...... 236
Ilustração 302 - Maqueta final em Junho, escala 1/200. (Ilustração nossa, 2012).............. 236
Ilustração 303 - Planta da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)....... 279
Ilustração 304 - Corte da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952) ........ 281
Ilustração 305 - Corte da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952) ........ 283
Ilustração 306 - Corte da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952) ........ 285
Ilustração 307 - Alçado da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952) ...... 287
Ilustração 308 - Alçado da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952) ...... 289
Ilustração 309 - Alçado da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952) ...... 291
Ilustração 310 - Alçado da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952) ...... 293
lustração 311 - Alçado da Casa de Verão em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952) ....... 295
lustração 312 - Desenhos Casa Beires, Póvoa do Varzim. (Siza Vieira, 1973) .................. 299
lustração 313 - Planta Câmara Municipal de Säynätsalo. (Museu Alvar Aalto, 1950)........ 303
lustração 314 - Corte Câmara Municipal de Säynätsalo. (Museu Alvar Aalto, 1950) ......... 305
lustração 315 - Corte Câmara Municipal de Säynätsalo. (Museu Alvar Aalto, 1950) ......... 307
lustração 316 - Corte Câmara Municipal de Säynätsalo. (Museu Alvar Aalto, 1950) ......... 309
lustração 317 - Alçado Câmara Municipal de Säynätsalo. (Museu Alvar Aalto, 1950) ....... 311
lustração 318 - Alçado Câmara Municipal de Säynätsalo. (Museu Alvar Aalto, 1950) ....... 313
lustração 319 - Alçado Câmara Municipal de Säynätsalo. (Museu Alvar Aalto, 1950) ....... 315
lustração 320 - Alçado Câmara Municipal de Säynätsalo. (Museu Alvar Aalto, 1950) ....... 317
lustração 321 - Planta de arranjos exteriores do Pavilhão Carlos Ramos, Porto. (Vieira,
1987) ................................................................................................................................. 321
lustração 322 - Planta piso 1 e cortes do Pavilhão Carlos Ramos, Porto. (Vieira, 1985) .... 323
lustração 326 - Planta piso 0 Igreja de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1956) ..................... 333
lustração 327 - Planta piso 1 Igreja de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1956) ..................... 335
lustração 328 - Cortes Igreja de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1956) ............................... 337
lustração 329 - Cortes Igreja de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1956) ............................... 339
lustração 330 - Cortes Igreja de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1956) ............................... 341
lustração 331 - Planta piso -1 Biblioteca de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1964) ............. 343
lustração 332 - Planta piso 0 Biblioteca de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1964) .............. 345
lustração 333 - Corte Biblioteca de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1963) .......................... 347
lustração 334 - Corte Biblioteca de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1963) .......................... 349
lustração 335 - Planta piso térreo Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto,
1959) ................................................................................................................................. 351
lustração 336 - Planta piso 1 Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto,
1959) ................................................................................................................................. 353
lustração 337 - Planta piso térreo Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto,
1959) ................................................................................................................................. 355
lustração 338 - Planta piso 1 Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto,
1959) ................................................................................................................................. 357
lustração 339 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 359
lustração 340 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 361
lustração 341 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 363
lustração 342 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 365
lustração 343 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 367
lustração 344 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 369
lustração 345 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 371
lustração 346 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 373
lustração 347 - Corte Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ............. 375
lustração 348 - Alçado Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ........... 377
lustração 349 - Alçado Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ........... 379
lustração 350 - Alçado Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ........... 381
lustração 351 - Alçado Câmara Municipal de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1959) ........... 383
lustração 352 - Plantas edifício escritórios de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1966) .......... 385
lustração 353 - Plantas edifício escritórios de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1966) .......... 387
lustração 354 - Cortes edifício escritórios de Seinäjoki. (Museu Alvar Aalto, 1966)............ 389
lustração 359 - Corte constructivo da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. (Vieira)... 401
SUMÁRIO
1. Introdução 35
2. Pátio
2.1. Evolução do pátio 44
2.2. Tipologia do pátio 61
2.3. Uma definição de pátio 67
Referências 245
Bibliografia 249
Apêndices 251
Anexos 267
Alvar Aalto e Siza Vieira, as três escalas de pensar e construir o pátio
1. INTRODUÇÃO
Os arquitectos sobre quais se propõe o presente estudo são, Alvar Aalto 1 e Álvaro
Siza Vieira2. A escolha de três casos de estudo de cada um destes autores parte da
premissa, a existência de um pátio3 resolvido em três escalas. Neste pressuposto e
para a reflexão, sobre o modus operandi4 destes autores com esta tipologia, foram
definidas a escala do pátio privado (do edifício unifamiliar), a escala do pátio semi-
privado (do edifício público) e a escala do pátio público (na estrutura urbana).
Ilustração 1 - Da esquerda para a direita, fotografia de Alvar Aalto (Museu Alvar Aalto), fotografia de Álvaro Siza Vieira. (Vieira)
1
Hugo Alvar Henrik Aalto, nasceu a 3 Fevereiro de 1898 em Kuortane, Finlândia. Formou-se em
arquitectura na Universidade Tecnológica de Helsínquia em 1921. Faleceu em 11 Maio de 1976 na cidade
de Helsínquia, Finlândia.
2
Álvaro Joaquim de Melo Siza Vieira, nasceu a 25 Junho de 1933 em Matosinhos, Portugal. Formou-se
em arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1955.
3
Ainda sobre este elemento arquitectónico, Siza Vieira em entrevista na revista El Croquis, confessa que
o pátio é o seu espaço favorito numa casa. “[…] the space i like most is the courtyard. […] For me, the
courtyard is a wonderful place to spend summer evenings, sitting quietly in a chair, chatting with your
friends, reading or sketching.” (Vieira, 2007, p.45)
4
Método de operar, método de trabalho.
5
Sobre a singularidade da obra de Alvar Aalto, Antón Capitel no seu livro “La arquitectura como arte
impuro” resume: “[…] Quizá sea el gran arquitecto Alvar Aalto quien demostró con más evidente claridad
Alvar Aalto com uma obra cuja pesquisa alicerçava-se numa arquitectura com
releituras na transição e no vernacular, assumindo uma linha de pensar e fazer
próprias, de cruzamentos vários, com os princípios da arquitectura moderna7. Constrói
uma vasta obra reveladora das questões do seu tempo, combinadas com um
conhecimento da cultura arquitectónica em geral e Finlandesa.
Assumindo como uma das suas referências a obra de Alvar Aalto8, o arquitecto Siza
Vieira, à semelhança deste, revela na sua obra uma contemporaneidade integradora
Ilustração 2 - Projectos de autoria do arquitecto Alvar Aalto: da esquerda para a direita, Casa de Verão – Muuratsalo (Ilustração nossa,
2013), Câmara Municipal – Säynätsalo (Ilustração nossa, 2013), Centro da cidade – Seinäjoki. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 3 - Projectos de autoria do arquitecto Siza Vieira: da esquerda para a direita, Casa Beires – Póvoa do Varzim (Luis Alves),
Pavilhão Carlos Ramos – Porto (ilustração nossa, 2013), Biblioteca Municipal - Viana do Castelo. (Ilustração nossa, 2013),.
Ainda o mesmo autor (Enrique de Teresa) afirma a existência de um tema que interessa igualmente a
Siza Vieira na obra de Alvar Aalto: “[…] la manera en que (Aalto) retoma los modelos de otras
arquitecturas.” (Enrique de Teresa, 2006, p.185)
O texto onde Siza Vieira enumera o modo como Alvar Aalto aborda a sua obra, retomando os modelos de
outras arquitecturas, é intitulado “Alvar Aalto: três facetas ao acaso”: “[…] Com isto quero dizer que,
dominando modelos experimentados (o modelo é universal), transforma-os, ao introduzi-los em realidades
diferentes, deformados, cruza-os também, utiliza-os de forma surpreendente e luminosa […] Há Marrocos
em Seinäjoki, Delfos em Otaniemi, Londres em Sunila, Veneza em Helsínquia – e mais Finlândia. (Siza
Vieira, 1994, p.83)
Por último os casos de estudo relativos à escala pública na estrutura urbana, são no
arquitecto Alvar Aalto o “Centro da cidade de Seinäjoki”, construída entre 1958 - 1987,
Finlândia. No caso do arquitecto Siza Vieira a “Biblioteca Municipal de Viana do
Castelo”, construída entre 2004 - 2008, Viana do Castelo, Portugal.
No ponto três do terceiro capítulo pretendemos, de um modo claro, contribuir com uma
definição de pátio. Esta definição (de pátio) é síntese integradora das temáticas
abordadas no ponto um (evolução pátio) com as do ponto dois (tipologia do pátio).
Este último ponto (tipologia do pátio), tem a finalidade de enquadrar e demonstrar
quais os tipos de espaços que entendemos possuírem capacidade para serem
incluídos na definição que procuramos para pátio.
No terceiro capítulo procede-se à leitura crítica dos seis casos de estudo. O referido
capítulo está organizado em três subcapítulos; o pátio privado do edifício unifamiliar, o
pátio semi-privado do edifício público e o terceiro no pátio público na estrutura urbana.
9
Autores como Quatremère-de-Quincy, Durand, Viollet Le-Duc, Argan, Colquhoun, Bohigas, Aldo Rossi,
que desde o século dezoito até hoje, reflectiram sobre o conceito de tipologia.
10
Crítica segundo Manfredo Tafuri: “[…] Que a crítica da arquitectura se encontra actualmente numa
situação bastante “difícil”, é um dado que julgamos não ter necessidade de grandes demonstrações.
Criticar significa, na realidade, apreender a fragrância histórica dos fenómenos, submetê-los ao crivo de
uma rigorosa avaliação, revelar as suas mistificações, valores, contradições e dialécticas íntimas, fazer
explodir toda a sua carga se significados.” (Tafuri, 1998, p.21)
11
Programa conforme Moisés Andrade escreve no livro “A casa Ruben A.”: “[…] São também três as
acepções que dou ao conceito “Programa”, fio condutor da criação arquitectónica: O Programa de
Intenção, o Programa de Qualidade e o Programa de Necessidades…A primeira acepção pertence
exclusivamente ao Arquitecto, é o que comanda o seu querer e o leva a viver agudo amor com a
Arquitectura… O Arquitecto não reparte esse querer viver, não o transfere e sobre ele não disserta,
apenas age… […] A segunda acepção pertence ao cliente, […] A terceira acepção torna real o soma das
intenções do Arquitecto e dos desejos do cliente e, na umbra do concebido, vê-se o muito e o tudo…”
(Andrade, 2009, prefácio)
12
No texto “O pensamento da mão 1” de autoria do Prof. Doutor Arqt.º Joaquim Braizinha, a propósito da
importância do desenho no ciclo projectual, defende que: “[…] Só o desenho, através dos mecanismos de
geometrização das figuras permite construir esquemas ou diagramas ou traçados que suportam esta
inquietante mobilidade síntese continua entre a indução e a dedução e introduz o abrandamento no
processo mental que permite que a material se actualize e que o pensamento se discipline.” (Braizinha,
1998, p.24)
13
No anexo da revista ECDJ II, Mário Krüge sobre Investigação afere: “[…] Para a teoria da arquitectura o
conhecimento encontra-se nos livros e tratados, e para a arquitectura teórica nos edifícios. Da mesma
maneira que aprendemos a ler livros também precisamos de desenvolver mecanismos que permitam
levantar a informação que está embutida na própria conformação espacial dos edifícios e transforma-la
em conhecimento.” (Krüge, 2000, p.32)
14
Cristiano Moreira numa reflexão sobre o Método escreve: “[…] Pode-se esperar que a metodologia
forneça ou um conjunto de directrizes ou um esclarecimento na estrutura do processo projectual, tendo
presente que existe um hiato entre a metodologia projectual como metalinguagem e a sua aplicação
prática. […] A metodologia não tem um fim em si mesma e a sua justificação provém quase
exclusivamente do seu carácter de instrumento, sem no entanto se poder confundir com um receituário.
[…] Entendida como sistema geral aplicável a qualquer tipo de actividade projectual (processos,
estruturas materiais, edifícios ou cidades) a metodologia deverá conter não só uma componente de
planificação e organização, mas outra de especificidade característica.” (Moreira, 1994, p.44, 45)
15
Sobre o Pensamento, Cristiano Moreira afirma: “[…] Pode-se afirmar que na base do pensamento
cientifico tal como no artístico está também a intuição e que na realidade não há antinomia entre ambos
os tipos de criação a partir do momento em que saibamos distinguir o domínio de cada um deles. Sendo a
criação científica do tipo lógico, enquanto a artística o é do tipo psicológico, torna-se natural um
desenvolvimento de métodos que tendam justamente a cientificar o aspecto psicológico ou intuitivo do
processo de criação. É preciso não perder de vista que o objectivo é sempre que possível a adaptação de
métodos científicos aos problemas de arquitectura e que para isso se torna indispensável uma reflexão
teórica do fenómeno arquitectónico enquanto problema complexo, exigindo um tratamento específico e
sistemático.” (Moreira, 1994, p. 19, 20)
Ilustração 4 – Da esquerda para a direita, Esquiço estratégia projectual, fotografia de maqueta escala 1/500, trabalho de 5º ano,
projecto II realizado por Nuno Duarte. (Ilustração nossa, 2012)
Partimos da premissa que Alvar Aalto e Siza Vieira16 são arquitectos de formação
clássica17, torna-se imperativo verificar os traçados dos pátios em desenho, com o
objectivo de aferir (descobrir?) a sua escala e proporção. Para tal definimos como
referência dos cânones clássicos as teses de Vitrúvio18 explanada no seu “Tratado de
Arquitectura”19. Adoptamo-las como ferramenta que permita esclarecer se algumas
destas regras clássicas20, que compõem a totalidade dos casos de estudo, foram
aplicadas.
16
Eduardo Souto Moura sobre Siza Vieira: “[…] Também é um facto que Siza pertence a outra geração:
uma geração com uma formação mais académica, ligada à linguagem clássica. Viveu o trabalho do
Inquérito à arquitectura popular portuguesa; foi uma geração habituada a outras regras de ordem, a
outras proporções Citação de Eduardo Souto Moura, numa entrevista feita por Ricardo Merí de la Maza,
na revista Tribuna de la Construccíon, Vol. 12 n.º 64. (Moura, 2004, p. 230)
Ainda sobre Siza Vieira, José Miguel Rodrigues afirma: “[…] Para nós é bastante óbvio que, tal como
Michelangelo, Siza trabalha no interior da tradição clássica, e nessa medida é grande o nosso interesse
pela sua obra.” (Rodrigues, 2013, p.37)
17
Sobre a tradição clássica José Miguel Rodrigues no livro “O mundo ordenado e acessível das formas
da arquitectura” refere: “[…] Muitos foram os que se interessaram pelo problema da transmissão cultural
da herança clássica, isto é, sobre a existência de condições culturais que permitem explicar uma
continuidade histórica nas transformações do fenómeno arquitectónico ao longo do tempo. Quem afinal
teriam sido os verdadeiros herdeiros de uma longa tradição cultural, que no caso da arquitectura é,
cremos, também e sobretudo, uma tradição construtiva? Esta parece ser a questão dos que, como nós,
acreditam na existência de um mecanismo de transmissibilidade da experiência e do saber acumulados
ao longo do tempo.” (Rodrigues, 2013, p.16)
18
Marcus Vitruvius Pollio (nome Latim), Vitrúvio nasceu entre 80-70 A.C. de origem Romana foi
arquitecto, engenheiro e autor da obra “De arquitectura” (Tratado de Arquitectura). Morreu entre 15-20
A.C.
19
“Tratado de Arquitectura” (nome original “De arquitectura”), escrito por Vitrúvio por volta de 15 A.C.
Constituída por 10 volumes, é a única obra que sobreviveu até aos nossos dias, cobrindo praticamente
todos os aspectos da arquitectura Romana.
20
Victor Consiglieri, no seu livro “As metáforas da arquitectura contemporânea”, sintetiza o modo como as
proporções de tradição clássica foram utilizadas até hoje: “[…] O valor estético das diversas proporções
na gíria popular chama-se divina proporção e é o resultado de diversas teorias sobe as suas relativas
qualidades, em cada época, e não decorre das propriedades das formas. São qualidades que se referem
a graus de valores que constituem a estrutura das imagens, que determinam ou ensaiam as propostas do
gosto controlado pelas experiências das harmonias entre o artista e o período histórico a que pertence.
Para caracterizar métodos de comparações de diversos rectângulos, adoptaram-se em princípio vários
tipos de proporção, em formas geométricas e aritméticas. […] A retrospectiva dos estudos harmónicos
pode sintetizar-se, subdividindo-se em quatro períodos. Consolida-se com a teoria grega e manifesta-se
no Gótico, enraizando-se no Renascimento e Maneirismo e mostrando a sua concepção geral no
Neoclassicismo, até chegar ao Modernismo no século XX.” (Consiglieri, 2007, p.60 e 61)
2. PÁTIO
O ar, a luz, a protecção, a defesa (por motivos bélicos) e a procura de paz, foram os
motivos pelos quais o pátio se converteu num espaço ao ar livre. Por este vazio ser
um espaço mais isolado, confere ao sujeito a sensação deste se encontrar numa zona
com maior domínio, maior controlo "[…] Es uno de los espacios más antiguos y aún
simboliza sensaciones de la época en la que los hombres vivían en cavernas. También
se considera símbolo de feminidad en una casa o símbolo espacial de intimidad." 21
(Blaser, 1997, p. 7)
Nas eras neolíticas, o abrigo básico era uma cabana semi-subterrânea, um refúgio
semelhante ao útero que contrastava nitidamente com o espaço lá fora. Mais tarde, a
cabana foi construída, acima do solo, abandonando o modelo usado no chão, mas
conservando e até acentuando o contraste entre interior e exterior através da
retilinearidade agressiva de sua paredes. […] A essência do pátio interno não é
simplesmente o contacto com a natureza, pois isso já ocorreria através das aberturas
do edifício ou mesmo no seu exterior, mas um espaço seguro relacionando-se com a
natureza. O pátio interno é a construção de um lugar protegido e relacional. Este
conceito remete à imagem da mãe ao conter o seu filho no aconchego de seus braços,
junto ao calor de seu corpo.22 (Reis-Alves, 2004)
O pátio é uma tipologia difundida desde há cinco mil anos. Mesmo durante este longo
período manteve-se como o espaço principal de uma casa.
[...] Sin embargo, durante su longa evolución, el patio se ha mantenido como el lugar
central y abierto, en oposición a los espacios cerrados […] Las múltiples
21
Tradução nossa - É um dos espaços mais antigos e simboliza as sensações numa época em que os
homens viviam nas cavernas. Também é considerado o símbolo de feminilidade numa casa, um símbolo
espacial de intimidade.
22
Citação disponível em WWW:<URL:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/436>
denominaciones permiten reconocer la evolución y usos del patio."23 (Blaser, 1997, p.7-
8)
No ano dois mil antes de Cristo, em Ur, construíam-se casas unifamiliares, em dois
andares, com um espaço central, um pátio, que servia os cômodos da casa.
Utilizavam no pavimento materiais como os ladrilhos cozidos e aproveitavam as águas
provenientes das chuvas que caia no pátio, canalizada em tubos. No piso térreo
dispunham a sala, cozinha e lavandaria. O piso superior era reservado para os
espaços privados.
23
Tradução nossa – No entanto, durante a sua longa evolução, o pátio tem se mantido como o lugar
central e aberto, ao contrário dos espaços fechados […] As várias denominações permitem reconhecer a
evolução e usos do pátio.
24
Tradução nossa - A relação entre os habitantes e o espaço é de enorme importância. O pátio como
símbolo espacial de intimidade é comparável a um nicho de espaços, um espaço dentro de outro,
representa uma parte do grande espaço infinito, também através do seu isolamento. […] este mito da
casa e do seu pátio aproxima-se ao arquétipo da mãe, que é um símbolo da feminilidade.
25
Afirmação de Werner Blaser no seu livro “Patios, 5000 años de evolución”, p. 11.
Ilustração 5 – Casa pátio em Ur, 2000 A.C. Ilustração 6 – Pátio em Mohenjo-Daro na transição do quarto para
(Blaser, 1997) o terceiro milénio A.C. (Blaser, 1997)
28
Ilustração 7 – Planta e corte de edifício Megaron. (Autor desconhecido)
O culminar da evolução da casa pátio coincide com o auge da cultura Grega, entre os
séculos quatro (IV) e cinco (V) antes de Cristo. A casa com Peristilo é a origem da
casa pátio oriental, com o decorrer do tempo sofre alterações.
A casa Romana teve a sua grande influência na cultura Etrusca e Grega. Werner
Blaser afirma; “[…] podemos suponer que la casa romana con atrio se desarrolló a
26
Casa Grega utilizada na Grécia antiga e no Médio Oriente, durante o período Pré-Helénico. Foi
igualmente utilizada como elemento nos Templos Clássicos, como no Palácio de Nestor na antiga cidade
de Pylos, Grécia. Esta tipologia foi reconstruída arqueologicamente na ilha Grega de Delos e na cidade de
Priene, Turquia.
27
Afirmação de Werner Blaser no seu livro “Patios, 5000 años de evolución”, p. 13.
28
Imagem retirada no sítio em WWW:<URL:http://arkyotras.wordpress.com/2011/08/07/arquitectura-
griega-iiib-arquitectura-micenica/>
partir de la casa etrusca, como casa unitaria con la zona de la vivienda y los cuartos
de servicio unificados bajo un mismo techo.”29
Estas casas Romanas alinhadas pelos limites da rua não possuíam janelas para o
exterior e encostavam paredes meias com a casa vizinha. O fumo era extraído
utilizando a única abertura para o exterior através do átrio. Nestas casas a luz natural
entrava superiormente e o átrio funcionava como um género de sala a céu aberto, que
no final adoptou a forma de pátio.
Ilustração 8 – Planta, corte e perspectiva de casa Romana com átrio, Pompeia. (Blaser, 1997)
29
Tradução nossa – Podemos supor que a casa romana com átrio desenvolveu-se a partir da casa
etrusca, como casa unitária com a zona de habitação e os quartos de serviço todos por baixo do mesmo
tecto.
30
Do latim Atrium, é um espaço central da casa a descoberto. Providenciava luz natural e ventilação para
o interior da casa, no qual se dispunham as divisões da casa em seu redor.
31
Espíritos Romanos guardiões da casa e do campo. O culto dos Lares é provavelmente derivado da
adoração do falecido chefe de família. Acreditava-se que ele abençoava a casa e trazia fertilidade aos
campos. Penates e Lares eram adorados em altares, ou pequenos altares, chamados Lararium, podiam
ser encontrados em qualquer casa Romana. Eram colocados no átrio (sala principal) ou no Peristilo (um
pequeno pátio aberto) da casa, nestes espaços as pessoas sacrificavam comida a Lares em feriados. Em
contraste com suas contrapartes malignas as Larvae (Lemures), Lares eram espíritos benévolos e
amigáveis.
32
Na mitologia Romana, Penates ("aqueles que vivem no interior") eram deuses padroeiros da
arrecadação. Mais tarde, gradualmente foram considerados como deuses padroeiros de toda a casa. O
seu culto está intimamente relacionado com o de Vesta e o de Lares. Eles eram adorados no lar e como
oferenda recebiam uma parte das refeições diárias.
Vitrúvio no quarto (IV) livro da sua obra “De arquitectura”, mais precisamente no
terceiro capítulo, categoriza o átrio em cinco tipologias; Toscano 33, Coríntio34,
Tetrastilo35, Displuviado36 e Testudinado37. Também referencia as proporções, na
largura e comprimento, inerentes a estes em três categorias; a proporção de cinco
para três (5:3), a proporção de dois para três (2:3), e a raiz de dois. A colecção de 10
volumes “De arquitectura” é o primeiro tratado de arquitectura a categorizar e a
dimensionar o átrio.
33
Do latim Tuscanicum. Toscano ou de tradição Etrusca.
34
Do latim Corinthium. Coríntio por referência à casa Grega, designadamente a Corinto. Era do tipo de
Peristilo de casa Grega, com mais de quatro colunas.
35
Do latim Tetrastylon. Tetrastilo, ou seja, com quatro colunas.
36
Do latim Displuuiatum. Displuviado, no sentido de que a inclinação do telhado envolvente da abertura
se encontra direccionada para o exterior e não para o interior do átrio.
37
Do latim Testudinatum. Testudinado, coberto, fechado com tecto, abóbada (testudo).
38
Do latim, peristylium, peristyla ou peristylia, espaço descoberto da casa romana, onde se dispunham as
divisões da casa, porticado em três ou quatro lados ao qual podia ser ou não ajardinado.
39
Divisão que constituía a entrada da casa
Ilustração 9 – Planta, corte e perspectiva de casa Romana com peristilo. (Blaser, 1997)
[…] Esta casa, llamada tarma presenta un cierto parentesco con la planta pompeyana
y, en concreto, con el peristilo que se encuentra en la parte posterior u muestra además
formas simétricas. El livan corresponde a la exedra, el espacio central a la oda. Hasta
40
Cidadãos da República Romana, constituíam a aristocracia Romana, a sua nobreza.
Ilustração 10 – Planta ideal de uma casa Tarma, pátio quadrado. Ilustração 11 – Planta casa de Murad Effendi, Hilleh.
(Blaser, 1997) (Blaser, 1997)
A história transmite-nos uma leitura de que a casa e a sua composição espacial estão
sempre relacionadas com os costumes, com a identidade do respectivo povo, da zona
geográfica e dos diversos hábitos de vida. Esta ilação manifesta-se na articulação do
interior da casa. “[…] interior de la casa y es, en cierta manera, la “forma vacía de
nuestra existencia domestica”. Por ello, no puede sorprendernos que la constricción de
la vivienda siempre esté relacionada con algo místico.”42 (Werner Blaser, 1997, p.12)
41
Tradução Nossa – Esta casa, com o nome Tarma, apresenta uma certa afinidade com a planta da casa
Pompeiana, mais precisamente com o peristilo que se encontra na parte posterior e revela formas
simétricas. O Livan corresponde ao Exedra, o espaço central da Oda (Haram). Até agora não foi possível
descobrir a conexão entre a casa Tarma e a casa Helénica.
42
Tradução nossa – Interior da casa é, de um certo modo, a “forma vazia da nossa existência doméstica”.
Não nos podemos surpreender que a construção de uma casa está sempre relacionada com algo místico.
Este tipo de casas tinha como base a estrutura familiar Chinesa. Se necessidade
houvesse em amplia-la, esta era efectuada pela parte posterior da mesma. Estas
ampliações implicavam a multiplicação de vários pátios, rodeados por volumes
edificados, destinados quer para filhos quer para outros parentes, criando uma espécie
de urbanização celular.43
Ilustração 12 – Casa com pátio na China (Blaser, 1997) Ilustração 13 – Hu-t´ung típico em Pequim (Blaser, 1997)
43
Urbanização celular, nome afirmado por Werner Blaser à composição volumétrica edificada, no caso
das casas pátio Chinesas, no seu livro “Patios, 5000 años de evolución”, p. 15.
Ilustração 14 – Planta mosteiro de Cluny, França. Ilustração 15 – Plano utópico de São Gallen. (Capitel, 2005)
(Capitel, 2005)
O claustro, segundo Antón Capitel, pode ser considerado como um pátio; “ […] El
claustro era concebido entonces más como un elemento exterior rodeado de galerías,
y en sí mismo considerado, que como un patio que pudiera servir como tal en cuanto
centro y articulación de otros locales.”44 (Capitel, 2005, p.24)
44
Tradução nossa – O claustro foi concebido como mais um elemento exterior rodeado por galerias, e em
si mesmo considerado, um pátio capaz de servir como centro e articulação de outros espaços.
45
A palavra Barroco, caracteriza um estilo, no século XVIII, dos arquitectos que não seguem as regras da
teoria da arquitectura académica. No século XIX converteu-se no conceito geral para toda a arte entre os
séculos XVII e XVIII, a arquitectura clássica inclusive.
46
Localizada no Sudeste da Alemanha, é o maior dos dezasseis estados federais desse país, sendo
Munique a sua capital e a maior cidade deste estado.
cuatro lados del norte de Austria alcanzó su forma perfecta a partir de los patios de
estos monasterios.” (Blaser, 1997, p.18)
[…] por las simetrías compositivas del formalismo palladiano, de las que puede decirse
que están pervirtiendo y transformando – modernizando - el sistema antiguo, además
de ir suprimiendo su atractiva y útil dialéctica entre orden y libertad. La arquitectura del
maestro de Padua significo efectivamente una de las más importantes destrucciones
del sistema tradicional de los patios, para dar paso a un manierismo basado en la
47
composición por elementos.” (Capitel, 2005, p.59)
Ilustração 16 – Planta palácio del Conte Ottaulo de Thieni, Vicenza, Itália. Ilustração 17 – Planta “Case private de Greci”.
(Palladio, 1570) (Palladio, 1570)
47
Tradução nossa – pelas simetrias na composição do formalismo palladiano, dos quais se pode dizer
que estão pervertendo e transformando – modernizando – o antigo sistema, além de ir eliminando a sua
atractiva dialéctica e útil entre ordem e liberdade. A arquitectura do mestre de Padua, na verdade,
significa uma das mais importantes e extensa destruição do sistema tradicional dos pátios, dando lugar a
um maneirismo com base na composição por elementos.
Até ao ano de mil e novecentos (1900) existiam cento e vinte e oito (128) pátios em
Viena48. Maior parte destes advinda de edificações seculares ou pátios conformados
em torno de vários edifícios em conjunto. Mais tarde nos anos vinte, ao abrigo de um
grande programa para habitações sociais, construíram-se uma serie de edifícios pátio,
todos eles com o nome Hof49 (pátio em alemão).
[…] las casas de las ciudades pequeñas de la región del Burgenland suelen tener un
patio junto a la casa vecina, generalmente con una medianera alta y a la izquierda, o a
la derecha, una casa profunda con ventanas a este patio de servicio. Sólo una
habitación tiene ventana a la calle; a la casa se acede por la gran puerta que también
52
sirve de entrada para vehículos. (Blaser, 1997, p.17)
48
Fonte, Werner Blaser no seu livro “Patios, 5000 años de evolución”, p. 16.
49
Tradução nossa - Durante a época do Historicismo, os edifícios de habitação construídos ao abrigo do
programa para habitação social, foram chamados de Hof, tais como; Heinrichhof, de autoria do arquitecto
Th. Hansen. Obispos e outros dignitários eclesiásticos adquiriram grandes propriedades com a finalidade
de as adaptar para habitação (ex. Heiligenkreuzhoh, Melcherhof). Citação retirada do livro “Patios, 5000
años de evolución” de Werner Blaser, p. 16.
50
Pátio estreito e descoberto, entre dois edifícios ou no interior de um edifício.
51
Região localizada na parte ocidente da Áustria.
52
Tradução nossa – As casa das pequenas cidades de região de Burgenland, normalmente, têm um pátio
ao lado da casa vizinha, geralmente com uma parede alta a dividir e à esquerda ou à direita, uma casa
com profundidade possui janelas viradas para este pátio de serviço. Apenas uma habitação tem janelas
viradas para rua; o acesso à casa é feito atravessando uma grande porta, que serve igualmente de
entrada para veículos.
53
Segundo afirmação de Werner Blaser no seu livro “Patios, 5000 años de evolución”, p. 17.
Ilustração 18 – Pátio do Hospital dos Cidadãos de Neustadt, Viena . Ilustração 19 – Pátio em Nussdorf, Viena.
(Blaser, 1997) (Blaser, 1997)
Ilustração 20 – Pátio delimitado pelos quatro lados, Ilustração 21 – Pátio delimitado pelos três lados,
Vierseitenhof, quinta na Áustria. (Blaser, 1997) Dreiseitenhof, quinta em Nordmühlviertl. (Blaser, 1997)
No Dreiseitenhof56 o pátio rectangular é delimitado apenas em três dos seus lados por
volumes edificados, sendo o quarto lado encerrado por uma parede simples construída
em alvenaria de tijolo ou em madeira. Este pátio é típico nas regiões com menor
produção de trigo e quase sempre é longo, caracterizado pela forma geométrica de um
rectângulo.
“[…] Josef Frank […] diseño varias casa con patio […] Por consiguiente, se podría
opinar que Josef Frank fue un arquitecto convencido de las ventajas de las casas con
patio. Sus proyectos incluyen desde el patio completamente cerrado hasta patios
parcialmente cerrados y de forma irregular.”58 (Blaser, 1997, p.19)
56
Pátio delimitado apenas em três lados.
57
Josef Frank, nasceu a 15 Julho de 1885 em Baden bei Wien, Áustria. Formou-se em arquitectura na
Universidade de Tecnologia Vienense, em Viena de Áustria. Faleceu a 8 de Janeiro de 1967 em
Estocolmo, Suécia.
58
Tradução nossa – Josef Frank […] desenhou diversas casas com pátio […] Por conseguinte, podemos
afirmar que Josef Frank foi um arquitecto crente nas vantagens das casas com pátio. Os seus projectos
incluem quer o pátio completamente fechado, quer pátios semi-encerrados e desenhados com forma
irregular.
Ilustração 22 – Projecto de Josef Frank para uma casa de campo Ilustração 23 – Projecto de Josef Frank da casa D
em Los Ângeles, EUA, 1930. (Blaser, 1997) para Dagmar Grill, 1947. (Blaser, 1997)
Alguns dos projectos realizados por Josef Frank, reflectem a afirmação supracitada,
Werner Blaser destaca dois; o projecto para uma casa de campo M.S. na cidade de
Los Angeles, EUA. e o projecto da casa D, n.º 10, para Dagmar Grill
Ilustração 24 – Croqui de Lois Welzenbacher, Casa pátio Ilustração 25 – Casa de Lois Welzenbacher em Obergrainau.
em Cröllwitz-Halle, próximo de Munique. (Blaser, 1997) (Blaser, 1997)
59
Lois welzenbacher, nasceu a 20 Janeiro de 1889 em Munique, Alemanha. Estudou arquitectura na
Universidade Técnica de Munique. Faleceu a 13 Agosto de 1955 em Tirol, Itália.
60
Situada na província Sul de Tyrol, na região Norte de Itália.
Depois de 1945 houve uma tendência para projectar habitações unifamiliares dentro
da realidade urbana e através do sistema tipológico da casa pátio, utilizando pátios
ajardinados em aglomerações já existentes.64
Ilustração 26 – Planta piso superior e perspectiva da Ville Savoye, projecto de Le Corbusier, 1929. (Blaser, 1997)
61
Cidade situada em Haute-Savoie, na região Sudoeste de França.
62
No seu livro “Patios, 5000 años de evolución”, p. 20.
63
Ainda sobre a janela na Ville Savoye, Antón Capitel no seu livro “La arquitectura del pátio”, afirma como
este vão potência a vista sobre a paisagem sem retirar definição espacial ao pátio. Refere ainda como
este sistema era utilizado quando se pretendia uma transição do palácio para os jardins, através do
recurso a um alpendre ou uma arcada transparente.
64
Segundo afirmação de Werner Blaser no seu livro “Patios, 5000 años de evolución”, p. 20.
Ilustração 27 – Casa pátio construída através de elementos pré-fabricados, possibilitando a alteração das dimensões. Ames Stirling,
1957. (Blaser, 1997)
No hay duda de que los ejemplos chinos y otomanos pueden ser de gran ayuda en la
evolución de las casas bajas, pues tienen algunas características que se ajustan a
nuestras costumbres actuales. Las antiguas casas otomanas convencen por su
solución para el interior de la casa, por su distribución interior, por la comodidad de la
67
sedia junto a los muros […] en contacto directo con el jardín y la vivienda. (Blaser,
1997, p.21)
65
James Frazer Stirling, nasceu a 22 Abril de 1926 em Glasgow, Inglaterra. Formou-se em arquitectura
na Universidade de Liverpool em 1950. Morreu a 25 Junho de 1992 em Londres, Inglaterra.
66
Tradução nossa – É uma proposta interessante porque, apesar do carácter de casa pré-fabricada,
ambiciona um certo romantismo.
67
Tradução nossa – Não há dúvida que os exemplos Chineses e Otomanos podem ser de grande ajuda
na evolução das casa térreas, pois possuem algumas características capazes de se ajustar aos nossos
costumes actuais. As antigas casas Otomanas impressionam pela solução que resolve o interior da casa,
Sobre o exemplo das casas pátio Americanas, o autor revela como estas adaptaram o
sistema das antigas casas pátio, durante os últimos anos:
Las casas con patio americanas de los últimos cincuenta años muestran una
adaptación ideal de las antigás casas con patio a las necesidades domesticas actuales.
En realidad, de las primeras casas con atrio de la Antigüedad sólo ha permanecido la
idea del patio ajardinado.68 (Blaser, 1997, p.21)
Portugal não é excepção, vários autores exploram igualmente esta tipologia. Eduardo
Souto Moura é um deles, com o projecto Casa no Algarve, em 1989 na Quinta do
Lago. O autor assume que o imaginário resulta do cruzamento entre dois tipos de
arquitectura, a arquitectura mediterrânica da casa pátio e a Chinesa.
pela sua distribuição interior, pela conveniência da sedia junto aos muros […] em contacto directo com o
jardim e a habitação.
68
Tradução nossa – As casas com pátio Americanas dos últimos cinquenta anos demonstram uma
adaptação ideal das antigas casa com pátio ás necessidades domésticas actuais. Na realidade, das
primeiras casas com átrio da antiguidade, apenas permaneceu a ideia de pátio ajardinado.
Este projecto refere-se a uma casa de férias no Algarve, na Quinta do Lago, junto a um
campo de golf. […] Tipologicamente, a construção surgiu do cruzamento de uma certa
arquitectura do Sul, e por estranho que pareça, com algumas casas chinesas. Parte do
projecto foi ainda feito em Macau. (Moura, 1994, p.84)
Esta casa possui na entrada um pequeno pátio. Apesar da sua pequena dimensão,
este vazio é responsável pela articulação e organização entre todos os espaços da
casa.
Sobre o modo como a tipologia foi abordada e interpretada nos últimos dois séculos,
Victor Consiglieri69 elabora uma súmula dividindo-a em três fases de definição:
Numa primeira fase originada nas teses definidas por Isaac Newton70, tendo como
base as leis da física, pertencentes ao universo físico, autores como Quatremère-de-
Quincy, Durand, Viollet Le-Duc, Ruskin e Semper, defendiam que a tipologia possuía
um carácter atemporal relativamente aos factores históricos e universais, aplicando-se
em qualquer sociedade.71
69
Victor Manuel Jorge Consiglieri, nasceu a 5 Maio de 1928 em Lisboa. Formou-se em Arquitectura na
Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1956.
70
Isaac Newton, nasceu a 25 Dezembro de 1642 em Inglaterra. Físico e matemático, largamente
reconhecido como um dos mais influentes cientistas de todos os tempos e principal figura na revolução
científica. Escreveu o livro “Philosophiae Naturalis Principia Mathematica”, publicado em 1687 e
considerado fundamental na mecânica clássica. Newton contribuiu igualmente para o conhecimento
relacionado com a óptica. Morreu a 20 Março de 1727 em Londres, Inglaterra.
71
Conforme afirmação de Victor Consiglieri no seu livro “As significações da arquitectura”, 2000, p.147.
[…] Estes dois princípios levam-nos a ter presente que um novo tipo, constituído por
partes de tipos pré-existentes, inseridos num contexto diferente, sofre transformações
formais, ou seja, não é uma estrutura de identificação simples e estável, mas um
material espacial onde se recuperam todos os elementos de um discurso sobre o valor
social do espaço. O tipo poder-se-á definir, simultaneamente, como símbolo de um
grupo social. (Consiglieri, 2000, p.151)
Um olhar transversal e mais pormenorizado nas três fases descritas por Victor
Consiglieri, começamos por destacar o primeiro autor. Antoine Quatremère-de-
Quincy73 foi o primeiro a equacionar a questão sobre arquitectura tipológica no século
dezoito, no do seu livro “Encyclopédie méthodique d´Architecture”74. As mudanças
72
Conforme afirmação de Victor Consiglieri no seu livro “As significações da arquitectura”, 2000, p.148
73
Antoine-Chrysostome Quatremère-de-Quincy, nasceu a 21 Outubro de 1755 em Paris, França, foi um
teórico de arquitectura e influente escritor de arte. Morreu a 28 Dezembro de 1849.
74
No livro “O significado das cidades”, de Carlo Aymonino, encontrámos uma citação de Quatremère de
Quincy escrita em 1825, traduzida por Ana Rabaça: “[…] A palavra tipo não representa tanto a imagem de
uma coisa que se imita, perfeitamente quanto a ideia de um elemento que deve ele próprio servir de regra
ao modelo […]. O modelo entendido segundo a execução prática da arte, é um objecto que se deve
repetir tal qual é; o tipo é, pelo contrário, um objecto segundo o qual cada um pode conceber obras que
não se assemelhem entre si. Tudo é preciso e dado no modelo; tudo é mais ou menos vago no tipo.
Vemos assim que a imitação dos tipos não tem nada que o sentimento ou o espírito não possam
reconhecer e nada que não possa ser contestado pela precaução e pela ignorância; isto acontece, por
exemplo, com a arquitectura […] Em todos os países a arte de fabricar regularmente nasceu de um germe
preexistente. Em tudo é necessário um antecedente; nada em género nenhum vem do nada; e isto não
pode deixar de se aplicar a todas as invenções dos homens. Assim vemos que todos, a despeito das
mudanças posteriores, conservam sempre claro e manifesto ao sentimento e à razão o seu princípio
elementar. […] é como uma espécie de núcleo em redor do qual se aglomeraram e coordenaram em
seguida os desenvolvimentos e as variações de formas de que o objecto era susceptível. Por isso
chegaram até nós mil coisas de todos os géneros e uma das principais ocupações da ciência e da
filosofia, para entender as suas razões, é procurar a sua origem e causa primitiva. É a isso que se deve
chamar tipo em arquitectura, como em qualquer outro ramo das invenções e das instituições humanas
[…]. Entregávamo-nos a esta discussão para fazer compreender bem o valor da palavra tipo considerada
metaforicamente numa quantidade de obras, e o erro daqueles que ou o desconhecem porque não é um
modelo, ou o dissimulam impondo-lhe o rigor de um modelo que equivaleria às condições de cópia
idêntica.” (Quincy, 1825, p.64)
75
Jean-Nicolas-Lois Durand, nasceu a 18 Setembro de 1760 em Paris, França. Foi arquitecto e professor
de arquitectura na Escola Politécnica em Paris. Morreu a 31 Dezembro de 1760 em Thiais, na cidade de
Paris, França.
Em 1963 Giulio Carlo Argan76, no seu livro “On the typology of architecture”, retomou a
definição de Quatremère-de-Quincy, diferenciando o momento tipológico do momento
da definição formal. Segundo Argan; “[…] os tipos são gerados pela imbricação de
regularidades formais. Fundamentos formais comuns constituem a base para se
estabelecer relações entre diferentes edificações. “[…] tipo significa a estrutura formal,
interna e básica de uma edificação.” (Pfeifer e Brauneck, 2008, p.13)
[…] De acordo com a teoria com a teoria de Rogers, o processo de projecto inicia-se
pela identificação do tipo, que já compreende a super ordenação do problema. O
objectivo do processo subsequente é isolar o problema e reconhecer seus múltiplos
aspectos. Aqui, então, a identificação de um tipo é algo muito subjectivo, variável de
acordo com a percepção e bagagem ideológica de cada um. (Pfeifer e Brauneck, 2008,
p.14)
Aldo Rossi79 em 1969 escreve o livro “Lárchitecttura della cità”, no qual relaciona a
tipologia morfológica e o significado tradicional de tipo. Este autor parte do
pressuposto de que tipo possui o entendimento, incorporando nele um conhecimento
arquitectónico80.
76
Giulio Carlo Argan, nasceu em 1909, Turim, Itália. Entrou para a Universidade de Turim em 1927 para
estudar Direito, mas depois de conhecer Lionello Venturi ficou interessado pela História de Arte, mais
precisamente História da Arquitectura. Morreu em 1992, Roma, Itália.
77
Ernesto Nathan Rogers, nasceu a 16 Março de 1909 em Trieste, Itália. Formou-se em arquitectura no
politécnico de Milão, Itália em 1932. Morreu a 7 Novembro de 1969 em Gardone, Itália.
78
Através do seu livro “The problem of building within a existing environment”, de 1990, p.8-11.
79
Aldo Rossi, nasceu a 3 Maio de 1931 em Milão, Itália. Formou-se em arquitectura pelo Politécnico de
Milão em 1959. Morreu a 4 Setembro de 1997 em Milão, Itália.
80
“[…] O tipo é por conseguinte constante e apresenta-se com caracteres de necessidade; mas, ainda
que determinados, reagem dialecticamente com a técnica, com as funções, com o estilo, com o carácter
colectivo e o momento individual do facto arquitectónico. […] Inclino-me a crer que os tipos de casa de
habitação não tenham mudado desde a antiguidade até hoje, mas isto não significa, com efeito, suster
que não tenha mudado o modo de viver desde a antiguidade até hoje e que não hajam sempre novos
possíveis modos de viver. A casa com galeria é um esquema antigo e presente em todas as casas
urbanas que queremos analisar; um corredor que serve uma série de divisões é um esquema necessário,
mas são tais e tantas as diferenças entre cada uma das casas em cada uma das épocas que realizam
este tipo que apresentam enormes diferenças entre si. Poderemos dizer por fim que o tipo é a própria
ideia da arquitectura, o que mais perto está da sua essência. É portanto aquilo que, não obstante cada
transformação, sempre se tem imposto “ao sentimento e à razão”, como o princípio da arquitectura e da
cidade” Citação retirada do livro de Aldo Rossi, “A arquitectura da cidade”. (Rossi, 1977, p.45)
[…] A lógica de uma interna de uma forma expressa o saber arquitectónico comum. De
acordo com este ponto de vista, o conceito de tipo é totalmente distinto do conceito de
função. Assim, um corredor pode ser interpretado como um tipo básico, definido não
apenas por sua relação com os outros elementos do programa arquitectónico, mas
também por sua qualidade própria de elemento de ligação. (Pfeifer e Brauneck, 2008,
p.14)
Alan Colquhon81 afirma que a tipologia é a base de toda a comunicação 82. O arquitecto
gera espaços com formas baseados em tipologias que possuem um determinado
significado, permitindo a interacção com o imaginário colectivo, acabando por
transmitir ao público um discurso complexo cheio de significado.
Agindo dessa maneira, o arquitecto baseia sua arquitectura em uma dada bagagem
ideológica. […] a própria criação da arquitectura implica ideias tipológicas. O ato de
criar arquitectura é o acto de comunicar significados por meio de ideias tipológicas.
Assim, arquitectura é uma disciplina de convenções sempre relacionadas à sua própria
história, a padrões preexistentes. (Pfeifer e Brauneck, 2008, p.14)
81
Alan Colquhoun, nasceu a 27 Junho de 1921 em Esher, Inglaterra. Estudou arquitectura no Colégio de
Arte de Edimburgo, Escócia e na Associação de Arquitectura em Londres, Inglaterra. Morreu a 13
Dezembro de 2013 em Londres, Inglaterra.
82
Através dos seus ensaios, mais precisamente em “Essays in architectural criticism: modern architecture
and historical change”, 1985.
83
Léon Krier, Irmão de Rob Krier, nasceu a 7 Abril de 1946 no Luxemburgo. Krier abandonou em 1968 o
estudo da arquitectura na Universidade de Estugarda, Alemanha. Mais tarde, depois de trabalhar com o
arquitecto James Stirling durante três anos, em Inglaterra, Léon passou vinte anos a praticar e a ensinar
na Associação de Arquitectura e no Colégio Real de Arte.
84
Rob Krier, irmão de Léon Krier, nasceu em 1938 no Luxemburgo. Formou-se em arquitectura na
Universidade Técnica de Munique, Alemanha. Antigo professor da disciplina de arquitectura na
Universidade de Tecnologia de Viena, Áustria.
85
Robert Venturi, nasceu a 25 Junho de 1925 em Filadélfia, EUA. Formou-se em arquitectura na
Universidade de Princeton em 1947.
[…] Através de um evolução histórica, podemos considerar o pátio uma tipologia não
formal dentro de um método ideológico diacrónico, como um símbolo de convivência e
de relacionamento humano. A convivência faz parte de uma longa história de uso e foi
largamente aplicada em especial nos claustros dos mosteiros e nos pátios
renascentistas. Estes pátios podem ser colocados tanto exteriormente, formando
pequenas praças ou largos e pequenas zonas de convívio, como interiormente em
zonas nucleares de palácios ou de edifícios apalaçados. […] Esta matéria é
equacionada pela analogia de modelos e de tipos de pátios com diversas diferenças de
formas, de dimensões, de geometria euclidiana ou topológica. (Consiglieri, 2000, p.158)
A história desta tipologia atesta como o pátio foi alterando o seu paradigma,
configuração e utilização durante os vários períodos que atravessou. Manifestando-se
em espaços inscritos nos claustros dos edifícios monásticos ou numa qualquer quinta
no centro da Europa. A expansão dos tecidos urbanos foram responsáveis por gerar
espaços que embora não fossem reconhecidos como pátio, certamente possuíam a
sua matriz neste elemento primevo do habitar doméstico. São espaços que não sendo
equivalentes em termos de função e usufruto, na essência traduzem o espírito
subjacente ao pátio particular.
A passagem do tempo revelou como o pátio foi alterando a sua definição assente na
síntese de regras e modelos estruturantes do pensamento clássico: um espaço central
e organizador dos restantes espaços. A arquitectura Moderna modificou
profundamente o pensar e desenhar o pátio. A gramática, a metodologia, o potencial
expressivo, a experimentação tipológica, a tradição reinventada86, a vivência do
Homem, a sua integração no todo construído, são alguns dos factores que entram em
completa ruptura com a tratadística clássica e consequente inflexibilidade de matriz
canónica. Pensar e configurar o pátio revela o espírito dos tempos, a cultura
86
Assumimos a existência de uma contradição no movimento Moderno expressa no manifesto desta
corrente ao rejeitar formalmente a história e a tradição de matriz clássica, mas, na prática, nunca
renunciou às influências do saber e do conhecimento apreendido nas lições da tratadística clássica,
utilizando-as inclusivamente como suporte projectual.
87
Numa analogia ao livro “Obra aberta” de Umberto Eco: “[…] Vale talvez a pena esclarecer melhor o
sentido que queremos dar a uma noção como “estrutura de uma obra aberta”, dado que o termo
“estrutura” se presta a numerosos equívocos e é usado (até mesmo neste livro) em acepções não
perfeitamente unívocas. Falaremos da obra como de uma “forma”: isto é, como de um todo orgânico que
nasce da fusão de diferentes níveis de experiência anterior (ideias, emoções, disposições para operar,
matérias, módulos de organização, temas, assuntos, estilemas pré-fixados e actos de invenção). Uma
forma é uma obra conseguida, o ponto de chegada de uma produção e o ponto de partida de uma
consumação que – articulando-se – volta a dar vida sempre e de novo, por diferentes perspectivas, à
forma inicial.” (Eco, 1962, p.53)
88
Conforme o entendimento de Merleau-Ponty no seu livro, “O olho e o espírito”: “[…] É emprestando o
seu corpo ao mundo que o pintor transmuta o mundo em pintura. Para compreender estas
transubstanciações, é necessário reencontrar o corpo operante e actual, aquele que não é um pedaço de
espaço, um feixe de funções, que é um entrançado de visão e movimento. […] Qualidade, luz, cor,
profundidade, que estão ali perante nós, só lá estão porque despertam um eco no nosso corpo, porque
ele as acolhe. […] Há o que atinge o olho de frente, as propriedades frontais do visível – mas também o
que o atinge de baixo, a profunda latência postural em que o corpo se levanta para ver […] A visão é o
encontro, como numa encruzilhada, de todos os aspectos do Ser. […] É, portanto, o próprio Ser mudo que
manifesta, o seu sentido silencioso.” (Ponty, 2009, p.19, 23, 67, 68)
[…] Podemos encontrar patios con tres lados de columnatas y también con dos. En
cualquiera de los casos son siempre válidos, y de ellos aprendemos que para el patio
se constituya como tal son necesarias, como mínimo, dos galerías, con tal de que
existan paredes de cierre en los otros lados que faltan. Del mismo modo, dos crujías el
L son bastantes para formar una casa-patio; éste es el ejemplar mínimo del tipo.
(Capitel, 2005, p.14)
[…] Josef Frank, entre otros muchos proyectos, diseño varias casas con patio […] Por
consiguiente, se podría opinar que Josef Frank fue un arquitecto convencido de las
ventajas de las casas con patio. Sus proyectos incluyen desde el patio completamente
cerrado hasta patios parcialmente cerrados y de forma irregular. Son la mejor prueba
de la validez de la idea de la casa con patio contemporáneo y su eterna actualidad.
(Blaser, 1997, p.9)
Acreditamos que o pátio não tem limite na dimensão para que deixe der ser entendido
como tal. Assim podemos afirmar que o pátio pode ser compreendido, vivenciado e
percepcionado em diferentes escalas e contextos. Nesta óptica e confirmada pela
observação de Walter Benjamin, sobre os pátios, com a qual concordamos e nos
revemos inteiramente nela: “[…] De repente entramos na cidade tão silenciosamente
como na paisagem através de uma porta […]. Quando atravessamos a Porta San
Giovanni, sentimo-nos num pátio e não na rua. Mesmo as praças são pátios e em
todas parecemos abrigados” (Benjamin)89
89
Citação de Walter Bejamin no livro “Imagens de pensamento”, retirado do sítio na internet Vitruvius, em
WWW:<URL: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/436>
Na ilha de Muuratsalo90 junto à costa Norte, em pleno lago Päijänne91, Alvar Aalto
edificou a sua casa de verão em 1953. Uma casa muito introvertida comparada com
outros exemplos contemporâneos ou mais tradicionais. Um lugar de cariz pessoal e
revelador da sua meditação sobre os temas da Natureza e da cultura.
90
Muuratsalo, ilha localizada no lago Päijänne, Finlândia.
91
Päijänne, lago na Finlândia, é considerado o segundo maior deste país.
92
Projecto também da autoria de Alvar Aalto, e caso de estudo da presente dissertação.
Depois da morte da sua esposa, Aino Aalto93 em 1949, Alvar Aalto deu início, nesse
mesmo ano, a procura de um lugar onde pudesse descansar e reflectir durante o
processo de luto. Nessa mesma altura decorria paralelamente a construção da
Câmara Municipal de Säynätsalo e é possível que durante essa fase, Alvar Aalto,
tenha descoberto este terreno na ilha de Muuratsalo, durante um passeio de barco94.
Pouco tempo depois Aalto conhece uma arquitecta que acompanhava a construção do
seu projecto em Säynätsalo, seu nome Elsa Mäkiniemi95. Alvar Aalto e Elissa (Elsa)
acabam por se casar em 1952 e nesse mesmo ano, com a ajuda de Elissa, Aalto
decide finalmente edificar a sua Casa de Verão em Muuratsalo.
Alvar Aalto sempre descreveu Muuratsalo como uma casa experimental. Richard
Weston96 e Juhani Pallasmaa97 afirmam que essas experiências são consequência,
em parte, das conversas que o arquitecto manteve com o seu amigo Yrjö Hirn98 sobre
as teorias do jogo criativo, e o modo como a proximidade à natureza pode ajudar a
criar novas fontes de inspiração. Aalto reiterou esta questão à revista de arquitectura
Finlandesa, Arkkitehti: "[…] proximity to nature can give fresh inspiration" in the effort to
99
“find the specific character of architectural detail that our northern climate requires”
(Aalto, 1953, p. 115-116).
93
Aino Mandelin (Aalto), nasceu a 25 Janeiro de 1894 em Helsínquia, Finlândia. Formou-se em
arquitectura em 1920 pelo Instituto de Tecnologia em Helsínquia. Casou-se com Alvar Aalto em 1924.
Faleceu no dia 13 Janeiro de 1949.
94
Hipótese sugerida pela guia do museu Alvar Aalto, durante a visita realizada em Setembro de 2013, à
casa de verão em Muuratsalo, Finlândia.
95
Elsa Kaisa Mäkiniemi, nasceu a 22 Novembro de 1922 em Kemi, Finlândia. Formou-se em arquitectura
em 1949 pela universidade de Helsínquia. Casou-se com Alvar Aalto em 1952. Faleceu a 12 Abril de 1994
em Helsínquia, Finlândia.
96
Richard Weston, nasceu a 8 Maio de 1953 em Leicester, Inglaterra. Formou-se em arquitectura em
1975 pela universidade de Manchester. Actualmente é regente na cadeira de arquitectura na Escola
arquitectura de Welsh em Cardiff, Inglaterra.
97
Juhani Uolevi Pallasmaa, nasceu a 14 Setembro de 1936 em Hämeenlinna, Finlândia. É arquitecto e
antigo professor de arquitectura na universidade Tecnológica de Helsínquia. Antigo director do Museu da
arquitectura Finlandesa, actualmente lecciona na universidade de Ilinóis, Estados Unidos da América.
98
Yrjö Hirn, nasceu a 7 Dezembro de 1870 em Laapeenranta, Finlândia. Estudioso artístico e literário, foi
assistente na biblioteca da universidade em Helsínquia entre 1890 e 1910. Professor adjunto entre 1898 e
1910, professor de Literatura contemporânea na universidade de Helsínquia entre 1910 e 1937. Faleceu
no dia 23 Fevereiro de 1952 em Helsínquia, Finlândia.
99
Tradução nossa - Proximidade à natureza pode dar uma fresca inspiração no esforço de encontrar a
específica característica do detalhe arquitectónico que o nosso clima nórdico necessita.
Este percurso é bastante difícil vencer topograficamente, pelo menos até chegar à
sauna, para além de ser muito acidentado é também revelador de uma forte densidade
visual, criada não apenas pela vegetação mais rasteira mas também pela quantidade
de árvores existentes. Essa densidade potência um efeito visual semelhante a um véu,
não deixando ver o que se passa por detrás destes espaços, escondendo quaisquer
referências visuais, aumentado de modo exponencial a capacidade de nos perdermos
na natureza envolvente.
Ilustração 31 – Estrutura alberga o barco “Nemo propheta in patria”. Ilustração 32 – Interior da estrutura. (Ilustração nossa, 2013)
(Ilustração nossa, 2013)
100
Tradução nossa - Na década de 1950, nas conferências e escritos de Aalto introduz-se um outro
conceito: a interacção do jogo e do experimentalismo na arquitectura. O próprio Aalto reconhece que o
seu interesse pela importância do jogo pode ter sido evocada por Yrjö Hirn. Ao reflectir o seu ponto de
vista filosófico sobre o sentido do jogo e a sua atitude lúdica, a elaboração formal dos projectos de Aalto
torna-se cada vez mais complexa.
101
Projecto vencedor do concurso internacional em 1996, com o título “Arca”, autoria de duas estudantes
dinamarquesas, Claudia Schulz e Anne-Mette Krolmark.
102
Segundo informação do Museu Alvar Aalto, o nome “Nemo propheta in patria” surgiu após um episódio
sucedido em 1950, quando Alvar Aalto atirou uma pedra à publicidade em néon, mais propriamente à
identificação de um banco, que se encontrava instalado no piso térreo da Câmara Municipal de
Säynätsalo, partindo-o. Traduzido do Latim; Nenhum homem é profeta no seu próprio país.
Este difícil e atribulado percurso que nos guia desde a cota mais elevada, na entrada
do terreno, até à linha de água do lago Päijänne, é um percurso que sentimos ser anti-
natural, algo que nos obriga a questionar o porquê. A resposta a esta questão revela-
se bastante simples, o problema está no modo como actualmente fazemos a
aproximação ao lugar, isto é, como chegamos até ele.
Ilustração 33 – Planta terreno da casa de Verão. Ilustração 34 – Efeito véu na floresta existente no terreno.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Na época em que a casa foi construída não existiam as diversas pontes que interligam
as ilhas de Säynätsalo e de Muuratsalo. O percurso nessa altura era realizado de
barco e esta nuance faz toda a diferença no modo com se fazia a aproximação à casa.
Quando o percurso é feito por barco, visto do lago, a Casa de Verão é uma espécie de
farol branco no meio da floresta e actualmente o percurso é feito pela estrada
utilizando o automóvel. Chegados ao terreno o trajecto passa a ser pedonal, com o
objectivo de atravessar a floresta. Este percurso é realizado negociando com um
terreno que se apresenta muito difícil, pelo que a casa adquire o papel de destino final,
um lugar de descanso, de segurança e de habitar no meio da natureza.
A Casa de Verão foi construída em duas fases distintas. A primeira fase foi a
construção em alvenaria de tijolo para os espaços respeitantes à sala, cozinha e os
quartos que definam os limites do pátio. A segunda fase foi a construção em madeira
do quarto das visitas e do anexo para armazenar a lenha. Existe um espaço que
marca e medeia os espaços referentes a estas duas fases, é um espaço estreito, um
corredor que une a casa construída em tijolo e o quarto de visitas em madeira. “[...]The
experimental house was built in two phases. On the right, the brick-built studio section.
A narrow connecting space joins the wooden-built extension wing as a natural part of
the whole”.103 (Aalto)
Esta casa não possui fundações, para tal foram montadas várias colunas fixas que se
vão moldando ao terreno. As paredes são desenhadas para testar os possíveis efeitos
visuais no tijolo, registando o efeito da erosão e revelando a patine, testemunha visível
e palpável da passagem do tempo.
Ilustração 35 – Espaço unificador entre as duas Ilustração 36 - Quarto para visitas sem fundações. (Ilustração nossa, 2013)
fases de construção. (Ilustração nossa, 2013)
[…] the hole complex of buildings is dominated by the fire that burns at the centre of the
patio and that, from the point of view of practicality and comfort, serves the same
purpose as the campfire in a winter camp, where the glow from the fire and its
103
“A casa experimental foi construída em duas fases. À direita, a construção da casa em tijolo. Um
espaço estreito que interliga / comunica a extensão construída em madeira, permitindo de um modo
natural fazer parte do todo.” (Texto retirado na exposição do Museu Alvar Aalto em Jyväskylä, Finlândia)
reflections from the surrounding snow banks create a pleasant, almost mystical feeling
of warmth.104 (Weston, 1995, p. 114).
O quarto para as visitas situa-se fora do corpo principal, traçando um claro desenho
visível em planta. Uma espécie de "cauda" que se destaca da forma perfeita da casa e
do pátio. Quando dissecamos com mais atenção o desenho do conjunto, é perceptível
verificar os edifícios que formam a referida "cauda". Encontram-se implantados numa
posição que explora os afloramentos rochosos existentes, com o intuito de os utilizar
como fundações. Estas construções transformaram-se em estruturas dispostas,
aparentemente, de um modo espontâneo. Na opinião de Richard Weston tinham como
propósito albergar as experiências com tijolos de grande escala, mas nunca chegaram
a ser terminadas.
Afastado da casa, a Este, encontramos a sauna à beira do lago. Aparenta ser uma
edificação convencional em madeira, mas um olhar mais atento revela a
contemporaneidade do desenho efectuado por Alvar Aalto. A uns escassos metros da
margem do lago Päijänne, construída em 1954, situa-se a sauna (equipamento
indispensável para um Finlandês), que apesar de ser uma pequena estrutura, foi alvo,
uma vez mais, de um intencional experimentalismo ao nível do seu sistema
construtivo. Era comum às saunas serem construídas com troncos em madeira, mas
104
Tradução nossa - Todo o complexo de edifícios é dominado pelo fogo que arde no centro do pátio e
forma o ponto de vista prático e do conforto, serve o mesmo propósito tal como acender um fogo num
campo de inverno, onde o brilho do fogo e os seus reflexos nos bancos de neve criam um agradável
sentimento, de calor que chega a ser místico.
Cada tronco de madeira tem sempre um diâmetro maior, num dos seus dois lados.
Esta circunstância resulta do facto do maior diâmetro ser a no lado da raiz da árvore.
Devido a esta característica dos troncos, quando se construía a parede, era costume
intercalar o lado do tronco com maior diâmetro, com o de menor diâmetro. Com a
finalidade da parede ficar nivelada, quer na vertical, mas neste caso mais
especificamente na horizontal.
Ilustração 38 – Volume da sauna construída em madeira. Ilustração 39 – Sistema construtivo utilizado na sauna
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Alvar Aalto decide subverter o habitual sistema construtivo, colocando os troncos com
diâmetro igual para o mesmo lado. Esta decisão torna inevitável, quer em planta quer
nos paramentos verticais, que o desenho da sauna se assemelhe à abertura de um
leque. Nesta estrutura a única decisão que se aproxima de qualquer questão mais
tradicional, é a sua cobertura ajardinada, pois este tipo de cobertura é muito comum e
até recorrentemente utilizada nas saunas construídas neste país.
Ilustração 40 – Vista sobre o lago Päijänne Ilustração 41 – Torre sineira igreja Muurame (Ilustração nossa,
(Ilustração nossa, 2013) 2013)
Ilustração 42 - Pátio visto a partir da sala Ilustração 43 - Vista do pátio com a parede virada a Noroeste
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Este exercício ajuda-nos a compreender como toda a tensão visual estaria focada na
vista sobre o lago Päijänne e nas suas ilhas, conforme podemos verificar na ilustração
acima. Seria um outro pátio, um vazio espacial onde se concentraria na capacidade
dos nossos olhos, acentuando o sentido da visão, privilegiando-o.
105
Ainda sobre a disposição dos diferentes tipos de tijolo maciço presentes no pátio, mas inserido num
estudo sobre os efeitos dos graus de distanciamento, Victor Consiglieri salienta: “[…] analisaremos os
efeitos dos graus de distanciamento: o pequeno e o grande distanciamento – lei da constância. A
sobreposição dos mais variados tipos de superfícies planas, mostrando uma semelhança pictórica com o
moderno, aparece na casa de Alvar Aalto em Muuratsalo, de 1953. Pequenas superfícies, nas mais
variadas posições, com tijolos e tijoleiras de revestimento, bem como juntas de separação que se
confrontam, desde o soco ao beirado, produzem no todo uma expressão de sobreposição de pequenos
graus de profundidade no mesmo plano. As mesmas superfícies pretendem conferir a esta sobreposição
aparente também um dinamismo e uma dissonância que se completam com a liberdade de colocação das
fenestrações das janelas e da porta de entrada, no sentido do observador.” (Consiglieri, 1995, p.76)
106
Período Holandês fundado em 1917 por Theo Van Doesburg. Na procura de uma nova imagem, ficou
caracterizada pelos componentes elementares das cores primárias, formas direitas, rectilíneas
constituídas por linhas horizontais e verticais. Antigos ideais de beleza teriam de ser renunciados em prol
de uma nova consciência que tivesse a capacidade de representar o espírito daquele período. Este estilo
fora publicado até 1932.
[…] Only when we surge a building´s constructive elements, the form logically derived
from them and empirical knowledge with what we can, in serious terms, call play, or art,
are we heading the right way. Technology and economics must always be intertwined
with a kind of life-enriching charm.108 (Aalto, 1953)
Ilustração 44 – Experiencias realizadas com mais de cinquenta tipos de tijolo por Alvar Aalto, tanto nas paredes como no piso do pátio.
(Ilustração nossa, 2013)
107
Tradução nossa - No meu caso, trata-se de uma espécie de jogo com elementos estéticos e
construtivos, materiais usados frequentemente na produção industrial. A construção essencial dos meus
detalhes arquitectónicos surgiu desse modo. Acredito firmemente que esta fase prévia de trabalho, quase
de laboratório, deve ser o mais livre possível, muitas vezes completamente desprovida de quaisquer
considerações de utilidade, para alcançar os resultados desejados.
108
Tradução nossa - Apenas quando surgem os elementos construtivos de um edifício, a forma
logicamente deriva deles e do conhecimento empírico que podemos, em termos sérios, chamar de jogo
ou arte, vamos direccionados no caminho certo. Tecnologicamente e economicamente devem ser sempre
interligados com uma espécie de charme que enriqueça a vida. Texto retirado na exposição do Museu
Alvar Aalto em Jyväskylä, Finlândia. Publicado originalmente na revista Arkkitehti número 9 -10 em 1953.
edificação com uma figura geométrica perfeita, o quadrado. A este propósito citamos
um belo texto escrito por Le Corbusier no seu livro, “Por uma arquitectura”.
[…] Primitive man has brought his chariot to a stop, he decides that here shall be his
native soil. He chooses a glade, he cuts down the trees which are to close, he levels the
earth around; he opens up the road which will carry him to the river... He surrounds this
tent with a palisade in which he arranges a doorway. The road is as straight as he can
manage it with these implements, his arms and his time. The pegs of his tent describe a
square, a hexagon or an octagon. The palisade forms a rectangle whose four angles
are equal. The door of his hut is on the axis of the enclosure-and the door of the
enclosure faces exactly the door of the hut.109 (Corbusier, 2008, p. 69)
Richard Weston sugere que Alvar Aalto, depois de uma viagem realizada pela Grécia
em 1953, desenha nos seus cadernos de viagem os remanescentes do classicismo
Grego. Regista os vestígios de uma civilização serem constantemente reclamados
pelos montes ao seu redor, numa batalha desigual contra a natureza, na qual esta
será a eterna vencedora. Alvar Aalto com esse conhecimento e consciência, deixa-se
contaminar e desenha as paredes do pátio como se fossem ruínas, pois é nisso que
elas um dia se tornarão. “[...] arquitecture, as Aldo Rossi so beautifully expressed it, "is
made possible by the confrontation of a precise form with time and the elements, a
confrontation which [lasts] until the form [is] destroyed in the process of this combat "110
(Weston, 1995, p.121).
Ilustração 45 – Anfiteatro em Delfos. (Aalto, 1929) Ilustração 46 – Porta dos Leões, Micenas. (Aalto, 1953)
109
Tradução nossa - O homem primitivo parou a sua carroça, ele decide que aqui será a sua terra nativa.
Escolhe uma clareira, ele corta as árvores que estão mais próximas, ele nivela a terra á sua volta; ele
abre o caminho que o irá levar até ao rio… ele cerca a sua tenda com paliçadas ao qual ergue uma porta.
A estrada fica tão direita quanto lhe é possível através dos seus braços, e do tempo. As estacas da sua
tenda descrevem um quadrado, um hexágono, ou um octógono. A paliçada forma um rectângulo cujos
quatro ângulos são iguais. A porta da sua cabana está a eixo com o recinto, e a porta do recinto está
exactamente á frente da porta da cabana.
110
Tradução nossa - Tal como Aldo Rossi exprimiu com grande beleza, a arquitectura só é possível
através da confrontação de uma forma precisa com o tempo e os seus elementos, um confronto que irá
durar até que a forma seja destruída no processo desse combate.
“[...] if a strong, culturally orientated general will doesn't intercede and steer our lives in
a better direction, the beautiful rising curve do civilization will rapidly sink to its own
demise"111 (Aalto, 1958, p. 163).
Ilustração 47 – Planta de localização com identificação dos volumes identificados. (Ilustração nossa, 2013)
111
Tradução nossa - Se não surgir uma vontade culturalmente orientada, muito forte, e que consiga virar
a nossas vidas numa direcção mais correcta, a nossa bela curva civilizacional em crescimento,
rapidamente afundar-se-á até a sua morte” - Discurso proferido por Alvar Aalto na comemoração dos cem
anos Jubilee do Lycée de Jyväskylä, Finlândia.
Identificação de acessos
Esta transição entre o percurso público / social e o percurso privado, mais íntimo, é
marcado de modos distintos. A primeira marcação é realizada pela colocação de uma
porta no percurso que segue para o quarto das visitas. A segunda marcação é feita
pelo estreitamento na largura do corredor no percurso que segue para os quartos
principais.
Identificação do pátio(s)
Quando este caso de estudo foi dissecado na fase inicial da investigação, baseado
apenas em fotografias, desenhos técnicos e outros documentos, no nosso
entendimento existia apenas um pátio, definido pelo vazio que se constrói pela
Ilustração 54 – O pátio construído pela subtracção matéria. Ilustração 55 – O pátio construído pelos diferentes limites.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
112
Sobre a aplicação da subtracção nas diversas obras deste autor, Victor Consiglieri conclui: “[…] Para
Alvar Aalto, excluindo meia dúzia de edifícios de composição aberta neoplástica, a subtracção foi uma
linguagem constante, aplicada em formas agrupadas sem perder a unidade geral. A sua poética das
subtracções, das deformações e das angulosidades expressionistas tece o objectivo de dar ao invólucro
exterior uma acentuada movimentação.” (Consiglieri, 1995, p. 146)
a cinzento, no esquema para que seja perceptível a sua relação posicional, escala e
importância dos mesmos, relativamente a este caso de estudo.
Ilustração 56 – Vista do segundo pátio. (Ilustração nossa, 2013) lustração 57 – Vista da casa a partir do afloramento rochoso.
(IlonaK_PL, 2008)
O referido pátio construído pela subtracção da matéria é entendido como uma área
pública / social da habitação, uma vez que se assume como um espaço que nos
recebe, uma antecâmara que nos acolhe antes de acedermos ao interior da casa.
A leitura dos dois pátios, tendo como suporte teórico a noção referente à interacção
dos espaços, segundo Rudolf Arnheim113, compele-nos investigar e verificar o desenho
de modo a clarificar o movimento de expansão114 existente nestes dois espaços.
[…] O contorno em linha recta é a excepção que confirma a regra […] cria exactamente
as mesmas condições figurativas de ambos os lados e, por essa razão, os valores
antagónicos evocados pela fronteira equilibram-se uns aos outros em todos os pontos.
[…] O equilíbrio é o máximo que numa interacção dinâmica das forças se pode
aproximar da paralisação, mas de modo nenhum é inércia estática.” (Arnheim, 1977, p.
66)
113
Rudolf Arnheim, nasceu a 15 Julho de 1904 em Berlim, Alemanha. Estudou psicologia Gestalt na
universidade de Berlim aplicando-a nas artes. Foi um teórico nas artes, filmes e psicólogo perceptual.
Faleceu a 9 Junho de 2007 na cidade de Ann Arbor, Estados Unidos América.
114
No livro de Rudolf Arnheim “A dinâmica da forma arquitectónica”, o autor descreve, segundo Theodor
Lipps no tema Interacção dos espaços, como o movimento de expansão é controlada pela contra-
actividade e contra-pressão dos espaços.
No que toca às pressões e contra pressões existentes nos espaços, Rudolf Arnheim
afirma como os limites podem revelar a existência ou inexistência da estabilidade
perceptiva.
Não sendo apenas resultante da observação no local, mas também pelas fotografias
de vários autores, em diferentes alturas do ano, podemos verificar que a casa possui
duas leituras distintas e possíveis. Estas verificam-se pela confrontação da
materialidade edificada com a presença, ou não, da neve na paisagem em redor da
habitação.
115
Livro de Rudolf Arnheim “A dinâmica da forma arquitectónica”, o autor descreve a teoria segundo
Theodor Lipps sobre o tema Interacção dos espaços.
Ilustração 58 – Da esquerda para a direita; Casa de Verão durante o inverno (Malengier, 2009), durante o verão (Ilustração nossa,
2013), diferenciação entre o exterior a branco do edifício e o interior do pátio na cor natural do tijolo. (Ilustração nossa, 2013)
Uma primeira leitura aponta para o facto desta, não apenas pela sua materialidade,
revelar a cor ou a sua ausência. A casa é construída em alvenaria de tijolo maciço (à
excepção do volume onde está o quarto das visitas), deixando o interior da edificação
na cor natural, revelando a expressão e textura deste tipo de tijolo. Enquanto o exterior
da casa é pintado na cor branco, evidenciando um claro contraste entre o interior e
exterior do pátio. Esta característica em si distingue a existência de duas realidades,
separando-as claramente e evidenciando o exterior das fachadas, viradas para a
floresta circundante, e o interior do pátio.
O recurso à utilização da cor branca, no exterior, torna evidente que a casa assume
duas posições em relação à paisagem, ao seu redor, quando este se encontra
coberta, ou não, de neve. No verão (altura da visita ao caso de estudo) é a época do
ano em que a casa se assume perante toda a sua envolvente, mesmo rodeada de
árvores. É no verão que ela (casa) se evidencia, encontrando-se sempre visível para
quem se aproxima de barco, mesmo a alguma distância, assumindo uma posição
claríssima no meio da floresta.
No inverno durante os meses com neve e em virtude da sua pintura na cor branca, o
exterior desta casa revela uma camuflagem natural que permite desmaterializar o
volume edificado, confundindo-o com a paisagem envolvente. Existe apenas um
espaço da casa que se destaca no meio do manto branco, o pátio. É neste período de
inverno, mesmo não usufruindo deste espaço de um modo tão constante como no
verão, que o pátio se destaca entre o branco da neve. É nesta altura que se reforça o
contraste existente entre o interior, na cor natural do tijolo, e o exterior do volume, na
cor branca confundindo-se na natureza circundante.
Alvar Aalto, em 1926, escreve um texto evidenciando a clara consciência sobre esta
dicotomia na casa Finlandesa: “[…] Una casa finlandesa tiene que tener dos caras:
una es la que está en relación directa con el entorno exterior, y la otra, la faz de
invierno, que se evidencia en el diseño del interior tendente a enfatizar el calor.” (Aalto,
1926, p.70)
Neste vazio construído o elemento central que se destaca-se é o lugar do fogo. Uma
marcação no centro do pátio relembra-nos a sua primeira função. Um espaço que
acomodava e dominava o fogo, para as diversas funções necessárias para aumentar
os níveis de conforto, transversais ao modo de habitar. Outro motivo que se realça e
reveste os limites do pátio, são as mais de cinquenta experiencias que podem ser
observadas nas paredes e pavimento, envolvendo e construindo o vazio.
116
Em 1926, Alvar Aalto escreve um texto intitulado “De los escalones de entrada al cuarto de estar”.
Nele descreve o modo como o espaço exterior se deve relacionar com o espaço interior, numa casa com
pátio: “[…] Nuestra casa bien puede tener un carácter cerrado – como ocurre también en los países
meridionales, aunque por otros motivos -, pero los elementos de protección de nuestras casas están, casi
invariablemente, mal colocados. La correcta disposición de nuestros escalones de entrada es justo en el
lugar por el que entramos desde la calle o desde el camino del jardín. El cerramiento del jardín es el
auténtico cerramiento exterior de la casa. Dentro de un recinto así delimitado ha de haber libre circulación,
no sólo entre el edificio y el jardín, sino incluso entre las habitaciones y el jardín. El jardín es parte
orgánica de la casa, lo mismo que las habitaciones. El acceso desde el patio de la cocina a las
habitaciones debe implicar menos contrastes que el que se produce desde la calle o la carretera al jardín.
[…] La zona ajardinada y la casa forman, en mi opinión, un organismo entrelazado y coherente.” (Aalto,
1926, p.70-71).
O autor Enrique de Teresa, no seu estudo intitulado “Tránsitos de la forma – Presencia de Le Corbusier
en la obra de Stirling y Siza”, sobre o texto supracitado de Alvar Aalto, no seu entender, complementa e
coloca a palavra pátio, entre parênteses, ao lado onde se lê a palavra jardín. (p. 184)
Ilustração 59 – A sala, o pátio e o lago Päijänne. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 60 – O lugar do fogo no centro do
pátio. (Ilustração nossa, 2013)
“[…] Una fogata situada en el centro domina todo el grupo de edificios. En cuanto a su
utilidad y carácter acogedor sobre la nieve transmiten al hombre una sensación
agradable de calor, casi mística.”117 (Aalto, 1953, p. 323)
Construindo a sua Casa de Verão, um espaço pessoal e íntimo, Alvar Aalto teve a
oportunidade de testar e comprovar alguns jogos, através da utilização de diversos
tipos de tijolo maciço e estereotomia variada. Verificar qual o seu comportamento
quando enfrentado com os vários elementos, responsáveis pela sua alteração e
erosão. Em suma, para aferir o modo como os vários tijolos se comportam e quais as
suas reacções perante o tempo, permitindo várias leituras perante os nossos vários
níveis sensoriais, através da nossa percepção.
[…] esto se debe al carácter experimental que se la ha querido dar. Así, las paredes del
patio central están divididas en aproximadamente cincuenta campos diferentes, donde
se ha probado la eficacia de diversos materiales cerámicos […] La experimentación de
formas se combina siempre con pruebas de durabilidad, algo con lo que los arquitectos
están acostumbrados a tratar día tras día. Lo mismo podemos decir el revestimiento del
patio central, donde años tras años probarán los diversos tratamientos técnicos. 118
(Aalto, 1953, p. 323)
117
Tradução nossa - Uma fogueira situada no centro domina todo o grupo de edifícios. Enquanto a sua
utilidade e carácter acolhedor, assemelha-se a uma fogueira de um acampamento na qual o fogo e o seu
reflexo sobre a neve transmitem ao homem uma sensação agradável de calor, quase mística. – Citação
original na revista Arkkitehti n.º 9/10, 1953.
118
Tradução nossa - Isto deve-se ao carácter experimental que se quis dar. Assim, as paredes do pátio
central estão divididas em aproximadamente cinquenta experiências diferentes, onde se quer provar a
eficácia dos diversos materiais cerâmicos (…) A experimentação de formas combina sempre com provas
de durabilidade, algo que os arquitectos estão acostumados a lidar dia após dia. O mesmo podemos dizer
sobre o revestimento do pátio central, através dos anos atrás de anos provarão o comportamento dos
diversos tratamentos técnicos. – Citação original na revista Arkkitehti n.º 9/10, 1953.
Ilustração 61 – Os vários tipos de tijolo para realizar as experiencias nas paredes e pavimento do pátio. (Ilustração nossa, 2013)
Os espaços em redor do pátio e o próprio pátio podem ser entendidos pela seguinte
leitura: A sala representa o habitar. O lago Päijänne e a floresta assumem-se como a
natureza que os envolve e o mediador, entre estas duas realidades, é o pátio, o lugar
do fogo e testemunha da afirmação Humana. Este espaço assume um carácter
simbólico na capacidade de se transformar na constatação e afirmação de uma
possível coexistência harmoniosa entre o Homem e a natureza.
Alvar Aalto era um homem de formação clássica, terminou o seu curso na década dos
anos vinte. Esta sua formação na tradição clássica induziu a explorar uma leitura do
pátio, utilizando um prisma muito específico, tendo como base os conceitos clássicos
Romanos, com o objectivo de compreender se existe alguma relação, directa ou
indirecta, com este tipo de pensamento no desenho arquitectónico.
Não só pela formação de Alvar Alto, mas também pela leitura, que tem vindo a revelar-
se ao longo deste estudo119, remeteu-nos para a confrontação do pátio com a tipologia
associada ao pátio Romano, mais precisamente o atrium120. Curiosamente o pátio
deste caso de estudo, comunga com uma das funções do atrium Romano, como é
possível constatar partindo da seguinte citação:
119
Texto escrito em 1926 por Alvar Aalto, com o titulo “De los escalones de entrada al cuarto de estar”:
“[…] Es el símbolo del espacio exterior bajo el proprio techo de la casa, remotamente emparentado con el
patio de la casa patricia pompeyana, cuyo techo real es el cielo. […] Muestro adrede una imagen de las
ruinas de una casa pompeyana; de allí sale un acorde puro, compuesto por el conjunto de pilares y unos
pocos muebles, un ejemplo clásico de unión entre un espacio exterior sólido y las formas representativas
de la intimidad hogareña.” (Aalto, 1926, p.72-73)
120
Do latim Atrium, é um espaço central da casa a descoberto, providenciava luz natural e ventilação
para o interior da habitação, no qual se dispunham as divisões da casa.
[…] A típica casa urbana do último período romano tinha dois pátios rectangulares, um
mais pequeno denominado atrium e o de maior dimensão peristilo, por vezes existia um
terceiro espaço aberto, a horta. O átrio e a sua área contígua conformavam a secção
mais pública da casa, por sua vez o peristilo constituía a mais privada, de uso
exclusivamente familiar. (Schoenauer, 1984, p. 228)
Na casa Romana, entre o Século um (I) e dois (II) D.C., existiam dois espaços o atrium
e o peristilo. Segundo a descrição de Norberg Schoenauer, o atrium era um espaço
para a recepção de visitas, claramente de cariz social / público, percorrido e
vivenciado tanto pelas pessoas que visitavam como pelos donos da casa.
Quando fazemos esta leitura, não queremos com isso afirmar categoricamente que os
pátios, deste caso de estudo, sejam réplicas seguindo os cânones ou técnicas
clássicas empregues na construção de tais espaços. Apenas reforçamos que são
pátios com uma possível semelhança, ou leitura, coincidente com a utilização público
ou privado, assemelhando-se ao uso empregue no pensamento clássico.
Ao que concerne o pátio construído pela subtracção da matéria, ele possui a forma de
um quadrado perfeito, por isso à primeira vista não se enquadra em quaisquer das
proporções recomendadas. Um olhar mais atento sobre a planta do presente caso de
estudo revela a utilização de uma destas regras, não no dimensionamento do pátio,
mas sim na proporção da casa, utilizando-se como matriz geométrica a forma
quadrada do pátio, aferimos que as dimensões do conjunto edificado são
determinadas pela raiz de dois121, definindo para tal os limites da casa.
Ilustração 62 – Da esquerda para a direita, Planta com demonstração na utilização da raiz de dois na proporção da casa a partir do
pátio (ilustração nossa, 2013). Esquemas explicativos da proporção do atrium segundo Vitrúvio. (Maciel, 2006)
O corte permitiu constatar que uma das três regras de Vitrúvio é compatível com a
altura mais baixa da casa no pátio através da proporção de um quarto da altura da raiz
de dois (√2 é o tipo 3 nos esquemas de Vitrúvio), continuando a manifestar-se na
altura do quarto das visitas. Mais uma vez é visível como o pátio é gerador da
proporção na casa, mais propriamente na definição da sua altura máxima, utilizando
Alvar Aalto uma das regras (reinventando-a) da proporção expostas por Vitrúvio.
121
Raiz de dois (√2) é definido como sendo o único número real positivo que, quando multiplicado por si
mesmo é igual a dois.
Ilustração 63 – Corte demonstrando a utilização de 1/4 da altura da raiz de dois, na parte mais baixa da casa. (ilustração nossa, 2013)
Outra proporção que aferiu ser compatível com a altura da casa, agora na parte mais
alta e a dimensão do pátio, foi a regra proporcional de 3:2 (tipo 2 dos esquemas de
Vitrúvio), mas rodada a noventa graus (90º) da altura do atrium (visto que a norma
clássica manda que seja a altura da proporção e no caso de estudo confirma-se que
se utiliza a largura).
Ilustração 64 – Corte com demonstração na utilização da proporção 3/2 entre a largura do pátio e a altura da casa. (Ilustração nossa,
2013)
Partindo destas ilações, podemos afirmar que a proporção da casa, quer em planta
quer em corte, teve como matriz as dimensões da figura do pátio. Este assume um
papel relevante na dimensão formal, pela utilização da raiz de dois na Casa de Verão
em Muuratsalo.
3.1.2.1. PROGRAMA
122
Casa Rocha Ribeiro, da autoria do Arqt.º Álvaro Siza Vieira, construída na Maia em 1969.
o problema dado, sendo também esta premissa que irá revelar a capacidade de Siza
para transformar os programas.123
Ilustração 67 – Esquiço da Casa Beires. (Vieira) Ilustração 68 – Maqueta da ruína abstracta (Gomes, 2011)
123
Programa, ideia base ao nível programático que o cliente informa ao arquitecto, como situação
contingente ao projecto. É a partir do programa base que o arquitecto trabalha o seu projecto, podendo
este ser sugerido ou alterado pelo próprio em situações muito específicas.
124
Tradução nossa - Quando me encarregaram do projecto disse para mim mesmo: outro terreno
horrível! – Entrevista a Álvaro Siza Vieira. Artigo de Rainer Franke - Siza en Bauwelt vol.81 no. 29/30, 10
Agosto de 1990.
Este foi o mote para que a casa fosse desenvolvida em torno de um pequeno pátio, tal
como o cliente ambicionava. Onde a casa explodiu e onde a matéria foi subtraída
resulta o vazio, construindo o pátio de modo natural. Esta analogia a uma explosão
associa-se a uma ruína abstracta, a qual será fechada através de uma cortina de
vidro125.
Este plano de vidro recortado, limitando a sala e o próprio terreno, marca a charneira
entre o vazio e cheio, o exterior e o interior, formando um pátio que nos remete para a
natureza, através do jardim, construindo mais um compartimento da casa. Neste limite
é perceptível a permeabilidade visual gerada através do uso da superfície
envidraçada, um vão de grandes dimensões que se projecta sobre o jardim e sobre o
pátio. Como se entre o construído e o natural não fosse possível estabelecer qualquer
tipo de distância, estes dois mundos passam a estar interligados através da proposta
arquitectónica, ao construir esta pele transparente.126
Ilustração 69 – Vista do pano de vidro. (Alves) Ilustração 70 – As heras apoderam-se lentamente do pátio.
(Alves)
125
Cortina de vidro, a superfície envidraçada marca a transição entre a matéria dos planos exteriores
(reboco pintado), reforçando a referida subtracção com uma outra natureza matérica no interior do volume
puro.
126
William Curtis, sobre o plano transparente destaca: “[…] La noción de un recinto se articula, a veces,
en estratos reales de paredes, en transparencias, o bien en implícitos receptáculos espaciales. Y es aquí
donde el cubismo se revela crucial para la propia idea que tiene Siza del espacio arquitectónico, ya que le
permitió trabajar con comprensiones y expansiones muy poderosas, y combinar formas macizas con
volúmenes flotantes en un juego de cambiantes percepciones de profundidad. (Curtis, 1995, p.22)
[…] esta ruptura estende-se ao próprio programa, pois se as casas anteriores eram
discretas, introvertidas, e com uma participação distante do contexto urbano, a casa
Beires, mais que um mero participante submisso, assume-se como construção critica
subversivo dissidente topográfico, que apesar de cumprir a regulamentação local,
produz um comentário à banalidade demográfica de contexto urbano. (Martins e Costa,
1997, p. 164)
O sistema construtivo da casa assenta numa lógica em que as duas lajes de betão
armado, do primeiro piso e da cobertura, são apoiadas em paredes de granito. São
utilizados dois pilares metálicos que servem para suportar a varanda em consola no
alçado da ruína abstracta. No lado exterior da parede de granito, levanta-se um pano
de alvenaria de tijolo e na sua espessura ficam os pilares e lintéis que sustentam a
janela corrida no tardoz da casa. A escolha deste sistema construtivo resulta numa
procura de solucionar os problemas térmicos, mas sem o conhecimento técnico
necessário para a resolução dos mesmos.
[…] este sistema construtivo prosaico, e até mesmo medíocre, resulta, em grande
parte, das condições socioeconómicas nos anos setenta, após o primeiro choque de
petróleo. Pela primeira vez, a evidência da crise energética, exigia dos arquitectos a
resolução dos problemas de isolamento térmico. A falta do necessário apoio térmico,
tornou o ensaio e erro a única abordagem possível; como uma película, o pano de
alvenaria que reveste as fachadas resulta desta pesquisa. (Martins e Costa, 1997, p.
169)
Num comentário de Souto Moura, a uma publicação da editora Gustavo Gili127, sugere
a referência sobre esta cortina de vidro: “[…] Ao carácter fractal desta cortina de vidro,
não é estranha a Biblioteca da Universidade de Cambridge de James Stirling128;
sugestão aparentemente recolhida por Siza no curso de uma visita de estudo”. (Souto
Moura, 1997, p.169)
127
Editorial Gustavo Gili, empresa editorial especializada em livros de arquitectura, design, moda,
fotografia e arte.
128
James Frazer Stirling, nasceu a 22 Abril de 1926 em Glasgow, Inglaterra. Formou-se em arquitectura
na Universidade de Liverpool em 1950. Morreu a 25 Junho de 1992 em Londres, Inglaterra.
Ilustração 73 – Maqueta, piso térreo. (Gomes, 2011) Ilustração 74 – Maqueta, primeiro piso. (Gomes, 2011)
Ainda no piso térreo podemos perceber que as paredes são ortogonais às paredes
exteriores, enquanto no primeiro piso existe uma configuração radial, em torno da
cortina de vidro. Em ambos os pisos encontramos um sistema muito inteligente de
portas de correr e divisórias, promovendo uma transição funcional entre o espaço
interior e a caixilharia exterior, permitindo a circulação periférica em torno do alçado.
Ilustração 75 – Maqueta, vista do portão de entrada. Ilustração 76 – Maqueta, pátio interior na parte posterior.
(Gomes, 2011) (Gomes, 2011)
A Casa Beires revela uma estratégia que prevalece no projecto, utilizando um simples
processo através da subtracção de um pedaço do volume, possibilitando desenhar um
alçado e por esta via projectar a maior parte dos espaços, tal como o programa
exigia.129
129
Sobre a Casa Beires, Antón Capitel sintetiza: “[…] Pero ello no es del todo exacto, pues la casa,
finalmente, resulta de la convivencia entre los ideas de casa compacta y casa patio, o, si se prefiere, de
casa de volumen y geometría ortogonal y casa de volumen irracional y oblicuo. Como en Scharoun, como
en Aalto, una dobla naturaleza arquitectónica, pero también como en Le Corbusier, una integración
perfecta entre ambas. No obstante, a diferencia del maestro suizo en la villa Savoie, la integración de las
dos ideas de arquitectura es, en la casa Beires, expresión enfática.” (Capitel, 2012, p.139 e 141)
Ilustração 77 – Perspectiva axonométrica. (Gomes, 2011) Ilustração 78 – Desenhos Casa Beires, de cima para
baixo; Alçado Poente, planta de coberturas, alçado
Nascente. (Gomes, 2011)
Ilustração 80 – Planta programa funcional, piso térreo. Ilustração 81 – Planta programa funcional, 1º andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 82 – Esquema identificação espaços, piso térreo. Ilustração 83 – Esquema identificação espaços, 1º andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Identificação de acessos
Ilustração 86 – Esquema circulação geral, piso térreo. Ilustração 87 – Esquema circulação geral, 1º andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Quando subimos para o primeiro andar percebemos que este piso é marcado pelos
espaços dos quartos. Existindo um inequívoco reforço dos níveis de privacidade, pelo
que a circulação é feita pelo interior do edifício, e por oposição ao piso térreo, não
Ilustração 88 – Esquema circulação pública / privada, piso térreo. Ilustração 89 – Esquema circulação pública / privada, 1ºandar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
No que concerne o percurso privado no piso térreo, verificamos que este comunica
com a cozinha, quarto da criada, dispensa e instalações sanitárias. Não existindo
qualquer relação visual entre este (a circulação privada) e o pátio, detectando-se como
excepção um acesso mais escondido no terminus deste corredor. No primeiro piso
corrobora a existência de um percurso único de âmbito privado.
Identificação do pátio(s)
A ilustração 90 assinala a existência de dois pátios, uma casa entre dois vazios. Um
identificado na cor vermelha como pátio público / social e um outro identificado na cor
azul como privado. Mas esta identificação não foi tão directa desde o inicio, até porque
o pátio, que confronta com a casa, assume-se como um vazio construído por um
limite, que dá a impressão de ter sido geometricamente talhado, tendo sido subtraído
parte da matéria do quadrado social. Este motivo, a subtracção, é por si
suficientemente forte para reter o nosso olhar e a presença deste vazio
intencionalmente construído, dominando espacialmente todo o terreno.
Num primeiro olhar apenas se identifica este pátio. Um vazio definido pela subtracção
geométrica da matéria do volume edificado. Este pátio possui dois limites, um
delineado pelo plano envidraçado da casa, enquanto o outro é pelo muro que desenha
a charneira entre a rua e o terreno. Entre o muro e a casa, Siza Vieira coloca
intencionalmente um elemento vertical130, gerando uma marcação pontual que baliza e
enquadra o vazio, sugerindo onde terminava (ou começava) o volume edificado, se
este não tivesse sido “explodido”.
130
Sobre o elemento vertical Sérgio Fernandez explica: “[…] um pequeno pilar marcará, no lado oposto, o
cunhal do volume imaginário que encerra o espaço exterior para o qual se abrem salas e quartos. Neste
as paredes ausentes serão substituídas por um delicado tratamento com elementos vegetais que fecham
o espaço aberto e o distanciam da rua.” (Fernandez, 1988, p.199)
Ilustração 91 – Esquiço com o elemento vertical. (Vieira) Ilustração 92 – Identificação do elemento vertical.
(Alves)
131
A mesma dualidade verifica-se na Casa de Verão em Muuratsalo, de Alvar Aalto, através da ausência
de cor no intradorso do edifício e pela pintura a branco no extradorso, e no caso do Pavilhão Carlos
Ramos, Siza Vieira, igualmente alvo de estudo neste trabalho mais à frente.
(através da sala, outro espaço também identificado como público / social), sem termos
de passar por qualquer um dos acessos identificados anteriormente. Assim o pátio
adquire a função do átrio exterior, para a recepção de convidados ou visitas informais,
e está virado a Sul, usufruindo da passagem do sol nos seus quadrantes.
Ilustração 93 – Vista do pátio a partir da sala. (Alves) Ilustração 94 – Perspectiva a partir do pátio (Gomes, 2011)
O único contacto visual entre este vazio e o interior da casa, é feito através da
abertura de vãos existentes no paramento Norte, mais precisamente na cozinha e no
corredor de distribuição para os quartos no primeiro andar. Estes dois espaços no
interior da casa, virados para este pátio, foram considerados privados (como já
verificado anteriormente), reforçando a nossa leitura (deste pátio) como um lugar
íntimo e privado.
Ilustração 95 – Os vãos para o segundo pátio, Ilustração 96 – Maqueta com o segundo pátio. (Gomes, 2011)
alçado Norte. (Alves)
132
Teoria de Theodor Lipps exposta no livro “A dinâmica da forma arquitectónica tema interacção dos
espaços” de Rudolf Arheim.
A Casa Beires133 insere-se num contexto urbano com uma envolvente que revelava
muito pouco interesse a Siza Vieira. Um projecto em que o autor decidiu fazer explodir
o edifício e dessa explosão resultou um vazio, um pátio envolvido pela ruína, como
gentilmente Paulo Martins e Alexandre Costa134 caracterizaram esta formulação
projectual.
A explosão retirou matéria ao volume edificado e por sua vez deixou o vazio que
imediatamente se torna pátio. Um pátio construído pela subtracção de matéria em
oposição a um segundo, cujos limites resultam da sua conformação aos paramentos
do muro e do alçado Norte desta casa. Um pátio que pertence à casa a Sul e um pátio
que serve a casa a Norte.
133
Sobre a Casa Beires, o livro História de Arte Portuguesa destaca: “Mas a obra mais influente de Siza
neste período foi a Casa Beires […] As formas da casa inspiram-se decididamente no modernismo dos
anos 20 e 30. […] De facto, estas obras, bem como as de outros autores do Porto, demonstram um
progressivo abandono das conotações vernaculares, quer construtivas, quer urbanas, um retorno a
volumetrias simplificadas […]” (Ferreira, 1995, p.554)
134
“[…] sugere-se teatralmente, como um véu protector, montada num andaime contingente, que
acidentalmente cobre as ruínas dispersas de uma explosão fictícia.” – Citação retirada no livro “Álvaro
Siza, 1954 – 1976” da editora Blau, texto de Paulo Martins e Alexandre Costa, 1997.
135
“[…] esta ruptura estende-se ao próprio programa, pois se as casas anteriores eram discretas,
introvertidas, e com uma participação distante do contexto urbano, a casa Beires, mais que um mero
participante submisso, assume-se como construção critica subversivo dissidente topográfico, que apesar
de cumprir a regulamentação local, produz um comentário à banalidade demográfica de contexto urbano.”
- Citação retirada no livro “Álvaro Siza, 1954 – 1976” da editora Blau, texto de Paulo Martins e Alexandre
Costa, 1997.
136
A Casa Beires é igualmente conhecida por “Casa Bomba”. Siza Vieira através dos seus desenhos faz
“explodir” a casa em 1973. No mesmo ano em que a sua esposa Maria Antónia Siza Vieira faleceu.
No que respeita ao peristilo, era um espaço apenas acessível às pessoas mais íntimas
da casa, passando pelos donos da habitação, familiares ou amigos muito próximos,
logo assumindo um cariz privado. Esta leitura da casa Romana conforma, na nossa
leitura, o segundo pátio localizado no tardoz da Casa Beires, igualmente de cariz
privado.
Deste modo infere-se uma afinidade contemporânea entre os pátios, do presente caso
de estudo, ao nível da funcionalidade programática e a lógica dos espaços, dentro da
tradição clássica, definida também como pátios na casa Romana138.
Ilustração 97 – Planta Casa Beires, leitura do atrium Ilustração 98 – Planta da “Casa del colonnato tuscanico” em
e peristilo. (ilustração nossa, 2013) Herculano, construída nos primeiros anos do Séc. I D.C. (Irelli)
137
Palavra em latim para a designação da casa Romana, eram casas pertencentes às famílias com um
certo poder económico. Localizadas em quase todas as cidades espalhadas pelo território do império
Romano.
138
Esta aferição dos dois pátios da Casa Beires ao pensamento de tradição clássica, é igualmente
verificada no caso de estudo da Casa de Verão de Alvar Aalto.
Ilustração 99 – Plantas esquemáticas sobre as paredes internas em ambos os pisos. (Ilustração nossa, 2013)
Focando-nos no pátio construído pela ausência de matéria, este vazio possui uma
proporção muito próxima de uma das três regras a aplicar no atrium, segundo Vitrúvio,
sendo esta a raiz de dois.
139
A Casa de Verão de Alvar Aalto.
140
Através dos escritos nos dez livros com o título “Tratado de Arquitectura”de Vitrúvio.
Ilustração 100 – No piso térreo a dimensão do pátio aproxima-se da proporção do quadrado. No primeiro piso verificamos como o pátio
tem como base a proporção Vitrúviana, através da utilização da raiz de dois no cálculo das suas dimensões. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 101 – Planta com proporção Vitrúviana no pátio privado e a dimensão do volume edificado é muito similar à proporção da
raiz de dois (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 102 – A altura do pátio privado coincide com uma directriz na proporção Vitrúviana, em 1/4 da altura da raiz de dois.
(Ilustração nossa, 2013)
Confrontando o desenho da raiz de dois tendo como base o pátio privado, aferimos
como uma das regras Vitrúvianas, na definição da altura do volume que limita este
pátio, é cumprida de forma inequívoca e rigorosa. Verificamos que a platibanda deste
alçado tem como altura máxima um quarto (1/4) da altura da raiz de dois e encontra-se
também relacionada com a largura deste vazio, conforme é dito no livro o “Tratado de
Arquitectura” de Vitrúvio.
Ilustração 103 – O alçado revela uma aproximação da proporção 3:2, quer nos vãos do pátio público quer no corpo mais elevado.
(Ilustração nossa, 2013)
Säynätsalo é uma pequena ilha floresta rodeada pelo lago Päijänne. A cidade com o
mesmo nome, Säynätsalo, nasce, cresce e desenvolve-se em torno de uma fábrica
que processa madeira.
O envolvimento de Alvar Aalto com a ilha teve início em 1942, quando foi convidado a
elaborar um projecto para a pequena fábrica que então pretendia expandir-se. O
projecto não foi totalmente concretizado, embora ficou decidido construir-se o edifício
municipal, o qual Alvar Aalto implantou no topo do espaço público.
Ilustração 105 - Vista aérea sobre a ilha de Säynätsalo. Ilustração 106 – Projecto urbanístico para
(Câmara Municipal de Säynätsalo) Säynätsalo, 1944 – 1947. (Aalto, 1942)
Ilustração 107 – Maqueta da ilha de Säynätsalo com implantação do projecto urbanístico e localização da Câmara Municipal no centro.
(Ilustração nossa, 2013)
141
A Cúria, uma assembleia, município ou um tribunal, em que as questões públicas, oficiais ou religiosas
eram discutidas e onde as decisões eram tomadas.
que se podem encontrar nessa zona de Itália. “[...] Hill side town is the purest of all
forms, the unique and natural urban form."142 (Copans, 2003)
Ilustração 108 – Maqueta volumétrica da Câmara Municipal, esc. 1/400. Ilustração 109 – Alçado e corte da proposta com o
(Ilustração nossa, 2013) nome de “Cúria”. (Ilustração nossa, 2013)
O edifício é formado por três corpos. O primeiro corpo, disposta a Sul, alberga a
Biblioteca. O segundo corpo, encerrado a Este, Norte e Oeste, forma um U
construindo o pátio. Este corpo alberga os apartamentos para oficiais, escritórios e
salas reunião. O terceiro e último corpo é o elemento que se destaca na vertical, a
142
Tradução nossa - A cidade num monte é a mais pura de todas as formas, a forma urbana única e
natural. – Citação retirada documentário Arte vidéo, “Le Centre Municipal de Säynätsalo”, realizado por
Richard Copans, 2003.
143
Piso nobre.
144
Tradução nossa - Arquitectónicamente falando, a ideia fundamental por detrás deste edifício é a
seguinte: ele é definido numa encosta bastante íngreme, com um ou dois andares é disposto ao redor de
um pátio central, ou pátio.
145
Citação no Museu Alvar Aalto, Jyväskylä. Revista Arkkitehti – Finnish arq. review 9-10 / 1953.
torre que domina o canto Sudoeste e alberga no seu interior o espaço da Assembleia
Municipal.
Ilustração 110 – Vista Sul, a Biblioteca no piso superior e as lojas no piso inferior, actualmente já ocupadas pela mesma.
(Ilustração nossa, 2013)
Dois lances de escadas conduzem-nos até á entrada principal, ao nível do pátio. Este
é acedido por duas escadas: a primeira a Este, configura-se numa escada com um
desenho muito rígido e formal, é esta que nos conduz até uma pérgola, apontando
subtilmente para a entrada do edifício. Em oposição a esta escada, virada a Oeste,
existe um outro acesso ao pátio, com degraus cujos cobertores são forrados com relva
e o espelho é definido pela utilização de tábuas em madeira que suportam a terra.
Estes degraus relvados possuem ângulos livres ajudando a construir uma escada com
um desenho mais informal.
Ilustração 111 – Escadas de acesso ao pátio, lado Este. Ilustração 112 – Escadas de acesso ao pátio,
(Ilustração nossa, 2013) lado Oeste. (Ilustração nossa, 2013)
O autor elege para este projecto uma paleta muito restrita de materiais. Esta é
composta pela utilização de alvenaria tijolo maciço, pedra, madeira e cobre. De todos
estes materiais é o tijolo maciço que predomina, ao contrário dos materiais eleitos pelo
movimento moderno, que preferia o betão.
No entanto Alvar Aalto, neste projecto, não devolveu os tijolos que apresentavam
essas anomalias ou diferenças de fabrico, utilizou-os no edifício. Aceitou-os e tal como
numa sociedade marcada pela pluralidade e diferença, não sendo per si um tecido
regular, assim também o edifício, através dos seus alçado, assumiram essa marca,
essa textura, permitindo obter uma leitura de um edifício mais humanizado. A luz
natural quando toca e ilumina as paredes da Câmara revela inequivocamente esta
intenção.
Alvar Aalto afirmava que a utilização do tijolo fazia com que cada parede fosse única,
acentuando e revelando o talento do seu artesão.
Ilustração 113 – Vista do tijolo no exterior do edifício. Ilustração 114 – Vista do tijolo no interior do edifício. (Ilustração,
(Ilustração nossa, 2013) nossa, 2013)
O seu amigo e pintor Léger146 decidiu oferecer-se para elaborar a pintura a colocar na
Assembleia da nova Câmara Municipal. No entanto a comunidade rural não partilhava
o mesmo entusiasmo que Alvar Aalto tinha pelo trabalho do seu amigo Léger. Por esta
razão o arquitecto decidiu pagar, dos seus honorários, a pintura ao seu amigo.
Ilustração 115 - Vista dos vereadores para mesa do presidente. Ilustração 116 – Pintura do artista Francês Joseph Léger.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
146
Joseph Fernand Henri Léger, Pintor, Escultor e Cineasta Francês, Nasceu a 4 Fevereiro de 1881 em
Argentan, França. Morreu a 17 Agosto de 1955 em Gif-sur-Yvette, França.
pele. As cadeiras têm apoios de braços e nas costas estão inscritos os nomes de
todos os vereadores que ocuparam aquele lugar ao longo do tempo. O público pode
assistir aos trabalhos e sentar-se na lateral ou na retaguarda da sala. Curiosamente
estes bancos são os mais altos da assembleia.
Ilustração 117 – A mesa do presidente da Assembleia e os Ilustração 118 - Bancos em madeira reservados ao público.
lugares dos vereadores. (Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
A estrutura referente ao tecto da Assembleia Municipal foi desde sempre alvo de muita
especulação. Em relação a essa questão, Alvar Aalto respondia sempre com uma
explicação prosaica; justificando-se com a necessidade de providenciar ventilação
entre o tecto e o telhado. O que para tal conduziu à criação de um sistema estrutural
que permitia correr ambas as vigas, primária e secundária paralelamente, em vez de
ficarem com ângulos rectos como nos tectos convencionais.
Ilustração 119 – Da esquerda para a direita: a cadeira de um vereador com a identificação de quem o precedeu. As duas vigas do tecto
da Assembleia. As persianas que controlam e filtram a entrada de luz natural na Assembleia Municipal. (Ilustração nossa, 2013)
A entrada de luz natural é filtrada neste espaço por lâminas de madeira, propondo um
efeito similar ao dos vitrais nas igrejas. Essas persianas, verticais e horizontais,
ajudam a controlar a visão directa para o exterior. O espaço recebe uma luz filtrada e
ténue, criando um ambiente misterioso e solene.147
Observando o edifício do exterior, verificamos não ser possível abarcar nem sequer ter
a mínima percepção da simplicidade da forma quadrada, responsável por configurar a
Assembleia Municipal. O trajecto até a assembleia municipal é feito através de umas
escadas, em tijolo maciço, que ascendem do hall de entrada. Uma passagem circunda
a torre em três faces, terminando numa galeria ligeiramente elevada.Esta passagem
(pela sua forma) é responsável por retirar a leitura directa da forma (pura) da torre.
147
Juhani Pallasmaa descreve o espaço da Assembleia Municipal no seu livro “Os olhos da pele”, do
seguinte modo: “[…] O útero escuro do plenário da Prefeitura de Säynätsalo, de Alvar Aalto, recreia um
senso místico mitológico e de comunidade; a escuridão cria uma sensação de solidariedade e reforça a
força da palavra falada.” (Pallasmaa, 2011, p.46)
148
Ao longo de uma janela.
marca a sua passagem cíclica, o seu registo de luz desliza ao longo das paredes
interiores.
Esta galeria é sem dúvida pública, não só pela localização do seu acesso, que se
encontra mesmo ao lado do hall de entrada (convidando a subir e a explorar), mas
também através da materialidade das paredes e das escadas de tijolo. O material
pelas suas múltiplas utilizações constrói níveis de continuidade entre o exterior e o
interior.
Ilustração 120 – Da esquerda para a direita: candeeiro da Assembleia. Escadas de acesso para a Assembleia Municipal, na entrada
principal do edifício. Galeria de acesso à Assembleia. (Ilustração nossa, 2013)
Segundo Richard Weston, Alvar Aalto afirma, na memória descritiva do projecto (que
se encontra nos arquivos da fundação), que utiliza o pátio como matriz. Pretexto
projectual para o edifício parlamentar, em virtude do pátio preservar o valor herdado
dos tempos da antiga Grécia, Roma, Creta, até aos tempos medievais e
renascentistas. Este pressuposto explicita e confirma que durante o processo
projectual do edifício, este autor tinha em mente a referida imagem da Cúria.
Qualquer duvida que pudesse subsistir neste campo, é dissipada numa piada que
Göran Schildt149 relata a propósito desta questão: Veli Paatela, um assistente do
atelier de Alvar Aalto, relembra quando os membros da comissão para a Câmara
Municipal o questionaram, uma pequena e relativamente pobre comunidade, como a
deles, se necessitava de uma torre com dezassete metros altura, construída por tijolos
149
Göran Schildt Gustaf Ernst , Nasceu a 11 Março de 1917 em Helsínquia, Finlândia. Formou-se em
Psicologia. Grande amigo de Alvar Aalto, Schildt foi responsável por elaborar a Biografia do arquitecto
Finlandês. Morreu a 24 Março de 2009 na Ilha de Oak, Suécia, antiga província da Finlândia.
(material com um custo bastante elevado). Alvar Aalto respondeu: […] “Gentleman!
The world's most beautiful and most famous town hall, that of Siena, has a council
chamber 16 metres high. I propose that we build one that is 17 metres".150
Schildt sugere que um desenho feito á mão por Alvar Aalto, das torres de San
Gimigano em 1948, possa ter servido de inspiração directa para Säynätsalo. Esta
sugestão é reforçada por uma descrição que Aalto fez sobre a Assembleia Municipal,
as elevações como uma torre. Alvar Aalto escreveu num jornal de estudantes em
1956: “[…] the tower is not a tower at all but a culminating mass under which lies the
main symbol of a government, the council chamber."151 (Aalto, 1956, p.158)
Ilustração 121 – Esquiço da torre San Gimignano, Ilustração 122 – Esquiço da torre Assembleia Municipal em
província de Siena em Itália. (Aalto, 1948) Säynätsalo. (Ilustração nossa, 2013)
150
Tradução nossa - Meus senhores! A Câmara Municipal mais bonita e famosa do mundo, a de Siena,
possui uma Câmara da Assembleia com 16 metros de altura. Eu proponho que construamos uma com 17
metros.
151
Tradução nossa - A torre não é uma torre, é um culminar de massa no qual se encontra o principal
símbolo de um governo, a Câmara do Município.
Richard Weston afirma que a inspiração pela torre elevada deriva claramente das suas
amadas cidades situadas nos montes Italianos. Weston confirma, esta predilecção
constata-se em dois desenhos designados de "Culture House", de 1940, os quais se
encontram patentes nos arquivos de Alvar Aalto. Alguns investigadores apontam, com
uma quase certeza, que na época em que Aalto projectava o estudo para Säynätsalo,
ele visionava uma pequena acrópole152 para o desenvolvimento de actividades
culturais e lúdicas, uma aproximação no qual ele já tinha explorado a meio de 1920.
152
Parte da cidade construída na zona mais elevada.
153
Relatório encontra-se nos arquivos da Fundação Alvar Aalto.
154
Tradução nossa - Em edifícios com pátios centrais os corredores são muito curtos em comparação
com a área de superfície dos quartos. Corredores internos não devem nem podem ser usados em
edifícios públicos.
ao encontro do seu critério. A sua adopção foi claramente utilizada para revelar a
essência da natureza pública da Câmara Municipal.
Embora Schildt sugira que Aalto via o pátio como um lugar para reuniões públicas, o
modo como o pavimento é tratado deixa algumas dúvidas se esta seria a sua primeira
e única intenção projectual. A superfície pavimentada do pátio era mais relvada do que
pavimentado e não existe nenhum percurso que interligue os dois conjuntos de
degraus. Este espaço seria claramente mais atractivo e vivido pela comunidade
durante os meses de verão. É neste período do ano que a política adquire um
segundo plano, no que respeita ao usufruto das virtudes do clima e da natureza.
Ilustração 123 – O corredor visto pelo lado Ilustração 124 - Corredor e pátio visto do exterior. (Ilustração nossa, 2013)
interior. (Ilustração nossa, 2013)
O pátio não é meramente um espaço vazio, mas sim um vazio construído. Hoje em dia
encontra-se levemente diminuído, em virtude da perda da sua dimensão pavimentada.
A qual se relacionava com maior intensidade com as paredes envolventes.
Ilustração 125 – Pátio relvado com algum pavimento Ilustração 126 – O Pátio e o seu espelho de água. (Ilustração
ainda visível. (Ilustração nossa, 2013) nossa, 2013)
Göran Schildt descreve como Alvar Aalto, durante a sua idade mais avançada,
afirmava: “[...] you can´t save the world, but u can set it an example“155 (Schildt, 1989,
p. 157).
Ilustração 127 – Maqueta da ilha de Säynätsalo com localização da Câmara Municipal. (Ilustração nossa, 2013)
155
Tradução nossa - Podemos não conseguir salvar o mundo, mas podemos dar o exemplo.
156
Tradução nossa - Campo, madeira e jardim eram para mim apenas espaço, até que tu, meu querido,
transformaste-os num lugar.
Ilustração 128 – Planta programa funcional, 1º andar. Ilustração 129 – Esquema identificação espaços, 1º andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Identificação de acessos
No que concerne o acesso público identificamos duas entradas. Uma delas a Sul do
pátio, apresenta-se como uma entrada mais “tímida” e permite-nos aceder à
Biblioteca. A outra entrada pela sua dimensão, a sua localização e enquadramento
com a pérgola157, no topo das escadas em granito, distingue-se e afirma-se como
sendo a entrada principal.
157
Elemento arquitectónico construído por pilares e vigas, através da utilização de vegetação trepadeira
(heras) que cresce e desenvolve-se pelas vigas (cobertura), criando zonas de ensombramento nas áreas
pedonais.
Ilustração 131 – Esquema circulação geral, 1º andar. Ilustração 132 – Esquema identificação circulação pública /
(Ilustração nossa, 2013) privada, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)
A ilustração 131 com o esquema de circulação geral, demonstra como maior parte do
percurso, no edifício da câmara Municipal, é realizado envolvendo e relacionando os
utentes com o pátio. Na Biblioteca é perceptível o inicio do pátio, mas rapidamente o
percurso nos dirige na direcção do seu interior, para os espaços de leitura.
Percebemos onde o acesso público, situado no corredor, termina e como ele é feito
utilizando dois processos. O primeiro é a localização da porta no final do corredor e o
segundo pelo contacto visual existente entre o pátio e o corredor, que termina
exactamente na mesma porta.
Ilustração 133 – Ao fundo do corredor a porta que divide a Ilustração 134 – A porta vista a partir do corredor privado, sem
circulação pública da privada. (Ilustração nossa, 2013) a presença da luz natural. (Ilustração nossa, 2013)
No ponto onde termina o corredor, por detrás da porta, começa um outro nível de
circulação horizontal privada e identificada na cor azul. Atravessando essa charneira
(dividindo a circulação do corredor entre pública e privada) percebemos claramente
que estamos no mesmo corredor, mas numa dimensão espacial diferente. Esta leitura
revela-se imediatamente quando atravessamos o referido vão interior e pela
diminuição drástica na presença da luz natural (a iluminação natural inunda o corredor
pelo recurso às superfícies envidraçadas que se dispõem ao seu longo). A quebra
deste ritmo lumínico é provocada pela continuação deste elemento distribuidor no
sentido do interior do edifício, para a ala dos dormitórios, perdendo-se a ligação visual
directa para o pátio.
Identificação do pátio
A leitura do vazio como espaço privado, fica a dever-se à visita e permanência neste
local. O olhar o pátio, percorre-lo e desenha-lo ajudou a compreende-lo como uma
descontinuidade no espaço circundante. Embora o edifício da Câmara Municipal e da
Biblioteca, se encerrem sobre si mesmo e sendo esta configuração responsável pela
construção do vazio, esta clausura no espaço ajuda a criar um volume edificado em
relação ao espaço em seu redor, construindo a afirmação do edifício público (como a
Câmara Municipal de Siena).
pretenda sugerir uma continuidade da rua pública, através das duas escadas que lhe
dão acesso, quando nos encontramos no centro do pátio, longe de ambas as escadas,
é possível verificar que não existe qualquer ligação visual com a envolvente,
entendendo-o como uma descontinuidade sobre esta. No pátio existimos nós, o vazio
e o seu limite, determinado pelo edificado e o céu.
Ilustração 136 – Corte da Câmara Municipal de Säynätsalo, demonstrando o plateau do pátio. (Aalto, 1942)
Neste caso de estudo o pátio é construído pela ausência de matéria, um vazio que se
entende pela subtracção de matéria edificada. A colocação de setas no pátio, na
ilustração 135 e de acordo com a verificação da teoria do movimento de expansão158,
entendemos como este se expande até ao edificado, existindo alguns avanços e
recuos nos limites. Verifica-se a existência de uma pequena dinâmica na pressão e
contra-pressão entre ambos os espaços, mais precisamente, entre o vazio do pátio (na
cor azul) e o espaço da massa edificada (na cor cinza escuro).
158
Teoria de Theodor Lipps expressa no livro “A dinâmica da forma arquitectónica” de Rudolf Arheim, no
tema interacção dos espaços.
Ilustração 137 – Esquiço de Alvar Aalto sobre a cidade de Calascibetta na Sicília, 1952. (Aalto, 1952)
A Câmara Municipal é muito mais do que uma mera edificação, tal como Alvar Aalto
pretendia, é uma referência visual que assume, claramente um papel simbólico e uma
reflexão sobre o papel da cidadania para a população de Säynätsalo e para quem a
visita.
No que concerne ao pátio, foi possível observar que este espaço possui diferentes
níveis de relação com os volumes limítrofes. Estabelecendo como o primeiro volume
(Sul) a Biblioteca, verificamos que o vão existente possibilita a relação visual entre o
pátio e o interior do volume. Embora esse vão, de dimensões consideráveis exista, ele
não comunga com todo o espaço interior da Biblioteca, é pertença apenas de uma
divisão da mesma, mais precisamente de uma sala de leitura privada. O restante
espaço da Biblioteca, a principal sala de leitura, não se desenvolve para o pátio, mas
sim para a paisagem a Sul, através do desenho de um plano em vidro em contínuo.
Ilustração 138 – Vão de janela para o pátio, de frente para Ilustração 139 – Plano vidro da Biblioteca, virado para Sul.
a Biblioteca. (Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
O segundo volume que delimita este vazio, o corpo da Câmara Municipal em forma de
U, deixa transparecer o grande elemento, o seu corredor interior, destacando-se e
evidenciando a sua presença neste volume. Ele assume-se como principal actor no
que toca à sua envolvência. Podemos afirmar que aproximadamente três quatros do
pátio se confrontam directamente com o desenvolvimento do corredor da Câmara
Municipal. Esta relação é potenciada pela permeabilidade visual, responsável pelo
contacto com o pátio. Quando os vãos deste conjunto são abertos, eles permitem aos
outros quatro sentidos (perceptivos) fazer parte deste jogo de emoções, catapultadas
pelos diversos elementos que definem a estrutura organizada deste pátio.
Ilustração 140 – Da esquerda para a direita: Vista do corredor a partir do pátio. Interior do corredor. Vista do pátio a partir do corredor.
(Ilustração nossa, 2013)
Inserido no mesmo volume, no lado esquerdo do pátio, observamos por detrás de uma
parede de Heras159, com o mesmo ritmo e configuração, a continuação do alçado do
corredor. Embora um olhar atento, capaz de trespassar o véu que as Heras tecem em
159
Espécie planta trepadeira.
cada elemento vertical, revela que o ritmo mantém-se, mas o plano de vidro é de
menor dimensão e está intercalado por planos opacos pintados na cor branca.
Ilustração 141 – Ala esquerda do volume em forma de U. Ilustração 142 – Vista da ala esquerda a partir do corredor.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Observamos que os espaços interiores, posicionados por detrás das Heras, não são
continuação do dito corredor, mas sim quartos destinados a quem deseje passar uma
breve estadia. O entendimento da organização, no interior deste volume, permite-nos
compreender o porquê da existência desta espécie vegetal.
160
Efeito visual verificado anteriormente nas arvores e vegetação, no terreno do caso de estudo da Casa
de Verão, Alvar Aalto.
Ilustração 143 – Pormenor das Heras. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 144 – Vista interior do quarto através das Heras.
(Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 145 – Vista dos elementos existentes no pátio. Ilustração 146 – Estátua em bronze, 1928,
(Ilustração nossa, 2013) Väinö Aaltonen. (Ilustração nossa, 2013)
161
Väinö Aaltonen, nasceu a 8 Março de 1894 em Karinainen, Finlândia. Escultor Cubista Finlandês.
Morreu a 30 Maio de 1966.
162
Tradução nossa - As suas formas cubistas encaixam muito bem na Câmara Municipal de Säynätsalo,
onde Aalto adaptou o vocabulário cubista ao partir o cubo e formando uma nova geometria. – Afirmação
retirada do Museu Alvar Aalto disponível em WWW: <URL:http://www3.jkl.fi/saynatsalo/townhall/en-
233.htm>.
Ilustração 147 – A água e verticalidade no pátio. Ilustração 148 – Paisagem Finlandesa, a água e verticalidade.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
163
Estes dois elementos verificam-se igualmente no projecto da Vila Marea, de Alvar Aalto.
Ilustração 149 – Planta da Câmara Municipal de Säynätsalo, o rectângulo passa pela maior dimensão do pátio, confirmando o uso da
raiz de dois (√2) na proporção deste vazio construído (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 150 – Corte da Câmara Municipal revelando uma das regras Vitrúvianas para o cálculo da proporção da altura do pátio, 1/4
da altura da raiz de dois (√2). (Ilustração nossa, 2013)
164
Parte mais alta de um telhado.
Ilustração 151 - Corte da Câmara Municipal, revelando a inversão de uma das regras Vitrúvianas utilizadas para a proporção na altura
do torre, mais precisamente 3/4 da raiz de dois (√2). (Ilustração nossa, 2013)
165
“[…] Meus senhores! A Câmara Municipal mais bonita e famosa do mundo, a de Siena, possui uma
câmara da assembleia com 16 metros de altura. Eu proponho que construamos uma com 17 metros”
(Aalto) – Discurso de Alvar Aalto, segundo descrito pelo seu amigo Göran Schildt.
[…] O pavilhão é um todo coerente e autónomo que parece não fazer qualquer
concessão aos edifícios preexistentes no mesmo território de implantação. Para isso
criou um campo geométrico vasto e morfologicamente significativo suscitando a
incerteza sobre o verdadeiro “intruso”: se o edifício novo ou a casa cor-de-rosa e
dependências anexas. Esta dúvida só é desfeita pela diferença entre a linguagem do
pavilhão, que se aproxima da pureza de valores semânticos modernos, e um
simplificado testemunho classicizante de que se revestem os anteriores edifícios. [...] A
transformação do que era o jardim delineado por canteiros de invocação romântica
166
José César Vasconcelos Quintão – Docente na Faculdade de Arquitectura Universidade do Porto, no
Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo (CEAU).
num único tapete verde vai tornar o território do pavilhão tão dominante, que legítima a
dúvida de ter existido previamente uma outra configuração naquele espaço ajardinado.
(Quintão, 2006, p. 11)
Ilustração 153 – Planta localização Pavilhão Carlos Ramos. (Vieira, 2011) Ilustração 154 – Pavilhão Carlos Ramos visto do
jardim. (Ilustração nossa, 2013)
167
FAUP, Faculdade Arquitectura da Universidade do Porto.
168
Alexandre Alves Costa, nasceu em 1939 no Porto, Portugal. Formou-se em Arquitectura pela Escola
Superior de Belas-Artes do Porto em 1966.
Ilustração 155 – Duas imagens sobre a Casa cor-de-rosa. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 156 – Guia de granito que parte Ilustração 157 – Ponto onde a guia de granito se divide. (Ilustração nossa, 2013)
do Pavilhão. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 158 – Planta do Pavilhão Carlos Ramos Ilustração 159 – O pavilhão dobra-se em U criando um pátio.
(Vieira, 2011) (Ilustração nossa, 2013)
Uma questão muito peculiar desta obra, chegando mesmo a ser característico, é a sua
geometria formal, nomeadamente no que respeita aos ângulos que este pavilhão
possui. Nenhum deles é um ângulo recto, parecendo terem sido geometrizados de
forma aleatória, mas não para Siza.
[…] As três direcções apresentadas pelo corpo do pavilhão sugerem que a respectiva
génese tenha derivado de um único sólido depois de dobrado duas vezes sobre si
mesmo. Os ângulos de viragem, por não serem rectos e serem desiguais, contribuem
para uma expressão de torcimento do edifício, parecendo procurar caber no sítio
destinado. (Quintão, 2006, p. 13)
De facto a descrição acima, transcrita de José Quintão, indicia que o edifício procura
apenas caber na área para a sua construção, embora esta afirmação não seja
proferida ingenuamente. A forma do Pavilhão, para além de possuir uma relação
geométrica com a Casa cor-de-rosa, procura pousar no terreno sem ferir as árvores
existentes que o rodeiam, principalmente as suas raízes. Esta atitude integra uma
intenção projectual em simbiose, numa clara consciência e respeito pela natureza,
com as árvores centenárias.
A planta e o volume do edifício foram assim determinados pela proximidade dos muros
e pela presença das árvores.
Ilustração 160 – Recuo da fundação do Pavilhão, devido Ilustração 161 – O pavilhão termina antes das Camélias.
às raízes da árvore centenária. (Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
No exterior é visível o modo como cada alçado é apenas perfurado, na maioria dos
casos, uma única vez e sempre com vãos cuja sua pequena escala ajudam a controlar
e limitar a permeabilidade visual com a envolvente de cada um deles. A Leste e nos
topos a Sul são desenhados alçados completamente cegos. Esta é a lógica do
invólucro contínuo da convexidade exterior que unifica o corpo tripartido.
169
Esta dicotomia é verificada igualmente na Casa de Verão, Alvar Aalto e na Casa Beires, Siza Vieira.
Ilustração 162 – Os alçados formam o invólucro contínuo da convexidade exterior. Da esquerda para a direita: alçado Sudoeste. Alçado
Norte. Alçado Este. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 163 – A concavidade interior, onde se configura o pátio, o interior do Pavilhão apresenta-se desmaterializada. (Ilustração
nossa, 2013)
Os dois topos do edifício, virados a Sul, assemelham-se a duas torres de vigia que
protegem a transparência e a aparente vulnerabilidade que se sente no interior do
Pavilhão. Um dos topos que remata o corpo Poente, apresenta uma figura
antropomórfica171. Esta imagem de um rosto parece ter como intenção marcar a
170
No livro “As metáforas da arquitectura contemporânea”, Victor Consiglieri expõe o seu entendimento
sobre o Pavilhão Carlos Ramos: “[...] Temos ainda o pavilhão de Carlos Ramos, no Porto, constituído por
um prisma isósceles triangular facetado, onde o vértice é dominante e apresentado por duas superfícies
correspondente à imagem de duas expressivas caras. Esta composição parte da vista frontal dessas
caras e da perspectiva do pátio triangular, num determinado ponto de vista, para exemplificar a expressão
do objecto, tanto no interior como no exterior do pátio.” (Consiglieri, 2007, p.94)
171
Siza Vieira mais tarde, em 1988, no projecto da Faculdade de Arquitectura do Porto que viria a ser
construído no mesmo pólo universitário, repete as mesmas figuras antropomórficas possivelmente
remetendo a uma imagem caracterizadora da zona ribeirinha do Porto, mesmo junto á FAUP. Matosinhos,
a zona onde Siza nasceu e morou, desde a sua infância até à sua adolescência, também possui janelas e
portadas que nos remetem às suas imagens antropomórficas, como suas referências que fazem parte do
seu imaginário.
presença de alguém que guarda e vigia o pátio. No interior deste corpo, através de
duas janelas, que se assemelham a dois olhos, permitindo numa outra perspectiva
observar o jardim.
Ilustração 164 – Figura antropomórfica no topo Sul esquerdo. Ilustração 165 – Figura antropomórfica no topo Sul direito.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 166 – Vista do interior para o pátio, piso térreo. Ilustração 167 – Vista do interior para o pátio, segundo piso.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
[…] Na base do pátio está a figura de um trapézio que se abre na sua menor dimensão,
formando uma espacialidade de leituras complexas. Por um lado, a planimetria do pátio
proporciona a perspectiva acelerada, afastando a magnífica árvore preexistente e
premissa condicionante da implantação. Por outro lado, a opção espacial insere-o nas
experiências angustiantes das tipologias maneiristas, de contracção da perspectiva
visual, permitindo uma visão diafragmada e fugaz para o espaço exterior. [...] A
planimetria trapezoidal produz um jogo de ambiguidades que se reflectem também no
interior. As enormes paredes de vidro, intersectando-se em ângulos agudos, vão
reflectir-se, não em imagens infinitas como produzem espelhos paralelos, mas em
imagens predeterminadas e controladas, não só durante as horas de sol como nas
horas de luz artificial, causando efeitos que vão desde a leitura de inter-penetração dos
paramentos até aos da não existência, pura e simples, do espaço interior do edifício,
como ainda à simulação da existência de pórticos falsos, como se fossem apenas
cenários. (Quintão, 2006, p. 15)
O primeiro piso é quase rarefeito devido à escala abusiva da escada. O seu primeiro
degrau avizinha-se de tal modo da parede exterior envidraçada, uma autêntica
superfície espalhada em qualquer hora do dia, que parece com ela estabelecer um
diálogo narcísico de perpétua contemplação. É um espaço onde a presença humana,
se de todo desejada, só o será esporádica e fortuitamente consentida. Efectivamente, é
um momento de passagem. Na entrada e de cada lado da escada, dois corredores
estreitos e relativamente profundos conduzem, através de três degraus, ao piso térreo.
A zona de entrada revela-se, assim, como um patamar de uma escada tripartida.
[…] A descida dirigida no sentido da menor largura das escadas, potencia o efeito de
distância, sublinhada pelos primeiros corrimões diáfanos, incutindo alguma reserva na
segurança oferecida; remete o olhar para o interior do vértive do cunhal, em
obscuridade contrastante com uma luz forte que se anuncia, abaixo do recorte do
ângulo de arestas vivas resultante do encontro das paredes desse cunhal com o tecto
baixo do primeiro piso. (Quintão, 2006, p. 17)
Ilustração 168 – O portão marca a passagem Ilustração 169 – O corpo que salienta-se a Nordeste e afirma a entrada do
para o Pavilhão. (Ilustração nossa, 2013) Pavilhão. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 170 – A entrada, a escada Ilustração 171 – A escada que proporciona a sensação do “mergulho” invertido.
e o volume. (Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 172 – Muro de pedra separa a circular a Norte. Ilustração 173 – Alçado Norte confronta o muro de pedra.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Através deste encerramento que protege o pavilhão, deparamos com algo que
contrasta com a total abertura existente no interior do edifício. A transparência abre a
visão dos estudantes para o jardim, calmo e pacífico, potenciando a contemplação,
numa afirmação da continuidade entre interior e exterior.172 A grande abertura no
interior do edifício proporciona uma intensa relação entre os estudantes, uma vez que
todas as salas de aula têm contacto visual entre si. Ajudando a criar um ambiente
fervoroso de trabalho, uma perfeita simbiose para a interacção de ideias entre todos
os alunos.
O pátio tem uma característica muito especial devido à transparência existente nos
interiores do pavilhão. A presente permeabilidade visual acentua a ausência de
qualquer tipo de privacidade, que se espera com a configuração desta tipologia. Esta
constatação decorre da permanência no pátio durante a visita realizada a este caso de
estudo. Na qual subsistiu uma leitura que nos remete para o facto da sensação de
observar e ser observado, retira qualquer desejo de uma longa permanência neste
espaço. Parece funcionar mais como um espaço de contemplação para o jardim, que
articula os interiores das diversas salas de aula.
172
Esta continuidade assemelha-se na memória à vivência das casas e jardins Japoneses.
Ilustração 174 – Vista do pátio para o interior do edifício. Ilustração 175 – Vista do pátio para o jardim. (Ilustração
(Ilustração nossa, 2013) nossa, 2013)
Ilustração 177 – Planta programa, piso térreo. Ilustração 178 – Planta programa, primeiro andar. (Ilustração
(Ilustração nossa, 2013) nossa, 2013)
Da leitura das plantas do programa funcional, identificadas nas ilustrações 177 e 178,
é possível inferir que ambos os pisos foram desenhados com recurso à definição de
uma planta livre. Por isso a excepção a esta regra verifica-se no espaço do átrio e nos
compartimentos das instalações sanitárias localizadas no piso térreo. A planta livre
resolve eficazmente o uso deste Pavilhão, permitindo a organização fluida dos
espaços de ensino.
Ilustração 179 – Planta identificação espaços, piso térreo. Ilustração 180 – Planta identificação espaços, primeiro andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Identificação de acessos
Ilustração 181 – Planta de identificação de acessos, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013)
173
No ponto que se refere à leitura dos espaços no presente caso de estudo, os espaços são
maioritariamente privados. É possível aferir que o oposto acontece no caso referente ao do Alvar Aalto, na
Câmara Municipal de Säynätsalo, em que os espaços são em maior número entendidos como sendo
públicos. Esta diferença existente nas áreas consideradas públicas ou privadas, entre estes dois casos de
estudos, também é resultado dos diferentes programas que ambas possuem. Um (Pavilhão Carlos
Ramos) é entendido como tendo maior área privada porque se destina ao funcionamento de salas de
aula, o outro assume maiores áreas consideras públicas porque é um edifício público, a Câmara Municipal
de Säynätsalo.
Ilustração 182 – Entrada pública. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 183 – Entradas privadas. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 184 – Planta circulação geral, piso térreo. Ilustração 185 – Planta circulação geral, primeiro andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 186 – Planta circulação pública / privada, piso Ilustração 187 – Planta circulação pública / privada, primeiro
térreo. (Ilustração nossa, 2013) andar. (Ilustração nossa, 2013)
Uma especialização da leitura sobre o sistema distributivo, nas ilustrações 186 e 187,
permitem identificar uma circulação pública realizada verticalmente e uma circulação
horizontal privada no interior dos espaços das salas de aulas174.
Ilustração 188 – Distribuição das mesas e o corredor privado, Ilustração 189 – Distribuição das mesas no corpo central do
1º andar. (Ilustração nossa, 2013) edifício, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)
174
Como já referido nos esquemas anteriores, quer ao nível da circulação pública e privada, podemos
verificar como neste caso de estudo é antagónico ao da Câmara Municipal de Säynätsalo. No Pavilhão
Carlos Ramos predomina claramente a circulação privada, enquanto no caso equivalente a este, de Alvar
Aalto em Säynätsalo, a circulação pública é aquela que se destaca, manifestado pelo corredor virado para
o pátio.
Identificação do pátio
A ilustração 190 confirma aquilo que no local é uma evidência, o pátio definido pelos
limites interiores do edifício que o envolve. A sua figura trapezoidal configura um vazio
de uso privado para os estudantes. Um edifício público que define um pátio com
características vivenciais aos pátios privados175.
Outra característica que resulta da relação entre este vazio e os espaços inferiores, e
vice-versa, são os envidraçados contínuos em ambos os pisos. Eles intensificam a
permeabilidade visual entre o interior e o vazio do pátio através da transparência
activa. O olhar a partir do pátio e o ser observado estando no seu interior. Esta
175
Esta dualidade evoca igualmente o caso de estudo referente à Câmara Municipal de Säynätsalo,
especificamente ao pátio (privado) considerado espaço público por excelência, mas passível de ser lido
como um pátio privado.
Ilustração 191 – A forma do volume gera um pátio com um espaço bastante tencionado. A permeabilidade visual entre o edifício e o
vazio promove uma continuidade visual entre o exterior e o interior. (Ilustração nossa, 2013)
Esta hipótese aponta para o facto do pátio poder ter sido definido pela subtracção de
matéria a um volume pré-estabelecido. O pátio seria também a figura formada pela
porção retirada ao volume edificado.
176
José Quintão afirma num texto, pelo facto do edifício ser encerrado no seu exterior, mas no seu pátio é
completamente aberto por vãos em todo o seu alçado, possibilitando realçar o contraste de situações
opostas existentes no edifício, apelidando convexidade e a concavidade da concha geometrizada: “[…] A
notável diferença de escalas entre as dimensões destas aberturas e as da abertura “total” do interior do
pátio mais serve para realçar o contraste de opostos entre a convexidade e a concavidade da concha
geometrizada.” (Quintão, 2006) – Citação retirada da colectânea de textos de professores intitulada “O
Pavilhão Carlos Ramos”..
177
Pátio definido pela dobra sucessiva de um volume rectilíneo que se vai articulando com a envolvente:
“[…] As três direcções apresentadas pelo corpo do pavilhão sugerem que a respectiva génese tenha
derivado de um único sólido depois de dobrado duas vezes sobre si mesmo. Os ângulos de viragem, por
não serem rectos e serem desiguais, contribuem para uma expressão de torcimento do edifício,
parecendo procurar caber no sítio destinado” (Quintão, 2006) - Citação retirada da colectânea de textos
de professores intitulada “O Pavilhão Carlos Ramos”.
Ilustração 192 – Esquiço revelando a evolução do pátio construído pela subtracção de matéria. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 193 – Esquiço revelando a evolução do pátio construído pela implantação dos limites volumétricos. (Ilustração nossa, 2013)
178
Teoria de Theodor Lipps expressa no livro “A dinâmica da forma arquitectónica” de Rudolf Arheim, no
tema interacção dos espaços.
Ilustração 194 – Planta implantação do Pavilhão Carlos Ramos e dos elementos arbóreos circundantes. (Vieira, 2011)
179
“[…] O Pavilhão, um potencial intruso no belíssimo jardim da Rua do Gólgota, estava obrigado a
preservar a sua extensão e proporções, devendo por isso aproximar-se dos muros de limite do terreno.
Isso significava situar-se, com dificuldade evidente, entre árvores seculares: um redondendro, um
eucalipto, umas camélias. Para além disso, a topografia e não a geometria orientara o desenho daqueles
muros.
A planta e o volume do edifício foram assim determinados pela proximidade dos muros e pela presença
das árvores.
Constantemente ouvia os avisos e as recomendações dos meus colegas, receosos, como toda a gente,
da arquitectura que se faz: cuidado com o redondendro (sobretudo o redondrendo), atenção às raízes do
eucalipto, proteja as camélias!
A estranha consola a Norte resulta simplesmente da necessidade de recuar a fundação; tal como o
traçado dos muros próximos, introduzindo dificuldade, está na base do desenho das paredes exteriores –
e por isso das interiores.” (Vieira, 2006) – Citação de Siza Vieira retirada da colectânea de textos de
professores intitulada “O Pavilhão Carlos Ramos”.
180
José Quintão apelidou de concha geometrizada ao contraste existente entre o exterior encerrado e o
interior exposto do edifício: “[…] A notável diferença de escalas entre as dimensões destas aberturas e as
da abertura “total” do interior do pátio mais serve para realçar o contraste de opostos entre a convexidade
e a concavidade da concha geometrizada.” (Quintão, 2006) - Citação de José Quintão retirada da
colectânea de textos de professores intitulada “O Pavilhão Carlos Ramos”.
181
“[…] A atracção evidente entre o Pavilhão e a casa-mãe enchia o jardim de eixos virtuais rebeldes e
contraditórios. Essa espécie de irresistível magnetismo foi desenhando o pavilhão, clarificando relações,
redesenhando o jardim, motivando um prolongamento em pátio”. (Vieira, 2006) - Citação de Siza Vieira
retirada da colectânea de textos de professores intitulada “O Pavilhão Carlos Ramos”.
182
Nossa tradução - “[…] Eu sou um funcionalista, para mim algumas das questões básicas no
desenvolvimento de um projecto são os seus problemas funcionais. Excepto que a forma, os espaços e a
atmosfera de um edifício não nascem das suas funções. Isto é essencial, cada arquitecto é forçado a dar
respostas aos problemas funcionais. Mas arquitectura com letra grande, começa quando o
desenvolvimento de um projecto alcança a capacidade de liberdade. Livre de todos os constrangimentos,
capaz de levantar voo e desenvolver-se noutras direcções.” (Vieira) – Citação de Siza Vieira retirada do
documentário intitulado “Architectures: l´école de Siza”, de Richard Copans e Stan Neumann, Colecção
Arte France.
Por este motivo no interior do pavilhão, as mesas dos alunos encontram-se dispostas
perpendicularmente aos planos envidraçados. Seguindo-se o corredor no lado oposto
ao pátio, com uma luz mais ténue mas suficiente para o uso da circulação horizontal. A
transparência fomenta a continuidade visual entre as várias salas de ensino.
Ilustração 195 – Desenho esquemático sobre a distribuição de turmas por cada um dos volumes do Pavilhão Carlos Ramos. (Ilustração
nossa, 2013)
Percebemos que os olhares se focam no pátio quando algo acontece nele. Pois é ele
o grande protagonista no volume edificado, certamente também é quando
permanecemos nele. Observamos que este espaço possui a capacidade de gerar o
enfoque, concentrando toda a atenção de quem nele se encontra e por essa razão
afirmamos: este vazio é mais um espaço de passagem do que permanência.
Ilustração 196 – Fotomontagem de três fotos, para revelar a permeabilidade visual entre o interior do Pavilhão e pátio (ilustração nossa,
2013)
Ilustração 197 – Planta do Pavilhão Carlos Ramos, apenas a figura geométrica do quadrado é coincidente com o desenho do pátio.
(Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 198 – Planta do Pavilhão Carlos Ramos, verificando-se o enquadramento da raiz de dois (√2) na proporção do edifício.
(Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 199 – Fotografia aérea sobre o centro da cidade de Seinäjoki. (Vallas, 2012)
grande centro religioso para a igreja Luterana de toda a Finlândia, dai a necessidade
em acolher um grande número de fiéis em ocasiões especiais.
Ilustração 200 – Vista do anfiteatro para a Igreja. Ilustração 201 – Vista da Igreja para o anfiteatro. (Ilustração
(Ilustração nossa, 2013) nossa, 2013)
Na lateral oposta, a Sul, uma parede marca o limite do anfiteatro, traduzindo-se numa
guarda quando vira e dobra para Este. A referida parede a Sul tem igualmente a
função de contenção de terras, em virtude da existência de uma diferença de cotas
entre o anfiteatro e a rua de nível. A guarda a Este medeia a rua e o anfiteatro através
de umas escadas. É nesta diferença de cotas que se constrói igualmente a dimensão
sensorial, que este anfiteatro possui. Isolar-nos quer visualmente como auditivamente
no conjunto. Criando-se um espaço antagónico entre a sua escala de praça e a
absoluta privacidade nela gerada, numa percepção, de todo singular, relativamente ao
que se espera num espaço com estas dimensões.
Ilustração 202 - Centro paroquial. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 203 – A escada medeia a diferença de cotas entre o
anfiteatro e a rua. (Ilustração nossa, 2013)
O segundo recinto é definido por uma grande avenida pedonal e por vários edifícios
cujas datas de construção tiveram início na década de sessenta, embora as datas da
sua conclusão sejam díspares. As obras para a Biblioteca começaram em 1963 e
terminaram em 1965. A construção da Câmara Municipal e do Teatro tiveram início em
1968 e foram concluídas apenas em 1987. Alvar Aalto faleceu mais cedo, em 1976,
pelo que ambos os edifícios tiveram de ser terminados após a sua morte e sob a
direcção da sua esposa, Elissa Aalto.
Ilustração 204 – A grande avenida pedonal inicia o arranque Ilustração 205 – Malha ortogonal do pavimento. (Ilustração
a partir das escadas. (Ilustração nossa, 2013) nossa, 2013)
Municipal é definida igualmente por um pátio com alusões à paisagem. O seu acesso
é realizado, uma vez mais, por degraus relvados, criando um anfiteatro informal e
abrindo a possibilidade de assistirmos a eventos na praça, ao nível da rua, numa clara
alusão a um recinto com afinidades ao Fórum. O espelho de água forma uma longa
bacia em que o elemento líquido (água) jorra, de vários pontos, ao longo de uma pedra
na parede. A Assembleia Municipal é sobrelevada para que predomine sobre toda a
envolvente estabelecida, topograficamente, numa cota inferior.
Ilustração 206 – Alçado Norte do edifício da Câmara Municipal. Ilustração 207 – O espelho de água na praça. (ilustração
(Ilustração nossa, 2013) nossa, 2013)
O facto descrito permite ao observador aperceber-se, com maior ênfase, que qualquer
movimento da luz no azulejo tem repercussões no modo como esta é reflectida,
alterada e captada pelos nossos olhos. O revestimento da Câmara Municipal remete-
nos também para a memória da aplicação tradicional da alvenaria e a estereotomia
para a verticalidade dos troncos das árvores na floresta. Estes mosaicos estabelecem
o domínio da vertical, uma vez que de outro modo a leitura do edifício tenderia a
acentuar uma predominante de horizontalidade.
uma secção cortada, a qual podemos esperar que seja simplesmente exturdida,
acentuadamente plana e configurada por uma curva até ao lado oposto em resposta
ao plano, que se encontra no piso inferior. Uma vez mais é possível verificar como
Alvar Aalto utiliza a verticalidade para afirmar os edifícios públicos, a Igreja através da
torre sineira e a Câmara Municipal pelo seu desenho e volume. 183
Ilustração 208 – O tom azul muda de brilho consoante o ângulo de visão. Ilustração 209 – Pormenor do mosaico.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
183
A forma e o jogo de volumes da Câmara Municipal, num estudo ao nível da penetração entre sólidos,
são descritos por Victor Consiglieri do seguinte modo: “Na Câmara Municipal, a partir da adição de três
elementos, dois rectangulares e um quadrado, que se agrupam numa forma alongada e articulada, a
penetração efectua-se no extremo quadrangular da zona da sala da assembleia. O Objectivo desta
proposta, para além de dar ênfase e dominância à sala, confere ao edifício uma grande dissonância e
uma dinâmica oblíqua, que cresce a partir do extremo oposto e atinge o seu ponto mais elevado na sala
da assembleia, método muito próprio das composições modernistas e dos sistemas dinâmicos.” (Victor
Consiglieri, 1995, p.121)
184
Victor Consiglieri destaca a leitura que a composição volumétrica constrói na Biblioteca de Seinäjoki:
“Dentro do mesmo método, Alvar Aalto faz a composição da Biblioteca Seinäjoki (1963-1965), que consta
de uma composição volumétrica de dois sólidos sendo a figura definida por um prisma triangular que
encaixa num prisma rectangular – o fundo. Estes dois volumes aglutinam-se ligeiramente numa posição
em que o centro do rectângulo coincide com o vértice do prisma triangular. [...] o objectivo do antagonismo
entre o rectângulo e o triângulo – figura e fundo – é provocar, primeiramente, uma leitura visual de
rivalidade entre eles e, gradualmente, fazer com que eles deixem de ser distintos, para se começar a ter a
sensação de que constituem uma unidade.” (Victor Consiglieri, 1995, p.67)
Ilustração 210 – Entrada da Biblioteca. Ilustração 211 – Alçado Sul do edifício da Biblioteca. (Ilustração nossa, 2013)
(Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 212 – Fotografia panorâmica. À direita, o volume branco do alçado Norte da Biblioteca. À esquerda, em contraponto, a nova
Biblioteca de Seinäjoki, projecto de JKMM Arquitects, 2012. (Ilustração nossa, 2013)
185
Esta espécie de “pele”, construída pelas barras que protegem os vãos da Biblioteca, relembra-nos o
“véu” descrito anteriormente na floresta em redor da Casa de Verão em Muuratsalo.
Ainda sobre as barras verticais Victor Consiglieri escreve: “[…] É de acordo com esta metodologia de
encerramento que Alvar Aalto introduz um modulado de madeira vertical em forma de gradeamento em
frente das janelas para dar uma textura em confronto com as restantes superfícies opacas dividindo o
interior do exterior.” (Consiglieri, 1995, p.136)
186
Biblioteca de Viipuri foi construída em 1935 por Alvar Aalto em Viipuri. Antiga região da Finlândia,
actualmente é pertença da Rússia.
Este edifício (Teatro), tal como a Câmara Municipal, apenas ficaram concluídos em
1987, onze anos após a morte de Alvar Aalto. É bastante evidente em ambos os
edifícios, a falta dos seus detalhes mais característicos. Contudo tanto a organização
como a forma dos edifícios foram delineadas por Alvar Aalto entre 1968 e 1969,
aquando da elaboração do projecto de planeamento urbano para todo o centro da
cidade.
187
Sobre o teatro, embora inserido num outro estudo sobre a axialidade obliqua e penetração entre
sólidos, Victor Consiglieri consagra: “[…] Semelhante a este tipo de composição compacta e da axialidade
oblíqua formada por dois eixos, temos o Teatro de Seinajoki, de 1968-1969, em que dois sólidos se
interpenetram num sistema de plena distorção e deformação. Esta distorção compositiva compacta só é
possível pela colocação dos eixos oblíquos, sendo a base uma forma aparentemente “quadrangular”
sobre a qual se eleva a sala de conferências, com uma forma triangular num posicionamento axial
diferente, mas em que os respectivos eixos se cruzam no próprio centro da sala. Estes dois eixos
estruturados assimetricamente dão o equilíbrio a diversos sólidos. O cruzamento é o lugar “existencial do
objecto e dos espectadores, e a centralidade, o elemento dominante deste complexo formal, donde
irradiam os espaços e as formas fragmentadas. Este processo foi aplicado tanto no Teatro de Seinäjoki,
como no Palácio de Congressos.” (Consiglieri, 1995, p.283)
188
Victor Consiglieri, sobre a sala de espectáculos, afirma: “[…] A sala de espectáculos ergue-se numa
centralidade, ligeiramente deslocada desse prisma do embasamento, e compõe-se de pedaços de
cilindros seccionados à medida da área do teatro.” (Consiglieri, 1995, p. 147)
Ilustração 213 – Entrada do Teatro. (Ilustração nossa, 2013) Ilustração 214 – Auditório do Teatro em forma de cunha.
(Ilustração nossa, 2013)
Os edifícios parecem envolvidos numa luta para definir e conter espaços, mas um
olhar atento revela o processo subjacente, de como no seu conjunto articulado
conseguem, magnificamente, elaborar uma composição de massas relacionadas entre
si.189
Alvar Aalto deixou bem claro, num ensaio com o título “The decline of public
buildings”190, a sua constante preocupação pela proposição e consequente desenho
dos centros das cidades, de modo a que estes conseguissem estabelecer um lugar
cívico, no qual os edifícios públicos possuíssem um valor intrínseco neles. Alvar Aalto
descrevia esse valor como: “[…] the traditional imprint of the government and the social
contract”.191 (Aalto, 1953, p. 111-112 )
[…] in nearly all aspects, the Piazza San Marco in Venice has succeeded in
representing the townspeople in the right way – and their guests too. The three Lions of
Siena – the narrow tower of the town Hall the black and white elevation of the duomo
189
Ainda sobre os edifícios e o modo como as várias superfícies se configuram em relação com o eixo
longitudinal, Victor Consiglieri compõe sobre o autor: “Para Alvar Aalto, a intersecção das superfícies
deixa de ser perpendicular e apresenta-se com uma configuração angulosa, produzindo um conjunto de
transformações e ilusões a partir da linha de intersecção. A linha dominante na composição mostra-nos
uma nova ciência de emoções e não é regra só do modernismo, surgindo anteriormente com as
superfícies curvilíneas e respectivas intersecções no gótico flamejante e até no barroco. Esta técnica
passou, no nosso século, com alvar Aalto, a ser extremamente aplicada, substituindo a ortogonalidade
pela perspectiva de escorço em acentuação ou deformação, numa aceleração intensa de indícios de
profundidade. As formas angulosas vão fugindo aceleradamente do observador pela obliquidade do
objecto, perdendo o carácter exacto das dimensões, da proporcionalidade e, até, da geometria, tornando-
se aparentemente irreais e ficando ao sabor da investigação sensorial.” (Consiglieri, 1995, p. 164)
190
Tradução nossa - O declínio dos edifícios públicos.
191
Tradução nossa - Uma tradição impressa do governo e do contracto social.
and, highest of all, the fortezza – give the city a look that life there is pleasant.192 (Aalto,
1967)
192
Tradução nossa - Em quase todos os aspectos, a Piazza San Marco em Veneza foi bem sucedida na
representação da sua população – e os seus visitantes também. Os três Leões de Sienna – a estreita
torre da Câmara Municipal a elevação a preto e branco da Catedral e, a mais alta de todas, a fortaleza –
dão à cidade a sensação de que viver lá é agradável. – Citação retirada da exposição permanente do
Museu de Alvar Alto em Jyväskylä. Artigo escrito originalmente na revista Arkkitehti 3-4 / 1967.
Ilustração 216 – Planta de localização do projecto no centro da cidade Seinäjoki. (Ilustração nossa, 2013)
Identificação do edificado
Ilustração 217 – Planta com identificação dos edifícios. (Ilustração nossa, 2013)
A eleição do referido pátio, definido pelos vários volumes do conjunto edificado, tem de
ser objecto de uma fundamentação de âmbito perceptivo, num processo lógico que
confirme a capacidade deste ser definido como um pátio e não como uma praça193.
Esta formulação e selecção de um, entre os vários possíveis neste conjunto, permitirá
que este caso de estudo seja estudado segundo o método esquemático, delineado
193
“[…] a praça é entendida como o mais importante elemento morfológico do espaço público,
distinguindo-se de outros espaços, pelas vivências geradas na sua destacada importância urbana. [...]
Esta intencionalidade reflecte a posição de relevo que a praça ocupa na organização da cidade, na
cumplicidade entre o desenho do espaço e dos seus edifícios, integrando-os no seu contexto físico e
cultural.” – Citação retirada dos cadernos Morfologia Urbana – estudos da cidade portuguesa – Caderno 1
Os elementos urbanos, com coordenação de Carlos Dias Coelho, p. 84.
[...] Uma boa maneira de demonstrar que os inter-espaços não estão vazios consiste
em reportamo-nos ao que poderemos chamar a sua densidade [...] se bem que a
densidade observada possa ser simplesmente função da distância entre os objectos, o
seu nível absoluto de intensidade pode depender de outros factores perceptivos, como
por exemplo o tamanho dos edifícios. (Arnheim, 1998, p. 24)
Ilustração 218 – Densidade do intervalo segundo Rudolf Arnheim, na relação proporcional existente entre a largura e altura definem a
sua densidade. No exemplo em que a altura dos volumes é muito menor que a largura, entendemos o vazio como praça. No outro
exemplo, em que a altura dos volumes é muito próxima, ou até superior à largura, entendemos o vazio como pátio. (Ilustração nossa,
2013)
no entanto de ser perceptível, através dos volumes edificados ou pela ausência deles,
para que nunca se dilua a noção onde o vazio começa e acaba, isto é, saber
precisamente onde se estabelecem os seus limites.
Em suma podemos afirmar, de acordo com a nossa leitura, que a praça poderá
também ser entendida como um pátio público / social, desde que se confirmem as
duas questões prévias que a enquadram: a relação do vazio e a validação dos seus
limites.
Partindo deste princípio, que as praças poderão ser entendidas como um pátio194,
somos imediatamente confrontados, pelo presente caso de estudo, com o espaço
central (a praça) predominante neste projecto. A ideia de que esta praça central possui
a aptidão para ser investigada numa leitura crítica como pátio é negada, quando
verificamos que a praça central de Seinäjoki não possuí as características que
permitem ser entendida como um pátio. Observando-se a relação do seu vazio,
aferimos que a altura dos edifícios envolventes (limites) é muito reduzida, entre dois a
três pisos no máximo. Estes não possuem altura suficiente, de modo a aumentar (em
termos perceptivos), a nossa relação (do nosso corpo) com os volumes em seu redor,
embora os limites, por eles formados, sejam bem definidos. A escala manifestada
fisicamente pelo vazio e a baixa altura dos edifícios, ajudam a diluir a possível leitura
de pátio, anulando a sua validade para estudo e investigação.
Ilustração 219 – Vista para a praça a partir da paróquia. (Ilustração nossa, 2013)
194
“De repente entramos na cidade tão silenciosamente como na paisagem através de uma porta [...].
Quando atravessamos a Porta San Giovanni, nos sentimos num pátio e não na rua. Mesmo as praças são
pátios e em todas parecemos abrigados” – Citação de Walter Bejamin no livro “Imagens de pensamento”,
disponível em WWW:<URL:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/436>
O vazio relvado delimitado pelo volume da igreja e da paróquia, foi o primeiro conjunto
edificado a ser projectado. Assim o primeiro espaço a ser desenhado (1952) foi a
praça (espaço público), com a capacidade necessária para acolher e reunir, tanto os
fiéis Luteranos como os restantes cidadãos. Durante a presença neste espaço, foi
perceptível como ele possui as qualidades para ser entendido com pátio, mesmo
quando não se verificou uma das características assinaladas para a compreensão do
mesmo, a densidade do intervalo.
Mesmo quando não se verifica a densidade do intervalo necessária, isto é, a altura dos
edifícios em seu redor não suficientemente altos para compensar a vasta dimensão do
vazio, esta praça tem a capacidade de ser lida e entendida como um pátio. Este
entendimento só é possível pela característica que este espaço possui, uma
descontinuidade no espaço envolvente.
Ilustração 220 – A praça elevada da igreja, entendida como um pátio. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 221 – Esquiço revela como os arbustos separam visualmente o espaço do anfiteatro da praça, gerando intimidade.
(Ilustração nossa, 2013)
Entre estes dois vazios, compatíveis com a lógica propositiva do pátio descrita,
concluímos que um deles é passível de ser estudado. Decidimos que o vazio do
anfiteatro, até pelo seu enquadramento com o volume da Câmara Municipal, é o
espaço que se afigura compatível com as premissas, englobando-o nas características
necessárias que pretendemos investigar, seguindo os mesmos pressupostos utilizados
nos restantes casos de estudo.
195
Este espaço revela claras semelhanças com as escadas exteriores, igualmente cobertas com um
manto relvado da Câmara Municipal de Säynätsalo.
Ilustração 222 – Identificação dos pátios no caso de estudo Seinäjoki. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 223 – Planta programa funcional, 1º andar. Ilustração 224 – Esquema identificação espaços, 1º andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
196
Victor Consigliere identifica várias actividades no volume da Câmara Municipal: “Na Câmara Municipal
de Seinäjoki, de Alvar Aalto, o lugar de reunião encontra-se no extremo do edifício com uma dimensão
quadrada que se eleva diagonalmente para um prisma triangular donde provem a luz zenital. De um dos
lados desse quadrado desenvolve-se um rectângulo onde se situam as zonas da administração
dependentes de um percurso secundário que acaba num pequeno rectângulo cuja horizontalidade se
Identificação de acessos
opões à obliquidade acidentada da sala de reuniões. Este objecto marca as diversas actividades por
volumes distintos, em que cada elemento corresponde a um sinal igualmente distinto (sala de reuniões,
administração e entrada secundária), reforçado pelo acidentado do terreno que integra a escadaria no
recuo de edifício.” (Consiglieri, 1995, p.151)
197
Uma vez mais, verifica-se a similitude de processos e organização funcional com o caso de estudo da
Câmara Municipal de Säynätsalo.
Ilustração 226 – Vista das escadas, consideradas públicas, a partir do rés-do-chão. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 227 – Esquema circulação geral, 1º andar. Ilustração 228 – Esquema circulação pública / privada, 1º andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
198
Neste caso a circulação verifica-se que é realizada pelo interior do edifício, ao contrário no que sucede
no caso de estudo da Câmara Municipal de Säynätsalo.
público (na cor vermelha) começa no foyer, junto à entrada no piso rés-do-chão,
acedendo por uma escada, que remata na antecâmara da Assembleia Municipal. A
circulação privada (na cor azul) remete-se a permitir o acesso aos gabinetes e salas
de reunião, que se desenvolvem ao longo do edifício.
Ilustração 229 - Corredor interno que se desenvolve ao longo do edifício da Câmara Municipal. (Ilustração nossa, 2013)
Identificação do pátio
Ilustração 231 – Esquiço pintado em aguarela do corte a revelar topografia do anfiteatro, construído no pátio. (Ilustração nossa, 2013)
A praça é resultante de um gesto fortíssimo, ela tem a força para marcar e unificar o
projecto de um extremo dos seus limites ao outro. Apesar da unidade evidenciada, não
deixa de ser possível definir sub-espaços que contribuem para a identificação e
separação espacial entre a praça e o pátio (a bolsa). Estes elementos são: em
primeiro, a figura geométrica que define a Câmara, a qual desenha uma bolsa, bem
como a topografia que este espaço possui. Uma sobrelevação que possui uma escada
colada ao volume da Assembleia Municipal e que processam, de um modo mais
rápido, o acesso do público a este corpo vindo do exterior. Por outro, uma subida que
se desenrola mais lentamente, recorrendo o autor a um conjunto de degraus relvados.
Estes degraus destacam-se pela sua maior dimensão no cobertor e espelho, criando
um anfiteatro sobre a praça. Além da bolsa do vazio e da topografia, o tempo foi
acrescentado uma mancha de vegetação, no limite do anfiteatro e das escadas,
criando uma parede natural, ajudando a interiorizar e a encerrar este espaço dos
olhares de quem percorre a praça. Em suma estes elementos, comprovados pela
nossa presença no local, permitem-nos interpretar a descontinuidade espacial entre o
pátio e a praça.
Ilustração 232 – Vista para a parede natural, construída pelos arbustos existentes. Por detrás deles encontra-se o espaço entendido
como pátio privado. (Ilustração nossa, 2013)
O pátio neste caso de estudo, é construído pela afirmação dos limites e não pela
subtracção de matéria. Os referidos limites são definidos pelo edifício da Câmara
Municipal, mais propriamente pelo volume da assembleia (identificado pela cobertura
mais elevada) e o dos gabinetes que o circundam (caracterizados pelas suas janelas
em madeira). Os limites deste vazio não se esgotam no volume edificado, são
vincados pela vegetação, erguendo uma barreira visual entre o referido pátio e a
praça, sendo esta essencial no entendimento e reforço da nossa leitura sobre os
limites desta, e delimitar o espaço da praça.
199
Teoria de Theodor Lipps expressa no livro “A dinâmica da forma arquitectónica tema interacção dos
espaços” de Rudolf Arheim.
Ilustração 233 – Vista do pátio a partir da praça. Ilustração 234 - A vegetação ajuda a reforçar o limite entre o
(Ilustração nossa, 2013) pátio e a praça. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 235 – Esquiço com o esquema demonstrativo da cabeça, espinha dorsal e remate. (Ilustração nossa, 2013)
Hay que reconocer que el mundo anglosajón ha aportado muchas mejoras al carácter
de la sociedad y a las formas que ésta puede adoptar. No son pocas, desde luego,
pero en ellas no se expresan con igual claridad la articulación social de la cultura
continental y el papel simbólico que representan los edificios públicos como institución
pública que pertenece a todos los ciudadanos. [...] no obstante, la posición de los
edificios públicos en la sociedad debe ser tan importante como la de los más vitales
órganos en el cuerpo humano, si no queremos que nuestras comunidades se
contaminen de tráfico, y se tornen psíquicamente desagradables y físicamente
intolerables.201 (Aalto, 1953, p. 291)
200
Ainda sobre esta articulação, axialidade e disposição volumétrica em Seinäjoki, Victor Consiglieri
sublinha: “A axialidade de Alvar Aalto traduz este sentido de caminho sagrado, isto é, de percurso / lugar.
Na Câmara Municipal de Seinäjoki, de 1963-1965, podemos ver um eixo / percurso curvo que coincide
com o movimento do observador e das três massas volumétricas dispostas assimetricamente num
movimento decrescente acentuado. A configuração assimétrica da sua disposição orgânica funcional
traduz o percurso axial e simboliza uma organização como se existisse uma cabeça, um tronco e um
terminus. (Consiglieri, 1995, p.267)
201
Tradução nossa - Temos de reconhecer que o mundo anglo-saxão trouxe muitas melhorias ao
carácter da sociedade e das formas que podem assumir. Não são muitas, é claro, mas elas não se
expressão com a mesma clareza na articulação social da cultura continental e no papel simbólico que
representam os edifícios públicos como uma instituição pública que pertence a todos os cidadãos. […] No
entanto, a posição dos edifícios públicos na sociedade devem ser tão importantes como os órgãos mais
vitais no corpo humano, se não queremos que as nossas comunidades fiquem contaminadas pelo tráfego
automóvel, e se tornem psiquicamente desagradáveis e fisicamente intoleráveis. – Citação original na
revista Arkkitehti n.º 9/10, 1953.
La “ciudad ascendente” ha llegado a significar para mí algo parecido a una religión, una
enfermedad o una locura. [...] La ciudad de las colinas ha adquirido, en otro sentido, un
nuevo valor para mí: es la variante más pura, original e natural del urbanismo. Y es
belleza natural por ser la máxima hermosura que el hombre puede percibir a ras de
suelo. El hombre capta esta visión como un conjunto armonioso e íntegro, en
consonancia con su proprio tamaño y sus límites sensoriales.202 (Aalto, 1924, p. 67, 68)
O vazio, entendido como pátio, para o presente caso de estudo é o definido pelo
espaço em anfiteatro, no qual se efectua a mediação entre a cota da praça e a da
entrada para a Assembleia Municipal. Um anfiteatro construído por degraus relvados
com dimensão suficiente para nos apropriarmos de diferentes modos, propício para a
leitura de um livro, para desfrutar um pouco de sol ou simplesmente para repousar. A
permanência deste espaço revela alguma privacidade, garantida pela existência de
vegetação que se desenvolve no limite dos referidos degraus. A presença desta
vegetação é um elemento gerador de limite, uma vez que se esta não existisse,
expunha-nos visualmente a partir da, e para a praça, diminuindo drasticamente o nível
de privacidade. Esta ausência de vegetação, tal como se manifesta nas fotografias
abaixo, verificada nos primeiros tempos da obra, reforça a leitura da escadaria em
anfiteatro tangente à praça.
Ilustração 236 – Fotografia de época. (Museu Alvar Aalto) Ilustração 237 – Fotografia actual do anfiteatro com
vegetação. (Ilustração nossa, 2013)
202
A cidade ascendente chegou a significar para mim algo semelhante a uma religião, uma doença ou a
uma loucura. […] A cidade das colinas adquiriu, noutro sentido, um novo valor para mim: é a variante mais
pura, original e natural do urbanismo. E é beleza natural por ser a maior beldade que o homem pode
perceber ao nível do solo. O homem capta esta visão como um conjunto harmonioso e íntegro, em
consonância com a sua própria dimensão e os seus limites sensoriais. – Citação original de um artigo de
jornal em 1924, Arquivo Alvar Aalto.
vários gabinetes administrativos, não são suficientes, quer ao nível da sua dimensão e
transparência, para colocarem em causa a intimidade deste recinto. Mesmo quando se
verifica os níveis de permeabilidade visual entre o interior do edifício e o exterior (o
espaço em questão).
Ilustração 238 – Fotografia do pátio e das janelas dispostas no limite em seu redor. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 239 – Planta da Câmara Municipal com o estudo da relação, através da raiz de dois (√2), entre a largura do pátio e o limite
do espelho de água. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 240 - Planta da Câmara Municipal com o estudo da proporção do anfiteatro, verificando-se a proporção 5:3, segundo os três
princípios de Vitrúvio para o dimensionamento dos pátios. (Ilustração nossa, 2013)
Além destes pequenos indícios, seja pelo seu dimensionamento ou pela relação
estabelecida entre os diversos elementos, seja através do sistema de proporções
203
Tradução Nossa - Seguindo o exemplo clássico da Acrópole, Aalto implantou o Teatro numa posição
central na praça central - Citação retirada da exposição permanente no museu Alvar Aalto em Jyväskylä.
Curador da exposição Mari Murtoniemi.
Situada no extremo nascente, a Biblioteca tem uma área total de três mil cento e trinta
metros quadrados (3.130 m2) e é constituída por dois volumes. Um desses volumes
destaca-se pela sua elevação e um outro pela sua implantação térrea. O volume
elevado tem quarenta e cinco por quarenta e cinco metros (45 x 45 m) e possui um
vazio central de vinte por vinte metros (20 x 20 m). O volume que se prolonga no rés-
do-chão, virado para nascente, tem um piso e possui a forma em L que abraça um
jardim da marginal, sendo este (jardim) também enquadrado por um pequeno muro.
Ilustração 243 – Planta Biblioteca Viana do Castelo com as salas de leitura no primeiro piso. (Vieira)
Ilustração 244 – Alçado Sul e corte longitudinal da Biblioteca, com as salas de leitura no primeiro piso e serviços no piso térreo. (Vieira)
Os pilares são no fundo dois planos perpendiculares, com doze metros e meio (12,50
m) cada um, que se interceptam a meio vão. A distância entre cada conjunto de planos
perpendiculares, que suportam o volume superior a Poente, é aproximadamente trinta
e três metros (33 m) e são eles que cumprem a função dos pilares. Entre os planos a
Poente e o volume térreo a Nascente, a distância é aproximadamente vinte e seis
metros e meio (26,50 m).
Ilustração 245 – Fotografia da construção da Biblioteca, Ilustração 246 – Os planos perpendiculares suportam o volume
revelando o sistema construtivo. (Autor desconhecido) referente ao espaço de leitura. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 247 – Panorâmica do volume, vista a partir da entrada da Biblioteca. (Ilustração nossa, 2013)
rio, são desviados pela paisagem a Sul do rio e a sua margem. O pátio é escondido
não só por grandes muros, até porque não existem, mas apenas por pequeno muro,
com aproximadamente um metro e vinte (1,20 m) de altura, que segue e prolonga o
edifício virado a Sul, enquadrando o pátio e encerrando-o formalmente, mas
mantendo-o no entanto aberto visualmente. Este volume orienta-se para o diálogo com
o jardim da marginal, mais íntimo na relação com rio, fechando-se para a cidade e
apelando à meditação.
Este pátio não possuí a vivência que achamos mais adequada ao espaço, mas se tal
acontece, não é porque ele não possua a capacidade para tal, mas sim pela falta de
manutenção. É visível que a vegetação cresce desordenadamente, ocupando apenas
o vazio sem qualquer preocupação pela manutenção daquele pátio. Este facto não
permite a existência de uma apropriação devida e merecida para aquele espaço.
Ilustração 248 – Panorâmica do pátio virado a nascente, construído pelo volume em forma de L. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 249 – O espaço público construído pela parte inferior das salas de leitura, permitindo a continuação de permeabilidade visual
entre a cidade e o rio. (Ilustração nossa, 2013)
O projecto no seu todo afirma o desejo da cidade não perder a relação que sempre
existiu com o rio Lima, construindo-se uma mais-valia para os utilizadores, um espaço
de leitura único, sereno e com a capacidade de nos fazer sonhar.
Ilustração 251 – Planta programa funcional, piso térreo. Ilustração 252 – Planta programa funcional, 1º andar.
(Ilustração nossa, 2013) (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 253 – Esquema dos espaços público / privados, Ilustração 254 – Esquema dos espaços público / privados,
piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)
204
Até à presente data da nossa visita, encontra-se por activar.
Verificamos como na metade do lado Oeste, deste piso, o espaço é afecto ao público
em geral, recepcionando e encaminhando-o para as salas polivalentes ou para as
salas de leitura no primeiro andar, através de escadas ou elevador. A restante área
deste piso é espaço privado e estruturador das áreas administrativas.
A ilustração 254 ao nível do primeiro andar está distribuída toda a área afecta ao
espaço público, com excepção de um lance de escadas com inicio na circulação
horizontal do rés-do-chão, que serve a área administrativa de carácter privado.
Identificação de acessos
Ilustração 255 – Esquema com identificação de acessos público / privado, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013)
A segunda entrada, por oposição à pública, está situada no lado Este, servindo
claramente a área administrativa e neste sentido é entendida como privada.
Ilustração 256 – Entrada principal à Biblioteca. Ilustração 257 – Entrada privada do acesso à área
(Ilustração nossa, 2013) administrativa. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 258 – Esquema identificação circulação geral, Ilustração 259 – Esquema identificação circulação geral,
piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)
No piso térreo, da ilustração 258, a recepção serve como elemento distribuidor para a
circulação. Esta faz-se internamente por corredores que dão acesso às escadas,
elevador e gabinetes. A circulação horizontal passa adjacente à parede exterior
quando acedemos às salas de leitura privadas, aos depósitos e arquivos.
Ilustração 260 – Esquema identificação circulação pública / Ilustração 261 – Esquema identificação circulação pública /
privada, piso térreo. (Ilustração nossa, 2013) privada, 1º andar. (Ilustração nossa, 2013)
Identificação do pátio(s)
Ilustração 263 – Esquiço do pátio construído pelo volume em L. (Ilustração nossa, 2013)
Durante a permanência nas salas de leitura, quando sentados nas mesas que
confinam com os vãos rasgados, a todo o comprimento do alçado, quer na parte
exterior do volume quer na parte interior para o vazio, apercebemo-nos da
potencialidade deste.
Esta consciência revela um pátio do olhar que levita sobre o piso térreo, sendo
impossível de o percorrer fisicamente. Uma moldura que enquadra a passagem dos
elementos naturais deste espaço, enquanto uma pequena praça, que nos acolhe,
convida-nos a entrar e simultaneamente catapulta o nosso olhar para o rio Lima.
Ilustração 264 – Esquiço do volume das salas de leitura, a partir da pequena praça ao nível da rua. (Ilustração nossa, 2013)
Num dos lados o apoio do volume é realizado por pilares que se cruzam nos seus
topos, servindo também para a colocação dos acessos de circulação verticais. Com
uma forte componente escultórica e permitindo solucionar as questões de infra-
estruturas exigidas pela segurança de incêndios, como sejam os caminhos de fuga.
No lado oposto o apoio é resolvido sobrepondo parte de volume ao corpo térreo.
Ilustração 265 – Apoio do volume com a saída de emergência. Ilustração 266 – O apoio no volume do piso térreo. (Ilustração
(Ilustração nossa, 2013) nossa, 2013)
Ilustração 267 – Esquiço síntese do edifício da Biblioteca de Viana do Castelo. (Ilustração nossa, 2013)
Sentados nas mesas de leitura, o nosso olhar dirige-se para o exterior cruzando os
vãos como uma moldura num quadro e enquadrando a nossa visão com a paisagem
exterior. Foi este o momento que o vazio se revelou e percepcionado como um pátio.
Esta constatação advém do direccionamento do nosso olhar para os limites verticais,
definidos pelo vazio do edifício e os seus limites superiores (céu), e inferiores (praça).
Ilustração 268 – Esquiço revelando a nossa posição Ilustração 269 – Em cima, vista para o exterior quando sentados.
em relação aos vãos quando sentados nas mesas de Em baixo, vista para o exterior quando de pé. (Ilustração nossa,
leitura. (Ilustração nossa, 2013) 2013)
Este vazio percepcionado como um pátio no primeiro andar (salas leitura), contém
uma aparente contradição relativamente à sua natureza: É um espaço percorrível
apenas visualmente. A dualidade deste espaço reside no facto de apenas estarmos
fisicamente dentro dele, quando nos encontramos na cota do piso térreo.
207
A questão dos edifícios públicos serem compreendidos como referências na cidade, é igualmente
verificado no caso de estudo do projecto de Seinäjoki, de Alvar Aalto, presente neste trabalho.
Ilustração 270 – Esquiço com um corte das salas de leitura, na sua relação entre o posicionamento do leitor e linhas de visão, com o
dimensionamento do vão de janelas e o piso térreo, a rua. (Ilustração nossa, 2013)
Optámos por iniciar o estudo a partir do pátio construído pelo volume térreo.
Verificamos que a sua geometria é um quadrado perfeito, definindo os limites desta
figura através do edifício térreo em L. Num dos lados do pátio, um pequeno muro
prolonga o limite e enquadra-o (o pátio). O muro assume-se como um limite formal
deste vazio, embora se perceba a intenção, com a altura de aproximadamente 1,20m,
de ser suficiente para não separar visualmente o espaço do pátio, com a envolvente.
A planta de piso térreo revela-nos que este pátio não possui nenhuma das três
proporções afirmadas por Vitrúvio. Apenas uma proporção se aproxima da raiz de dois
(√2), partindo do quadrado que o pátio desenha e o topo Norte do volume térreo, não
sendo suficiente para confirmar a utilização desta proporção.
Por outro lado, conseguimos verificar que a raiz de dois (√2) é coincidente com a
definição das dimensões dos pilares e respectivos espelhos de água. Em segundo, a
sala polivalente, no lado Sul, sugere que as dimensões da malha estrutural revelam
essa matriz proporcional.
Ilustração 271 – Planta com verificação da utilização da raiz de dois (√2) nos espelhos de água que enquadram os pilares de apoio do
volume superior, sugerindo também o uso dessa matriz na organização da malha estrutural construtiva. (Ilustração nossa, 2013)
No vazio deste volume (do pátio) não encontramos nenhum indício sobre a utilização
de umas das três regras da dimensão e proporção Vitrúviana, verificamos apenas que
o seu desenho forma um quadrado perfeito. No entanto aferimos que a malha
estrutural do edifício é compatível com o uso da proporção da raiz de dois (√2), como
podemos observar na ilustração 272.
208
Pilares em estrutura metálica inseridos no interior do revestimento, em betão branco.
Ilustração 272 – Planta do primeiro andar confirma a utilização da proporção, verificada na raiz de dois (√2), na organização da malha
estrutural construtiva. Embora desenhe um quadrado perfeito, o vazio por sua vez fora desenhado sob a matriz da mesma malha.
(Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 273 - O Corte confirma o que fora supracitado em relação ao dimensionamento da malha estrutural. O alçado apenas levanta
suspeitas no que respeito à utilização da raiz de dois (√2) no dimensionamento de vários elementos. (Ilustração nossa, 2013)
Quer o centro cultural quer o festival, tinham de se localizar em pontos da cidade pré-
estabelecidos. Neste sentido foi necessário eleger um de três sítios dados: Algés,
Jardim da Estrela ou Alcântara. A escolha teria de eleger apenas um destes três
cenários, que após a visita aos mesmos revelou conterem morfologias bastante
díspares. Não era apenas o sítio que estava sobre a nossa responsabilidade escolher,
mas também a actividade cultural a implementar.
209
Round Midnight (1986), filme realizado por Bertrande Tavenier, com o saxofonista Dexter Gordon a
desempenhar o papel de Dale Turner.
210
Dexter Gordon, nasceu a 27 Fevereiro de 1923, em Los Angeles, Califórnia, EUA. Saxofonista
Americano do estilo de música jazz. Foi um dos primeiros músicos a adoptar a linguagem musical bebop,
no jazz através do saxofone. Morreu a 25 Abril de 1990 em Filadélfia, Pensilvânia, EUA.
Ilustração 274 – Imagem das ruas do filme “Round Midnight”. (Tavenier, 1986)
Ilustração 275 – Planta de localização, área de intervenção em Alcântara. (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 276 – Fotos das ruas existentes na travessa do Baluarte e no Bairro dos Contrabandistas. (Ilustração nossa, 2011)
Nesta área não foi apenas a complexidade da estrutura urbana do Bairro dos
contrabandistas que me intrigou. Ao percorrer a Avenida 24 de Julho fui confrontado
com um muro212 que se desenvolve ao longo de uma considerável extensão e nesse
momento activou-se uma memória: “eu conheço este muro!”.
Nascido em Lisboa, lembro-me de em criança passear com a minha família e ver este
muro. Na altura estava pintado com uns motivos do MRPP213. Na minha memória
211
Bairro em Alcântara onde nasceram várias vilas com a necessidade de resolver a falta de habitação
para os trabalhadores das várias fábricas que se estabeleceram em Alcântara durante o último Século.
212
“[…] El muro consigue traducir, a través de elementos reales, sensibles, las ideas que generan toda
arquitectura. El muro está directamente vinculado al espacio arquitectónico; es su conformador. La idea,
el muro en sí mismo, las ausencias de los muros y las relaciones entre muros, que establecen el espacio,
están vinculadas en la Arquitectura. Será diferente su relación y su orden jerárquico según si hablamos de
espacios estereotómicos o tectónicos, per tal relación existe. El espacio lo crean los muros que nacen de
la idea.” (Guisado, 2006, p.205)
213
MRPP – Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, é um partido político Português de
inspiração Maoísta, fundado em 1970. Actualmente é conhecido como PCTP/MRPP, Partido Comunista
dos Trabalhadores Portugueses / Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado.
sempre imaginei este muro como um limite entre vazios214. Durante a visita ao Quartel
da Marinha revelou-se que este entendimento do exterior não correspondia à realidade
existente.
Ilustração 277 – Fotomontagem que ilustra o muro na Avenida 24 de Julho. (ilustração nossa, 2011)
214
O muro separava duas realidades à mesma cota.
215
Onde eu imaginava e até sonhava um outro espaço, possivelmente uma antiga fábrica ou outro
equipamento, que se desenvolvia escondido por detrás deste grande muro.
216
Foi neste espaço da praça ao percorre-la até ao limite, definido pelo muro, onde fui brindado com uma
vista sobre a Avenida 24 de Julho.
Ilustração 278 – Fotografia da vista sobre a Avenida 24 de Julho a partir do topo do muro - praça do quartel. (Ilustração nossa, 2011)
Numa primeira instância, durante a visita ao quartel, o espaço que revelou ser mais
desinteressante foi o estacionamento automóvel, a antiga praça. No entanto este
espaço parecia ter mais para contar, para além do que era possível observar. Foi este
o motivo para procurar compreender o tipo de vivência, passível de ser criada para
aquele espaço. Entendi que esta leitura do lugar não podia cingir-se apenas ao
quartel. Tinha forçosamente de abarcar toda a sua envolvente, apesar da decisão já
tomada, de ser este espaço sobrelevado, o eleito para a implantação do Centro
Cultural dedicado ao jazz.
217
Homem muito moço, rapaz.
Ilustração 279 – Fotografias da praça do Quartel da Marinha (actualmente parque estacionamento automóvel). Da esquerda para a
direita: Formatura durante uma festa de juramento de bandeira no Quartel de Marinheiros em 13 de Maio de 1911. Exercícios de
pessoal da armada no Quartel de Marinheiros em 24 de Novembro de 1937. Estas duas fotos demonstram dois momentos distintos no
tempo, um em 1911 e outro em 1937, respectivamente, antes e após a construção dos aterros, revelando diferentes relações e como
estas se estabelecem entre a praça e o rio Tejo. (Quartel da Marinha, 2011)
Além da escolha do lugar e respectiva área para a intervenção projectual, era também
da nossa responsabilidade elaborar o programa funcional. Neste sentido do programa
definido, constavam um conjunto de espaços afectos a: auditório, salas de ensaio,
galerias para exposições, salas para workshops, biblioteca, videoteca, bar jazz,
gabinetes administrativos e espaço para informação cultural.
Ilustração 280 – Planta de localização com identificação da área de intervenção definida por mim. (Ilustração nossa, 2011)
218
Há semelhança da estrutura urbana junto ao Largo 31 da armada, o Bairro dos Contrabandistas
Ilustração 281 – Procura e ensaios do gesto urbano, Esquiço dos primeiros estudos. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 282 - Maqueta final em Junho, escala 1/200. (Ilustração nossa, 2012)
Em termos funcionais o edifício cultural possui uma entrada para o público realizada
no volume, recorrendo-se para tal à sua configuração com uma forma triangular. Na
recepção apercebemo-nos, ao contrário do exterior, do pé direito proposto para o
edifício. Ao descer a rampa vamos sentindo que o pé direito corresponde à altura do
muro. Quando atingimos a cota mais baixa (idêntica à o da Avenida 24 de Julho) e
contornamos a esquina, somos confrontados com a presença física do muro. Desta
experiencia sentimos a sua presença intensamente. A circulação horizontal vai
estreitando até confluir na galeria de exposições, intensificando a nossa relação com o
lado interior do muro.
Ilustração 284 - Maqueta final em Junho, escala 1/200. (Ilustração nossa, 2012)
219
Campo Baeza, no seu livro “Pensar com as Mãos”, define estereotómico: “[...] a
estereotómica, da massa que trabalha a compressão, que quando conforma um espaço fá-lo
por sobreposição de partes iguais. O termo estereotómico provém do grego stereos, que
significa sólido, e tomia, que significa cortar.” (Baeza, 2011, p. 27)
Ilustração 286 – Planta de localização do Centro Cultural de Jazz. (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 287 - Planta programa funcional, piso térreo. (Ilustração nossa, 2014)
Ilustração 288 - Planta programa funcional, piso -1. (Ilustração nossa, 2014)
Ilustração 289 – Esquema espaços público / privados, piso térreo. (Ilustração nossa, 2014)
Ilustração 290 – Esquema espaços público / privados, piso -1. (Ilustração nossa, 2014)
A ilustração 290 é referente ao piso inferior e revela o modo como ambos os pátios
são circunscritos pelos espaços considerados públicos. Para estes pátios comunicam
os seguintes espaços: as salas de ensaio, biblioteca / videoteca, anfiteatro, bar jazz e
as residências artísticas.
Identificação de acessos
Ilustração 291 - Esquema com identificação de acessos público / privado, piso térreo. (Ilustração nossa, 2014)
Ilustração 292 - Esquema identificação circulação geral, piso térreo. (Ilustração nossa, 2014)
Ilustração 293 – Esquema identificação circulação geral, piso -1. (Ilustração nossa, 2014)
Ilustração 294 – Esquema identificação circulação pública / privada, piso térreo. (Ilustração nossa, 2014)
O esquema da ilustração 294 revela como grande parte da circulação no piso térreo, é
considerada pública (cor vermelha), sendo apenas alguns dos percursos afectos aos
serviços e considerados como privados.
Ilustração 295 – Esquema identificação circulação pública / privada, piso -1. (Ilustração nossa, 2014)
Identificação do pátio(s)
A ilustração 296 identifica os dois vazios configuradores dos pátios. Estes são
classificados como espaços de uso público. Esta classificação advém da continuidade
e comunicações dos espaços, bem como dos percursos ambos públicos. Esta
continuidade manifesta a intenção projectual de querer prolongar o espaço público
pelo piso térreo do Centro Cultural de Jazz, permitindo deste modo o contacto visual
de quem passeia no piso superior para os pátios no piso inferior.
Esta relação entre o espaço público e os pátios prolonga-se para o interior do edifício.
As circulações interiores promovem diversos acessos a ambos os pátios, convidando
o público a descobrir e a apropriar-se daquilo que vai sendo visualizado no piso
superior.
220
Teoria de Theodor Lipps expressa no livro “A dinâmica da forma arquitectónica” de Rudolf Arheim, no
tema interacção dos espaços.
O muro foi o mote e elemento preponderante para a eleição desta área, e para a
intervenção projectual. O projecto teve em consideração a sua preservação e
afirmação. O edifício proposto incorpora formalmente e espacialmente o muro, sem no
entanto omitir o todo que o envolve. As primeiras experimentações têm início na
procura de utilizar a espessura do muro e o seu perfil longitudinal. A inquietação
passou por compreender uma possível solução que partisse da espessura do muro e
por esta via estabelecer uma íntima relação com a estrutura urbana existente no Bairro
dos Contrabandistas, através da criação de espaços, becos e pátios, potenciando a
vivência urbana.
Ilustração 297 – Maqueta de estudo em Dezembro, escala 1/1000. (Ilustração nossa, 2011)
Os vários estudos eram sempre tema de discussão, quase diária, com a turma e com
o mestre arquitecto Carlos Lampreia, contribuindo para uma pesquisa incessante da
solução que melhor respondesse ao programa e à relação que se pretendia que o
projecto estabelecesse com o sítio.
Ilustração 298 – Maqueta de estudo em Janeiro, escala 1/500. (Ilustração nossa, 2012)
A mutação almejada começa por utilizar a escala do muro como limite e à medida que
a percorremos revela-se a transmutação, desmaterializando-se o muro e o volume
edificado para uma escala mais humanizada, tendendo a aproximar-se com a
estrutura urbana do Bairro dos Contrabandistas.
Ilustração 299 – Maqueta de estudo em Março, escala 1/500. (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 300 – Maqueta de estudo em Maio, escala 1/500. Na cor vermelha localizamos o Centro Cultural Jazz. (Ilustração nossa,
2012)
Por sugestão do mestre arquitecto Carlos Lampreia, o Centro Cultural Jazz devia
confinar-se apenas uma parte do volume, pois a área disponível da intervenção era
bastante generosa e em virtude do programa não possuir áreas suficientes para a sua
ocupação integral, não se justificava a ocupação da sua totalidade. Assim delimitou-se
o projecto do Centro Cultural de Jazz à ocupação do lado direito do volume,
identificado na fotografia na cor vermelha.
Definida a solução que melhor respondia às questões colocadas pelo lugar, programa
e pretexto projectual, foi decidido proceder à exploração e concretização do projecto
em maqueta numa escala mais clarificadora (escala 1/200), aquilo que os esquiços
iam sugerindo e os desenhos técnicos iam registando.
Ilustração 301 – Maqueta de estudo em Maio, escala 1/200. (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 302 - Maqueta final em Junho, escala 1/200. (Ilustração nossa, 2012)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os esquemas elaborados permitem verificar, que nestes casos, como a figura do pátio
está dependente da geometria em planta e corte. Assim Alvar Aalto desenha um pátio
quadrado, enquanto Siza Vieira um pátio cuja configuração tem dois níveis de leitura,
consoante a planta do piso térreo ou a planta do primeiro piso.
O pretexto dos pátios destas duas obras, induz a leitura de volumes puros que
sofreram processos diferentes de subtracção de matéria, a qual lhes definem a forma
dos pátios. Existe uma diferença significativa no que concerne ao contexto em que
estas obras se inserem: Alvar Aalto com uma casa na natureza e desfrutando da
paisagem. Enquanto Siza Vieira com uma casa em território urbano descaracterizado
e vivendo sobre o pátio.
os casos, são pátios que servem a parte social e a parte privada da casa, numa
analogia que remete para as casas Romanas, nomeadamente para o átrio e peristilo.
No que diz respeito aos principais acessos ao interior do volume edificado, no caso da
Câmara Municipal de Seinäjoki, são efectuados ao nível do piso térreo, fora da zona
onde se configura o anfiteatro relvado, embora se confirme a existência de um vão no
topo do anfiteatro. A dimensão deste vão afere que o público podia aceder
directamente ao foyer da Assembleia Municipal, sem passar pela recepção localizada
no piso inferior. No entanto consideramos esta porta sem efeito, pois encontra-se
encerrada, possivelmente por razões de segurança abrindo apenas em ocasiões
especiais. Em relação à Biblioteca verificamos que os acessos, quer privado quer
público, são efectuados externamente ao pátio, comungando neste ponto com o caso
homólogo de Alvar Aalto.
acesso físico, deixando apenas à visão a sua apropriação e inclusão dentro dos seus
limites.
Assumimos que este pátio é uma construção mental. A sua presença manifesta-se
quando estamos “dentro dele” na cota do pavimento térreo e os seus limites
constroem-se sobre nós. Outra circunstância é quando, nas salas de leitura no
primeiro piso, sentimos a sua presença afirmativa e construída.
Embora estes dois casos sejam claros no modo como os autores se aproximam
projectualmente, quando configuram o pátio e estruturam o seu edificado. Os restantes
casos de estudo, referentes à escala do pátio semi-privado (no edifício público) e à
escala do pátio público (na estrutura urbana), verifica-se que não comungam da
mesma parecença. Não queremos dizer com isto que não se verifiquem pontos
comuns entre eles, aliás é possível encontrar pontos comuns, mesmo quando
afirmamos serem díspares, conforme já descrito e evidenciado anteriormente.
Outra das ilações deste estudo foi a constatação da utilização, pelos dois autores,
consciente ou inconsciente e de um modo mais rigoroso ou aproximado, das
proporções clássicas definidas pelas regras que Vitrúvio aconselhava para o eficaz
dimensionamento do pátio. Assumindo que tanto Alvar Aalto como Siza Vieira são
arquitectos de formação clássica, tendo conhecimento destas regras, podem-nas ter
utilizado como base projectual.
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VIEIRA, Álvaro Siza (2009) – Imaginar a evidência. Trad. Soares da Costa. Lisboa :
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Manuel Pedreirinho. Lisboa: Edições 70.
ZEVI, Bruno (2009) – Saber ver a arquitectura. Trad. Maria Isabel Gaspar, Gaëtan
Martins de Oliveira. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.
LISTA DE APÊNDICES
O acesso ao interior da casa é efectuado pelo pátio O acesso ao interior da casa pode ser efectuado pelo
= pátio
Os espaços sociais tem contacto visual com o pátio. No rés-do-chão são os espaços sociais que tem
Os espaços privados desenvolvem-se para o lado contacto visual com o pátio.
posterior do edifício, sem visão para o pátio. = No primeiro piso os espaços privados possuem visão
para o pátio.
O percurso geral desenvolve-se em torno do pátio. O percurso geral efectua-se em torno do pátio e
O percurso social posui contacto visual, parcial, com o desenvolve-se para o interior da casa.
pátio. O percurso privado não possui visão para o pátio,
excepto para o lado posterior do edifício. = O percurso social é apenas no rés-do-chão.
O percurso privado desenvolve-se no interior da casa,
quer no rés-do-chão quer no primeiro andar.
Existe um pátio construído pela subtracção de matéria, Existe um pátio cosntruído pela subtracção de matéria,
servindo a parte social do edificado (átrio). servindo a parte social do edificado (atrio).
Verifica-se um outro espaço, que serve a parte privada Verifica-se um outro espaço, que serve a parte privada
da casa, passivel de ser interpretado como um pátio
(peristílo), construído entre o limite do edificado e do
= da casa, passivel de ser interpretado como um pátio
(peristílo), construído entre o limite do edificado e do
afloramento rochoso. muro que circunda o terreno.
Alvar Aalto Siza Vieira
Casa de verão - Muuratsalo, Finlândia Casa Beires - Póvoa do Varzim, Portugal
Verifica-se a utilização da raiz de dois (?2 - uma das três A dimensão do pátio social aproxima-se da proporção
proporções Vitrúvianas para o desenho do pátio), de um de raiz de dois.
modo consciente ou inconsciente, na relação
proporcional do desenho entre o pátio e o volume = A dimensão do pátio privado é muito semelhante à
proporção 5:3 (uma das três proporções Vitrúvianas
edificado. para o desenho do pátio).
A altura do pátio, na parte mais baixa, aproxima-se da Não se verificou qualquer relação na altura do pátio que
medida que Vitrúvio afirma no seu tratado de serve o espaço social da casa, com as dimensões
arquitectura. Neste caso, um quarto (1/4) do
comprimento da raiz de dois. = Vitrúvianas.
A altura na lateral do pátio privado é coincidente com um
quarto (1/4) do comprimento da raiz de dois.
APÊNDICE B
Tabela comparativa na escala do pátio semi-privado (no edifício público)
Tabela comparativa dos casos de estudo na escala do pátio semi-privado (no edifício público)
O acesso público ao interior da Câmara Munícipal é O acesso público ao interior do Pavilhão é efectuado
efectuado pelo pátio sobrelevado. = pelo exterior do pátio.
É a circulação pública, através do corredor, que medeia A circulação pública termina logo a seguir às escadas,
o espaço exterior do pátio e o interior do edifício. Verifica- não tendo qualquer contacto visual com o pátio. Este
se que esta circulação possui contacto visual, para o percurso cingido ao foyer, permite à circulação privada
pátio, em todo o seu comprimento, até atravessarmos o
ponto onde a circulação é privada, afastando-se do vazio
= obter uma maior presença em todo o pavilhão, que se
desenvolve em redor do pátio, mas afastado dele.
central, passando a desenvolver-se no interior dos
espaços privados.
Alvar Aalto Siza Vieira
Câmara Municipal de Säynätsalo - Finlândia Pavilhão Carlos Ramos - Porto, Portugal
O pátio é entendido como sendo privado, embora seja O pátio é entendido como sendo privado, embora seja
espaço público.
= espaço público.
Verifica-se a utilização da raiz de dois (?2 - uma das três Não se verificou a utilização, em planta, de qualquer
proporções Vitrúvianas para o desenho do pátio), de um uma das três regras (Vitrúvianas) para a proporção do
modo consciente ou inconsciente, na relação
proporcional do desenho entre o pátio e o volume
= pátio.
edificado.
A parte mais alta do volume que constrói o pátio, é Não se verifica a utilização, em alçado, da regra
coincidente com um quarto (1/4) do comprimento da raiz (Vitrúviana) para o cálculo da altura do pátio.
de dois. Aferindo-se assim a utilização da regra de
Vitrúvio, para o cálculo da altura do pátio. =
APÊNDICE C
Tabela comparativa na escala do pátio público (na estrutura urbana)
Tabela comparativa dos casos de estudo na escala do pátio público (na estrutura urbana)
Todos os acessos ao edifício da Câmara Municipal de O acesso ao público é feito no lado oposto do acesso
Seinäjoki, são feitos fora da zona do anfiteatro.
= privado, verificando-se que ambos são feitos fora do
pátio.
Os espaços privados rodeam o pátio, encabeçado pelo O pátio no piso térreo, é envolvido pelo volume em
espaço público (assembleia Municipal). forma de L, albergando os espaços privados.
= No primeiro andar localizam-se as salas de leitura
identificados como sendo espaços públicos.
O pátio é identificado como sendo privado, embora seja O primeiro pátio no piso térreo é construído pelo volume
espaço público por excelência. (utilização administrativa) com a forma em L e é
entendido como um pátio público.
Verificou-se a utilização da raiz de dois na proporção do Não se verificou a utilização de qualquer de uma das
espaço, entendido como pátio. = regras Vitrúvianas, para a proporção dos pátios.
Não se verificou a utilização, em alçado, da regra Não se verificou a utilização, em alçado, da regra
(Vitrúviana) para o cálculo da altura do pátio. = (Vitrúviana) para o cálculo da altura dos pátios.
ANEXOS
Alvar Aalto e Siza Vieira, as três escalas de pensar e construir o pátio
LISTA DE ANEXOS
Hello,
Marja-Liisa Hanninen asked me to send you drawings of Saynatsalo, Seinajoki and Muuratsalo.
best,
Risto Raittila
Tutkija / Arkistot
risto.raittila@alvaraalto.fi
www.alvaraalto.fi
https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=b6b319bee6&view=pt&search=inbox&th=1473411bbc877386&siml=1473411bbc877386 1/1
23/7/2014 Gmail - risto.raittila@alvaraalto.fi has sent you a file via WeTransfer
risto.raittila@alvaraalto.fi
sent you some files
‘Drawings from Alvar Aalto Museum’
Download
Available until
21 July, 2014
https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=b6b319bee6&view=pt&search=inbox&th=1473409cf7c337c5&siml=1473409cf7c337c5 1/1
23/7/2014 Gmail - FW: Obrigado por usar o WeTransfer - o ficheiro foi enviado para nunosmduarte@gmail.com.
FW: Obrigado por usar o WeTransfer - o ficheiro foi env iado para
nunosm duarte@gm ail.com .
1 mensagem
Destinatários
nunosmduarte@gmail.com
https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=b6b319bee6&view=pt&cat=Tese%20mestrado&search=cat&th=14711b3ff0bd78d6&siml=14711b3ff0bd78d6 1/2
23/7/2014 Gmail - Tese Mestrado
Tese Mestrado
Álvaro Siza Arq. - Anabela <anabela@sizavieira.pt> 7 de Julho de 2014 às 16:20
Para: Nuno Duarte <nunomsduarte@gmail.com>
Boa tarde,
Relativamente ao projecto da Casa Beires lamento informar mas os desenhos foram elaborados à mão
e não estão ainda digitalizados. Também neste momento não temos disponibilidade para o fazer.
Anabela Monteiro
Nuno Duarte
91 751 81 99
No dia 4 de Julho de 2014 às 17:26, Álvaro Siza Arq. - Anabela <anabela@sizavieira.pt> escreveu:
Vou enviar neste momento material sobre a Biblioteca de Viana e Pavilhão Carlos Ramos, pelo programa WE
https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=b6b319bee6&view=pt&cat=Tese%20mestrado&search=cat&msg=1471169d1bf1cfc1&dsqt=1&siml=1471169d1bf… 1/2
ANEXO B
Desenhos do projecto Casa de Verão em Muuratsalo, Alvar Aalto
ANEXO C
Desenhos do projecto Casa Beires na Póvoa Varzim, Siza Vieira
ANEXO D
Desenhos do projecto Câmara Municipal de Säynätsalo, Alvar Aalto
ANEXO E
Desenhos do projecto Pavilhão Carlos Ramos no Porto, Siza Vieira
ANEXO F
Desenhos do projecto Centro da cidade de Seinäjoki, Alvar Aalto
ANEXO G
Desenhos do projecto Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, Siza Vieira
Ilustração 303 - Planta da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Ilustração 304 - Corte da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Ilustração 305 - Corte da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Ilustração 306 - Corte da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Ilustração 307 - Alçado da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Ilustração 308 - Alçado da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Ilustração 309 - Alçado da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Ilustração 310 - Alçado da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Ilustração 311 - Alçado da Casa de Verão
em Muuratsalo. (Museu Alvar Aalto, 1952)
Corte