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INFORMATIVO STF nº 973

Olá, pessoal! Tudo bem?

O assunto de hoje é o Informativo STF nº 973.

Na seara constitucional, foram trazidos 3 (três) temas. Os dois primeiros estão relacionados
à pandemia do coronavírus. O primeiro trata da competência dos entes federativos em
relação aos serviços públicos e às atividades essenciais relacionados à saúde pública. O
segundo é sobre a Medida Provisória 936/2020, que autoriza alterações nos contratos de
trabalho por meio de acordos individuais. Por fim, o terceiro trata de desautorização de
entrevista jornalística com preso.

Vamos lá?!

Abraços,

Ricardo Vale / Nádia Carolina / Dayane Reis

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1. Covid-19: saúde pública e competência dos entes federados
O Presidente da República pode dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e
atividades essenciais, considerando a necessidade de se tomar medidas de enfrentamento
da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus. Por se tratar de competência
concorrente, a atuação da União não diminui a competência própria dos demais entes
federados na realização dos serviços de saúde.

(ADI 6341 MC-Ref/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgamento
em 15.4.2020)

1.1 – Introdução ao Tema

A CF/88 estabelece a competência concorrente dos entes federados para legislar sobre
saúde pública:

“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre: (...)

XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (...)”

Vale lembrar que, no exercício da competência concorrente, compete à União o


estabelecimento de regras gerais. Já aos Estados e ao Distrito Federal, cabe suplementar a
legislação federal ou exercer competência legislativa plena (na omissão da União). Aos
Municípios, por sua vez, embora não disponham de competência concorrente, cabe
suplementar a legislação federal ou estadual para atender às suas peculiaridades.

Ainda sobre a competência relacionada à saúde, conforme o art. 198 da CF/88:

“Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; (...)”

Nesse mesmo sentido, a Lei 8.080/1990, conhecida como Lei do SUS (Sistema Único de
Saúde) dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde e
assegura a municipalização dos serviços.

Feita essa breve introdução, vamos ao caso?

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1.2 – O que se discutiu na ADI 6341?

Esse foi um dos julgados mais polêmicos dos últimos tempos, muito comentado na mídia.
No atual cenário de pandemia do Coronavírus, todos querem saber: qual ente federativo
possui competência para determinar a quarentena e o isolamento? Pode a União
determinar a flexibilização das medidas de isolamento social?

Bem, falaremos tecnicamente sobre o caso a seguir.

A Lei 13.979/2020 dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde


pública decorrente do coronavírus. O normativo trata de temas importantes, tais como o
isolamento e a quarentena. Para que tenham uma noção do que ele trata, reproduzirei
abaixo alguns dos dispositivos da Lei nº 13.979/2020:

Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância


internacional decorrente do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito
de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas:
I - isolamento;
II - quarentena;
VI - restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e
fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou
aeroportos de:
a) entrada e saída do País; e
b) locomoção interestadual e intermunicipal;
§ 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão resguardar o
exercício e o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais
§ 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os serviços públicos
e atividades essenciais a que se referem o § 8º
§ 10. As medidas a que se referem os incisos I, II e VI do caput, quando afetarem a
execução de serviços públicos e atividades essenciais, inclusive as reguladas,
concedidas ou autorizadas, somente poderão ser adotadas em ato específico e desde
que em articulação prévia com o órgão regulador ou o Poder concedente ou
autorizador.
§ 11. É vedada a restrição à circulação de trabalhadores que possa afetar o
funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais, definidas nos termos do
disposto no § 9º, e cargas de qualquer espécie que possam acarretar
desabastecimento de gêneros necessários à população.

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Dessa forma, a Lei nº 13.979/2020 fixou quais medidas as autoridades poderão adotar, no
âmbito de suas competências, com o objetivo de promover o enfrentamento da
emergência de saúde pública decorrente do Coronavírus. Observe que a Lei nº 13.979/2020
é genérica ao mencionar “autoridades”, não definindo se a competência é do Presidente,
dos Governadores ou dos Prefeitos.

Todas essas medidas, entretanto, precisam ser adotadas com certa cautela, preservando o
funcionamento dos serviços públicos e das atividades essenciais. Caso as medidas de
circulação adotadas fossem muito restritivas, elas poderiam prejudicar o abastecimento
alimentar e a própria prestação de serviços públicos de saúde.

A Lei nº 13.979/2020 atribuiu ao Presidente da República a competência para, mediante


decreto, dispor sobre os serviços públicos e atividades essenciais. Em outras palavras, a
autoridade competente para enquadrar uma atividade como essencial seria o Presidente da
República.

Diante disso, foi ajuizada ação direta de inconstitucionalidade pelo Partido Democrático
Trabalhista (PDT) contra a referida norma, sob argumento de que, na prática, ela esvazia a
competência e a responsabilidade constitucional de estados e municípios para executar
medidas sanitárias, epidemiológicas e administrativas relacionadas ao combate ao
coronavírus. O partido alegou ainda que tal matéria não poderia ser tratada por medida
provisória, havendo necessidade de lei complementar.

1.3 – O que decidiu o STF?

O Plenário do STF, por maioria, entendeu que as disposições da MP 926/2020 não afastam
a competência dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para implementar
políticas públicas essenciais relacionadas ao combate do coronavírus, tendo em vista se
tratar de matéria de competência concorrente.

Ressaltou que, na ausência de manifestação legislativa da União, não se pode impedir o


exercício da competência dos demais entes federativos na promoção dos direitos
fundamentais. No caso, as normas da Lei 13.979/2020 devem ser lidas como decorrentes da
competência da União para legislar sobre vigilância epidemiológica. Tal competência, nos
termos da Lei do SUS (Lei 8.080/1990), não diminui a competência dos demais entes
federados na realização dos serviços de saúde. Até porque a diretriz constitucional (art. 198,
CF) é a descentralização desses serviços.

A Corte afastou o argumento de que a matéria (saúde pública) só poderia ser tratada por lei
complementar. Entendeu pelo cabimento de medida provisória, tendo em vista a urgência
e a necessidade de se traçar disciplina geral de abrangência nacional.

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Por fim, deu interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei 13.979/2020, a
fim de explicitar que, preservada a atribuição de cada esfera de governo, o Presidente da
República poderá dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades
essenciais, considerando a necessidade de se tomar medidas de enfrentamento da
emergência de saúde pública decorrente do coronavírus.

1.4 – QUESTÃO DE PROVA

(Questão Inédita) É constitucional decreto do Presidente da República que disponha sobre


serviços públicos e atividades essenciais relacionados à saúde pública, desde que não viole
as atribuições das outras esferas de governo.

Comentários:

Isso mesmo! Acabamos de ver que o entendimento do STF é no sentido de que, preservada
a atribuição de cada esfera de governo, o Presidente da República poderá dispor, mediante
decreto, sobre os serviços públicos e atividades essenciais. A competência para tratar de
questões relacionadas à saúde é concorrente. Questão CORRETA.

2. Covid-19: acordos individuais e participação sindical


O STF manteve a eficácia da Medida Provisória 936/2020, que autoriza a redução da
jornada de trabalho e do salário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho por
meio de acordos individuais em razão da pandemia do novo coronavírus,
independentemente de anuência sindical.

(ADI 6363 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgamento em 16 e 17.4.2020)

2.1 – Introdução ao Tema

Os chamados direitos sociais são direitos fundamentais de 2ª geração, ou seja, impõem ao


Estado uma obrigação de ofertar prestações positivas em favor dos indivíduos. Tendo como
valor-fonte a igualdade, buscam possibilitar melhores condições de vida aos indivíduos e,
assim, realizar a justiça social.

Na CF/88, os direitos sociais se concentram, em sua maioria, nos arts. 6º a 11. Entre eles,
nos interessa ao estudo de hoje a irredutibilidade salarial e o estabelecimento da duração
da jornada de trabalho.
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A irredutibilidade salarial está prevista no art. 7º, inc. VI da CF/88. Em estreita relação com
o princípio da vedação ao retrocesso, o texto constitucional só permite a redução do salário
por meio de convenção ou acordo coletivo de trabalho, ou seja, há necessidade de
intervenção sindical.

Por sua vez, a duração da jornada de trabalho é disciplinada no inc. XIII do art. 7º, o qual
garante que ela não será “superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho.”

Entretanto, no caso que veremos a seguir, o STF traçou contornos peculiares quanto à
participação sindical em situações envolvendo redução de salários e de jornada de trabalho
diante de um quadro excepcional de pandemia.

2.2 – O que se discutiu na ADI 6363?

No caso concreto, foi ajuizada ação direta de inconstitucionalidade (ADI 6363) contra a
Medida Provisória (MP) 936/2020, a qual, em razão da pandemia do novo coronavírus,
autoriza a redução da jornada de trabalho e do salário ou a suspensão temporária do
contrato de trabalho por meio de acordos individuais, independentemente de anuência
sindical.

Os partidos políticos que ajuizaram a ação direta alegaram que a MP viola a Constituição
Federal e a Consolidação das Lei do Trabalho (CLT) ao retirar direitos trabalhistas já
consolidados, tais como a irredutibilidade salarial, que somente poderia ser afastada por
meio de acordo coletivo com a participação do sindicato da categoria.

O ministro Ricardo Lewandowski deferiu, em parte, medida cautelar na ADI 6363,


subordinando a validade dos acordos individuais de redução de jornada de trabalho e de
salário e de suspensão temporária de contrato de trabalho previstos na MP 936/2020 à
notificação e à aprovação dos sindicatos.

2.3 – O que decidiu o STF?

O Plenário do STF, por maioria, não aprovou a medida cautelar concedida na ADI 6363 e
manteve a eficácia da MP 936/2020.

Argumentou a Corte que:

a) assinado o acordo escrito de redução proporcional de salário e de jornada de


trabalho, há uma complementação por parte do Poder Público. Assim, se o sindicato
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puder alterar os termos desse acordo, pode haver um descompasso entre essa
alteração e o abono pago pelos cofres públicos;

b) o objetivo da MP não é o de legalizar a redução salarial, mas sim de estabelecer


mecanismos emergenciais de preservação de emprego e de renda;

c) a eficácia da MP é restrita ao estado de calamidade (90 dias) e haverá, como já


mencionado, complementação de renda por parte do Estado;

d) o empregado tem a opção de não aceitar essa redução. Nesse caso, se houver
demissão, ele receberá o auxílio-desemprego;

e) embora não se exija a anuência sindical, os sindicatos não ficarão totalmente


alheios a esses acordos. Eles serão comunicados, para verificar a necessidade de
estender os termos de determinado acordo a outros trabalhadores da categoria, ou
para indicar a anulação dos acordos, se houver algum vício.

Em síntese, é constitucional a norma que permite a redução da jornada de trabalho e do


salário por meio de acordos individuais, independentemente de anuência do sindicato,
desde que em caráter excepcional, restrita ao estado de calamidade pública.

2.4 – QUESTÃO DE PROVA

(Questão Inédita) Até mesmo em situações excepcionais, é inconstitucional qualquer


alteração de salários sem anuência prévia dos sindicatos.

Comentários:

Não é bem assim! Como vimos, o STF em situação excepcional, como a pandemia do
coronavírus, entendeu ser possível a dispensa de anuência sindical em negociações
envolvendo alterações de salários. Ressalte-se que isso não significa que os sindicatos
ficarão totalmente alheios a esses acordos; eles devem ser comunicados e podem, por
exemplo, verificar se há vícios. Questão ERRADA.

3. Desautorização de entrevista com preso e censura prévia

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A Segunda Turma do STF, por maioria, negou provimento a agravo regimental que
pretendia possibilitar entrevista jornalística a indivíduo preso. Argumentou não haver
ofensa à decisão tomada na ADPF 130.

(Rcl 32052 AgR/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14.4.2020)

3.1 – Introdução ao Tema

A liberdade de imprensa é um dos importantes fundamentos do Estado Democrático de


Direito, pelo que a CF/88, em seu art. 5º, dispõe que:

“IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença; (...)”

Por esse motivo, na ADPF 130, o STF declarou a não recepção da Lei de Imprensa (Lei
5.250/1967) pela CF/88.

Entretanto, é preciso ter em mente que, a liberdade de imprensa não é um direito absoluto,
devendo ser exercida em consonância com os demais direitos fundamentais.

3.2 – O que aconteceu no caso concreto?

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) proibiu a Revista Veja de entrevistar Adélio
Bispo dos Santos, acusado de tentar matar Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial
de 2018.

Inconformada, a Abril Comunicações S/A (editora da Revista Veja) ajuizou reclamação no


STF, apontando desrespeito à decisão proferida na ADPF 130.

Na época, o relator (ministro Gilmar Mendes) manteve suspensa a realização da entrevista,


pelo que a editora interpôs agravo regimental.

3.3 – O que decidiu o STF?

A Segunda Turma do STF, por maioria, negou provimento ao agravo regimental interposto
pela Abril Comunicações S/A.

Reconheceu não haver semelhança entre o fundamento da decisão do TRF-3 e o decidido


no julgamento da ADPF 130. Até porque o TRF-3 não se baseou em nenhum dispositivo da
Lei de Imprensa. Pelo contrário, baseou-se:

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a) na importância da proteção das investigações e da prevenção de possíveis
prejuízos processuais (inclusive quanto ao direito ao silêncio); e

b) na necessidade de proteção do próprio custodiado, cuja sanidade mental era


discutível.

Destacou ainda que a reclamação não pode ser utilizada como substitutiva de recurso ou
atalho processual para fazer a causa chegar ao STF.

3.4 – QUESTÃO DE PROVA

(Questão Inédita) Em respeito à liberdade de expressão e ao direito de informação, não


cabe ao Judiciário impedir a realização de entrevistas jornalísticas com indivíduos presos
envolvidos em situações relevantes em âmbito nacional.

Comentários:

Não é essa a posição do STF. Verificadas as peculiaridades do caso concreto e de forma


fundamentada, o Judiciário pode impedir entrevistas a indivíduo preso. Vide o caso do
custodiado Adélio Bispo dos Santos (acusado de tentar matar Jair Bolsonaro), cuja entrevista
pela Revista Veja foi barrada pelo TRF-3. Questão ERRADA.

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