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O CASO
BRASILEIRO.
governamental quanto dos organismos internacionais como o Banco Mundial (BM, 1995), o
Programa de Promoção Educativa da América Latina e Caribe (PREAL) e a Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que poderão ajudar, mais diretamente a
desenvolver a educação com qualidade na lógica eficientista.
Dessa forma, quando se fala nas políticas de formação dos profissionais da educação
precisa-se vincular às mesmas a alguns fatores fundamentais para melhor compreensão.
Primeiramente a questão das reformas como um modo de regulação social, significando a
necessidade de uma legislação que procure adequar a formação às exigências da reforma do
Estado, que por sua vez precisa estar afinada com as demandas do mercado. Em segundo lugar
tem-se que considerar o papel dos organismos multilaterais, no caso específico o Banco
Mundial, na determinação dessa política que deve vir para legitimar as ações que deverão ser
implementadas nos países em desenvolvimento. Finalmente, um outro aspecto também
relevante é o consentimento explícito das autoridades tanto do poder executivo, como
Ministérios, Comissões, Conselhos, como do poder legislativo, através dos órgãos
responsáveis pela elaboração e aprovação da legislação, para que essas políticas sejam
colocadas em prática. É nessa lógica que a reforma na formação dos profissionais da educação
vem sendo construída, sobretudo nos países do Sul. Na lógica da regulação social, do controle,
da formação voltada para adequação ao mercado.
A Reforma do Estado, que começou de maneira oficial em 1995, teve, na ótica dos seus
idealizadores, como causa fundamental o tamanho do Estado e dentre as medidas para diminuí-
lo e torná-lo mais ágil era preciso, além do ajuste estrutural, transformar a administração
burocrática em uma gestão nos moldes empresariais, por ser esse modelo considerado
eficiente, produtivo e eficaz. No caso da educação havia mesmo um discurso que o problema
que a afetava era puramente administrativo, que não faltavam recursos, mas que estes eram
mal gerenciados. Para tanto era preciso descentralizar as ações permitindo que a comunidade
local pudesse participar mais efetivamente da gestão das escolas, tornando-as assim mais
vinculadas aos interesses da comunidade.
É nessa lógica que a preocupação com os profissionais da educação se manifesta mais
fortemente. O local dessa formação, a organização acadêmica, os conteúdos que a mesma
deveria abarcar, a forma de controle via avaliações externas das instituições e dos alunos, são
algumas das regulações apresentadas pelos governantes que viam à necessidade de estabelecer
políticas que pudessem dar conta dessas questões.
Os movimentos sociais também se manifestam e apresentam, via fóruns, documentos
com propostas que, em pontos fulcrais, tinham divergências das propostas governamentais. A
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luta desses movimentos, a definição pelo Conselho Nacional de diretrizes para a formação dos
profissionais da educação, incluindo aí os gestores, é o objeto central deste trabalho.
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Os PCNs, assim como as DCNs são documentos elaborados pelo MEC, aprovados pelo CNE e que trazem as
orientações curriculares para os diferentes níveis de ensino.
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Educação Profissional “[...] na área de serviços de apoio escolar e em outras áreas nas quais
sejam previstos conhecimentos pedagógicos”.
Ora, essa redação está dando margem a interpretações de que o Curso de Pedagogia
deverá doravante formar apenas o professor, sendo atribuído esse rumo à assunção pelo CNE
de um dos princípios da ANFOPE que é a “base docente”. Como já explicitado em
parágrafos anteriores, a compreensão de base docente para essa entidade do movimento é
diferente daquela atribuída pelo CNE, mesmo quando este tenta esclarecer o que entende por
atividades docentes, explicitando que “[...] também compreendem participação na
organização e gestão de sistemas e instituições de ensino”. (grifos meus).
O movimento estudantil, mas não só ele, tem se posicionado contrário a essas
Diretrizes exatamente pela compreensão que tem sobre a formação do pedagogo e de seu
campo de atuação, achando que houve um retrocesso na medida em que o Curso indica a
formação “apenas” do professor, sendo o resto complemento que vai depender muito do
projeto político pedagógico da instituição de educação. Ainda segundo esse entendimento a
maioria das instituições, sobretudo as de cunho privado, reduziria o curso apenas à formação
do docente por ser esta mais barata e mais rápida.
De fato a legislação pertinente (Resolução do CNE 1/06) dá margem a esse tipo de
interpretação, não sendo explícita em relação à formação do gestor, mesmo quando no artigo
14 e nos seus parágrafos tenta passar outra informação: “A Licenciatura em Pedagogia [...]
assegura a formação de profissionais da educação prevista no art. 64”. Nos Parágrafos que
seguem o artigo 14 da Resolução é explicitado que essa formação “[...] também poderá ser
realizada em cursos de pós-graduação, especialmente estruturados para este fim e abertos a
todos os licenciados”, não apenas aos pedagogos.
Assim, o que parece é que essa legislação, em relação à formação do gestor para a
educação básica, é muito dúbia, parecendo de fato encaminhar para o nível de pós-graduação
lato sensu a responsabilidade por tal, o que no caso brasileiro é muito complicado na medida
em que, em geral, essa modalidade é de ensino não é grautita, o que já coloca um grande
obstáculo à maioria da população que não teria como arcar com mais essa despesa. Há
realmente uma falta de maior clareza em relação à questão. Sendo sempre o Parecer mais
explícito, contudo, reafirmo, é a Resolução que tem força de lei, servindo aquele apenas de
respaldo argumentativo. Assim, no Parecer é dito que o campo de atuação do licenciado em
Pedagogia abrange duas dimensões, a saber, a docência e a gestão educacional, o que não é
tão claro na Resolução.
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Essa legislação deu o prazo de um ano para que os Cursos de Pedagogia se adaptem a
mesma, e que a seleção para a entrada no Curso na nova formatação se dê apenas no ano
posterior à adaptação. Sendo assim imagina-se que pelo menos a grande maioria das
instituições de ensino estará atendendo as exigências legais apenas a partir do ano de 2008.
Enquanto isso se cria uma espécie de vácuo em relação à formação do gestor em nível de
graduação, pois na especialização (pós-graduação), esse será mais um grande filão a ser
mercantilizado.
Considerações finais
A formação do profissional da educação tem sido um campo de grandes embates,
representando projetos em disputa, o que significa concepções diferenciadas de sociedade, de
educação e de ser humano. O aligeiramento da formação desses profissionais é algo que tem
sido objeto de recomendações de organismos internacionais como o Banco Mundial, que
indica de forma clara que essa formação deva ocorrer fora das Universidades 3, em Institutos
Superiores de Educação.
A compreensão dos movimentos sociais que o Curso de Pedagogia deve formar
integradamente o profissional da educação, aquele responsável pelo desenvolvimento de todo
o processo pedagógico, incluindo o planejamento, a avaliação, a gestão, a docência, se dá na
medida em que se vê a importância fundamental que o mesmo tem para o desenvolvimento de
um país.
As Diretrizes Curriculares de Pedagogia aprovadas em 2006, após um atraso
significativo em relação aos demais cursos, retratam a disputa que ocorre não só entre os
movimentos e as instituições governamentais, Ministério da Educação e Conselho Nacional
de Educação, mas dentro do próprio movimento, tendo em vista que existe uma parcela deste
que defende a existência de dois Cursos, um que formaria o professor e outro que formaria o
gestor. No estudo e análise da Resolução 1/06 se pode ter a impressão que o Conselho
Nacional de Educação quis atender aos dois lados do movimento e com isso criou uma
Resolução que não explicita de forma clara o perfil do pedagogo, deixando livre de
interpretação se o gestor, por exemplo, pode ser formado na graduação ou na pós-graduação.
Para alguns essa legislação não é a ideal, mas representa o que foi possível obter nessa
correlação de forças. Isso pode até ser compreensível, contudo não deve significar que o
movimento deixe de fazer críticas às Diretrizes e não dê atenção ao movimento estudantil que
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Apenas a Universidade tem a obrigatoriedade da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. Os
Institutos Superiores, as Faculdades apenas desenvolvem ensino, isto é não realizam pesquisa.
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Referências
OCDE. Investir dans les compétences pour tous. Communiqué. 2001. Disponível em :
www.oecd.org/media Acesso em mai 2002.