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CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 25, n o. 1, p. 133-152, jan./jun.

, 2010

O DIREITO
DOS RÚSTICOS E O
PROJETO CIVILIZADOR –
UM ESTUDO SOBRE
O BANDITISMO RUR AL
RURAL
NO BR ASIL
BRASIL

Célia Nonata da Silva*

Introdução disso, subentende-se que o crime reporte a


Quaisquer análises que incidam sobre os uma esfera dos estudos da violência, condi-
O direito
aspectos da violência devem fazer menção cionada ao uso extensivo do poder e da for-
dos rústicos e o
projeto civilizador – a sua separação e distinção nos seus vários ça de um indivíduo sobre o outro, levado a
o banditismo rural um nível de constrangimento até o homicí-
no Brasil níveis formais e paradigmáticos. Os estudos
requerem primeiramente uma discussão so- dio. A organização ou racionalização deste
Célia Nonata bre o conceito e diferenciação das formas tipo de violência cotidiana condicionam a
da Silva de violência coletiva e das variáveis da vio- outra temática identificada como banditismo,
lência cotidiana, que incidem sobre a temá- crime organizado, máfia ou quadrilha, todos
tica apresentada. Assim, devemos deixar identificados como comportamentos desvi-
claro que o estudo da violência envolve re- antes de um código penal.
flexões e análises sob uma variante de as- Entretanto, em uma determinada socie-
pectos identificados desde os conflitos dade a resolução dos conflitos pode ser con-
sociais – que configuram tanto nas formas dicionada por uma prática jurídica local. Assim,
da violência coletiva, identificadas com os a exemplo do Brasil, os conflitos agrários en-
conflitos trabalhistas, os conflitos de classe, volvem a prática costumeira do pistoleirismo
os conflitos de terras – ao homicídio. Além como limite clássico da intolerância e ou de-

* Doutora em História e Culturas Políticas pela UFMG.


Pesquisadora do IICA/NEAD. Professora e Coordenadora do
curso de História da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte.

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fesa das propriedades rurais. Com efeito, as operário – já que esta ‘marginália’ vivia em
nossas análises irão contemplar apenas as constante suspeita. Roger Lane, Yue-Chim
formas de violência cotidiana delimitadas pelo Wong e historiadores como Willian Taylor e
banditismo rural, que podem ou não ser re- John E. Kicza são exemplos de estudiosos
sultantes dos conflitos agrários no país. Cer- que tem relacionado à violência interpessoal
tamente, envolvem relações de poder local e e a incidência de crimes aos hábitos de be-
sua manutenção pelos domínios territoriais bedeira nas sociedades ocidentais e colônias
conquistados, além das redes de solidarie- em particular.2
dade e de características socioculturais pe- A partir da década de 1960 com a história
culiares ao meio rural. Lamentavelmente, social, influenciada pelos estudos socioló-
muitos autores enfatizam a atuação do crime gicos, os trabalhos acadêmicos interessaram-
organizado nos centros urbanos, incidindo em -se pela violência direcionada aos movimentos
suas análises sobre dados quantitativos do sociais e a exploração da classe operária. Isto
narcotráfico, principalmente nos centros do de certa forma possibilitou o surgimento de
Rio de Janeiro e de São Paulo. Com efeito, o outras perspectivas, utilizando-se de uma re-
crime organizado detém atualmente as refe- leitura sobre o aparato conceitual marxista e
rências de pesquisas e análises acadêmicas a nova ênfase sobre os estudos culturais, em
sobre o tema da violência, diminuindo o es- especial para as mudanças sociais. A historio-
paço de interesse e argumentação para ou- grafia desenvolvia, então, estudos buscando
tras possibilidades de argumentação sobre as compreender os movimentos sociais e, prin-
formas de banditismo no país. cipalmente, a violência coletiva. Dentre estes
O criminoso identificado trabalhos as teses de Charles Tilly (2004),
Hobsbawm (1976), Thompson (1997) e Ted
No século XIX, as análises sobre as ativi-
Gurr (1994), transformaram a historiografia
dades criminais começaram a ser resultan-
contemporânea, buscando não apenas a cor-
tes do interesse público burguês em cercear
relação dos elementos culturais, mas as mu-
as formas de agressividade, e os defensores danças sociais interagidas às relações de
do liberalismo em redirecioná-las ao merca- dominação e do poder público. Assim, a his-
do (SHNNER, 1992). A instrução patrocinada O direito
tória social proporcionou mudanças na histo- dos rústicos e o
pelo Estado era promover a eliminação do riografia, consolidando uma referência projeto civilizador –
o banditismo rural
comportamento rude e apaixonado pela di- conceitual fundamentada em novos aportes no Brasil
fusão do Projeto Civilizador norteador da boa teórico-metodológico fornecido por Fernand
conduta e dos hábitos de polidez. A masculi- Braudel, Michel Foucault e Pierre Bourdieu. Célia Nonata
nidade seria redirecionada em normas da Os oprimidos, os marginalizados, as mulhe-
da Silva

racionalidade pública, mas os estudos inci- res, os vadios, todos aqueles que foram ex-
diram drasticamente sobre os bêbados da cluídos da história, começavam a ressurgir do
classe trabalhadora, que devido às flutua- passado. Do conceito de ideologia, que ema-
ções do mercado de trabalho, afogavam o nava da relação “dominantes-dominados”, a
seu desespero e a sua miséria nas bebidas História Nova buscou inserir as noções de
como único recurso. Essa relação entre os mentalidade, imaginário e inconsciente cole-
hábitos de bebedeira, o aumento de crimes, tivo, abrangendo o aspecto cultural. Tudo isto
as desordens sociais e a oferta do mercado sem perder de vista a relação existente entre
de trabalho favoreceu as análises e estatís- a estrutura, as relações de dominação e a
ticas de pesquisadores do século XIX, tornan- cultura como hábito e comportamento. A par-
do significativa a relação crime-prosperidade tir daí, as análises da violência interpessoal
versus uma economia de miséria. Em 1977- tem se concentrado em dois modelos inter-
1987, as análises de Philips e Emsley1 de- dependentes: a violência instrumental (racio-
monstraram não haver muita diferença entre nal) que se traduz enquanto abordagem
uma classe criminal desonesta e um honesto quantitativa. Assim, considera-se apenas os

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índices de homicídios como indicação do grau relações sociais e humanas. A descoberta
de violência nas sociedades passadas. Um dessas noções valorativas pela historiografia
aumento ou declínio da proporção de homicí- possibilita a um novo entendimento das for-
dios nas dadas culturas traduz-se em resul- mas mais corriqueiras do viver em sociedade
tados variáveis nos níveis de violência. A outra e a conjugação destas com a manifestação
abordagem qualitativa, por sua vez, situa-se da violência, constatando-se não apenas os
no estudo da violência impulsiva e suas va- fatos históricos cruéis e sangrentos, mas uma
riáveis culturais. trama histórica intimamente relacionada com
A ênfase da pesquisa qualitativa situa-se as necessidades do homem.
no campo do comportamento moral e ritual Com efeito, tanto a violência racional que
dos indivíduos; assim como o significado con- possui uma orientação estratégica de meios
temporâneo atribuído aos atos violentos. Se- e fins quanto à violência impulsiva podem, de
gundo Spierenburg (1994), a obra de Natalie acordo o com contexto histórico, orientarem-
Davis (1995) foi pioneira nesse tipo de estudo. -se, cada qual, por um código ritual e simbó-
Ao analisar a violência enquanto atos simbó- lico das comunidades. Elementos culturais
licos para a purificação da comunidade fran- como moral, ética, rituais, elementos simbó-
cesa no século XVI, Davis buscou não apenas licos, as noções do lícito e o ilícito podem (e
constatar um fato histórico, mas problematizar devem) ser utilizados na análise dos inciden-
a manifestação da violência inserida dentro tes violentos de uma determinada sociedade,
de um código moral religioso. Os estudiosos como defende Pieter Spierenburg. Para esse
dessa linha têm proclamado que, até mea- historiador, porém, a tendência atual é a de
dos do século XVIII, a vida social dos indiví- uma marginalização crescente dos aspectos
duos, suas atitudes e comportamentos eram rituais da violência e uma ênfase progressiva
moldados de acordo com as normas de con- no caráter instrumental da ação violenta – o
duta e as regras morais que caracterizavam que tem produzido análises superficiais e
o Antigo Regime, cujo teor valorativo se evi- meramente estatísticas que não respondem
denciava tanto nos laços amorosos, quanto à complexidade de tal fenômeno, pois, a aná-
nas relações de ódio. Assim, elementos cul- lise da violência exclusivamente abordada em
O direito
dos rústicos e o turais passaram a ocupar as análises da vio- seu caráter quantitativo, por meio de indícios
projeto civilizador – lência cotidiana nas sociedades europeias documentais judiciais, apresenta inúmeros
o banditismo rural
no Brasil pré-industriais, relacionando-a aos conceitos problemas: veracidade das fontes, poucos
de honra, infâmia, insultos e até às celebra- indícios, mudanças nas atitudes públicas de
Célia Nonata ções festivas vigentes em sua época. repressão e nos padrões dos crimes cometi-
da Silva
Junto às análises de Pieter Spierenburg, dos, aumento da população, sem mencionar
os trabalhos de Juian Pitt-Rivers, Bruno as variações da economia, que influenciam
Lefebvre, Robert Muchembled possibilitaram as atitudes de sobrevivência dos agrupamen-
uma nova interpretação sobre a manifesta- tos humanos. Autores que se inserem nessa
ção da violência interpessoal, no século perspectiva, sustentados pela tese de Norbert
XVIII, cujos resultados demonstram uma re- Elias sobre o processo civilizador, reiteram,
lação íntima entre a agressividade humana, através de evidências documentais, um acen-
o conflito e a exigência em se manter um tuado declínio dos homicídios, a partir do sé-
espaço de aparências sustentado pela hon- culo XVII, e que se estende até o Oitocentos.
ra. A conduta violenta dos indivíduos objeti- De acordo com Elias (1998), a personali-
vava não apenas a manutenção de uma dade dos indivíduos se transforma conforme
posição de destaque diante dos demais. as mudanças nas sociedades mais complexas.
Buscava-se, antes de tudo, a distinção pes- Notadamente, a monopolização da violência
soal e as propriedades resguardadas. No se fez pela atuação crescente do Estado, acom-
cotidiano, percebem-se os elementos valo- panhada pela organização de uma força poli-
rativos imanentes às culturas e essências às cial e por um processo sociopsicológico de

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pacificação do instinto agressivo. Os tratados social behavior. (GURR, 1994, p.42-44). A
de boas maneiras, que passam a circular no mudança que se processou com as alterações
século XVII, são obras de uma nova aristocra- substanciais no Código Penal no final da era
cia de corte, que se formou, aos poucos, a par- moderna, buscando estigmatizar ainda mais
tir de elementos oriundos de uma camada os atos criminais e os criminosos, de maneira
social de comerciantes abastados. Como aris- alguma conseguiu afastar da nova sociedade
tocratas, eles desenvolveram um novo código o fantasma da violência, pois, como nos de-
de comportamento e conduta, baseada no con- monstra Peter Gay (2001), até o duelo – uma
trole das pulsões agressivas, que teve por ob- prática condenada entre os homens da épo-
jetivo um status social dentro da sociedade de ca moderna, por sua intensa crueldade e bar-
corte. Com a emergência dessa classe bur- bárie – persistiu clandestinamente nos meios
guesa ao poder, o princípio moderador e re- acadêmicos e dentro das elites intelectuais
pressor das pulsões humanas desenvolveu-se ao longo do século XIX.
concomitante à mudança gradual de um sis- As relevantes contribuições para os es-
tema feudal ao sistema capitalista, Com a len- tudos da violência cotidiana definiriam seus
ta ascensão do Terceiro Estado, os roubos, as paradigmas metodológicos e conceituais
rixas, a pilhagem e outros crimes cometidos com a diferenciação entre criminalidade e
em nome da honra vão se tornando fatos de banditismo, levando-se em consideração
menor importância em face da grande trans- muitos elementos culturais significativos.
formação dos hábitos que se processava. Por- Disso resultou a diferenciação do fenômeno
tanto, começava a se estruturar dentro do criminalidade e banditismo para os movimen-
Estado Moderno a função de manter a ordem, tos sociais, tornando-se mais transparente
por meio dos instrumentos de coerção a jus- as definições com a publicação da obra “Ban-
tiça, dispensando os velhos costumes tradi- didos”, em 1971, por Hobsbawm.
cionais que valorizavam a honra.
Hobsbawm: um marco diferenciador
Sustentado pelos estudos de Elias (1998),
Gurr (1994) elaborou suas interpretações so- Hobsbawm influenciou não apenas a his-
bre a violência interpessoal, no longo período toriografia, mas a criminologia latino-ameri-
O direito
que vai do século XVI ao XX, revelando mu- cana a partir dos modelos de interpretação, dos rústicos e o
danças significativas na incidência de crimes tanto para formas de banditismo individual, projeto civilizador –
o banditismo rural
violentos. Em fins dos séculos XVIII e início como para grupos marginais. A história e no Brasil
do XIX, verifica-se, por meio dos documentos outras áreas do conhecimento humano se
de cartórios, um declínio nas taxas de crimes, mostraram bastante influenciadas pelas ar- Célia Nonata
da Silva
motivado tanto pela mudança nos comporta- gumentações do autor, buscando concentrar
mentos individuais, quanto pela disposição do suas análises nos comportamentos dos ban-
Estado em punir e criar novas leis que asse- didos e dos marginais, inserindo-os no seu
gurassem a ordem social frente à agressivi- contexto social e histórico. Dentre estes tra-
dade humana. Afirma Gurr que essa balhos o personagem memorável e com
evidência na mudança de comportamento, maior recorte de pesquisas foi, sem dúvida,
sugerida por Elias, pode ser constatada pelo a figura de Lampião e seu bando. Em se-
exame da documentação cartorial. Essa pro- gundo lugar o bandido Antônio Silvino toma
gressiva sensibilização dos indivíduos, con- parte dos interesses acadêmicos. As faça-
comitante à criação de novas leis de punição, nhas de Lampião, o bandido no cangaço,
foi um fator decisivo para uma mudança efe- foram buscadas pelos historiadores e soció-
tiva de valores durante o século XIX: Because logos, interpretando a marginalidade como
of increased sensitization to interpesonal um fenômeno do sertão nordestino brasileiro,
violence, any long-term upward trend in assault, num contexto social de miséria e pobreza,
especially prior to the twenty century, is prima bem como das articulações das famílias tra-
facie suspect as na indicator of change in dicionais do nordeste brasileiro3.

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A tese de Hobsbawm consiste em dois O mundo rural é visto por Hobsbawm
esquemas fundamentais para o fenômeno: o como espaço cultural adequado, em qualquer
meio rural enquanto ambiente propício à ori- sociedade, às formas de banditismo, por de-
gem e atuação dos bandos; e a constatação ter alguns valores morais como a honra e a
deste meio social como necessariamente pré- unidade cultural como base de uma tradição
capitalista. A sugestão do autor é de que o político-cultural. Portanto, entende-se o espa-
banditismo social possa ser interpretado mais ço rural como áreas que guardam costumes
como um mecanismo de articulação para o populares e resguardam a unidade comuni-
protesto social, alicerçado no meio rural, do tária por meio da família, dissociadas do mo-
que apenas tumultos cotidianos, vimento frenético dos mercados populares
encarados como criminosos pelo senhor dos centros urbanos.
e pelo Estado, mas que continuam a fa- Mesmo considerando o fenômeno presen-
zer parte da sociedade camponesa, e são te em qualquer época e lugar, Hobsbawm cir-
considerados por sua gente como heróis, cunscreveu um tempo histórico para o
como campeões, vingadores, paladinos aparecimento e o fim do banditismo rural. O
da justiça, talvez até mesmo como líderes século XVIII seria este delimitador de águas.
da libertação e, sempre, como homens Até esse período, os criminosos, bandoleiros
a serem ajudados a apoiados. É essa
e salteadores de estradas não possuíam um
ligação entre o camponês comum e o re-
belde, o proscrito e o ladrão que torna o
comportamento predisposto a se associarem
banditismo social interessante e signifi- aos movimentos de revoltas, motins e rebel-
cativo (HOBSBAWM, 1971, p.11). dias. Esta ação, entretanto, apresenta-se
como um elemento paradigmático e diferen-
Isso sugere, por sua vez, que os bandi-
ciador para os bandos de salteadores e as
dos sociais aqueles que a opinião pública não
quadrilhas de bandidos, detectada a partir do
considera criminosos comuns (HOBSBAWM,
século XIX – um fenômeno resultante do pro-
1971, p.10) não são apenas indivíduos locali-
cesso de transição entre a tradição e a mo-
zados num espaço geográfico identitário, mas
dernização, próprio do contexto histórico do
que são determinados por este meio tradicio-
sistema capitalista. A transição das socieda-
O direito nal pré-capitalista. Suas ações de rebeldia e
dos rústicos e o des tradicionais para o mundo capitalista é
projeto civilizador –
revolta são formas de movimentos campone-
entendida como avassaladora para as formas
o banditismo rural ses tradicionais, que normalmente eram tidos
no Brasil de banditismo e da banalização da criminali-
pela população rural como símbolos de justi-
dade, bem como para as formas de compor-
ça e resistência contra o regime, tomando al-
Célia Nonata tamento agressivo e desordeiro no meio
da Silva gumas vezes um caráter de revolução.
urbano. A mudança de comportamento na
Entretanto, Hobsbawm demonstra que, em-
modernidade insere-se numa perspectiva de
bora o bandido se tornasse símbolo de liber-
aquisição de identidade e pertencimento ao
tação para o povo, por seu comportamento
novo mundo civilizado, testemunha da evolu-
heroico e justiceiro, seus projetos não alcan-
ção da racionalidade humana e do progresso
çariam à condição de serem politicamente
econômico. Uma reação conceitual atraves-
considerados revolucionários:
sa esta mudança, impondo novas concep-
Como indivíduos, são eles menos rebel- ções para as formas estéticas da arte, das
des políticos ou sociais, e menos ainda representações simbólicas, das mentali-
revolucionários, do que camponeses que
dades e costumes cotidianos até então condi-
se recusam à submissão, e que ao fazê-
cionados por uma visão de mundo tradicional.
lo se destacam entre seus companheiros;
ou são, ainda mais simplesmente, ho- A modernidade e os movimentos do moder-
mens que se vêem excluídos da carreira nismo vieram quebrar justamente esta redefi-
habitual que lhes é oferecida, e que, por nição de valores e ética, percebendo o mundo
conseguinte, são forçados à marginalida- como o ápice das oportunidades do homem,
de e ao crime (HOBSBAWM, 1971, p.18). redefinido em sua condição humana. O par

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antigo-moderno tornou-se um modelo para- que, ao roubarem o papel do Estado, em al-
digmático para as análises das condições gumas localidades pelo uso da valentia em
históricas e sociopolíticas das diversas so- defesa da honra pessoal, institucionalizaram
ciedades capitalistas. a violência em seu meio social, valendo-se
Outro elemento agregado às análises dos das regras criadas pelos mesmos, tidos como
bandidos em Hobsbawm é a associação cri- valores morais a serem seguidos. Nas socie-
me-pobreza, como condicionante para as for- dades tradicionais campesinas, formaram-se
mas de criminalidade. Para o autor, a noção grupos de atuação marginal com caracterís-
básica é de que os indivíduos só se tornam ticas comportamentais semelhantes às dos
‘foras da lei’ por não encontrarem melhores homens honrados, pela preservação da hon-
condições de trabalho e se verem excluídos ra pessoal, por meio do uso da crueldade e
do sistema, sendo forçados à carreira do cri- da bondade, em doses certas.
me. Ainda, outra condição a ser analisada Dos arquétipos Hobsbawmianos, as len-
na obra ‘Bandidos’ diz respeito ao comporta- das populares de Hobin Hood, Joaquin Mu-
mento marginal. Destituídos de qualquer pro- rieta e de Pancho Villa constituem, ainda,
grama coletivo e ação racional, os bandidos matrizes para a interpretação dos fenôme-
foram interpretados como indivíduos despro- nos de criminalidade latino-americana. O
vidos de racionalidade e de movimentação Ladrão Nobre, tido como um dos heróis das
coletiva para a ação política. Há uma dispo- baladas populares na Europa, tem sua ação
sição, na obra, para uma situação histórico- fundamentada na justiça a ser restabeleci-
contextual calcada numa determinação da. Sendo, portanto, vítima de injustiças, ele
interpretativa em que os indivíduos estão in- terá seu papel legitimado pela promoção da
seridos num meio social e cultural determi- equidade social. E, como todo indivíduo in-
nado. Desses dispositivos interpretativos, há, justiçado, retira dos ricos para dar aos pobres.
pois, um (pré)conceito em se considerar os A moderação no uso da violência e nas ações
bandidos como homens que não sabem o crueis, uma forma de bondade e popularidade
que fazem, e sem relações clientelares, e, justa, um o tipo de romantismo da visão de
se agem, apresentam ações irracionais e de mundo e a caridade são elementos essen-
O direito
rebeldia que, portanto, incorrem na lei. Ações ciais para identificar o ladrão nobre. Um ou- dos rústicos e o
inconsequentes e intempestivas, movidas tro tipo de bandido é o vingador, que também projeto civilizador –
o banditismo rural
pelo ódio aos indivíduos e à sociedade, já possui uma característica heróica. Esse he- no Brasil
que tais indivíduos não operam segundo um rói, contudo, tem nas suas ações não ape-
propósito político ou social. nas a bondade e a caridade, mas o terror e Célia Nonata
da Silva
Entende-se, pelas argumentações do au- a crueldade, que sabe repartir bem na co-
tor e dos trabalhos acadêmicos posteriores munidade. Não são vistos como indivíduos
em sua linha interpretativa, portanto, que o que espalham a justiça. Elaboram, eles pró-
fenômeno social do banditismo possui onto- prios, o universo ético em que atuam, numa
logicamente uma característica pré-política4. mistura entre o ladrão nobre e o monstro. A
Necessariamente, para Hobsbawm o bandi- honra pessoal sempre será ilibada, pela
tismo é um fenômeno cuja ação infringe a lei mostra de valentia e crueldade. Muitos in-
pela liberdade de escolha que irá ter fora da gressaram nos movimentos rebeldes das
obediência à autoridade pública e ao mundo primeiras décadas do século XX, como Sal-
do trabalho. Com isso, os bandos e gangs são vatore Giuliano, Pancho Villa e outros tan-
analisados como grupos que irão atuar, con- tos imortalizados pela história. Poderíamos
sequentemente, à margem de qualquer or- afirmar que esses bandidos são verdadei-
dem econômica legal e política, exercendo o ros Titãs. Eles, que roubam a autoridade e
contrabando, o tráfico e, em alguns casos, a poder, instauram uma nova ordem que lhes
autoridade de mando de homens que se fi- é própria, mesmo que por pouco tempo, ino-
zeram respeitar pelo medo. Foram homens vando, destruindo e criando outras possibi-

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lidades. Por fim, os Haiduks são auxiliados bilidades e oportunidades das culturas políti-
pela comunidade e dela têm todo o respeito, cas, revelando as formas de comportamento
contudo, não se comprometem com rebe- e a possível ‘simbiose’ entre os fora da lei e
liões, já que são salteadores por profissão. os guardiões da lei.
São anônimos na história, uma vez que a A repercussão dos estudos fundamen-
sua trajetória apresenta poucos tumultos e tados nas análises das culturas políticas tem
poucas glórias. Resumidamente, Hobsbawm contribuído para que, recentemente, autores
apresenta os modelos de banditismo calcado revisionistas sobre o tema do banditismo e
num segmento social convencional – o cam- da criminalidade, como Anton Blok (1972),
pesinato rural – e, o seu modus vivendis como Richard Slatta (1987), Billy Jaynes Chandler
uma situação regular, cuja ação coletiva se (1978;1987), Phillips Dretha (1987), Pat
vê padronizada por este ambiente propício ao O’Malley (1979), Paul Vanderwood (1981),
surgimento de grupos e indivíduos marginais, Rosalie Schwartz (1989), Linda Lewin
que fogem às regras sociais. Isto seria (1979;1987), Richard White (1981), Judy
questionado mais tarde principalmente com Bieber (1999;2001) e muitos outros, passam
o desenvolvimento dos estudos culturais na questionar a obra de Hobsbawm tanto no sen-
historiografia atual. tido teleológico-evolutivo do banditismo – a sua
consideração teórica de uma matriz do com-
Novas perspectivas Latino-americanas
portamento marginal como pré-político –, quan-
Os estudos atuais imersos na perspectiva to para a associação entre os movimentos de
de uma renovação da história política, origi- resistência e revolta, imbricados ao fenômeno
nada pela possibilidade em se construir uma no contexto da transição para a modernidade.
aproximação entre o cultural e o político, defi- A importância da dimensão estrutural socio-
nida pela cultura política, permite-nos discutir política tem sido amplamente analisada por
duas possibilidades de análises: uma verten- esses autores, como um dos elementos fun-
te que leva em conta os objetos tradicionais damentais para o desenvolvimento do fenôme-
da História Política, tais como: Estado, Insti- no, levando-se em consideração os aspectos
tuições, Elites, Partidos, e uma outra em que históricos e regionais.
O direito
dos rústicos e o
pesa a exploração de novos objetos como Destarte, o banditismo passou a ser inter-
projeto civilizador – imaginário político, semiótica, representação pretado com certo distanciamento das formas
o banditismo rural
no Brasil de poder, e outros. Assim, para identificar as romantizadas da da literatura de época e dos
culturas políticas, pode-se ter um “conjunto modelos conceituais evolutivos. Os bandidos
Célia Nonata de normas, valores, atitudes, crenças, lingua- e as quadrilhas foram (re)interpretados como
da Silva gens e imaginário, partilhados por determi- grupos marginais, quando o seu comporta-
nado grupo, e tendo como objeto fenômenos mento e a sua moral, ao infringirem o código
políticos (MOTTA, 1996, p. 83-91). E, como jurídico e penal, foram considerados inade-
exemplos de fenômenos políticos seriam os quados ou anormais5 pela sociedade da épo-
ritos, os símbolos, os comportamentos e va- ca. Se movidos pela frustração econômica ou
lores, que, agregados à cultura, tornam-se não, a resistência do bandido sempre será à
objetos e recortes investigativos pelo campo justiça e à autoridade, sem qualquer propos-
da historiografia. Com relação às elites, tem- ta de reformas sociais, ideais nacionalistas ou
se verificado o surgimento de um comporta- nativistas, que deles possam emanar. O que
mento que pode se estender fora do âmbito se tem verificado são ações mercenárias e
político-estatal como domínio, capaz de abar- venais, disseminadoras do terror e do medo
car a marginalidade, com extensas redes de na sociedade em determinadas regiões.
contrabando e outras formas ilegais para a O’Malley (1979), ao estudar a gang Ned
sobrevivência ou simplesmente a manuten- Kelly na Austrália, durante o século XIX,
ção de poder. As análises sobre banditismo percebeu que suas expectativas escapavam
recentemente têm levado em conta as possi- aos modelos de Hobsbawm. Mesmo que

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Kelly tivesse uma afinidade eletiva com a co- permitir não apenas uma mobilidade entre as
munidade rural pobre, suas ações eram for- classes (ou grupos), como também uma soli-
temente organizadas e violentas. Havia uma dariedade entre as mesmas.
rede entre os fazendeiros, a polícia e o ban- Este argumento tem influenciado muitos
do. Em outras palavras, além dos fatores trabalhos presentes na historiografia latino-
sociais e políticos intervirem nas condições americana, a partir da década de 1980, não
dos fora da lei, o problema também é perce- obstante o peso da literatura de Hobsbawm
ber a atuação da administração como agen- influencie, ainda, alguns trabalhos, como os
te de eliminação ou não do problema. Bieber de Michel Schroeder, Abelardo Montenegro
(2000) trouxe grande contribuição às análi- (1956) e Antônio Nunes (1998). Esses auto-
ses latino-americanas e principalmente para res enfatizam tanto as relações entre o ban-
a historiografia brasileira, quando de seus ditismo e criminosos comuns, quanto entre
estudos sobre a violência e a criminalidade guerrilheiros armados contra a política dos
no norte de Minas Gerais, especificamente governos, principalmente nos países latino-
Montes Claros, Paracatu, Januária e outras americanos. Nomes como os de Joaquín
localidades nas primeiras décadas do século Murieta, Anastacio Hernández e Pancho Vi-
XIX, inserida num jogo político local, pois, lla são reescritos pela história como heróis
ao analisar os índices da criminalidade na na cultura popular, posto que enfrentaram
região mineira no início do Oitocentos, a au- os inimigos do povo. Essa memória do ‘ban-
tora verifica a presença de redes de favores e dido herói’ associa-se intimamente ao fenô-
clientelismos entre os coroneis e fazendeiros meno do caudilhismo latino-americano,
do norte de Minas e alguns bandidos ou ca- durante o século XIX.
pangas da região, de cuja atuação valiam- A grande refutação ao modelo de concei-
-se sempre os homens de posse nas épocas tos de Hobsbawm foi feita na obra do profes-
de eleições, contribuindo para uma política sor Richard Slatta (1987), cujos estudos
corrupta. Bieber argumenta que as épocas referem-se, unicamente, às sociedades lati-
de eleições no império foram sempre perío- no-americanas, contribuindo para a renova-
dos em que ocorreu uma intensificação de ção da historiografia. O autor admite que o
O direito
crimes e homicídios na região, caracteriza- estudo do banditismo requer uma inovação dos rústicos e o
dos por um comportamento típico do sertão metodológica, para que a percepção de alguns projeto civilizador –
o banditismo rural
mineiro, baseado no desafio para manter a elementos considerados importantes, como o no Brasil
honra – componente da virtude enquanto contexto político-cultural e as redes familiares,
status e de classe social elevada. A honra não escape à análise documental. São duas Célia Nonata
da Silva
foi buscada como motivação moral para o as bases teóricas principais para as suas aná-
sistema eleitoral local funcionar de acordo lises. Primeiro, os bandidos não agem em de-
com os objetivos das parentelas de poder. fesa dos camponeses. Normalmente, são
Neste viés, Blok (1972) foi o primeiro a indivíduos independentes da comunidade, não
argumentar que Hobsbawm exagerou nos bandidos sociais. Mesmo fornecendo proteção
elementos de protesto e resistência identifi- a esta sociedade, agem por interesses pró-
cados entre o campesinato e o banditismo, prios. Depois, há que se constatar as inúme-
minimizando a importância da estrutura so- ras especificidades da América Latina apesar
cial e a ação de poder e jogo político dos mar- de uma mesma matriz cultural dada a partir
ginais. Blok tende a aceitar uma análise em das áreas de fronteira. Cada região possui ele-
que se verifica uma interdependência entre mentos diferenciadores e idiossincráticos, o
camponeses, elites e bandidos. A relação co- que caracteriza o fenômeno do banditismo
tidiana entre estes grupos se estabelece pela como multifacetado. Assim, ao analisar o ban-
formação de redes de alianças e negociações ditismo na Venezuela, o autor aponta para a
entre facções da elite e a pobreza. Assim, o formação de uma ‘classe’ específica chamada
banditismo, enquanto fenômeno social, pode ‘llaneros’, cujas atividades e modo de vida de-

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senvolveram-se num ambiente cultural próprio dade no sertão, existentes para a autora. A
às áreas de fronteira, definidas entre outros natureza das relações de patronagem local
elementos como de “oposição à autoridade foi determinante na formação de um curso
colonial centralizadora” (SLATTA, 1987, p. 35). para a configuração de um tipo de domina-
Para os Pampas Argentinos, os elemen- ção, cujo tipo de autoridade – o ‘coronel coi-
tos formadores do banditismo levantam teiro’ – alinhava-se ao banditismo (LEWIN,
questões ligadas à corrupção e a falta de 1987, p. 70). Antônio Silvino adquiriu fama e
escrúpulos dos oficiais da administração poder desde os sertões do Ceará, Paraíba e
colonial. Mitos como Martín Fierro, Juan Pernambuco. Aclamado pelo povo sertanejo
Moreira e Santos Vega foram perpetuados como o “Governador do Sertão”, o herói fora
pela literatura da resistência, por parte da da lei esteve envolvido em brigas de paren-
massa rural e classe média à ferocidade telas por poder, sem dispensar suas redes
modernizadora, excedendo a realidade his- de influência e proteção. Ao analisar Antônio
tórica. Assim, Slatta (1987) tem buscado Silvino, a autora conclui que o banditismo foi
demonstrar a existência de uma interação parte importante para a estrutura de acomo-
entre o bandido e o poder local, por meio de dação da autoridade local no sertão nordesti-
formas ilícitas de atuação, cujas raízes po- no, e que as formas de violência, empregadas
dem advir dos tempos coloniais. Dessa ali- pelo cangaceiro, tanto são gestos de afirma-
ança entre o poder público e o mundo da ção física na ausência de justiça e mudança
criminalidade surge uma estrutura de domi- positiva, como explicitam uma atração popular
nação formada a partir da solidariedade en- pela virilidade.
tre as elites e os bandos, legitimados pela Também Chandler (1987) irá se ocupar do
população local. A natureza de tais ajustes cangaço brasileiro, em especial da figura de
e pactos entre o poder e os marginais tende Lampião. Ao elaborar sua análise, constata
a transformar o banditismo em parte inte- que o sertão nordestino, pela sua estrutura
grante de um complexo político-cultural que político-cultural, é um centro em que há uma
envolve uma rede de solidariedade vingati- continuidade de vinganças privadas, ocasio-
va, roubos, formas ilegais de ganho, como o nadas pelas tensões de poder de famílias tra-
O direito
dos rústicos e o contrabando, rivalidades políticas e pesso- dicionais. Tais condições não fazem do
projeto civilizador – ais e até a formação de motins. Nesse as- cangaço uma situação inevitável, mas um lo-
o banditismo rural
no Brasil pecto, as discussões levantadas pelos cal possível de atração para a criminalidade
estudos de Slatta têm-se dirigido, principal- rural, que é uma consideração de todos os
Célia Nonata mente, à dimensão política do banditismo, brasilianistas sobre o assunto em questão.
da Silva
registrando uma conceituação do fenômeno Por fim, nesta tentativa em esclarecer um
para além da noção de pré-político ou arcai- pouco o banditismo, já existem alguns críti-
co. São formas limitadas de conscientização cos para as análises revisionistas de Richard
e organização, cujo poder e atuação têm sido Slatta, Linda Lewin. Joseph examina tanto cri-
quase sempre manipulados pelas elites e ticamente o modelo de Hobsbawm, que as-
famílias tradicionais ao longo da história. socia o banditismo social a um projeto de
É nesse caminho que Lewin (1987) anali- qualquer resistência camponesa, como os es-
sou o bandido Antônio Silvino no Brasil. Em- tudos da historiografia latino-americana, in-
bora a popularidade de Silvino ainda vigore seridos numa metodologia revisionista. A
na literatura como homem da honra e do bem, discussão de Gilbert se torna relevante quan-
comparando-o a Robin Hood, a autora des- do ele se refere ao problema conceitual de
monta o mito lendário do cangaço. Os seus Hobsbawm quanto ao fenômeno ser pré-po-
estudos não se descuidam do contexto socio- lítico e mais ou menos endêmico em socie-
político do sertão nordestino. Ao contrário, dades camponesas ou rurais isoladas, com
estão necessariamente associados à estru- proporções de transformação via incorpora-
tura da patronagem e às redes de solidarie- ção ao sistema econômico capitalista nas re-

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des legais do Estado-Nação (JOSEPH, 1999, rosto e o uso de máscaras e outras vestimen-
p. 10), descaracterizando o sentido evolucio- tas quaisquer pelos criminosos. Suas alian-
nista da tese. Ele, contudo, tende a concor- ças pautavam-se na fidelidade e organização
dar com a ligação resistência-banditismo, das ações dos bandos armados. Também, as
constatada por Hobsbawm. Em contraste com classes que compunham as quadrilhas que
as argumentações dos revisionistas, no que eram diversificadas: havia o bando dos fidal-
diz respeito às alianças dos bandidos com o gos e proprietários de terras, como o grupo
poder político, Gilbert procura demonstrar dos carpinteiros, diaristas e plebeus. Este per-
outras análises interpretativas para o fenôme- tencimento social norteava suas estratégias
no do banditismo. Através de uma nova de ação. O mérito do seu trabalho está em
metodologia, o autor tem verificado que as não tratar o crime e as “quadrilhas” de Ne-
ações reacionárias ao poder por parte de al- gros como subgrupos e subculturas, mas em
guns bandidos na América Latina, durante o perceber que tais atividades criminosas e for-
século XIX, podem ser interpretadas como as mação de bandos de transgressores tinham
alianças e conchavos com o poder político e elementos culturais e sociais a serem desta-
movimentos revolucionários para o contexto cados, e como o Estado e a justiça reagiram
latino-americano. O que ele irá defender é a a tais atividades. Não obstante sua visão ino-
formação de redes de favores apenas em vadora e ampla do objeto e seus elementos
momentos politicamente atípicos, como os específicos, norteadores do trabalho apresen-
revolucionários – bandidos Pancho Villa e tado, suas análises contrastaram com o mo-
Pascual Orozco – suportes das elites locais delo de Hobsbawm, pois,
no México. Este momento atípico da política Esses Negros não são absolutamente
será o propiciador de uma consciência espon- bandidos sociais (na acepção de E. J.
tânea da resistência rural. Para Gilbert detec- Hobsbawm) e tampouco rebeldes rurais,
tar esse momento atípico é contumaz para mas apresentam alguns traços de ambos
os estudos sobre o fenômeno do banditismo. os tipos. São florestanos armados, impon-
Vale lembrar que alguns autores já bus- do a definição de direitos a que a “gente
cavam interpretar a ação dos bandidos como do campo” se habituara, e também (como
O direito
algo diferenciado dos conceitos de Hobsbawm veremos) resistindo aos parqueamentos dos rústicos e o
e também dos autores revisionistas, quanto privados que usurpavam suas terras cul- projeto civilizador –
o banditismo rural
às alianças e conchavos dos bandidos com o tivadas, sua lenha para combustível e no Brasil
poder político, sendo atraídos pela perspecti- seus pastos (THOMPSON, 1997 p.77).
va de uma possível posição de neutralidade A partir deste esboço, conclui-se que alguns Célia Nonata
revisionistas, muitos deles brasilianistas, têm da Silva
das quadrilhas e bandidos6. A metodologia
empregada tem procurado demonstrar que os buscado reinterpretar a criminalidade latino-
grupos marginais e os bandos, mesmo fazen- americana sob óticas não-marxistas, em que
do alianças com o poder, permaneceram iso- o banditismo passa a ser analisado como um
lados – traço característico do banditismo. fenômeno complexo, multivariado, governado
Exemplo contundente pode ser citado pelo por elementos socioopolíticos, ambientais e
trabalho de Thompson (1997) sobre o cresci- culturais. Isto tem favorecido a ampliação das
mento de uma atividade criminosa específica pesquisas na abordagem das culturas políti-
na Inglaterra Setecentista, a atividade Negra cas, principalmente para o historiador, o o ges-
e a promulgação da Lei Negra pelo Estado tual, os comportamentos, crenças e os valores
Inglês decorrente desta constatação. Ao ana- culturais são determinantes para uma coesão
lisar a atuação das quadrilhas e dos crimino- de grupos, que também são imbricados ao fe-
sos, chamados Negros, que atuavam na nômeno político, revelando um sistema social
floresta de Windsor e nos caminhos de Hamp- complexo. Ainda, que as análises atuais sobre
shire, o autor demonstra, dentre outros ele- o fenômeno tenham levantado questões im-
mentos, as práticas rituais como o pintar o portantes sobre a formação de redes de poder

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e seu sistema de re des clientelares de solida- responsáveis pelas mortes crueis e pelo au-
riedade – do sistema de patronagem e das mento da criminalidade no sertão. Também
estruturas de poder privado-, das parentelas e Emanuel Araújo (2000) irá pesquisar os con-
do poder das famílias influentes, do comporta- flitos e desordens no sertão do país, logo no
mento político e do desenvolvimento do siste- processo colonizador e a formação de um
ma judiciário – tais elementos devem ser comportamento sertanejo, advindo do trato
buscados como realidades sociais para o cri- com a terra. Os sertões, principalmente os da
me, servindo de sustentação para argumenta- capitania das Minas, configuraram-se em ter-
ções e análises interdisciplinares, capazes de ras sem lei, devido às situações de vivência
descortinar os tipos de criminalidade em seus que ditaram as normas sociais, conferindo
espaços socioculturais. uma certa liberdade, devido ao fato de os cen-
A historiografia brasileira tros de poder estarem longe destas zonas de
fronteira, regiões de régulos e facinorosos que
As produções da historiográfica brasileira
abusavam do poder e do mando. Pelo medo
foram muito influenciadas pelo paradigma
e venalidade da administração portuguesa,
marxista, enaltecendo as ações da violência
tais poderes organizaram-se de tal forma que
no período colonial pelo sistema escravista. já não eram mais submissos à coroa portu-
Tais análises foram influentes e recorrentes guesa. O sertão foi traçado como espaço de
na historiografia brasileira7. Figuras como desordem e criminalidade naturais.
Antônio Silvino e Lampião integram os tra- Já Ivan de Andrade Vellasco (2000), ao
balhos sobre o Oitocentos no Brasil, que sur- estudar a mudança nos padrões de crimina-
gem por volta dos anos 1960 os quais trazem lidade e violência, procurou demonstrar a
pouca relevância às análises históricas8. Os presença de uma racionalidade da ordem po-
estudos concentraram-se nos chefes serta- lítica auferida pelo State-Building presente
nejos, nos jagunços do sertão nordestino e no Oitocentos brasileiro. As mudanças no
no cangaço como poderes locais renegados, Código Criminal de 1830 e, posteriormente,
senão prestando serviços apenas em épocas no Código do Processo Criminal, em 1832,
de eleição. A obra de Abelardo Montenegro na primeira metade do século XIX contribuí-
O direito
dos rústicos e o
(1956) é exemplo típico de trabalhos que en- ram para um controle do desvio e da morali-
projeto civilizador – fatizam a relação entre banditismo político e dade, elementos significativos para as
o banditismo rural
no Brasil o herói, por meio da análise da figura de José relações sociais principalmente no interior do
Antônio do Fechado. Um grande fôlego viria país. As análises do autor centram-se na cons-
Célia Nonata com os estudos de Maria Sylvia de Carvalho trução e consolidação do Estado brasileiro,
da Silva Franco (1 974) que realizou um trabalho im- efetivado principalmente pela mudança de
portante na linha da História Social, ao ana- seu sistema judiciário.
lisar a existência de um código cultural no Recentemente, MELLO (2004) contribuiu
sertão paulistano do século XIX, baseado na para o tema identificando e classificando a atua-
valentia e na honra. ção dos bandidos na esfera privada. Enfatizou
O código do Sertão apresenta elemen- o sertão como um lugar propício ao banditis-
tos fundamentais à estrutura político-cultural mo, dando ênfase a fronteira como propiciado-
tanto para o século XIX, quanto para o sete- ra desta conduta. Além de relevar o rosto das
centos, pois se refere a elementos integrado- maltas no contexto colonial mineiro não ape-
res do sistema cultural e mental da época, nas como contrabandistas, mas bandos que
capazes de determinar o comportamento dos mantinham relações com oficiais e homens da
indivíduos. A agressão e os conflitos na área administração.9 Frederico Pernambucano pro-
rural foram definidos a partir dessa matriz picia indagações mais acuradas quando ana-
cultural, explicando os atos de desafio e re- lisa a estética da valentia, fugindo às análises
beldia entre os homens, e os conflitos promo- precárias e taxativas quanto ao banditismo no
vidos pelas relações de vizinhança, como nordeste. As suas análises possibilitam inda-

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gações pertinentes quando elementos cultu- cobiça que cercavam os mandões e os justi-
rais são identificados como delimitadores de ceiros tentavam restabelecer a justiça num
condutas e ações corriqueiras no sertão, com- mundo de conflitos em que todos se sen-
partilhadas pelo poder dos bandidos. tiam mais seguros com a presença de um
O Direito dos Rústicos: a longa duração valente e destemido para a proteção. Disto
da justiça costumeira se valia a lei do mais forte no sertão. A este
costume de proteção de homens valentes
Não se trata aqui de reexaminar as ba- estruturou-se uma prática da vingança como
ses em que as teorias da criminologia foram tradição cultural, mantendo o mandonismo
construídas, mas sustentar uma hipótese como um dos canais mais oportunos ao ban-
para o estudo do banditismo no país a partir ditismo rural no país.
de sua sustentação em longa duração. A Percebe-se que ia se constituindo aos
percepção fundamental que as análises não poucos, no meio rural, um tipo de indivíduo
podem prescindir de uma existência calcada façanhudo e valente. O jagunço, então, foi o
nas redes complexas que envolvem o poder resultado da extensão das relações de po-
local, as rivalidades dos grupos de mando e der entre o potentado (fazendeiro) e outros
as formas de solidariedades entre o poder homens que trabalhavam para seu coman-
privado do bandido e o poder público. Evi- do e, agindo pelas relações de confiança e
dências mostram que os bandidos, mesmo ‘servilismo’, demonstrava esteticamente seu
manipulados pelas elites, têm sua ambição poder pelo facão e pelo chapéu de couro. O
pelo poder e são capazes de sua estrutura- vaqueiro tornou-se símbolo de virilidade
ção em um domínio qualquer. Um tipo de masculina e potencializador dos desejos de
poder fundado na disseminação do medo, ordem e poder. Ora, esse poder deveria ser
nos rituais de crueldade e na conduta moral transcendente e superior.
da valentia presentes nas áreas rurais. Daí Este homem valente foi uma criação ne-
emana o imperativo do respeito e da obedi- cessária para o mundo do trabalho do fazen-
ência, como é comum em todas as formas deiro, o potentado – necessidade advinda da
de banditismo. Este poder está alicerçado grande propriedade rural – estendendo seu
O direito
num tipo de dominação carismática regio- poder nas mãos destes homens, resolvendo dos rústicos e o
nal.10 Então, podemos afirmar que o bandido os conflitos e combatendo os adversários pe- projeto civilizador –
o banditismo rural
busca seu espaço de dominação. Uma do- las relações de mando. Estes braços de alu- no Brasil
minação primeira sobre o monopólio terri- guel emergiam das relações conflitantes e eram
torial. Se temporário ou não, dependerá da produtos da teia que se formava entre os po- Célia Nonata
da Silva
atuação dos bandos e da sua capacidade derosos do sertão. Estes capangas eram ele-
de organização, bem como, da capacidade mentos perturbadores e violentos que se
de o bandido justiceiro atribuir valor a sua metiam nas malhas do poder dos grandes pro-
própria conduta e aos princípios éticos inse- prietários rurais. Eram produtos da mistura
ridos em sua rede de solidariedade e poder. entre índios, negros e brancos. Mulatos, par-
Assim, a racionalidade é que orientará a for- dos e mamelucos em sua maioria, que, sendo
mação e, consequentemente, a organização criados em costumes indígenas e africanos,
de tais grupos e indivíduos. transportavam para as relações sociais seus
A existência das formas desse bandi- costumes e hábitos, formando um tipo de cul-
tismo já são identificadas em terras coloniais tura política mestiça, ao encontro das necessi-
no início do século XVIII. O sertão incontro- dades e reveses destas relações. Foram os
lável, rebelde e tumultuoso. Covil de ladrões, braços de aluguel do potentado, que levavam
bandidos e facinorosos que acalentava a o terror aos vilarejos, pelas vinganças e assassi-
vingança e o ressentimento de uns contra natos contínuos11. Todos inseridos numa mes-
os outros. Mas a justiça era preterida por ma característica das redes de solidariedade
todos que habitavam os sertões. Ao lado da rural como tradição cultural do sertão e costu-

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me do sertanejo fundada na ‘sebaça’12. Este res dos caminhos Manuel Nunes Viana foi o
mundo do trabalho feito a partir de relações de primeiro mais importantes da nossa história
poderes estruturas no sertão, erguia-se como mineira. Conhecido como capitão mor da fa-
costume e direito entre as relações de poder e zenda chamada Tábua, onde vivia a dispor
mando, estreitando os vínculos de solidarieda- os seus gados e minerar com os escravos que
de vertical – fazendeiros e ‘sebaceiros’. Víncu- trouxe, e chagado que foi se sitiou no arraial
los conformados nos acordos e nas formas do do Caeté, onde hoje é Vila Nova da Rainha13.
trabalho de proteção aos bens e as terras que E, que tomava as fazendas a uns para dar a
cercavam o poder dos fazendeiros. A prática outros, sequestrava bens ao seu arbítrio e
do direito costumeiro da sebaça por brancos impunha a lei que lhe parecia14. Possuía uma
vadios, mulatos, negros fugidos ou escravos extensa rede de amigos, cliente e negros co-
iria formar os pés da cultura política do mando- mandados, que na Barra do Rio das Velhas
nismo no sertão mineiro setecentista, transfor- fazia executar suas ordens por um negro in-
mando-a numa permanência cultural solente15. Era o Preto Bigode16 que coman-
identificada como tradição rural. O ruralismo dava muitos negros armados sob suas
no país foi construído a partir do que se consi- ordens. Além de seu poder carismático e de
dera costume hoje e desde os tempos da des- seu poder mágico, Nunes Viana contava com
coberta e dos primeiros morgados que aqui se o apoio do frei Menezes, que dominava os
constituíram. currais da Barra do Rio das Velhas na época.
Notadamente, a proteção às fazendas Nunes Viana era apenas o porta-voz dos gru-
era costume do projeto colonizador portu- pos de interesse local sustentado pelos cur-
guês, como atesta o Regimento de Tomé de raleiros da Bahia e de alguns padres que
Souza (1548). Assim, percebe-se que com dominavam a economia do couro na época.
o projeto colonizador a concentração de ter- Tornou-se bandido pela coroa portuguesa a
ras e a defesa de seus domínios era um partir do momento em que se estabeleceu o
dispositivo necessário à empreitada da oci- seu conflito de fato contra o governador das
dentalização em terras brasileiras, estabe- Minas, o conde de Assumar. Uma relação que
lecendo assim uma relação de solidariedade o levou à fama e também à morte. Pelo tem-
O direito
dos rústicos e o (...) sob as vistas dos colonizadores, os gran- po de sua valentia alardeada pelo sertão das
projeto civilizador – des senhores tinham tal delegação de man- Minas no começo do século XVIII, Nunes Via-
o banditismo rural
no Brasil do (SCHNOOR, 2001, p. 168). A relação de na construiu seu poder pela fama de gene-
poder e autoridade foram se instituindo nos roso e impiedoso, mas também por sua
Célia Nonata grandes morgados que formavam nos ser- extensão rede de amigos que iam, desde ín-
da Silva
tões, desenvolvendo uma economia pecuá- dios e negros fugidos, até potentados da
ria, com a criação do gado as margens dos Bahia. Esta relação de poder se organizava
ribeiros. Também, surgia nos sertões mão- sob a forma de conluios e conchavos, ami-
de-obra especializada. O vaqueiro ou o boia- gos e favorecidos pelos interesses de expan-
deiro como braço direito dos fazendeiros são de domínio local e poder econômico,
mantinham os negócios das fazendas e dina- caracterizando uma forma de mandonismo
mizavam a economia do gado. local, cuja prática violenta e cruel regia-se,
Brancos e negros escravos ou livres se também, pela manipulação do sagrado como
misturavam numa relação de troca de favo- forma de coação social. O poder destes se-
res e conluios, identificando a relação clien- nhores dos caminhos nas Minas tendeu a
telista de muitos bandidos e fazendeiros na crescer na primeira metade do século XVIII.
proteção dos seus interesses locais. Alguns A historiografia colonial detecta seu enfraque-
desses homens destemidos ficaram na me- cimento na segunda metade.
mória histórica. Eram afamados pela valen- Cabe-nos ressaltar, entretanto, que este
tia, pela crueldade e pela proteção que poder dos latifundiários irá cercear toda a
carregavam – o ‘corpo fechado’. Dos senho- atividade do período imperial. Desde a vin-

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da da família real, em 1808, para do Brasil, vos Eclesiásticos, cujos documentos eviden-
os potentados do país, principalmente das ciam a manutenção do pistoleirismo, aliado
Minas, São Paulo e Rio de Janeiro tranfor- à grilagem e a estrutura de poder oligárqui-
maram-se em coroneis fazendeiros utilizan- co no país17.
do-se da patente militar para garantir seus CONCLUSÃO
privilégios no poder. Em outros casos foram Ao analisar o surgimento do bandido justi-
colocados como ‘filhos da folha’ nos cargos ceiro e vingador no período colonial conside-
de magistratura. É importante notar, também, ramos pertinentes três princípios fundamentais
que o sertão não foi uma zona neutra. Pelo para o estudo do banditismo: a fronteira ou os
contrário, possibilitou a criação de uma for- sertões, como espaço físico e universo mental
ma de poder compartilhada até hoje pelo permeado; a cultura barroca fundante para a
costume das comunidades locais. formação de uma visão e representação de
O Brasil rural ainda permanece com suas mundo sertanejo, bem como das normas de
tradições e costumes coloniais definidos a conduta da valentia e da teatralização do po-
partir de um código moral e costumeiro da der e dos usos da justiça costumeira; e a di-
honra, calcada na valentia e vingança, sali- mensão da ordem privada concernente as
entando seu mecanismo de poder (SILVA, redes de solidariedade, clientelismos e favo-
2007). Consequentemente, o coronelismo res que sustentam as alianças entre o poder
como forma de mandonismo local no sertão instituído e os bandos. Percebemos, portanto,
era uma forma de cumprir e manter a cultu- que o fenômeno inclui-se numa análise ma-
ra política mandonista ainda permanente. cro-social, permeada por variações nas nuan-
Entretanto, a forma enaltecedora do banditis- ces de poder. Estamos, contudo, diante de um
mo ficou reconhecida no cangaço. Queremos fenômeno da tradição, da longa duração. A
afirmar que são os dois lados da mesma moe- permanência de uma tradição de poder priva-
da. Na verdade, o banditismo rural e o uso de do e suas relações dependentes do banditis-
capangas e jagunços foram os pés dos lati- mo questionam a eficácia de um projeto
fundiários e grandes fazendeiros não apenas civilizador para o país a partir do Oitocentos e
no nordeste, mas em todo o país. sua normatização das práticas violentas. O
O direito
Diferente do comportamento dependen- sertão visivelmente estaria caricaturado nas dos rústicos e o
te do potentado no século XVIII, os bandos obras de Almeida Júnior na República Velha, a projeto civilizador –
o banditismo rural
se tornaram mais independentes no século partir de uma representação idílica e fantasio- no Brasil
XIX. O exemplo que podemos citar é o ban- sa da vida sertaneja simbolizada pela inocên-
do do Januário Garcia, conhecido como o cia e paz. Ao contrário de uma realidade Célia Nonata
da Silva
‘Sete Orelhas’ que atravessou o Setecentos conflituosa e palpitante de valores coloniais.
ao Oitocentos se refazendo de práticas in- A manutenção de uma estrutura oligár-
dependentes do mando local, agindo como quica evidencia uma dinâmica de poder em
vingadores, assumindo algumas vezes o ca- que as formas do banditismo são usualmente
ráter de vingador (SILVA,2007). É importan- diferentes das vivências urbanas do narco-
te notar o típico comportamento do ‘corpo tráfico. A organização de dependência de
fechado’ como ritual de poder dos bandidos. seus atores caracteriza seus comportamen-
Esse tipo de comportamento irá permane- tos e sua permanência. O campo e seus ha-
cer até 1950, quando a relação entre coro- bitantes ainda usam uma maioria de hábitos,
neis e bandidos assume uma generalização valores e costumes, que podem ser identifi-
não apenas sendo constatada como parte cadas em documentos jesuíticas do século
integrante do nordeste e áreas do sudeste, XVI e XVII. Um passado profundamente
mas de toda a estrutura agrário-latifundiária marcado por uma mentalidade religiosa, por
do país, agindo como um mecanismo pro- hábitos rudes de homens valentes e pelo
vedor da ordem privada no meio rural. As sentido da honra masculina da vingança, que
constatações ficam evidenciadas nos Arqui- ainda são marcas da memória sertaneja.

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Lugar outrora de caminhos e entradas inter- terra. Sendo assim, a indubitável relevância
mináveis dos sertanistas e bandeirantes que do problema da terra ou da questão agrária
construíram este país sob a ilusão do ouro e no Brasil não se deve apenas a uma antiga
do paraíso terrestre, nas construções de situação de exploração dos trabalhadores e
costumes diferenciados e mestiços identifi- da terra, forjada historicamente pelo modelo
cando uma relação costumeira de tratar e concentrador de renda de grande potencial
ser reconhecido pelos seus. O direito costu- produtor de riquezas para as elites em ge-
meiro da posse da terra no país ainda nos ral, mas perceber a permanência da cultura
parece distante de uma forma legal e oficial política local e a estrutura das relações de
da justiça ser interativa. poder e suas formas valorativas de domínio
Neste ínterim, percebemos que o sertão privado alicerçadas ora pelo “pistoleirismo”
é até hoje uma terra incógnita. Portanto, é – defesa da propriedade agrária, ora pelas
necessário observar a própria dinâmica da formas de vinganças. Nesse sentido, socie-
cultura política produzida ao longo de alguns dade brasileira herdou como matriz histórica
anos a partir da atuação de uma ordem pri- a posse e a propriedade da terra enquanto
vada sobre as áreas de fronteira a ser anali- valor, não como riqueza. Estudar, e mais do
sada. Seria o mesmo que reintroduzir, no que isso, investigar as formas de banditis-
cenário das ciências humanas, a discussão mo rural ainda presentes no país é perceber
nada parcial das áreas de fronteira com suas também um jogo de poder entre bandidos e
feridas e mazelas, percebendo, ao mesmo ordem pública. É perceber uma estrutura de
tempo, como construímos nossa ideia de cultura política ainda fortemente arregimen-
posse da terra, ou seja, do sentimento da tada no mandonismo local e no jaguncismo.

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dos rústicos e o
projeto civilizador –
o banditismo rural
no Brasil

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Notas

1
Cf. WONG, 1999, p. 335. pos da Violência: Escravos e Senhores na Capitania do Rio
2
LANE, Roger. Crime and criminal statistics in nineteenth de Janeiro, 1750-1808. Paz e Terra. 1988; MOTT, Luiz. “Vio-
century Massachusetts. Journal of Social History; WONG, lência e repressão em Sergipe: notícias sobre revoltas de
Yue-Chim. Op. Cit., p.: 235-246. escravos (séc. XIX)”. In: Mesário do Arquivo Nacional. 6:5,
3
(1980), p. 3-21.
A esse respeito ver algumas leituras: VIDAL, Ademar. Terra
8
de Homens. 1974; LIMA, Estácio de. O Mundo Estranho dos Dentre outros destacam-se FACO, Rui. Cangaceiros e
Cangaceiros, 1965; QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. “Notas Fanáticos. Civilização Brasileira. 1965 e QUEIROZ, Maria
Sociológicas sobre o Cangaço”. In: Ciência e Cultura 77. 1975. Isaura Pereira de. Os Cangaceiros. São Paulo: Duas Ci-
p. 495-516; ALBUQUERQUE, Ulisses Lins. Um Sertanejo e dades. 1977.
9
o Sertão. 1975, dentre outros. Respectivamente: ANASTASIA, Carla Maria Junho. “Sal-
4
Cf.: O problema conceitual que discutiremos resumida- teadores, Bandoleiros e desbravadores nas Matas Gerais
mente reside na determinação entre dois métodos inter- da Mantiqueira (1783-1786)”. In: DEL PRIORE, Mary (org.).
pretativos: a ciência política e a filosofia política. Para Revisão do Paraíso. p. 115-139; FIGUEIREDO, Luciano.
BOBBIO, “o problema das relações entre a filosofia políti- “Furores sertanejos na América Portuguesa: rebelião e cul-
ca e a ciência política tem muitas faces. Pois, fixando-se tura política no sertão do rio São Francisco, Minas Gerais
o significado de um dos termos, ou seja, o de ‘ciência po- (1736)”. In: Revista Oceanos. Lisboa. 1999. p. 128-144.
lítica’, entendida como o estudo dos fenômenos políticos Ambos retratam os grupos marginais na capitania das Mi-
realizado com a metodologia das ciências empíricas e com nas inseridos em qualificações conceituais originais, bus-
o uso das técnicas de investigação da ciência do compor- cando entender suas ações fora do padrão de contrabando
tamento, se o outro termo – ‘filosofia política’ – é usado, e roubo, que muitos qualificam. Seus trabalhos são originais
na medida em que estas ações alcançam uma mudança de
como geralmente acontece, com significados muito varia-
perspectiva em que os bandos, amotinados e quadrilhas
dos, também as relações entre eles inevitavelmente vari-
na capitania das Minas convivem com outros grupos huma-
am”. BOBBIO, N. O Filósofo e a Política: Antologia. 2003.
nos e mantêm um tipo de relação com outros grupos e pes-
p. 57-58. Das concepções variadas e conflitantes destas
soas, que não apenas o uso e forma de contrabandos, como
encontra-se o conceito de política (pré-político). Se para
forma de atividades econômicas da época em que os gru-
a ciência política “toda a ação política é social, nem toda
pos marginais praticavam e eram reconhecidos apenas
a cão social é política” (BOBBIO, 2003. p. 142). Nesse
dentro dessas atividades
sentido, a âmbito da política não pode dispensar as rela-
10
ções de poder nas sociedades identificadas como inte- A esse respeito ver Max Weber, A Ética Protestante e o
resses, sendo, pois, o poder político o domínio da polis. Espírito do Capitalismo, e Política como Vocação, onde ele
Portanto, o conceito de pré-político não cabe as concep- estrutura os tipos de dominação e as formas de poder que
ções de poder da filosofia política, já que abrange as rela- delas emergem. Tem-se, pois, três tipos de dominação e
ções sociais sem levar em conta as diferenciações de consequentemente as formas de poder burocrático: a do- O direito
campo (sociedade e Estado). minação tradicional, a racional-legal e a carismática. Esta dos rústicos e o
5
nos é a mais apropriada para as análises do fenômeno na projeto civilizador –
Sobre o termo utilizado, a referência conceitual adveio dos
capitania das Minas. o banditismo rural
estudos de DESCAMPS, Ch. Normal/Anormal. In: Einaudi. no Brasil
11
p. 385. Urbino Vianna (1935) cita como régulos e potentados Atha-
6
nasio de Cerqueira Brandão, senhor da Casa da Carunha-
Entre eles destacam-se os trabalhos de SINGELMANN, nha; Dias do Prado, capanga de Domingos Jorge Velho e Célia Nonata
Peter. “Political Structure and Social Banditry in Northeast Nunes Viana como capanga de Mathias Cardoso. Destes da Silva
Brazil”. In. Journal of Latin American Studies. 1975. n. 7, v. nomes Athanasio teria sido degolado no pelourinho, Dias
1. p. 59-83; Orlove, Benjamin. “The Position of Rustlers in do Prado capturado, em 1724, e condenado à morte, tendo
Regional Society: Social Banditry in the Andes”. In: Land Nunes Viana sumido ou sido preso por Leolino Mariz ou,
and Power in Latin America: Agrarian Economies and Social até mesmo, viajado para Portugal, ficando aqui famoso por
Processes in the Andes. New York. 1980; Taylor, Lewis. suas crueldades (p. 51-77). Estas afirmações induzem so-
“Bandits and Politics in Peru: Landlord and Peasant Violence bre um braço forte da coroa portuguesa em vigiar e manter
in Hualgayoc: 1900-1930”. In: Cambridge: Centre of Latin os potentados sobre controle, sendo a posição de Nunes
American Studies, Cambridge. 1986; Galindo, Alberto Flores. Viana de comandado do Mathias Barbosa sem citar sua
Aristocracia y plebe: Lima, 1760-1830. 1984; BAUER, Arnald. posição de mestre de campo da Casa da Ponte e suas pos-
“Review of Slatta’s Bandidos”. In: The Journal of Social His- ses e nome como governador. Simão Pires (1979) já anun-
tory. 1989. v. 22. n 03. p. 562-70; EWELL, Judith. “Review ciava uma nova versão sobre o régulo Nunes Viana e a Guerra
of Slatta’s Bandidos”. In: The Americas. 1988. v. 45. n 1. p. dos Emboabas retratando fatores culturais e as tensões das
131-33; JOSEPH, Gilbert. “On the Trail of Latin American bandeiras.
Bandits: A Reexamination of Peasant Resistance”. In: Latin 12
O direito a Sebaça resumia-se numa troca de favores
American Research Review. 2002. v. 3. p. 9-53. dada a partir do direito a plantar e construir numa terra.
7
Conferir algumas obras que trabalharam nesta perspectiva: Das obrigações ficava presumidamente o dever de prote-
MACHADO, Maria Helena. Crime e Escravidão: Trabalho, luta ger e defender o patrão nas suas empreitadas de valentias
e resistência nas lavouras paulistas, 1830-1888. São Paulo: e exercer por ele tocais ou outro ataque qualquer. Daí origi-
Brasiliense, 1987; GUIMARÃES, Carlos Magno. Uma ne- navam-se bandos armados que faziam as pilhagens de fa-
gação da Ordem Escravista: Quilombos em Minas Gerais no zendas ou até mesmo vilas. Esse direito foi legítimo na
século XVIII. Belo Horizonte. 1983; LARA, Sílvia Hunold. Cam- sociedade da época, pois não se entendia um chefe sem

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seus comandados. Segundo Urbino Vianna, esse costume Pedro de Almeida ao Conde de Vimieiro de 10 de julho de
teria se enfraquecido com a criação dos Terços das Orde- 1719.
nanças, repreendendo a ação dos potentados, dos motins 15
Arquivo Público Mineiro. SC. 11. folha: 94. Carta de D.
e levantes sediciosos da primeira metade do século XVIII, Pedro de Almeida ao governador da Bahia em 1719.
tais como o motim de Manga, cuja cabeça era o padre San- 16
Sobre este personagem ver: PIRES, Salgado. Op. Cit.
tiago e São Romão. Do extermínio dos bandidos como João
1979. Também, CAMPOS, Maria Verônica. Governo de Mi-
Nunes Pereira e seu bando de 98 facinorosos, os Vira-Saias
neiros: “De como meter as minas numa moenda e beber-
no fim do século XVIII e outros (p. 93-96).
-lhe o caldo dourado: 1693-1737”. Tese de doutorado, USP.
13
Códice Costa Matoso. Belo Horizonte: Fundação João 2002. p. 280.
Pinheiro. 1999. Coordenação Geral: Luciano Figueiredo e 17
A esse respeito ver: Arquivo Eclesiástico da Paraíba –
Maria Verônica Campos. p. 197. Fundo Conselho Pastoral; e Arquivo da Prelazia de São
14
Arquivo Público Mineiro. SC. 11. folha: 136. Carta de D. Félix do Araguaia – Fundo: documentos diversos.

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