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8 Wallon
“A criança responde às impressões que as coisas lhe causam com gestos
dirigidos a elas”.

Segundo Santos (2011), Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu em Paris,


França, em 1879. Graduou-se em medicina e psicologia. Fez
também filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-
1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em
1925, criou um laboratório de psicologia biológica da criança. Quatro anos
mais tarde, tornou-se professor da Universidade Sorbonne e vice-presidente
do Grupo Francês de Educação Nova – instituição que ajudou a
revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de
1946 até morrer, também em Paris, em 1962. Ao longo de toda a vida,
dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas
crianças.

A criança, para Henri Wallon, é essencialmente emocional e


gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio cognitivo. O autor
estudou a criança contextualizada, como uma realidade viva e total no
conjunto de seus comportamentos, suas condições de existência. Segundo
Galvão (apud BASSO, s.d.), Wallon argumenta que as trocas relacionais da
criança com os outros são fundamentais para o desenvolvimento da
pessoa. As crianças nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no
qual ficarão envolvidas em um “sincretismo subjetivo”, por pelo menos três
anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e
o ambiente humano, sua compreensão das coisas dependerá dos outros,
que darão às suas ações e movimentos formato e expressão.

Segundo Basso (2010) antes do surgimento da linguagem falada, as crianças


comunicam-se e constituem-se como sujeitos com significado, através da
ação e interpretação do meio entre humanos, construindo suas
próprias emoções, que é seu primeiro sistema de comunicação expressiva.
Estes processos comunicativos-expressivos acontecem em trocas sociais
como a imitação. Imitando, a criança desdobra, lentamente, a nova
capacidade que está a construir (pela participação do outro ela se
diferenciará dos outros)formando sua subjetividade. Pela imitação, a
criança expressa seus desejos de participar e se diferenciar dos outros
constituindo-se em sujeito próprio.

Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém,


ele não é adepto da ideia de que a criança cresce de maneira linear. O
desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou
um adulto não são capazes de se desenvolver sem conflitos. A criança se
desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada estágio estabelece
uma forma específica de interação com o outro, é um desenvolvimento
conflituoso.
No início do desenvolvimento existe uma preponderância do biológico e
após o social adquire maior força. Assim como Vygotsky, Wallon acredita
que o social é imprescindível. A cultura e a linguagem fornecem ao
pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A parte cognitiva social é
muito flexível, não existindo linearidade no desenvolvimento, sendo este
descontínuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, como um
movimento que tende ao crescimento (BASSO, 2010, n.p).

De acordo com Galvão (apud BASSO, 2010), no primeiro ano de vida,


a criança interage com o meio, regida pela afetividade isto é, o estágio
impulsivo-emocional, definido pela simbiose afetiva da criança em seu meio
social. A criança começa a negociar, com seu mundo sócio-afetivo, os
significados próprios, via expressões tônicas. As emoções intermediam sua
relação com o mundo. Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos),
predominam as atividades de investigação, exploração e conhecimento do
mundo social e físico. No estágio sensório-motor, permanece a
subordinação a um sincretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não
está presente). Neste estágio predominam as relações cognitivas da criança
com o meio. Wallon identifica o sincretismo como sendo a principal
característica do pensamento infantil. Os fenômenos típicos do pensamento
sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e elisão.

Ainda segundo Basso (2010), na gênese da representação, que emerge


da imitação motora gestual ou motricidade emocional, as ações da criança
não mais precisarão ter origem na ação do outro, ela vai “desprender-se”
do outro, podendo voltar-se para a imitação de cenas e acontecimentos,
tornando-se habilitada à representação da realidade. Este salto qualitativo
da passagem do ato imitativo concreto e a representação é chamado de
simulacro. No simulacro, que é a imitação em ato, forma-se uma ponte entre
formas concretas de significar e representar e níveis semióticos de
representação. Essa é a forma pela qual a criança se desloca da
inteligência prática ou das situações para a inteligência verbal ou
representativa

Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação


inteligente, a qual constrói os significados diferenciados que a criança dá
para a própria ação. Nessa fase, a criança está voltada novamente para si
própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num
mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio
do “meu/minha”, faz com que as ideias atinjam o sentimento de
propriedade das coisas. A tarefa central é o processo de formação da
personalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio categorial trazendo
avanços na inteligência. No estágio da adolescência, a criança volta-se a
questões pessoais, morais, predominando a afetividade “é nesse estágio
que se intensifica a realização das diferenciações necessárias à redução do
sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretismo e o
estabelecimento da função categorial dependem do meio cultural no
qual está inserida a criança” (GALVÃO apud BASSO, 2010, n. p.).

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