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UNIVERSIDADE PAULISTA

BIANCA MARQUEZ SERAFIM, EMILY GONZAGA LEAL, GIOVANNA


TORRES, LAURA FLORA GARCIA EVANGELISTA, NICOLE KRUMMENAUER
PEREIRA.

A IMPORTÂNCIA DO SONO NA CONSOLIDAÇÃO DAS MEMÓRIAS.

SÃO PAULO
2020
BIANCA MARQUEZ SERAFIM, EMILY GONZAGA LEAL, GIOVANNA
TORRES, LAURA FLORA GARCIA EVANGELISTA, NICOLE KRUMMENAUER
PEREIRA.

A IMPORTÂNCIA DO SONO NA CONSOLIDAÇÃO DAS MEMÓRIAS.

Atividades Práticas Supervisionadas – Trabalho


apresentado como exigência para a avaliação do 2º
semestre do curso de Psicologia da Universidade
Paulista, sob orientação da professora Renata
Semighini.

SÃO PAULO
2020
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 4

2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 5

2.1 O que é a memória para a Psicologia ..................................................................... 5

2.2 Memória e as fases do desenvolvimento................................................................ 5

2.2.1 Desenvolvimento inicial do cérebro ................................................................... 5

2.2.2 Período pré-escolar e escolar .............................................................................. 6

2.2.3 Fase adulta ......................................................................................................... 7

2.2.4 Velhice .............................................................................................................. 8

2.3 Relação entre a memória e o sono ......................................................................... 9

2.4 Esquecimento ..................................................................................................... 10

2.5 Interferências na memória ................................................................................... 11

3. OBJETIVO........................................................................................................... 13

4. METODOLOGIA................................................................................................. 13

5. RESULTADOS .................................................................................................... 13

6. DISCUSSÃO........................................................................................................ 14

7. CONCLUSÃO...................................................................................................... 15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 16

ANEXOS ................................................................................................................. 19

Termos de Consentimento Livre e Esclarecido ......................................................... 19


4

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Feldman (2015), a memória consiste na capacidade de armazenar e


evocar informações e eventos que podem ter sido vividas ou ouvidas, logo tem ligação direta
com a aprendizagem. O sono é um estado de consciência, no qual o indivíduo não apresenta
nenhum movimento intuitivo ou respostas a estímulos externos leves, sendo considerado um
processo vital, que proporciona o relaxamento e repouso do nosso corpo, além de ser de
extrema importância para outros processos, como por exemplo a memória.

Caso haja a privação do sono, o organismo manifesta questões complexas como a


diminuição da atividade motora e cognitiva, podendo causar cansaço e inevitabilidade, além
de prejudicar a capacidade de memorização e aprendizado.

Segundo o site Pneumosono:

A privação de sono leva a uma perda de conectividade entre os neurônios no


hipocampo, uma região do cérebro associada ao aprendizado e à memória. De acordo
com os pesquisadores, as mudanças na conectividade entre as sinapses (estruturas que
permitem que os neurônios para transmitir sinais uns aos outros) podem afetar
a memória...no caso, se os dendritos não funcionam corretamente, as conexões não
ocorrem e a memória é perdida.

A ausência do sono pode ocorrer quando existe a presença de dores, estresse,


ansiedade, transtornos ou distúrbios mentais, isso é, emoções em geral acumuladas no
decorrer do dia.

De acordo com a fonte Psicologia Viva:

A privação de sono e o cansaço excessivo podem causar problemas de humor, dores


de cabeça e dificuldade de concentração...não é um problema limitado à hora de
dormir, também depende de como você foi capaz ou não de gerir suas emoções
durante o dia. Tudo que sinta, faça ou pense acaba repercutindo durante à noite.

Ademais, é necessário ressaltar a diferença na qualidade da memória durante os estágios


de desenvolvimento de um indivíduo. Assim como em vários aspectos, geralmente os jovens
têm uma vantagem devido as estimulações intensas que recebe, e a melhor condição de saúde.
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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O que é a memória para a Psicologia


Segundo Carlos Júnior e Nicole Faria (2015), a memória é um dos mais importantes
processos psicológicos, pois além de ser responsável pela nossa identidade pessoal e por guiar
em maior ou menor grau nosso dia a dia, está relacionada a outras funções corticais igualmente
importantes, tais como a função executiva e o aprendizado. Ela tem capacidade de armazenar
informações de modo que essas possam ser recuperadas quando buscamos recordá-las.
Os autores afirmam que quando captamos informações através dos órgãos visuais elas
são encaminhadas para diferentes partes do córtex visual. O córtex frontal recebe informações
operacionais de curto prazo como as de utilização imediata, e estas são encaminhadas para o
hipocampo - responsável pelo armazenamento de longo prazo, que utiliza fatores emocionais
vinculados a tais informações para que estas possam ser reativadas quando requeridas.
Do ponto de vista comportamental, a memória é definida como uma modificação mais
ou menos permanente das relações do organismo com o seu meio, que ocorre como resultado
da prática, da experiência e/ou observação. A percepção, por sua vez, não requer apenas
mecanismos de coerência, mas também mecanismos de memória.
Conforme ensina Ivan Izquierdo (1989), dentro da psicologia existe o que os
especialistas chamam de processos psicológicos básicos, que são caracterizados pelas funções
mentais, como a sensação, a percepção, a memória, o pensamento, linguagem, motivação,
aprendizagem e outros. A memória é o que permite a aprendizagem, pois é através dela que os
conhecimentos se consolidam.

2.2 Memória e as fases do desenvolvimento


2.2.1 Desenvolvimento inicial do cérebro
Patricia Bauer constata em sua pesquisa que podemos dividir a memória em dois tipos:
a memória de trabalho e a memória de longo prazo. A memória de longo prazo pode ser ainda
dividida em declarativa e não declarativa. A memória não declarativa inclui habilidades de
aprendizagem, como por exemplo andar de bicicleta; já a memória declarativa inclui
reconhecimento de nomes, objetos, etc. A memória não declarativa está presente em nós
praticamente desde o nascimento.
Pesquisas apontam que o cérebro dos bebês se desenvolve de uma maneira rápida, ao
nascerem o órgão pesa 25% do peso de um cérebro adulto, aproximadamente aos 2 anos o peso
aumenta em 75%. Como resultado desse aumento, vemos muitas mudanças drásticas no cérebro
6

relacionadas com a memória durante os dois primeiros anos de vida.


Através de testes de imitação induzida, ação que consistia em apresentar objetos e como
usá-los a bebês, pesquisadores puderam observar que os mesmos conseguem manter a
lembrança por mais tempo com o aumento da idade. Bebês de 6 meses lembravam de ações de
24 horas, aos 9 meses lembravam de ações por um mês e aos 20 meses lembravam de ações por
até um ano. Sendo assim, a memória passa a ser mais consistente com o desenvolvimento do
cérebro.
Ao fim da pesquisa foi concluído que bebês apresentam uma memória declarativa, visto
que os mesmos realizam tarefas baseadas em imitações ou não verbais, e que esta se desenvolve
ao longo dos dois primeiros anos de vida.

A memória declarativa é aparente no primeiro ano de vida, demonstrada por tarefas


baseadas em imitação comportamental ou não verbal. Desenvolve-se
substancialmente ao longo dos dois primeiros anos de vida. O momento dos
progressos no desempenho corresponde ao momento das mudanças no cérebro em
desenvolvimento. (BAUER, PJ; PATHMAN, T., 2008)

2.2.2 Período pré-escolar e escolar


Em DIAS, L. & FERNANDEZ, J. (2011), é visto que na pré-escola, quando há
maturação do sistema nervoso, a memória declarativa e a memória de trabalho se tornam mais
eficientes na criança, visto que é nessa fase que o pensamento se torna mais abstrato, e a
linguagem e a verbalização são incentivados. Já na fase escolar, principalmente em crianças
mais velhas, a memória se mostra melhor desenvolvida.
Estudos apontaram que o desenvolvimento da fala em crianças da pré-escola, as quais
tinham entre 2 e 5 anos, era consideravelmente importante para a evolução da memória
autobiográfica (memória autobiográfica é definida como “a recordação consciente de uma
experiência pessoalmente vivida ou testemunhada”). Graças aos estímulos provindos da mãe,
da sociedade e da cultura, a memória autobiográfica da criança vai se estruturando e
progredindo. Ademais, a linguagem e a atenção também são grandes contribuintes para essa
consolidação. É apenas na adolescência e fase inicial da vida adulta que a consolidação se
completa.
O armazenamento de informações na memória de longo prazo se torna mais possível
quando a criança é mais velha, isso porque ela tem melhor capacidade de codificação. Isso se
dá graças a mudanças na estrutura cerebral.
7

Um aspecto importante a citar é a comunicação entre pais e filhos. Por meio dessa
interação, se tornam possíveis a visão da criança sobre quem ela é, a compreensão do que elas
querem dizer por parte dos outros, e uma organização de seus relatos. Essas transformações
remetem diretamente à memória autobiográfica.
Por fim, existem evidências que comprovam a importância do sono relacionado à
memória de trabalho em crianças. Problemas como o ronco interferem diretamente na
aprendizagem e memória, como revelou uma pesquisa feita com 81 crianças.
A memória se consolida ao passo que a criança cresce e se desenvolve. É de extrema
importância a linguagem, o contato com a sociedade e cultura, os estímulos e os laços criados
nessa fase para que a memória evolua da melhor forma.

A memória avança juntamente com o desenvolvimento biológico em compasso com


as relações sociais que a criança vai formando em seu ambiente. Bebês, desde cedo,
apresentam algum tipo de capacidade mnemônica permitindo que possam reconhecer
determinados objetos e faces humanas. Crianças com idade pré-escolar, com o
advento da verbalização, intensificação das suas relações sociais e a maturação do
sistema nervoso, organizam seu pensamento e apresentam memória mais elaborada
(DIAS, L.. B. T.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J., 2011)

2.2.3 Fase adulta


O desenvolvimento da memória nos adultos é afetado diretamente pelas condições em
que o mesmo vive; nível educacional, atividades ocupacionais e hábitos de leitura e escrita são
aspectos a serem considerados quando tratamos desse assunto, pois aumentam a capacidade
cognitiva.
Diante esses fatos, pesquisas mostraram que adultos com menores níveis educacionais
apresentaram menor percepção de controle sobre a memória. O controle de memória informa
que um indivíduo sabe o quanto é capaz de memorizar algo novo que lhe é apresentado. Frente
a relação de controle sobre a memória e nível educacional, é mais provável que uma pessoa de
nível escolar maior se dê melhor com tarefas de habilidades mnemônicas.
Foi apontado que adultos com ensino superior completo tendem a ter empregos em áreas que
exigem constantemente maiores recursos mnemônicos. Com isso, é perceptível o controle e
conhecimento da memória que esses indivíduos possuem se comparados a aqueles que
concluíram apenas o ensino médio e trabalham em área de menor demanda intelectual.
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Um outro estudo comprova que passar a vida em empregos de maior complexidade


ajuda a manter a capacidade cognitiva até a aposentadoria ou em um momento posterior a ela.
Portanto, é possível concluir que o desenvolvimento da memória na fase adulta está ligado a
fatores econômicos, educacionais e sociais em que o indivíduo se encontra.

Ainda, o nível socioeconômico também tem se mostrado preditor de um adequado


desempenho cognitivo (Hackman & Farah, 2009), pois uma melhor condição
financeira poderia proporcionar um acesso a informações intelectuais. Ainda, uma
melhor qualidade de vida, com acesso à educação, exercícios físicos, atividades de
lazer e ocupação, pode influenciar de forma positiva a maturação de estruturas
corticais e subcorticais cerebrais no envelhecimento (Solé-Padullés et al., 2009)
(MINÁ, C. S.; ZORTEA, M.; RODRIGUES, J. C.; DE SALLES, J. F., 2017).

2.2.4 Velhice
É na velhice, a partir dos 40 ou 50 anos, que a memória começa a se deteriorar por meio
de um processo lento e gradativo e assim, armazenar informações se torna uma atividade cada
vez mais difícil. Fatores como estresse e preocupação são nomeados agentes dessa perda. Em
uma entrevista feita pelo Dr. Dráuzio Varella, o entrevistado Dr. Alberto Macedo Soares cita o
exemplo de pessoas que possuem de 40 a 50 anos que após um dia de trabalho ligam o
computador e continuam em atividade, diminuindo ou comprometendo as horas que seriam
destinadas ao descanso e ao sono. O exemplo citado causa, principalmente, a perda de memória
recente.
Outro assunto a ser considerado quando relacionamos memória e velhice é o surgimento
de demências, sendo a doença de Alzheimer a mais frequente. O Alzheimer é uma doença
progressiva, começa com pequenos lapsos de memória que passam despercebidos e evoluem
para um quadro mais grave, onde a pessoa não sabe mais seu próprio endereço ou até reconhecer
um familiar.
Exercícios físicos, montagens de quebra-cabeças ou práticas de palavras cruzadas são
atividades que ajudam os idosos a treinarem sua capacidade cognitiva e terem menos problemas
relacionados a memória.

Ainda na década de 1970, foi aventada a hipótese de que as atividades intelectuais, ao


aumentar o número e a versatilidade das conexões (sinapses) entre os neurônios,
criariam uma espécie de reserva cognitiva passível de ser utilizada na velhice. Em
1977, um grupo do St. Lukes Medical Center, de Chicago, estudando 642 idosos,
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demonstrou que cada ano de escolaridade formal reduziria o risco de desenvolver


Alzheimer em 17%. (VARELLA, D., 2011)

2.3 Relação entre a memória e o sono


Segundo a Dra. Barbara Oakley, quando acordados, criamos fluidos tóxicos em nossos
cérebros, que fazem com que não consigamos pensar muito claramente. Esses produtos só são
eliminados quando dormimos., devido a um processo que se dá através do encolhimento de
células do cérebro, permitindo a passagem desses venenos para fora do órgão. Dessa forma, o
sono é uma forma de manter seu cérebro limpo e saudável.
Além do mais, pesquisas mostram que durante o sono, o cérebro organiza ideias e
conceitos importantes que você tem pensado ou aprendido. Ele apaga as partes menos
importantes da memória na fase de ondas lentas (SWS), e fortalece áreas das quais precisa ou
deseja recordar durante o sono REM.
Oakley ainda explica que o órgão exercita partes mais complicadas do que você está
tentando aprender, repetindo padrões neurais inúmeras vezes a fim de fortalecê-los. Ademais,
é indicado que o córtex pré-frontal tem sua atividade drasticamente reduzida enquanto
dormimos, e isso ajuda na “comunicação” entre outras partes do seu cérebro, permitindo-as
encontrar a solução neural para a sua tarefa de aprendizagem.
Em uma pesquisa coordenada por Jan Born, da Universidade de Lübeck, descobriram
um fato importante sobre o processo de consolidação de memórias, que ocorre na fase de sono
REM. Durante esse período, uma substância chamada acetilcolina – responsável pela retenção
de informações no hipocampo – tem sua atividade reduzida no cérebro, e sua inércia abre
caminho para neurônios formarem uma rede por meio da qual as informações farão a viagem
da memória de curto prazo para a memória de longo prazo (que fica espalhada pelo neocórtex).
Segundo a revista Galileu, na primeira fase do sono, ocorrem contrações musculares, e
queda na frequência cardíaca, respiração e temperatura. Na segunda fase (ondas lentas)
impulsos elétricos movem a memória, inicialmente armazenada no hipocampo, para o córtex.
E finalmente, na terceira fase do sono (REM) a atividade cerebral decai no hipocampo e
aumenta no córtex; genes são ativados e a memória é armazenada.
Vygotski et al. (2011) mostraram que ratos privados de sono por longos períodos
apresentavam neurônios individuais desativados na região do neocortex, em um padrão de
ondas tipicamente encontrado no estágio NREM do sono.
Robert Feldman (2015) alega que outras pesquisam confirmam que pessoas mantidas
acordadas por períodos de até 200 horas manifestam um declínio na capacidade de raciocínio
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lógico, porém depois de poderem dormir novamente, elas se recuperam em alguns dias. Ou
seja, a privação de sono não tem efeitos duradouros.

2.4 Esquecimento
O esquecimento é a incapacidade de recordar um conteúdo que foi memorizado
anteriormente, considerado uma perda absoluta das informações armazenadas (Davis, 2007),
por isso, muitas pessoas encaram esse fenômeno como algo negativo, problemático e doentio,
sendo ele uma ferramenta muito importante. Através dele nos livramos de materiais que são
inúteis e desnecessários, ocorrendo uma seleção dos registros armazenados, tanto que só é
possível obtermos novos conteúdos quando os anteriores que não utilizamos mais, ou alguns
deles, sejam apagados.
O ato de esquecer algo ocorre em função de diversos fatores, por exemplo o
envelhecimento. Nesta fase, as capacidades mentais de memorização diminuem em
consequência da perda de qualidades progressivas dos tecidos cerebrais, havendo a dificuldade
em adquirir novos conhecimentos, capacidade reduzida de atenção e concentração, chamado de
esquecimento regressivo. Por outro lado, Freud constatou que existem motivações
inconscientes que promovem o esquecimento, levando a perda de memórias que podem trazer
algum tipo de sofrimento, conteúdos indesejáveis e prejudiciais à nossa saúde psicológica,
tendo o papel de um “mecanismo de defesa”, enviando para o inconsciente conteúdos
traumáticos, angustiantes ou ameaçadoras, tornando-os incapazes de serem acessados
voluntariamente, esse tipo de esquecimento levou o nome de Esquecimento Motivado.
No final do século XIX, o pioneiro Hermann Ebbinghaus nos estudos sobre o
esquecimento, colocou em prática a Teoria da Deteriorização, defendendo que conforme o
tempo passa, a memórias vão se enfraquecendo e desaparecendo, até que são completamente
apagadas, isso se dá pela falta de estímulo a tais lembranças, chegando a um ponto de serem
tão fracas, que torna-se impossíveis de resgatá-las (Schwartz & Reisberg, 1991). Segundo
Ruiz-Vargas (1995), uma das contribuições mais conhecidas de Ebbinghaus é a curva do
esquecimento, onde mostra que a maior parte dos episódios de esquecimento se dão nos
primeiros momentos após a aprendizagem.
Estudos dizem que conteúdos armazenados por muito tempo podem interferir na
chegada de novas informações, fazendo com que o indivíduo não se recorde do que foi vivido
há pouco tempo, pois sente que ele se misturou em outras memórias, afetando a aprendizagem.
Neste caso, podemos colocar em evidência a Teoria da Interferência (Muller & Schumann,
1894) para explicar o esquecimento, que defende que o esquecimento é causado por
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informações intervenientes que atrapalham e interferem na informação principal (Lechner et


al., 1999; Wixted, 2004), sendo ela dividida em dois pontos: a Interferência Retroativa, onde as
memórias recentes perturbam a capacidade de recordar memórias antigas e a Interferência
Proativa, que é quando as memórias antigas perturbam a capacidade de recordar memórias
recentes. Segundo Anderson (2003), em certo momento da história sobre o esquecimento,
reduziram as investigações e tentaram utilizar essa teoria como base e foco principal, em
especial a Interferência Retroativa.
Outra teoria bastante explorada é a Falha na Recuperação, que propõe que esquecer de
alguma informação, sinaliza uma falha na recuperação dessa memória, logo, elas não são
apagadas, mas se tornariam mais difíceis de serem lembradas, acessadas ou recuperadas, entre
muitas outras linhas de pensamentos que foram muito importantes para que hoje possamos
entender um pouco mais como funciona o esquecimento.

2.5 Interferências na memória

Além de todo o processo funcional da memória, existem as interferências emocionais;


com base no que foi abordado por Aline Batista de Sousa e Tania Denise Miskinis Salgado,
as questões emocionais influenciam diretamente em tudo o que adquirimos, armazenamos e
recordamos. As situações são percebidas de maneiras diferentes para cada indivíduo, sendo
isso o que nos diferencia um do outro: as vivências individuais de cada um.

É fato que só gravamos o que aprendemos, da mesma maneira funciona a lembrança


e o reconhecimento de algo. A forma como aprendemos está diretamente relacionada às
nossas emoções que também influenciam na nossa recordação de eventos passados. Já foi
constatado que as pessoas que estão de bom humor absorvem situações e desenvolvem
conceitos positivos, sendo o oposto para pessoas que se encontram em um outro estado
emocional, o que significa que a evocação de uma memória está interligada com o humor
atual do indivíduo. Entretanto existe um peso maior do humor no momento em que
adquirimos a memória.

As emoções, o contexto e a junção de ambos influenciam a aquisição ou evocação da


memória. Pessoas que estão em um estado de humor positivo tendem a aprender
palavras ou situações de caráter positivo. Em contrapartida, pessoas com humor
negativo tendem a assimilar melhor palavras ou situações negativas nesses momentos
12

(PREGHER et al., 2006). De forma semelhante, a recuperação desta memória também


estará associada ao estado de humor atual do indivíduo. (ELLIS; MOORE, 1999)

Outro fator é que a emoção afeta a atenção, o que significa que podemos deixar certos
detalhes passarem despercebidos dependendo da motivação. Como consequência, situações
mais intensas são lembradas em maior quantidade, pois a emoção está junto a uma sequência
de eventos, mas se forem negativas podem ser bloqueadas pela nossa memória.

Para facilitar a recordação, existem as estratégias de memória como a utilização da


associação; esse método pode ser feito através de imagens, cheiros, texturas, sons, preferências
e afins.

Em se tratando de memorização, o uso se imagens, como estratégia de aprendizagem,


demonstrou melhora no desempenho a longo prazo (de um até sete dias) dos
indivíduos avaliados em testes de lembrança livre e reconhecimento, quando
comparado apenas com palavras. (CAMPOS; GÓMEZ-JUNCAL; PÉREZ-
FABELLO, 2008).
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3. OBJETIVO
Identificar se o sono tem um impacto positivo na capacidade de memorização do
indivíduo.

4. METODOLOGIA
Para o experimento, separamos os participantes nas seguintes faixas etárias: 15-30 anos;
31-45 anos e 46-64 anos. Selecionamos 20 palavras (árvore, caneta, celular, tesoura, blusa,
praia, bicicleta, boneca, água, banana, gato, casa, fogo, cadeira, lua, pedra, chapéu, viagem e
estrela) e dividimos os participantes em dois grupos: em um deles as palavras foram
apresentadas aos participantes logo antes de dormirem, e depois de acordar tiveram que falar
as palavras que recordavam. Já no outro grupo, as palavras foram apresentadas aos participantes
na parte da manhã, e lembradas no período da tarde. Para ambos os grupos, o intervalo para a
memorização foi de cerca de 8 horas.
Depois dos participantes se recordarem das palavras, fizemos algumas perguntas à eles.
Para o grupo que dormiu, perguntamos se eles tiveram dificuldade para dormir ou acordaram
no período da noite; se apresentaram estresse ou ansiedade no dia anterior; e se criaram algum
método diferenciado para ajudar na memorização (associação, música, história etc.).
Já no grupo de privação do sono, perguntamos se apresentaram estresse ou ansiedade
durante o dia; e se criaram algum método diferenciado para ajudar na memorização.

5. RESULTADOS
Participantes de faixa etária entre 15 e 30 anos que tentaram memorizar as palavras da
lista pela noite e após aproximadamente 8 horas de sono recitá-las, conseguiram se lembrar, em
média, de 14,75 palavras de 20, tendo em vista que 100% deles apresentaram dificuldades para
dormir ou pegar no sono novamente. Apenas 25% disseram ter tido algum episódio de estresse
ou ansiedade no dia anterior e 75% utilizaram técnicas variadas de memorização. Já os
participantes da mesma faixa etária, que tentaram memorizar as palavras pela manhã e após 8
horas sem dormir tentaram recordar, tiveram uma média de 10,75 palavras lembradas,
considerando que 50% apresentou estresse ou ansiedade durante o dia e 75% utilizou alguma
técnica para facilitar a memorização das palavras.
Os participantes que se encaixam na faixa etária de 31 à 45 anos que tentaram memorizar
as palavras antes de dormir e ao acordarem, foram convidados a repeti-las, lembraram em média
14 palavras de 20, 100% deles utilizando técnicas próprias de memorização; disseram não ter
havido qualquer dificuldade para dormir, mas 50% deles apontaram episódios de estresse e
14

ansiedade no dia anterior. Já os outros participantes da mesma faixa etária, mas que tentaram
memorizar as palavras pela manhã, após 8 horas acordados, tiveram uma média de 5,50 palavras
lembradas, sem usarem qualquer técnica de memorização e 50% apresentaram episódios de
estresse e ansiedade durante o dia.
Por fim, os participantes de faixa etária entre 46 e 65 anos que memorizaram as palavras
antes de dormir e repetiram pela manhã, lembraram uma média de 12,67 palavras de 20, todos
utilizando técnicas para a facilitação da memorização e nenhum deles apresentou dificuldade
para dormir ou ficaram estressados no dia anterior. Já os participantes de mesma faixa etária,
que memorizaram as palavras pela manhã e após 8 horas acordados precisaram repeti-las,
tiveram uma média de 11,67 palavras lembradas, tendo em evidência que 33,33% optaram por
usar alguma técnica para auxiliar na memorização e apenas 33,33% apresentaram estresse e
ansiedade durante o dia.

6. DISCUSSÃO
De acordo com a literatura, quando estamos acordados não pensamos tão claramente,
porque criamos fluidos tóxicos em nosso cérebro que são eliminados enquanto dormimos,
fazendo com que o ele se mantenha limpo e saudável. Além do mais, pesquisas afirmam que o
cérebro organiza ideias importantes pensadas e aprendidas durante o dia, apaga as partes menos
importantes e fortalece áreas das quais você precisa se lembrar.
Nos resultados, é notável a diferença na capacidade de memorização entre os
participantes que dormiram, e os que foram privados do sono. Logo, é possível dizer que os
resultados obtidos com o experimento são coerentes com a literatura.
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7. CONCLUSÃO
Ao começarmos o desenvolvimento deste trabalho fizemos diversas pesquisas na
literatura, que nos apresentaram a relação entre o sono e a memória.
Analisamos alguns aspectos, tais como o desenvolvimento da memória em fases do ciclo vital,
seu funcionamento e interferências.
Junto à pesquisa, realizamos um estudo de campo com pessoas de 15 à 64 anos. Notamos
que pessoas que dormiram depois de lerem as palavras dadas obtiveram mais sucesso do que
aquelas que não dormiram e se distraíram durante o dia. Esses dados nos permitiram ver que o
sono em conjunto com a memória se mostra mais eficaz quando se trata de codificações, como
realizado neste estudo. Outras questões foram consideradas, como o estresse e a ansiedade, que
estão também ligados à memória e sono.
Por fim, através deste trabalho, podemos concluir que os dois tópicos discutidos neste
estudo (sono e memória) estão interligados e precisam trabalhar juntos para que haja uma
melhor cognição por parte dos indivíduos.
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18

sono#:%7E:text=Um%20estudo% 20realizado% 20com% 20ratos, ao% 20aprendizado%


20e% 20% C3% A0% 20mem% C3% B3ria.
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ANEXOS
Termos de Consentimento Livre e Esclarecido
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