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Laboratório de materiais elétricos

Caracterização elétrica de varistores

Aluno: Alan Dayvison Camilo Bezerra


Matr: 117210528
Prof: Damásio Fernandes

05/11/2020
Objetivos
O experimento tem por objetivos estudar o comportamento elétrico dos varistores de óxido
de zinco (ZnO) e suas aplicações.

Materiais utilizados
 Transformador 220V/ 2000V, 1,15kVA;
 Autotransformador (VARIAC) 220V/ 0-220V, 1,15kVA;
 Protoborde;
 Resistores (330 Ω, 220k Ω, 10k Ω, 1k Ω);
 Varistores (250V, 95V);
 Osciloscópio;
 Multímetro;
 Cabos;
Introdução teórica
Varistores são dispositivos semicondutores eletro-cerâmicos com características corrente-
tensão não lineares. A palavra varistor é derivada do termo “variable resistor”. Os
varistores também são conhecidos como, resistores não lineares, resistores variávies,
supressores de surto e limitadores de tensão.
Até o final da década de 60, os varistores utilizados eram constituídos por carboneto de
silício (SiC). Estes varistores apresentavam uma baixa não-linearidade, necessitando o uso
de centelhadores-série eram empregados no auxílio isolamento, mesmos em condições
normais de operação. Os varistores de Carboneto de Silício apresentavam várias
deficiências, entre elas a baixa não-linearidade, utilização de centelhadores-série, existência
da corrente subsequente, baixo calor específico, etc.
Com a evolução da ciência dos materiais, em 1968 a Matsushita Electric descobriu as
características não-lineares de um composto cerâmico à base de óxido de zinco. Os
varistores a base de óxido de zinco apresentam uma alta não-linearidade e características
elétricas e térmicas mais aperfeiçoadas.
Como varistores a base de óxido de zinco apresentam alta capacidade de absorção de
energia, pesquisas foram desenvolvidas para sua utilização em sistemas de potência. A partir
de 1975, pára-raios de óxido de zinco são utilizados nos sistemas de distribuição,
subtransmissão e transmissão de energia elétrica contra sobretensão e surtos atmosféricos e
de chaveamentos.
Atualmente os varistores de óxido de zinco possuem uma vasta aplicação na engenharia
elétrica, sendo comumente utilizado para proteger equipamentos eletrônicos, aparelhos de
telecomunicações, equipamentos de informática, indústrias, em pára-raios em linhas de
transmissão e distribuição de energia elétrica. Usualmente o dispositivo de proteção é
conectado entre a fase e a terra, com a finalidade de limitar as sobretensões a níveis
compatíveis com o isolamento dos outros equipamentos do sistema elétrico.
Os pára-raios de óxido de zinco apresentam inúmeras vantagens sobre o seu antecessor, os
pára-raios de carboneto de silício. Entre essas vantagens podem ser citadas:
 Alto expoente de não-linearidade entre a tensão e a corrente
 Baixa tensão residual;
 Baixa corrente de fuga na tensão de operação;
 Redução significativa do tamanho;
 Eliminação dos centelhadores em série;
 Rápida resposta quando submetidos a surtos de tensão;
 Comportamento superior com relação à proteção;
 Suportabilidade superior para ciclos de operações múltiplos;
 Desempenho superior em ambientes poluídos;
 Possibilidade de conexão em paralelo de colunas varistoras ou mesmo de para-raios;
 Capacidade de absorção superior;

A figura 1 - pára-raios instalado em um sistema elétrico

A característica I x V dos varistores de ZnO apresenta três regiões distintas e bem claras, são
elas:
Região linear de baixa corrente: a característica I x V é aproximadamente ôhmica na região
cuja densidade de corrente não ultrapassa a 10e-4 A/cm2. A região é conhecida como região
de pré-ruptura. Nesta região, a corrente alternada pode ser de 2 ordens de magnitude maior
que a corrente excitada por uma fonte cc. A corrente alternada é responsável pelos
mecanismos de polarização dos dielétricos, isto é, apresenta uma componente capacitiva(Ic)
e outra resistiva(Ir).
Região não-linear: a região não-linear de corrente intermediária é a essência do varistor de
óxido de zinco, onde o dispositivo conduz uma quantidade grande de corrente, mesmo que
para um pequeno aumento de tensão aplicada. A região não-linear pode se estender 6 a 7
ordens de magnitude de corrente e apresenta uma variação absoluta de densidade de
corrente entre 10e-4 A/cm2. O grau de não-linearidade é determinado no patamar da região
não-linear, quanto menos for inclinada a curva IxV , melhor será o dispositivo.
Região de alta corrente: a região de alta corrente apresenta densidade de corrente superior
a 10e3 A/cm2. Esta região apresenta comportamento linear, isto é, a tensão volta a crescer
com o aumento da corrente e o mecanismo de condução é controlado pela impedância dos
grãos de ZnO.
A figura 2 mostra estas regiões, em operação os varistores utilizam todas estas regiões. A
região de baixa corrente é importante porque define as perdas ativas, consequentemente, a
tensão de operação, para aplicações em regime de uso continuo. A região não-linear
determina a tensão residual na aplicação de um surto. A região de alta corrente apresenta a
condição limite para proteção contra surtos de alta corrente, tais como aquelas encontradas
nas correntes de impulso atmosféricos.

Figura 2 curvas características da densidade de corrente em função do campo elétrico para


Varistores de ZnO em cc e ac.

O parâmetro que determina a capacidade de proteção de um varistor é o coeficiente de não-


linearidade, α, ele é definido na região não-linear da curva I x V. Quanto maior for α, melhor
o varistor, pois por ele passará uma grande quantidade de corrente e a elevação de tensão
será mínima. Na região não linear, podemos definir a curva como sendo I = KVeα. Onde α
pode ser encontrado pela fórmula:
α = (I2 - I1)/(V2-V1),
Onde I2 e I1 são as correntes para termos densidade de corrente igual a 0,5 mA/cm2 e 250
A/cm2 respectivamente, V2 e V1 são os respectivos valores de tensão.
O elemento não-linear é também caracterizado por uma tensão que faz a transição do
módulo linear para o não-linear. A tensão de entrada da não-linearidade, justamente acima
do “joelho” da curva I-V, figura 2, é definida como a tensão de ruptura e, a partir do seu
valor, é possível determinar a tensão nominal do dispositivo. Por falta de um ponto definido
na curva I-V, a exata localização desta tensão é difícil na maioria dos elementos não-lineares
à base de óxido metálico. A tensão de ruptura dos elementos varistores até hoje não se
encontra normalizada, nem é levada em consideração à geometria do dispositivo. Esses
problemas podem ser minimizados pelo uso de valores normalizados da tensão e da corrente.
Mesmo assim, atualmente ainda existem valores diferentes para determinar a tensão de
ruptura ou a tensão de referência, entretanto, os valores mais usados são: E0,5mA/cm2 e
E1mA/cm2. A tensão de referência associada a E0,5mA/cm2, por ser mais utilizada, será
adotada também neste experimento. A tensão(campo) de referência é definida como o valor
de pico da tensão(campo) que provoca uma densidade de corrente (valor de pico) de
0,5mA/cm2. Para a maioria das aplicações em sistemas monofásicos, o valor da tensão de
operação em regime permanente é colocada entre 0,7 e 0,8 da tensão de referência dividido
por raiz de 2.
Como um elemento ativo ligado entre a fase e a terra, o dispositivo não-linear à base de
óxido de zinco, sem centelhadores, conduz continuamente uma corrente de fuga. O
entendimento da corrente de fuga desses elementos é importante por duas razões. Primeiro,
porque estando energizado com a tensão de operação em regime permanente, a corrente
determina a quantidade das perdas ativas que o elemento irá produzir, P = It^2R, logo a
intensidade da corrente de fuga determina o valor da tensão de operação em regime
permanente que o dispositivo pode suportar sem gerar um excessivo calor. Segundo porque
se a intensidade de corrente for reduzida bastante para minimizar as perdas poderia
acarretar desequilíbrio ou dificuldade de ajuste na coordenação da proteção. Outro
problema relacionado com a primeira razão, é que se a corrente tiver magnitude alta, após a
excursão da corrente provocada por um surto, com consequente aumento da temperatura,
haveria dificuldades de dissipação de calor, podendo ocasionar o desencadeamento térmico
ou avalanche térmica.
Os elementos de óxido metálico, na região de pré-ruptura podem ser considerados como
capacitores. Deste modo, os elementos apresentam uma corrente total, It, que pode ser
decomposta em duas componentes, a corrente capacitiva (Ic) e a corrente resistiva (Ir). A
corrente capacitiva é oriunda da polarização elétrica existente na camada intergranular, a
qual funciona como um meio dielétrico , e os grãos funcionam como eletrodos de um
capacitor. A componente resistiva é dependente da temperatura. A alta não-linearidade da
corrente de fuga com a tensão, associada a sua dependência com a temperatura são fatores
importantes na análise do comportamento térmico, da degradação e na capacidade de
absorção de calor. Algumas análises da degradação dos pára-raios são feitas através da
observação da corrente resistiva ou de seus harmônicos.
A tensão residual para um dispositivo não-linear é a tensão que se estabelece nos seus
terminais quando da passagem de um surto. A tensão residual é importante na determinação
dos níveis de coordenação de isolamento pois os equipamentos a serem protegidos devem
apresentar um nível básico de isolamento superior ao valor da tensão residual.
Os varistores ou os pára-raios apresentam altos valores do expoente de não linearidade,
consequentemente apresentam baixos valores para os níveis protetivos (razão entre a tensão
residual e a tensão de referência). O baixo valor da tensão residual provém das mudanças no
mecanismos de condução do varistor, transformando-o em um componente altamente
condutivo, com resistividade variando de 1 a 10 Ωcm. O valor da tensão residual depende da
formulação química e do processo de fabricação do elemento varistor.
Procedimentos experimentais e análise dos resultados
 Determinação da curva características de varistores
Para determinação da curva característica, foi montado o circuito da figura 3, para medição
da tensão sobre o varistor e da corrente que o percorre. Anotamos os dados obtidos nas
tabelas 1 e 2 e com estes valores, foi possível traçar os gráficos 1 e 2. as medições foram
feitas para os varistores de 95 V e de 250 V. as dimensões dos varistores são: espessura 0,2
cm e diâmetro 1,09 cm pra o varistor de 250 V e 0,09 cm e 1,36 cm para o varistor de 95 V.

Parte 1 - caracterização de varistores curva (V x I)


VARISTOR 1 VARISTOR 2
TENSÃO(V) CORRENTE(uA) TENSÃO(V) CORRENTE(uA)

15 11 20 5
25 22 40 11
35 30 60 16
45 39 80 22
55 48 100 28
65 59 120 36
75 75 140 52
85 103 150 68
95 167 160 117
105 170 170 200
115 230 180 580
125 1000 190 2300
135 4600 200 12000

Parte 2: Dimensões Fisícas dos Varistores


Varistor 1 Varistor 2
espessura 0,09 cm 0,2 cm
diâmetro 1,36 cm 1,09 cm
Tabela caracterização do varistor 1 curva (E x j)

Campo (E) Densidade de corrente (mA)


166,66 7,58 *10e-3
277,7 0,015
388,8 0,020
500,0 0,026
611,1 0,033
722,2 0,040
833,3 0,051
944,4 0,071
1055,5 0,115
1166,6 0,117
1277,7 0,158
1388,8 0,689
1500,0 0,317

Gráfico (E x J)
Tabela caracterização do varistor 2 curva (E x j)

Campo (E) Densidade de corrente (mA)


100 5,7*10e-3
200 0,01
300 0,017
400 0,023
500 0,03
600 0,038
700 0,05
750 0,07
800 0,12
850 0,21
900 0,62
900 2,47
1000 12,90

Pela observação dos gráficos, notamos que eles sao bem próximos da figura 2 que descreve o
comportamento teórico dos varitores de ZnO. Podemos então comprovar a validade do experimento e
a observações das regiões experimentalmente.
De posse dos gráficos, podemos determinar os coeficientes de não-linearidade, os campos de ruptura e
as tensões de trabalho dos dois varistores.
Com nossos gráficos já estão em escala logarítmica, o coeficiente α é determinado por: α =
(x2-x1)/(y2-y1).
Para os varistor 1, utilizando os pontos (4600 uA, 135 V) e utilizando uma equação para determinar o
J1, temos então. Encontramos α = 29,0 para o primeiro varistor e para o segundo varistor pegamos o
ponto (200 V, 12000uA) e montamos a equação e obtivermos α = 17,0.
Como a tensão de ruptura é encontrada para densidade de corrente 0,5mA/cm2 analisamos os dados e
encontramos os valores dos campos de ruptura.
Visualização das formas de onda de tensão e corrente
O circuito a baixo foi montado afim de nós possibilitar a visualização das formas de onda da tensão e
da corrente para as regiões de pré-ruptura e não-linear. Observamos as formas de onda para a tensão e
para a corrente apenas pra região de pré-ruptura, onde foi notada uma defasagem de aproximadamente
90 graus entre as ondas, estando a corrente atrasada da tensão. Notamos desta forma que na região de
pré-ruptura, o varistor tem um comportamento capacitivo. Apesar de não conseguir ver o
comportamento da corrente em relação a tensão para a região não-linear, sabemos que por haver
passagem de corrente muito grande, o varistor deve se comportar como um resistor, deixando de se
comportar como um dielétrico como é na pre-ruptura.
Conclusão
O experimento mostrou um método de levantamento da curva característica de varistores, porém nã
podemos avaliar os valores acima calculados quanto a precisão. Visto que não temos informações
sobre suas ordens de grandeza ou faixas de valores adequadas ao funcionamento dos varistores. De
modo geral, a partir da análise da não linearidade ôhmica do varistor, vemos a sua importância em
sistemas de proteção a surtos de tensão, se comportando como capacitor para o regime normal e como
um resistor para regimes de sobrecargas nos sistemas.

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