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RESUMO:
Neste artigo analisamos a concordância verbal no português brasileiro falado na zona urbana de
Maceió/AL, tomando como base os pressupostos teóricos e metodológicos da Teoria Sociolinguística
Variacionista, de William Labov (2008 [1972]) com o objetivo de descrever e analisar o padrão de
concordância dos falantes maceioenses. Para tanto, utilizamos dados do projeto Portal – Variação
Linguística no Português Alagoano, com entrevistas gravadas e transcritas ortograficamente de 36
colaboradores, homens e mulheres de três faixas etárias e três níveis de escolaridade. Foram selecionadas
como variáveis sociais ‘gênero’, ‘faixa etária’ e ‘escolaridade’; e como variáveis linguísticas ‘posição do
sujeito em relação ao verbo’, ‘elementos intervenientes entre sujeito e verbo’ e ‘natureza do sujeito’.
Concluímos que a concordância verbal em Maceió é diretamente proporcional à escolaridade e que há
interação entre as variáveis gênero e faixa etária. Do ponto de vista linguístico, o processo é favorecido
pela 1ª pessoa do plural e desfavorecido pela 3ª pessoa do plural. As variáveis ‘posição do sujeito’ e
‘elementos intervenientes’ não foram estatisticamente significativas.
PALAVRAS-CHAVE: variação linguística, sintaxe, variedade alagoana.
ABSTRACT:
In this article we analyze the verbal agreement in Brazilian Portuguese spoken in the urban area of
Maceió / AL, based on the theoretical and methodological assumptions of the Sociological Linguistic
Variation, by William Labov (2008 [1972]) in order to describe and analyze the pattern of agreement of
the speakers of Maceió. To this end, we used data from the Portal - Linguistic Variation in Portuguese
Alagoas project, with recorded and orthographically transcribed interviews of 36 employees, men and
women of three age groups and three levels of education. Social variables ‘gender’, ‘age range’ and
‘schooling’ were selected; and as linguistic variables ‘subject’s position in relation to the verb’,
‘intervening elements between subject and verb’ and ‘nature of the subject’. We conclude that verbal
agreement in Maceió is directly proportional to schooling and that there is an interaction between the
variables gender and age group. From a linguistic point of view, the process is favored by the 1st person
of the plural and disadvantaged by the 3rd person of the plural. The variables ‘subject position’ and
‘intervening elements’ were not statistically significant.
KEY-WORDS: Linguistic variation,syntax, Alagoas variety.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, analisa-se o fenômeno de concordância verbal (CV) no português
brasileiro (PB) falado por maceioenses. É comum o estudo dessa variável não só em PB,
como também em outras línguas, e o que se tem observado em relação a isto é a
variação recorrente entre marcas e ausências de concordância, o que parece atingir todas
as camadas da sociedade, independentemente do nível socioeconômico e da
escolarização dos falantes, isto quer dizer que ninguém faz todas as concordâncias entre
sujeito e verbo corretamente todas as vezes que produz sentenças orais ou escritas. Para
citar algumas autoridades no assunto, Naro e Scherre (1998) mostram em seus trabalhos
sobre CV que nós, brasileiros, apresentamos oscilações entre variantes explícitas
(concordância) e variantes zeros (ausência de concordância), de modo que é comum
produzirmos sentenças como 1a. e 1b., como as que vemos a seguir:
1a. “As crianças hoje não brincam mais;” (AF2M)
1b. “Os menino ficava na rua até uma hora, duas” (DM2M)
Nesse sentido, o nosso trabalho se configura na apresentação dos contextos de
variação favoráveis para a aplicação ou não da concordância, tentando descrevê-los do
ponto de vista linguístico e social. Com este objetivo, dividimos o texto em três seções:
seção 2, 3 e 4. Na seção 2, apresentamos uma breve discussão sobre o aporte teórico
adotado; no tópico 2.1, trazemos dois pontos de vista antagônicos sobre o fenômeno de
concordância verbal (CV): um que é geralmente adotado pelas gramáticas tradicionais
do PB e outro que é defendido por pesquisadores sociolinguistas, como Naro e Scherre
(2007). No tópico 2.1.1 do mesmo capítulo, trazemos algumas explicações para o
processo variável de CV no português do Brasil por meio da apresentação de três
correntes teóricas que tratam desse fenômeno.
Na seção 3, tratamos do processo metodológico de coleta, transcrição, codificação
e quantificação dos dados com base no que prescreve a Teoria Sociolinguística
Variacionista, de William Labov (2008 [1972]). Na seção 4, apresentamos a análise
feita e a interpretação dos dados. O que vem a seguir são as considerações finais e as
referências.
Esta pesquisa faz parte do projeto ‘Variação linguística no português alagoano –
PORTAL’ (aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Alagoas,
CAAE: 24637714.6.0000.5013).
Esperamos, com esta análise, que possamos conhecer o padrão variável de CV dos
maceioenses, trabalho relevante do ponto de vista linguístico para o PB alagoano, uma
vez que desconhecemos outros que façam a mesma abordagem.
SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
A Sociolinguística Variacionista surge efetivamente na década de 60 nos Estados
Unidos da América como teoria linguística que inclui o aspecto social em suas análises
sobre o sistema linguístico, como resposta à ideia de homogeneidade linguística adotada
tanto pelo Estruturalismo (que teve como ponto de partida as ideias do genebrino
Ferdinand de Saussure) quanto pelo Gerativismo, de Noam Chomsky.
O principal mentor dessa teoria é o linguista americano William Labov nascido
em 1927, em Rutherford, New Jersey, que, sob a orientação do professor Uriel
Weinreich, defendeu a sua tese sobre um fenômeno de mudança fonética na fala de
moradores da ilha de Martha’s Vineyard. Daí em diante, o linguista realizou pesquisas
empíricas e análises linguísticas responsáveis por desenvolver o escopo teórico-
metodológico da Sociolinguística, bem como popularizá-la entre linguistas do mundo
inteiro. O trabalho de Labov tem dado importantes contribuições para os estudos
sociolinguísticos, além de servir como argumento teórico para a quebra de preconceitos
linguísticos, étnico-raciais e de classe.
Para Labov (2008 [1972]), o caos linguístico decorrente da diversidade linguística
pode ser sistematizado, virar objeto de estudo científico e entrar nos moldes da pesquisa
empírica por meio da observação, descrição e análise do comportamento linguístico
humano. Ainda conforme esta perspectiva, Tarallo (1986) diz que a língua é, ao mesmo
tempo, o ponto de partida da investigação e um porto ao qual o modelo espera que o
pesquisador retorne todas as vezes que encontrar dificuldades de análise, pois ele é o
dado de análise e também é a base para o estudo, uma vez que resume em si mesmo as
informações necessárias para fins de confirmação ou rejeição de hipóteses anteriores
sobre a língua, assim como para o levantamento e também o lançamento de novas
hipóteses.
Para Tarallo (1986), a concepção e o alcance do modelo sociolinguístico são a um
só tempo sincrônicos e diacrônicos, sendo assim, tanto a variação que se enquadra
numa situação linguística em um determinado momento – sincronia; como a mudança
que se origina de uma situação linguística em vários momentos sincrônicos, avaliados
longitudinalmente – diacronia; devem ser estudadas.
Conforme Labov (2008 [1972]),
Uma variável linguística só pode servir de foco de estudo se ela for
frequente (que ocorra tão reiteradamente no curso da conversação
natural espontânea que seu comportamento possa ser mapeado a partir
de contextos não-estruturados e de entrevistas curtas), estrutural
(quanto mais integrado o item estiver num sistema mais amplo de
unidades funcionais, maior será o interesse linguístico intrínseco do
nosso estudo) e estratificada (a distribuição do traço deve ser
altamente estratificada, ou seja, nossas explorações preliminares
devem sugerir uma distribuição assimétrica num amplo espectro de
faixas etárias ou outros estratos ordenados da sociedade). (LABOV,
2008, p. 26).
Gráfico 1 – Efeito da interação entre as variáveis ‘gênero’ e ‘faixa etária’ na realização da concordância
verbal em Maceió/AL
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que a concordância verbal do PB urbano falado na capital alagoana é
muito influenciada pela escolaridade do falante, sendo a concordância diretamente
proporcional ao nível de escolaridade. Sobre as variáveis sociais ‘gênero’ e ‘faixa
etária’, concluímos que há interação estatisticamente significativa. Entre os falantes com
menos de 55 anos, não se confirma a hipótese de que homens fazem menos
concordância do que mulheres. Nessa faixa, são os homens que fazem mais
concordância. A interação surge na faixa etária mais elevada. Diferente das demais, na
faixa acima de 55 anos, as mulheres favorecem a realização da concordância. A
concordância é favorecida quando o sujeito está na 1ª pessoa do plural. Variáveis
linguísticas que são comumente significativas em outros estudos sobre o PB não se
mostraram estatisticamente significativas neste trabalho. Estudos futuros, com aumento
de amostra e com uso de modelos de regressão multinível, podem contribuir para
esclarecer os pontos que ainda ficaram obscuros em nossa análise.
REFERÊNCIAS