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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

FACULDADE DE ARTES VISUAIS


BACHARELADO EM MUSEOLOGIA

RELATÓRIO FINAL

DISCIPLINA: LABORATÓRIO DE ESTUDOS DE PÚBLICO


DOCENTE: LUIZ TADEU DA COSTA

DISCENTES:

EDINALMA LIMA (201909940036)

GISELE ROSA (201909940018)

GLAUCIA BATISTA (201909940001)

SABRINA SILVA (201909940012)

TIAGO VILHENA (201909940031)

Belém – Pará
2022
Apresentação

Os estudos de público na América Latina, e especialmente no Brasil,


começam a ficar mais frequentes no século XXI com as ações promovidas pelo
IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), criado em 2009, que tinha como objetivo
“conhecer os públicos dos museus, [...] em uma política voltada à democratização do
acesso a cultura.” (SILVA 2020,p. 193). Além disso, segundo a professora Carmen
Silva (2020) o surgimento de novos cursos de Museologia contribuiu para a
valorização acadêmica e institucional dos estudos de público no Brasil a partir da
segunda metade do século XXI.

Por fim, é a partir dos dados obtidos pelos estudos de público que as
diferentes instituições museológicas iram poder conhecer a opinião de seus
visitantes, e por meio disso elaborar atividades que possam contribuir para que
esses espaços sejam mais acessíveis as “diversas configurações de públicos”
(BRAHM et al, 2017, p.4).

Desse modo, este trabalho construído na disciplina de Laboratório de Estudos


de Públicos, ministrado pelo professor Luiz Tadeu da Costa, visa apresentar os
resultados da pesquisa de público realizado na Casa Museu Francisco Bolonha,
edifício construído em 1905 em Belém (PA) pelo engenheiro Francisco Bolonha.

Introdução

Francisco Bolonha nasceu em Belém do Pará em 1872 e casou-se com a


pianista Alice Tem-Brink, se formou no curso de Engenharia Civil em 1894, seus
estudos sobre os sistemas de redes de água encanada foram de extrema
importância para o progresso de Belém. É considerado um dos engenheiros mais
importantes de Belém devido às inúmeras obras realizadas na capital.

Foi durante o Ciclo da Borracha na Amazônia que começaram a ser


construídos numerosos palacetes em Belém sendo seus proprietários ricos
comerciantes, políticos e milionários da época. O Palacete Francisco Bolonha foi
construído na primeira década do século XX, segundo relatos, foi construído como
uma promessa de amor de Bolonha para sua esposa Alice que não queria deixar o
Rio de Janeiro para vir morar em Belém.
Inspirado nos palacetes europeus e sua forte influência das técnicas das
exposições industriais europeias, a construção eclética possui estilos como o
neoclássico, art nouveau, barroco e rococó. Sendo um dos edifícios mais altos da
época, o palacete possui cinco pavimentos.

Fig. 1. Museu-Casa Francisco Bolonha/ Fonte: Palacete Bolonha: Uma promessa de amor (2007).

O Palacete Francisco Bolonha, após ser restaurado, foi reinaugurado em


2020 como Casa Museu Francisco Bolonha para visitação do público mediante
agendamento, devido a pandemia da COVID-19, além de também sediar a FUMBEL
(Fundação Cultural do Município de Belém).

Dado o exposto, por meio dos dados obtidos na pesquisa de público realizada
na Casa Museu Francisco Bolonha bem como o uso dos referencias teóricos,
pretendemos discutir neste trabalho acerca da participação, inclusão e
acessibilidade do público nesse espaço.

Objetivos
Analisar quem são os/as visitantes da Casa Museu Palacete Bolonha.
Conhecer o perfil dos visitantes do Palacete; Identificar processos de acesso ao
museu e quais são os segmentos que fazem a visita na Casa Museu Palacete
Bolonha na Cidade de Belém.
Abordagem Metodológica

Após reuniões via Google Meet e troca de mensagens via WhatsApp, o grupo
construiu, com o auxílio do docente, um questionário composto por dez questões a
ser aplicado no público visitante do espaço. Trata-se de um estudo quantitativo e
qualitativo, que mescla perguntas fechadas e abertas para sondar o perfil deste
segmento de público alvo da pesquisa.
Após a reforma finalizada no ano de 2020, o Palacete Bolonha passou a
funcionar como museu casa, aberto à visitações guiadas, que são programadas
anteriormente, sempre gratuitas. As visitas do público geral ocorrem às terças-feiras
e quintas-feiras, em três diferentes horários: 9h30, 10h40 e 14h00, cada um com o
limite máximo de 10 visitantes. A mediação é realizada pela equipe do museu, que
reveza-se na tarefa. Apesar das visitas ao palacete serem programadas, via ligação
telefônica ou WhatsApp, aos sábados o lugar costuma estar aberto para visitações
livres, sem agendamento prévio. Dessa forma, os dias e horários escolhidos para a
aplicação dos questionários foram:

Data Dia da Semana Horários Tipo de Visita

14/12/21 Terça-feira 9h30 e 10h40 Programada

16/12/21 Quinta-feira 9h30 e 10h40 Programada

18/12/21 Sábado 9h30 até 11h00 Livre

21/12/21 Terça-feira 9h30, 10h40 e 14h00 Programada


Quadro 1. Dias e horários de aplicação de questionários

O grupo responsável pela pesquisa iniciava sua abordagem apresentando-se


aos visitantes em uma sala reservada no pavimento térreo, equipada com cadeiras e
ar-condicionado para proporcionar melhor conforto, pois é o espaço onde as
pessoas aguardam antes de iniciar seu percurso dentro do palacete. Era explicado
que seria proposto um questionário após o término das visitas, de participação
voluntária. Depois de concluído o trajeto pelo prédio, nossa equipe conduzia o(a)s
visitantes que expressaram sua vontade de participar do estudo à mesma sala de
antes, onde lhes era entregue o questionário, canetas e material de apoio para a
escrita, como pranchetas, por exemplo. A equipe da pesquisa ficava sempre por
perto, preparada caso surgisse alguma dúvida no(a)s participantes a respeito de
alguma questão.
Durante os quatro dias de aplicação, o estudo alcançou o total de 56
questionários respondidos. Os dados foram transferidos para um documento do
Planilhas Google, onde foram tabulados, analisados e posteriormente transformados
nos gráficos, quadros e tabelas que serão apresentados aqui.

Resultados

Gráfico 1. Distribuição de visitantes de acordo com o gênero (Questão 1)

Na realização da pesquisa do estudo de público constatamos as permanentes


reproduções de questões que permeiam gênero, grupos sociais e história local no
contexto dos museus públicos. Aplicar os questionários para pesquisa possibilitou
uma maior compreensão em relação ao estudo de público, e como tal ferramenta é
importante para um maior aprofundamento e diagnose para aplicabilidade de ações
no campo da museologia.
Museus são instituições organizadas por pessoas inseridas na lógica
capitalista, e como tal, acabam produzindo e reproduzindo a lógica do sistema;
exclusão, desigualdade, individualismo, elitismo etc.

Embora exista a museologia crítica, cujo foco são as transformações sociais


que ocorreram ao longo do processo histórico no setor museológico, contudo no
contexto brasileiro, em especial no paraense, constatou-se que os laços do sistema
capitalista ligados ao estado burguês permanecem fortes e, "mascarados" de um
esquema de sofisticação reforçam e aprofundam suas relações de opressões.

O museu precisa de uma prática que o torne um instrumento combativo, para


tal é necessário trabalhar as contradições citadas acima aliado aos interesses
museológicos às condições e necessidades reais da sociedade civil vislumbrando
ser um espaço instrumentalizado capaz de mobilizar as pessoas em torno de um
objetivo comum. Nesse sentido, promover acesso aos Museus partindo da vontade
popular é desenvolver a promoção da cidadania. Segundo Gabriela Aidar:

Dessa forma, um redimensionamento das práticas museológicas se faz


necessário ao se adotar um paradigma mais inclusivo. Em termos
ideológicos, as instituições devem mover-se na direção do reconhecimento
da ideia de que elas têm um papel a contribuir para a igualdade social, para
o fortalecimento de indivíduos e grupos em desvantagem, e para o
incremento de processos democráticos dentro da sociedade (AIDAR, 2002,
p. 7).

Dessa forma, a pesquisa em lócus mostra que em relação a questão racial


item 2 do questionário e a escolaridade item 4 respectivamente constatou que a
maioria é de brancos (28%) que visitam o Palacete Bolonha em segundo na
pesquisa são os pardos (20%) em seguida preta e amarela (3%) e por fim (1%) de
identificação indígena:
Gráfico 2. Distribuição de visitantes de acordo com a identificação étnico-racial (Questão 2)

Com isso, cabe o questionamento em relação aos segmentos que têm maior
acesso à cultura evidencia-se que ainda permanece a disparidade social entre
brancos e negros no que diz respeito ao direito à cultura.

O questionário evidencia que se faz necessário a compreensão do processo


histórico que ocorreu no Brasil. Nesse sentido deve-se estudar as violências que
impactam a sociedade até os dias atuais como a escravidão de africanas e
africanos. É relevante observar que a sociedade está em constante movimento,
onde as identidades culturais dialogam. Nesse sentido, os museus precisam
construir políticas públicas, para não simbolizarem na prática, as formas de opressão
já estruturadas.
Gráfico 3. Distribuição de visitantes de acordo com a faixa etária (Questão 3)

Gráfico 4. Distribuição de visitantes de acordo com a sua escolaridade (Questão 4)


A questão da escolaridade item 4 do questionário está diretamente
relacionada a questão de cor (vista anteriormente na questão 2), a maioria dos
visitantes possui nível superior completo (14%) e pós-graduação completa com
(15%), superior incompleto (8%), pós-graduação incompleta (1%) , médio completo
(11%), médio incompleto (4%), fundamental incompleto (2%) e fundamental
completo (2%) , ou seja, é estrutural e sistêmico a desigualdade entre brancos e
negros na sociedade brasileira, tal fato é inquestionável e necessita constantemente
ser enfrentado.

GRÁFICO 5???

O processo educacional e a questão étinico racial são problemas que


permeiam a sociedade brasileira, e que se aproximam, visto que a desigualdade é
estrutural.

Sendo assim, estas contradições estão relacionadas ao sistema capitalista


que articula práticas, ora abertas, ora camufladas para manter o espaço museal a
uma distância da maioria da população brasileira composta em sua maioria de
homens e mulheres pobres e negros. É justamente esse grupo que encontra
dificuldades para o desenvolvimento da escolaridade nas modalidades da educação.

Na construção do questionário a pergunta relacionada para a questão étnico


racial é pautada nos conceitos do IBGE e da intelectual Nilma Lino Gomes.

A identidade negra é entendida, aqui, como uma construção social,


histórica, cultural e plural. Implica a construção do olhar de um grupo
étnico/racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico/racial,
sobre si mesmos, a partir da relação com o outro (GOMES, 2017, p. 43).
A pergunta de número 5 do questionário buscava descobrir quantas vezes o
público já havia visitado o Palacete Bolonha. Por meio disso, poderíamos considerar
a frequência com a qual essas pessoas visitaram o espaço ao ano.

Gráfico 6. Distribuição de visitantes de acordo com a sua frequência no palacete (Questão 5)

De acordo com o gráfico acima, podemos observar que 44 pessoas afirmaram


terem visitado o espaço uma vez, enquanto 9 afirmaram estar visitando pela
segunda vez, 1 pessoa afirmou ter visitado três vezes e outra ter visitado quatro
vezes ou mais. Desse modo, apesar de não podermos categorizar esses visitantes
no conceito de Marilyn Hood (1983 apud ALMEIDA, 2005) como sendo um “público
eventual”, visto que não acompanhamos essas pessoas durante um longo período
de tempo, pois esta pesquisa tratou-se de uma primeira observação de estudo de
público, podemos considerar que essas pessoas visitam ou visitaram a Casa Museu
Francisco Bolonha com pouca frequência ao ano, ou seja, se observa a necessidade
da instituição criar estratégias e ações que possam fazer com que estes visitantes se
tornem um público mais frequente.
A questão número 6 surgiu com o objetivo de saber como os visitantes
ficaram sabendo sobre o Palacete Bolonha, uma vez que os trabalhos de
divulgações e informações a respeito dos espaços museológicos em Belém ainda
são pouco explorados, visto que, assim como foi observado no trabalho da
professora Carmen Silva (2020) muitas vezes ocorre das pessoas passarem em
frente a esses espaços, mas não saberem sobre quais atividades estão sendo
realizadas.

Gráfico 7. Distribuição de visitantes de acordo com a forma que tiveram conhecimento sobre o espaço
(Questão 6)

Portanto, o gráfico nos apresenta que 23 pessoas marcaram terem ficado


sabendo do Palacete Bolonha por meio de parentes e amigos, 10 pessoas
marcaram Instagram, 9 pessoas marcaram Televisão, 8 marcaram a opção Outros
(a qual escreveram que tinham conhecimento do espaço por terem passado em
frente), 7 por meio de Páginas na internet, 5 pessoas por meio do Facebook, 1 por
meio de Jornais impressos e nenhum pessoa marcou as opções Revistas e Rádio.
Dado os resultados, podemos ver que apesar das redes sociais atualmente serem
um dos principais meios de divulgação e trocas de informações entre os indivíduos,
a forma mais comum dos visitantes terem conhecimento do Palacete foi por meio de
suas próprias relações pessoais entre seus amigos e parentes.
A pergunta número 7 do questionário indagou sobre o local de moradia do
público visitante, mais precisamente se residem ou não na grande área
metropolitana de Belém. Esta questão visava descobrir se quem frequenta o
Palacete Bolonha são majoritariamente moradore(a)s dessa região, como declarado
anteriormente pela equipe responsável pelo lugar, o que foi confirmado segundo as
respostas coletadas durante nossa pesquisa:

Gráfico 8. Distribuição de visitantes de acordo com a sua residência fora e dentro da região
metropolitana de Belém (Questão 7)

Como podemos observar no gráfico acima, 43 pessoas afirmaram que


residem na área metropolitana da capital paraense, totalizando 76,8% das respostas
obtidas, mais de três quartos do feedback recebido. Em contrapartida, 13
participantes declararam que não moram na região, o que chega a representar
23,2% das respostas. Tal resultado indica uma predominância de visitantes locais no
palacete, onde turistas advindos de demais áreas são apenas uma menor parcela do
público que adentra no espaço.
Para conhecer mais sobre frequentadore(a)s da região, a questão 7.1 foi
desenvolvida a partir da anterior, e perguntava para os indivíduos residentes da área
metropolitana em qual cidade moravam:

Gráfico 9. Distribuição de visitantes de acordo com a sua residência na região metropolitana de


Belém (Questão 7.1)

Dessa forma, ficou constatado que durante o período pesquisado, a maioria


de visitantes dessa área são residentes do município de Belém (35 no total), ficando
Ananindeua em segundo lugar com 8 visitantes. Não houve o registro de visitantes
das demais cidades que compõem o bloco regional.
Com 35 visitantes dentro da amostra de 56 participantes da pesquisa, a
capital paraense representou assim a residência de 62,5% do(a)s frequentadore(a)s
do local. Ou seja, mais da metade do público visitante do Palacete Bolonha durante
o período pesquisado, quase dois terços do total, era oriundo de apenas uma única
cidade, Belém.
Com o objetivo de afunilar ainda mais o perfil dessa importante fatia de
visitantes do palacete, a pergunta 7.2 foi elaborada tendo em mente o grupo de
pessoas moradoras de Belém, que deveriam responder em qual bairro da cidade
residiam. Os resultados dessa pergunta estão exibidos no quadro a seguir:
7.2) Se mora na cidade de Belém, em qual bairro?

Bairro Número de visitantes

Cidade Velha 4

Marco, Souza, Umarizal e Icoaraci 3

Pedreira, Nazaré, Castanheira, Condor e Curió- 2


Utinga

Tapanã, Telégrafo, Guamá, Terra-Firme, 1


Marambaia, Cremação, São Brás, Jurunas e
Canudos
Tabela 1. Distribuição de visitantes residentes em Belém por bairros (Questão 7.2)

Dos 71 bairros belenenses delimitados pela Lei Municipal de Nº 7806 de 30


de julho de 1996, a pesquisa encontrou residentes de 19 deles. O bairro da Cidade
Velha foi o campeão em número de visitantes com 4 representantes; Em seguida
encontraram-se Marco, Souza, Umarizal e Icoaraci com 3 cada; Pedreira, Nazaré,
Castanheira, Condor e Curió-Utinga apareceram cada um com 2 visitantes; Por fim,
Tapanã, Telégrafo, Guamá, Terra-Firme, Marambaia, Cremação, São Brás, Jurunas
e Canudos contaram cada com apenas um visitante.
Chama a atenção o fato dos bairros que obtiveram as duas maiores
frequências, com exceção do distrito de Icoaraci, são de ocupação colonial antiga,
pois a expansão portuguesa que se deu a partir do século XVII na região teve como
centro irradiador o Forte do Presépio, localizado no hoje conhecido bairro da Cidade
Velha. Este centro da Belém atual foi construída por uma elite local que deu
preferência a trechos topográficos elevados, onde foi desenvolvida uma
infraestrutura mais adequada à moradia, enquanto populações carentes tiveram que
recorrer a áreas baixas e alagadiças para sobreviver, onde a periferia da cidade viria
a surgir (RIBEIRO; DIAS; FERREIRA, 2016).
Com o declínio do ciclo da borracha, a região central enfrentou um período de
degradação e abandono, até que no final do século XX e início do XXI passou por
programas de revitalização e refuncionalização. Com esse processo, as classes de
maior poder aquisitivo voltaram a ocupar os espaços históricos da capital, já
impregnados pelo capital cultural (JÚNIOR; AZEVEDO, 2012). Os bairros centrais da
cidade assim apresentam alta especulação imobiliária e um dos m 2 mais caros de
Belém (RIBEIRO; DIAS; FERREIRA, 2016).
O processo de formação histórica e social desse espaço da capital é
importante para compreender a composição de seus habitantes atuais. Gusmão e
Soares (2018) ao analisar dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) no ano de 2010, apontou que o conjunto de bairros centrais constituídos de
Batista Campos, Nazaré, Campina, Reduto, Souza, São Brás, Umarizal e Marco
apresentaram o melhor salário médio e a maior expectativa de vida de toda Belém.
Do grupo, cinco encontram-se listados na tabela acima, três deles com 3 visitantes
cada.
Apesar de sua localização ser próxima ao palacete (que encontra-se no bairro
de Nazaré), o que explicaria a maior frequência de pessoas residentes desses
locais, seu passado e a constituição de seu perfil populacional são também
necessários para entender as características de quem visita o Palacete Bolonha.
A questão 7.3, última pergunta derivada da questão 7, voltava-se para
participantes cuja resposta foi negativa quando questionados se residiam na área
metropolitana (13 visitantes). Ela pedia que fosse informado a cidade e o estado
onde essas pessoas moravam:
7.3) Se você não reside na cidade de Belém e/ou área metropolitana, informe
a cidade e o estado em que você mora

Cidades do interior do Pará Concórdia do Pará (PA): 1


Almeirim (PA): 1
Altamira (PA): 1
Abaetetuba (PA): 1

Cidades de outros estados Santana (AP): 1


Goiânia (GO): 1
Brasília (DF): 1
São Paulo (SP): 2
Rio de Janeiro (RJ): 1
Curitiba (PR): 1
Joinville (SC): 1

Cidades de outros países Paris (França): 1

Quadro 2. Distribuição de visitantes de acordo com a sua residência fora da região metropolitana de
Belém (Questão 7.3)

Como é possível verificar no quadro acima, visitantes de outras regiões do


estado, país e do mundo foram encontrados durante o período examinado. Embora
essas pessoas representem, no âmbito desta pesquisa, apenas 23,2% do público
frequentador do palacete, sua presença não pode ser desprezada dentro deste
estudo.

A questão 8 quis saber sobre o que o visitante gostaria, ou, que achasse que
estivesse faltando no espaço museal. A questão tenta visualizar a acessibilidade ou
barreiras em que um eventual público possa se sujeitar.
Gráfico 10. Distribuição de respostas dadas pelo(a)s visitantes sobre as necessidades do palacete
(Questão 8)

O gráfico acima apontou que, 31 pessoas gostariam que tivesse bebedouro,


23 pessoas gostariam que tivesse lanchonete, 21 pessoas gostariam que tivesse
audioguia,18 pessoas a gostariam que tivesse armários para guarda pertences, 16
pessoas gostariam que tivesse rede social do Palacete, 14 pessoas gostariam que
tivesse zona de wi- fi, 13 pessoas gostariam que tivesse textos em legendas em
braile, 9 pessoas gostariam que tivesse assentos para descanso durante a visitação,
9 pessoas gostariam que tivesse melhor acessibilidade aos espaços internos, 4
outros. Apesar dos números serem bem pareados deixando claro a falta de vários
suportes para o público, podemos nos ater aos dois primeiros números. Deixando
claro a falta de um espaço como uma lanchonete ou praça de alimentação ao final
da visitação.
.
Gráfico 11 Distribuição de respostas dadas pelo(a)s visitantes sobre a mediação do palacete
(Questão 9)
Na questão 9 do questionário, procurou- se saber sobre a(s) narrativa(s),
quais assuntos foram abordados pela mediação do Palacete. O interesse pelo que
foi assimilado pelo público e por uma possível construção de uma narrativa crítica,
buscando a inclusão social, ou detectando a exclusão social, conceito abordado por
Gabriela Aidar:
refere-se ao papel que os museus podem assumir como criadores de
narrativas sociais dominantes, mediante suas práticas de seleção e
exposição, e dos discursos expositivos criados. Assim, os museus podem
ajudar a desenvolver um sentimento de pertença e afirmação de identidade
para grupos que podem estar marginalizados.

Portanto, o gráfico mostrou que 39 pessoas disseram urbanização e


arquitetura de Belém, 38 disseram a vida de Francisco Bolonha, 34 pessoas
disseram a vida familiar do casal Francisco e Alice, 23 pessoas disseram Belle-
Époque, 23 pessoas disseram Patrimônio, 1 pessoa disse cabanagem.
Dado o resultado, se percebe que a narrativa do Palacete ainda é quase que
exclusivamente protagonizada em cima da pessoa de Francisco Bolonha, onde os
assuntos mais falados são seus feitos como arquiteto, empreendedor e como chefe
de família.
A décima questão, última pergunta do questionário, propôs que as pessoas
escrevessem qual era a primeira palavra que lhes vinha à mente quando falávamos
no Palacete Bolonha. Essa pergunta visava sondar o imaginário, a imagem mental
que o(a)s visitantes possuíam a respeito do local. Apesar de o enunciado da questão
pedir somente uma palavra como resposta, alguns indivíduos escreveram mais de
um termo ou então frases completas. No primeiro caso, foram contabilizadas apenas
a palavra inicial que foi escrita no papel, enquanto na segunda situação as frases
foram interpretadas de modo a captar seu sentido principal, e assim poder encaixá-
las de maneira correta nas categorias propostas.
Essas categorias foram pensadas e elaboradas de acordo com as respostas
recebidas durante a pesquisa. As palavras foram organizadas em sete grupos
distintos: Arte e Arquitetura, História, Memória e Patrimônio, Beleza, Personalidades
relacionadas ao palacete, Riqueza e Elegância e por fim, uma nomeada Outros, que
reúne quaisquer palavras que não encaixavam-se nos grupamentos anteriores. O
resultado pode ser visto no gráfico e quadro abaixo:

Gráfico 12. Distribuição de palavras usadas pelo(a)s visitantes para fazer referência ao palacete, por
categorias (Questão 10)
CATEGORIAS PALAVRAS/FRASES USADAS

Arte e Arquitetura “arte”, “arquitetura”, “uma arquitetura secular”,


(23,6%) - 13 respostas “arquitetura fascinante”, “eclético”, “Atenção aos
detalhes de construção e visibilidade com
muitas aberturas (janelas)”

Beleza (21,8%) - 12 respostas “beleza”, “bonito”, “lindo”

Memória e Patrimônio (16,4%) “memória”, “patrimônio”, “patrimônio histórico”,


- 9 respostas “cultura”, “museu”, “algo que deve ser mantido
sempre, um dos nossos ‘palácios de
Versalhes’”, “é um espaço histórico que outro
também poderia ser restaurado para o público”

História (12,7%) - 7 respostas “história”, “belle époque”

Riqueza e Elegância (10,9%) - “riqueza”, elegância”, “sofisticação”


6 respostas

Personalidades relacionadas “francisco bolonha”, “alice”, “visionário -


ao palacete (9,1%) - 5 francisco bolonha foi um'', “um homem
respostas visionário em seu tempo!”, “a Alice foi sortuda
por ganhar um palacete de F. B.”

Outros (5,5%) - 3 respostas “instigante”, “imponência”, “uma história de


amor”
Quadro 3. Categorias de palavras e frases usadas pelo(a)s visitantes para fazer referência ao
palacete (Questão 10).

A categoria com o maior percentual foi Arte e Arquitetura, com 13 respostas


relacionadas (23,6%), o que indica um forte imaginário do palacete atrelado à
própria construção, prédio de arquitetura eclética entendido como uma obra de arte
em si. Logo após vem o grupo Beleza, com apenas uma resposta a menos que a
categoria anterior, totalizando 21,8% do retorno recebido. Isso sugere que o
Palacete Bolonha continua a ser reconhecido por sua aparência física, uma
qualidade subjetiva, mas que também possui raízes na concretude de critérios pré-
moldados pela sociedade ao longo do tempo. Podemos dizer então que, de acordo
com visitantes do lugar, o palacete encontra-se dentro do padrão estabelecido como
belo. Em seguida, Memória e Patrimônio chegou a 9 respostas (16,4%), categoria
que englobou termos referentes à salvaguarda dos elementos culturais. História,
com apenas duas palavras citadas - “história” e “belle-époque” - vem atrás com
12,7% do feedback (7 respostas). Já termos que denotavam luxo e requinte foram
agrupados em Riqueza e Elegância, que recebeu no total 6 respostas (10,9%).
Qualquer alusão às pessoas que residiram no palacete entrou na categoria
Personalidades relacionadas ao palacete, que recebeu 9,1% das respostas, com 5
referências a Francisco Bolonha e/ou Alice Tem-Brink. Para finalizar, Outros reuniu
três palavras (5,5%) que não puderam ser inseridas nos demais grupos. Sendo
assim, o resultado obtido induz a um imaginário popular onde o palacete é
interpretado principalmente como uma obra de arte, produto de uma requintada e
luxuosa arquitetura da época da Belle-Époque, admirado pela sua beleza e que por
suas características deve ser um bem cultural protegido.
O resultado não é inesperado, visto que a grande atenção dada à proteção de
bens culturais históricos relacionados às elites não é algo novo nas discussões
sobre o patrimônio. Na Amazônia, o período que abrange o final do século XIX até o
início do século XX é conhecido como Belle-Époque, fruto direto da economia
extrativista da borracha, que enriqueceu certas famílias e promoveu mudanças
urbanas na capital paraense. Frequentemente, o tema é abordado nas salas de aula
como um passado glorioso da região, pois Belém era no momento uma das cidades
mais desenvolvidas do país e que respirava cultura francesa. A falta de uma análise
mais profunda sobre a época, como o acentuado processo de gentrificação da
capital ou a pobreza que as cidades interioranas enfrentavam podem levar à uma
concepção errônea desse passado. A ideia de um período histórico de apenas
riqueza e luxo na Amazônia pode instaurar um sentimento de saudosismo na
população, que enxergará na grandiosidade das construções feitas para a elite
paraense um patrimônio, em detrimento de bens e manifestações culturais das
camadas menos abastadas.

Considerações Finais
Referências Bibliográficas:

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Letras: Revista da Faculdade Porto –Alegrense de Educação, Ciências e Letras.
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ALMEIDA, Adriana Mortara. O contexto do visitante na experiência museal:


semelhanças e diferenças entre museus de ciência e de arte. História, Ciência,
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BRAHM, José Paulo Siefert; RIBEIRO, Diogo Lemos; TAVARES, Davi Kiermes.
Comunicação em museus: avaliação de público no entorno do Museu de Ciências
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GOMES, Nilma Lino.. Alguns Termos e Conceitos Presentes no Debate sobre


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http://www.eumed.net/rev/cccss/2018/01/producao-desigual-espaco.html. Acesso
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Área Central e seu Papel Histórico e Geográfico. Espaço Aberto, Rio de Janeiro, v.
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Helyette Gomes. Palacete Bolonha: Uma promessa de amor. Belém: Editora
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Museologia e Patrimônio-Volume 4. Escola Superior de Educação e Ciências
Sociais-Politécnico de Leiria. 2020.p.181-204.
Apêndice

Laboratório de Estudos de Público

Casa Museu Francisco Bolonha

Questionário – Museologia FAV/ UFPA

1) Com qual gênero você se identifica?

( ) Feminino ( ) Masculino ( ) Não-binário

2) Qual a sua identificação étnico-racial?

( ) Preta ( ) Branca ( ) Amarela ( ) Parda ( ) Indígena

3) Qual a sua faixa etária?

( ) Menor de 18 anos ( ) 18-25 anos ( ) 26-35 anos

( ) 36-45 anos ( ) 46-60 anos ( ) Mais de 60 anos

4) Qual a sua escolaridade?

( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Fundamental Completo

( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Médio Completo

( ) Ensino Superior Incompleto ( ) Ensino Superior Completo

( ) Pós-Graduação Incompleta ( ) Pós-Graduação Completa


5) Quantas vezes você já visitou o Palacete Bolonha?

()1 ()2 ()3 ( ) 4 ou mais

6) Como você ficou sabendo do Palacete Bolonha?

( ) Rádio ( ) Televisão ( ) Jornais impressos

( ) Revistas ( ) Por meio de parentes e amigos ( ) Instagram

( ) Facebook ( ) Páginas de internet (blogs, jornais eletrônicos, etc,.)

( ) Outros: _______________________________________

7) Você mora na grande área metropolitana de Belém?

( ) Sim ( ) Não

7.1) Se sim, em qual cidade?

( ) Belém ( ) Ananindeua ( ) Marituba ( ) Benevides

( ) Santa Bárbara ( ) Santa Izabel ( ) Castanhal

7.2) Se mora na cidade de Belém, em qual bairro?

______________________________________________________

7.3) Se você não reside na cidade de Belém e/ou área metropolitana, informe
a cidade e o estado em que você mora.

_______________________________________________________
8) O que você gostaria que tivesse no Palacete Bolonha? (Marque até 3
opções)

( ) Armários para guardar pertences ( ) Bebedouro ( ) Lanchonete

( ) Bancos ou assentos para descanso durante a visitação

( ) Textos e legendas em braille ( ) Audioguia ( ) Zona de Wi-Fi

( ) Melhor acessibilidade aos espaços internos ( ) Redes sociais do Palacete

( ) Outro: ___________________________________________

9) Durante a visita guiada ao Palacete Bolonha, quais foram os assuntos


mais falados pela mediadora? (Marque até 3 opções)

( ) Cabanagem ( ) Belle Époque ( ) Urbanização e Arquitetura de Belém

( ) Patrimônio ( ) Vida familiar do casal Alice e Francisco Bolonha

( ) A vida de Francisco Bolonha

10) Qual é a primeira palavra que lhe vem à mente quando falamos no
Palacete Bolonha?

______________________________________________________________

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