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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS CULTURAIS

EVELYN ARIANE LAURO

Acessibilidade e Inclusão Social:


A presença de pessoas trans no Museu da Língua Portuguesa

São Paulo
2023
EVELYN ARIANE LAURO

Acessibilidade e Inclusão Social:


A presença de pessoas trans no Museu da Língua Portuguesa

Versão original

Dissertação apresentada à Escola de Artes,


Ciências e Humanidades da Universidade de
São Paulo para obtenção do título de Mestre
em Filosofia pelo Programa de Pós-graduação
em Estudos Culturais .

Área de Concentração:
Estudos Culturais

Orientador:
Prof. Dr. Rogério Monteiro de Siqueira

São Paulo
2023
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou
eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Artes, Ciências e Humanidades,


com os dados inseridos pelo(a) autor(a)
Brenda Fontes Malheiros de Castro CRB 8-7012; Sandra Tokarevicz CRB 8-4936

Lauro, Evelyn Ariane


Acessibilidade e Inclusão Social: A presença de
pessoas trans no Museu da Língua Portuguesa / Evelyn
Ariane Lauro; orientador, Rogério Monteiro de
Siqueira. -- São Paulo, 2023.
132 p: il.

Dissertacao (Mestrado em Filosofia) - Programa


de Pós-Graduação em Estudos Culturais, Escola de
Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São
Paulo, 2023.
Versão original

1. Museu da Língua Portuguesa. 2. Museologia. 3.


Acessibilidade. 4. Inclusão Social. 5. Pessoas
Trans. I. Siqueira, Rogério Monteiro de, orient.
II. Título.
Nome: LAURO, Evelyn Ariane
Título: Acessibilidade e Inclusão Social: a presença de pessoas trans no Museu da Língua
Portuguesa

Dissertação apresentada à Escola de Artes,


Ciências e Humanidades da Universidade de
São Paulo para obtenção do título de Mestre
em Filosofia do Programa de Pós-Graduação
em Estudos Culturais.

Área de Concentração:
Estudos Culturais

Aprovado em: ___ / ___ / _____

Banca Examinadora

Prof. Dr. ____________________ Instituição: __________________


Julgamento: ____________________ Assinatura: __________________

Prof. Dr. ____________________ Instituição: __________________


Julgamento: ____________________ Assinatura: __________________

Prof. Dr. ____________________ Instituição: __________________


Julgamento: ____________________ Assinatura: _________________
A todas as pessoas que dedicam tempo e energia para tornar a universidade inclusiva e
plural. Graças a vocês, estou aqui hoje...
Agradecimentos

Agradeço às amigas e amigos pela paciência, pela escuta, pelas trocas, pelo apoio e
incentivo, pela colaboração, por dedicarem tempo para me ajudar, cada qual a sua maneira, na
tarefa difícil de equilibrar os pratos da vida acadêmica e profissional. Em especial: Camila
Aderaldo, Célia de Almeida, David Costa, Fiorella Bugatti, Lidia Ananda, Ligia Perroni,
Lourdes Silva, Luiza Magalhães, Vilma Campos, e Zé Motta. Tenho a honra e o privilégio de
poder dizer que nunca estive só, e isso tornou a tarefa mais leve e, em muitos momentos,
divertida. Foi um prazer partilhar com vocês mais essa etapa.
Agradeço ao professor Rogério Monteiro por ter sido um orientador-incentivador
empático, paciente e objetivo. Professor, sua postura é pura potência criadora, é a prova de
que é possível produzir em contextos duros sem abrir mão da leveza, do prazer criativo, da
amabilidade e da cortesia. Obrigada por tornar isso possível.
“Gostaria de já deixar registrado aqui que se trata de um partido que
tomo, que não respondo por ninguém, apesar de não me encontrar
de todo despertencida, que não falo por boca nenhuma, apesar de
não ser uma voz sem eco. Divido visões…”
(SILVA, 2019, p. 48)
RESUMO

LAURO, Evelyn Ariane. Acessibilidade e Inclusão Social: A presença de pessoas trans no


Museu da Língua Portuguesa. 2023. 133 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Escola de
Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2023. Versão original.

Pelo desejo de ver ampliada a participação e como exercício de análise das práticas
para a acessibilidade universal, procuro compreender, sobretudo a partir do contexto de sua
reabertura em 2021, que espaço o Museu da Língua Portuguesa garantiu a vozes da
comunidade de pessoas trans. Além disso, analiso os limites da representação e da
participação deste grupo social na programação e nos espaços expositivos do Museu. Para
tanto, apresento o debate sobre inclusão e acessibilidade no campo museológico, no geral, e
indico como isso está posto no Museu da Língua Portuguesa, em específico; discuto o
processo de renovação do papel dos museus no século XXI a partir das demandas sociais que
vem tensionando as instituições a olhar para a questão das identidades e da diversidade social,
no mesmo contexto político que fomenta o fortalecimento de discursos conservadores que
legitimam projetos como o “Escola Sem Partido” e suscitam perseguição ideológica contra
instituições culturais; e, por fim, avalio se, contudo, o Museu conseguiu visibilizar, valorizar
e positivar as memórias das pessoas trans ou se ele cumpre a responsabilidade social de
garantir essa presença “diversa”, mas de forma a reforçar os estereótipos que as mantêm na
invisibilidade e vulnerabilização.

Palavras-chave: Museu da Língua Portuguesa. Museologia. Acessibilidade. Inclusão Social.


Pessoas Trans.
ABSTRACT

LAURO, Evelyn Ariane. Accessibility and Social Inclusion: The presence of trans people at
the Portuguese Language Museum. 2023. 133 f. Dissertation (Master of Philosophy) - School
of Arts, Sciences and Humanities, University of São Paulo, São Paulo, 2023. Original version.

By the desire to see participation widened and as an exercise of analysis of practices for
universal accessibility, I seek to understand, especially from the context of its reopening in
2021, what space the Portuguese Language Museum has guaranteed to the voices of the
transgender community. In addition, I analyze the limits of representation and participation of
this social group in the programming and exhibition spaces of the Museum. For this, I present
the debate on inclusion and accessibility in the museological field, in general, and I indicate
how this is seen in the Portuguese Language Museum, specifically; I discuss the process of
renewal of the role of museums in the twenty-first century from the social demands that have
been straining institutions to look at the issue of identities and social diversity, in the same
political context that encourages the strengthening of conservative discourses that legitimize
projects such as the "School Without Party" and raise ideological persecution against cultural
institutions; and, finally, I evaluate if, however, the Museum has managed to make visible,
value and positivize the memories of trans people or if it fulfills the social responsibility of
ensuring this "diverse" presence, but in a way that reinforces the stereotypes that keep them in
invisibility and vulnerability.

Keywords: Portuguese Language Museum. Museology. Accessibility. Social Inclusion.


Transgender People.
LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 – Totem de acolhimento 24


Imagem 2 – Instalação Falares 76
Imagem 3 – Mapa tátil do terceiro pavimento 78
Imagem 4 – Mapa tátil do segundo pavimento 86
Imagem 5 – Interação de visitante com a instalação Palavras Cruzadas 88
Imagem 6 – Comentário em postagem da conta do Museu no Instagram 90
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Recursos de Acessibilidade do Museu da Língua Portuguesa 38


Tabela 2 - Fragilidades do sistema de acessibilidade do Museu da Língua Portuguesa 40
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................13
1.1 Uma digressão pessoal.................................................................................................. 17
1.2 O Museu da Língua Portuguesa e a questão trans........................................................ 20
2 ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO: ONDE A HISTÓRIA DA LUTA POR
INCLUSÃO E A MUSEOLOGIA SE ENCONTRAM....................................................... 24
2.1. Acessibilidade, inclusão e interseccionalidade na luta pelos direitos humanos do
século XX............................................................................................................................25
2.2. Dos gabinetes de curiosidade à nova definição do ICOM: acessibilidade e inclusão
como desafio para os museus do século XXI..................................................................... 27
2.3. Acessibilidade e inclusão no novo Museu da Língua Portuguesa.............................. 35
3 REPRESENTAÇÃO, SIGNIFICAÇÃO E PODER: MUSEU COMO ESPAÇO DE
MEMÓRIA EM DISPUTA.................................................................................................... 46
3. 1 O Museu e a questão nacional......................................................................................47
3.2 Museu no século XXI: arena de discussão sobre raça, gênero, classe e outros
marcadores de diferença social........................................................................................... 53
3.3 Gênero como lugar perigoso......................................................................................... 60
4 A PRESENÇA TRANS NO MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA.............................75
4.1 Língua Viva: O terceiro pavimento do Museu, segundo da exposição principal..........78
4.2 Viagens da Língua: O segundo pavimento do Museu, primeiro da exposição principal..
86
4.3 Presença trans nas exposições temporárias e programação virtual...............................91
4.4 Presença trans no quadro funcional do Museu..............................................................96
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 98
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 102
ANEXO A – CLIPPING IDBRASIL - MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA............ 109
13

1 INTRODUÇÃO

Após negar o que lhe foi atribuído ao nascer e decidir expressar o gênero com o qual
se identifica, a pessoa trans1 passa a viver um processo de exclusão sistematizado, no qual a
morte é o limite trágico. Segundo a ONG Internacional Transgender Europe, o Brasil é o país
com o maior número de assassinatos de pessoas trans em todo o mundo. Segundo a
organização, entre outubro de 2020 e setembro de 2021, ocorreram 152 casos no Brasil e 65
no México, país que fica com a segunda posição no ranking. Segundo a pesquisa, ao todo
foram registrados 375 assassinatos de pessoas transgênero pelo mundo nesse período, o que
faz com que o Brasil esteja na liderança pelo décimo terceiro ano consecutivo, sendo
responsável, sozinho, por 40,5% dos casos2. Dados mais atualizados demonstram que o Brasil
se mantém na mesma posição. Segundo relatório publicado pela ANTRA (Associação
Nacional De Travestis e Transexuais do Brasil),

em 2022, tivemos pelo menos 151 pessoas trans mortas, sendo 131 casos de
assassinatos e 20 pessoas trans suicidadas. A mais jovem trans assassinada tinha 15
anos, e vimos um acirramento na patrulha contra crianças e adolescentes trans,
sendo inclusive vítimas de violências dentro do ambiente escolar. E embora haja
uma leve queda em relação a 2021, o perfil das vítimas se manteve o mesmo. Chama
atenção o país figurar novamente como o que mais consome pornografia trans nas
plataformas digitais de conteúdo adulto no mesmo momento em que o Brasil figura
como o país que mais assassinou pessoas trans pelo 14º ano consecutivo (Benevides,
2023, p.06).

O número de assassinatos somado ao alto índice de suicídios e a enorme dificuldade


para acessar serviços de saúde, faz com que a expectativa de vida desse grupo seja muito
baixa. Enquanto a população geral brasileira vive em torno de 75 anos, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população trans e travesti vive cerca de 35
anos, de acordo com a União Nacional LGBT (ANTUNES, 2010).

Com a existência deslegitimada socialmente, essa população não contava, até há


pouco, com uma legislação que a protegesse e lhe garantisse acesso a direitos. A não
aceitação expulsa as pessoas trans e travestis do convívio familiar. O despreparo no sistema
educacional tradicional em lidar com a diversidade de forma a evitar violência as expulsa da
escola. A baixa escolaridade e o preconceito as expulsam do mercado formal de trabalho.
Segundo estimativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a soma

1
Redução da palavra transgênero. Termo guarda-chuva que se refere aos indivíduos que não se identificam com
o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. (ANTRA - Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil).
2
Os dados da pesquisa estão disponíveis em: <https://transrespect.org/en/tmm-update-tdor-2021/>. Acesso em
21 de fevereiro de 2022.
14

desses fatores faz com que 90% dessas pessoas sobrevivam de empregos informais, sobretudo
da prostituição3 - onde também constroem suas redes de sociabilidade e solidariedade -,
quadro agravado no contexto de pandemia4.

Privadas de escolhas e carregando sobre o corpo o peso do estigma social, a


prostituição é a única garantia das condições materiais de existência. Amara Moira, travesti,
escritora pós-graduada em Letras, mas, puta, como ela mesma diz em sua biografia intitulada
E Se Eu Fosse Puta, nos dá, a partir do seu próprio relato, a dimensão da questão quando diz
ser “tratada igual puta bem antes de me assumir puta, quase uma tatuagem na testa: bastou me
verem travesti e já começa o assédio, assédio de que nunca tive notícia enquanto posava de
homem” (MOIRA, 2016, p. 33).

Por outro lado, a temática LGBTQIA+ está em foco na indústria do consumo. As


disputas em torno da sigla atingiram os mercados de comunicação, bens e serviços como
nunca antes na história. Cientes do tamanho e da potência do público em questão, a cada dia
uma nova marca se apresenta enquanto apoiadora da diversidade e, é claro, a questão ganha
visibilidade e alcança também os espaços de produção acadêmica e artística que, embora se
reivindiquem fora, estão tão inseridos na lógica de mercado quanto qualquer marca produtora
de bens de consumo. Os espaços de arte, de cultura e de salvaguarda de bens do patrimônio
histórico precisam estar alinhados às demandas do mercado quando dependem de
investimentos privados para sobreviver. É um dado da realidade.

Neste contexto, assim como acontece com outras minorias sociais, historicamente, as
narrativas sobre essa parcela da sociedade foram construídas a partir do olhar e da prática
discursiva exteriores à sua comunidade de pertencimento. Isso produz uma determinada
imagem no imaginário coletivo, distorcida, por vezes romantizada, patologizada e/ou
criminalizada, alimentando estereótipos ou criando um novo padrão e, consequentemente, um
novo círculo de exclusão àquela parcela da comunidade que não o corresponda. Apontando
para essa realidade, Juliana Perucchi, no prefácio do livro Transfeminismo: Teorias e
Práticas, reagindo aos trabalhos de Judith Butler, nos diz que "as pessoas que não têm
oportunidade de representar a si mesmas correm um grande risco de serem vistas como menos

3
Dados disponíveis em:
Transrespect versus Transphobia Worldwide. TVT TMM Update: Trans day of remembrace 2021. Disponível
em: <relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antra.pdf>. Acesso em 21 de fevereiro de 2022.
4
Pesquisa recente desenvolvida pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo
demonstra o agravamento da situação no contexto atual. Disponível em:
<https://www.cnnbrasil.com.br/business/seis-em-cada-10-pessoas-lgbtqia-perderam-renda-ou-emprego-na-pande
mia/>. Acesso em 21 de fevereiro de 2022.
15

humanas, de serem tratadas como menos humanas, ou mesmo, de nem serem vistas"
(PERUCCHI, In: JESUS, 2004, p. 13).

Debatendo essa questão no campo das artes, Helena Vieira5, na mesa de debate As
Artes e Artistas Trans: Uma Reflexão Sobre Representatividade em evento organizado por
[SSEX BBOX] e Itaú Cultural6, aponta que a população trans, seguindo a tendência dos que
vivem em todas as outras esferas da sociabilidade humana, vive a exclusão na arte. Na opinião
dela, a ideia de inclusão praticada é, em esmagadora maioria dos casos, uma proposta de
representatividade precária. Precária porque indica a existência dessas pessoas, mas não
permite que elas participem de forma a transformar suas próprias realidades. Precária quando
a pessoa trans é representada na novela por um ator ou uma atriz cisgênero, precária quando a
pintura, a música, a poesia trazem a imagem do corpo trans não produzida por quem carrega
essa corporeidade. Precária quando exclui as pessoas trans do processo de criação da
representação e que não contribui com a transposição da barreira que impede que essas
pessoas transitem pelos espaços de produção e de circulação da arte. E, neste sentido, a
construção de representabilidade agiria contra os mecanismos artificiais de inclusão; a
auto-representação teria como efeito a construção de um discurso plural que garantiria a essas
pessoas o direito de falar sobre si mesmas, de produzir discurso sobre si que condiga com
suas experiências reais, de fazer circular maior diversidade narrativa.

Chimamanda Adichie atenta para a lógica da reprodução das narrativas dominantes


que, por terem mais condições para a circulação, acabam se tornando histórias únicas. A falta
de acesso à diversidade narrativa nos faz, na perspectiva dela, vulneráveis à reprodução de
estereótipos e estigmas que desumanizam e invisibilizam todo grupo social que não constitui
o lugar hegemônico. A história única, no que diz respeito aos grupos vulnerabilizados pelos
sistemas de dominação, infantiliza e vitimiza os sujeitos, “rouba a dignidade das pessoas”
(ADICHIE: 2019, p. 27).
A grande mídia, a literatura, e todos os campos moldados pelo discurso (e aqui
podemos incluir os museus e demais espaços de salvaguarda do patrimônio
histórico-cultural), repositórios que são, tradicionalmente, da história hegemônica, nos

5
Helena Vieira é travesti, artista, educadora e pesquisadora de Teoria Queer. Escritora, dramaturga, consultora
(tendo sido inclusive consultora para a novela global A Força do Querer), palestrante, tem o campo das
representações como uma de suas áreas de pesquisa. Seu currículo profissional pode ser consultado em:
Currículo de Helena Vieira.Disponível em:
<https://mapacultural.secult.ce.gov.br/files/agent/34974/curr%C3%ADculo_helena_vieira.pdf>. Consultado em:
19 de março de 2022.
6
VIEIRA, Helena. As artes e artistas trans: uma reflexão sobre representatividade. In: Todos os Gêneros:
Circuito [SSEX BBOX]. Itaú Cultural: São Paulo, 2017.
16

ensinaram a associar toda a África às misérias de todas as ordens; assim como nos ensinaram
a sentir pena e orgulho das pessoas com deficiência, como grandes exemplos de superação; e
nos ensinaram a associar pessoas trans, sobretudo mulhers transgênero e travestis, ao crime e
à prostituição e, consequententemente, às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Basta
uma pesquisa rápida a partir da palavra “travesti” nos sites de busca para entender a lógica de
criação e reprodução de história única discutida por Chimamanda. O que teremos como
resultado é, majoritariamente, notícias sobre homicídios onde a pessoa trans é a vítima, na
maioria das vezes com requintes de crueldade; crimes de menor gravidade onde a pessoa trans
é a executora; e material pornográfico. Nas palavras de Chimamanda: “É assim que se cria
uma história única: mostre um povo como uma coisa, uma coisa só sem parar, e é isso que
esse povo se torna” (2019, p. 22). E aqui Chimamanda e a pesquisadora indiana Gayatri
Chakravorty Spivak, para quem o sujeito subalterno é, também, efeito do discurso (SPIVAK:
2010), parecem concordar. No entanto, Chimamanda nos lembra que a vulnerabilização não é
a história única de ninguém.
A perspectiva discursiva na elaboração de identidades é objeto de análise dos Estudos
Culturais há muitos anos. No clássico estudo sobre representação, Orientalismo: O Oriente
como invenção do Ocidente, publicado pela primeira vez em 1978, Edward Said, observa que
é preciso praticar certo pensamento crítico para romper com a lógica que inventa, com
eficácia assassina, identidades coletivas a partir da relação entre saber e poder. Na perspectiva
dele, o conhecimento sobre o objeto, essa forma de representação a partir da autoridade
erudita e científica, se torna o próprio objeto e, numa relação desigual de forças, a autoridade
silencia o outro por ela criado, falando por ele, produzindo e reiterando relações de
dominação (SAID, 2003, pp. 63 - 74).
Antes mesmo de Said, Frantz Fanon, em 1952, publicou sua recusada tese de
doutorado em psiquiatria sobre os efeitos da estrutura colonial nas pessoas negras, na
perspectiva das subjetividades. Num processo análogo ao descrito por Said, e mais tarde por
Spivak e Chimamanda, Fanon denuncia à sua época que “aquilo que é chamado de alma negra
é uma construção do branco” e aponta para a necessidade da desalienação a que esse processo
colocou o negro, de “epidermização” de uma inferioridade em relação ao branco (FANON,
2020, p. 28) .
Os três estudos clássicos e a perspectiva contemporânea de Chimamanda denunciaram
e atualizam a denúncia de que identidades são criadas e reiteradas por estruturas dominadoras
(a mulher, a mulher indiana, a mulher negra, o Oriente, o oriental, o homem negro, o
17

antilhano, etc.) e que só o rompimento com o silêncio a que foram submetidos os grupos
subalternizados, só com a circulação de contranarrativas, será capaz de reequilibrar a balança
de poder. Como Observa Eni Punccinelli Orlandi (2017, p. 55),

O político, ou melhor, o confronto do simbólico com o político, como diz M.


Pêcheux (1975), não está presente só no discurso político. O político, tal como o
pensamos discursivamente está presente em todo discurso. Não há sujeito, nem
sentido, que não seja dividido, não há forma de estar no discurso sem constituir-se
em posição-sujeito e, portanto, inscrever-se em uma ou outra formação discursiva
que, por sua vez, é a projeção da ideologia no dizer. As relações de poder são
simbolizadas e isso é político.

Do nosso lado, como produtores de discurso, e recusando a homogeneização dos sujeitos e


das histórias, nos cabe questionar quais discursos estamos produzindo e/ou reproduzindo e
que modelo de sociedade estamos ajudando a construir, afinal, “as histórias foram usadas para
espoliar, caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar. Elas podem
despedaçar a dignidade de um povo, mas também podem reparar essa dignidade despedaçada”
(ADICHIE, 2019, p. 32). E os museus ocupam papel (posição-sujeito) importante nesse
processo.

1.1 Uma digressão pessoal

Antes de seguir no desenvolvimento da pesquisa, julgo importante explicar como, na


minha trajetória acadêmica e profissional, aliei a questão das identidades ao trabalho nos
museus.
Desde a primeira graduação, a questão das identidades é tema recorrente na minha
pesquisa e na minha atuação como militante e ativista pela educação popular e pelos direitos
humanos. Sou, antes de tudo, bacharel em Turismo, formada em 2007 pela Faculdade Editora
Nacional - FAENAC, na cidade de São Caetano do Sul. Como tema para o trabalho de
conclusão de curso escolhi olhar para o processo que conduziu à mudança de identidade da
Vila de Paranapiacaba, de uma vila ferroviária à uma vila turística, e seus efeitos no que diz
respeito à relação de seus moradores com aquele território.

Todavia, meu plano com a formação em Turismo era ingressar profissionalmente no


campo dos museus. Eu sempre soube que queria trabalhar em museus. Entendi que o acesso
que o Turismo me daria seria limitado, fui então para o ensino técnico em museus, no Centro
Paula Souza (2008 - 2009) e para a História, na Universidade Federal de São Paulo - Unifesp
(2011 - 2017). Para a pesquisa final do bacharelado em História, olhei para o processo de
incorporação do Pará ao Estado do Brasil por meio dos ritos cívicos e da circulação de
18

símbolos imperiais para entender como aquela parcela do território passou a se reconhecer
como brasileira. Mais uma vez, a identidade.

Concluída a graduação, o tema não havia me cativado totalmente a ponto de me fazer


seguir com ele nas etapas seguintes do meu processo de formação. Envolvida com a educação
popular, ministrando aulas e compondo a equipe de coordenação de um cursinho popular que
atende especificamente pessoas trans, o Cursinho Popular Transformação, as questões das
identidades, já presentes no meu fazer acadêmico, se tornaram ponto central da minha prática
política e pedagógica, neste momento, na perspectiva do gênero.

Sem certeza de qual rumo acadêmico seguiria, me inscrevi no curso de Especialização


em Direitos Humanos e Violência da Universidade Federal do ABC - UFABC. Se não tivesse
certeza de como continuar na vida acadêmica, ao menos poderia fortalecer minhas ações no
campo da educação e na luta por direitos das mulheres e pessoas trans.

Neste meio tempo, continuei atuando profissionalmente em museus. As esferas da


minha vida me pareciam bastantes distintas: A vida acadêmica à espera de um
direcionamento, minha atuação profissional no campo da museologia e minha atuação nos
campos da educação popular e dos direitos humanos.

No campo da museologia, uma questão me incomodou por anos: Desde quando tive
contato com o debate sobre lugares de memórias difíceis e memória traumática,
imediatamente formei uma lista mental de lugares com tais características e dentre eles, ao
menos na minha concepção, estava o Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Tamanha
foi minha surpresa ao perceber que a bibliografia a respeito não o analisava a partir desta
perspectiva. Eu acreditava ser consenso que a experiência migratória se relaciona intimamente
com dor, com trauma e, consequentemente, produz memórias difíceis.

Assim, quando cursei o módulo sobre (i)migrações no curso de especialização em


Direitos Humanos e Violência da UFABC, a questão voltou às minhas reflexões. Entender por
que o Museu da Imigração do Estado de São Paulo não era um lugar de memória traumática
seria meu trabalho de conclusão de curso. Mais uma vez, as questões identitárias
atravessavam meu fazer acadêmico e, neste momento, duas das três esferas passam a se
relacionar: a universidade e o trabalho. Ao terminar o curso, entendi que para ser um lugar de
memória traumática a instituição teria que nascer com o objetivo de denunciar a violência que
produziu o trauma e que, no caso do Museu da Imigração do Estado de São Paulo, a
abordagem adotada foi a de valorização do multiculturalismo. A pesquisa foi publicada, com
19

a colaboração da professora doutora Marilda Aparecida de Menezes, na revista Museologia &


Interdisciplinaridade da Universidade Nacional de Brasília - UNB, no ano de 2021.

No entanto, algo seguia me incomodando: Por que, em pleno século XXI, nossos
museus ainda têm dificuldade, ou se negam a tratar de aspectos violentos da história? Como
ainda são reproduzidos discursos que negam lugar de fala para as camadas oprimidas? Se elas
pudessem ocupar discursivamente esses lugares, a violência não apareceria?

Fui contratada pelo Museu da Língua Portuguesa para ser articuladora social, uma
novidade no campo. Explico melhor mais abaixo, mas vale dizer que a missão do cargo é
garantir acesso qualificado de todos os públicos, com foco em ações no território onde o
Museu está inserido. Os trabalhos começaram, em dezembro de 2020, e percebo, de saída, que
uma das expectativas da gestão da instituição foi a estruturação da política interna no que diz
respeito à diversidade social e cultural, sobretudo no que tange raça, classe, gênero,
habilidades físicas e mentais. Na primeira visita ao Museu, me deparo com uma grande
instalação composta por personagens negras, deficientes, indígenas, crianças, velhas, gordas,
travestis. Tinha coisa boa ali. Percebo, de saída, uma presença marcante de pessoas trans, o
que era novidade pra mim, que percorro o campo museológico há quase duas décadas.

Desde o Cursinho Popular Transformação, a presença de pessoas trans nos espaços


culturais era uma questão que me tocava, pela ausência estrutural e pela presença como forma
de resistência à dinâmica de exclusão. No Cursinho, eu promovia ações em defesa ao direito à
cidade e ao direito à cultura. Promovi saídas exploratórias em espaços como a Biblioteca
Mário de Andrade (chegar com um grupo de 30 pessoas trans num espaço, ainda que público,
não é simples por várias razões) e cursos para pessoas trans em parceria com instituições
como o MASP. Tenho a honra e o prazer de dizer que conto com pelo menos cinco ex-alunos
trabalhando em museus, porque pudemos apresentar a eles a possibilidade. Chegar a um
museu com a importância do Museu da Língua e ver que as pessoas trans são parte da
narrativa proposta me tocou. Era para isso que eu olharia.

A organização social para a qual trabalho, a IDBrasil Cultura Educação e Esporte,


recebeu o museu pronto da Fundação Roberto Marinho e da Secretaria de Cultura e Economia
Criativa do Estado de São Paulo. O que significa que, no momento da reabertura, não
tínhamos dados sobre a exposição de longa duração. Não sabíamos quais os grupos sociais
eram representados, se o conteúdo estaria alinhado aos debates mais atuais em suas
respectivas áreas, nem o volume e as condições técnicas de tudo o que estaria exposto, por
20

exemplo. Mapear a presença trans na expografia e na programação do museu foi o meu


primeiro esforço imersivo. Mas, naquele momento, ainda não sabia o que fazer com isso.

A entrada no mestrado em Estudos Culturais, tendo como objeto de pesquisa a


exposição do Museu da Língua Portuguesa, e as disciplinas Memória Coletiva, Memória de
Lugares e Políticas de Memória (com os professores doutores Soraia Ansara e Martin Jayo,
na Escola de Artes, Ciências e Humanidades - EACH); A Urbanidade e a Imagem da
Metrópole de São Paulo como Fatores de sua Produção e de sua Interpretação (com o
professor doutor Jaime Oliva, no Instituto de Estudos Brasileiros - IEB); e Museus para Que?
Museus para Quem? Acesso ao Patrimônio Cultural nas Instituições Culturais Brasileiras
(com a professora doutora Viviane Panelli Sarraf, também pelo IEB), foram, aos poucos, me
encaminhando para a discussão que trago aqui.

1.2 O Museu da Língua Portuguesa e a questão trans

O Museu da Língua Portuguesa tem o compromisso público com a diversidade e a


inclusão. Isso se expressa publicamente em sua política de acessibilidade, apresentada ao
visitante logo na entrada. Eu fui contratada como parte dessa política. A presença das pessoas
trans na exposição, na programação, no quadro de funcionários é parte dessa política. Somos
parte do programa de acessibilidade da instituição. Trata-se, portanto, de acessibilidade e
inclusão. E esse passou a ser o meu tema.

Considerando minha inquietação e o interesse prévio em relação à presença das


pessoas trans nos equipamentos culturais e, diante da significativa presença dessas pessoas no
Museu da Língua Portuguesa, me restava compreender como, com qual dimensão, com que
qualidade e quais seriam os limites de acesso e inclusão para elas. Tal presença se dá de
maneira a reforçar discursos de marginalização ou de forma a positivar memórias de grupos
dominados e legitimar outras histórias que não as da epistemologia hegemônica? Essa é a
minha questão e é daqui que eu parto. A partir desta, outras perguntas foram feitas: Em
relação às pessoas trans, o que se pode ver nas exposições? Como está composta a
programação? Como a instituição se comunica nas e como as redes sociais, site e outros
canais de comunicação com o público? Como são veiculadas informações sobre a instituição?

Considerando que,

Expor é revelar, comungar, evidenciar elementos que politicamente precisam ser


explicitados, em uma perspectiva relacionada a um momento histórico, uma
produção estética, um ideal político. O Museu é elemento de propaganda ideológica
21

através de imagens e objetos, visando fabricar uma imagem ideal da realidade e suas
dimensões. Logo, ao analisarmos exposições museológicas e as representações nelas
recorrentes, é necessário entender a construção destas representações como um
processo histórico, buscando compreender também, a abordagem baseada nas
imagens oficialmente construídas, e consequentes inclusões e exclusões realizadas
(CUNHA, 2008, pp. 158-9),

propomos, então, sob a perspectiva dos Estudos Culturais, da Museologia e da História, por
meio da análise de discurso e da pesquisa exploratória e descritiva, um olhar crítico para a
instituição de forma a expor os limites da representação e da participação deste grupo social.
Dos Estudos Culturais, adoto a análise e a crítica das representações sociais hegemônicas; da
Museologia, o arcabouço teórico no que diz respeito à relação entre a sociedade e este modelo
de equipamento e suas transformações ao longo da história recente; e da História, a
metodologia de acesso, gestão e interpretação de fontes para a ancoragem da análise das
representações como processos históricos.

É importante registrar que, como trabalhadora do Museu, tenho acesso privilegiado


aos dados e conteúdos, assim como à dinâmica cotidiana, tanto no que diz respeito às relações
que visitantes e trabalhadores estabelecem com o Museu quanto no que diz respeito àquilo
que movimenta os bastidores, por fazerem parte do meu próprio cotidiano. No entanto, utilizei
apenas documentos que estão disponíveis ao público, nas exposições e demais ações de
programação, na internet, nos canais de transparência e no Centro de Referência do Museu,
área responsável pela pesquisa e difusão de conteúdos relativos às práticas da instituição.

Ainda que não seja possível separar a pesquisadora da trabalhadora do equipamento,


meu objetivo foi analisar aquilo que fica ao acesso do público, me colocando na posição de
visitante. Meu interesse está na camada exterior do conteúdo. Mais do que a dinâmica oculta e
de bastidor da produção de discursos, estou interessada em sua representação. Mais
especificamente, proponho o exame do conteúdo da exposição principal e da programação
cultural do Museu da Língua Portuguesa no contexto de sua reabertura, momento em que é
percebida significativa inflexão no que diz respeito à presença de pessoas trans como
protagonistas de ações de programação no referido equipamento, e contexto até onde, como
articuladora social, pouca influência interna produzi.
Busco, por meio desta pesquisa, contribuir com a comunidade acadêmica com um
resgate histórico e sistematização atualizada do debate iniciado com a Mesa-Redonda sobre o
papel dos museus da América Latina, convocada pela UNESCO em Santiago do Chile em
maio de 1972, cujo capítulo mais recente foi a revisão da definição de museus encabeçada
pelo ICOM (Conselho Internacional de Museus), processo encerrado no segundo semestre de
22

2022; documentar a história recente do Museu da Língua Portuguesa nessa nova etapa de
operação; mas, sobretudo, reforçar o coro de que inclusão é ação, somando energia aos
debates que apontam para a importância da presença dos sujeitos subalternizados nos espaços
discursivos como ferramenta para a superação de desigualdades e pela garantia de direitos
políticos, sociais e culturais numa perspectiva macro, tomando como referência a inclusão de
pessoas trans no Museu da Língua Portuguesa.

A pesquisa está organizada em três capítulos. O primeiro, Acessibilidade e inclusão:


onde a história da luta por inclusão e a museologia se encontram, tem por objetivo localizar
o debate sobre inclusão e acessibilidade no campo museológico, no geral, e expor como isso
está posto no Museu da Língua Portuguesa, em específico. Para tanto, procuramos indicar o
contexto em que o problema se torna um movimento social de impacto global e como o tema
transversa o percurso que leva os museus do colecionismo colonialista, em sua origem, à
museologia social, cujo capítulo mais recente é a nova definição de museu proposta pelo
ICOM com notório protagonismo do comitê brasileiro, dirigido e presidido por membras que
também compõem a diretoria do Museu da Língua Portuguesa.
Se, por um lado, os museus surgem como um fenômeno colonialista e perduram como
modelo de instituição que busca conferir sentido simbólico e ideológico, com grande viés de
classe, à uma determinada experiência histórica; por outro, longe de ser instituições do
passado, não são distanciados da sociedade e são constantemente tensionados pelas disputas
travadas no campo social (ABREU, 1996; CHOAY, 2006; CUNHA, 2008; SUANO, 1986).
Segundo Odair da Cruz Paiva, “a relação dos Museus com o tempo presente tem sido motivo
para um sem número de preocupações, problemas e desafios; estes implicam reflexão e
proposições de alternativas, mudanças de posturas e criação de práticas para a manutenção,
renovação e vitalidade daquelas instituições” (2014, p.157). Olhar para os museus com
criticidade é, portanto, contribuir para a atualização de seus discursos, quiçá contribuir para o
acesso - real - da pluralidade de vozes que compõem as sociedades. Este é o tema do segundo
capítulo, Representação, significação e poder: museu como espaço de memória em disputa.
Neste, o objetivo é refletir sobre a renovação no papel dos museus no século XXI e o impacto
dessa renovação num museu atualizado e requalificado, no caso, o Museu da Língua
Portuguesa. Para isso, partimos do debate acerca do estabelecimento dos Estados Nacionais,
pano de fundo para a criação e consolidação das instituições museológicas, e chegamos ao
contexto atual de acirrada contestação do patrimônio nacional e da história oficial, momento
histórico importante no que diz respeito às disputas pela memória e onde se localiza o
23

tensionado debate sobre a adoção da linguagem neutra e outras agendas relacionadas à


diversidade de gênero de orientação sexual.
O acesso de novos públicos aos equipamentos culturais é um dos impactos esperados
da referida renovação no campo museológico. Tendo esse como um de seus objetivos, em 11
de dezembro de 2021, o MLP recebe um grupo de cerca de 20 mulheres trans e travestis
acompanhadas por uma educadora também travesti, que tinha por objetivo mostrar ao grupo a
presença trans nos acervos da instituição. A visita é fruto dos resultados parciais dessa
pesquisa que se iniciou com uma imersão pelos conteúdos a fim de mapear essa presença, que
serviu de estudo preliminar para o desenvolvimento do terceiro e último capítulo, A presença
trans no Museu da Língua Portuguesa. O objetivo foi, por meio da análise discursiva,
debater se o Museu conseguiu valorizar e positivar as memórias dessa parcela da sociedade ou
se cumpre a responsabilidade social de garantir essa presença “diversa”, mas de forma a
reforçar os estereótipos que mantêm essas pessoas na invisibilidade e vulnerabilização.
Por fim, faço minhas as palavras de Maria Clara Araújo dos Passos,
cabe ressaltar que não realizo aqui uma tradução de conceitos básicos acerca das
questões de gênero e sexualidade. Diante dos desafios abordados [...], acredito que é
preciso avançar em nossas proposições teórico-epistemológicas. Perguntas como a
diferença entre travestis ou transexuais, ou mesmo a diferença entre identidade de
gênero e orientação sexual, não serão desenvolvidas. Caso deseje fazer uma leitura
introdutória sobre o tema, recomendo a leitura dos artigos de Beatriz Bagagli e
Jaqueline Gomes de Jesus, ambos disponíveis na internet7 (PASSOS, 2022, p. 30).

7
Ela se refere aos artigos Orientação Sexual na Identidade de Gênero a Partir da Crítica da Heterossexualidade
e Cisgeneridade Como Norma, de Beatriz Bagali, e Orientações Sobre Identidade de Gênero: Conceitos e
Termos - Guia Técnico Sobre Pessoas Transexuais, Travestis e Demais Transgêneros, Para Formadores de
Opinião, de Jaqueline Gomes de Jesus.
24

2 ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO: ONDE A HISTÓRIA DA LUTA POR


INCLUSÃO E A MUSEOLOGIA SE ENCONTRAM

Ao chegar no Museu da Língua Portuguesa nos deparamos com um totem de


acolhimento que diz que a instituição tem um forte compromisso com a diversidade e a
inclusão, e que o respeito à diversidade é condição essencial para o exercício da cidadania. O
texto diz ainda que a instituição é um espaço de liberdade para qualquer classe, gênero, etnia e
orientação sexual; que busca promover a equiparação de oportunidades com o objetivo de
transformar as diferenças em igualdades e que esse posicionamento está expresso nas
múltiplas experiências e atividades, obras e exposições do Museu e na sua relação com o
território que habita. O totem, para além do texto, apresenta o conjunto de recursos de
acessibilidade para pessoas com deficiência dos quais dispõe o Museu e oferece um QR-Code
a partir do qual o público pode ter acesso a outros recursos.

Imagem 1: Totem de acolhimento

Fonte: registro pessoal

Ainda que transformar diferenças em igualdades seja um enunciado problemático,


uma vez que sugere que incluir é tornar igual, quando na realidade o que se objetiva é que as
diferenças, a diversidade, a especificidade de cada um dos grupos que compõem a sociedade
25

tenha espaço de expressão equânime, o totem firma um compromisso com o público e marca,
num discurso de acolhimento, o papel social que a instituição quer ocupar, o de museu
inclusivo. No entanto, se compromisso indica ação para o futuro, marcar inclusão e
acessibilidade como compromissos institucionais aponta para o fato de que há muito por ser
realizado. Neste sentido, a própria presença do texto indica que o binômio acessibilidade e
inclusão ainda é projeto e não realidade das instituições do tipo museu, e que aquela que ousa
percorrer esse caminho é, de alguma forma, exceção e merece ser destacada das demais.

Isso posto, o presente capítulo tem por objetivo localizar o debate sobre inclusão e
acessibilidade no campo museológico, no geral, e expor como isso está posto no Museu da
Língua Portuguesa, em específico. Para tanto, se faz necessário antes resgatar o contexto em
que o problema se torna um movimento social de impacto global. É por aí que começaremos.

2.1. Acessibilidade, inclusão e interseccionalidade na luta pelos direitos humanos do


século XX

Como nos lembram Morais e Reis, acessibilidade é um conceito (e uma prática), em


constante transformação, e, embora tenha como origem as demandas das pessoas com
deficiência no contexto dos Estados Unidos da América do pós grandes guerras do século
XX, sobretudo a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, quando grande número de
soldados retornaram às suas casas com sequelas de guerra e precisaram ser re-incluídos na
sociedade por meio da eliminação de barreiras físicas, movimento que caminhou sentido
estruturamento da luta pelo reconhecimento e garantia de direitos civis da pessoas com
deficiência, hoje, a acessibilidade tem como princípio a participação, numa ideia de cidadania
plena, um imperativo de direitos humanos, e, "portanto, não se restringe ao segmento das
pessoas com deficiência, mas a todos que encontram obstáculos para ter acesso à informação,
à participação, à aprendizagem e ao desenvolvimento dos seus potenciais”(MORAIS; REIS,
2021, p.12). Ainda segundo os mesmos autores,

a evolução conceitual e metodológica do termo acessibilidade consolidou-se por


meio de diversos documentos elaborados com a participação de especialistas,
pessoas com deficiência e instituições voltadas para a defesa dos direitos desse
segmento em diversos países, sob a tutela de organizações transnacionais tais como
a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial de Saúde
(OMS), a Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura
(Unesco) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que ao produzirem
declarações e resoluções, influenciaram os governos a ajustarem suas legislações, de
forma a garantir direitos. Esse entendimento, que inicialmente se restringia à
acessibilidade aos ambientes físicos e ao mundo do trabalho, teve seu escopo
26

ampliado a partir da sua interligação à área de educação e, consequentemente, de


inclusão (Idem).

É consenso entre os principais autores a abordar a questão - dentre os quais, Romeu


Kazumi Sassaki, uma das maiores referências no que diz respeito à inclusão de pessoas com
deficiência - que a acessibilidade é um meio de alcançar independência, a equiparação de
oportunidades e plena participação, a inclusão. Para ele, inclusão significa

o processo através do qual a sociedade é transformada para o fim de acolher todas as


pessoas que estavam (estão, estarão) fora dela. E para que a inclusão aconteça, todas
as barreiras são eliminadas (ou, pelo menos, reduzidas ao máximo): arquitetônicas,
atitudinais, comunicacionais, instrumentais, metodológicas, naturais e programáticas
(SASSAKI; MORAIS, 2021, p. 23)

Ainda tomando Sassaki (2007) como referência, entendemos que desde a década de
1960, o caldo de luta por inclusão e defesa de direitos civis da pessoa com deficiência é
engrossado pela resistência à política do apartheid. Tendo os anos de 1980 como ponto
nevrálgico, as revindicações das pessoas com deficiência precisaram ser postas no contexto de
libertação, uma vez que as lutas pela libertação do povo negro produziram como uma de suas
consequências o aumento significativo no número de pessoas com deficiência na África do
Sul. Essa relação entre as lutas pelos direitos civis das pessoas com deficiência e a lutas pelos
direitos civis dos negros colocou em perspectiva que os obstáculos para a plena participação
atravessavam a realidade de diversos grupos sociais e que, portanto, precisavam ser encarados
interseccionalmente. Assim, o racismo, o sexismo, o colonialismo e o capacitismo passaram a
ser reconhecidos como fundantes das estruturas atitudinais das múltiplas formas de exclusão
social. Neste sentido, Santos (2009) e Morais (2013), defendem que todo processo de luta que
se dá no campo social se relaciona à luta por inclusão.

Todavia, se o processo de interseccionalização do debate e da luta por acesso e


inclusão se iniciou ainda na década de 1960, segundo Sassaki é apenas nos anos 2000 que a
ampliação do paradigma se consolida. Para o autor:

No início da década de 90, a inclusão visava apenas as pessoas com deficiência que
foram (são, serão) rejeitadas, excluídas, segregadas e parcialmente integradas por
motivo de deficiência. Mas, a partir de 2000, o paradigma inclusivo ampliou o seu
público-alvo, recebendo também as pessoas sem deficiência que estivessem em
situação de rejeição, exclusão, segregação e integração parcial (SASSAKI;
MORAIS, 2021, p. 23).

Isso explica, ao menos em parte, o porquê de, mesmo que, como nos lembra Viviane
Sarraf, “os benefícios alcançados pela luta das pessoas com deficiência privilegiaram outras
parcelas da população socialmente excluídas como afro-descendentes, homossexuais e
27

imigrantes” (2008, p. 61), os debates a respeito da inclusão social em ambientes culturais,


entre eles os museus, ainda tenham a questão da deficiência como foco principal, embora seja
consenso que para ser inclusivo é preciso considerar (individualmente e interseccionalmente)
os diversos marcadores de desigualdade social.

No entanto, não há dúvidas de que o processo de transformação do conceito e de


legitimação social da luta por acesso e inclusão, que tentamos brevemente expor acima,
também atravessa as práticas do campo museológico, nacional e internacionalmente,
tensionando as instituições a rever seus próprios paradigmas no que diz respeito à natureza de
sua atuação. Nas palavras de Morais e Gomes, "a constituição de museus inclusivos tem
representado um desafio para as instituições museológicas em função da ampliação da
diversidade de seus públicos e a necessidade de responder eficazmente à multiplicidade de
expectativas, características e interesses” (MORAIS; GOMES, 2021, p.11).

O processo histórico que levou ao despertar das instituições museológicas para esse
desafio é o que pretendemos expor abaixo.

2.2. Dos gabinetes de curiosidade à nova definição do ICOM: acessibilidade e inclusão


como desafio para os museus do século XXI

Podemos compreender que a adequação de qualquer instituição aos padrões ideais de


acessibilidade requer tempo, investimento financeiro e formação de cultura institucional. No
entanto, é preciso sempre afirmar que a acessibilidade é um direito de todas as pessoas e está
prevista legislativamente, e é responsabilidade de cada museu garanti-la para os mais
diferentes públicos, centrando o debate e as ações na diversidade, na equiparação de
oportunidades e na interseccionalidade das questões de gênero, raça, etnia, religião,
diversidade social e funcional, de maneira urgente. Todavia, como nos lembram Morais e
Reis,

A ideia de acessibilidade entendida como um apêndice das ações dos museus,


restrita ao cumprimento de procedimentos técnicos relacionados à comunicação ou à
educação, não possibilita a construção de instituições inclusivas, pois ignora-se a sua
interligação com os valores e princípios da inclusão e o seu caráter transversal, que
deve impactar a estrutura institucional e, portanto, intrínseca à gestão demandando a
produção de análises críticas dos processos de seleção de acervos, registro, pesquisa,
preservação, comunicação, educação, gestão de recursos humanos e materiais (2021,
p. 11).

Neste sentido, considerando o papel social do museu, o que se espera com uma
política de acessibilidade é que a instituição corrobore para a consolidação do paradigma que
28

reconhece a diversidade epistêmica mundial, e que contribua para que ela se reflita em seu
interior, de maneira universal e não apenas focada na programação associada às efemérides,
onde tradicionalmente a diversidade ocupa espaço temporário. Esta postura - de encarar o seu
universal particular, ou seja, de pensar as suas políticas de acessibilidade para todos os seus
públicos, internos e externos-, caminha em paralelo com os debates que propõem a revisão de
uma história universal, canônica, característica dos museus modernos. Ao adotar uma política
que pretenda eliminar as barreiras atitudinais e ampliar o conceito de acesso, conforme
exposto ao longo dessa pesquisa, o museu também legitima as muitas outras histórias que
foram e ainda são negligenciadas pela epistemologia dominante.

Conforme nos aponta Viviane Sarraf, “os museus e instituições culturais, desde a
segunda metade do século XX, movem esforços para afirmar seu caráter de agente de
desenvolvimento social negando sua ligação de origem com as elites e com o poder, por meio
do trabalho centrado no indivíduo e nas comunidades” (2008, p. 11), e , o objetivo deste
capítulo é justamente percorrer, de forma sucinta, esse percurso que leva do colecionismo
colonialista ao museu social.

Segundo Suano (1986), o hábito de colecionar objetos acompanha a humanidade há


milênios, mas, o modelo de instituição que denominamos museu tem sua origem entre os
séculos XVI e XVII, com os gabinetes de curiosidades europeus, fruto das grandes
navegações e do projeto colonialista. Neste período, quem tinha recursos para investir
constituiu coleções heterogêneas com objetos de natureza e procedências das mais diversas.
Possuir e acessar essas coleções era um marcador de distinção social. Com os gabinetes de
curiosidade, as coleções particulares passaram a ser expostas e apresentadas a grupos seletos
de nobres e iniciados nas ciências. Durante a Revolução Francesa, após a queda da Bastilha
(1791), a preocupação com a salvaguarda do patrimônio histórico francês, em perigo no meio
das disputas pelo poder político, produziu as primeiras políticas oficiais de proteção ao
patrimônio histórico, artístico e cultural, dando origem, por exemplo, ao Museu do Louvre
que, em pouco tempo se tornou referência para a museologia ocidental (CHOAY, 2006: 95 -
123). Naquele momento, colecionar e preservar passou a ser uma preocupação do Estado e a
concepção de museu estava atrelada à formação dos Estados-nação. No entanto, foi somente
no século XIX que se popularizou, em alguma medida, o acesso ao que atualmente chamamos
de museu.

Para o caso brasileiro, inaugurada em 1818 com a criação do Museu Nacional no Rio
de Janeiro, é importante apontar que a prática preservacionista segue a tendência europeia e,
29

“está intimamente ligada à ideia de formação e afirmação do Estado-nação (...). A busca de


uma identidade nacional genuinamente brasileira, no entanto, é tomada somente com a rajada
nacionalista a partir de 1922, cujo expoente é a Semana de Arte Moderna” (TOLENTINO,
2016, pp. 23 – 24)8.

Até aqui, museu era entendido como espaço do intocável, no que reconhecemos como
Museologia Tradicional, o que perdurou até meados dos anos de 1960. A revolução cultural
de 1968 reverbera nos museus primeiro enquanto pressão pela sua superação/destruição em
nome da valorização da cultura popular, depois como movimento por sua renovação, de forma
a fazer com que a instituição do tipo museu responda às demandas da sociedade (DEBORD,
1997). Contexto que leva o museu a se converterem em espaço de contestação (RESENDE,
2002). Como resultado, o objeto passa a dividir espaço com o humano, colocando o público
no centro do paradigma museológico, contexto no qual é reconhecido o caráter (e a
responsabilidade) educativo do museu. É a Nova Museologia.

Essa nova perspectiva em relação ao papel dos museus abre caminho para a
Sociomuseologia, que, nas décadas de 1970 e 80, inaugura os debates sobre sustentabilidade,
igualdade e diversidade em museus; e para a Museologia Social, que, a partir da década de
1990, defende que o museu é, e tem que ser, um equipamento a serviço da sociedade
contemporânea.9 Nas palavras de Primo,

8
Esse debate foi apresentado anteriormente em: Lauro, E. A., & Menezes, M. A. (2021). O Museu da Imigração
do Estado de São Paulo e as memórias de violência. Museologia &Amp;Interdisciplinaridade, 10(20), 267–283.
Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/museologia/article/view/36422
9
Neste sentido, a museologia conta com marcos temporais/ documentos de referência na mudança do estatuto
social dos museus:
• Carta do Rio de Janeiro (1958) – Influência dos conceitos de Paulo Freire para defesa do papel e compromisso
educativos dos museus;
• Declaração de Santiago do Chile (1972) – criação dos conceitos de Museu Integral (museu comprometido com
as questões sociais de seu tempo), Ecomuseus e Museus Comunitários (relacionados a territórios e
comprometidos com o desenvolvimento social),
• Código de Ética do ICOM (1974) – Museus a serviço da sociedade e de
seu desenvolvimento;
• Declaração de Quebec e criação do MINOM – Movimento Internacional
pela Nova Museologia (1984);
• Declaração de Caracas (1992) – Focada na realidade latino-americana, aponta museu como meio de
comunicação integrado à comunidade;
• Declaração de MINOM - Rio de Janeiro (2013) - Reafirma princípios da Museologia Social, o direito à
diferença e a autonomias dos museus em favorecimento aos movimentos sociais;
• Recomendação da Unesco à Promoção dos Museus e das coleções, da sua Diversidade e do seu Papel na
Sociedades (2015).
30

Em meio a esse movimento fomos, coletivamente, mudando a triangulação clássica


dos museus, então desenhada a partir da tríade objeto/edifício/público e para a nova
triangulação baseada no patrimônio/território/Homem-Sujeito. A partir de então
Paulo Freire foi ganhando cada vez mais espaço em nossos trabalhos, nossas ações e
reflexões, fomos criando com a nossa prática o «Testemunho da sua Presença» nos
nossos projetos e ações museológicas (MOUTINHO; PRIMO, 2021, p. 12).

No cenário brasileiro, se destaca a atuação da importante museóloga Waldisa Rússio.


Segundo Viviane Sarraf, umas das pesquisadoras a trabalhar no fundo documental Waldisa
Rússio no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB - USP), a museóloga, por meio de sua
presença nos fóruns museológicos internacionais, ICOFOM (International Committee for
Museology) e ICOM (International Council of Museums), se envolveu diretamente

com a criação e o desenvolvimento de novas tendências e desafios para o


pensamento museológico internacional, Waldisa trouxe para as ações empíricas dos
museus brasileiros os conceitos de museologia social e da nova museologia. Em um
ímpeto antropofágico, apresentou ao cenário cultural nacional o conceito de
'museologia popular', que disseminou por meio de cursos, textos e ações realizadas
no âmbito das disciplinas e cursos de extensão do Curso de Especialização em
Museologia da FESPSP e nos projetos dos pólos museológicos, exposições e ações
de formação promovidos pelo Museu da Indústria, do qual foi criadora e
coordenadora entre os anos de 1978 e 1984, quando foi extinto" (SARRAF, 2018, p.
309) .

Reconhecemos o museu como um tipo de instituição onde se guardam e exibem


objetos de interesse artístico, cultural, científico, histórico, técnico ou de qualquer outra
natureza material, documental e simbólica com fins de preservação, pesquisa, educação e
lazer. Ou, como compreende Mário Chagas (2006, p. 67), museu é o lugar que recolhe,
preserva, conserva, observa, estuda, analisa, interpreta, expõe fragmentos de memória,
testemunhos materiais. No entanto, muito para além de um espaço de salvaguarda, pesquisa e
turismo, o museu tem se reinventado como mecanismo de comunicação dialógico,
comprometido com as pessoas e os direitos humanos, o que aponta para o caráter dinâmico e
em constante renovação, em diálogo com as agendas de seu tempo. E neste campo, o ICOM,
Conselho Internacional de Museus, exerce papel fundamental.

O ICOM é uma organização não governamental com sede em Paris criada em 1946,
no contexto de efervescência dos debates relacionados ao bem estar e aos direitos humanos,
no qual se incluem os movimentos pelos direitos das pessoas com deficiência e de outras
minorias, como exposto acima. Segundo o site com ICOM Brasil, o Conselho

mantém relações formais com a UNESCO, executando parte de seu programa para
museus, tendo status consultivo no Conselho Econômico e Social da ONU.

É uma associação profissional sem fins lucrativos, financiada predominantemente


pela contribuição de seus membros, por atividades que desenvolve e pelo patrocínio
de organizações públicas e privadas. Sua sede é junto à UNESCO em Paris (França)
e sua diretoria é composta por um Presidente, um Vice Presidente e um Conselho
31

Executivo, integrado por membros eleitos nas Assembleias que se realizam nas
Conferências Gerais. Seu Conselho Consultivo é integrado por representantes dos
Comitês Nacionais, dos Comitês Internacionais e das Organizações Regionais. Os
afiliados participam de atividades de 117 Comitês Nacionais e 31 Comitês
Internacionais. Participam ainda do ICOM 15 associações internacionais afiliadas.

Seus mais de 40.000 membros, provenientes de 141 países, participam de atividades


nacionais, regionais e internacionais promovidas pela organização: oficinas,
publicações, programas de formação, intercâmbio e de promoção de museus
(https://www.icom.org.br/).

O ICOM é um espaço de debate e deliberação de diretrizes comuns a serem seguidas


por seus associados e países membros. Uma de suas principais contribuições é a revisão da
atuação dos museus em resposta às demandas sociais de cada momento histórico. Essas
mudanças implicam na revisão do próprio conceito de museu. Conforme apontou Viviane
Sarraf, em 1946, durante a primeira Assembléia do ICOM, seu Estatuto afirmava que “a
palavra ‘museu’ inclui todas as coleções abertas ao público, de caráter artístico, técnico,
científico, histórico ou arqueológico, incluindo zoológicos e jardins botânicos, e excluindo
bibliotecas, exceto as que mantém exposições permanentes. (SARRAF, 2018, p. 61). Nesta
perspectiva, o objeto é o centro do fazer museal.

Segundo a mesma pesquisadora, para quem as novas discussões do ICOM indicam


que os museus devem “agir diretamente nas mudanças sociais, colaborando com o exercício
da cidadania em suas propostas de relação com o público” e “uma das principais mudanças
sociais do século XXI pode ser considerada a prática da inclusão e a aceitação social em
relação às diferenças humanas” (SARRAF, op. cit., p.50). Portanto, objeto de constante
revisão no que diz respeito à prática, o conceito que o define e o ancora socialmente também
deve ser periodicamente revisto.

A primeira ação concreta para mudar a definição oficial de museu ocorreu entre 1998
e 2001. Com a colaboração de profissionais de diversos países, os debates em torno da
questão produziram, apenas em 2006, uma nova definição, que inclui o público e seu caráter
diverso: “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da
sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa,
divulga e expõe, para fins de estudo, educação e lazer, testemunhos materiais e imateriais dos
povos e seu ambiente”.(ICOM, 2006, p.06. In: SARRAF, op. cit, p. 63). Essa definição entrou
em vigor em 2007 e esteve vigente até o ano de 2022.

As definições de museu, enquanto instituição, foram resultantes de negociações que,


ao longo do tempo, tiveram como fim acompanhar os diferentes contextos e
realidades de cada época. A inclusão cultural de toda a diversidade de públicos e,
por conseqüência, a acessibilidade às instituições culturais, apresentam-se como
realidades do século XXI a serem reconhecidas e trabalhadas pelos museus para que
32

estes desenvolvam plenamente sua função atribuída no século XXI pelo ICOM – a
de se transformar em agentes de desenvolvimento social (SARRAF, idem).
O fim da segunda década do século XX indicou que a definição de 2006 não mais
respondia à realidade que o museu partilhava com as sociedades, e, neste sentido, a 24ª
Conferência Geral do ICOM, em 2016, teve com um dos principais debates a necessidade de
atualizá-la, respondendo aos novos desafios do mundo contemporâneo. Nesta ocasião, foi
instituído o comitê MDPP (Standing Committee for Museum Definition, Prospects and
Potentials) para a condução dos trabalhos10. A expectativa era que na conferência geral
realizada em Kyoto, em setembro de 2019, fosse consensuada uma nova e ampliada definição
de museu.

Entre 2016 e 2019, o MDPP promoveu uma série de encontros e oficinas ao redor do
mundo para estimular e colher propostas de uma nova definição. O ICOM Brasil
apoiou a realização de três oficinas (em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador) e
desenvolveu uma plataforma pública de consulta ao campo museal sobre a nova
definição.
O trabalho realizado pelo MDPP teve como resultado cinco propostas de nova
definição, apresentadas ao Comitê Executivo do ICOM Internacional (...). A
Conferência ICOM Kyoto reuniu aproximadamente 4.500 profissionais de museus
de 115 países e, a partir de ampla discussão e encaminhamentos, decidiu-se pela
necessidade de prorrogação dos debates.

Em 2020, foi então constituído um novo grupo de trabalho - o ICOM Define - que
desenvolveu nova metodologia de trabalho para redação da proposta de definição de
museu a ser submetida a votação na Conferência Geral de 2022, em Praga. A
metodologia é baseada em 4 rodadas de consultas, divididas em 11 etapas11, com
duração de 18 meses, de dezembro de 2020 a maio de 2022 (ICOM, 2021).

Em consulta pública para eleição dos conceitos propostos pela comunidade museal
para a composição da nova definição, com participação de grupos de trabalhos e comitês da
África, Estados Árabes, Ásia Pacífico, Europa, América Latina e América do Norte, o ICOM
Define, considerando a maior incidência (termos mencionados por 30% ou mais dos

10
O relatório da conferência pode ser consultado em:
<https://icom.museum/wp-content/uploads/2018/07/icom.museum/wp-content/uploads/2018/07/ICOMs-Resoluti
ons_2016_Eng.pdf>.
11
A saber:
1. Lançamento da metodologia com webinário (10/12/20)
2. Consulta 1: Comitês enviam relatórios pós-Kyoto (dez-jan/21)
3. Consulta 2: palavras-chave e conceitos (jan-abr/21)
4. Análise quantitativa e qualitativa da consulta 2 (abr-jun/21)
5. Publicação dos resultados da consulta 2 (jun-jul/21)
6. Consulta 3: revisão das palavras-chave e conceitos (jul-set/21)
7. Análise de dados da consulta 3 (abr-jun/21)
8. Redação de 14 propostas pelo ICOM Define (nov-dez/21)
9. Seleção e fusão para a publicação de 5 propostas (fev/22)
10. Consulta 4: escolha entre as propostas publicadas (fev-abr/22)
11. Relatório final do ICOM-Define (abr-mai/22)
Etapa final: Votação final na Assembleia Geral Extraordinária em Praga, em agosto de 2022.
33

respondentes) chegou-se na lista dos 20 termos seguintes: Research,


Conservation/Preservation, Heritage, Education/Didatic, Inclusive, Collection, Display/
exhibit, Non-profit, Open to society/ public, Community/ society, Sustainability, Tangible &
intangible, Accesibility, Culture/ Cultural, Diversity, Communication, Institution, Knowledge,
Dialogue e Permanent12. Essa sistematização corresponde à etapa 3 do processo, conforme
mencionado acima; a etapa seguinte correspondeu à sistematização desses dados para preparar
a consulta pública seguinte. Ainda nessa etapa, as palavras/conceitos foram divididas em
cinco dimensões, a saber: 1. O que qualifica um museu; 2. Quais são os objetos/assuntos dos
museus; 3. O que um museu faz; 4. O que as pessoas experimentam em um museu; 5. Quais
valores moldam os museus.

O GT Brasil contou com 33 participantes, sendo 23 da região Sudeste (SP, RJ e MG),


4 da região Nordeste (CE, PE, RN, BA), 2 da região Centro Oeste (GO, MS), 2 da região
Norte (Pará e Rondônia) e 2 da região Sul (Rio Grande do Sul) e colaborou nesta fase com o
envio dos 20 termos seguintes: Antirracista, Bem-viver, Comunicar, Cultura, Decolonial,
Democrático, Direitos Humanos, Educação, Experiência, Futuros, Inclusivo, Instigar,
Patrimônio/Patrimônios, Pesquisar, Público, Salvaguardar, Social, Sustentável, Território,
Transformar13.

Esses dados apontam para os valores que são importantes para cada grupo social.
Exemplo disso é o fato de os termos decolonial e antifacista só serem propostos pelo GT
brasileiro e, por tanto, não entraram na lista para a etapa seguinte de consulta. Em entrevista
concedida para essa pesquisa, Vilma Campos, membro do GT Nova Definição de Museu do
ICOM Brasil declara que, em sua perspectiva,

Essa é uma pauta do novo mundo, né. Todas as palavras relacionadas a essa
mudança vieram das listas da América Latina e África. A Europa segue querendo
pensar o museu como sempre pensou. E aí a gente está discutindo uma nova
definição 50 anos depois da mesa de Santiago, propondo de novo coisas que já
estavam colocadas lá, se não expressamente pelo menos anunciadas (CAMPOS,
2022)14.

A relativa distância conceitual entre os distintos grupos sociais que participaram das
consultas públicas que tiveram por finalidade levantar termos e palavras-chaves que

12
Todo o trabalho desenvolvido no bojo da nova definição de museu pode ser acompanhado em:
<https://www.icom.org.br/?page_id=2173>.
13
Fiz parte da equipe do GT Nova Definição de Museu do ICOM Brasil. Embora parte dos dados aqui
apresentados tenham como origem a sistematização interna do GT e notas pessoais, todos eles já são públicos e
estão disponíveis tanto no site principal do ICOM, como no site do ICOM Brasil
Em:: https://icom.museum/en/resources/standards-guidelines/museum-definition e
https://www.icom.org.br/?page_id=2173
14
Vide nota 4.
34

comporiam a nova definição de museu indica os distintos interesses e explica, ao menos em


parte, o porquê a Conferência Geral de Kyoto não foi suficiente para levar a cabo a questão.
Conforme defendem Moutinho e Primo,

O enorme debate que atravessa os Comités internacionais e as Comissões nacionais


do ICOM mostra claramente uma nova consciência da responsabilidade social dos
museus, a qual obriga a um repensar da sua forma de funcionar e das qualificações
necessárias para responder às exigências de uma museologia viva e atenta ao meio
em que está inserida (MOUTINHO; PRIMO, 2021, p. 17).

Segundo a newsletter número 24 ICOM Brasil, por 487 votos favoráveis, 23 contrários
e 17 abstenções, a comunidade internacional reunida em Praga aprovou como Nova Definição
de Museu o texto que segue transcrito abaixo:
Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da
sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio
material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos,
fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam
ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam
experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento15
(ICOM Brasil, 2022).

A votação na 26ª Conferência Geral do ICOM em Praga, etapa final do processo,


reuniu entre os dias 20 e 26 de agosto de 2022 cerca de 2 mil participantes dos 32 comitês
internacionais (o que soma 142 países e territórios) sob coordenação da costa-riquenha Lauren
Bonilla e do brasileiro Bruno Brulon, marcando a importância e o crescente engajamento dos
profissionais latino-americanos.

Na perspectiva do próprio Bruno Brulon, presidente do comitê internacional para a


museologia - ICOFOM (Comitê acadêmico do ICOM), membro ativo da comissão brasileira
para a nova definição, o processo contou com histórica participação global e representa
renovação no campo de museus. Segundo dados do ICOM apresentados por Brulon na aula
aberta do MBA em Gestão de Museus e Inovação em Instituições Culturais ofertado em
parceria entre UNIMAIS, a ABGC e a EXPOMUS, a taxa de participação (considerando a
participação em pelo menos uma das consultas) chegou a 70,7%, considerando os Comitês
Internacionais do ICOM e organizações filiadas (126 de 178), e a 76,4% se considerados
apenas os Comitês Internacionais (120 de 157). A nova definição teve 92,4% de aprovação, o
que corresponde, segundo os mesmos dados, à maior aderência e maior participação da
história do ICOM (BRULON, 2022).

A crescente participação de países do Sul global indica que o modelo hegemônico de


fazer museal está em disputa.

15
É importante lembrar que essa é uma tradução preliminarmente aprovada pelos países lusófonos que seguem
em diálogo com os Comitês Nacionais do Icom em língua portuguesa por uma tradução oficial.
35

Para Brulon, uma nova definição serve ao ICOM para definir seus próprios membros
(quem dialoga com os princípios expressos na definição), mas também tem uma dimensão
normativa, prescritiva e imaginativa em relação às práticas no campo de museus. Sendo o
único órgão global para a museologia e para os profissionais da área, quando propõe uma
nova definição está inspirando e orientando toda a cadeia (Idem). Nesta perspectiva,
sustentabilidade, inclusão, diversidade e participação das comunidades foram termos
introduzidos, por meio das consultas, no novo texto e apresentam um novo desafio para os
museus: Fazer com que reflitam a prática e os valores das instituições.

O novo Museu da Língua Portuguesa foi implantado no bojo dos debates dessa nova
definição. Considerando que sua gestão é também parte da equipe que presidiu e dirigiu o
ICOM Brasil16 durante todo o período em que se debateu e se trabalhou coletivamente por ela,
podemos entendê-lo como parte e fruto de um processo de revisão do papel social dos
museus. O quanto isso reverbera em suas práticas é o que veremos abaixo.

2.3. Acessibilidade e inclusão no novo Museu da Língua Portuguesa

O Museu da Língua Portuguesa (MLP) está instalado acima da plataforma da Estação


Ferroviária da Luz, um edifício no centro da cidade de São Paulo tombado pelos órgãos de
patrimônio histórico nas três esferas: municipal17, estadual18 e federal19. As instalações do
Museu ocupam os quatro pavimentos do antigo prédio da administração da Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

De acordo com o seu processo de tombamento no CONDEPHAAT (Conselho de


Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), até 1946, o edifício
tinha apenas três pavimentos, o quarto foi adicionado quando das reformas após um incêndio
de grandes proporções. Já na década seguinte, a falta de investimentos e o abandono do
16
Renata Motta foi a presidente do ICOM Brasil entre 2017 e 2020, foi reeleita para a gestão 2021 - 2024 e é a
diretora executiva do ID Brasil, organização cultural gestora do Museu do Futebol e do Museu da Língua
Portuguesa. Marília Bonas compunha a direção do ICOM Brasil no período 2017 - 2020, foi eleita diretora para
2021 - 2024 e é diretora técnica do Museu do Futebol e do Museu da Língua Portuguesa.
17
CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade
de São Paulo. Sob a Resolução 5/91. Disponível em:
<https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/d833c_05_TEO_89_itens.pdf>. Acesso em 01 de fevereiro de
2022.
18
CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico. Sob o
processo: 20097/76 20097/76-Anexo. Disponível em:
<http://www.ipatrimonio.org/wp-content/uploads/2017/07/Ipatrimonio-Processo-20097-76-Estacao-da-Luz.pdf>.
19
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Sob o Processo de Tombamento: 0944-T-76
(não disponível online).
36

sistema ferroviário como política pública de favorecimento das rodovias e da indústria


automobilística nos levou ao conhecido processo de sucateamento do sistema e,
consequentemente, de seus equipamentos e entornos, conforme relatou Guilherme Grandi em
seu Estado e Capital Ferroviário em São Paulo: A Companhia Paulista de Estradas de Ferro
entre 1930 e 1961 (2013). Com a Luz não foi diferente, e a região acumulou os problemas
sociais que constantemente ocupam espaços importantes nas mídias de todo o país. A
presença de comunidades de imigrantes é uma de suas características marcantes. Judeus,
gregos, italianos e mais recentemente bolivianos, colombianos e coreanos são os grupos mais
expressivos, no entanto, a vulnerabilização social é também outra de suas faces notáveis.

Nos últimos anos do século XX, todavia, presenciamos o início do processo


contraditório de recuperação do patrimônio histórico cultural e revalorização imobiliária do
centro da cidade com esforço crescente de reabilitação da função residencial e recuperação do
interesse turístico na região. No bojo dessa política está a restauração da estação e sua
adaptação para receber um novo e importante equipamento cultural, o Museu da Língua
Portuguesa20. A obra de grande importância técnica, política e patrimonial é assinada por
Paulo Mendes da Rocha e seu filho Pedro Mendes da Rocha. Concebido pela Secretaria de
Cultura do Estado de São Paulo e pela Fundação Roberto Marinho, em março de 2006, o
Museu é entregue ao público e se torna sucesso de ampla projeção internacional, sobretudo na
rede de países lusófonos21, inaugurando dois novos paradigmas na museologia brasileira: o
dos museus históricos de conteúdo, cuja centralidade técnica e discursiva não está mais no
objeto-artefato, mas no patrimônio imaterial, na experiência e nas questões relativas às
identidades dos grupos sociais; e dos museus cuja museografia se ancora nas tecnologias

20
Processo documentado pelo projeto de tombamento do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico no Bairro da Luz
na Coordenação Geral de Pesquisa e Documentação do Arquivo Central do IPHAN - Seção Rio de Janeiro.
Processo de tombamento número 1463-T-00, do ano 2000.
21
Talvez não caiba aqui gastar energia para discorrer sobre o interesse que o Museu desperta na comunidade de
países lusófonos, mas também não é possível defender seu papel de importância no campo da museologia
internacional sem considerar essa relação. Por tanto, para ilustrar a questão, vale mencionar que mesmo com o
Museu fechado para a sua recuperação, traçou parcerias importantes em países africanos onde se fala português,
que culminou, por exemplo, na exposição itinerante A Língua Portuguesa em Nós. Numa parceria entre o
Museu, o Itamaraty e o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), a exposição passou por Cabo Verde,
Angola e Moçambique. O projeto foi amplamente divulgado na imprensa, mas, informações podem ser
acessadas em:
<http://redebrasilcultural.itamaraty.gov.br/publicacoes/1117-exposicao-do-museu-da-lingua-portuguesa-retrata-a-
historia-e-a-diversidade-do-idioma-em-cabo-verde-angola-e-mocambique>.
Outro dado digno de nota é a presença de autoridades de países lusófonos, entre eles os presidentes de Cabo
Verde e Portugal, na cerimônia de reinauguração do Museu, evento do qual as autoridades que representam o
governo federal brasileiro não participaram. O evento foi amplamente coberto pela imprensa, mas, informações
podem ser acessadas em:
<https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-07/museu-da-lingua-portuguesa-e-reaberto-com-presenca-d
e-autoridades>.
37

digitais. No entanto, em dezembro de 2015, pouco antes de completar dez anos de operação, o
edifício sofreu um segundo incêndio, interrompendo as atividades do Museu. Segundo dados
de mensuração disponíveis no site da instituição, nesses primeiros anos, o Museu da Língua
Portuguesa recebeu cerca de 30 exposições temporárias, contabilizou cerca de 4 milhões de
visitantes e acumulou 12 prêmios22. Após cinco anos e meio fechado, recuperado pelas
mesmas instituições que o criaram, o Museu volta à operação em julho de 202123.
Um museu de grande projeção reabrindo no contexto atual (de pandemia mundial e
governo conservador) encontra desafios imensos, sem dúvidas. Um museu de tal dimensão é
também território acirrado de disputas políticas, no campo material e no campo simbólico.
Haja vista as disputas entre os governos federal e estadual no protagonismo de sua
reconstrução e as polêmicas que se tem criado nas redes sociais e no campo jornalístico em
torno do como a instituição tem se colocado em relação à linguagem neutra no que diz

22
A lista completa e maiores informações sobre os prêmios concedidos ao Museu da Língua Portuguesa pode ser
acessada em: <https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/premio/>.
De forma sucinta, a lista é a que segue:
Prêmios
2006
- Prêmio Pritzker para Paulo Mendes da Rocha (Prêmio considerado o Nobel da arquitetura. Antes de Paulo
Mendes da Rocha, Niemeyer foi o único brasileiro a receber a mesma premiação);
- Prêmio da Fundação Luso-Brasileira, na categoria Cultura e Ciências;
-Troféu do Departamento de Museus e Centros CUlturais do Iphan, por sua contribuição ao campo museológico
brasileiro;
- Diploma de reconhecimento da Unesco como melhor projeto na área de Comunicação e Informação;
- Destaque do Ano SMACNA (Sistema de Refrigeração);
2007
- Prêmio Novidade do Ano do Guia Brasil Quatro Rodas;
- Lighting Awards International Association of Lighting Designers de Nova York, na categoria Melhor Projeto de
Iluminação;
2011
- 1º Lugar do Prêmio Darcy Ribeiro (pelo IBRAM), concedido ao projetos de educação Dengo;
2012
- Prêmio O Melhor do Brasil, na categoria Museu, concedido pela Revista Viagem e Turismo;
2013
- Prêmio Melhor Seleção de Atração Cultural, "Traveller's Choice 2013", da Revista TripAdvisor;
2014
- Certificado de Excelência TripAdvisor e eleito u dos melhores museus do Brasil e da América do Sul;
- 3º Lugar no V Prêmio Ibero-Americano de Educação em Museus com o programa Estação Educativa;
23
Informações sobre a primeira fase do Museu, sobre o restauro e a reabertura podem ser acessadas
em <https://www.museudalinguaportuguesa.org.br>.
38

respeito às identidades de gênero humanas24. O Museu da Língua Portuguesa é, portanto, um


espaço de disputa em disputa.
No entanto, o Museu firma um compromisso social com a diversidade e a inclusão
que, conforme o mencionado totem de acolhimento, se expressa da programação, na sua
relação com o território que habita e no conjunto de recursos acessíveis que oferece.
A programação é o tema específico do terceiro capítulo. Aqui, vale a pena despender
de energia para discorrer sobre os outros dois pontos: Recursos de acessibilidade e
relacionamento com o território, premissas das diretrizes institucionais, conforme aponta seu
plano museológico. Segundo o documento,

O objetivo do Plano Museológico é definir conceitualmente a instituição e


sistematizar, de forma integrada, as diretrizes dos programas de trabalho a serem por
ela desenvolvidos, tendo sempre como premissa a sua vocação preservacionista e a
transversalidade de eixos fundamentais de trabalho aqui definidos por território,
acessibilidade e sustentabilidade (EXPOMUS, 2019, p. 05).

A estruturação de uma série de recursos de acessibilidade tem por objetivo eliminar o


máximo de barreiras físicas, sensoriais, cognitivas e informacionais, enquanto o
relacionamento com o território objetiva a eliminação de barreiras simbólicas e atitudinais que
inviabilizam a inclusão.

Neste sentido, o Museu da Língua Portuguesa conta com uma série de importantes
recursos de acessibilidade, conforme descrito pela tabela abaixo.

Tabela 1:Recursos de Acessibilidade do Museu da Língua Portuguesa

RECURSOS DE ACESSIBILIDADE

1. Totem de acolhimento que apresenta os recursos de acessibilidade do Museu

2. Piso tátil

3. Maquete tátil

4. Dois mapas táteis

24
O debate sobre a linguagem neutra tem tomado espaço nas mídias no ano de 2021, e o MLP tem se tornado
palco importante para a questão. No dia 12 de julho de 2021, o Museu publicou em uma de suas redes sociais, o
Twitter, uma mensagem que apresentava a nova marca e convidava o público a visitar as novas instalações. A
postagem dizia: “Nesta nova fase do MLP, a vírgula – uma pausa ligeira, respiro – representa o recomeço de um
espaço aberto à reflexão, inclusão e um chamamento para todas, todos e todes os falantes, ou não, do nosso
idioma: venham, voltamos!” (disponível em:
<https://twitter.com/MuseudaLingua/status/1414704318800875520>. Isso foi o suficiente para, após um
comentário de desaprovação de Mário Frias, então secretário especial da Cultura, produzir uma onda de
perseguição digital que ocupou todas as redes sociais do Museu e parte significativa da mídia, o que vale um
estudo à parte. Trataremos melhor a questão no próximo capítulo.
39

6. Sinalização tátil e braille

7. Web App com navegação em português, Libras, Inglês e Espanhol.

8. Doze diretórios curatoriais: Totem que apresenta ao público um texto curatorial que o
módulo expositivo, videoguia em Libras-Português (Manifesto poético Nosso Corpo
Nossa Língua de autoria do Slam do Corpo) , QR-Code que leva ao App, e um jogo
sensorial ou objeto/obra tátil.

9. Janela de libras nas experiências audiovisuais e programação virtual

10. Wifi gratuito

11. Educadores e orientadores de público fluentes em libras

12. Entrada gratuita para PCDs e acompanhantes

No entanto, embora não seja esse o foco da pesquisa, vale apontar algumas notáveis
fragilidades no que diz respeito ao sistema de acessibilidade do Museu da Língua Portuguesa.
Isso para dizer que, embora haja um conjunto de leis que, graças às lutas dos movimentos
sociais, garantem “o direito de ir e vir com qualidade de vida a todos os cidadãos,
independente de suas características físicas e sensoriais” (CARLETTO; CAMBIAGHI, p. 23)
- o que teoricamente faria com que as medidas para a universalização do acesso não
dependessem da “boa vontade” de profissionais, gestores, artistas e/ou curadores -, a falta de
fiscalização e de políticas institucionais sólidas dá a possibilidade de não cumprimento das
determinações em sua totalidade. Ao contrário, assistimos constantes embates institucionais e
tensionamentos sociais para a garantia mínima de direitos. Assim sendo, a falta de recursos
financeiros e as dificuldades de adaptação física em bens tombados pelos órgãos de
patrimônio são só outras dificuldades que, por vezes, são somadas às barreiras atitudinais,
legitimando a inexistência ou insuficiência de recursos de acessibilidade nas instituições.

No Museu da Língua Portuguesa isso não é diferente. Se por um lado, vemos um


estruturado, e ainda incompleto, sistema de acessibilidade que cobre as áreas de acolhimento
da instituição e a exposição de longa duração, por outro, nos deparamos com a quase
inexistência de recursos nas exposições temporárias e demais ações de programação
presenciais, o que indica que o acesso à instituição ainda está longe de ser universalizado no
que diz respeito às barreiras físicas, sensoriais, cognitivas e informacionais.
40

Tabela 2: Fragilidades do sistema de acessibilidade do Museu da Língua


Portuguesa

PONTOS DE ATENÇÃO

Os símbolos de libras e de audiodescrição não são os oficiais, o que prejudica a


comunicação

A rota tátil é incompleta e não se comunica com a rota da CPTM (na estação) e nem
com a da prefeitura (nas calçadas)

Maquete tátil está encostada na parede, impedindo acesso total da pessoa cega

Os recursos de acessibilidade estão disponíveis apenas na exposição de longa duração.


As exposições temporárias e demais ações de programação presenciais ainda não
contam, ou contam com pouco, recursos de acessibilidade. A janela de libras, por
exemplo, embora seja constantemente utilizada, não é um recurso presente em todas as
ações de programação (nem no campo virtual e nem no presencial)

A sinalização tátil e braille não é de fácil localização para o público cego e está
disponível em pouca quantidade, e não cobre todo o conteúdo da exposição

Com descrição dos espaços e obras táteis, textos, imagens, áudios e vídeos apenas para
a navegação nos idiomas orais disponíveis. Audiodescrição apenas para navegação em
português. A navegação em libras dá acesso ao conteúdo que já está disponível na
exposição nesse idioma, servindo apenas para um acesso mais individualizado. A
audiodescrição disponível pelo web app apenas em português não cobre todas as
experiências da exposição de longa duração

O conteúdo em libras produzido pelo Slam do corpo não transpõe o conteúdo do


português, apresenta um conteúdo outro. Embora inclua a comunidade surda e valorize
sua cultura, priva as pessoas surdas de fruir a partir do conteúdo acessado pelos outros
grupos ouvintes. Exemplo25:
Texto curatorial do módulo Línguas do mundo:

Existem hoje no mundo cerca de 7 mil línguas distintas entre si, cada qual com a sua sonoridade e o seu modo
de organizar as palavras em sentenças. Desconhecemos a origem de toda essa diversidade. Elas teriam surgido
a partir de uma única língua ancestral ou teriam se desenvolvido de forma independente, em diferentes partes
do planeta? Qualquer que tenha sido sua origem, sabemos que nenhuma língua é superior ou inferior a outra.
Cada uma delas permite que seus falantes se expressem sobre qualquer assunto e em qualquer situação. Cada
língua também é única, pois representa uma maneira singular de ver o mundo. Os estudiosos reuniram essas
milhares de línguas em 263 grupos, que chamaram de “famílias”, de acordo com suas semelhanças e
afinidades estruturais. No entanto, existe uma centena de línguas isoladas, que não se encaixam em nenhum
grupo. Há ainda muitos mistérios a desvendar sobre as línguas do mundo.

Transcrição do Vídeo-Libras:

Olá, nós somos a Érika e o Léo. Algumas línguas nascem e outras morrem. E muitas estão constantemente
resistindo. Hoje, no mundo, contamos cerca de sete mil línguas existentes, dentre elas, a Língua Brasileira de
Sinais e a Língua Portuguesa. Esta instalação é como uma "floresta de sons", pois traz a experiência sonora
de diversas línguas no mundo. Em cada coluna, um narrador apresenta a sua língua dizendo: "No mundo
existem 7 mil línguas, e eu falo português”. Ou iorubá, ou chinês, ou francês. Na sequência, esse mesmo

25
Conteúdo disponível no aplicativo do Museu. Disponível em:
<https://app.mlp.org.br/experiencia/15>. Acesso em 05 de fevereiro de 2022.
41

narrador diz, na sua língua, um trecho de livro, ou uma poesia, música, receita, algo que tenha algum
significado afetivo para ele ou ela. Agora, o Léo vai apresentar uma poesia para vocês. Nosso corpo, nossa
língua!

As janelas de libras não cobrem toda a exposição

Os QR codes não estão suficientemente iluminados, o que dificulta o acesso

Os jogos e obras táteis são dispositivos de mediação. Sem a presença de uma pessoa
mediadora, a experiência tátil fica comprometida. O que significa que o visitante perde
autonomia

Excesso de estímulos sonoros e visuais, podendo tornar a experiência não segura para
quem está no espectro autista e outros públicos sensíveis, como bebês

No que diz respeito à eliminação de barreiras atitudinais, o Museu da Língua


Portuguesa aposta numa política de integração entre museu e território. Segundo o contrato
firmado entre o Governo do Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria de Cultura e
Economia Criativa, e o IDBrasil Cultura, Educação e Esporte para a gestão do Museu da
Língua Portuguesa,

o bairro do Bom Retiro foi considerado o mais cool do Brasil e o 25º do mundo pela
revista britânica Time Out, que o definiu como "atualmente passando por um
processo de renascimento e renovado interesse: restaurantes familiares encontram
fazedores de zines, novas baladas nascem perto de museus. Como a própria São
Paulo, o Bom Retiro nunca para de mudar, e é isso que faz dele um lugar especial".
Na visão do IDBrasil, o Museu da Língua Portuguesa deve protagonizar essa
mudança, sendo ponto de integração entre as várias comunidades de imigrantes que
se estabeleceram no bairro, assim como aglutinador das várias outras instituições
culturais e iniciativas de economia criativa presentes no local. Desta forma, a
Organização Social trabalhará para que o Museu se torne um hub de economia
criativa, com projetos ligados à Literatura, Arte e Tecnologia, com forte impacto no
cenário da região, com engajamento de diversos parceiros locais (...).

Por outro lado, é necessário também considerar a inserção do Museu da Língua


Portuguesa no espaço atualmente compartilhado por uma grande população em
situação de vulnerabilidade social. A região da Luz é um território no qual as
desigualdades sociais da cidade se fazem presentes, com uma escala ímpar de
desafios na área da saúde, assistência social e segurança pública. No entanto, a
reabertura do Museu da Língua Portuguesa traz nova força para a inserção da
Cultura neste tecido social complexo em função de seu protagonismo histórico na
articulação de parceiros e no desenvolvimento de estratégias efetivas e realistas de
transformação social (São Paulo, 2020, p. 05).

Para atingir tais objetivos, o IDBrasil criou para o Museu da Língua Portuguesa o
programa de articulação social. Hierarquicamente ligado à diretoria executiva e atuando junto
à diretoria técnica, a articulação tem como missão promover acesso qualificado de todos os
públicos ao Museu com foco no território no qual ele habita. Por acesso qualificado
entende-se a participação macro, em toda a cadeia de operações do museu, e não apenas
enquanto público consumidor das ações de programação. Numa perspectiva de integração
42

entre museu e território, objetiva-se que as comunidades do entorno participem como


visitante, mas também colaborem com os processos decisórios, por meio da presença nos
fóruns e comitês; integrem a cadeia produtiva, como fornecedores de produtos e serviços e
proponentes de ações de programação; se apropriem do espaço como artistas, autores,
mediadores, produtores de arte e outros conteúdos; que articulem outros usos dos espaços, a
partir das demandas de equipamentos e organizações parceiras.

O programa de articulação social do Museu da Língua Portuguesa existe desde


dezembro de 2020, e embora seja uma experiência pioneira no que diz respeito à posição
estratégica que ocupa no organograma institucional, ela nasce tendo como referência duas
experiências anteriores oriundas da cidade do Rio de Janeiro, no MAR (Museu de Arte do
Rio), inaugurado em 2013, e o Museu do Amanhã, inaugurado em 2015, ambos na Praça
Mauá, duas instituições que nascem no contexto do projeto urbanístico de reestruturação
espacial da Zona Portuária do Rio de Janeiro, empreendida pela Operação Urbana
Consorciada (OUC) Porto Maravilha, às margens da Baía de Guanabara.

O Projeto Porto Maravilha, assim como o Projeto Nova Luz, teve como premissa a
refuncionalização de áreas com grande potencial turístico, mas historicamente degradadas
como resultado do abandono pelas frações ricas da população e dos poderes públicos e
densamente ocupadas pelas camadas populares. Os dois projetos são responsáveis por um
agudo processo de gentrificação. Com o objetivo de promover uma nova dinâmica urbana,
produziram impactos socialmente negativos “como deslocamentos de antigos moradores tanto
por remoções compulsórias quanto por pressões oriundas do elevado aumento do preço da
terra na área” (NASCIMENTO, 2019, p. 46). Nesta perspectiva, assim como o restauro da
Estação da Luz e a implantação do Museu da Língua Portuguesa, os Museus Mar e do
Amanhã são parte desses projetos e lidam com problemas sociais congêneres. Ambas
instituições apostaram em medidas também congêneres para lidar com os desafios do
relacionamento entre os museus e o território que ocupam. Assim, o MAR e o Museu do
Amanhã criaram cada qual o seu Programa de Vizinhos (Vizinhos do Mar e o Programa de
Vizinhos do Amanhã, respectivamente).

No Museu do Amanhã, o programa está alocado na Diretoria de


Desenvolvimento Institucional, e é operacionalizado pela área de Relações Comunitárias.
Segundo o site da instituição,
43

Por reconhecer a região e seus moradores como propulsores de transformações


profundas, o Museu conta com um setor de Relações Comunitárias, que se dedica a
engajar os públicos vizinhos no processo de construção coletiva do Amanhã, por
meio de programação cultural e de mobilização.

Os cerca de 30 mil moradores da Região Portuária - distribuídos pelos bairros da


Saúde, Gamboa e Santo Cristo e os morros da Conceição, Pinto, Providência e
Livramento - têm entrada gratuita no Museu a partir do Programa Vizinhos do
Amanhã (https://museudoamanha.org.br/pt-br/content/vizinhos).

Já no MAR, segundo o Relatório de Gestão 202026, o Programa está ligado ao


Programa Educativo e Acessibilidade e, trata-se de um

Programa de articulação e relação continuada desenvolvido pelo MAR junto aos


moradores e instituições da região portuária. Visa promover a democracia cultural, o
pertencimento e a apropriação do museu, de suas exposições e programas, pelos
moradores da região, a partir do agenciamento coletivo de saberes, práticas e
potencialidades do território. Tem como objetivo a construção de uma rede entre os
diversos agentes envolvidos, com base em processos colaborativos que envolvem
partilha de conhecimentos e meios de produção. Programa composto por atividades
regulares e por projetos específicos, tais como oficinas, visitas externas e no MAR,
apresentações de processo, rodas de conversa, fóruns, entre outras
(https://museudeartedorio.org.br/escola-do-olhar/vizinhos-do-mar/).

No Museu da Língua Portuguesa, a articulação social já instituída e atuando


transversalmente com as áreas de desenvolvimento institucional e educativo operacionaliza o
Programa de Vizinhos do MLP (Museu da Língua Portuguesa). Neste sentido, o centro da
atuação não é o Programa de Vizinhos, mas a articulação social, que tem como um dos
resultados de ação a sua operacionalização.

A articulação social no MLP atua em, pelo menos, quatro frentes de trabalho27:

1. Criação e fortalecimento de redes no território: A região da Luz, embora seja


terreno de complexas relações sociais, é uma região muito articulada. Serviços,
equipamentos, coletivos, iniciativas independentes se articulam em rede para
potencializar suas ações. O Museu reabre e encontra uma série dessas redes. A
articulação social promove ações cujo objetivo é, por meio da criação e de
manutenção de um fórum interno chamado de Encontro com Vizinhos,
integrá-las, potencializando-as. No Encontro com Vizinhos, os agentes do
território se encontram, partilham demandas e discutem soluções, além de
debater a relação entre o Museu e o território. Importante apontar que o fórum

26
O relatório de gestão da instituição pode ser consultado na área de Transparência de seu site por
meio do link: <https://museudeartedorio.org.br/gestao/transparencia/>. Último acesso: 06 de
fevereiro de 2022.
27
As ações da articulação social podem ser verificadas nos Relatórios de Prestação de Contas do
Museu da Língua Portuguesa disponíveis em:
<https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/gestao/transparencia/>.
44

ultrapassa as barreiras de atuação do Museu, que, neste sentido, serve mais


como arena do que como mediador, embora possa acolher ou encaminhar,
enquanto parte da estrutura governamental, demandas do território trazidas
pelos vizinhos. Este é também um espaço onde a comunidade discute suas
expectativas no que diz respeito à relação entre os equipamentos de cultura, no
qual se inclui o museu, e o território, no que tange às formas de participação da
população, aos interesses no que diz respeito à programação, ao acolhimento
das camadas mais vulnerabilizadas da população, etc;
2. Engajamento de público: Enquanto equipamento público, o Museu tem
obrigação de receber e acolher todas as diferentes camadas da sociedade. No
entanto, há uma imensa dificuldade em garantir engajamento e acesso dos
grupos mais vulnerabilizados, sobretudo por conta das barreiras simbólicas. A
articulação social atua no território junto aos parceiros que já articulam esses
públicos (equipamentos de saúde, de assistência, ongs, coletivos e outras
instituições e organizações culturais e/ou de educação) para que, por meio
deles, comecem a frequentar o Museu e, aos poucos, irem ganhando autonomia
e segurança para ocupá-lo de forma autônoma, uma vez que a gratuidade já é
garantida.
3. Formação de cultura interna: Sabemos, como já mencionado acima, que grande
parte das barreiras que dificultam ou impedem o acesso aos bens culturais são
atitudinais. Com o objetivo de eliminar essas barreiras, a articulação social
atua internamente para a garantia de que toda a instituição entenda a
importância da integração entre museu e território e atue nesse sentido. Isso
depende desde ações de formação interna à consolidação de fluxos que
transversalizam as áreas de operação do Museu com a articulação social.
4. Monitoramento e correção de desvios: Abrir as portas para novos públicos
(públicos não habituais) e promover encontros com o diverso é obrigação das
instituições públicas. Todavia, não podemos deixar de considerar que tais
encontros promovem, ou podem promover, conflitos. Isto posto, a articulação
social também atua no sentido de monitorar, mediar conflitos e propor ações de
correção de práticas e posturas que reforçam as barreiras atitudinais, isso se dá
via processos dialógicos e formativos e de mediação para a elaboração coletiva
de cartilhas e protocolos que tem por finalidade documentar compromissos
consensuados e orientar ações.
45

A existência de uma articulação social no Museu da Língua Portuguesa é, sem


dúvidas, indicativo de que a instituição opera a partir do compromisso com a diversidade, o
acesso e a inclusão. Como vimos anteriormente, isso não se trata de um movimento isolado.
Nas palavras de Viviane Sarraf,

Desde a criação do termo Direitos Humanos até a situação atual de valorização e


empowerment das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, os museus
passaram por um processo intenso de mudança. Mesmo com o boom de construção
de novos museus na década de 1980 e da revitalização de outros, para uma
considerável parte da população os museus não são uma prioridade em suas opções
de lazer e cultura. Com o objetivo de manter uma imagem de vanguarda, as
instituições culturais têm feito uso de recursos tecnológicos de ponta, bem como
providenciado adequações espaciais visando atrair para seu interior novos públicos
nunca imaginados em sua trajetória histórica. As pessoas com deficiência, a
população de terceira idade e as comunidades culturalmente excluídas representam
hoje um público potencial para os museus. Importantes instituições internacionais
realizam pesquisas e propostas de mediação participativa, estratégias de acolhimento
e permanência dos visitantes nos imponentes edifícios que abrigam os museus,
roteiros de visita destinados a diferentes interesses e, em grande parte destes
equipamentos, sólidos programas de acessibilidade para este público. (SARRAF,
2008, p. 14).

O que não significa, evidentemente, que isso se dá de forma neutra e sem disputas. Os
acontecimentos recentes em torno do uso da linguagem neutra no Museu, já mencionados,
dão a tônica do quanto a inserção de novas perspectivas históricas alimentam debates
acirrados. Museu, enquanto espaço de memória, é historicamente um campo de disputas
narrativas. Esse é o tema abordado no próximo capítulo.
46

3 REPRESENTAÇÃO, SIGNIFICAÇÃO E PODER: MUSEU COMO


ESPAÇO DE MEMÓRIA EM DISPUTA

Um museu é sobretudo um espaço de memória e, embora esteja muito associado aos


discursos sobre o passado, é também lugar para refletirmos sobre o nosso tempo e sobre o
legado deste tempo às próximas gerações. De forma geral, podemos dizer que museus buscam
preservar a memória dos processos históricos pelos quais a sociedade passou ao longo dos
tempos, num constante debate entre passado, presente e futuro.

No entanto, conforme apresentado no capítulo anterior, a relação entre o museu e a


história, a memória, o patrimônio e os grupos sociais não é estática e nem neutra. Assim, nem
os museus e nem os discursos historiográficos existem fora de um contexto social.

Ao tratar dos processos expositivos de elementos relativos às culturas africanas e


afro-brasileiras no sistema de representações brasileiro, Cunha nos lembra que, o museu se
apropria da realidade numa relação dialética entre o lembrar e o esquecer que produz imagens
e referências de memórias (2008, p. 208). Nas palavras de Odair da Cruz Paiva, “não cabe
aos Museus a proposição de reviver o passado em seus discursos expositivos, o que temos é
sempre a percepção do presente sobre o passado e esta é sempre passível de disputa. Esse
dado coloca em questão as constantes releituras que fazemos da história, informadas pelas
mudanças operadas no e pelo presente” (2014, p. 163). Na perspectiva de Cida Bento, não se
trata apenas de interpretar recordações, mas de construção simbólica, de atribuição de valores,
de revisão de narrativas que reforçam vínculos comunitários de determinados grupos sociais
(BENTO, 2022). Neste sentido, o museu fabrica, num processo de disputa discursiva,
imagens por meio de suas exposições e de outros meios de expressão materiais e virtuais
(CUNHA, 2008; ABREU, 1996). Uma exposição de museu é um discurso sobre algo. Os
objetos e documentos - fragmentos, testemunhos de memória - são parte deste discurso
narrativo que busca conferir sentido simbólico e ideológico à experiência histórica.

Cada sociedade, a partir de seus marcos culturais específicos, elabora seu próprio
conjunto de sentidos simbólicos para as memórias, suas próprias estruturas e estratégias
discursivas. Ainda que essa elaboração seja marca de um determinado tempo e espaço,
algumas perduram na longa duração da história, e o museu, a exemplo, tem ocupado lugar
primordial nas relações entre narrativa, representação, significação e poder há pelo menos
dois séculos. O que não significa que não houve mudanças significativas na forma dos
47

museus dialogarem com as sociedades que os mantém. Ao contrário, mudanças foram


operadas, e esse capítulo tem por objetivo refletir sobre a renovação no papel dos museus no
século XXI e o impacto dessa renovação na requalificação28 do Museu da Língua Portuguesa,
especificamente.

Todavia, para que tenhamos elementos para refletir sobre a dimensão da transformação
do paradigma museológico, que viabiliza os debates contemporâneos acerca da inclusão de
novos agentes discursivos, dentre os quais estão as pessoas trans, é preciso resgatar o
paradigma que alçou à condição de autoridade discursiva a instituição do tipo museu: O
Estado-nação.

Neste capítulo, partimos, então, da relação entre museu e a questão nacional para
resgatar o papel de origem das instituições de salvaguarda patrimonial, que foi o de
consolidação de discursos hegemônicos. E, num exercício de digressão, chegamos ao museu
do século XXI, que tem se colocado cada dia mais aberto às identidades coletivas e à
diversidade social, atuando, inclusive, como plataforma para o contraponto à história oficial.
Todavia, no contexto histórico de criação de projetos como o “Escola sem Partido”, de
perseguições e interdições às temáticas relacionadas a gênero e sexualidade, fechamos o
capítulo apontando para os limites dessa abertura, demonstrando o quanto gênero, no que diz
respeito às identidades e expressões, ainda é um lugar discursivo perigoso, que inclusive tem
produzido impacto direto nas dinâmicas no Museu da Língua Portuguesa que, timidamente,
experimentou se comunicar com seu público fazendo uso de linguagem neutra e
imediatamente passou a protagonizar uma contenda em escala nacional.

3. 1 O Museu e a questão nacional

A despeito das diversas interpretações sobre a formação dos estados nacionais, um ponto
tem relativo consenso: trata-se de um fenômeno moderno, recente. Os pesquisadores tendem a
concordar que, embora o termo tenha origens mais remotas, é no fim da Idade Moderna que a
ideia de nação ganha o caráter que conhecemos. Guerra e Chiaramonte chamam de moderno o
período revolucionário, o século XVIII e, com outros autores, partilham da percepção que o

28
Entendendo a requalificação de museus como processo de atualização dos programas e ações museológicas
que se dá de forma periódica com a finalidade de redesenhar e repactuar valores sociais, patrimoniais e
ambientais, reconectando laços entre equipamento e sociedade ou reforçando-os a partir do alinhamento com
novas agendas e demandas sociais. Isso se dá por meio da reelaborações de documentos norteadores (como o
plano museológico, projeto educativo, política de salvaguarda, plano de trabalho, plano de metas, atualização de
contrato de gestão, etc), da revisão do plano de gestão de acervo e da atualização de exposições de longa
duração, dentre outras medidas.
48

conceito de nação - tal como o reconhecemos hoje - é originário dos tempos da Revolução
Francesa (GUERRA, In:JANCSÓ, 2003, p.35; CHIARAMONTE, In:JANCSÓ, 2003, p. 73).
Nesse sentido, pode-se entender como Estado nacional aquele que deixa de responder aos
padrões tradicionais do Antigo Regime, ainda que, na prática, a relação não seja de todo rompida
com este modelo (PAMPLONA; STUVEN, 2010, p. 13).

José Carlos Chiaramonte (CHIARAMONTE, In: JANCSÓ, 2003, pp. 61 – 92), a luz
destes estudos, defende que o termo nação passa ao longo de sua história por três momentos: até
fins do século XVI apresenta sentido étnico; durante os séculos XVII e XVIII sentido político e,
num terceiro momento, paralelo ao Romantismo, há a junção de ambos, fazendo com que se
entenda a nação como “referência a grupos humanos unidos por sua homogeneidade étnica e (...)
[ou] grupo humano unido por sua circunscrição política” (CHIARAMONTE. Op. Cit. p. 82).
Antônio Manuel Hespanha nos alerta que, até o século XVIII, o termo era usado como sinônimo
de lugar de nascimento, onde se tem um pedaço de terra (ou seja, de caráter individual) e passa, a
partir de então, fazer alusão ao Estado, à comunidade da Constituição e das Leis (portanto, de
caráter coletivo e contratual) (HESPANHA. In:JANCSÓ, 2003. p. 96 – 100). O que definiria,
portanto, um indivíduo como membro da nação é o sentimento de pertença a ela e o que a
determina é a existência de um grupo de indivíduos que a reconheça, que aceite o pacto social
proposto. Se isto é verdade, como se dá este processo de reconhecimento?

Na tentativa de dar resposta a esta questão, duas correntes de pensamento se destacam: a


que apresenta a nação como fruto de invenção dos Estados modernos e a que a trata como
produto da imaginação coletiva.

No contexto das invenções, Hobsbawm defende que, “práticas, de natureza ritual ou


simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que
implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado” (HOBSBAWM, 1979, p.
09). Continuidade que, ainda que artificial, seria para ele uma importante característica da
questão nacional e, justificaria a necessidade da invenção. Artificial por se basear na invenção.
Invenção esta que se faz possível por meio do esquecimento, que é para ele fator essencial na
formação de uma nação ( HOBSBAWM, 1990, p.19 ).

De forma sucinta podemos entender que para Hobsbawm, as nações modernas, ainda que
na maioria dos casos tenham sido originadas a partir do século XVIII, sendo, portanto, parte da
história recente da humanidade, tentam afirmar ser o oposto disto, forjando uma continuidade
histórica, um vínculo que as ligam a um passado longínquo baseando-se em invenções (de
49

discursos políticos e históricos, de símbolos, de tradições, ritos, etc.). Nesta perspectiva,


Demétrio Magnoli aponta que, no que diz respeito à legitimidade, quanto mais longe no passado,
quanto mais próximo ao estado natural, puder se localizar o fundamento da nação, melhor
(MAGNOLI, 1997, p.17).

Na outra linha, temos Anderson encabeçando o movimento que nega a possibilidade de


as nações (tratadas por ele como comunidades) se inventarem. Num esforço de sintetizar seu
pensamento, podemos dizer que, para ele, “até os membros da mais pequena nação nunca
conhecerão, nunca encontrarão e nunca ouvirão falar da maioria dos outros membros dessa
mesma nação, mas, ainda assim, na mente de cada um existe a imagem da sua comunhão"
(ANDERSON, 2011 , p.32). Portanto, o que definiria a existência de uma nação e identificaria
um indivíduo como membro dela é o fato de um grupo imaginá-la como tal. O grande
responsável pela nação moderna, segundo ele, é o “capitalismo de imprensa” ou “capitalismo
editorial”. A criação de laços comunitários entre estes indivíduos que, embora não se conheçam,
se tornaram capazes de compartilhar as mesmas ideias, os mesmos rituais e, logo, imaginar uma
nação teria sido possível por meio da circulação de material impresso. Segundo Anderson,
quando se afirma que uma nação é inventada, evidencia-se a existência de um grupo de nações
originais (verdadeiras) e outro falso (inventado). Nesta perspectiva, diante da impossibilidade de
apontar onde cada uma delas se enquadra, tal conceito seria impraticável.

Ainda que, em termos gerais, fiquem claras as diferenças que distinguem as duas
correntes, Hobsbawm e Anderson concordam que a existência da nação depende da projeção
mental dos indivíduos. Neste mesmo sentido caminham muitos outros estudiosos da questão,
como é o caso da Márcia D’Aléssio que defende que o fenômeno identitário se dá a partir da
identificação de pessoas a grupos que desempenham, entre si, a função de proteção [do grupo, do
Estado nacional] ( D'ALESSIO, 2007, v. I, p. 199-204 ). Ou seja, a legitimação de uma unidade
política nacional moderna depende da elaboração da representação simbólica, do imaginário e,
nas palavras de Antônio Manuel Hespanha:

O caráter “macro” do novo modelo de organização política ‘estadual’ do


liberalismo, por oposição ao caráter “micro” da antiga polis ou ao caráter
parcelado (pluralista e descentralizado) da monarquia de Antigo Regime (...),
nestas sociedades pouco integradas, mas de cidadania universal, a ameaça da
dissolução política era iminente. Daí a urgência da gestação de um sentimento
de pertença comum, que justamente promovesse a integração e prevenisse as
convulsões sociais ( HESPANHA. Op. Cit. In: JANCSÓ, 2003, p. 94).

Como nos alerta Sandra Jatahy Pasavento, “nação” e “identidade” são conceitos que
pertenciam à esfera do político e passaram a se integrar de maneira indissolúvel à dimensão
50

cultural da sociedade (PESAVENTO, 2009, p. 574.). Assim, fica fácil compreender a urgência
das ações políticas sobre o imaginário das populações se considerarmos que, ao se
pretenderem modernos, na concepção Europeia ocidental, os Estados tinham como premissa
a soberania popular. Dessa forma, passou-se cada vez mais a depender da legitimação social
para a manutenção da unidade e da própria existência do Estado, conforme nos lembra Adduci
(2000, p.33) e Meneses (1993, pp. 09-10).

Neste sentido, o controle dos símbolos e dos ritos de pertencimento e,


consequentemente, do imaginário popular acerca da ideia de nação se mostram ferramentas
eficientes, ainda que não tenham sido as únicas, para a consolidação de uma pretensa
identidade nacional. Nas palavras de José Murilo de Carvalho:

A elaboração de um imaginário é parte integrante da legitimação de qualquer regime


político. É por meio do imaginário que se podem atingir não só a cabeça mas, de
modo especial, o coração, isto é, as aspirações, os medos e as esperanças de um
povo. É nele que as sociedades definem suas identidades e objetivos, definem seus
inimigos, organizam seu passado, presente e futuro (CARVALHO, 1990, p. 10).

A Europa do século XIX vivia o que René Rémond chamou de “O movimento das
Nacionalidades” (REMOND, 1974, p. 149), e que Benedict Anderson conclamou como
“Imperialismo e Nacionalismo Oficial” (ANDERSON, 2008, p. 171). Para Rémond, a
característica comum dos “diversos” nacionalismos é a participação dos intelectuais em seu
processo de criação. Segundo ele, “o movimento das nacionalidades no século XIX foi em
parte obra dos intelectuais, graças aos escritores que contribuem para o renascer do
sentimento nacional” (REMOND, op. cit, p. 50), ideia também defendida por Benedict
Anderson em Comunidades Imaginadas. No entanto, José Murilo de Carvalho defende que,
ainda que o imaginário social seja constituído a partir de tradições, mitos, rituais, símbolos e
do discurso intelectual, este último estará sempre em situação de desvantagem por ser
“inacessível a um público com baixo nível de educação formal” (CARVALHO, 1990, p.10).
Para Hespanha, a solução encontrada pelos novos Estados foi “a promoção de uma educação
pública homogeneizadora ou a fabricação de um sentimento nacional, por meio de cerimônias
cívicas” (HESPANHA. In: JANCSÓ, 2003, p. 95). Ou seja, neste sentido os atos públicos (de
caráter coletivo) seriam uma das formas mais eficazes para fazer com que as sociedades
daquele período se identificassem como grupo, como comunidades de tipo nacional.

Os monumentos, enquanto ocupantes do espaço público de circulação massiva,


correspondem a esta lógica de encenação do que é nacional. Reforçando o argumento de
intelectuais que, como Bakthin, defendem que os símbolos, os signos e as ideologias não
51

estão dissociados da realidade material (1988, p.45), a maior parte dos monumentos (onde se
incluem os museus) que conhecemos, e que referenciam figuras e fatos centrais na elaboração
de nossa história oficial, foi erigida no século XIX, com o fim do antigo regime e a ascensão
dos Estados nacionais. Neste mesmo sentido, para Anderson, os censos, que classificam as
populações e instituem o “outro” colonial e produzem, a partir disso, dinâmicas sociais
características para cada categoria social; os mapas, que criam e reforçam realidades
espaciais; e os museus, que classificam, homogenizam e cristalizam heranças políticas são as
instituições de poder que, por meio da representação da gramática nacionalista, sustentaram
os estados coloniais (ANDERSON, 2008).

Tratando especificamente do nosso objeto de pesquisa, o museu, Ulpiano Bezerra de


Meneses aponta que:

Em suma, os museus dispõem de um referencial sensorial importantíssimo,


constituindo, por isso mesmo, terreno fértil para as manipulações das identidades.
Seria ocioso lembrar com que facilidade certos objetos se transformam em
catalisadores e difusores de sentidos e aspirações: da cruz do cristianismo aos
uniformes militares, passando pelas bandeiras nacionais e pelos emblemas
publicitários (1993, p. 211 - 212).

Assim, fica fácil entender porque a memória passa a ser questão de Estado, tendência
que, no Brasil, é inaugurada em 1818 com a criação do Museu Nacional no Rio de Janeiro,
conforme mencionado acima.
Com a independência, em 1822, o regime político mudou, mas a estratégia seguiu
sendo a mesma: a utilização de instituições que, por meio da representação e da
homogeneização discursiva, tinham por objetivo educar para valores como patriotismo e a
unidade. Como instrumentos de legitimação do novo Estado, a exposição públicas dos
símbolos que representavam a nação em festas, ritos cívicos, juramentos, aclamações, desfiles
e exposições “objetivaram oferecer os contornos de uma unidade gradativamente construída
em torno do imperador e de seus familiares 'brasileiros''' no momento em que os discursos
buscavam convergência em torno de um novo pacto social, que não mais o de manutenção do
Império luso-brasileiro, mas do Império do Brasil (GALVES, 2011, p. 118).

O fim do período imperial também não significou o fim do modelo de afirmação


ideológica por meio da exposição dos símbolos nacionais e do discurso de homogeneização
cujos museus se configuraram como ferramenta de difusão fundamental. Ao contrário, o
advento da República ratifica a estratégia, e a sociedade brasileira assiste à criação de uma
série de instituições que tiveram por objetivo disputar os discursos sobre a concepção do
Estado nacional. E o Estado de São Paulo encabeça esse movimento.
52

Claro que poderíamos discorrer sobre uma série de museus característicos do século
XIX e início do XX: os museus históricos, tais quais o Museu Histórico Nacional (1922, Rio
de Janeiro) e o Museu Republicano Convenção de Itu, anexo ao Museu Paulista, (1923, Itu).
Assim como poderíamos dedicar atenção ao modelo, já da segunda metade do século XX,
cujo estado de São Paulo é o principal difusor: os Museus Históricos Pedagógicos, tais como
o MHP Prudente de Morais (1956, Piracicaba), MHP Campos Salles (1956, Campinas), MHP
Rodrigues Alves (1956, Guaratinguetá), e MHP Washington Luís (1957, Batatais), todos
nascidos da intenção de “criar centros de memória e de pesquisa acerca da vida dos quatro
presidentes republicanos oriundos do estado de São Paulo” (MISAN, 2008, p. 177). Todavia,
temos um caso que é, sem dúvidas, o mais emblemático: O Museu do Ipiranga (ou Museu
Paulista), sobre o qual vale trazer alguns apontamentos.

Se o Rio de Janeiro tinha o Museu Nacional, pioneiro, mas cuja narrativa associava o
Brasil ao seu passado colonial, São Paulo, por meio da construção de um Monumento à
Independência, objetivava trazer para si o protagonismo histórico no que tange a constituição
de uma nação livre, unida e moderna, ou nas palavras de Ulpiano Bezerra de Meneses, a
história nacional “a partir da ótica paulista e de seus limites alimentados pelos interesses
políticos e econômicos da elite bandeirante” (In: Brefe, 2005, p. 18).

Conforme nos aponta Ana Cláudia Fonseca Brefe, inaugurado em 1890 como
monumento,

O edifício em estilo neoclássico que abrigou o Museu do Estado a partir de 1894 não
foi inicialmente projetado para essa finalidade; sua concepção inicial destinava-se a
ser o Monumento à Independência brasileira, tendo sido construído na colina do
Ipiranga, próximo ao lugar onde D. Pedro I teria proferido o famoso ‘grito’, que fez
do Brasil um país independente ( 2005, p. 20).

Brefe nos lembra ainda que,

Ao falar da sua função celebradora e de seu compromisso com a memória de


grandes homens e de grandes ‘fatos históricos’, é preciso, contudo, não esquecer
que, no momento de sua fundação [...], o Museu Paulista cumpria determinadas
funções, ligadas exatamente ao papel que os museus passaram a desempenhar a
partir do século XIX: um instrumento privilegiado para a estruturação e legitimação
de diferentes nações. (Idem, p. 30)

A relação entre museu, identidade nacional e poder, consolidada ainda no século XIX,
conforme exposto, atravessou todo o século XX e chega ainda sólida ao século XXI. A
estratégia seguiu sendo adotada pelas novas nações, a exemplo do Qatar, que, conforme
apontou Ulpiano Bezerra de Meneses, “a criação de um museu nacional estava entre as 4
53

prioridades do governo pós independência” (1993, p. 212), acompanhada da organização de


um sistema de defesa; organização de um sistema de comunicação e da criação de uma
universidade. Isso se deu em 1971, já no bojo dos debates sobre uma nova museologia. Os
tempos de consolidação da museologia social e da sociomuseologia também produziram
museus nacionais, a exemplo do Timor-Leste, último país a conquistar a independência
(2022), que aprovou em 14 de dezembro de 2022 decreto-lei que cria o Museu Nacional de
Timor-Leste. Evidente que cabe estudo analítico destas instituições para reflexão sobre seu
caráter discursivo, todavia, interessa perceber a permanência do modelo.

3.2 Museu no século XXI: arena de discussão sobre raça, gênero, classe e outros
marcadores de diferença social

A derrubada da estátua de Edward Colston em Bristol, na Inglaterra, no dia 07 de junho


de 2021, em meio a uma onda de protestos antirracistas desencadeados após a morte de George
Floyd, cidadão negro sufocado por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, no
dia 25 de maio do mesmo ano, reaqueceu o debate sobre a relação entre identidade, patrimônio,
memória, história e nação. Muito se tem dito a respeito. Temos visto, desde então, medidas pelo
mundo todo no sentido da revisão das narrativas históricas e do lugar que os bens culturais
imóveis classificados como monumentos nacionais ocupam nas vias públicas, especialmente
aqueles considerados polêmicos por fazerem referência a fatos relacionados à violação de
direitos humanos. Em Bristol, em 15 de julho daquele ano, o lugar vago pela retirada da estátua
do mercador de escravos foi ocupado por outra, representando a ativista negra Jen Reid. No
entanto, a obra foi removida pela prefeitura sob alegação de que o artista não tinha autorização
para instalá-la. Esse evento é exemplo das inúmeras camadas de significado simbólico que vão
sendo atribuídas a um mesmo dado histórico.

No Brasil, muitas vozes têm se levantado tanto a favor quanto contra à remoção das
estátuas consideradas monumentos à barbárie, o que inclusive tem suscitado caloroso debate e
iniciativas como a da então Deputada Erica Malunguinho, que redigiu o Projeto de lei 404/2020,
de 20/06/2020, que “proíbe homenagens a escravocratas e a eventos históricos ligados ao
exercício da prática escravista no âmbito da administração estadual direta e indireta” (São Paulo,
2022)29. O caso emblemático mais recente diz respeito à estátua em homenagem ao bandeirante
Manuel de Borba Gato, que fica na zona sul de São Paulo e foi incendiada por manifestantes em

29
Projeto ainda em tramitação, conforme informação disponível em:
https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1000327788. Acesso em 26 de dezembro de 2022.
54

24 de julho de 2022. Antes disso, outro monumento na mesma região serviu de palco para
manifestações públicas que alcançou grande repercussão midiática, o Monumento às Bandeiras,
popularmente conhecido como "empurra-empurra", no Parque do Ibirapuera, que, em outubro de
2013, foi coberto por tinta vermelha em alusão à responsabilidade do movimento das bandeiras
paulistas aos sertões quanto ao genocídio indígena.

A crise do Estado-nação, processo que caracteriza as relações internacionais na segunda


metade do século XX como uma das consequências da globalização das relações comerciais e,
consequentemente, culturais (Castells, 2001; Ianni, 1997; Giddens, 2001), ajuda a explicar o
fenômeno. No contexto de enfraquecimento das fronteiras simbólicas que sustentam a ideia de
nação (e a pretensa identidade nacional), os códigos até então transmitidos em sua defesa deixam
de fazer sentido, e os grupos sociais no interior dos territórios passam a fazer reivindicações
acerca de sua participação na representação da história.

No capítulo anterior, anunciamos como o ICOM, a ONU e a UNESCO foram parte


importante no processo de criação de novas convenções acerca da relação entre patrimônio
histórico e sociedade no pós Segunda Guerra Mundial. Na perspectiva de Clara Bertrand
Cabral,

Desde sua criação em 1945 e durante o período de reconstrução no pós-guerra, a


UNESCO deu prioridade à educação e ao conhecimento como forma de alcançar a
paz, sendo a cultura conotada como produção artística. […] Uma segunda fase foi
marcada pela proliferação de novas nações independentes, passando a identidade
cultural a ter importância acrescida. A ligação entre cultura e desenvolvimento
marcou a terceira fase, caracterizada pelas reivindicações dos países em
desenvolvimento para usufruírem de uma maior autodeterminação e participarem
mais ativamente nas decisões políticas internacionais. Um período mais recente
caracteriza-se por uma conexão entre cultura e democracia, com ênfase na
necessidade de tolerância inter e intrasociedades (Cabral, 2011, p. 70).

Assim, “os museus ao longo do século XX tornaram-se espaços relevantes para


abordar questões sociais complexas” (FRUCHTENGARTEN, 2021, p.02). No entanto, isso
não se dá sem disputa. A princípio, o próprio ICOM, órgão consultivo no Conselho
Econômico e Social da ONU, percebia museu a partir da experiência moderna (de difusão da
história história universal - oficial e homogeneizante), é a pressão das camadas sociais
subalternizadas que, provocando-a a avançar na agenda da diversidade, da inclusão, da
sustentabilidade, conduz a museologia ao modelo almejado na contemporaneidade: O museu
integral, museu de sociedade ou a serviço da sociedade.

Neste contexto de criação e consolidação das organizações de cooperação


internacional, de globalização das relações e de questionamento da ideologia nacionalista,
55

surgem instituições e iniciativas memoriais importantes no campo da disputa pelas narrativas


históricas: Os lugares de memória traumática, cujo pioneirismo é do Museu Memorial
Auschwitz-Birkenau, localizado na cidade de Oświęcim, na Polônia, que abriu sua primeira
exposição ao público em 1947 (HOFFMAN, 2015, pp. 94).
Os lugares de memória traumática, espaços tais como os museus de memórias
traumáticas, museus de memórias difíceis, museus de direitos humanos, memoriais e
monumentos públicos, são fruto do olhar para os crimes contra a humanidade característicos
do período (no contexto de Guerra Fria e de emancipação de diversas colônias Europeias) e da
necessidade de alicerçar políticas globais de direitos humanos. A lógica tem sido a de
revelação da verdade, de culpabilização dos agentes de violência, de combate à violência, de
educação para uma sociabilidade não violenta e de promoção dos direitos humanos. A
memória tem sido mobilizada com o intuito de conscientizar sobre a violência e evitar a sua
reprodução em tempos futuros.
Partem do princípio de que para reparar e prevenir é preciso ouvir as falas de quem foi
vítima. Neste sentido, os lugares de memória traumática emergem no momento em que a
História, e as Ciências Humanas de forma geral, consolidam, com a segunda geração da
escola dos Analles, novos paradigmas científicos. Diante da necessidade de ampliar o debate
oficial, dando espaço para os, até então, excluídos da história, emergem novos interesses e se
estabelecem novos procedimentos de análise científicos (BRAUDEL, 2009; BRESCIANI,
2017). Na América Latina, esse processo é datado das décadas de 1970 e 1980 e é marcado
pelos contextos ditatoriais.
Os lugares de memória traumática nascem com o objetivo claro de expor as violências
produzidas pelo Estado. O modelo fundamental deste tipo de lugar de memória são os espaços
a expor a horror produzido pelo holocausto. A partir dele, outros lugares vão sendo criados
pela memória das vítimas do Aparthaid, das ditaduras na América Latina e, mais
recentemente, da escravidão dos povos africanos no contexto da colonização Europeia. Em
contraponto à história oficial, os lugares de memória traumática nascem, geralmente, pela
iniciativa de grupos e movimentos sociais que reivindicam seus próprios lugares de memória
(HOFFMAN, 2015; MENESES, 2018; BOAS, 2018; SOSA, 2019; FRUCHTENGARTEN,
2021).
Embora surgido como recurso memorialístico no imediato pós Segunda-Guerra
Mundial, é só no final do século XX que o modelo se consolida. Conforme apontou Hoffman,

São consideradas pioneiras as iniciativas realizadas no Japão, que na cidade de


Osaka apresenta um Museu dos Direitos Humanos (Osaka Human Rights Museum),
56

desde 1985 [...]. Além dos dois museus implantados nas cidades de Hiroshima e
Nagasaki [...] inaugurados na década de 90 do século XX, Museu Memorial da Paz
de Hiroshima (Hiroshima Peace Memorial Museum) e o Museu da Bomba Atômica
de Nagasaki (Nagasaki Atomic Bomb Museum) (2015, pp. 92-3).

No Brasil, talvez o exemplo mais significativo seja o do Memorial da Resistência de


São Paulo, nascido em 2002 como Memorial da Liberdade para “a valorização e a
preservação das memórias da repressão e da resistência políticas no Brasil republicano,
especialmente no período da ditadura civil-militar”, conforme indica o site da instituição30.

Já mencionamos que o avanço dos movimentos sociais vêm produzindo tensão e


transformações nas práticas memorialísticas, no geral, e museológicas, no específico. Na
perspectiva de Cida Bento,

Os pactos narcísicos exigem a cumplicidade silenciosa dos membros do grupo racial


dominante e que sejam apagados e esquecidos os atos anti-humanitários que seus
antepassados praticaram. Devem reconstruir a história positivamente e assim
usufruir da herança, aumentar os ativos dela e transmiti-los para as próximas
gerações.

As instituições são constituidoras, regulamentadoras e transmissoras desses pactos,


que em sua essência são coletivos. Os movimentos sociais, igualmente marcados
pela coletividade, são ameaçadores, pois os identificam, denunciam, exigem
reparação.

É dessa forma que o debate sobre as desigualdades se encontra cada vez mais visível
[...] (2022, p. 121).

Depois do trauma e da violação de direitos humanos, no fim do século XX, a


museologia, a partir das demandas sociais, chega ao século XXI tendo que se abrir para as
identidades coletivas. Com a descentralização do objeto artefato, as experiências, a memória
oral e o tempo presente vão ganhando espaço cada vez mais significativo (e determinante,
como é o caso do próprio Museu da Língua Portuguesa) nas narrativas das instituições do tipo
museu.

Para nos limitarmos a alguns poucos exemplos no eixo Rio-São Paulo, presenciamos a
abertura de instituições e organizações que muito vêm contribuindo para o avanço das
agendas sociais no campo da memória: O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (SP),
inaugurado em 2004 para a valorização da história e da produção cultural (religiosa, artística,
científica, técnica, etc.) de africanos e afro-brasileiros31; o Museu de Favela (RJ), criado em
2008 por lideranças moradoras das favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo para a valorização

30
Institucional. Disponível em: https://memorialdaresistenciasp.org.br/institucional/. Acesso em 26 de dezembro
de 2022.
31
Museu Afro Brasil Emanoel Araújo - MAB: http://www.museuafrobrasil.org.br/o-museu/apresentacao
57

desses territórios e dos grupos que neles habitam. Pioneiro, é o primeiro museu deste tipo no
mundo e o primeiro ponto de memória a compor a Rede de Museologia Social do Rio de
Janeiro, umas das redes de memória, museus comunitários, ecomuseus, pontos de memória e
afins surgidas pelo Brasil desde meados da década passada32. O Museu da Diversidade Sexual
de São Paulo, 2012, primeiro de sua categoria na América Latina33; e mais recentemente,
ambos em São Paulo e abertos em 2022, o Museu das Culturas Indígenas, experiência
pioneira que, por meio da gestão compartilhada e do protagonismo indígena, atua pela
proteção, difusão e valorização do patrimônio cultural indígena em território urbano34; e o
Museu das Favelas que, ocupando o Palácio dos Campos Elísios, se propõe agente de
transformação social por meio da memória e da difusão de saberes dos grupos habitantes de
favelas35.

Neste movimento, as instituições tradicionais também vão sendo tensionadas a olhar


para a questão das identidades e da diversidade social, o que tem produzido, desde de pelo
menos 2015, uma série de exposições que, dividindo a opinião pública a depender de seu
caráter mais ou menos polêmico, vem transformando os museus em arena de discussão sobre
raça, gênero, classe e outros marcadores de diferença na sociedade brasileira.

Para não estender muito a questão, cabe mencionar as experiências dos dois museus de
arte mais conhecidos pelo público e mais visitados de São Paulo, segundo pesquisa
coordenada por João Leiva (2018): O Museu de Arte de São Paulo (MASP) e a Pinacoteca do
Estado de São Paulo (Pina)36.

No Masp, a tendência se percebe tímida ainda em 2015, mas ganha destaque em 2017
com duas exposições relacionadas a gênero, sexualidade e contestação e arrefece após 2019.
Os destaques são:

● História das Mulheres: Artistas até 1900 (2019 - Julia Bryan-Wilson,


curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea; Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de
histórias; e Mariana Leme);

32
Museu de Favela - MUF: https://www.museudefavela.org/.
33
Museu da Diversidade Sexual de São Paulo: https://museudadiversidadesexual.org.br/
34
Museu das Culturas Indígenas: https://museudasculturasindigenas.org.br/
35
Museu das Favelas: https://museudasfavelas.org.br/
36
Segundo o Instituto Brasileiro de Museus, São Paulo é o estado brasileiro com o maior número de museus
mapeados. São 517, o que corresponde a 17,5% do total nacional.
58

● Histórias Feministas: Artistas Depois de 2000 (2019 - curadoria de Isabella


Rjeille);
● Rubem Valentim: Construções Afro-Atlânticas (2018 - curadoria de Fernando
Oliva);
● História das Sexualidades (2017 - curadoria de Adriano Pedrosa, Camila
Bechelany, Lilia Schwarcz e Pablo León de la Barra);
● Guerrilla Girls: Gráfica, 1985 - 2017 (2017 - curadoria de Adriano Pedrosa e
Camila Bechelany);
● Histórias Feministas: Carla Zaccagnini (2015 - curadoria de Fernando Oliva).

Na Pina, menos expressivo, mas não menos relevante, o movimento é expresso mais
marcadamente entre 2018 e 2021, cujos destaques são:

● Enciclopédia Negra (2021 - com curadoria de Flávio Gomes e Lilia M.


Schwarcz e do artista Jaime Lauriano);

● Véxoa: Nós Sabemos (2020 - com curadoria de Naine Terena);


● Grada Kilomba: Desobediências Poéticas (2019 - com curadoria de Jochen
Volz e Valéria Piccoli);
● Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985 (2018 - com curadoria
de Cecilia Fajardo-Hill e de Andrea Giunta).

Outro fenômeno importante que denota a transformação do campo museal são as


curadorias colaborativas que, em diálogo com personalidades, lideranças e movimentos
sociais relacionados aos grupos menorizados, têm produzido exposições que, por seu caráter
estético e/ou discursivamente subversivo, vão se transformando em ícones de renovação.
Duas experiências recentes neste sentido foram a exposição Carolina Maria de Jesus: um
Brasil para os brasileiros, aberta ao público em 2022 no Instituto Moreira Salles, na unidade
de São Paulo, sob curadoria de Hélio Menezes e Raquel Barreto, com assistência de Luciara
Ribeiro, jovem pesquisadora, curadora e ativista do movimento negro, e a exposição do
Museu da Língua Portuguesa Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação, aberta também em
2022. O MLP conta com uma curadora especial, a Isa Grinspum Ferraz, responsável pela
curadoria da exposição de longa duração e por coordenar os processos curatoriais das
exposições temporárias. Para essa mostra, ela contou com artista indígena Daiara Tukano, que
respondeu pela curadoria; com Luciana Storto, linguista especialista no estudo de línguas
indígenas; da antropóloga Majoí Gongora na coordenação de pesquisa e assistência curatorial
59

e com “cerca de 50 profissionais indígenas – entre cineastas, pesquisadores, influenciadores


digitais e artistas visuais”, segundo o site da instituição.

A cada um desses exemplos cabe um cuidado análitico especial que não tem espaço no
presente estudo. Todavia, são importantes para demonstrar que mais do que representação, os
grupos sociais subalternizados ou minorizados vêm conquistando espaço efetivo de
participação nos processos discursivos institucionais, o que acirra as disputas narrativas em
torno da memória coletiva. Mas, ainda que estejamos presenciando um momento histórico
importante no que diz respeito às disputas pela memória, nas ruas e no interior das
instituições, sabemos que o patrimônio edificado (bens materiais imóveis) ainda funciona
como inscrição da classe dominante na cidade e que às classes subalternizadas têm cabido os
usos efêmeros de seus interiores e a contestação do uso do espaço público, contra a prática de
valorização da história e da memória dos grupos que, representando o projeto civilizatório que
nos constitui enquanto nação, produziram as violências que estruturam nosso complexo
sistema de desigualdades, a exemplo do já mencionado monumento ao bandeirante Manuel de
Borba Gato. Em outras palavras, as classes dominantes ainda têm os monumentos inscritos
na paisagem, enquanto os subalternizados têm apenas os próprios corpos como capital
simbólico que, vez ou outra e com muita tensão, vão ocupando seus interiores. A balança
ainda é bastante desequilibrada e sujeita a oscilações. Como casas de aluguel, o patrimônio
edificado está à disposição subalterna enquanto a relação se mantém política e
economicamente viável para ambas as partes, mas, em uma sociedade que se constituiu a
partir da supremacia masculina branca cis hétero cristã como a nossa, sabemos para que lado
a balança tende a pender.

A partir de exemplos emblemáticos, o fechamento da exposição “Queermuseu -


Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, que esteve em cartaz no Santander Cultural, em
Porto Alegre; os protestos contra a exposição A história da Sexualidade, no Masp; o
fechamento do Museu da Diversidade Sexual de São Paulo e da perseguição sofrida pelo
Museu da Língua Portuguesa quando de sua tentativa incipiente de uso de linguagem neutra
nas redes sociais, podemos inferir como a narrativa subalterna, para se manter no interior das
instituições culturais, depende da autorização dos grupos hegemônicos37 que, por sua vez,
ainda não estão plenamente dispostos a discutir diversidade sexual e de gênero.

37
Ou, nas palavras de Marcelo Nascimento Bernardo da Cunha, os discursos nas instituições de salvaguarda
patrimonial se afirmam “na medida dos interesses de grupos detentores do poder de afirmação e manutenção de
referenciais patrimoniais oficiais”(2008, p. 164).
60

3.3 Gênero como lugar perigoso

Em setembro de 2017, a exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte


Brasileira, em cartaz no Santander Cultural, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, foi fechada
após protestos conservadores que tiveram o MBL (Movimento Brasileiro Livre) como
protagonista.

Conforme informa suas redes sociais, o MBL é um movimento social nascido em


2014, que tem o Estado de São Paulo como sede, mas está presente em outros estados da
federação se propondo a promover o liberalismo como filosofia política. Dentre as bandeiras
políticas do MBL estão “o fim do voto obrigatório”; “o fim dos monopólios estatais e
privatização de empresas públicas e sociedades de economia mista” e o “fim de toda forma de
discriminação oficial instituída por meio de cotas raciais ou de gênero”38 . O discurso
conservador do MBL encontrou terreno fértil na crise política que culminou no impeachment
da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, processo do qual foi apoiador e que o alçou à
notória visibilidade. No período, o movimento conquistou crescente apoio popular (expresso
principalmente nas redes sociais) e espaço midiático, quando passaram a protagonizar uma
série de ações em defesa da sua agenda conservadora e liberal, muitas delas associadas a
grupos de fundamentalistas religiosos, como foi o caso da série de protestos que resultou no
fechamento da mostra.

É importante lembrar que o projeto Escola sem Partido, PL 7180/14, do deputado


Erivelton Santana, do PSC da Bahia, defendendo que “os valores de ordem familiar têm
precedência sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e
religiosa” (Agência Câmara de Notícias)39 esteve na agenda do MBL que, inclusive, puxou
marchas em sua promoção em todo o país. Embora as marchas não tenham alcançado o
sucesso almejado e notícias apontam para o seu fiasco de público, é inegável que o MBL e o
Escola Sem Partido tiveram, à época, apoio popular suficiente para agravar o controle e a
vigilância em torno dos espaços de debate sobre gênero e sexualidade.

Segundo Heloísa Mendonça, para o canal de notícias El País,

A mostra, com curadoria de Gaudêncio Fidelis, reunia 270 trabalhos de 85 artistas


que abordavam a temática LGBT, questões de gênero e de diversidade sexual. As
obras - que percorrem o período histórico de meados do século XX até os dias de

38
Todo o conteúdo está disponível em: https://mbl.org.br/valores-principios. Último acesso realizado em: 17 de
abril de 2023.
39
Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/441927-projeto-obriga-escolas-a-respeitar-conviccoes-familiares-sobre-sexo-
e-religiao/. Acesso em 07 de janeiro de 2023.
61

hoje - são assinadas por grandes nomes como Adriana Varejão, Cândido Portinari,
Fernando Baril, Hudinilson Jr., Lygia Clark, Leonilson e Yuri Firmesa
(MENDONÇA, 2017).

Ainda segundo Mendonça, na mesma reportagem,

Diante da forte repercussão repentina, o Santander esclareceu, por meio de nota, em


um primeiro momento, que algumas imagens da mostra poderiam provocar um
sentimento contrário daquilo que discutem. No entanto, elas tinham sido criadas
"justamente para nos fazer refletir sobre os desafios que devemos enfrentar em
relação a questões de gênero, diversidade, violência entre outros". Dois dias depois,
entretanto, o banco voltou atrás e cedeu às pressões dos críticos com medo de um
forte boicote contra o Santander e de manchar a imagem da instituição financeira
(Idem).

É consenso entre os canais de notícias que acompanharam toda a contenda40, e fica


evidente pelo material de protesto dos grupos conservadores a circular pelas redes sociais, que
três foram as obras que serviram para a sustentação do argumento de que a mostra blasfemava
símbolos religiosos e fazia apologia à zoologia e à pedofilia. Cruzando Jesus Cristo Deusa
Schiva, de Fernando Baril, obra que sincretiza, iconograficamente, a crença hinduísta com a
cristã, representando Cristo com sete pares de braços e mão e três pares de pernas e pés, além
de trazer elementos da cultura pop. Cena de interior II, da artista Adriana Varejão, que retrata
cenas de práticas sexuais, com nítida influência estética das gravuras eróticas japonesas
produzidas entre os séculos XVI e XIX. E o conjunto Criança Viada, de Bia Leite.

Sobre a obra de Varejão, Eduardo Cristiano Hass da Silva e Bárbara Virgínia Groff da
Silva dizem que,

Nesse quadro é possível perceber nove pessoas, entre homens e mulheres, de


diferentes raças, dentro de um espaço fechado, desfrutando de diferentes jogos
sexuais. Há relações heterossexuais e homossexuais, bem como há um par de
sujeitos que estão se relacionando com um animal quadrúpede (HASS DA SILVA;
SILVA, 2017, p. 254).

Segundo a própria artista, em trecho de entrevista que consta na matéria supracitada de


Heloísa Mendonça para o El País, "a pintura é uma compilação de práticas sexuais existentes,
algumas históricas (como as Chungas, clássicas imagens eróticas da arte popular japonesa) e
outras baseadas em narrativas literárias ou coletadas em viagens pelo Brasil. O trabalho não
visa julgar essas práticas" (MENDONÇA, Ibidem).

Conforme apontado por Hass da Silva e Silva, a obra esteve exposta anteriormente na
exposição História às Margens, em cartaz no MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo)

40
A título de exemplificação, tomamos como referência os canais de notícia El País (disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/11/politica/1505164425_555164.html); BBC News Brasil (Disponível
em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45191250) e Veja (disponível em:
https://veja.abril.com.br/coluna/rio-grande-do-sul/veja-imagens-da-exposicao-cancelada-pelo-santander-no-rs/).
62

entre 04 de setembro e 16 de dezembro de 2012 que, com curadoria de Adriano Pedroso,


apresentou um panorama da obra de Varejão. Na ocasião, não houve polêmica e a suposta
relação entre a pintura e a apologia a práticas sexuais criminosas não tornou-se assunto
midiático. Na perspectiva dos autores, nesta mostra

A peça “Cena de Interior II” encontra-se precedida pela obra “Carne à Moda de
Franz Post” e sucedida pela obra “Parede com inscrições à la Fontana”.
Considerando o contexto da exposição “História às Margens”, a narrativa construída
não atenta para o caráter sexual da obra. Dessa forma, os discursos produzidos pela
mídia não produzem os mesmos ataques que foram produzidos à exposição
“Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” (HASS DA SILVA;
SILVA, Ibidem).

E por fim, o conjunto Criança Viada, composto de duas pinturas de Bia Leite, Travesti
de lambada e Deusa das águas, que representam cada qual a imagem de uma criança com a
inscrição “Criança viada travesti da lambada” e “Criança viada deusa das águas”
sobrepondo-a. Como nos lembra Paulo Lannes, em matéria para o site de notícias Metrópoles,
Bia nasceu no Ceará, vive no Distrito Federal desde 2010, se graduou em artes plásticas pela
Universidade de Brasília (UnB) e é figura importante na cena artística local. Segundo o autor,
o conjunto “foi apresentado em diversas exposições de Brasília e chegou a ganhar o prêmio de
2º lugar na categoria ‘Edital LGTB: Gênero e Identidade’, pela galeria paulista Transarte”
(LANNES, 2017).

Sobre a obra, Mário Tavares, Curador da Bienal do Mercosul, e autor de dois textos no
catálogo da exposição, em entrevista que compõem a matéria de Paulo Lannes, declara que

o bullying na escola, a opressão na rua e até mesmo na família é uma realidade e o


trabalho da Bia Leite faz uma subversão com relação a essa realidade. Apresenta
uma visão positiva das crianças que são vistas como diferentes. Não tem nada de
pedofilia. É um apelo a que todos tenham, na diversidade, o direito a ser uma criança
feliz (IDEM).

As duas telas de Bia Leite chegaram a ser expostas no XIII Seminário LGBT do
Congresso Nacional: O próximo pode ser você!, na Câmara dos Deputados, em Brasília, em
2016. Proposto pelos deputados Jean Wyllys (Psol-RJ), Luiza Erundina (Psol-SP), Chico
Alencar (Psol-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Luizianne Lins (PT-CE), Alice Portugal
(PCdoB-BA) e Glauber Braga (Psol-RJ) e promovido comissões de Direitos Humanos e
Minorias; de Legislação Participativa; de Educação; e de Cultura41, o evento chegou a
incomodar a bancada evangélica e foi ameaçado por Eduardo Cunha, então presidente da

41
Segundo informações disponíveis em:
https://www.camara.leg.br/noticias/495791-comissoes-promovem-o-13o-seminario-lgbt-do-congresso-nacional/.
Acesso em 08 de janeiro de 2023.
63

Câmara dos Deputados, que gerou dificuldades para a edição anterior,42 mas transcorreu sem
maiores percalços.

Por fim, conforme relembrou Júlia Dias Carneiro (2018), depois de Porto Alegre, a
expectativa era que a Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira tivesse
itinerado ao Rio de Janeiro, onde seria exposta no Museu de Arte do Rio (MAR), o que foi
impedido pelo próprio prefeito da cidade à época, Marcelo Crivella, que reforçou o coro de
que a mostra fazia apologia à pedofilia e à zoofilia. Todavia, a exposição consegue chegar ao
público do Rio de Janeiro quase um ano depois, em agosto de 2018, na Escola de Artes
Visuais (EAV) do Parque Lage. Ainda segundo Carneiro,

a remontagem da exposição na EAV foi possibilitada pela maior campanha de


financiamento coletivo do país, idealizada pelo diretor da instituição, Fabio
Szwarcwald. O crowdfunding captou mais de R$ 1 milhão de quase 1,7 mil pessoas
e contou com a venda de obras de arte doadas por 70 artistas e show de Caetano
Veloso para levantar recursos (Idem).

O ano de 2017 foi marcado pela vigilância moral desses grupos conservadores
capitaneados pelo MBL aos museus e demais espaços públicos de expressão artística como o
objetivo evidente de defender, formar opinião pública a favor e aprovar o projeto Escola Sem
Partido. A nudez e a sexualidade foram os principais alvos de ataques em pretenso combate à
corrupção política e moral.

Para nos manter no campo dos museus, vale mencionar os protestos contra o artista
Wagner Schwartz e sua performance La Bête, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em
setembro, quando uma cena, que se propunha a conduzir o público à reflexão sobre os limites
do corpo por meio da interatividade com um corpo humano nu, é transfomada nessa disputa
narrativa em arte pedófila a partir do momento que uma criança interage com o artista. Por
fim, a tensão pública em torno da abertura da exposição Histórias da Sexualidade, no Museu
de Arte de São Paulo (MASP), que vinha sendo preparada desde 2015 e que só foi aberta em
outubro de 2017 após uma série de protestos da classe artística e defensores da cultura e da
livre expressão em defesa do direito do Museu de abrir a mostra, o que foi feito, a princípio,

42
As dificuldades impostas pela bancada evangélica para a realização do “XII Seminário LGBT do Congresso
Nacional” foram denunciadas por deputados do PSOL e foram veiculadas pelos canais de mídia. A título de
exemplo, tomamos como referência: O Congresso em Foco (Disponível em:
https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/jean-wyllys-acusa-cunha-de-impedir-divulgacao-de
-seminario-lgbt-na-camara/); O Globo (Disponível em:
https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/cartaz-da-camara-sobre-seminario-lgbt-gera-polemica-566928.htm
l) e Correio Braziliense (Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2015/05/20/interna_politica,483845/daniela-mercury-
e-esposa-participam-de-seminario-lgbt-na-camara.shtml).
64

restringindo o acesso de menores de 18 anos, mesmo se acompanhados por pessoas


responsáveis maiores de idade. A medida, inédita na história da instituição, foi revista,
conforme demonstra postagem do perfil do Instagram no MASP em 7 de novembro de 2017,
cujo texto segue transcrito abaixo:

Segundo a orientação estabelecida pela nota técnica da Procuradoria Federal dos


Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal nº 11/2017/PFDC/MPF,
publicada em 6/11/2017 (link na bio), o MASP revisou a classificação etária de 18
anos para a exposição Histórias da Sexualidade, que deixa de ser restritiva e passa a
ser indicativa. Desse modo, menores de 18 anos poderão visitar a exposição desde
que acompanhados por seus pais ou responsáveis43.

Ainda que mobilizando e dividindo a opinião pública, a exposição ficou em cartaz por
todo o período previsto, entre 19 de outubro de 2017 e 14 de fevereiro de 2018, e contabilizou
alguns recordes. Segundo Laura Mattos (2018), em matéria para a Folha de São Paulo, “com a
mostra que tanto barulho fez, o Masp bateu dois recordes: a maior visitação diária (6.471 no
feriado de 25/1) e o melhor mês de janeiro de sua história (53 mil)”.

O caso mais recente a ganhar dimensão midiática44 foi o fechamento do Museu da


Diversidade Sexual do Estado de São Paulo devido a suspensão dos repasses mensais do
aporte financeiro que garantiria a manutenção do espaço. Após decisão judicial tomada a
partir de ação movida pelo deputado estadual Gil Diniz (PL), apoiador do presidente Jair
Bolsonaro, conhecido como “Carteiro Reaça”, o Museu fechou suas portas em 30 de abril de
2022, ano em que completou dez anos de existência.

Diniz questionou o contrato de gestão entre o Governo do Estado e o Instituto Odeon,


associação privada de caráter cultural, sem fins lucrativos, gestora do equipamento cultural, e
apontou possíveis irregularidades cometidas pelo Instituto quando de sua administração do
Theatro Municipal de São Paulo, cujo contrato foi rompido por reprovação das contas.
Segundo parecer do Ministério Público Público do Estado de São Paulo, assinado pela
Procuradora de Justiça Deborah Pierri, que reverteu a situação e garantiu que o equipamento
fosse devolvido à sociedade no início do mês de setembro de 2022, “não houve qualquer

43
Disponível em:
https://www.instagram.com/p/BbM-dqLlksz/?utm_source=ig_embed&ig_rid=657e15af-df12-4385-9727-d89c67
deebb7. Acesso em 09 de janeiro de 2023.
44
Infelizmente, mapear os ataques às experiências de expressão artísticas ou memoriais relacionadas a gênero e
sexualidade é uma tarefa ingrata e, aparentemente, sem fim. Para dar apenas mais um exemplo, segundo notícias
veiculadas em canais regionais, e aqui mencionaremos o veículo de notícias Estadão, de São Paulo, em 22 de
novembro de 2022, houve uma invasão no Centro Cultural da Diversidade, localizado na zona sul de São Paulo,
quando foram danificadas seis obras de artistas participantes da coletiva Minh’alma Cativa, que abriria 4 dias
depois, em 26 de novembro. Mais informações estão disponíveis em:
https://www.estadao.com.br/alias/exposicao-no-centro-cultural-da-diversidade-e-vandalizada-sete-obras-foram-p
erfuradas/. Acesso em 14 de janeiro de 2023.
65

penalidade administrativa ou judicial que tirasse do Instituto Odeon idoneidade ou capacidade


para a gestão do Museu da Diversidade Sexual” (2022, p. 02). Ainda, segundo o mesmo
documento,

É preciso considerar a presunção de legitimidade dos atos administrativos, assim


como o mérito administrativo na escolha feita pelo Executivo em investir de modo
direto no Museu e de modo indireto na cultura da diversidade.

Isso é da seara da administração pública que não pode ser substituída pelo Poder
Judiciário salvo se e quando houver sinais nítidos de ilegalidade e de lesividade.

Ora, se o juízo agravado considera questionável a escolha é preciso que haja tempo
para o debate processual. Em nosso sentir, a opção de suspender o repasse configura
sim uma subversão à lógica do direito administrativo.

Não há senão afirmativas unilaterais do autor popular de que a escolha do agravante


foi indevida ou lesiva à moralidade pública.

Efetivamente é nítida a carga político ideológica da ação, que não se veste bem no
caso concreto.

As escolhas da Administração Pública devem ser respeitadas salvo motivo que


descaracterizem os deveres de probidade, moralidade, legalidade dentre outros
(Ibidem, p. 08-09).

E neste sentido, o autor da ação não fez questão alguma de ocultar que a sua
motivação era de caráter moral e ideológico. Em respeito ao assunto, chegou a publicar em
sua conta do Twitter, rede social no formato de microblog, mensagens como: “40 MILHÕES
do povo paulista para bancar a ampliação do Museu da Diversidade Sexual, que foi criado em
2012 pelo Tucano Geraldo Alckmin!”. Cuja qual completa com: “Entrei com uma ação
popular na justiça impedindo a transferência desses 40 MILHÕES e um projeto acabando
definitivamente com o museu!”. Outra postagem no microblog dizia: "Entrei com Projeto de
Decreto Legislativo para extinguir esse ‘Museu’ e com uma Ação Popular na Justiça para que
os 40 milhões anunciados por Doria não sejam utilizados na ampliação dessa peça de
militância. Não vamos nos calar”. Mas, a postagem que mais deixou evidente a sua motivação
foi publicada após o fechamento do Museu e, em tom comemorativo, dizia: “Não terá mostra
Drag no Museu LGBT”. Seguida de “o Carteiro, Gil Diniz, fechou o museu LGBT!”. As
mensagens foram apagadas do perfil de Diniz, mas foram registradas por canais de imprensa
por meio de prints ou transcrição do conteúdo e seguem disponíveis na rede mundial de
computadores45.

45
Para citar apenas dois exemplos, destacamos material publicada pela Agência de Notícias da AIDS, disponível
em:
https://agenciaaids.com.br/noticia/museu-da-diversidade-sexual-em-sao-paulo-e-fechado-por-tempo-indetermina
do/. E matéria da Veja São Paulo, disponível em:
https://veja.abril.com.br/comportamento/decisao-judicial-impede-aberturade-mostra-sobre-drags-em-sao-paulo/.
Ambas acessadas em 15 de janeiro de 2023.
66

Em postagens ainda disponíveis na rede social Instagram, pode-se ler no perfil do


deputado: “Fechei o museu LGBT segundo a mídia! O que vocês acham? 30 milhões para
promover uma entidade com suspeitas aqui em São Paulo? Contem sempre comigo pra barrar
esse absurdo!”46 e “É um absurdo que, em plena pandemia, um ‘museu’ com número ínfimo
de visitantes e que não passa de uma saleta de exposição dentro de uma estação de metrô
receba R$30 milhões, enquanto o Governo do Estado não contribuiu com um centavo sequer
para a reforma do Museu do Ipiranga.”47

Essas e outras mensagens publicadas pelo deputado que se auto reconhece como
Carteiro Reaça e se identifica nessas redes sociais a partir do nickname @carteiroreaca, vão
deixando à mostra que as questões administrativas e legais foram instrumentalizadas em ações
que tiveram por objetivo inviabilizar a manutenção de iniciativas a favor da promoção da
dignidade de pessoas do grupo LGBTQIA+. A última postagem mencionada acima deixa
evidente que o problema não é o montante de recurso alocado em equipamentos culturais, mas
o recurso ter sido alocado em equipamento cujo objeto é a diversidade sexual e de gênero.

Embora Diniz defenda que museus considerados tradicionais mereçam mais atenção
do Estado de São Paulo, conforme aponta a mensagem supracitada, e, consta no parecer do
Ministério Público do Estado de São Paulo, o Museu da Língua Portuguesa, usado por ele
como exemplo nesses documentos, não deixou de sofrer perseguição da mesma ordem.

A querela se deu em torno do uso da linguagem neutra, ou, inclusiva. Tal debate tem
tomado espaço nas mídias, e o MLP se tornou palco importante para a questão desde que, no
dia 12 de julho de 2021, às vésperas da sua reabertura, publicou no Twitter uma mensagem
que apresentava sua nova marca e convidava o público a visitar as novas instalações. A
postagem dizia: “Nesta nova fase do MLP, a vírgula – uma pausa ligeira, respiro – representa
o recomeço de um espaço aberto à reflexão, inclusão e um chamamento para todas, todos e
todes os falantes, ou não, do nosso idioma: venham, voltamos!”48. Após alguns comentários
de desaprovação à postura do Museu, no dia 23 de julho, algum usuário marca Mário Frias,
então secretário especial da Cultura, numa das mensagens. A respeito, ele se manifestou
compartilhando em sua própria conta no microblog o seguinte texto:

O Governo Federal investiu 56 milhões de reais nas obras do Museu da Língua


Portuguesa para preservarmos o nosso patrimônio cultural, que depende da
46
Disponível em: https://www.instagram.com/p/Cc9WL9Qshjl/. Acesso em 15 de janeiro de 2023.
47
Disponível em: https://www.instagram.com/p/CcQeyAerf7n/. Acesso em 15 de janeiro de 2023.
48
Disponível em: https://twitter.com/MuseudaLingua/status/1414704318800875520. Acesso em 16 de janeiro de
2023.
67

preservação da nossa língua. Não aceitarei que esse investimento sirva para que
agentes públicos brinquem de revolução. Tomarei medidas para impedir que usem o
dinheiro público federal para suas piruetas ideológicas. Se o governo paulista se
comporta como militante, vandalizando nossa cultura, não o fará com verba federal
(FRIAS, 2021)

Na mesma data, a postagem - ou tweet, como são chamadas as mensagens nessa rede
social - contou ainda com comentário em tom de ameaça do então secretário. A mensagem
dizia: “Tomarei medidas para impedir que usem o dinheiro público federal para suas piruetas
ideológicas. Se o governo paulista se comporta como militante, vandalizando nossa cultura,
não o fará com verba federal” (Idem). Isso foi o suficiente para produzir uma onda de
perseguição digital que ocupou todas as redes sociais do Museu e parte significativa da mídia.

A maioria esmagadora dos comentários têm o tom de crítica e parte de argumentos


conservadores, tanto no que diz respeito ao uso da língua portuguesa (sob alegação de que a
palavra “todes” não existe no idioma brasileiro), quanto à diversidade de expressões sexuais e
de gênero, denunciando que o museu tem atuado como ferramenta de aparelhamento de um
suposto estado ideológico que tem por objetivo destruir os pilares que sustentam a sociedade.
Para resumir o tom das mensagens, vale registrar ao menos um exemplo. A autora se
apresenta, nesta rede, como Alana Passos (@AlanaPassosRJ) e em 24 de julho de 2021
comentou: “Lamentável quererem colocar a ideologia acima do idioma. A ciência diz que
MULHER é XX e HOMEM é XY, o dia que a ciência descobrir um terceiro gênero, podemos
debater esse absurdo de ‘todes’”.

Calcular a métrica de alcance de uma postagem nas redes sociais demanda de uma
matemática complexa, sobretudo pelo fato de que essas redes são dinâmicas, o que significa
dizer que uma postagem de dois anos atrás continua acumulando engajamento. Neste sentido,
o efeito acumulativo dificulta o cálculo que definiria que postagem produziu maior alcance,
sobretudo no caso do Museu da Língua, que esteve fechado e com pouca presença virtual
antes do processo de reabertura. O histórico de relacionamento com o Museu e suas redes
sociais está em fase inicial de construção, mas, para se ter ideia do tamanho do escarcéu,
adotamos como medida de comparação o número de impressões (o número de vezes que o
usuário/ seguidor visualizou os tweets do perfil do Museu) em julho de 2021 e em julho de
2022. Em julho de 2021 o número foi de um milhão, quinhentos e setenta e sete mil,
oitocentos e cinquenta e três impressões. Enquanto que em julho de 2022, o número não
passou de 23 mil. O mês de julho de 2021 conferiu o maior engajamento do Museu nas redes
68

sociais. Até o dia em que essas linhas foram escritas, a postagem tinha atingido as marcas de
207 retweets, 1103 quote tweets, 1777 likes e 3,231 comments.

Embora nascida nas redes sociais, a questão ganhou a imprensa imediatamente após a
manifestação de Mário Frias.

O mês de julho marca o retorno do Museu da Língua Portuguesa à imprensa. Com data
confirmada, a reabertura do Museu em 31 de julho, reconstruído após o incêndio de dezembro
de 2015, é o assunto que fez com que, durante quase todo o mês de julho, a instituição
voltasse a ocupar espaço em canais de notícias como a CBN, ESPN, UOL Notícias, Folha de
S. Paulo, Band News, Diário Carioca, Veja, Conexão Capixaba, dentre outros. No dia 24, o
cenário mudou e o destaque transformou-se numa aguda crise de comunicação.

O primeiro canal de notícias a abordar a questão foi o Correio 24 horas sob o título
Museu da Lingua Portuguesa usa 'todes' em post e provoca polêmica. Na sessão Variedades,
página sete, sem autoria, o jornal diário que circula no estado da Bahia de forma impressa,
discretamente apresenta a polêmica, finalizando com “O Museu recebeu críticas e elogios e
em nota afirmou se propor ‘a ser um espaço para a discussão do idioma, suas variações e
mudanças’” (Correio 24 horas, 2021). Essa foi a única mídia a tratar a questão no dia 24 de
julho. No dia 25, a polêmica se instaura na mídia com a abordagem de cinquenta e três canais
de notícias, conforme relação que segue anexa a esta pesquisa.

Após esse boom, os dias seguintes foram menos intensos e aos poucos a reabertura
volta a ocupar a centralidade das notícias que se referem ao Museu. Um mês após a
publicação do Museu no Twitter, no dia 13 de agosto, apenas dois canais informativos dão
atenção ao caso: o blog Um de Tudo que, com uma perspectiva progressista, publica o texto A
falsa neutralidade de quem aponta dedos para a linguagem neutra, assinado pelo fotógrafo,
escritor, poeta e cineastas Rafael Assis, que inclusive, abre o texto nos lembrando que “não
faz muito tempo, mas é bom lembrar, que uma questão do ENEM virou um tema de absurda
repercussão quando o próprio presidente da república disse que iria interferir na avaliação
para evitar que nela houvesse a famigerada ‘ideologia de gênero’” (2021), fazendo menção à
polvorosa dos aliados de Bolsonaro entorno da questão do Exame Nacional do Ensino Médio
que fazia referência ao pajubá, dialeto secreto da comunidade LQBTQI+, sobretudo da
parcela trans; e, A Gazeta do Povo, jornal sediado em Curitiba com circulação impressa e
digital, que publicou em canal do Youtube o vídeo Museu da Língua Portuguesa erra ao
69

adotar linguagem neutra49. A chamada do vídeo deixa evidente qual o seu teor ao dizer que se
trata de

Entrevista com a professora Cíntia Chagas, especialista em gramática, explicando


por que o Museu da Língua Portuguesa cometeu um erro grosseiro ao anunciar que
reabriria para "todos, todas e todes". O dialeto, adotado por parte da comunidade
LGBT, não existe e não faz parte da língua portuguesa. "Linguagem neutra é uma
aberração", segundo a professora. Entenda por quê (ibd).

Cristina Gael, colunista da Gazeta, abre a entrevista dizendo que a reabertura do


Museu é uma excelente notícia para os amantes da língua portuguesa, que vem acompanhada
de um grande problema, “uma abertura para a imposição da linguagem neutra, que nada mais
é do que isso: Uma imposição. Não é uma evolução natural da língua como alguns tentam
fazer parecer”, se referindo à postagem (ibd).

Até a data em que essas linhas foram escritas, o vídeo já acumulou 79 mil
visualizações e mil, oitocentos e quarenta e sete comentários, a maioria em tom de apoio à
pauta.

Todavia, dois pontos precisam ser ressaltados. Primeiro, ainda que o tema esfrie, em
termos de atenção da mídia, cada vez que o assunto reaparece, a experiência do Museu é
resgatada e o coloca de volta ao centro do debate. A exemplo de quando, no início de outubro
de 2021, a Rede Globo de Televisão anunciou que a novela que começaria a ser transmitida
no início de 2022, “Cara e Coragem”, faria uso de linguagem neutra. Nesta data, o Museu foi
vinculado à questão em 19 canais de notícias, conforme dados extraídos pela plataforma
Knewin Monitoring50.

O segundo ponto é que mais do que uma crise de imagens, a querela produziu efeitos
da ordem material ocasionadas por mudanças na Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à
Cultura).

A partir de um decreto que, segundo Mônica Bergamo, não passou pelos técnicos da
subpasta de Fomento e Incentivo à Cultura, mudanças na lei têm produzido impactos nocivos
graves à saúde das instituições culturais. Ainda em relação à disputa entre o Governo Federal
e o do Estado de São Paulo em torno do protagonismo na entrega dos equipamento culturais à
sociedade, já mencionado anteriormente nesta pesquisa, no artigo intitulado Cabo de Guerra,
a colunista aponta que “um dos parágrafos que foi inserido determina que a inauguração, a

49
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=385TYLSUEZg&t=38s. Acesso em 19 de janeiro de 2023.
50
Plataforma de monitoramento de mídias, online, impresso, rádio e TV.
70

divulgação e a promoção dos projetos que utilizaram recursos da Rouanet por parte de estados
e municípios só poderão ocorrer após a autorização do governo federal” (BERGAMO, 2021).
O que implica em perda da autonomia e do protagonismo da Comissão Nacional de Incentivo
à Cultura (CNIC), e faz com que os projetos propostos sejam analisados a partir da orientação
ideológica do governo federal e não (ou não apenas) dos critérios técnicos por ela
estabelecidos.

Este foi um dos impactos, mas não é de longe o mais grave. Sobre o discurso de
moralização das negociações de incentivo à cultura, as mudanças colocaram as instituições
culturais numa situação de grave insegurança financeira.

Sob o título Maiores museus brasileiros estão sendo asfixiados por Bolsonaro, Jotabê
Medeiros publica no portal ARTE!Brasileiros artigo que descreve a situação de forma
elucidativa. Na perspectiva dele, o Governo Federal, por meio da via econômica, instituiu
processo que tinha por objetivo fustigar e asfixiar museus consagrados e de notória
importância para a sociedade. Se referindo ao final do ano de 2021 e início de 2022, o crítico
cultural e repórter de jornalismo cultural denunciou que,

nos últimos meses do ano passado e no início deste, a Secretaria Especial de Cultura
do governo arquivou os planos anuais de 2022 de diversas instituições museológicas
do país e deixou às suas gestões apenas a opção de estender os planos anuais de
2021 com uma complementação de incentivo (um mecanismo que chamam de
“expandido”).

[...]

Além de fixar um teto esdrúxulo para o pagamento de cachês de artistas (R$ 3 mil
reais), a medida impactou decisivamente nos museus, já que traz novas disposições
para os Planos Anuais (que possibilitam que a museologia faça o planejamento de
suas atividades, que requerem negociações adiantadas com outros museus).

A primeira mudança que cria preocupação é que todas as autorizações para captação
serão concentradas no próprio Secretário Especial de Cultura, o que dá um papel
subalterno a todos os estudos técnicos prévios (MEDEIROS, 2022).

Dentre os museus mais prejudicados, segundo Medeiros, então a Pinacoteca de São


Paulo, museu eleito como o melhor do Brasil e da América Latina em 2016 pela Traveler’s
Choice Museum, que capta recursos incentivados da ordem de 18 milhões de reais, e teve que
funcionar em 2022 com apenas 6 milhões; O Museu de Arte de São Paulo, o MASP, o mais
importante da América do Sul e um dos museus vitais do Hemisfério Sul, que teve aprovado,
para 2022, apenas uma suplementação de 8 dos 42 milhões de reais que costuma captar de
incentivo fiscal anualmente; e as duas instituições administradas pelo ID Brasil, o Museu do
Futebol e o Museu da Língua Portuguesa, que tiveram seus projetos transformados em planos
71

bianuais, o que os obrigou “a enfrentar o ano de 2022 não com o valor estimado pelas suas
direções, mas com uma ‘complementação’ de arbítrio exclusivo do governo” (Idem).

A lista de Jotabê Medeiros, não por coincidência, é a mesma apresentada acima com
as instituições que têm trabalhado temas relacionados à diversidade sexual e de gênero. No
caso do Museu do Futebol, aparentemente, a penalização se relaciona ao fato de sua
implantação e gestão serem de responsabilidade das mesmas organizações mantenedoras do
Museu da Língua Portuguesa.

Importante apontar ainda que, não apenas os dois museus, mas também a Fundação
Roberto Marinho, responsável pela concepção de ambos, teve que lidar com a perseguição
pela via financeira, ainda em julho de 2021. Conforme o Portal Imprensa: Jornalismo e
Comunicação da Web, em matéria intitulada Em possível revide, governo edita portaria que
prejudica Fundação Roberto Marinho, seria provável que o governo Bolsonaro tivesse
arquitetado, como mais um ato de retaliação “pela via do cerceamento econômico, ao Grupo
Globo, considerado inimigo da pátria pelos fanáticos apoiadores do presidente” (Portal
Imprensa, 2021).

Ainda segundo o portal, o secretário especial da Cultura, Mário Frias, teria celebrado a
decisão, feito críticas à Fundação Roberto Marinho e alertado que as auditorias dos projetos
da Lei Rouanet eram prioridade de sua gestão. Lembra ainda que o secretário criticou o
Museu da Língua Portuguesa, implantado pela Fundação Roberto Marinho, condenando o uso
do pronome neutro "todes" feito pela instituição em suas redes sociais e que, nesta ocasião,
teria anunciado que tomaria medidas para impedir o uso do dinheiro público em ações
ideológicas, conforme mencionado anteriormente neste estudo (Idem). Como pudemos aferir,
as ameaças se concretizaram e o Museu da Língua Portuguesa não foi o único afetado.

Na contramão dos que defendem o purismo linguístico e acreditam que é preciso


proteger e preservar o idioma a todo custo, o Museu da Língua Portuguesa apresenta a língua
a partir da sua característica de mutabilidade, que a coloca na condição de constante
transformação, e traz, em suas exposições, parte da trajetória histórica que trouxe o português
do Brasil à configuração gramatical e às características linguísticas que conhecemos hoje.
Nessa perspectiva, os debates sobre questões de identidade e representatividade a partir do
uso da linguagem está presente no Museu quando trata das interferências produzidas pelos
encontros com as línguas imigrantes, as línguas indígenas, do próprio processo de colonização
(do qual a escravização de africanos é parte) e não só no que diz respeito à linguagem neutra -
72

na qual a palavra “todes” tem estabelecido relação metonímica nessa querela - que aparece na
exposição de longa duração na perspectiva da linguagem inclusiva, já que é disso que se trata.

O que habituamos chamar de linguagem neutra é uma proposta, que parte dos
movimentos sociais, de superação do caráter sexista e elitista da língua por meio de um
conjunto de operações linguísticas de neutralização de gênero gramatical a partir da demanda
e proposição de grupos menorizados. O resultado seria uma linguagem inclusiva para pessoas
transexuais, travestis, não-binárias, intersexo ou de qualquer outra variedade de gênero que
não se sinta abrangida pelo uso do masculino genérico e dominante. Uma vez que a estrutura
gramatical do português expressa e evidencia hierarquias sociais, as modificações propostas
beneficiariam também as mulheres cisgênero.

Conforme aponta Veridiana Souza Guimarães, se referindo à fala de Andrei Ferreira de


Carvalho Pinheiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao resenhar o Simpósio
“Língua, gramática, gênero e inclusão”, da Associação Brasileira de Linguística, que ocorreu
em 14 de julho de 2020,

Pode-mos citar aqui a diferença entre boi/vaca, galo/galinha, por exemplo, que
relaciona a figura feminina a um significado negativo e a masculina a um significado
positivo (que enaltece a sua masculinidade). Em sua fala final, o pesquisador
afirmou que os usos de “puto” e “puta” evidenciam que, pela língua, mantemos uma
hierarquia binária e sexista de gênero (GUIMARÃES, 2020, p.04).

Se “a linguagem é um mecanismo que nos permite interagir com o mundo ao nosso


redor e interpretar a realidade em que vivemos” (PINHEIRO, 2020, p.15), faz sentido que ela
permita que se contemple (e, portanto, legitime a existência) essas identidades de forma
equânime. Ou, como questiona Larissa Roberta Rosa Pinheiro,

Se, como disse Petter (2007, p. 11), a linguagem é a “expressão de emoções, ideias,
propósitos e é orientada pela visão de mundo, pelas injunções da realidade social,
histórica e cultural de seu falante”, como a gramática normativa pode acolher
aqueles que estão à margem do espectro de gênero? Como as emoções, as ideias e os
propósitos de uma pessoa não binária (bigênera, multigênera, pangênera etc) podem
ser representados em uma linguagem que marca o gênero em “masculino e
feminino”, “todas e todos”, “senhoras e senhores”?" (Idem).

A querela sobre o posicionamento do Museu da Língua Portuguesa coloca luz sobre a


questão que, conforme a realização do simpósio e os debates nas redes sociais demonstram,
está nos mais diversos espaços sociais, inclusive no meio acadêmico. Ainda nas palavras de
Pinheiro, “é desse cenário que surgem estratégias de neutralização pronominal, como ‘hen’,
no sueco, ‘ze’, no inglês, e ‘ile’, no português (Ibid., p. 05).
73

No português, para além da desinência de gênero “ile”, construções desinências de


gênero neutro a partir do “ilu” e “elu” têm ganhado destaque em oposição aos pronomes “ele”
e “ela”, pelo menos, desde 2015, quando a marca de cosmético O Boticário veiculou anúncio
publicitário fazendo uso de linguagem neutra e colocou o debate, pela primeira vez, em escala
nacional (MÄDER, 2015, p.19).

No entanto, o que as pesquisas indicam é que não há consenso sobre a possibilidade de


consolidação de um gênero neutro no português brasileiro. O que é unânime, entre quem
defende e quem repudia a neutralização da língua na perspectiva de gênero, é que se trata de
uma disputa política. Em resumo, fazendo uso das palavras de Veridiana Souza Guimarães,
podemos finalizar a questão dizendo que:

Língua é poder e o estabelecimento da linguagem “certa” também perpassa pela


cristalização de valores imanentes de uma dada classe social. Logo, a criação
de um regimento para linguagem propõe manter uma posição privilegiada nas
estruturas sociais mais altas. Dessa maneira, a fim de instaurar o domínio absoluto, a
conservação de aspectos linguísticos compõe uma assinatura legitimada (ibidem.
p.147).

Depois do exposto, temos que concordar quando Ulpiano Bezerra de Meneses diz que

o museu deveria ser um espaço de reflexão crítica e formação da consciência


histórica. Não se trata apenas de aprofundar informações (precisas) sobre o passado
para retraçar nossas heranças presentes, mas de adquirir a capacidade de
desnaturalizar o passado, para também desnaturalizar o presente (MENESES, 2018,
p.08).

Os museus, por meio de seus acervos, exposições e as múltiplas atividades que


desenvolvem, têm o potencial de alimentar processos criativos, despertar interesses
intelectuais e profissionais e, sobretudo, gerar questionamentos nos públicos que os
frequentam. A gama de possibilidades educativas, criativas e de sociabilidade abertas pela
experiência de visitar um museu se torna imensurável. No entanto, de forma alguma, os
espaços museais e/ou musealizados devem ser isentados de uma olhar crítico.

Nas palavras de Odair da Cruz Paiva, “a relação dos museus com o tempo presente
tem sido motivo para um sem número de preocupações, problemas e desafios; estes implicam
reflexão e proposições de alternativas, mudanças de posturas e criação de práticas para a
manutenção, renovação e vitalidade daquelas instituições” (2014, p. 157). Neste sentido, olhar
para os museus com criticidade é corroborar para a modernização de seus discursos, quiçá
contribuir para que sejam de fato inclusivos, acessíveis e a serviço da sociedade. Em estudo
crítico sobre o Museu da Imigração do Estado de São Paulo, Paiva defendeu que as críticas
74

colocam a instituição onde todo museu deveria estar: no lugar do fórum - e não do templo
(2015, p. 15).

É nesta perspectiva que, no terceiro e último capítulo, A presença trans no Museu da


Língua Portuguesa, voltaremos nossa atenção para o Museu da Língua Portuguesa de maneira
detida.
75

4 A PRESENÇA TRANS NO MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

Em paralelo ao que propõe Cunha (2008), que, considerando a importância dos


museus no quadro das instituições responsáveis pela construção e difusão de imaginários,
refletiu sobre a inserção de culturas africanas nas culturas brasileiras, neste terceiro e último
capítulo, indagamos, a partir do que tem exposto o Museu da Língua Portuguesa, como as
pessoas trans aparecem em seu quadro de construção simbólica. O objetivo é, por meio da
análise discursiva, perceber se o Museu conseguiu ser acessível e inclusivo na perspectiva
social (de participação dos diversos agentes sociais) ao valorizar e positivar as memórias
desse grupo ou se cumpre a responsabilidade social de garantir essa presença “diversa”, mas
de forma a reforçar os estereótipos que o mantêm na invisibilidade e vulnerabilização. Para
tanto, percorremos as exposições principal e temporárias e a programação virtual da
instituição no contexto de sua reabertura ao público, ao longo do primeiro semestre de 2021.

A primeira vez que entrei no novo Museu da Língua Portuguesa, ainda fechado, foi
numa visita técnica realizada pela curadora Isa Grinspum Ferraz para a equipe da Fundação
Roberto Marinho, responsável pela concepção do Museu, oportunidade para que a equipe que
estava sendo composta para sua reabertura pudesse conhecer e ir se apropriando do conteúdo
que compunha a exposição principal da instituição.

O que me chamou atenção, não foi a Rua da Língua, com seus quase 120 metros de
instalação visual e sonora, que ocupa toda a extensão oeste, que conecta todos os módulos do
primeiro andar da exposição, que impacta pela grandiosidade e incomoda parte do público por
ser responsável por uma confusão de estímulos sensoriais,. Na verdade, não me lembro
exatamente do percurso escolhido, menos ainda do que foi dito na ocasião. Hoje, com o
conteúdo já introjetado, me passou a ser difícil recordar a ordem das experiências. Não
lembro, por exemplo, das sensações em mim provocadas pela Rua da Língua ou por rever o
Beco das Palavras, mas lembro exatamente do que senti quando, pela escada, passamos do
segundo para o terceiro andar.

Entre uma porta corta fogo, que encerra um andar, e a outra, que antecede o seguinte,
forma-se um corredor escuro que, contando apenas com a iluminação de segurança, dificulta
identificar os degraus e o caminho a ser transposto até a próxima etapa da exposição. Naquela
ocasião, a porta do segundo andar estava fechada. Foi preciso esforço para abri-lá e atravessar
o curto percurso que conectava o andar à escada que nos levaria a um clarão, sinal de que a
76

porta corta-fogo do andar seguinte estava aberta. Para nosso alívio, a agonia de caminhar em
território escuro e desconhecido tinha se resumido a meio caminho. O que eu não esperava é
que o clarão se abria para a instalação chamada Falares e que ao subir a primeira metade dos
degraus já seria possível perceber uma das telas onde, em tamanho natural (ou quase), um
grupo bastante grande de pessoas dividira conosco, visitantes, suas experiências pessoais com
essa língua que identificamos como português do Brasil. E assim, no primeiro totem,
recepcionando o primeiro grupo a chegar para uma visita guiada, estava a professora Paula
Beatriz de Souza.

Imagem 2: Instalação Falares51

Fonte: acervo particular

A professora Paula, primeira mulher trans a ocupar o cargo de diretora na


educação pública da cidade de São Paulo, função que exerce desde 2013 na Escola Estadual
Santa Rosa de Lima, no Capão Redondo, na Zona Sul, é também uma mulher negra e
periférica. Ser recebida por ela me despertou a atenção. Algo de diferente poderia estar
acontecendo neste museu.

No momento em que chego diante da professora na tela do Falares, ela dizia:

Ensinando para as crianças no primeiro aninho "para baixo" e "para cina". Quando
eu falava "para baixo" eles tinham que agachar, "para cima", levantar. E uma
aluninha, recém chegada do nordeste, ela ficava assim ((gesticula e se movimenta
expressando inquietação)), sem compreender o que eu tava falando. Aí eu fiquei

51
No canto esquerdo, a professora Paula, logo atrás, o poeta Carú de Paula, e à esqueda, a professora de dança
Mohana.
77

observando, aí quando eu falei pra ela "despenca!", ela agachou, eu, "arriba!", ela
levantou. E ali criou um vocabulário, que é o dialeto, exatamente, nosso, né, pelas
regiões. E alí ((gagueja)), a brincadeira e a aprendizagem até aumentou, porque aí
ficaram quatro formas, porque aí eu falava, tinha hora... Aí eu expliquei para ela,
“quando eu falar "pra baixo" é a mesma coisa que despenca, quando eu falar "para
cima", é arriba. E para os outros alunos que já eram aqui da região sul, sudeste, é...
também ensinei, e aí ficou a brincadeira, a aprendizagem ali, maior

Atentando ao que a professora deixou registrado naquele vídeo, percebi que, de


princípio, ela não falava de si ou de sua identidade de gênero - comuns nas narrativas
transexuais expostas na mídia - mas de suas experiências e práticas pedagógicas no que diz
respeito às diferentes linguagens, regionalismos e sobre a relação entre tecnologia e
aprendizagem.

Logo, a presença da professora é interrompida por outra personagem e o grupo,


conduzido pela curadoria, segue em cortejo.

Posteriormente, com o fim da visita, voltei ao segundo andar para assistir a todo o
conteúdo do totem Educadores, e percebo que Paula traz para sua narrativa a experiência
trans, em sua relação com a educação, considerando o lugar social que ocupa e os marcadores
sociais da diferença que se expressam em seu corpo. Para ela, poder ocupar o lugar da
direção, poder ocupar a sala de aula na educação infantil em detrimento de seu processo de
transição de gênero e ser reconhecida pelo valor de seu trabalho expressa avanço no campo da
educação, uma vez que há pouco tempo, vislumbrar esse cenário era quase impossível.

Num esforço de síntese, podemos dizer que o conteúdo do Museu da Língua


Portuguesa se organiza em torno de três eixos: variações linguísticas do português do Brasil,
português em contexto geopolítico e variedade linguística mundial, considerando que existem
cerca de 7 mil línguas mapeadas. Neste cenário, fica (ou deveria ficar) evidente que o Museu
se propõe a pesquisar a língua na perspectiva da diversidade. E, justamente refletindo sobre os
cenários que até há pouco inviabilizavam a presença de pessoas trans em espaços de
educação, mas, considerando que, como exposto acima, os museus e suas exposições vêm se
constituindo como espaços onde, por meio do acesso ao conhecimento, é possível produzir
novos paradigmas, valorizar identidades e superar preconceitos que estruturam nossas práticas
sociais, a presença da professora Paula me fez querer buscar perceber, primeiro, se existiam
outras pessoas trans na exposição e, posteriormente, como essa presença se dá, em termos
discursivos e espaciais.

Conforme já mencionado, a organização social que gere o Museu da Língua


Portuguesa, a IDBrasil Cultura, Educação e Esportes, o recebeu pronto da Fundação Roberto
78

Marinho e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, o que significa
que naquele momento não tínhamos dados sobre o conteúdo da exposição. Para muitos de
nós, trabalhadores, aquele era de fato o primeiro contato. Não sabíamos, por exemplo, quais
os grupos sociais estavam representados, ou se o conteúdo estaria alinhado aos debates mais
atuais em suas respectivas áreas, nem o volume e as condições técnicas do que estava exposto.
Neste contexto, todo esforço de imersão no conteúdo seria valorizado, e o resultado é o que
segue nas páginas abaixo.

4.1 Língua Viva: O terceiro pavimento do Museu, segundo da exposição principal

Com os caminhos abertos pela professora Paula e o totem Educadores, o mais coerente
parecia seguir investigando o conteúdo da instalação Falares e o restante do segundo
pavimento da exposição, terceiro do edifício que abriga o Museu, denominado de Língua
Viva.

Imagem 3: mapa tátil do terceiro pavimento

fonte: acervo particular

As duas últimas instalações que compõem o pavimento Língua Viva (O que pode a
língua? e a Praça da Língua),sobre as quais falaremos mais abaixo, são experiências
imersivas que funcionam no formato de sessão de cinema, com intervalo de trinta minutos
entre uma e outra, tempo necessário para que o público participe da primeira experiência e se
desloque à segunda. Por uma questão de organização, de transparência na informação e da
garantia de que o público tenha a chance de organizar o tempo da sua visita da forma que
79

melhor lhe atenda, os orientadores de público recomendam, ainda na entrada do Museu, que
os visitantes subam direito a este pavimento e retire o ingresso para a sessão referente ao
horário que melhor lhe convier. Isso faz com que Falares seja a porta de entrada ao Museu da
maior parte do público.
A instalação foi proposta pela curadora principal da exposição, Isa Grinspum Ferraz,
mas foi concebida por dois curadores e uma cineasta convidados, o escritor pernambucano
Marcelino Freire; Roberta Estrela D’alva, atriz, pesquisadora, produtora cultural e poeta52, e a
documentarista carioca Tatiana Lohmann, respectivamente.

Aqui a diversidade social se expressa em maior potência. Uma prova disso é que em
Falares as linguagens neutra e inclusiva são contempladas, por exemplo. Embora esse não
seja o único espaço onde essas práticas linguísticas estão presentes (elas estão também em
vídeos de interpretação em libras que compõem os diretórios curatoriais e de acessibilidade53),
é nessa experiência expositiva que aparecem de forma estruturadas. No texto de apresentação
inscrito na parede pode-se ler o seguinte diálogo entre Roberta Estrela D'Alva e Marcelino
Freire:

– Marcelino, o Museu tá pedindo um textinho nosso. Umas linhas sobre o “Falares”.


– Tem de ser coisa vapt, vupt, né, Roberta?
– Aff, mano! Difícil de resumir.
– Ave, nossa! Se sim…
– De cara a gente tem de explicar o que é o “Falares”.
– “Falares” é como a língua se expressa nas falas do Brasil.
– Nos territórios, nos corpos...
– Tem as gírias, o jeito de cada pessoa soltar o verbo.
– Tem os professores, as professoras, a fala dos griôs.
– Tem o grito das ruas. E tem ainda as rezas, as crianças...
– A tela das crianças ficou da hora! Tudo massa! Todos, todas, todes.
– Bom dizer que não é uma seleção das melhores falas.
– É só um recorte. Faltou muita gente. É muita coisa linda que tem nesse Brasil véi
de guerra.
– Que trampo que foi, carambola!

52
Roberta Estrela D’alva é uma mulher cis negra, periférica e de notória presença na cena do hip hop do Brasil.
É importante apontar para a identidade de raça, gênero e de origem dos agentes para dar a dimensão do quanto o
Museu da Língua Portuguesa conseguiu promover de inclusão e acesso às vozes diversas na concepção de seus
discursos. Faremos isso mais vezes durante o transcorrer o texto.
53
Cada módulo expositivo é aberto por um diretório curatorial, onde também estão localizadas ferramentas de
acessibilidade. São doze totens ao total cada qual com um texto curatorial que apresenta ao público o módulo
expositivo correspondente, elemento audiovisual em Libras-Português (Manifesto poético Nosso Corpo Nossa
Língua de autoria do Slam do Corpo) , QR-Code que leva ao WebApp e um jogo sensorial ou objeto/obra tátil de
mediação com o público de pessoas com deficiência visual.
80

– E tem a Tati também, nossa cineasta.


– Ela costurou as falas de uma forma sensível.
– Quando a gente olha tudo junto, é um grande mosaico. Pode crê...
– Um Brasil diverso. A gente bem que tentou.
– Agora é ouvir o que o povo achou.
– O “Falares” vai dar o que “Falares”.
– Você e seus trocadilhos, Marcelino.
– E se o textinho fosse essa nossa conversa, Roberta?
– É isso memo, mano. Tudo a ver! Adorei a ideia.

– Porreta! Bora nessa?

Como forma de contextualização do uso da expressão “todos, todas, todes”, o diretório


curatorial que abre a instalação leva o visitante, por meio da tecnologia QR Code, para o
aplicativo de acessibilidade54 que disponibiliza audiodescrição do espaço, versão oral do texto
de apresentação e um conteúdo extra que, no caso de Falares, diz respeito à linguagem neutra,
que aqui aparece como linguagem inclusiva. No texto oralizado denominado Sobre a
Linguagem Inclusiva pode-se ouvir que:

A linguagem inclusiva é um conjunto de práticas linguísticas que buscam incorporar


a diversidade de gênero ao falar e escrever em português. Origina-se nos anos 70
com a militância LGBTQIA+ e o feminismo. Desde então, pessoas não binárias e de
gênero não conformes, a maioria, mas não exclusivamente, optaram por uma
linguagem que as reconhece e identifica suas identidades. Em português o gênero
masculino é usado para designar grupos de pessoas de vários gêneros. Por exemplo:
os alunos, os trabalhadores. Para algumas pessoas e grupos sociais, isso reflete um
paradigma de linguagem patriarcal e heteronormativa, optando por neutralizar o
gênero quando se fala em grupo de pessoas ou por utilizar o gênero feminino como
forma de tornar esse questão visível. Outro desafio é a presença de marcadores de
gênero sempre feminino ou masculino para cada substantivo, adjetivo e alguns
pronomes. Como resultado, a linguagem inclusiva usa o “x” ou o “e” como uma
interrupção, como uma quebra de linguagem que neutraliza o gênero da palavra ou
do pronome. Os alunos se tornam alunes; todos se tornam todes.

A comunicação, a linguagem e as relações sociais são processos políticos que se


configuram de acordo com os contextos culturais em que ocorrem, resultando em
uma língua viva que acompanha as transformações sociais, culturais e
comportamentais dos seus falantes.

Ainda que de forma simplificada e sem dar conta da complexidade da questão, o texto
traz elementos importantes para localizar o debate historicamente e marcar uma possível
posição do Museu, por meio do partido curatorial, como espaço que objetiva apresentar a
língua e a linguagem como elemento social, cultural e político e que, portanto, está em
constante transformação, o que deveria tornar legítimo o uso da linguagem neutra.
54
Web App com navegação em português, libras, inglês e espanhol. Disponibiliza, apenas para a navegação nos
idiomas orais disponíveis, áudio descrição dos espaços e objetos táteis; oralização dos textos de parede e um
conteúdo extra para cada diretório. A navegação em libras dá acesso ao conteúdo que já está disponível na
exposição nesse idioma, servindo apenas para um acesso mais individualizado.
81

Ocupando o espaço de forma desordenada e ruidosa, a instalação é composta por nove


telas verticais que apresentam pessoas quase que em tamanho natural, e uma décima tela
interativa horizontal onde as pessoas são apresentadas a meio corpo. Dez telas, uma multidão
de vozes que vão se alternando e ecoando no ambiente de forma quase incompreensível
tamanha a sobreposição de sons. Soma-se a isso os ruídos criados pela presença do público:
crianças correndo; adultos tentando controlá-las; conversas sussurradas -mas nem sempre-; o
“toc-toc” de calçados; elevadores abrindo e fechando; orientadores de público, educadores,
guias de turismo, professores, todos transmitindo informações ao mesmo tempo, uns
concorrendo com os outros por espaço-som. É preciso escolher uma tela, parar em frente e
focar os sentidos para tornar o conteúdo inteligível. A cada tela está afixado um fone de
ouvido, mas, diante da concorrência, para a maioria dos visitantes é preciso se virar sem ele.

A cacofonia é parte da experiência. O conteúdo de vídeo objetiva apresentar como a


língua se expressa nos territórios, nos corpos, nas falas do povo brasileiro. Segundo o texto
curatorial que compõe a instalação, não se trata de uma seleção das melhores falas, mas um
recorte que buscou representar a ampla diversidade dos falares do país. Cada uma das telas
apresenta um conjunto distinto de conteúdos nomeados de: Crianças, Griots, Pregões,
Cantos, Educadores, Imigrantes, Profissões, Jovens, Porta Vozes e Língua Viva. Dez telas,
dezenas de falares, dentre eles, a professora Paula, na já referida tela Educadores, e outras
quatro pessoas trans.

Na tela Profissões, a cabeleireira, dançarina e professora de dança do ventre Mohana


Nogueira Marinalva, a manauara de 33 anos moradora São Paulo há cerca de quatro, fala de
regionalismo e do uso do pajubá, como linguagem do grupo ao qual pertence. Dividindo a tela
com Mohana, está a cartunista Laerte Coutinho, que deixa registrada ali um tanto da sua
relação com a escrita informal e os conflitos oriundos do encontro dessa escrita com a prática
de revisão editorial. Fala também sobre a confusão entre o feminino e o masculino, no que
tange a sua própria transição de gênero. Para ela, não é um problema ser tratada no masculino.
Em sua perspectiva, a ambiguidade expressa a possibilidade de um novo léxico para o gênero
humano, e isso lhe interessa. No entanto, reconhece a importância legítima da busca pela
correção do como as pessoas se dirigem às pessoas trans.

Na tela Jovens, o paulista Carú de Paula Seabra se apresenta como poeta e psicólogo
transmasculino, inicia sua fala declamando um poema de sua autoria e fala sobre a
invisibilidade transgênero e sobre o quanto teve que se esforçar mais que a maioria para ter
82

reconhecida a sua potência de saber. Anuncia que seu corpo e sua transgeneridade são temas
constantes em sua poesia.
Em Língua Viva, a décima tela, Amara Moira, escritora e professora de Literatura,
antes fala da língua enquanto processo em constante transformação e sobre como, neste
processo, novas interpretações vão produzindo novas palavras, para depois recitar trechos de
um de seus livros, que trans uma infinidade de referências de uso do pajubá; tratar da relação
histórica entre este dialeto, língua de segurança que vem hoje saindo da zona do segredo e
ocupando espaços públicos, e a comunidade travesti. Amara trata ainda da origem da palavra
travesti, como ela chega no brasil e o contraponto com o termo transexual, que, segundo ela,
teria chegado mais tarde. Ela aponta para o fato de que o uso da palavra transexual criou uma
categoria que, enquanto outridade, expõe outra, a de pessoas não trans, a cisgeneridade. Na
perspectiva dela, uma vez que a norma cria exclusão e violência, essa outra categoria também
precisa ser nomeada, para que as pessoas que não são transgênero deixem de se ver como
norma, como normais, em contraponto às anormais.
É evidente que os vídeos que ficam disponíveis ao público são resultado de um
processo de edição. Todavia, o percurso narrativo se desenha de forma a apresentar Amara
como pesquisadora, antes de trazer a questão relativa à sua identidade de gênero, ainda que as
dimensões se misturem em determinado ponto. Isso aponta para uma mudança paradigmática
em relação às narrativas que é importante documentar. Segundo Sara Wagner York, travesti
pedagoga e mestre em educação, sua principal motivação para a pesquisa e para a escrita é a
possibilidade de romper com a prática discursiva “onde pessoas trans e travestis aparecem
sempre relacionadas à discussão sexo-genital” (YORK, 2021, p. 55), para ela, não é um
problema falar de sexo e de gênero, o problema é quando essa se torna a única narrativa
possível. Ela, como tantas outras pessoas trans que alcançaram a chance de ocupar lugares
hegemônicos de circulação de saberes, denuncia o fato de que a genitália e a condição de
gênero antecede o sujeito trans nas narrativas produzidas por pessoas cisgêneras. Falares faz
com que esse pavimento da exposição seja onde a presença de pessoas trans se faz de maneira
mais significativa e embora a transgeneridade esteja presente na fala de todas as pessoas trans
representadas na instalação, a questão não foi o ponto central ou a única questão abordada em
nenhum dos casos.
Pela ampla diversidade representada, que vai de populares, como é o caso de Mohana
e Carú, a figuras que ocupam lugar de celebridade, como Laerte Coutinho, Alcione ou Lia de
Itamaracá, Falares tem a potencialidade de dialogar com todas as camadas do público. Cada
visitante, cedo ou tarde, encontra pontos de identificação na instalação, seja pela admiração
83

com o trabalho de alguma figura pública, por questões identitárias ou pelo reconhecimento da
importância da presença de determinadas figuras no acervo de um museu de grande cidade
como São Paulo, a exemplo do poeta pernambucano Miró da Muribeca. Isso faz com que o
tempo de permanência médio na instalação seja relativamente longo. Pelas observações de
campo, pudemos aferir que a permanência passa dos dez minutos, enquanto a média dos
outros pontos da exposição não passa dos sete minutos. Uma estratégia narrativa que pode ter
parte nesse efeito de permanência diz respeito ao fato de as falas das personagens serem
fragmentadas e intercaladas, o que faz com que você precise ver o vídeo todo para acessar a
narrativa completa de determinada personagem. Se há pessoas trans em quase metade das
telas que compõem a experiência e se o tempo de permanência do público na instalação é
relativamente longo, podemos concluir que há ali um espaço de qualidade para a visibilidade
dessas narrativas. No entanto, a seleção das personagens peca no quesito diversidade dentro
do grupo identitário em questão. Mesmo as experiências de um grupo social específico como
o de pessoas trans são atravessadas por diferentes marcadores sociais da diferença, mas,
especificamente no que diz respeito ao que a instalação propõe - as variações linguísticas do
português do Brasil -, o grupo não é representativo se considerarmos que apenas Mohana não
é natural do Estado de São Paulo (e ainda assim, no momento da coleta do depoimento que
deu origem à instalação, ela já morava em São Paulo fazia quatro anos) e não possuía
formação superior.

Em contraponto, ali, diante do público, falando-lhe diretamente, é produzido um


processo de humanização pela presença. Não há distanciamento, o que colabora para a
superação do imaginário social que marginaliza, criminaliza, desumaniza, abjetifica e
objetifica essas pessoas.

Letícia Nascimento reforça que “as categorias subalternas como mulheres negras,
mulheres trans, mulheres do sul global, entre outras, sofrem com um histórico processo de
silenciamento dentro da normatização hegemônica de raça, classe e gênero” e aponta que “a
ausência do lugar de fala não é apenas a perda do direito à palavra, mas, sobretudo, o lugar
marginal que nossa existência ocupa dentro da hirarquização social das diferenças” e, neste
sentido, defende que “devemos nos apropriar da fala, da escrita, da linguagem, rachar o
mundo com nossas palavras” (NASCIMENTO, 2021, p.78)55, em primeira pessoa. Neste

55
Para tanto, Letícia Nacimento utiliza, como referência, dos trabalhos de Djamila Ribeiro e Gayatri
Chakravorty Spivak.
84

mesmo sentido, conforme nos aponta Bruna G. Benevides56, travesti cearense e autora, desde
2017, da importante pesquisa anual sobre violências contra pessoas trans no Brasil pela
ANTRA, pesquisadores e aliados foram importantes interlocutores no início da luta
organizada no movimento das travestis brasileiras, que nasce durante a ditadura militar,
momento em que a caça às travestis se torna ação de Estado, e ganha força durante a epidemia
do HIV. Esses agentes contribuiram para que as vozes delas circulassem por espaços que de
outra forma nunca tinha sido possível (a opinião pública via imprensa e discurso acadêmico,
sobretudo).Todavia, essa mediação produziu, como efeito colateral, um processo de tutela e
apropriação narrativa que foi determinante para a formação do imaginário coletivo acerca
dessa camada social, de forma que, nas palavras de Bruna, “hoje as pessoas trans precisem
revisitar essas narrativas a fim de resgatar essas vozes, as nossas vozes, e falar com nossas
próprias palavras, formas e modos, quem somos” (BENEVIDES, 2021, p. 14). Levando em
consideração que, apenas em 2022, o Museu recebeu 346 mil57 pessoas em suas instalações,
ainda que pouco representativa no que diz respeito à diversidade de experiências trans, a
instalação consegue-lhes garantir importante espaço de fala em primeira pessoa.

O andar é composto por mais duas instalações multimídia: O Que Pode a Língua? e a
Praça da Língua. Para chegar em O que pode a língua?, o público passa pelo corredor que,
composto por um grande painel com grafite criado por Daniel Melim, uma instalação com
imagens do coletivo Projetemos e a obra Lute, de Rubens Gershman, leva o nome de Língua
Solta. Esse conjunto de instalações têm o objetivo de demonstrar como a língua pode ser
apropriada pela arte e articulada como ferramenta para a luta pela transformação social, tanto
no exterior (aqui, representada pelo grafite, pixação e video mapping) quanto no interior dos
espaços públicos (aqui representado pela arte de galeria). Aqui, mais uma vez, a curadoria usa
de recursos expográficos para defender que, a instituição não está a serviço da salvaguarda e
manutenção de uma pretensa norma culta, mas de apontar para o constante movimento
característico da relação entre língua e sociedade.

Por sua vez, O Que Pode a Língua é uma videoinstalação concebido pelo médico
Carlos Neder projetado numa grande tela, como num cinema, oferecido ao público em um
auditório de 150 lugares divididos em 12 fileiras. O vídeo trata da relação entre língua -
código compartilhado que permite a comunicação - e linguagem - super poder humano,

56
Bruna Benevides é também fundadora do Fórum Estadual de Travestis e transexuais do Rio de Janeiro
(FORUMTTRJ).
57
Segundo dados do portal de transparência do Museu disponível em:
https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/gestao/transparencia/. Acesso em: 18 de março de 2023.
85

sistema sofisticado e complexo que transcende a língua e a palavra. Com cerca de 15 minutos
de duração, o conteúdo não conta com a participação de pessoas trans, mas, em um espaço de
duração de cerca de 10 ou 12 segundos, a drag queen Pabllo Vittar fala da relação entre a capa
de um álbum musical e a identidade da música que ele contém. Como já mencionado, embora
não se trate de uma identidade de gênero, a performatividade drag colabora com o
esgarçamento dos limites pré-estabelecidos para os gêneros humanos, e sua presença tem a
potencialidade de naturalizar os trânsitos entre eles.
Ao fim da sessão, a tela sobe como uma porta de garagem basculante abrindo
passagem para o próximo espaço, a Praça da Língua, uma instalação audiovisual
multissensorial. Embora não conte com a participação de pessoas trans - e justamente por isso
-, nos parece importante discorrer um pouco sobre ela, e , para isso, vale apresentar o texto
curatorial disponível na parede da instalação:

...Foram privilegiados os autores brasileiros escolhidos de um grande arco de tempo


e procurando incluir o maior número de escritores reconhecidos hoje por consenso
como os maiores de cada época (...). Penetra surdamente no reino das palavras,
adverte Drumond no verso que nos serve de abertura. Surdamente quer dizer em
silêncio, atento, aberto para escutar o que se diz no reino das palavras...

Estão representados na instalação autores como Carlos Drummond de Andrade; José


de Alencar; Fernando Pessoa; Manuel Bandeira; Luiz de Camões; João Cabral de Melo
Netos; Nelson Rodrigues; Luiz Gonzaga; Euclides da Cunha; Monteiro Lobato; Mário de
Andrade; Nelson Cavaquinho; Lamartine Babo; Oswald de Andrades; Gonçalves Dias; Caju e
Castanha; Gregório de Matos; Vinicius de Moraes; Machado de Assis; Sophia de Mello
Breyner Andresen; Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus. A seleção é composta por 56
trechos, dos quais 48 são de 34 autores homens cisgênero; sobrando oito trechos para as três
mulheres cisgênero representadas. Esse é o nosso “reino da palavra”.
Talvez fosse anacrônico esperar que, há duas décadas, quando o museu foi criado, o
protagonismo literário do reino das palavras fosse dividido com as mulheres, mas, já
gastamos caracteres o bastante para deixar evidente a quem lê que a nova versão do Museu da
Língua Portuguesa se pauta na diversidade, no acesso e na inclusão. Se o objetivo da
instalação era “incluir o maior número de escritores reconhecidos hoje por consenso como os
maiores de cada época”, sem mencionar as outras expressões de gênero, como fazer isso
excluindo as muitas outras mulheres cis que contribuíram para a história da literatura
brasileira e que alcançaram notório reconhecimento nacional e internacional, tais como Júlia
Lopes de Almeida, Cora Coralina, Cecília Meireles, Raquel de Queirós, Lygia Fagundes
Telles, Hilda Hilst, Adélia Prado? Sophia de Mello Breyner Andresen é mesmo a única
86

representante possível para a literatura em língua portuguesa não brasileira? O que dizer de
Dulce Maria Cardoso, Adília Lopes, Lídia Jorge e Paulina Chiziane, para citar pouquíssimos
exemplos? Não é necessário dedicar muito esforço para crescer essa lista, o que indica para a
possibilidade de os vieses inconscientes serem as maiores barreiras para a elaboração de
discursos equânimes.

4.2 Viagens da Língua: O segundo pavimento do Museu, primeiro da exposição


principal

Imagem 4: mapa tátil do segundo pavimento

fonte: acervo particular

Seguindo a apresentação da curadora disponível em áudio no Web App do Museu58, no


primeiro pavimento da exposição, nomeado de Viagens da Língua, o visitante tem acesso a
conteúdo relativo às movimentações da língua portuguesa pelo globo e pelo tempo; à
formação histórica, social e cultural desse idioma que identificamos como português do Brasil
assim como seu contexto vivo, diverso e de constante transformação; um pouco das sete mil
línguas faladas pelo mundo; à relação de parentesco do português com línguas diversas e os
encontros que influenciaram nossa língua. Nesse andar, o visitante descobre também que o
português é o idioma de milhões de falantes ao redor do mundo, se tornando, como um dos
efeitos da colonização, língua oficial de oito países, além de Portugal: Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Brasil,
sendo falado também em Macau, Goa, Damão e Diu.

58
Recurso de acessibilidade disponível aos visitantes por meio de QR-Codes dispostos pelo espaço expositivo.
87

São 1.336 m ² no formato de um longo e escuro corredor que vai se preenchendo pelas
instalações expográficas formando uma profusão de luzes, cores, sons e uma significativa
densidade de conteúdo disposto nos mais variados formatos e suportes, compondo uma
experiência cacofônica e hiperestimulante que nos remete à sociedade urbana descrita por
Georg Simmel em The Metropolis and Mental Life (1903). Não por acaso, se o visitante
acessa a exposição pelo lado Oeste, sua primeira experiência é a Rua da Língua, instalação
audiovisual de cerca de 120 metros de comprimento, que atravessa todo o pavimento
representando esse que é o local maior dos encontros, a rua, onde a urbanidade se faz possível
e onde a língua se transforma cotidianamente (pelos encontros). A vídeo instalação de cerca
de trinta minutos de duração é iniciada com o poema de Augusto de Campos Cidade, City,
Cité, e, composta por micro cenas que representam linguagens artísticas diversas, que vai da
estética da publicidade à dança contemporânea, passando pelo grafite e pelas frases de
para-choque de caminhão. Fazendo uso do poema de Augusto de Campos, ela busca
apresentar a cidade (que poderia ser qualquer capital do Brasil) em sua atrocidade,
caducidade, capacidade (em poder de produção e em volume), em sua causticidade,
duplicidade, elasticidade, felicidade, ferocidade, fugacidade, historicidade, loquacidade,
lubricidade, mendicidade, multiplicidade, organicidade, periodicidade, plasticidade,
publicidade, rapacidade, reciprocidade, rusticidade, sagacidade, simplicidade, tenacidade,
velocidade, veracidade, vivacidade, unicidade e voracidade. Mas, se o visitante chega pelo
lado Leste, sua visita se inicia pela Línguas do Mundo, instalação por meio da qual se tem
acesso à sonoridade de 23 línguas presentes na constituição do que identificamos como
português do Brasil. Composta por 23 colunas cilíndricas metálicas iluminadas internamente,
representa a cacofonia da torre de babel no formato de floresta luminosa.
Ao todo, o pavimento é ocupado por oito instalações, no entanto, a única relação que
com a identidade trans se dá no totem francês-inglês da instalação audiovisual Palavras
Cruzadas, onde aparece a palavra travesti e seus significados em protuguês e em francês,
respectivamente.
A instalação é composta por oito totens luminosos de duas faces que sustentam telas
interativas com conteúdo sobre línguas e povos que contribuíram para a formação do
português do Brasil, por meio dos quais o visitante tem acesso a informações sobre a origem
de palavras comuns ao vocabulário no Brasil, mas que tiveram origem no tupinambá, no
iorubá, no francês, no inglês, no espanhol, no italiano e outros idiomas, assim como a
contribuição do português do Brasil nos idiomas falados em outros países. As palavras são
88

acompanhadas de verbetes curtos que as definem no contexto de origem e no uso em


português.

Imagem 5: Interação de visitante com a instalação Palavras Cruzadas

Fonte: Twitter

No ambiente escuro, em movimento nas telas como pontos brancos de luminosidade,


as palavras atraem o visitante que, ao percebê-las, intui a lógica de funcionamento do
mecanismo da interatividade, que sugere, pela prática touch, que o visitante selecione uma
palavra, tocando-á com a ponta do dedo, e a arraste até a área de ativação (onde se lê: arrasta a
palavra aqui), a partir da qual as definições são expostas. O conjunto de palavras que compõe
a instalação é imenso (ao todo são 33559 palavras e o dobro em verbetes, considerando que
cada palavra é acompanhada de um verbete em português e outro no idioma de origem), em
contraponto, a observação no espaço expositivo nos possibilitou perceber que o tempo médio
de permanência em suas telas gira em torno dos 3 minutos, sendo raro, os visitantes que
permaneceram por mais de 5 minutos. Em fração de segundos, diante de um enxame de
palavras voadoras, o visitante toma decisões rápidas e, ao que podemos aferir pelas reações
(de riso de cunho piadista, de surpresa, com verbalizações), escolhem, na maioria das vezes,
59
Segundo dados disponibilizados pela equipe do Centro de Referência do Museu, área responsável pela
pesquisa, documentação e difusão dos acervos da instituição.
89

palavras que não imaginavam ter origem estrangeira ou aquelas que estão envoltas a questões
tabu. Neste segundo grupo aparecem as palavras “travesti” e “gay” do totem
“Inglês/Francês”, xoxota e bunda do totem Quicongo/Quibundo/Umbundo e neca do
Iorubá/Eve-fon, por exemplo.
Travesti, em português, aparecia como "pessoa que não se identifica com o gênero
biológico e se veste e se comporta como pessoas de outro sexo", e, em francês, "homem que
se veste de mulher". Sabemos que toda simplificação está suscetível a falhas interpretativas,
mas no caso dos verbetes que objetivavam definir a palavra “travesti” há, ao menos, dois
grandes problemas estruturais: A biologização discursiva e a negação da identidade feminina
quando reduz a experiência travesti à mera questão de vestimenta ou de performatividade de
uma forma possível de ser homem em sociedade e não de subjetividades complexas. Letícia
Nascimento reforça que discurso produz efeitos e que “precisamos entender os processos
discursivos como criadores da nossa realidade social” (2021, p. 96 e 127)60. Isso para dizer
que, as definições foram, evidentemente, criadas sem o diálogo com o movimento de pessoas
trans organizado, sem a consulta às pessoas trans que ocupam outros espaços no acervo, e
que, longe de informar e educar para a transformação social, produzem o efeito de reiteração
dos discursos que produziram e legitimaram violências contra essa população. Em Falares,
por exemplo, Amara Moira conta que “hoje, uma das grandes reivindicações trans, do
movimento trans, é que o genital não defina de maneira nenhuma o meu gênero e a minha
maneira de existir no mundo”, assim, associar travesti a homens e evocar o gênero biológico é
reforçar o lugar que o pênis tem na formação do imaginário social acerca das identidades de
gênero, o que silencia as vozes das pessoas trans que estão há décadas dizendo o contrário
sobre si mesmas.
Como nos lembra Maria Clara Araújos dos Passos em seu Pedagogias das
Travestilidades, “tanto para Paulo Freire e Moacir Gadotti quanto para os movimentos sociais,
o conflito é um instrumento político-pedagógico. Para que algo novo surja, é necessário que
os antigos e os novos ideários se confrontem” (2022, p. 38). Mas, não é disso que se trata. O
encontro de ideias discordantes acerca das questões de gênero aparecem em Falares, onde
Amara Moira apresenta o pajuba como língua de segurança das travestis (e outras dissidências
de gênero) e, Francisco Bosco, homem branco cis filósofo, colunista, ensaísta, letrista e
compositor brasileiro, o apresenta como fruto da radicalização do campo da teoria e dos
ativistas de gênero e da comunidade LGBTQIA+ e desconfia se os efeitos sociais disso são

60
Para tanto, ela recorre a Foucault e à Butler.
90

positivos, uma vez que, ao invês de normalizar a presença das pessoas de expressão e
identidades de gênero divergentes, a exotiza.
Nesse sentido, Palavras Cruzadas é a anulação de Falares, não pelo contraponto,
porque para esse é preciso diálogo, mas justamente pela falta dele. E é sobre os efeitos desse
tipo de escolha discursiva que Sara Wagner York se refere quando diz:

Afinal, xs subalternxs (sic) podem e devem falar por si mesmxs (sic). Eu, enquanto
mulher travesti e professora , não permito que meu discurso seja invalidado ou
menor, entretanto, antes, ele não era ouvido e ainda que fosse, sem credibilidade.
Sou uma pesquisadora do asfalto, da luta de viver a cada dia com a possibilidade
estatística de uma morte eminente muito maior do que qualquer sujeito da população
cisgênera. Morte essa que é quase sempre física mas também simbólica, morte que
faz adoecer, minguar a subjetividade e as minhas possíveis potências e desejos, a
vida (York, 2021, p.62).

Enquanto parte do corpo técnico e parte do conselho curatorial da instituição, ao


perceber o caráter violento e pouco dialógico da definição, apresentei o problema para a
equipe técnica. Todavia, foi apenas após manifestação de uma pessoa trans nas redes sociais
do Museu é que os conceitos foram revisados .

Imagem 6: Comentário em postagem da conta do Museu no Instagram61

Fonte: Instagram

Hoje, as definições são, em português, "A travesti: identidade de gênero feminina;


mulher transexual; mulher transgênero", com “A”, assim mesmo, na forma maiúscula,

61
Publicado em 28 de agosto de 2022. Disponível em: https://www.instagram.com/p/ChzYZVAAPsC/. Acesso
em 12 de março de 2023.
91

reforçando que se trata de uma identidade feminina e que, portanto, a essas pessoas deve-se
referir no feminino, com o uso do artigo “A”, jamais O travesti. E, em francês, "no teatro,
papel masculino interpretado por uma mulher, ou um papel feminino interpretado por um
homem", contextualizando que a relação com o masculino vem do teatro e não de
características biológicas e/ou identitárias que atravessam esses corpos.
Ainda que não saiba, a travesti por trás da @leleonoura foi protagonista da mudança
operada pelas equipes de Articulação Social e do Centro de Referência do Museu da Língua
Portuguesa.

4.3 Presença trans nas exposições temporárias e programação virtual

Para além da exposição principal, que segue em cartaz, é importante resgatar e


registrar que, no contexto de reabertura do Museu, as pessoas trans tiveram presença
significativa tanto na dimensão online quanto no que diz respeito às mostras temporárias.

A pandemia do novo coronavírus fez com que as plataformas digitais se


transformassem na principal ferramenta de comunicação entre os museus e seus públicos. Se
antes elas eram um mecanismo secundário em relação às exposições, nos últimos três anos
elas ganharam lugar central. Embora o Museu da Língua Portuguesa já estivesse íntimo desta
realidade, por estar sem suas instalações físicas desde o incêndio que fechou suas portas em
2015, é notável o seu intenso uso das ferramentas digitais nesse período, quando isso de fato
se tornou condição de existência pública para as instituições museológicas mundo afora.

A programação online do Museu tem como principal meio de transmissão o seu canal
na plataforma de compartilhamento de vídeos Youtube, onde fica disponível para visualização
após realização dos eventos, e tem por característica a mesclagem entre conteúdo formal
sobre a língua, curiosidades sobre o edifício e temas relacionados às agendas dos movimentos
sociais, sempre relacionando língua e sociedade62. Nesse contexto, a programação contou com
cinco participações de pessoas trans até a data de escrita desse texto. Importante apontar que
duas dessas participações foram no bojo das comemorações ao Dia Internacional da Língua
Portuguesa, principal efeméride do Museu, portanto, nada marginais.
A primeira, no dia três de maio de 2021, contou com Linn da Quebrada, na primeira
live da programação online em comemoração ao Dia Internacional da Língua Portuguesa.

62
Para conhecer toda a programação online do Museu da Língua Portuguesa, a melhor fonte é o canal do Museu
no Youtube, disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UCDyct6F210UrUWptJ22DkNw>.
92

Participaram do evento Nuno Rebelo de Souza, representando a empresa portuguesa EDP,


patrocinadora master do Museu; Paulo Jorge Nascimento, cônsul-geral de Portugal; José
Pedro Chantre D`Oliveira, embaixador da República de Cabo Verde no Brasil; Larissa Graça,
representante da Fundação Roberto Marinho, instituição responsável pela concepção e
realização do Museu; Francisco Ribeiro Telles, secretário executivo da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP); o compositor Vinicius Terra e os cantores Dino
D´Santiago, Sara Correia e Linn. Esses últimos discorreram sobre onde suas trajetórias se
cruzam com o projeto musical Meu Bairro, Minha Língua, composto por Vinícius e
interpretado por ele, Elza Soares e pelos três cantores em questão.
Com o objetivo de valorizar heranças culturais e as relações históricas entre países de
língua portuguesa, esse é o primeiro grande projeto que o Museu apresenta ao público no
contexto de sua reabertura, e tem como produto uma websérie e um videoclipe. A música Meu
Bairro Minha Língua está disponível em todas as plataformas digitais, e o clipe pode ser visto
no canal de Vinicius Terra, no Youtube, e esteve disponível presencialmente no Centro de
Referência do Museu da Língua Portuguesa no contexto de sua reabertura63, por se tratar de
um espaço que dialoga com as exposições temporárias em cartaz. O vídeo da live, no canal do
Museu, se aproxima de duas mil visualizações e é o primeiro a passar da marca de mil
reproduções. Já o clipe, no canal de Vinícius, se aproxima de meio milhão de visualizações.
Números expressivos para a realidade dos museus. Em termos comparativos, podemos
apresentar como exemplo o vídeo da visita guiada com os artistas Gustavo e Otávio Pandolfo
(Os Gêmeos) na exposição Os Gêmeos: Segredos que, no ar há dois anos e sendo o vídeo
mais popular da conta da Pinacoteca do Estado de São Paulo na plataforma, alcançou a
margem de 96 mil visualizações64.
Essa ação não sofreu com nenhum tipo de manifestação negativa em nenhuma das
redes sociais utilizadas pelo Museu para divulgá-la. Embora os comentários no vídeo no
Youtube tenham ficado abertos para interação apenas durante a transmissão do evento, nada
foi registrado no sentido de desaprovação à presença de Linn ou aos assuntos por ela
abordados, que transversaram os aspectos violentos da língua.
Seguindo as comemorações do Dia Internacional da Língua Portuguesa, no dia cinco
de maio foi ao ar a Live As Línguas do Brasil, que contou com a participação da escritora

63
A música Meu Bairro Minha Língua está disponível em todas as plataformas digitais, e o clipe pode ser visto
no canal de Vinicius Terra no Youtube, disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=AA6ZXd09MMQ&list=OLAK5uy_maS11o2a6tCKUkMzJbK0y81sLMJA
y_RCQ>.
64
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_fRTGMnZ3xk&t=59s. Acesso em 12 de março de 2023.
93

Amara Moira, compondo mesa com o também escritor Geovani Martins e a curadora de
literatura indígena Julie Dorrico. O evento foi mediado pelo escritor pernambucano
Marcelino Freire. Nessa oportunidade, Amara falou sobre seu processo de escrita; sobre o
tensionamento entre a palavra que nomeia a experiência subjetiva e a norma culta da língua;
e, mais uma vez, tratou do bajubá, ou pajubá, como linguagem popular de origem yorubá
apropriada pelas comunidades LGBTQIAP+, sobretudo as travestis, como código linguístico
de segurança que se torna uma espécie de dialeto de identificação de grupo. Com os
comentários também abertos para interação somente durante o período de transmissão do
evento, ficou registrada apenas uma manifestação de desaprovação, e dizia respeito a forma
como os representantes do Museu se expressaram na abertura da live. Um participante da
audiência, que se identificou como Sergio Lazzarini, comentou: “​Convidados e
convidadas???? Convidados - plural - significa ‘todas as pessoas’, todo o público masculino e
feminino”. E, considerando todas as redes sociais do Museu, essa foi a única ocorrência.
Em oito de junho, foi ao ar a quarta mesa do webinário Língua Portuguesa e Direitos
Humanos. O evento teve por objetivo debater o tema Diversidade Linguística: Entre a
Celebração e a Resistência e contou com a participação de Rita Von Hunty, drag queen e
professora. Embora drag não seja uma identidade trans, mas uma performance artística, e Rita
é uma personagem trazida à vida pelo homem cisgênero gay Guilherme Terreri Lima Pereira,
sua existência também trata do rompimento das normas estabelecidas para os comportamentos
de gênero na sociedade ocidental. O convite ter sido feito à Rita e não ao Guilherme já é
bastante significativo e digno de registro. Todavia, Rita tratou diretamente sobre linguagem
neutra como mecanismo de resistência linguística das identidades de gênero não conformes.
Embora o tema tenha sido o responsável pela maior contenda envolvendo o nome do Museu
até aqui, não foram registradas reações de desaprovação do público. Ao contrário, a live
contou com intensa participação, todas no sentido de fomentar o debate e parabenizar o
Museu pela iniciativa.
A título de exemplo, deixo aqui dois registros de interação do público no chat da live:
“Qual a proposta possível para o ensino de linguagem neutra? A marcação de gênero é algo
muito recorrente na nossa língua, então, pra você, como poderia ser iniciado a abordagem em
sala de aula?”, foram as perguntas feitas por Mayara Gomes. Por sua vez, José Ricardo
Pimenta comentou: “​Acredito que a linguagem neutra seja um incentivo para a busca da
linguagem inclusiva”.
É possível que, por ter sido anterior à crise e por não trazer o conteúdo explicitado no
título do evento, as postagens relativas a essa ação também não sofreram ataques
94

posteriormente, quando detratores passaram a vigiar e a reagir negativamente a toda iniciativa


que envolvesse os debates em torno do uso da linguagem neutra.
O mesmo não aconteceu com a ação seguinte.
No dia 29 de junho foi ao ar a live intitulada Linguagem Neutra/ Não Binária, com o
escritor, bacharel em Letras e influenciador digital Jonas Maria. Sendo o único convidado,
Jonas teve cerca de uma hora para apresentar o debate sobre linguagem não binária a partir de
sua perspectiva. Diferente das outras ações da programação já descritas, aqui Jonas, a pessoa
trans em questão, teve absoluto protagonismo.
Assim como as ações anteriores, a interação com o público no dia da transmissão
online foi positiva e tinha por objetivo valorizar a iniciativa do Museu e colaborar com o
debate. É digna de nota uma pergunta em específico, que, inclusive, foi respondida pelo
Museu no próprio chat. Para ​Vini Rigoletto, que pergunta se “o Museu da Língua Portuguesa
retoma com esse espaço mais voltado a (sic) Diversidade e Inclusão?”, a mediação da
instituição responde que, “sim! É desse jeito que queremos voltar! 😉”.
Todavia, após 23 de julho de 2021, quando se torna aguda a crise de comunicação em
torno do uso da linguagem neutra, as postagens relativas à live protagonizada por Jonas Maria
passam a sofrer com uma enxurrada de comentários de desaprovação em tom raivoso65.
Fechando essa participação, temos, em conjunto com o Festival de Poesia de Lisboa,
em 14 de setembro, a transmissão do Transarau, evento de difusão de poesia organizado por
artistas e militantes transgeneres. O Museu fomentou a participação do Transarau no festival e
serviu de palco para a apresentação que foi transmitida nos canais das duas organizações, mas
que hoje está disponível para visualização apenas nos canais do Festival.
Hoje, a conta do Museu no Youtube contabiliza 48 ações em vídeo gravadas
previamente e 59 transmissões ao vivo, que ficam disponíveis ao público na plataforma.
Embora seja justificada a diminuição de sua presença online após a reabertura e com o retorno
do público aos espaços físicos depois de longo período de isolamento social, é notório que a
instituição não abandonou a prática e é sintomático que as pessoas trans tenham sumido de
sua programação virtual após a crise de comunicação ocasionada pelo uso do neologismo
“todes”.
Por fim, é digno de nota que o Museu reabre com duas mostras temporárias e em
ambas é sentida a presença de pessoas trans.

65
O Twitter foi o canal que mais sofreu ataques. A postagem relativa à participação de Jonas Maria está
disponível em: https://twitter.com/MuseudaLingua/status/1409638336155721734. Último acesso foi realizado
em: 22 de abril de 2023.
95

A mostra Viva Palavra, de curadoria de Antonio Junião, homem cisgênero preto


paulista, e participação do grupo de artistas visuais formado por Breno Loeser, homem
cisgênero hétero sergipano; Criola, mulher cisgênero preta mineira; Luna B, mulher cisgênero
preta carioca; Renata Felinto, mulher cisgênero preta paulista; Yacunã Tuxá, mulher cisgênero
indígena baiana; o próprio Junião e de Efe Godoy, pessoa trans não binária, branca mineira,
traz sete ilustrações expostas no formato de bandeira, é um desdobramento do projeto Palavra
no Agora, mencionado acima, e teve por objetivo dar materialidade à essa que foi uma
experiência virtual. A mostra é a primeira ação de ocupação do térreo do edifício, espaço que
a instituição não ocupava na sua primeira versão e que hoje, aberto, conecta rua, museu e
estação ferroviária.
Segundo o texto curatorial disponível num totem digital que compõe a mostra, ela

… se une a diversas iniciativas contemporâneas e ancestrais que propõem rediscutir


as estruturas coloniais do Brasil desde sua formação, a história única de nossa
estrutura social e produção de conhecimento (...). Partindo de lutas históricas dos
povos originários, quilombolas e movimentos sociais, a mostra vem com esse olhar
de um país que não se deixa morrer, e que está aí, falando muito, e falando alto.

É importante apontar que a pluralidade no que diz respeito às identidades e, portanto, à


pluralidade narrativa é o princípio curatorial norteador da mostra. O mesmo princípio
fundamentou a exposição temporária Língua Solta.

Com curadoria de Fabiana Moraes e Moacir dos Anjos, a exposição marcou a


reabertura do Museu e ficou em cartaz de 31 de julho a 03 de outubro de 2021. Sendo a
segunda exposição de arte da história da instituição, em Língua Solta os curadores
relacionaram língua portuguesa, arte e política à vida cotidiana, esgarçando os limites daquilo
que tradicionalmente se entende como suportes da língua. Composta por 180 obras, a
exposição contou com Eu Preciso de Palavras Escritas, manto bordado por Arthur Bispo do
Rosário, estandartes de maracatu rural pernambucano, placas e cartazes coletados pelas ruas
de cidades do país, tradicionais panos de prato com frases bíblicas, por exemplo, em diálogo
com obras de artistas contemporâneos como Rosângela Rennó, Emmanuel Nassar, Leonilson
e Elida Tessler. No entanto, cabe apontar para os limites dessa pluralidade que, com evidente
recorte de classe e raça - marcado pelo conflito entre arte erudita e popular- ainda reproduz a
dinâmica sexual do campo da arte, que tende à valorização do masculino cisgênero. Os
números mostram que, dos 57 artistas representados na mostra, 37 são homens cisgênero (e
desses, apenas 12 não são brancos), apenas 20 são mulheres (18 mulheres cisgênero, das quais
apenas cinco não são brancas), e entre elas, apenas duas são transgênero - a gonçalense
96

Agrippina Manhattan e a baiana Ventura Profana. Ainda que, em termos globais, a presença
de pessoas trans corresponda a quase o dobro do percentual mapeado na sociedade brasileira,
que é de cerca de 2%, segundo levantamento pioneiro feito pela Faculdade de Medicina de
Botucatu da Universidade Estadual Paulista (UNESP) publicado em 202166, o mesmo não se
pode dizer em relação às mulheres e às pessoas negras, que, segundo o último censo do IBGE,
ultrapassam, cada qual, a metade da população67.

4.4 Presença trans no quadro funcional do Museu

Para finalizar, é importante ressaltar que o Museu é aberto contando com cinco
pessoas trans na equipe, todas no núcleo educativo. Havia alguma diversidade em termos
raciais (2 eram brancas, 2 pardas e 1 negra), etária (uma delas já havia passado dos 50 anos),
de gênero (eram três travestis, um homem trans e uma pessoa não binária), três acessaram o
nível superior de ensino, duas delas tendo chegado à pós graduação, todas terminaram o
ensino médio (condição mínima de escolaridade para a função de orientação de público), três
moravam na região central, duas no mesmo bairro onde o museu está instalado (Luz-Bom
Retiro)68 e duas em regiões periféricas da cidade.

Naquele momento, tratava-se de uma educadora, três orientadores de público e um


auxiliar administrativo. Hoje, com as mudanças corriqueiras no quadro funcional, o Museu
conta com quatro pessoas trans, sendo uma articuladora social júnior e três orientadores de
público. Para os cargos de orientação de público é exigida a formação básica completa; para
os cargos de educador e auxiliar administrativo, a formação superior; para a articulação social,
a pós graduação.

Embora relativamente diverso em termos identitários e em termos dos espaços que


ocupam e/ou ocuparam na instituição, o Museu não disponibiliza vagas cujo nível de
escolaridade seja inferior ao ensino médio completo.

66
Estudo publicado na Nature Scientific Reports em 2021, disponível em:
https://ibdfam.org.br/noticias/9307/Cerca+de+2+em+cada+100+brasileiros+s%C3%A3o+transg%C3%AAneros
+e+n%C3%A3o+bin%C3%A1rios%2C+revela+pesquisa#:~:text=%C3%89%20o%20que%20revela%20um,de
%203%20milh%C3%B5es%20de%20indiv%C3%ADduos. Último acesso em: 20 de abril de 2023.
67
Segundo o último censo do IBGE (2021), mulheres correspondem a 51% e negros correspondem a 56% da
população brasileira.
68
Ser morador do território onde o Museu está inserido é parte dos critérios que priorizam candidatos às vagas
do Museu.
97

Sabemos que a evasão escolar é um dos efeitos da transfobia estrutural, o que faz com
que, ainda hoje, concluir os estudos básicos seja o segundo maior desafio dessa população69.
Se por um lado, é crescente a presença de pessoas trans nos bancos acadêmicos70 e que a
presença delas em cargos mais especializados representa importante conquista social, por
outro, a ausência de espaços para aquelas que não alcançaram níveis mais elevados de
escolaridade as mantêm em situação de extrema vulnerabilização. Não é preciso estudo
qualificado para perceber o agudo crescimento da população em situação de rua no centro da
capital paulista e o aumento da presença trans nesta população, por exemplo. Igualmente
alarmante é o crescimento da área de prostituição nessa região e o também aumento da
presença trans nesta condição.

69
O primeiro é se manter viva na sociedade que mais mata pessoas trans no Mundo, conforme já apontado. É
salutar apontar que essas mortes são produzidas, muitas das vezes, de forma pública e com requintes de
crueldade.
70
Sara Wagner York, Maria Clara Araújo dos Passos, Letícia Carolina Pereira do Nascimento, Amara Moira,
Caru de Paula e tantas outras pessoas trans citadas neste estudo representam por suas próprias experiências e nos
relatam em suas pesquisas e publicações essa presença crescente. Todavia, de acordo com estimativas da Antra, a
Associação Nacional de Travestis e Transexuais, para o ano de 2021, apenas 0,02% das pessoas trans no Brasil
chegam ao ensino superior, contra 3,7% do restante da população, segundo a Abres, Associação Brasileira de
Estágios. Dados disponíveis em: https://antrabrasil.org/2020/12/17/nota-antra-cotas-universidades-pessoas-trans/
e https://abres.org.br/estatisticas/. Acesso em 04 de abril de 2023.
98

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda que mais lentas, as mudanças no campo de museus correspondem às mudanças


pelas quais passaram as sociedades que os mantêm. Conforme debatido nesta dissertação, o
caráter dos museus, e consequentemente as tarefas a eles atribuídas, vêm passando por
mudanças estruturais desde pelo menos a segunda metade do século XX, no Norte global,
quando foram se consolidando como espaços em prol da educação social, não mais pelo
caráter de afirmação de ideologias nacionalistas, mas numa perspectiva social e crítica. Na
América Latina, esse processo se intensifica no final do século XX, o que soma cerca de 30
anos, e culmina na Sociomuseologia e na Museologia Social, conjunto de práticas inovadoras
que, como aponta Maria Madalena Neu, se fundamentam em processos interdisciplinares,
dialógicos, comunitários e participativos que só recentemente vem sendo apropriada e
teorizada pela universidade. Ainda segundo a autora, embora as comunidades faveladas,
quilombolas e indígenas, que não se viam representadas pela versão oficial da história
reproduzida nas instituições públicas, tenham pioneirismo nos processos que conduziram a
museologia a este novo paradigma, é importante que não percamos de vista que essa nova
perspectiva não se volta apenas às minorias, mas na ênfase no engajamento social e na
responsabilidade para com o desenvolvimento sustentável dos territórios onde estão inseridos,
e a Ecomuseologia, como prática que segue as mesmas diretrizes, é exemplo disso (2020, p.
117 - 121).

Conforme aponta o processo que culminou na nova definição, os museus têm buscado
universalizar esse paradigma, o que implica em substituir a história oficial narrada pela voz
hegemônica pela multiplicidade de vozes e histórias que compõem as sociedades, resgatando
agentes políticos marginalizados da invisibilidade e descentralizando o objeto, dando maior
espaço para as identidades, a memória e cultura imateriais.

O museu não é, portanto, uma instituição distanciada da sociedade e as exposições,


publicações e a programação cultural que produz têm que ter consonância com as demandas
sociais e, para tanto, precisam ser concebidas em diálogo com a comunidade sobre a qual e
para a qual fala. O museu precisa estar aberto ao diálogo constante com o seu exterior, o que
significa reafirmar a renovação constante. Neste sentido, o museu se torna um espaço de
encontros e é na diversidade desses encontros que propõe, por meio dos discursos que elabora
e materializa, uma compreensão ampla da sociedade.
99

Um aspecto que demonstra a constante renovação dos museus diz respeito à duração
de suas exposições. Tradicionalmente, as exposições nos museus eram categorizadas em
permanentes ou temporárias. As exposições permanentes são aquelas que davam solidez à
identidade da instituição que poderia ou não utilizar-se das exposições temporárias como
ferramenta para a ampliação dos debates. No entanto, pensando nas rápidas transformações
sociais, na velocidade da informação e do desenvolvimento técnico, científico e cultural que
se refletem nos museus, como parte do conjunto dos produtos sociais, tem sido cada vez mais
comum - e esperado - que as instituições abram mão do paradigma de permanência e apostem
nos diálogos entre a longa e a curta duração. Neste sentido, atualmente o que impera nas
instituições museológicas são as exposições temporárias, que podem ser de curta, média ou
longa duração71.

Nesta nova perspectiva, as exposições de longa duração são as que, temporariamente,


sustentam a identidade discursiva do museu e, as exposições de curta e média duração
buscam, de maneira geral, dialogar com a exposição de longa duração respondendo às suas
lacunas. As mostras de média e curta duração podem ser, também, espaços para assuntos
completamente novos, e espaço de fala para um número cada vez maior de agentes sociais.
Cabendo ao interesse da gestão dos museus, elas têm o grande potencial de diversificação de
perspectivas históricas (e de memória) e a superação do privilégio discursivo institucional que
por muito tempo silenciou as vozes conflitivas. Considerando apenas a história recente do
Museu da Língua Portuguesa, as exposições de curta duração abriram espaço discursivo para
artistas marginais e para outras produções estéticas das camadas populares cujos produtores
nem se reconheciam como artistas (em Língua Solta, que esteve em cartaz de julho a outubro
de 2021); para comunidades imigrantes (em Sonhei em Português, em cartaz de novembro de
2021 a junho de 2022) e, mais recentemente, aos povos indígenas (Nhe’ẽ Porã: Memória e
Transformação, de outubro de 22 a abril de 2023).

Para além das exposições no espaço físico do museu, museus também fazem
exposições itinerantes, levando esses discursos por eles elaborados e parte de seu acervo para
que pessoas de outras localidades tenham acesso e, com a popularização da internet, é comum
que façam exposições virtuais. Os sites e as redes sociais dos museus são ferramentas
importantes de difusão do conhecimento por eles produzidos.

Na perspectiva de Neu, as exposições são a parte mais superficial das ações do museu,

71
As exposições de curta duração ficam em cartaz entre um e cinco meses, em média, as de média entre cinco
meses e um ano e as de longa duração ficam em cartaz entre um e cinco anos.
100

em suas palavras,

os marginalizados são sempre exotizados – muitas vezes até desumanizados – em


narrativas oficiais oferecidas em escolas, universidades, política e museus. No
Brasil, o público em geral associa os moradores das favelas à violência e ao perigo.
Além disso, o Brasil é o país com o maior número de habitantes com antepassados
​africanos fora da África. O racismo institucional, manifestando-se na falta de
representação na política, na televisão, nas universidades e na exclusão de todos os
ambientes elitistas, tem consequências profundamente sentidas no seu quotidiano
(NEU, 2020, p. 123).

Portanto, o que museu faz em profundidade é produzir sentidos e, nesta perspectiva,


no contexto em que estamos, grupos sociais menorizados historicamente estão requerendo
esse espaço para a consolidação de narrativas que os ajudem a superar a invisibilidade, o
estigma e o isolamento social, positivando os sentidos de suas memórias. Se para as mulheres,
as identidades racializadas, as pessoas com deficiência e as comunidades periféricas o
caminho traçado já garante-lhes a segurança de estar (afinal, já reconhecemos, enquanto
sociedade, a humanidade desses sujeitos), no caso das pessoas de gênero dissidentes estamos
bastante atrasados e os casos recentes de perseguição ideológica, política e institucional contra
o uso da linguagem neutra, que como aponta Dri Azevedo, não tem como alvo a linguagem,
mas as próprias pessoas trans (2022, p. 64), atestam que sua presença ainda está longe de ser
pacificada.

O Museu da Língua Portuguesa reabre afirmando-se enquanto lugar seguro para a


diversidade, e, se por um lado, tem usado de seus recursos expositivos e comunicacionais para
positivar o discurso das mais diversas camadas sociais, por outro, no que diz respeito às
identidades marcadas pelos gêneros divergentes, ainda não pavimentou esse lugar. Sujeito às
pressões político-sociais externas, recuou, reduzindo o espaço de discurso dessa camada da
sociedade ao da exposição principal. Desde Língua Solta as pessoas trans não são mais
presença nas mostras temporárias e, desde a reabertura, também não o são virtualmente
(espaço onde os discursos do Museu se fazem mais visíveis). Se a exposição principal trata da
linguagem neutra e inclusiva de forma positiva em pelo menos quatro pontos diferentes, desde
a crise iniciada em julho de 2021 em torno de seu uso por parte do Museu nas redes sociais, a
instituição não se manifestou publicamente sobre a questão. Não queremos dizer com isso que
o espaço concedido seja insignificante, pois não é. É preciso reconhecer que, de forma geral, o
Museu garantiu espaço para que as pessoas trans conseguissem se auto representar, o que faz
com que os discursos por ele veiculados não recaiam em reprodução de estereótipos que
reforçam discriminação, preconceito e exclusão. Garantiu, também, a participação de agentes
externos à instituição quanto à revisão de conteúdo que, como exceção à regra, reproduziu
101

discurso violento contra essa comunidade, o que se deu a partir da interação, via redes sociais,
com o público, que teve a chance de colaborar com a ampliação e o fortalecimento de
discursos e ações no interior da instituição. Mas é preciso apontar que, do contexto de
pré-abertura para o momento em que escrevo essas linhas, houve mais retrocesso do que
avanço.

No que diz respeito à presença em seus quadros funcionais, também não houve
avanço. Ao contrário, o Museu reabre com cinco pessoas trans na equipe e fecha o primeiro
trimestre de 2023 com apenas quatro.

Esse panorama reforça as perspectivas que defendem que a presença subalternizada


nos espaços de poder, na perspectiva do acesso e da inclusão, ainda são mediadas pelas forças
hegemônicas que atuam interna e externamente às instituições, e o Museu da Língua
Portuguesa não é exceção a esta regra.
102

REFERÊNCIAS

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promoção da acessibilidade na cultura. Museologia & Interdisciplinaridade, [S. l.], v. 10, n.
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https://www.al.sp.gov.br/deputado/?matricula=300625. Acesso em 15 de julho de 2020.
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https://umdetudo.wordpress.com/2021/08/12/a-falsa-neutralidade-de-quem-aponta-dedos-para
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BENEVIDES, B. G; HABIB, I. G; YORK, S. W; CARVALHO, R. (org). Prólogo. São Paulo:
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103

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preservação da nossa língua. Não aceitarei que esse investimento sirva para que agentes
públicos brinquem de revolução. Tomarei medidas para impedir que usem o dinheiro público
federal para suas piruetas ideológicas. Se o governo paulista se comporta como militante,
vandalizando nossa cultura, não o fará com verba federal. 23 de julho de 2021. Twitter.
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109

ANEXO A – CLIPPING IDBRASIL - MUSEU DA LÍNGUA


PORTUGUESA

24, 25 e 26/07/2021


Marcelo vai reunir-se com Lula e Bolsonaro no Brasil

PRT | IOL Diário de Portugal |26 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) O Presidente da República vai encontrar-se com Bolsonaro no inicio da próxima
semana. O encontro, apurou a TVI, realiza-se a convite do Presidente do Brasil e insere-se
na viagem que Marcelo Rebelo de Sousa vai fazer àquele país, por ocasião da reabertura
do Museu da Língua Portuguesa. (...)


Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da Língua
Portuguesa

BA | Jornal do Radialista |26 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)


Produtor de Medicamentos Butantan Mostra Interesse em
Investir na África Lusófona

PRT | Diário Económico |26 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Redaccção | Notícias
(...) Doria contou que os presidentes de Cabo Verde, Jorge Fonseca, e de Moçambique,Filipe
Nyusi, confirmaram presença na cerimónia de reabertura do Museu da Língua
Portuguesa no Brasil, na cidade de São Paulo, no dia 31 de julho, e ao ser perguntado se o
governo paulista pretendia levar os chefes de Estado africanos para conhecer as fábricas de
vacinas do Butantan, respondeu afirmativamente. (...)
110

Frias critica Museu da Língua Portuguesa

GO | Diário da Manhã |26 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)

Museu da Língua Portuguesa terá como Marco de


Reabertura música criada por rapper de periferia carioca

BR | Underground Lusófono |26 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Home / Notícias / Museu da Língua Portuguesa terá como Marco de Reabertura
música criada por rapper de periferia carioca Museu da Língua Portuguesa terá como
Marco de Reabertura música criada por rapper de periferia carioca Underground Lusófono 2
horas atrás Notícias , Outros/Outras Deixe um comentário 10 Views 'Meu Bairro, Minha
Língua', criada pelo rapper Vinicius Terra, (...)

Com mais de 130 milhões de doses de vacinas aplicadas, –


mortes ainda assustam no Brasil; em 24h, Covid-19 fez quase
500 óbitos

BA | Aratu Online |26 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da Língua Portuguesa: "isso é
vandalismo cultural!" Acompanhe todas as notícias sobre o novo coronavírus. ?Acompanhe
nossas transmissões ao vivo e conteúdos exclusivos no www.aratuon.com.br/aovivo. Nos
mande uma mensagem pelo WhatsApp: (71) 99986-0003.


Presidente da República vai reunir-se com Jair Bolsonaro
durante visita ao Brasil

PRT | Antena 1 - RTP - Rádio e Televisão de Portugal |26 jul 2021 | Museu da Língua
Portuguesa | Por por RTP | Notícias
(...) O chefe de Estado irá ainda marcar presença na reabertura do Museu da Língua
Portuguesa, em São Paulo, reconstruído após o incêndio de 2015. (...)
111


Em 'Tempo', M. Night Shyamalan leva medo a uma praia

MS | A Crítica de Campo Grande |26 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) Nos siga no Deixe seu Comentário Veja Também Mario Frias critica uso da palavra
'todes' por Museu da Língua Portuguesa CELEBRAÇÃO Evento que celebra o Dia da
Mulher Negra tem Zezé Motta soltando a voz COMEMORAÇÕES DO DIA Hoje é Dia:
Jorge Amado trabalhou pelo Dia do Escritor; (...)

Museu da Língua Portuguesa reabre dia 31

PR | Diário Indústria&Comércio - Impresso - Flip |26 jul 2021 | Museu da Língua


Portuguesa | Notícias
(...) Reconstruído após o incêndio que o destruiu em dezembro de 2015, e com o conteúdo
atualizado, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, será reinaugurado no
sábado 31 de julho, às 11h, em cerimônia que será transmitida pelas redes sociais da
instituição. (...)

Museu da Língua Portuguesa reabre dia 31

PR | Diário Indústria & Comércio |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) O museu está instalado no histórico prédio da Estação da Luz. Foto: Ana Mello
Reconstruído após o incêndio que o destruiu em dezembro de 2015, e com o conteúdo
atualizado, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, será reinaugurado no
sábado 31 de julho, às 11h, em cerimônia que será transmitida pelas redes sociais da
instituição. (...)

Secretário de Cultura Mario Frias critica uso da palavra


'todes' por Museu da Língua Portuguesa: 'pirueta
ideológica'

RN | São Miguel Para Todos |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por são miguel para
todos | Notícias
112

(...) Foto: Agência O Globo Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair
Bolsonaro, usou seu Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial
do Museu da Língua Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)

Secretário especial de Cultura critica uso de "todes" por


Museu da Língua Portuguesa

BA | Bocão News |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) O secretário especial de Cultura do governo federal, Mario Frias, usou seu perfil no
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O governo federal investiu R$ 56
milhões nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Bem protegido

SP | Guia Olá SP |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) O Museu da Língua Portuguesa, localizado na estação da Luz, em São Paulo,
reabre no dia 31 de julho suas portas ao público após 5 anos. Desde que sofreu um incêndio
em dezembro de 2015, o local passou por uma grande reconstrução e reforçou suas medidas
de proteção. (...)

Secretário de Cultura Mario Frias critica uso da palavra


'todes' por Museu da Língua Portuguesa: 'pirueta
ideológica'

RN | Martins em Pauta |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Martins em
Pauta | Notícias
(...) Domingo, 25 de Julho de 2021 Foto: Agência O Globo Mario Frias, secretário especial
de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu Twitter para criticar o uso da palavra
'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua Portuguesa, que reabre no próximo dia
31 de julho. (...)
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Mário Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

PR | Diário dos Campos |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

BR | Élle News |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

GO | Altair Tavares |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Secretário Especial da Cultura, Mario Frias. (Foto: Roberto Castro / JC). - Anúncio -
Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu Twitter
para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SP | A Tribuna de Santos Online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
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(...) Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da Língua
Portuguesa Secretário especial de Cultura do governo Jair Bolsonaro usou o Twitter para
se posicionar sobre o caso Por: Estadão Conteúdo - 25/07/21 - 18: (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SP | Reporter Diário |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Da Redação | cultura
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

#Brasil: Mario Frias diz que Museu da Língua Portuguesa


vandaliza cultura ao usar 'todes'

BA | Jornal da Chapada |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Jornal da
Chapada | Notícias
(...) O secretário especial da Cultura, Mario Frias, condenou o uso do pronome neutro 'todes'
pela redes sociais oficiais do Museu de Língua Portuguesa. 'O Governo Federal investiu
R$56 milhões nas obras do Museu da Língua Portuguesa, para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

BR | MSN Brasil |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Redação | Notícias
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)
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Mario Frias critica Museu da Língua Portuguesa por usar


palavra 'todes'

MG | Estado de Minas online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SP | Jornal de Itatiba |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

BR | Correio Braziliense Online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Agência
Estado | Notícias
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SP | ABC do ABC |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


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(...) Crédito: Reprodução Twitter Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de
Jair Bolsonaro, usou seu Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial
do Museu da Língua Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)

Secretário de Cultura Mario Frias critica uso da palavra


'todes' por Museu da Língua Portuguesa: 'pirueta
ideológica'

RN | Blog do BG |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Polêmica 25/07/2021 16h40 By Rodrigo Freire Foto: Agência O Globo Mario Frias,
secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu Twitter para criticar o
uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua Portuguesa, que reabre no
próximo dia 31 de julho. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

PR | Portal Banda B |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa - Cultura - Estadão

BR | Head Topics - Brasil |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) EstadaoCultura Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da Língua
Portuguesa Secretário especial de Cultura de Bolsonaro definiu uso de gênero neutro
como 'pirueta ideológica'; (...)
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Sertanejo Tiago rebate crítica de Fafá de Belém sobre sua


cirurgia peniana: 'Estúpida' - ISTOÉ Independente

BR | Head Topics - Brasil |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) ISTOÉGENTE O cantor sertanejo Tiago, da dupla com Hugo, rebateu o comentário de
Fafá de Belém sobre sua cirurgia peniana. A veterana o chamou de 'ridículo' em uma
postagem de Hugo Gloss nas redes sociais. + Mario Frias critica uso da palavra 'todes'
por Museu da Língua Portuguesa + Michel Teló comemora aniversário do filho caçula,
[? (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SE | Ajn1 |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SP | Folha de Valinhos |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Copyright © 2021 Estadão Conteúdo. Todos os direitos reservados. Mario Frias,
secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu Twitter para criticar o
uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua Portuguesa, que reabre
no próximo dia 31 de julho. (...)

Mario Frias critica uso da palavra "todes" por Museu da


Língua Portuguesa | HiperNotícias

MT | HiperNotícias |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


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(...) Roberto Castro/ Mtur Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair
Bolsonaro, usou seu Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial
do Museu da Língua Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

PR | Jornal O Comércio |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Educação


(...) 25 de julho de 2021 - 15h 30 (última atualização: 3 horas atrás) Sugira uma Correção
Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu Twitter
para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)

No Twitter, Mario Frias critica uso de gênero neutro por


Museu da Língua Portuguesa

RJ | Meia Hora |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) São Paulo - Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro,
usou seu Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da
Língua Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

RJ | O Dia RJ Online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por E Estadão
Conteúdo | Notícias
(...) 18 São Paulo - Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro,
usou seu Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da
Língua Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa
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RN | Tribuna do Norte |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

MG | Jornal Correio do Papagaio |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

RS | Gaúcha ZH |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Estadão Conteúdo | Cultura e
Lazer
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

RJ | Tribuna de Petropolis |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Estadão | Notícias
(...) Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da Língua Portuguesa 25/jul
15:03 image/svg+xml Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair
Bolsonaro, usou seu Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial
do Museu da Língua Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. (...)
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Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SP | Portal Meon |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Conteúdo Estadão | Notícias
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SP | Diário do Grande ABC ONLINE |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Esportes
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

ES | Vitoria News |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

BR | ISTOÉ |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


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(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

PR | Bem Paraná Online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Estadão
Conteúdo | Notícias
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

PR | Cgn |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Agência Estado | Notícias
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

SP | O Liberal online - Americana (SP) |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Por
Agência Estado | Cultura
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)
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Frias critica uso de 'todes' por Museu da Língua


Portuguesa

BR | Terra |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes"pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O governo federal investiu R$ 56
milhões nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

BR | Estadão Online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Redação, O Estado de
S.Paulo | Cultura
(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa | HiperNotícias

MT | HiperNotícias |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)
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Produtor de medicamentos Butantan tem interesse no


mercado da África

PRT | O Guardião |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Doria contou que os presidentes de Cabo Verde, Jorge Fonseca, e de Moçambique,Filipe
Nyusi, confirmaram presença na cerimónia de reabertura do Museu da Língua
Portuguesa no Brasil, na cidade de São Paulo, no dia 31 de julho, e ao ser perguntado se o
governo paulista pretendia levar os chefes de Estado africanos para conhecer as fábricas de
vacinas do Butantan, respondeu afirmativamente. (...)

Vereador do PT é preso durante protesto contra Jair


Bolsonaro

RO | Ouro Preto Online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) Leia também1 DiCaprio, Greta e Macron se calam sobre incêndios nos EUA 2 Heleno
atribui suspeitas de Joice sobre GSI a 'perturbação da pancada' 3 Nunes Marques aciona
PGR contra colunista da Folha 4 Joice revela a site que tem "dois suspeitos" de suposto
atentado 5 Frias critica uso de "todes" em post do Museu da Língua Portuguesa (...)

Ministro da Cultura, Mario Frias, afirma que Museu da


Língua Portuguesa 'vandaliza' cultura ao usar pronome
neutro

BR | Imprensa Brasil |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Redação | Notícias
(...) 'O governo federal investiu R$ 56 milhões nas obras do Museu da Língua
Portuguesa, para preservarmos o nosso patrimônio cultural, que depende da preservação
da nossa língua', disse o secretário. 'Não aceitarei que esse investimento sirva para agentes
públicos brincarem de revolução'. disse Frias. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

AM | Portal do Holanda |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
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Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Museu da Língua Portuguesa usa 'todes' em postagem


nas redes sociais

BR | www.tercalivre.com.br |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) ?? CLIQUE PARA OUVIR A MATÉRIA OU PAUSAR 'Todas, todos e todes', escreveu
o Museu da Língua Portuguesa em uma postagem nas redes sociais numa publicação
sobre como utilizar a vírgula. Apesar de ter tomado repercussão apenas ontem (23), a
postagem é de 12 de julho. (...)

Mario Frias diz que Museu da Língua Portuguesa


vandaliza cultura ao usar 'todes' -

BR | ID News Oficial |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Educação & Cultura Beto Fortunato Mario Frias diz que Museu da Língua
Portuguesa vandaliza cultura ao usar 'todes' Mario Frias diz que Museu da Língua
Portuguesa vandaliza cultura ao usar 'todes' O Museu da Língua Portuguesa causou
polêmica ao adotar a escrita de pronome neutro (sem gênero) em seus perfis nas redes
sociais O secretário especial da Cultura, M (...)

Ministro da Cultura, Mario Frias, afirma que Museu da


Língua Portuguesa 'vandaliza' cultura ao usar pronome
neutro

RS | Políbio Braga |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) 'O governo federal investiu R$ 56 milhões nas obras do Museu da Língua
Portuguesa, para preservarmos o nosso patrimônio cultural, que depende da preservação
da nossa língua', disse o secretário. 'Não aceitarei que esse investimento sirva para agentes
públicos brincarem de revolução". disse Frias. 'Se o governo paulista se comporta como
militante, vandalizando nossa cultura, não o fará com verba federal', asseverou. (...)
125

Museu da Língua Portuguesa reabre no fim deste mês

SP | Tribuna Ribeirão |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Redação 1 | Notícias
(...) A reabertura do Museu da Língua Portuguesa, instalado na histórica Estação da
Luz, na capital paulista, será no dia 31 de julho. A estrutura sofreu um incêndio de grandes
proporções em 21 de dezembro de 2015 e teve que ser completamente reformada. (...)

Mario Frias diz que Museu da Língua Portuguesa


vandaliza cultura ao usar 'todes'

MT | Jornal do Advogado MT |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Rocha | Notícias
(...) Início Bastidores Mario Frias diz? O secretário especial da Cultura, Mario Frias,
condenou o uso do pronome neutro 'todes' pela redes sociais oficiais do Museu de Língua
Portuguesa. 'O Governo Federal investiu R$ 56 milhões nas obras do Museu da Língua
Portuguesa, para preservarmos o nosso patrimônio cultural, que depende da preservação
da nossa língua. (...)

Novo Museu da Língua Portuguesa adapta-se à pandemia


e aposta na diversidade

PRT | portocanal.sapo.pt |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Novo Museu da Língua Portuguesa adapta-se à pandemia e aposta na diversidade
25-07-2021 09: (...)

Arquivos Mario Frias diz que Museu da Língua


Portuguesa vandaliza cultura ao usar 'todes' -

BR | ID News Oficial |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Educação & Cultura Beto Fortunato Mario Frias diz que Museu da Língua
Portuguesa vandaliza cultura ao usar 'todes' Mario Frias diz que Museu da Língua
Portuguesa vandaliza cultura ao usar 'todes' O Museu da Língua Portuguesa causou
polêmica Ler mais
126

Especialista afirma que uso de pronomes neutros gera


descontentamento, mas deve ser naturalizado

AM | Revista Cenarium Jornalismo Técnico e Investigativo |25 jul 2021 | Museu da Língua
Portuguesa | Notícias
(...) O perfil do Museu da Língua Portuguesa no Twitter publicou um vídeo, na
sexta-feira, 23, anunciando a reabertura do local e a nova logo. Porém, no texto da
publicação o uso de 'todes' não agradou a todos e gerou muitas críticas. Alguns comentários
foram de que o uso do 'todes' tem significado totalmente ideológico, outros alegaram pura
ignorância dos responsáveis por gerir a página. (...)

Museu da Língua Portuguesa reabre em julho com


sistema de combate a incêndio reforçado

BR | Repórter |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Redação | Notícias
(...) Home Brasil By Redação 1 O Museu da Língua Portuguesa, localizado na estação
da Luz, em São Paulo, reabre no dia 31 de julho suas portas ao público após 5 anos. Desde
que sofreu um incêndio em dezembro de 2015, o local passou por uma grande reconstrução
e reforçou suas medidas de proteção. (...)

Museu da Língua Portuguesa é reinaugurado com novas


experiências para os visitantes

PRT | Observatório da Língua Portuguesa |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa |
Por Observatório da Língua Portuguesa | Notícias
(...) Espaço reabre ao público reconstruído, após incêndio. Conteúdo renovado vai combinar
novas experiências audiovisuais e instalações marcantes Link imagens:
https://we.tl/t-KOvkO54zWb O Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria
de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, será reinaugurado no próximo dia
31 de julho,? (...)

Brasil - Presidentes de Cabo Verde, Moçambique e


Portugal estarão presentes na reabertura do Museu da
Língua Portuguesa
127

BR | MILhafre: um olhar lusófono sobre o mundo |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa |
Por Nova Águia | Notícias
(...) Depois do presidente de Portugal, também os chefes de Estado de Cabo Verde e de
Moçambique confirmaram presença no evento de reabertura do Museu da Língua
Portuguesa, no Brasil dia 31 de julho, segundo o Governador de São Paulo, João Doria.
(...)

Novo Museu da Língua Portuguesa adapta-se à pandemia


e aposta na diversidade

PRT | Observatório da Língua Portuguesa |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa |
Por Observatório da Língua Portuguesa | Notícias
(...) São Paulo, Brasil, 25 jul 2021 (Lusa) - Adaptações criadas para facilitar a interação do
público com o acervo digital, durante a pandemia, e a renovação da aposta na valorização da
diversidade linguística são os destaques do novo Museu da Língua Portuguesa, no
Brasil, que reabre ao público em agosto. (...)

Jamais usaremos linguagem neutra!

BR | Vida Destra |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por Vida Destra | Notícias
(...) Depois de ter sido destruído por um incêndio em 2015, o Museu da Língua
Portuguesa foi reconstruído e será reaberto ao público no próximo dia 31 de julho. (...)

Mario Frias diz que Museu da Língua Portuguesa


vandaliza cultura ao usar 'todes'

NDF | Bahia e Região |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Por ueslei | Notícias
(...) FolhaPress O secretário especial da Cultura, Mario Frias, condenou o uso do pronome
neutro 'todes' pela redes sociais oficiais do Museu de Língua Portuguesa. 'O Governo
Federal investiu R$ 56 milhões nas obras do Museu da Língua Portuguesa, para
preservarmos o nosso patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)
128

Ricardo Aleixo convoca a poesia a combater o bom


combate

MG | Estado de Minas online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) ) Obras no Museu da Língua Portuguesa No próximo dia 31, será realizada a
reinauguração do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, com duas obras de
Ricardo Aleixo, sendo uma delas a filmagem de uma performance que será exibida numa
tela de 100 metros, um trabalho inédito, feito a convite do museu.

TRAGÉDIA. Segurança contra incêndios: 'já passou da


hora', declara o Sindicato dos Engenheiros do RS

RS | Claudemir Pereira |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Incêndios como o da Boate Kiss, da sede da EMATER, do Mercado Público de Porto
Alegre, do Museu Nacional, do Ninho do Urubu, do edifício Wilton Paes de Almeida e
do Museu da Língua Portuguesa no mínimo nos remetem a importantes reflexões:
como está a segurança da sociedade? O que a Engenharia pode contribuir para mudar esse
cenário? (...)

Novo Museu da Língua Portuguesa adapta-se à pandemia


e aposta na diversidade

PRT | Antena 1 - RTP - Rádio e Televisão de Portugal |25 jul 2021 | Museu da Língua
Portuguesa | Por por Lusa | Notícias
(...) Novo Museu da Língua Portuguesa adapta-se à pandemia e aposta na diversidade
por Lusa cancelar Adaptações criadas para facilitar a interação do público com o acervo
digital, durante a pandemia, e a renovação da aposta na valorização da diversidade
linguística são os destaques do novo Museu da Língua Portuguesa, no Brasil, que
reabre ao público em agosto. (...)

Produtor de medicamentos Butantan tem interesse no


mercado da África

PRT | Notícias ao Minuto |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
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(...) Doria contou que os presidentes de Cabo Verde, Jorge Fonseca, e de Moçambique,Filipe
Nyusi, confirmaram presença na cerimónia de reabertura do Museu da Língua
Portuguesa no Brasil, na cidade de São Paulo, no dia 31 de julho, e ao ser perguntado se o
governo paulista pretendia levar os chefes de Estado africanos para conhecer as fábricas de
vacinas do Butantan, respondeu afirmativamente. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

PR | Diário do sudoeste |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Almanaque+ De Estadão Conteúdo postado em 25 de julho de 2021 Mario Frias,
secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu Twitter para criticar o
uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua Portuguesa, que reabre no
próximo dia 31 de julho. (...)

Mario Frias critica uso da palavra todes por Museu da


Língua Portuguesa

SP | Guarulhos Web |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

ES | Aqui Notícias |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)
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Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

AL | Tribuna do Sertão |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa

AL | Tribuna do Agreste |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Mario Frias, secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra 'todes' pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. 'O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Mario Frias critica uso da palavra 'todes' por Museu da


Língua Portuguesa: "isso é vandalismo cultural!"

BA | Aratu Online |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) O secretário especial de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, Mário Frias, usou seu
Twitter para criticar o uso da palavra "todes" pelo perfil oficial do Museu da Língua
Portuguesa, que reabre no próximo dia 31 de julho. "O Governo Federal investiu 56
milhões de reais nas obras do Museu da Língua Portuguesa para preservarmos o nosso
patrimônio cultural, que depende da preservação da nossa língua. (...)

Museu da Língua Portuguesa reabre dia 31 de julho

SP | Portal GRNEWS |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


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(...) A reabertura do Museu da Língua Portuguesa, instalado na histórica Estação da


Luz, na capital paulista, será no dia 31 de julho. A estrutura sofreu um incêndio de grandes
proporções em 21 de dezembro de 2015 e teve que ser completamente reformada. (...)

Secretário especial de Cultura critica uso de "todes" por


Museu da Língua Portuguesa

BA | Bocão News |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Secretário especial de Cultura critica uso de "todes" por Museu da Língua
Portuguesa 25 de Julho de 2021 às 21:42 Por: Marcello Casal Jr/Agência Brasil Por:
Redação BNews Compartilhe: (...)

TICTAC

PA | O Liberal (Belém) |25 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) MINHA PÁTRIA, MINHA LÍNGUA - Fafá canta o hino nacional na reabertura
do Museu da Língua Portuguesa para Marcelo Silva, presidente de Portugal. CINEMA
EM CASA - Amanhã abre o 1º FIC RIO (Festival Internacional de Curtas no Rio de
JaneiTO). Acesse: www. youtube. com/c/FICRIO. (...)

Museu da Lingua Portuguesa usa 'todes' em post e


provoca polêmica

BA | Correio 24 Horas |24 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) LÍNGUA VIVA O Museu da Língua Portuguesa causou polêmica ao adotar a
escrita de pronome neutro (sem gênero) em seus perfis nas redes sociais. No dia 12 de julho,
o museu paulista fez um post em que aparece escrito o termo 'todes', apesar dele não existir
na língua portuguesa. (...)

A história do Museu da Língua Portuguesa, que reabre


dia 31
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SP | Gazeta de São Paulo - Impresso - Flip |23 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) Após um incêndio devastador em dezembro de 2015, o Museu da Língua
Portuguesa reabre suas portas em 31 de julho. Contudo, a história do prédio que abriga
um dos primeiros museus totalmente dedicado a um idioma no mundo começou bem antes e
se mistura com outro símbolo histórico da cidade de São Paulo, a Estação da Luz. (...)

A história do Museu da Lingua Portuguesa, que reabre


dia 31

SP | Diário do Litoral |23 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) > Após um incêndio devastador em dezembro de 2015, o Museu da Língua
Portuguesa reabre suas portas em 31 de julho. Contudo, a história do prédio que abriga
um dos primeiros museus totalmente dedicado a um idioma no mundo começou bem antes e
se mistura com outro simbolo histórico da cidade de São Paulo, a Estação da Luz. (...)

Conheça a história do Museu da Lingua Portuguesa

SP | Diário do Litoral |23 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias


(...) Após um incêndio devastador em dezembro de 2015, o Museu da Língua
Portuguesa reabre suas portas em 31 de julho. Contudo, a história do prédio que abriga
um dos primeiros museus totalmente dedicado a um idioma no mundo começou bem antes e
se mistura com outro simbolo histórico da cidade de São Paulo, a Estação da Luz. (...)

Conheça a história do Museu da Língua Portuguesa

SP | Gazeta de São Paulo - Impresso - Flip |23 jul 2021 | Museu da Língua Portuguesa | Notícias
(...) Após um incêndio devastador em dezembro de 2015, o Museu da Língua
Portuguesa reabre suas portas em 31 de julho. Contudo, a história do prédio que abriga
um dos primeiros museus totalmente dedícado a um idioma no mundo começou bem antes e
se mistura com outro simbolo histórico da cidade de São Paulo, a Estação da Luz.

Fonte: Knewin Monitoring


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