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Pelotas, 2013.
CAMILLA FAGUNDES MAFALDO
Pelotas
2013
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
Sumário
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1
Lista de Figuras
INTRODUÇÃO
uso dos espaços públicos ociosos de modo que a comunidade possa conhecer e
inteirar-se do cenário artístico-cultural da cidade.
e músicos locais, artes plásticas, literatura, cinema, artesanato (em madeira, couro,
pano, papel, material reciclado), astrologia, oficinas, doação de animais.
Embora frustrada, esta experiência inicial foi, sem duvida, muito positiva para
o desenvolvimento da pesquisa, pois a partir disso, fez-se necessário repensar as
técnicas já utilizadas, agregando novas táticas de pesquisa, para assim, estabelecer
uma aproximação mais intensa com o grupo.
O Piquenique Cultural não tem lugar fixo, assim, depende diretamente das
mídias virtuais e alternativas para divulgar os encontros, a divulgação acontece
também “no boca a boca” nas conversas entre os freqüentadores. Segundo a
organização do evento, o uso da internet na divulgação foi fundamental para agregar
maior público, “o Piquenique Cultural foi um evento que surgiu da internet. (...) o que
fez o Piquenique Cultural ter um peso, teoricamente falando em público – as
pessoas começaram a procurar e se interessar – foi o uso da internet: como meio de
participação, como meio de relação, entre os artistas” (Aline, entrevista). Para
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O grupo teatral Cia Informal, o ator pelotense Lóri Nelson (palhaço Bolacha) e
o músico independente Serginho, conduzem algumas intervenções artísticas;
Morgan Mahira apresenta performances de dança do ventre e dança tribal, a artista
Janete Flores expõe seus trabalhos de artes visuais desde as primeiras edições e
também coordena as oficinas de nanquim; o pessoal do circo sem lona e do circo
independente akrata, demonstram as técnicas circenses, compartilhando-as em
oficinas de malabarismo e equilibrismo para adultos e crianças. Além das oficinas de
customização, reciclagem, dança e coreografia infantil; roda de capoeira, projeto
Pintando sete, coral Linguagens de emoções; exibição de filmes, documentários,
curtas-metragens, distribuição de livros, confraria de xadrez.
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Figura 5: Na 16ª edição, xadrez um exercício para a mente. (Foto: Lúcio Pereira)
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É o que mostra o grupo Sitio Amoreza que contribui com produtos artesanais
e orgânicos; como também, o grupo GNOSIS – ciência e cultura do homem em
busca do ser – que organiza cursos sobre o despertar da consciência, meditação,
alquimia, desdobramento astral, bem estar integral, mistérios da cultura milenar
oriental e outros temas, viabilizando trocas de saberes em conversas ideológicas ou
filosóficas.
Figura 6: Grupo Gnosis, 14ª edição, Praça do Direito. (Foto: Camilla Mafaldo)
Figura 7: Musical Cerelepe, 14º edição na Praça do Direito. (Foto: Camilla Mafaldo)
ou os altos índices de poluição e violência, são alguns aspectos que enfatizam como
se tornaram obsoletas as relações pessoais cotidianas. Admirar um jardim,
conversar com um vizinho, conhecer quem produziu o objeto adquirido, são
características de contatos e vínculos perdidos na atualidade. A metrópole é
interpretada pelo individuo através da sucessão de imagens e de mensagens-texto,
letreiros de propagadas ou outdoor’s, “resultado da superposição e conflitos de
signos, simulacros, não lugares, redes e pontos de encontro virtuais” (MAGNANI,
2002, p. 12).
Figura 8: Praça do Direito, 14ª edição. (Foto: acervo Teatro do Chapéu Azul)
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Casa do Joquim foi um espaço cultural de Pelotas, organizado por Pedro, Aline e outros colaboradores
(artistas, músicos e escritores) no ano de 2009, que reunia manifestações de cunho artístico. A companhia
Teatro do Chapéu Azul originou-se nesse espaço, bem como, muitas idéias que deram corpo ao projeto-piloto
Piquenique Cultural surgiram em função do fechamento da Casa.
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Figura 9: Harmonia astral, 15ª edição, Parque da Baronesa (Foto: Beatriz Rodrigues)
“Sozinhos, mas semelhantes aos outros, o usuário do não lugar está com
este em relação contratual, A existência desse contrato lhe é lembrada na
oportunidade: a passagem que ele comprou, o cartão que deverá apresentar
no pedágio, ou mesmo o carrinho que empurra nos corredores do
supermercado são a marca mais ou menos forte desse contrato. O contrato
sempre tem relação com a identidade individual daquele que subscreve”
(AUGÉ, 1994, p. 93).
Figura 10: Praça dos Enforcados, 13ª edição. (Foto: Lúcio Pereira)
Figura 11: Serginho da vassoura, artista independente. (Foto revista e-cult 05/2011)
Figura 14: A presença das bicicletas. (Foto: acervo Teatro do Chapéu Azul)
Figura 15: Slackline para todos. (Foto: acervo Teatro do Chapéu Azul)
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Figura 16: Meu filho Antonio praticando Slackline, 15ª edição, Parque da Baronesa.
A estrutura kula tem seus movimentos fixados e regulados por uma serie de
regras e convenções tradicionais que devem ser respeitadas por aqueles que dela
participam. A estrutura fundamental do Kula mobiliza e articula as aldeias locais,
abrangendo um conjunto de “atividades interligadas e desenvolvidas, de modo a
formar um todo orgânico’’ (MALINOWSKI, 1973, p. 86), demonstrando, assim, a
noção de totalidade. A troca existe, fundamentalmente para que se estabeleçam
alianças entre as partes envolvidas no processo. Os parceiros kula trocam presentes
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Mauss (apud. Lanna, 2000, p. 177) define como dádiva, de modo geral, não
só presentes, mas também visitas, festas, comunhões, saberes, heranças, palavras,
objetos. A partir das diferentes possibilidades de troca, o autor evidencia a
sociabilidade conseqüente da dádiva. Desse modo, detém seus estudos na
diversidade das formas de troca, procurando entender a natureza das transações
humanas.
“Além disso, o que eles trocam não são exclusivamente bens e riquezas,
móveis e imóveis, coisas úteis economicamente. São, antes de mais nada,
amabilidades, festins, ritos, serviços, danças, festas, feiras cujo mercado não
é senão um dos seus momentos e em que a circulação das riquezas mais
não é do que um dos termos de um contrato muito mais geral, muito mais
permanente” (MAUSS, 2008, p. 56).
Figura 19: Contato com práticas artísticas. (Fotos: acervo Teatro do Chapéu Azul)
outras que pintavam o próprio corpo; pais e mães pintando com os filhos, até
mesmo famílias inteiras, com a ‘mão na massa’, reunidas em torno do papel e
das tintas. A satisfação é muito grande e a gente acaba esquecendo tudo o
que está acontecendo na volta e toda a trabalheira que deu para chegar até
ali. É muito bom. (Aisllan Souza, entrevista web)
Figura 20: Projeto pintando o sete, 15ª edição, Parque da Baronesa. (Foto: Camilla Mafaldo)
A revista e-cult mídia ativa, fala que o Piquenique Cultural, após completar
seus dois anos, “firma-se cada vez mais como um espaço agregador de saberes e
fazeres criativos, de formação, multiplicação e fortalecimento de redes e iniciativas
culturais.” (E-CULT Mídia Ativa, 25 de novembro de 2012).
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Figura 21: APAAMA, na 15ª edição no Parque da Baronesa. (Foto: Beatriz Rodrigues)
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Dentre os quais, destacam-se Alain Caillé, Jaques Godbout e o brasileiro Paulo Henrique Martins.
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Ainda segundo este autor, a relação proposta pela dádiva é uma relação de
duas atitudes muito mais complexa que o paradigma racionalista é capaz de
esclarecer, pois se trata de trocas cujo sentido não se reproduz conforme as regras
ou convenções sociais, e sim em expressar vínculos com outra pessoa.
"No fundo, do mesmo modo em que estas dádivas não são livres, não são
também realmente desinteressadas. São já contraprestações para maior
parte e mesmo feitas tendo em vista não apenas pagar serviços e coisas,
mas também manter uma aliança proveitosa (...) é isso que confere um
aspecto de generosidade a esta circulação dos bens” (MAUSS, 2008, p.
194).
“as pessoas que querem trocar ideias, querem se juntar a outras pessoas,
nos falta tempo muitas vezes de poder ter o privilégio de fazer um piquenique,
e o evento junta tudo isso, pessoas que querem vender sua arte, grupos que
não tem espaço para realizarem suas atividades e assim por diante, o que
motiva é o prazer de juntar todas essas pessoas” (Giuliana, entrevista web)
“E inútil ir procurar longe o bem e a felicidade, pois ele está ali, na paz
imposta, no trabalho bem ritmado, comum e solitário alternativamente, na
riqueza acumulada e depois redistribuída, no respeito mútuo e na
generosidade recíproca que a educação ensina” (MAUSS, 2008, p. 205).
se expõe com sucesso, os próprios festins nos quais todos participam” retratam a
importância da noção estética e artística destas instituições.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2010, p. 6.
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antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994, p.71-105.
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Sociedade: ensaios de sociologia da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977, p. 9-
26.
CAILLÉ, Alain; GRAEBER, David. “Introdução”. In: MARTINS, Paulo Henrique. (org.)
A dádiva entre os modernos: discussão sobre os fundamentos e as regras do social.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. 17-30.
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Ciências Sociais, v. 21, n. 60. São Paulo, 2006, p. 171-174.
GARCIA, Renata. Arte e cultura ao ar livre. Diário Popular. Pelotas, 27, fevereiro,
2012, p. 8.
GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura. In:
A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008, p. 3-21.
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Brasileira de Ciências Sociais, vol. 17, n. 49. São Paulo: ANPOCS/Edusc, 2002, p
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MAUSS, Marcel. Ensaio sobre Dádiva. São Paulo: Edições 70, 2008, p. 51-209.
NEVES, Roberto S. Domingo tem piquenique na praça. Diário Popular. Pelotas, 24,
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