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Maria
Maria João
João Moreira
Moreira
Políticas Culturais
Discentes:
Discentes:
Políticas Culturais
Martim
Martim
Aplicadas
Dias
Diasao Património Imóv
Soraia
Rita Silva
Carvalho
Rita
Soraia
Silva
Carvalho
Porto, de 2010 |
Índice
Introdução 4
2
Secção 1 - Os organismos Internacionais e a sua 32
importância
Secção 2 - O alargamento do conceito de Património 35
Imóvel
Secção 3 - A Salvaguarda do Património Cultural como 36
uma responsabilidade colectiva.
Secção 4 - A Salvaguarda do Património, uma filosofia 37
europeia.
Capítulo 4 – As competências da administração local relativas 38
ao património imóvel
Secção 1 - A definição das responsabilidades 38
Conclusão 51
Bibliografia 52
Webgrafia 53
Anexos
3
Introdução
4
Pensando que questões relevantes irão surgir no desenrolar da leitura
do trabalho pensamos que muitas ramificações e desenvolvimentos futuros são
possíveis em trabalhos acerca desta temática.
5
Parte I - Abordagem às políticas culturais.
6
Ao longo dos tempos, o conceito de Cultura foi evoluindo e alargando-
se, pois sabe-se que esta, em determinados contextos e períodos da história,
compreendia tudo aquilo que estava ligado às artes eruditas ou ao
desenvolvimento intelectual. No entanto, esta corrente eliminava uma noção
ligada à etnologia e todas as formas de viver de um povo, como as suas
tradições, crenças, costumes e relações.
Nos dias de hoje a cultura aparece-nos como o conjunto de práticas e
acções sociais que seguem um determinado padrão num determinado espaço.
Ela refere-se às crenças, comportamentos, valores, instituições e regras morais
que permitem identificar uma sociedade. A cultura assume também o aspecto
da vida social que se relaciona com a produção do saber, da arte, do folclore,
da mitologia e dos costumes, entre outros, bem como a forma que a sua
perpetuação se dá através da transmissão de uma geração para outra.
Uma das principais características da cultura é o seu mecanismo
adaptativo, ou seja, a sua capacidade de responder ao meio num contexto de
mudança de hábitos. Além desta característica possui também um mecanismo
cumulativo, ou seja, as modificações levadas a cabo por uma geração são
passadas à geração seguinte. Desta forma com o passar do tempo a cultura
sofre transformações uma vez que vai perdendo determinados aspectos e
incorporando outros mais adequados às vivências da nova geração.
A mudança cultural dá-se através de dois mecanismos básicos: a
invenção ou introdução de novos conceitos e a difusão de conceitos a partir de
outras culturas.
Segundo a declaração do México sobre Políticas Culturais (1984), no
seu sentido mais alargado, “a cultura deve ser entendida como o complexo
global de elementos espirituais, materiais, intelectuais e emocionais distintivos
que caracterizam a sociedade ou o grupo social, incluindo não apenas as artes
e letras, mas igualmente os modos de vida, os direitos humanos fundamentais,
os sistemas de valores, as tradições, as crenças. É a Cultura que permite
formar seres racionais, realmente humanos, dotados de uma capacidade de
julgamento e de uma certa consciência moral. É através da Cultura que o
Homem se pode exprimir, tomar consciência de si próprio, reconhecer a sua
imperfeição, interrogar-se sobre as suas próprias dúvidas, realizar-se, procurar
7
sem cessar novos significados e criar obras que lhe permitam transcender os
seus próprios limites”.
Sendo a cultura intrínseca ao Homem, esta não pode ser restrita,
qualquer pessoa tem o direito de lhe aceder livremente. Este direito está
patente na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 no artigo 27º
“Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso cientifico e nos
benefícios que deste resultam”3.
Desta forma, pode-se afirmar que o Homem é o centro de tudo e que a
Cultura é essencial para o seu desenvolvimento e progresso, porque o ajuda a
reflectir sobre si mesmo. Para além desta característica, a Cultura também é
um meio de reforço de independência, identidade e soberania nacional com a
sua compreensão e aceitação pelos povos. Assim, é necessário criar uma série
de mecanismo para a defesa da cultura, do património de cada país.
8
também teve um papel fundamental, na medida que correspondia à ideia
preconizada do regime autoritário que definia que cultura convinha aos
portugueses e quais os valores que a deviam enformar.
O regime exercia-se igualmente por via do sistema educativo, em que a
Junta de Educação Nacional (JEN) desempenhava um papel preponderante.
Este junta dividia-se em várias subsecções; sendo a primeira, a segunda e a
quarta, relevantes ao domínio da cultura4.
Deste modo a cultura era dominada pela dimensão propagandista e as
áreas que hoje se consideram especificamente culturais, áreas estas que eram
da competência do Ministério da Educação e no qual encontravam-se
integradas.
A 26 de Setembro de 1968, Marcelo Caetano sobe ao poder, sucedendo
a Salazar e, trazendo uma orientação política que tinha por lema a renovação
na continuidade. Com uma perspectiva menos rígida deu-se um ligeiro
abrandamento da situação de opressão (censura), mas no decorrer dos tempos
os esquemas controladores do Regime acabaram por manter-se, passando a
censura a designar-se de Exame Prévio.
A 25 de Abril de 1974, dá-se o golpe militar de marca o fim do Regime
Salazarista, instaurando a democracia em Portugal e, trazendo mudanças
profundas não só no sistema político do país, mas também no económico, no
social e no cultural.
Em Maio do mesmo ano é publicado o Programa do Movimento das
Forças Armadas que toma imediatamente medidas como a abolição da
Censura e do Exame Prévio e a criação de uma comissão adhoc com a missão
de controlar a imprensa, rádio, televisão, teatro e cinema.
Com a criação do I Governo Provisório surge um novo programa que
previa por conseguinte: uma nova lei de imprensa, rádio, televisão, teatro e
cinema; o estabelecimento de medidas de salvaguarda do património; a
erradicação do analfabetismo e o fomento dos meios de comunicação social
como uma forma de atingir uma democratização cultural e difundir a língua
4 4 A primeira dizia respeito à educação moral e cívica, a segunda estava encarregada das
relações culturais, e a quarta estava encarregada da literatura, bibliotecas e arquivos.
9
portuguesa, assim como o desenvolvimento de actividades culturais e artísticas
(a literatura, o cinema, o teatro, as artes plásticas e a música).
Em Agosto os órgãos do poder começam a anunciar uma política
cultural, instituindo-se assim Campanhas de Dinamização Cultural com o
objectivo de democratizar a cultura, que não se prolongariam para além do V
Governo Provisório.
Durante o período de transacção a cultura deixa de ser uma prioridade
dos Governos, a braços com problemas considerados mais urgentes, que não
corresponderam às aspirações dos agentes culturais
Em 1976, o fim do VI Governo provisório marca o início de um novo
período político no país, durante o qual exerceram o poder treze Governos
Constitucionais.
No I Governo, o seu programa explicita pela primeira vez as tarefas do
mesmo no sector cultural e, é criada a Secretaria de Estado da Cultura (SEC),
que depende directamente do Concelho de Ministros. Com a autonomização da
SEC consideram-se reunidas as condições para que a cultura, em Portugal,
possa libertar-se de situações ambíguas que até à data a comprometiam.
A SEC tem como grandes objectivos prosseguir as acções com vista à
solução de problemas herdados das estruturas anteriores ao 25 de Abril que
não foram revistas pelos governos provisórios e propor legislação com vista a
regularizar o funcionamento das instituições de natureza cultural e a actividade
dos trabalhadores intelectuais.
Para tal a SEC actua em quatro áreas: património cultural, investigação
e fomento cultural, espectáculos e acção cultural.
No II Governo dá-se um regresso a alguns temas culturais do inicio da
democracia. O seu programa prevê iniciativas no âmbito da democratização da
cultura, da fruição dos bens culturais e da sua criação por parte da população.
No III Governo, o seu programa destaca a democratização, a
descentralização e o reforço da identidade nacional, promovendo-se o
incremento da participação cultural, a salvaguarda do património e a
valorização da criação e difusão culturais. É com este governo que a cultura
assume uma nova definição, deixando de ser una e passando a ser tripartida
em cultura de elite, de massas e popular, sendo função da política diminuir o
10
fosso que as separa e que vai sendo expressa de formas diferentes nos dois
governos seguintes.
O IV Governo orienta-se mais para a questão do nacionalismo,
defendendo a língua e a difusão de valores humanísticos por ela veiculados.
O Programa do V Governo Constitucional acentua as orientações dos
governos anteriores. A política cultural que o governo se propõe a adoptar
supões e implica uma concepção de cultura pluriforme e globalizante. Este é o
primeiro governo que explicita o seu conceito de cultura e organiza os
objectivos, as orientações e a orgânica da política cultural em função do
mesmo. Neste programa a noção de património surge pela primeira vez
associada não só ao património adquirido, mas também às expressões vivas
da criação cultural actual.
A partir dos anos 80 a cultura passa a constituir um tema recorrente do
discurso político e é lançada a concepção da cultura como consenso, do qual
faz parte o património, a identidade nacional e a democratização da cultura.
Com a preparação para a futura adesão Comunidade Económica Europeia,
passa-se a encontrar nos programas objectivos muito ligados à identidade
nacional, que permita a melhor identificação de uma imagem e de uma
personalidade cultural portuguesa.
Em 1983, com o IX Governo que separa as atribuições governamentais
relativas à ciência e à tecnologia das relativas à cultura, é criado o Ministério da
Cultura (MC). Neste período a preservação do património cultural surge como
reforço da identidade cultural e é criada da 1ª lei do património.
O período de 1985 a 1995 corresponde a três Governos (X, XI e XII)
sociais-democratas dos quais os seus programas enunciam os seguintes
princípios: universalidade do acesso aos bens culturais; preservação do
património; apoio à criação, que tem subjacente o estímulo dos talentos e
valores individuais e a liberdade de criação; descentralização; e afirmação da
identidade cultural, com a valorização da língua portuguesa.
É criada a Lei do Mecenato, que leva a levantar-se críticas por parte da
oposição, considerando-se que o incentivo do mecenato privado possa vir a
constituir uma forma do Estado se demitir das suas responsabilidades.
Por outro lado, é referido o objectivo de promoção da cultura portuguesa
no exterior, a adesão ao acordo que constitui a Fundação Europeia, a
11
intensificação do relacionamento com o Brasil e os Países Africanos de Língua
Portuguesa Oficial (PALOP), a implementação de institutos portugueses no
Brasil e na Europa, de centros culturais nos PALOP e de organismos que
promovam a cultura e língua portuguesas.
Em Outubro de 1995 dá-se o inicio do Governo Socialista cujo programa,
para além de dedicar um espaço mais alargado ao sector da cultura, apresenta
também medidas mais específicas e concretas, orientadas em função de cinco
grandes princípios: a democratização, a descentralização; a
internacionalização; a profissionalização e a reestruturação.
A partir de 1995, a política cultural tem sido marcada por laços a uma
atitude cultural tradicional de “uma esquerda moderna que não renega o
clássico”5 e que entende a cultura como uma espécie de visão do mundo além
dos direitos a um acto criativo.
5 5 SILVA, Augusto Santos (2004b) Como Classificar as Políticas Culturais? Uma Nota de
Pesquisa in OBS, nº 12, Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, pp. 10-20.
12
eliminação das desigualdades que decorrem de factores diversos como a
língua, o status social, a educação, a nacionalidade, a idade, o sexo, a religião,
a saúde ou a pertença a determinados grupos minoritários ou excluídos.”7
13
estabelecimento de uma política cultural não apenas coerente, mas também
consistente e eficaz. Também tem sob a sua alçada estimular formas de
cooperação não só entre entidades autárquicas e regionais, mas entre os
agentes privados e os cidadãos, valorizando assim as iniciativas culturais
existentes e que possam vir a existir.
A criação de um Ministério da Cultura resulta do Decreto-Lei n.º 46/96 de
7 de Maio que estipula um Ministério cuja função é “melhorar as condições de
acesso à cultura e, por outro, defender e salvaguardar o património cultural,
incentivando novas modalidades da sua fruição e conhecimento”.
A criação do Ministério da Cultura, concretizou uma opção estratégica
que colocava a política cultural no centro das políticas de qualificação.
O Ministério da Cultura é o departamento governamental que tem por
missão a definição e execução de uma política global e coordenada na área da
cultura e domínios com ela relacionados, designadamente na salvaguarda e
valorização do património cultural, no incentivo à criação artística e à difusão
cultural, na qualificação do tecido cultural e na internacionalização da cultura
portuguesa.8
14
O Ministério da Cultura é composto por serviços integrados na
administração directa do Estado, de organismos integrados na administração
indirecta do Estado, de órgãos consultivos, de entidades integradas no sector
empresarial do Estado e de outras estruturas.
Relativamente aos serviços integrados na administração directa do
Estado podemos encontrar os seguintes serviços centrais:
15
Existem também, dentro dos serviços integrados da administração
directa do Estado, serviços periféricos:
16
• O MC pode ser fundador em Fundações que prossigam fins
culturais.
• O MC exerce a tutela sobre as Fundações das quais é fundador,
nos termos definidos nos respectivos estatutos.
17
O investimento na área cultural tem vindo a diminuir percentualmente, a
partir do ano de 2002 (com a excepção do ano de 2005), quando foi atingido o
valor máximo de 0,7% das verbas totais do orçamento destinadas ao Ministério
da Cultura. No ano da sua criação verificamos que valor do orçamento para
este Ministério, representou 0,5% do total do orçamento, uma percentagem
superior do que no ano de 2009, em que o orçamento dado representou
apenas 0,3, apesar de as verbas serem mais elevadas que em 2005.
Estes dados podem ser entendidos de duas formas, este
desinvestimento representa um abandono das políticas de investimento cultural
ou é uma consequência dos problemas económicos crónicos de Portugal que
leva a uma mudança na política do investimento global, substituindo o
investimento no sector cultural por um investimento no sector social e
económico.
18
Podemos verificar também que o orçamento total nunca é executado na
sua totalidade até ao ano de 2008, ano em que o montante executado é
superior ao orçamentado.
19
Ao analisarmos a distribuição do financiamento do Ministério da Cultura
por região ao longo do período de tempo entre 2005 e 2008, podemos verificar
que ela não é feita de uma forma equitativa entre as regiões e difere também
de ano para ano. Sendo assim, Lisboa aparece-nos como a região do país que
aufere a maior fatia do financiamento do Ministério da Cultura, aparecendo a
região Norte como a segunda maior beneficiária. Podemos ver que a região de
Lisboa tem beneficiado de um aumento regular de financiamento enquanto as
outras regiões têm sofrido com grandes variações dos valores atribuídos de
ano para ano. A Madeira aparece como a região com menor financiamento,
auferindo no total de quatro anos uma verba de 30.000 em contraste com a
região de Lisboa, que num só ano recebeu de financiamento 55.423.681.
20
Parte II – Património Imóvel
21
portuguesa. Dentro do conceito amplo de património cultural podemos ainda
isolar noções de âmbito mais específico, como sejam: património arqueológico,
património arquitectónico, património construído, património etnográfico, entre
outras.
22
ser delimitados geograficamente, notáveis pelo seu interesse histórico,
arqueológico, artístico, científico ou social.”10
23
Parte III - Politicas aplicadas ao Património Imóvel.
24
O enquadramento administrativo também sofreu uma evolução
significativa nas últimas décadas, no âmbito das estruturas do Estado. Entre a
Revolução e a criação do Instituto Português do Património Cultural, em 1980,
as habilitações de gestão e salvaguarda do património edificado e arqueológico
que estavam inseridas na Direcção Geral dos Assuntos Culturais, vão passar
para a Direcção Geral do Património Cultural introduzida na Secretaria de
Estado da Cultura. Por outro lado, no que toca às competências de carácter
consultivo atribuídas à 2ª secção da Junta Nacional de Educação, vão ser, a
partir de 1978, executadas pela Comissão Organizadora do Instituto de
Salvaguarda do Património Cultural e Natural13.
Só com a criação do Instituto Português do Património Cultural é que se
vai verificar uma estabilização da situação de enquadramento institucional da
gestão do património que, com algumas alterações e adaptações se irá manter
ate à sua transformação para IPPAR.
A intenção de criação de um Instituto independente com
responsabilidades na área do património cultural vem já desde o I Governo
Constitucional, altura em que foi criada a Comissão Organizadora do Instituto
de Salvaguarda do Património Cultural e Natural. Só em 1980 com o IV
Governo Constitucional no poder, é criado o IPPC (Instituto Português do
Património Cultural), através do Decreto-Lei n.º 59/80, integrando a Secretaria
de Estado da Cultura. A Lei Orgânica do IPPC é publicada nesse mesmo ano,
através de Decreto Regulamentar n.º 34/80, atribuindo a este instituto
competências muito alargadas na área da gestão do património cultural
edificado, artístico, arqueológico, etnográfico. Com o intuito de formar um
organismo que se pronunciasse sobre assuntos de politica cultural e de
aprovação dos planos anuais do IPPC e do conselho consultivo, foi criado o
Conselho Nacional do Património Cultural, presidido pelo Secretario de Estado
da Cultura. O IPPC é caracterizado desde o seu inicio por uma forte
centralização, concentrando-se em Lisboa praticamente a totalidade dos
serviços e possuindo competências extremamente alargadas, controlando a
gestão dos vários tipos de património cultural, vai sofrer sucessivas alterações,
contidas em novas leis orgânicas, combatendo no sentido da desconcentração
1 13 Decreto-Lei n.º 1/78 de 7 de Janeiro.
25
geográfica dos serviços e concentrando apenas competências na salvaguarda
do património edificado.
Através de uma nova Lei Orgânica de 1990 14 que cria quatro direcções
regionais – Porto, Coimbra, Évora e Faro – atribui também ao IPPC as
competências na execução de projectos e obras nos imóveis classificados,
criando para o efeito o departamento de projectos e obras controlado pelo
IPPC. Esta lei também extingue o Concelho Nacional do Património Cultural,
cria o Instituto Português do Livro e da Leitura15 e o Instituto Português de
Arquivos16, retirando assim as competências na área das bibliotecas e dos
arquivos ao IPPC.
Em 1991 é criado o Instituto Português de Museus através do Decreto-
Lei n.º 278/91, vendo o IPPC as suas competências diminuídas em 1992 para
a gestão, salvaguarda e valorização do património arquitectónico e
arqueológico, sendo então criado o IPPAR – Instituto Português do Património
Arquitectónico e Arqueológico17, simplificando a estrutura dos serviços centrais
e criando a Direcção Regional com sede em Lisboa.
O novo Instituto concentrava as suas competências na gestão,
salvaguarda, conservação, valorização e divulgação do património
arquitectónico e arqueológico, incluindo a classificação de monumentos e a
gestão dos imóveis afectos ao Instituto e propriedade do Estado.
Uma nova alteração legislativa em 1996 divide as competências
anteriormente atribuídas ao IPPAR, formando dois novos Institutos – Instituto
Português do Património Arquitectónico com competências na área do
1 17 Decreto-Lei n.º 106-F/92 de 1 de Junho – Lei orgânica do IPPAR. Pelo Decreto-Lei n.º 316/94 de 24 de
Dezembro foram introduzidas pequenas alterações na primeira lei orgânica.
26
património edificado classificado; e o Instituto Português de Arqueologia que
tutela a investigação e o Património Arqueológico.
Em seguimento do Decreto-Lei n.º 96/2007 surge o Instituto de Gestão
do Património Arquitectónico e Arqueológico, I. P., que resultou da fusão do
Instituto Português do Património Arquitectónico e do Instituto Português de
Arqueologia, incorporando ainda parte das atribuições da extinta Direcção
Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, anteriormente sob a tutela do
Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento
Regional.
o IGESPAR, I. P., tem por missão a gestão, a salvaguarda, a
conservação e a valorização dos bens que, pelo seu interesse histórico,
artístico, paisagístico, científico, social e técnico, integrem o património cultural
arquitectónico e arqueológico classificado do País. Na prossecução das
atribuições que lhe estão cometidas o IGESPAR, I. P., é dotado de autonomia
científica e técnica.
1 18 Carta de Veneza de 1964; Carta Europeia do Património Arquitectónico de 1975; Carta de Florença de
1981 acerca dos jardins históricos.
27
• Protecção de conjuntos urbanos, designadamente através da
classificação de centro históricos, ruas e áreas urbanas possuidoras de valor
patrimonial, bem como pela definição de Zonas Especiais de Protecção – ZEP
– circunscrevendo um conjunto de imóveis classificados num determinado
centro urbano.
• Concepção dos imóveis a classificar como um grupo indissociável
agregado de zona edificada, jardins, zona agrícola, florestal, cercas, muros,
caminhos, entre outros possíveis, como elementos fulcrais para a
sobrevivência e percepção do conjunto classificado como um todo.
• A introdução da noção de sítio arqueológico, em ambiente urbano.
• A prestação de atenção aos estilos arquitectónicos mais recentes,
como é o caso de exemplares da arquitectura do século XIX, entre outros.
28
Assim como existiu uma evolução no termo património, o conceito de
património imóvel evoluiu também. A classificação de imóveis no norte de
Portugal mostra-nos essa evolução pois os bens classificados passaram a
abranger não só os monumentos de grande dimensão e importância mas
também os bens patrimoniais com um interesse mais local, como é o caso dos
pelourinhos e cruzeiros.
29
• A evolução urbana, e as áreas que estavam destinadas a
actividades industriais, com o decorrer do tempo, sofreram alterações que
colocam o problema da preservação do Património Industrial, que se encontra
muitas vezes em mau estado de conservação. Aqui encontramos dois tipos de
valores patrimoniais: a arquitectura industrial e os edifícios modernistas que
passam a ganhar mais atenção por parte dos órgão que procedem à
classificação.
• Os estudos científicos e o reconhecimento público das
arquitecturas do século XX levaram a que se procedesse à classificação de
edifícios e conjuntos exemplares de diversos momentos da arquitectura
contemporânea.
30
Gráfico 2 – Imóveis em vias de classificação no Norte de Portugal.
31
realizados por uma panóplia de entidades e com objectivos e critérios múltiplos
– Inventário do património classificado pelo IPPAS, Inventário do património
arquitectónico da DGMN, Levantamentos de carácter académico e científico,
iniciativas de Associações de Defesa do Património, etc.
Esta informação, que se encontra demasiado dispersa e por isso de
difícil utilização, poderá ser ordenada se se estabelecer o carácter do registo
patrimonial de inventário.
O IPPAR centrou a sua acção, mediante o previsto na Lei, na
valorização e salvaguarda dos bens culturais já classificados ou em vias de
classificação, descorando o desenvolvimento de uma intervenção sistemática
na área do inventário. Foram embora, desenvolvidas acções de inventário
específicas.
Devido à sua qualidade de entidade responsável pela salvaguarda e
valorização do património edificado, no que toca ao trabalho de inventário que
o IPPAR/IGESPAR vem a desenvolver, ele centra-se em imóveis, conjuntos e
sítios de carácter excepcional com uma protecção de carácter nacional, e não
assenta numa recolha de informação compatível com um levantamento
sistemático, o que o torna superficial em relação a todos os valores
patrimoniais.
É nesse sentido que o IPPAR começou a desenvolver um sistema
informático designado Sistema de Integração de Gestão do Património Imóvel
que, com base no inventário do património classificado pretende tornar possível
a sua gestão integrada, quer nos aspectos de intervenção, conservação e
valorização dos imóveis, quer no que toca a salvaguarda desses imóveis e das
suas áreas de protecção, ou ainda na gestão de toda a informação documental
referente aos imóveis classificados.
Com este sistema informático, pretende-se ainda que na sua valência de
inventário, possa servir como modelo de apoio ao desenvolvimento de acções
de levantamento patrimonial que possam ser desenvolvidas por outras
entidades, nomeadamente pelas autarquias locais.
32
Gráfico 3 – Bens imóveis culturais por localização geográfica e por tipo (fonte INE)
33
identificação, preservação e divulgação do nosso património arquitectónico.
Esta preocupação que inicialmente se cingia à preservação dos monumentos
de maior significado histórico, alargou-se aos centros históricos devido à sua
importância como um conjunto de imóveis interdependentes. Hoje existe
também uma preocupação ambiental e ecológica devido à visão globalizante
dos problemas, pois a má gestão desta problemática pode levar a alterações
urbanísticas e paisagísticas das nossas paisagens e cidades.
34
• Carta sobre a Salvaguarda dos Jardins Históricos, ou Carta de
Florença, (1981);
• Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas,
(1987);
• Carta Internacional para a Gestão do Património Arqueológico,
(1990).
35
portuguesa, sobre a salvaguarda do património arquitectónico e arqueológico,
como são exemplo:
36
Contemporânea, aprovada na 19ª reunião da UNESCO em 1976, e a Carta
para a Salvaguarda das Cidades Históricas, aprovada pelo ICOMO’s em 1987.
A Recomendação para a Salvaguarda dos Conjuntos Históricos e a sua
Função na Vida Contemporânea mostra um especial interesse na clarificação
de conceitos que até então não tinham sido estabelecidos.
2 21 Idem, Ibidem
2 22 Idem, Ibidem
37
também económico. Esta carta propõe também medidas e instrumentos
concretos de actuação, formando a figura de “plano de salvaguarda”.
2 23 Carta Internacional sobre A Salvaguarda das Cidades Históricas, ICOMOS, Washington D.C., Outubro
de 1987.
38
A Carta Europeia do Património Arquitectónico de 1975 veio sedimentar
no plano do consenso teórico, a projecção do significado cultural do património
monumental e do enquadramento histórico ou tradicional.
A noção de património arquitectónico é nesta carta confirmada, numa
noção dinâmica e abrangente: “O património arquitectónico europeu é
constituído, não só pelos nossos monumentos mais importantes, mas também
pelos conjuntos de construções mais modestas das nossas cidades antigas e
aldeias tradicionais inseridas nas suas envolventes naturais ou construídas
pelo homem.”24
A Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da
Europa de 1985, ratificada por Portugal em 1991 é ainda hoje um texto de
grande relevância e actualidade uma vez que marca a consagração filosófica e
jurídica dos aspectos fulcrais das políticas de salvaguarda e valorização do
património arquitectónico.
Ao longo de todo o documento, que apesar de integrar preocupações e
princípios já expressos noutras convenções e recomendações anteriores,
atravessa uma preocupação com o objectivo de uma estreita cooperação entre
Estados, na busca de uma política comum de salvaguarda e valorização do
património arquitectónico.
Neste âmbito, a legislação portuguesa articulou-se com o regime
comunitário e da UNESCO, incorporando preceitos contidos nos diferentes
diplomas, conforme os compromissos politicamente assumidos.
É certo que com a entrada de Portugal para a Comunidade Europeia em
1986, e com a respectiva participação como membro de pleno direito, nas
decisões da UNESCO, a legislação portuguesa reflectiu a abertura das
fronteiras, também a nível das medidas de salvaguarda do património.
39
A classificação do património cultural deve ser entendida como o ultimo
nível de protecção possível relativo ao património imóvel e móvel. Segundo a
Lei n.º 107/01 a protecção legal dos bens que integram o património cultural
assenta na classificação e inventariação (artigos 18.º e 19.º). A classificação
incide sobre bens, móveis ou imóveis, que possuam incontornável valor
cultural, cuja degradação ou subtracção que impossibilite a sua fruição cultural
em Portugal, devido à exportação indevida, apresenta-se como uma grave
perda no que toca à identidade e património culturais, devendo por isso estar
sujeitos a medidas que garantam a sua salvaguarda.
Podendo os bens imóveis ser classificados como monumento, conjunto
ou sítio, podem também ser classificados relativamente ao seu interesse
nacional, interesse regional, interesse público ou interesse municipal. Enquanto
um bem classificado como de interesse nacional toma a forma de decreto do
governo, a classificação com interesse público terá a forma de portaria e a
classificação de interesse municipal tomará a forma constante da legislação
aplicável (cf. artigo 28.º da Lei n.º 107/01)25.
2 25 MARQUES, Helena da Silva – Património cultural imóvel: As novas competências dos órgãos
municipais. In. Estudos/Património, n.º6, 2004.
40
As responsabilidades financeiras e técnicas, no que toca á salvaguarda
do dito imóvel, não se encontravam igualmente definidas. Quem deveria
financiar os projectos ou acções relativas á salvaguarda dos imóveis, foi a
dúvida que se colocou.
Com isto é natural que as câmaras municipais se resguardassem, no
que toca ao avanço de processos de classificação sem intervenção do IPPC
(Instituto Português do Património Cultural, actualmente IGESPAR), uma vez
que seriam de imediato confrontadas com a necessidade de investimentos
financeiros e técnicos na valorização dos imóveis, que eles mesmos tinham
classificado, ou promovido a sua classificação.
Desta forma surgiu a necessidade de se proceder á redefinição das
regras no que toca á responsabilidade, tanto do poder central como local, no
que diz respeito á classificação de bens que possuam valor concelhio, mas
também á sua preservação.
No Decreto-Lei n.º 77/84 refere no artigo 8.º, o n.º 2 da alínea f), quanto
às competências em matéria de investimentos públicos no domínio da cultura,
referente aos municípios unicamente o “património cultural, paisagístico e
urbanístico do município” sobre a responsabilidade dos municípios, deixando
grandes dúvidas relativas a este tema.
No artigo 20.º da Lei n.º 159/99 aparece uma nova definição das
competências instituídas no Decreto-Lei acima referido, remetendo para os
órgãos municipais as seguintes competências:
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d) Organizar e manter actualizado um inventário do património cultural,
urbanístico e paisagístico existente na área do município;
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non aedificandi, em todos os casos, salvo aqueles que fiquem perfeitamente
salvaguardados com a zona de protecção tipo ou padrão. Os imóveis em vias
de classificação ou propostos a classificação como interesse municipal,
beneficiam da zona de protecção padrão 50 m, pois o grau de classificação
final pode ser superior ao proposto, através de um parecer do IGESPAR nesse
sentido.
Estas zonas de protecção para os imóveis classificados ou em vias de
classificação, só podem ser definidas através de parecer favorável da
administração do património cultural competente, neste caso o IGESPAR,
deixando de fora os Municípios ou outras entidades, sendo proibido o
licenciamento para obras de construção ou qualquer outro trabalho que altere a
topografia, ou a distribuição de volumes e coberturas ou o revestimento exterior
dos edifícios.
Os imóveis classificados como “valor concelhio”, actualmente interesse
municipal, após entrada em vigor da Lei n.º 159/99, não dispõe da zona de
protecção pois esta só pode existir para a protecção de imóveis classificados
como monumentos nacionais ou imóveis de interesse público.
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região, pois funcionaria como uma sobrecarga aos seus orçamentos já que a
responsabilidade pela sua preservação e restauro está totalmente a seu cargo.
44
despesa total de cerca de 802,9 milhões de Euros no ano de 2006, traduzindo
um decréscimo de 12% face ao ano anterior.
O pico de despesa total foi atingido em 2005, observando-se uma
tendência de decréscimo nessa despesa, mostrando uma preocupação com a
diminuição do peso da área cultural e desportiva nas despesas dos municípios.
Gráfico 4 - Dados do INE: retirado do relatório Estatísticas da Cultura, Desporto e Recreio 2006
45
peso nos orçamentos do conjunto das autarquias da Região Autónoma da
Madeira (6,4%) e da região de Lisboa (7,5%).
Gráfico 5 - Dados do INE: retirado do relatório Estatísticas da Cultura, Desporto e Recreio 2006
46
Região Autónoma dos Açores e do Algarve registaram-se, face ao ano anterior,
decréscimos de 6,7% e 3,3%, respectivamente.
47
Os municípios do Alentejo, Algarve, Norte e Região Autónoma dos
Açores foram os que destinaram maior proporção do seu orçamento às
actividades culturais 8,6%, 7,2%, 6,7% e 6,4%, respectivamente. As despesas
em cultura tiveram menor expressão nos orçamentos do conjunto das
autarquias da Região Autónoma da Madeira (5,7%) e da região de Lisboa
(5,9%).
2 26 COSTA, José Pereira da – Documentos para a História dos Arquivos Regional da Madeira e Nacional
da Torre do Tombo. Funchal. 2002.
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Secção 1 - Evolução histórica do conceito de mecenato
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O mecenato de empresas é normalmente associado à qualificação
académica dos gestores profissionais e às técnicas de marketing que surgiam
nesta altura, pois o bom gosto e a cultura deveriam participar na estratégia
empresarial de promoção e expansão, sendo posteriormente entendido
também como uma possibilidade de investimento e capitalização.
Inicialmente era entendido como uma mais-valia na área da publicidade,
acrescentando prestígio e visibilidade às empresas que praticavam mecenato.
Hoje em dia o mecenato assenta noutros princípios, funcionando tanto
para empresas como para particulares, como uma ferramenta para atingir
benefícios fiscais.
O Estado incentiva o investimento privado em concorrência com o
público, para assegurar a salvaguarda do património, nunca deixando de
assumir o papel de principal responsável pelo património cultural do povo que
representa. O Estado nem sempre recebe mais do que perde, isto é, a isenção
que proporciona, nalguns domínios do mecenato, é maior do que aquilo que
teria de despender directamente.
No caso português parece não se dar razão à máxima que diz que a
gestão privada é mais eficiente que a pública, primeiro, porque há um
enquadramento do que e como deve ser feito, e segundo, porque a execução é
da responsabilidade do Estado.
50
Actualmente existe uma nova lei do mecenato, aprovada pelo Decreto-
Lei n.º 74/99, mantendo no essencial, o actual regime dos donativos ao Estado
e a outras entidades equiparadas, referidas no Código do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Singulares e no Código do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Colectivas.
Nos termos deste estatuto, estão abrangidas pelo regime de donativos o
Estado, as Regiões Autónomas, as Autarquias Locais e qualquer dos seus
serviços, estabelecimentos e organismos, ainda que personalizados, assim
como as Associações Autárquicas e Fundações em que a Administração
Central, Regional e Local participe no seu capital inicial e, ainda, as Fundações
de iniciativa exclusivamente privada que percorram por fins de natureza
essencialmente social ou cultural. Muitas outras entidades podem beneficiar de
donativos sendo, as associações de produção de actividades relativas a
temáticas culturais e de defesa do património histórico-cultural as mais
relevantes na área do património imóvel, pois desempenham um papel
fundamental na recuperação e salvaguarda do testemunho que esse
património representa.
A atribuição dos benefícios fiscais varia consoante a qualidade do
mecenas, pessoa colectiva ou singular, e da entidade que recebe o donativo,
entidade pública ou privada.
O mecenas poderá retirar benefícios económicos da sua doação mas
não é menos verdade que todos nós beneficiamos com isso. Existe também
um carácter participativo nesta acção pois, cada um de nós através de uma
grande empresa ou sendo simples particular podemos ajudar instituições ou
entidades de forma a valorizar o seu trabalho.
Desde a sua criação o instituto do mecenato cultural permitiu o
enriquecimento do património cultural português e por conseguinte do
património imóvel, proporcionando a possibilidade de restauro de monumentos
classificados através do IPPAR hoje em dia IGESPAR.
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Gráfico 7 - Patrocínios de empresas e instituições ao IPPAR destinados à conservação e
2 27 SILVA, Luís Melo e; Avelino Rosa - O Mecenato. In. Estudos/Património, n.º6, 2004.
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53
Conclusão
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Bibliografia
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• LOPES, Flávio – Cartas e Convenções Internacionais: Património
Arquitectónico e Arqueológico. Lisboa: IPPAR, 1996.
Webgrafia
• http://dre.pt
• http://www.ippar.pt
• http://www.portaldacultura.gov.pt
• http://www.ine.pt
• www.oac.pt
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