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Maria
Maria João
João Moreira
Moreira
Políticas Culturais
Discentes:
Discentes:
Políticas Culturais
Martim
Martim
Aplicadas
Dias
Diasao Património Imóv
Soraia
Rita Silva
Carvalho
Rita
Soraia
Silva
Carvalho

Porto, de 2010 |
Índice

Introdução 4

Parte I - Abordagem às políticas culturais. 6

Capitulo 1 - Desenvolvimento do conceito de cultura no contexto 6


internacional e nacional.
Capítulo 2 - Desenvolvimento histórico das politicas culturais em 8
Portugal
Capítulo 3 - Democracia cultural e democratização da cultura. 12

Capitulo 4 – Ministério Da Cultura 13

Secção 1 - Missões o objectivos 13

Secção 2 - Organograma do Ministério Da Cultura 14

Capítulo 5 - Financiamento e distribuição de verbas pelo 17


Ministério da Cultura
Parte II – Património Imóvel 20

Capitulo 1 – Desenvolvimento do conceito de Património ao 20


longo dos tempos.
Secção 1 - O conceito de Património Imóvel. 21

Parte III - Politicas aplicadas ao Património Imóvel. 23

Capitulo 1 – Evolução da legislação aplicada ao Património 23


Imóvel após o 25 de Abril
Secção 1 - A evolução do enquadramento administrativo 23

Capítulo 2 – A Classificação do Património Imóvel 26

Secção 1 - Princípios seguidos durante os anos 70 e 80 26

Secção 2 - Princípios seguidos nos anos 90 27

Secção 3 - A situação actual da classificação e 29


inventariação do património edificado
Capitulo 3 – Cartas, convenções e organismos internacionais e 32
a sua aplicação em Portugal.

2
Secção 1 - Os organismos Internacionais e a sua 32
importância
Secção 2 - O alargamento do conceito de Património 35
Imóvel
Secção 3 - A Salvaguarda do Património Cultural como 36
uma responsabilidade colectiva.
Secção 4 - A Salvaguarda do Património, uma filosofia 37
europeia.
Capítulo 4 – As competências da administração local relativas 38
ao património imóvel
Secção 1 - A definição das responsabilidades 38

Secção 2 - Mudança de competência das Autarquias 39


Locais no domínio do Património Cultural
Secção 3 - Zonas de protecção aos imóveis classificados 41

Secção 4 - A tutela dos imóveis classificados 41

Secção 5 - As garantias de protecções e as sanções aos 42


atentados contra o Património Cultural
Secção 6 - Despesas dos municípios com o Património 43
Cultural
Capitulo 5 – Mecenato Cultural e a sua importância na 46
salvaguarda do património.
Secção 1 - Evolução histórica do conceito de mecenato 46

Secção 2 - Mecenato de Empresas 47

Secção 3 - Evolução Legislativa 48

Conclusão 51

Bibliografia 52

Webgrafia 53

Anexos

3
Introdução

Este trabalho, proposto no âmbito da disciplina de Politicas Culturais,


trata a temática das Politicas Culturais aplicadas ao Património Imóvel.
O nosso grupo interessou-se com a temática, no decorrer do trabalho,
com a certeza que um trabalho relativo a este tema seria muito útil, já a grande
maioria do património classificado pertence a esta tipologia de património,
adquirindo assim informações muito relevantes acerca da legislação aplicada
ao património imóvel, do desenvolvimento das políticas culturais relativas ao
património imóvel e tudo o que directa ou indirectamente está relacionado com
a temática do património imóvel.
Decidimos iniciar com uma parte relativa a conceitos relevantes para o
entendimento deste trabalho, como é o caso do desenvolvimento do conceito
de cultura no contexto internacional e nacional e a explicação da missão,
objectivos e formas de financiamento do Ministério da Cultura.
Numa segunda parte serão tratados conceito mais técnicos, como é o
caso de Património e Património Imóvel e o seu desenvolvimento histórico.
Por fim trataremos das temáticas directamente relacionadas com o
Património Imóvel, como é o caso da evolução da legislação aplicada ao
Património Imóvel após o 25 de Abril, a classificação do Património Imóvel,
Cartas, convenções e organismos internacionais e a sua aplicação em
Portugal, as competências da administração local relativas ao património
imóvel e por fim o Mecenato Cultural e a sua importância na salvaguarda do
património. Dentro destas diferentes temáticas, outros assuntos serão
trabalhados e desenvolvidos, como é o caso das tutelas do Património Cultural
(dando relevância ao Património Imóvel), os Organismos Internacionais e a sua
importância e a definição das responsabilidades no que toca ao Património
Cultural.
Penso que as temáticas abordadas são de total importância para a
temática do nosso trabalho, sendo escolhidas segundo a nossa ideia pré-
definida quando iniciamos a elaboração deste trabalho.

4
Pensando que questões relevantes irão surgir no desenrolar da leitura
do trabalho pensamos que muitas ramificações e desenvolvimentos futuros são
possíveis em trabalhos acerca desta temática.

5
Parte I - Abordagem às políticas culturais.

Capitulo 1 - Desenvolvimento do conceito de cultura no contexto


internacional e nacional.

A origem etimológica da palavra cultura remonta ao final do século XVIII


e parte do termo germânico Kultur, utilizado para simbolizar todos os aspectos
espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization
referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os
termos foram sintetizados por Edward Tylor no termo inglês Culture que “levado
para um sentido etnográfico é o conjunto que inclui todos os conhecimentos, as
crenças, a arte, a moral, as leis, os costumes ou qualquer outra capacidade ou
hábito adquirido pelo homem como membro de uma sociedade”1.
Podemos falar de Cultura e Identidade Cultural como dois conceitos que
interagem e se inter-relacionam.
Em primeiro lugar, a cultura deve ser encarada como sendo um conceito
bastante abrangente, pois esta pode assumir diversas formas de expressão,
nomeadamente o Património que um povo possui.
A Identidade poderá ser entendida como um conjunto de factores, entre
os quais o próprio espaço territorial, bem como a língua materna. Ou seja todos
os elementos culturais transversais a uma sociedade, que a identifica e a
define, formam, no seu conjunto a sua Identidade Cultural.

“Cada cultura representa um conjunto de valores único e insubstituível já


que as tradições e as formas de expressão de cada povo constituem sua
maneira mais acabada de estar presente no mundo.”2

1 1 LARAIA, Roque de B. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar, 2001, pp. 25.

2 2 Declaração do México, México, 1982 - Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais,


ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Sítios.

6
Ao longo dos tempos, o conceito de Cultura foi evoluindo e alargando-
se, pois sabe-se que esta, em determinados contextos e períodos da história,
compreendia tudo aquilo que estava ligado às artes eruditas ou ao
desenvolvimento intelectual. No entanto, esta corrente eliminava uma noção
ligada à etnologia e todas as formas de viver de um povo, como as suas
tradições, crenças, costumes e relações.
Nos dias de hoje a cultura aparece-nos como o conjunto de práticas e
acções sociais que seguem um determinado padrão num determinado espaço.
Ela refere-se às crenças, comportamentos, valores, instituições e regras morais
que permitem identificar uma sociedade. A cultura assume também o aspecto
da vida social que se relaciona com a produção do saber, da arte, do folclore,
da mitologia e dos costumes, entre outros, bem como a forma que a sua
perpetuação se dá através da transmissão de uma geração para outra.
Uma das principais características da cultura é o seu mecanismo
adaptativo, ou seja, a sua capacidade de responder ao meio num contexto de
mudança de hábitos. Além desta característica possui também um mecanismo
cumulativo, ou seja, as modificações levadas a cabo por uma geração são
passadas à geração seguinte. Desta forma com o passar do tempo a cultura
sofre transformações uma vez que vai perdendo determinados aspectos e
incorporando outros mais adequados às vivências da nova geração.
A mudança cultural dá-se através de dois mecanismos básicos: a
invenção ou introdução de novos conceitos e a difusão de conceitos a partir de
outras culturas.
Segundo a declaração do México sobre Políticas Culturais (1984), no
seu sentido mais alargado, “a cultura deve ser entendida como o complexo
global de elementos espirituais, materiais, intelectuais e emocionais distintivos
que caracterizam a sociedade ou o grupo social, incluindo não apenas as artes
e letras, mas igualmente os modos de vida, os direitos humanos fundamentais,
os sistemas de valores, as tradições, as crenças. É a Cultura que permite
formar seres racionais, realmente humanos, dotados de uma capacidade de
julgamento e de uma certa consciência moral. É através da Cultura que o
Homem se pode exprimir, tomar consciência de si próprio, reconhecer a sua
imperfeição, interrogar-se sobre as suas próprias dúvidas, realizar-se, procurar

7
sem cessar novos significados e criar obras que lhe permitam transcender os
seus próprios limites”.
Sendo a cultura intrínseca ao Homem, esta não pode ser restrita,
qualquer pessoa tem o direito de lhe aceder livremente. Este direito está
patente na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 no artigo 27º
“Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso cientifico e nos
benefícios que deste resultam”3.
Desta forma, pode-se afirmar que o Homem é o centro de tudo e que a
Cultura é essencial para o seu desenvolvimento e progresso, porque o ajuda a
reflectir sobre si mesmo. Para além desta característica, a Cultura também é
um meio de reforço de independência, identidade e soberania nacional com a
sua compreensão e aceitação pelos povos. Assim, é necessário criar uma série
de mecanismo para a defesa da cultura, do património de cada país.

Capítulo 2 - Desenvolvimento histórico das politicas culturais em


Portugal

Ao longo dos tempos, com a evolução político-social que se foi


denotando, as politicas culturais foram, também elas, sendo alteradas, a nível
do próprio conceito e das suas políticas.
Na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926 foi instaurado em
Portugal o regime Salazarista. Regime que criou desde logo mecanismos
imprescindíveis à construção da sua hegemonia ideológica e cultural, tendo
como uma das primeiras preocupações a estruturação da acção cultura
claramente assumida como propaganda.
Foram então criados órgãos e instrumentos destinados à acção político-
cultural do regime. A 1933, é criado o Secretariado de Propaganda Nacional
(SPN), órgão destinado a veicular a ideologia do regime e a uniformizar o
conhecimento da realidade nacional, passando este, posteriormente, a
designar-se Secretaria Nacional de Informação e Cultura Popular (SNI), devido
a ter deixado de corresponder ao âmbito restrito da sua designação. A censura
3 3 Declaração Universal dos Direitos do Homem, 1948.

8
também teve um papel fundamental, na medida que correspondia à ideia
preconizada do regime autoritário que definia que cultura convinha aos
portugueses e quais os valores que a deviam enformar.
O regime exercia-se igualmente por via do sistema educativo, em que a
Junta de Educação Nacional (JEN) desempenhava um papel preponderante.
Este junta dividia-se em várias subsecções; sendo a primeira, a segunda e a
quarta, relevantes ao domínio da cultura4.
Deste modo a cultura era dominada pela dimensão propagandista e as
áreas que hoje se consideram especificamente culturais, áreas estas que eram
da competência do Ministério da Educação e no qual encontravam-se
integradas.
A 26 de Setembro de 1968, Marcelo Caetano sobe ao poder, sucedendo
a Salazar e, trazendo uma orientação política que tinha por lema a renovação
na continuidade. Com uma perspectiva menos rígida deu-se um ligeiro
abrandamento da situação de opressão (censura), mas no decorrer dos tempos
os esquemas controladores do Regime acabaram por manter-se, passando a
censura a designar-se de Exame Prévio.
A 25 de Abril de 1974, dá-se o golpe militar de marca o fim do Regime
Salazarista, instaurando a democracia em Portugal e, trazendo mudanças
profundas não só no sistema político do país, mas também no económico, no
social e no cultural.
Em Maio do mesmo ano é publicado o Programa do Movimento das
Forças Armadas que toma imediatamente medidas como a abolição da
Censura e do Exame Prévio e a criação de uma comissão adhoc com a missão
de controlar a imprensa, rádio, televisão, teatro e cinema.
Com a criação do I Governo Provisório surge um novo programa que
previa por conseguinte: uma nova lei de imprensa, rádio, televisão, teatro e
cinema; o estabelecimento de medidas de salvaguarda do património; a
erradicação do analfabetismo e o fomento dos meios de comunicação social
como uma forma de atingir uma democratização cultural e difundir a língua

4 4 A primeira dizia respeito à educação moral e cívica, a segunda estava encarregada das
relações culturais, e a quarta estava encarregada da literatura, bibliotecas e arquivos.

9
portuguesa, assim como o desenvolvimento de actividades culturais e artísticas
(a literatura, o cinema, o teatro, as artes plásticas e a música).
Em Agosto os órgãos do poder começam a anunciar uma política
cultural, instituindo-se assim Campanhas de Dinamização Cultural com o
objectivo de democratizar a cultura, que não se prolongariam para além do V
Governo Provisório.
Durante o período de transacção a cultura deixa de ser uma prioridade
dos Governos, a braços com problemas considerados mais urgentes, que não
corresponderam às aspirações dos agentes culturais
Em 1976, o fim do VI Governo provisório marca o início de um novo
período político no país, durante o qual exerceram o poder treze Governos
Constitucionais.
No I Governo, o seu programa explicita pela primeira vez as tarefas do
mesmo no sector cultural e, é criada a Secretaria de Estado da Cultura (SEC),
que depende directamente do Concelho de Ministros. Com a autonomização da
SEC consideram-se reunidas as condições para que a cultura, em Portugal,
possa libertar-se de situações ambíguas que até à data a comprometiam.
A SEC tem como grandes objectivos prosseguir as acções com vista à
solução de problemas herdados das estruturas anteriores ao 25 de Abril que
não foram revistas pelos governos provisórios e propor legislação com vista a
regularizar o funcionamento das instituições de natureza cultural e a actividade
dos trabalhadores intelectuais.
Para tal a SEC actua em quatro áreas: património cultural, investigação
e fomento cultural, espectáculos e acção cultural.
No II Governo dá-se um regresso a alguns temas culturais do inicio da
democracia. O seu programa prevê iniciativas no âmbito da democratização da
cultura, da fruição dos bens culturais e da sua criação por parte da população.
No III Governo, o seu programa destaca a democratização, a
descentralização e o reforço da identidade nacional, promovendo-se o
incremento da participação cultural, a salvaguarda do património e a
valorização da criação e difusão culturais. É com este governo que a cultura
assume uma nova definição, deixando de ser una e passando a ser tripartida
em cultura de elite, de massas e popular, sendo função da política diminuir o

10
fosso que as separa e que vai sendo expressa de formas diferentes nos dois
governos seguintes.
O IV Governo orienta-se mais para a questão do nacionalismo,
defendendo a língua e a difusão de valores humanísticos por ela veiculados.
O Programa do V Governo Constitucional acentua as orientações dos
governos anteriores. A política cultural que o governo se propõe a adoptar
supões e implica uma concepção de cultura pluriforme e globalizante. Este é o
primeiro governo que explicita o seu conceito de cultura e organiza os
objectivos, as orientações e a orgânica da política cultural em função do
mesmo. Neste programa a noção de património surge pela primeira vez
associada não só ao património adquirido, mas também às expressões vivas
da criação cultural actual.
A partir dos anos 80 a cultura passa a constituir um tema recorrente do
discurso político e é lançada a concepção da cultura como consenso, do qual
faz parte o património, a identidade nacional e a democratização da cultura.
Com a preparação para a futura adesão Comunidade Económica Europeia,
passa-se a encontrar nos programas objectivos muito ligados à identidade
nacional, que permita a melhor identificação de uma imagem e de uma
personalidade cultural portuguesa.
Em 1983, com o IX Governo que separa as atribuições governamentais
relativas à ciência e à tecnologia das relativas à cultura, é criado o Ministério da
Cultura (MC). Neste período a preservação do património cultural surge como
reforço da identidade cultural e é criada da 1ª lei do património.
O período de 1985 a 1995 corresponde a três Governos (X, XI e XII)
sociais-democratas dos quais os seus programas enunciam os seguintes
princípios: universalidade do acesso aos bens culturais; preservação do
património; apoio à criação, que tem subjacente o estímulo dos talentos e
valores individuais e a liberdade de criação; descentralização; e afirmação da
identidade cultural, com a valorização da língua portuguesa.
É criada a Lei do Mecenato, que leva a levantar-se críticas por parte da
oposição, considerando-se que o incentivo do mecenato privado possa vir a
constituir uma forma do Estado se demitir das suas responsabilidades.
Por outro lado, é referido o objectivo de promoção da cultura portuguesa
no exterior, a adesão ao acordo que constitui a Fundação Europeia, a

11
intensificação do relacionamento com o Brasil e os Países Africanos de Língua
Portuguesa Oficial (PALOP), a implementação de institutos portugueses no
Brasil e na Europa, de centros culturais nos PALOP e de organismos que
promovam a cultura e língua portuguesas.
Em Outubro de 1995 dá-se o inicio do Governo Socialista cujo programa,
para além de dedicar um espaço mais alargado ao sector da cultura, apresenta
também medidas mais específicas e concretas, orientadas em função de cinco
grandes princípios: a democratização, a descentralização; a
internacionalização; a profissionalização e a reestruturação.
A partir de 1995, a política cultural tem sido marcada por laços a uma
atitude cultural tradicional de “uma esquerda moderna que não renega o
clássico”5 e que entende a cultura como uma espécie de visão do mundo além
dos direitos a um acto criativo.

Capítulo 3 - Democracia cultural e democratização da cultura.

Os conceitos de democracia cultural e democratização cultural


aparecem definidos na Declaração do México sobre Politicas Culturais de 1982
elaborada durante a Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais, realizada
pelo ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Sítios. Dessa
declaração podemos transcrever as seguintes citações de forma a ilustrar os
dois conceitos:

“A democracia cultural significa a capacidade de participação do


indivíduo e da sociedade na criação de bens culturais, no processo de decisão
da vida cultural e na disseminação e fruição da cultura.”6

“A democratização Cultural implica a fruição da excelência artística por


parte de todas as comunidades e da população no seu todo, a par da

5 5 SILVA, Augusto Santos (2004b) Como Classificar as Políticas Culturais? Uma Nota de
Pesquisa in OBS, nº 12, Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, pp. 10-20.

6 6Declaração do México, México, 1982.

12
eliminação das desigualdades que decorrem de factores diversos como a
língua, o status social, a educação, a nacionalidade, a idade, o sexo, a religião,
a saúde ou a pertença a determinados grupos minoritários ou excluídos.”7

Nesta declaração encontramos também a ideia de que é necessário


trabalhar para uma descentralização da vida cultural, tanto a nível geográfico,
como a nível administrativo. Pois só assim se consegue atingir uma plena
democratização cultural, descentralizando dos lugares de fruição cultural, como
é o caso das Belas Artes, tornando possível o acesso à excelência artística a
todas as comunidades e classes da sociedade.
É preciso eliminar as desigualdades provenientes da origem, da posição
social, da educação, da nacionalidade, da idade, da língua, do sexo, das
convicções religiosas, da saúde ou da pertinência a grupos étnicos minoritários
ou marginais.
Só respeitando todos estes princípios se pode tornar a cultura
verdadeiramente democrática como teoricamente deve ser mas na prática nem
sempre se verifica.

Capitulo 4 – Ministério Da Cultura

Secção 1 - Missões o objectivos

Discutir Cultura implica obrigatoriamente falar do papel do Governo


nesta área. Ao Governo cabe-lhe, sem controlar a vida cultural, garantir a
estimulação, a promoção e o apoio de acções que possibilitem o favorecimento
do acesso a todas as pessoas à cultura bem como à sua produção. Para além
destes deveres, o Governo ainda tem que garantir a defesa e salvaguarda do
património cultural, não esquecendo o incentivo a novas modalidades de
conhecimento e fruição. Para tal, o Governo necessita de um departamento
governamental que tenha como missão viabilizar o mencionado acima. Assim,
surge o Ministério da Cultura. As suas funções traduzem-se por uma
responsabilização na criação de infra-estruturas que ajudem no
7 7Declaração do México, México, 1982.

13
estabelecimento de uma política cultural não apenas coerente, mas também
consistente e eficaz. Também tem sob a sua alçada estimular formas de
cooperação não só entre entidades autárquicas e regionais, mas entre os
agentes privados e os cidadãos, valorizando assim as iniciativas culturais
existentes e que possam vir a existir.
A criação de um Ministério da Cultura resulta do Decreto-Lei n.º 46/96 de
7 de Maio que estipula um Ministério cuja função é “melhorar as condições de
acesso à cultura e, por outro, defender e salvaguardar o património cultural,
incentivando novas modalidades da sua fruição e conhecimento”.
A criação do Ministério da Cultura, concretizou uma opção estratégica
que colocava a política cultural no centro das políticas de qualificação.
O Ministério da Cultura é o departamento governamental que tem por
missão a definição e execução de uma política global e coordenada na área da
cultura e domínios com ela relacionados, designadamente na salvaguarda e
valorização do património cultural, no incentivo à criação artística e à difusão
cultural, na qualificação do tecido cultural e na internacionalização da cultura
portuguesa.8

Secção 2 - Organograma do Ministério Da Cultura

8 8 Decreto-Lei n.º 215/2006 de 27 de Outubro

14
O Ministério da Cultura é composto por serviços integrados na
administração directa do Estado, de organismos integrados na administração
indirecta do Estado, de órgãos consultivos, de entidades integradas no sector
empresarial do Estado e de outras estruturas.
Relativamente aos serviços integrados na administração directa do
Estado podemos encontrar os seguintes serviços centrais:

• O Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações


Internacionais;
• A Inspecção-Geral das Actividades Culturais;
• A Secretaria-Geral;
• A Biblioteca Nacional de Portugal;
• A Direcção-Geral das Artes;
• A Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas;
• A Direcção-Geral de Arquivos.

15
Existem também, dentro dos serviços integrados da administração
directa do Estado, serviços periféricos:

• A Direcção Regional de Cultura do Norte;


• A Direcção Regional de Cultura do Centro;
• A Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo;
• A Direcção Regional de Cultura do Alentejo;
• A Direcção Regional de Cultura do Algarve.

No que toca à administração indirecta do Estado, estão sob a


superintendência do Ministério da Cultura os seguintes organismos:

• A Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, I. P.;


• O Instituto do Cinema e do Audiovisual, I. P.;
• O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico, I. P.;
• O Instituto dos Museus e da Conservação, I. P.

O Conselho Nacional de Cultura é o único órgão consultivo que engloba


o Ministério da Cultura, segundo o estatuto de órgão consultivo.
Dentro do Ministério da Cultura existem outras estruturas que funcionam
como parte integrante do próprio ministério, como é o caso de:

• A Academia Internacional de Cultura Portuguesa;


• A Academia Nacional de Belas Artes;
• A Academia Portuguesa de História.

A competência relativa à definição das orientações das entidades do


sector empresarial do Estado com atribuições nos domínios da cultura, bem
como ao acompanhamento da respectiva execução, é exercida pelo membro
do Governo responsável pela área da Cultura, sem prejuízo dos poderes
conferidos por lei ao Conselho de Ministros e ao membro do Governo
responsável pela área das Finanças.
Quanto às fundações a nova lei do Ministério da Cultura diz-nos que:

16
• O MC pode ser fundador em Fundações que prossigam fins
culturais.
• O MC exerce a tutela sobre as Fundações das quais é fundador,
nos termos definidos nos respectivos estatutos.

As orientações gerais definidas relativas, quer à reorganização dos


serviços centrais do Ministério da Cultura para o exercício de funções de apoio
à governação, de gestão de recursos, de natureza consultiva e coordenação
interministerial e de natureza operacional, quer à reorganização dos serviços
desconcentrados de nível regional, sub-regional e local e à descentralização de
funções, determinam, desde logo, a introdução de um modelo organizacional
que tem por base a racionalização de estruturas, o reforço e a
homogeneização das funções estratégicas de suporte à governação e a
aproximação da Administração Central aos cidadãos.

Capítulo 5 - Financiamento e distribuição de verbas pelo Ministério da


Cultura

17
O investimento na área cultural tem vindo a diminuir percentualmente, a
partir do ano de 2002 (com a excepção do ano de 2005), quando foi atingido o
valor máximo de 0,7% das verbas totais do orçamento destinadas ao Ministério
da Cultura. No ano da sua criação verificamos que valor do orçamento para
este Ministério, representou 0,5% do total do orçamento, uma percentagem
superior do que no ano de 2009, em que o orçamento dado representou
apenas 0,3, apesar de as verbas serem mais elevadas que em 2005.
Estes dados podem ser entendidos de duas formas, este
desinvestimento representa um abandono das políticas de investimento cultural
ou é uma consequência dos problemas económicos crónicos de Portugal que
leva a uma mudança na política do investimento global, substituindo o
investimento no sector cultural por um investimento no sector social e
económico.

Ao observar os dados referentes ao orçamento do Ministério da Cultura


por domínio, verificamos que a maior fatia de verbas é destinada ao
Património. No entanto se formos a analisar os dados acerca da execução do
orçamento, podemos verificar que uma parte considerável dessas verbas não
chega a ser executado, principalmente no domínio do Património.
De 2000 a 2006, verificamos que a execução fica sempre abaixo do
orçamento, sendo os dois anos seguintes uma excepção pois é ultrapassado o
orçamento destinado a este domínio.

18
Podemos verificar também que o orçamento total nunca é executado na
sua totalidade até ao ano de 2008, ano em que o montante executado é
superior ao orçamentado.

19
Ao analisarmos a distribuição do financiamento do Ministério da Cultura
por região ao longo do período de tempo entre 2005 e 2008, podemos verificar
que ela não é feita de uma forma equitativa entre as regiões e difere também
de ano para ano. Sendo assim, Lisboa aparece-nos como a região do país que
aufere a maior fatia do financiamento do Ministério da Cultura, aparecendo a
região Norte como a segunda maior beneficiária. Podemos ver que a região de
Lisboa tem beneficiado de um aumento regular de financiamento enquanto as
outras regiões têm sofrido com grandes variações dos valores atribuídos de
ano para ano. A Madeira aparece como a região com menor financiamento,
auferindo no total de quatro anos uma verba de 30.000 em contraste com a
região de Lisboa, que num só ano recebeu de financiamento 55.423.681.

20
Parte II – Património Imóvel

Capitulo 1 – Desenvolvimento do conceito de Património ao longo


dos tempos.

“O património cultural de um povo compreende as obras dos seus


artistas, arquitectos, músicos, escritores e sábios, assim como as criações
anónimas emergidas da alma popular e o conjunto de valores que dão sentido
à vida. Ou seja, as obras materiais e não materiais que expressam a
criatividade desse povo: a língua, os ritos, as crenças, os lugares e
monumentos históricos, a cultura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas.”9

O conceito de património designa um bem destinado ao usufruto de


uma comunidade, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de
objectos que se congregam através de um passado comum.
Numa sociedade evolutiva, constantemente em mudança a noção de
património remete-nos para um bem, uma tradição ou um costume, muitas
vezes pertencente ao passado e já extinto.
A institucionalização do património nasce no final do século XVIII, com a
visão moderna de história e de cidade. É na época das Luzes que o património
histórico, constituído pelas antiguidades, tem uma renovação iconográfica e
conceitual.
A ideia de um património comum a um grupo social, caracterizador da
sua identidade e enquanto tal, merecedor de protecção perfaz-se através de
práticas que ampliaram o acesso a esse mesmo património a indivíduos que
nada mais conheciam do que o património relacionado com a cultura popular.
O conceito de património cultural, tal como é definido na lei de bases do
património cultural português (Lei n.º 107/01 de 8 de Setembro), é um conceito
amplo e integrador, que abrange tanto os bens materiais de interesse cultural
relevante, móveis e imóveis, como os bens imateriais, como é o caso da língua

9 9Declaração do México, México, 1982 - Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais,


ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Sítios.

21
portuguesa. Dentro do conceito amplo de património cultural podemos ainda
isolar noções de âmbito mais específico, como sejam: património arqueológico,
património arquitectónico, património construído, património etnográfico, entre
outras.

Secção 1 - O conceito de Património Imóvel.

O conceito de Património Imóvel, em Portugal, é definido na lei 107/01


especificando a sua abrangência em três diferentes categorias. Esta
diferenciação surge na implementação da nova lei redigida em 2001
inspirando-se nas convenções internacionais elaboradas até então. Até então o
conceito de Património Imóvel não era tão específico possibilitando diferentes
interpretações do termo.
Esta nova lei vem também definir quais as entidades responsáveis pela
classificação, inventariação e conservação - tema que será desenvolvido mais
à frente.
Na Lei 107/01, património imóvel surge subdividido nas categorias de
monumento, conjunto e sítio. Esta definição tem como base a Convenção para
a protecção mundial, cultural e natural que define monumentos, conjuntos e
sítios da seguinte forma:

Monumentos: obras de arquitectura, composições importantes ou


criações mais modestas, notáveis pelo seu interesse histórico, arqueológico,
artístico, científico, técnico ou social, incluindo as instalações ou elementos
decorativos que fazem parte integrante destas obras, bem como as obras de
escultura ou de pintura monumental;

Conjuntos: agrupamentos arquitectónicos urbanos ou rurais de suficiente


coesão, de modo a poderem ser delimitados geograficamente, e notáveis,
simultaneamente, pela sua unidade ou integração na paisagem e pelo seu
interesse histórico, arqueológico, artístico, científico ou social;

Sítios: obras do homem ou obras conjuntas do homem e da natureza,


espaços suficientemente característicos e homogéneos, de maneira a poderem

22
ser delimitados geograficamente, notáveis pelo seu interesse histórico,
arqueológico, artístico, científico ou social.”10

1 10 Convenção para a protecção mundial, cultural e natural, artigo 1,1972.

23
Parte III - Politicas aplicadas ao Património Imóvel.

Capitulo 1 – Evolução da legislação aplicada ao Património Imóvel


após o 25 de Abril

Como consequência da Revolução de 25 de Abril de 1974 deram-se


várias alterações no sector da Cultura: passa a ter direito a Secretaria de
Estado, desde os governos provisórios, e posteriormente, a Ministério. Tal
como a Cultural, o sector do Património passou também por um processo de
desenvolvimento, especialmente a partir da década de 70, quando se procurou
actualizar a legislação nacional bem como os procedimentos e as metodologias
a utilizar na conservação e salvaguarda do património cultural, à imagem das
Cartas e Convenções Internacionais que a partir da Carta de Atenas de 1931,
em especial no último quartel do século, se vão difundindo através dos
organismos internacionais vocacionado para a salvaguarda e a protecção do
património cultural – UNESCO, Conselho da Europa, ICOMOS, ICCROM.
Desta forma, paralelamente ao aparecimento de novas instituições
públicas directamente vocacionadas para a gestão do património cultural, é
publicada a primeira Lei de Bases do Património Cultural, em 198511.
Esta nova lei acolheu em si as contribuições das Convenções e Cartas
internacionais acerca do património, destacando-se a Convenção de Granada,
desta forma tornou-se um instrumento legal, actualizado e adequado, no
entanto, o adiamento da sua regulamentação, que nunca chegou a ser feito,
limitou o seu alcance e a sua eficácia. Em 2001 esta lei foi substituída pela Lei
de Bases do Património Cultural.12

Secção 1 - A evolução do enquadramento administrativo

1 11 Lei n.º 13/85 de 6 de Julho.

1 12 Lei n.º 107/01 de 8 de Setembro.

24
O enquadramento administrativo também sofreu uma evolução
significativa nas últimas décadas, no âmbito das estruturas do Estado. Entre a
Revolução e a criação do Instituto Português do Património Cultural, em 1980,
as habilitações de gestão e salvaguarda do património edificado e arqueológico
que estavam inseridas na Direcção Geral dos Assuntos Culturais, vão passar
para a Direcção Geral do Património Cultural introduzida na Secretaria de
Estado da Cultura. Por outro lado, no que toca às competências de carácter
consultivo atribuídas à 2ª secção da Junta Nacional de Educação, vão ser, a
partir de 1978, executadas pela Comissão Organizadora do Instituto de
Salvaguarda do Património Cultural e Natural13.
Só com a criação do Instituto Português do Património Cultural é que se
vai verificar uma estabilização da situação de enquadramento institucional da
gestão do património que, com algumas alterações e adaptações se irá manter
ate à sua transformação para IPPAR.
A intenção de criação de um Instituto independente com
responsabilidades na área do património cultural vem já desde o I Governo
Constitucional, altura em que foi criada a Comissão Organizadora do Instituto
de Salvaguarda do Património Cultural e Natural. Só em 1980 com o IV
Governo Constitucional no poder, é criado o IPPC (Instituto Português do
Património Cultural), através do Decreto-Lei n.º 59/80, integrando a Secretaria
de Estado da Cultura. A Lei Orgânica do IPPC é publicada nesse mesmo ano,
através de Decreto Regulamentar n.º 34/80, atribuindo a este instituto
competências muito alargadas na área da gestão do património cultural
edificado, artístico, arqueológico, etnográfico. Com o intuito de formar um
organismo que se pronunciasse sobre assuntos de politica cultural e de
aprovação dos planos anuais do IPPC e do conselho consultivo, foi criado o
Conselho Nacional do Património Cultural, presidido pelo Secretario de Estado
da Cultura. O IPPC é caracterizado desde o seu inicio por uma forte
centralização, concentrando-se em Lisboa praticamente a totalidade dos
serviços e possuindo competências extremamente alargadas, controlando a
gestão dos vários tipos de património cultural, vai sofrer sucessivas alterações,
contidas em novas leis orgânicas, combatendo no sentido da desconcentração
1 13 Decreto-Lei n.º 1/78 de 7 de Janeiro.

25
geográfica dos serviços e concentrando apenas competências na salvaguarda
do património edificado.
Através de uma nova Lei Orgânica de 1990 14 que cria quatro direcções
regionais – Porto, Coimbra, Évora e Faro – atribui também ao IPPC as
competências na execução de projectos e obras nos imóveis classificados,
criando para o efeito o departamento de projectos e obras controlado pelo
IPPC. Esta lei também extingue o Concelho Nacional do Património Cultural,
cria o Instituto Português do Livro e da Leitura15 e o Instituto Português de
Arquivos16, retirando assim as competências na área das bibliotecas e dos
arquivos ao IPPC.
Em 1991 é criado o Instituto Português de Museus através do Decreto-
Lei n.º 278/91, vendo o IPPC as suas competências diminuídas em 1992 para
a gestão, salvaguarda e valorização do património arquitectónico e
arqueológico, sendo então criado o IPPAR – Instituto Português do Património
Arquitectónico e Arqueológico17, simplificando a estrutura dos serviços centrais
e criando a Direcção Regional com sede em Lisboa.
O novo Instituto concentrava as suas competências na gestão,
salvaguarda, conservação, valorização e divulgação do património
arquitectónico e arqueológico, incluindo a classificação de monumentos e a
gestão dos imóveis afectos ao Instituto e propriedade do Estado.
Uma nova alteração legislativa em 1996 divide as competências
anteriormente atribuídas ao IPPAR, formando dois novos Institutos – Instituto
Português do Património Arquitectónico com competências na área do

1 14 Decreto-Lei n.º 216/90 de 3 de Junho.

1 15 Decreto-Lei n.º 71/87 de 11 de Fevereiro.

1 16 Decreto-Lei n.º 152/88 de 29 de Abril.

1 17 Decreto-Lei n.º 106-F/92 de 1 de Junho – Lei orgânica do IPPAR. Pelo Decreto-Lei n.º 316/94 de 24 de
Dezembro foram introduzidas pequenas alterações na primeira lei orgânica.

26
património edificado classificado; e o Instituto Português de Arqueologia que
tutela a investigação e o Património Arqueológico.
Em seguimento do Decreto-Lei n.º 96/2007 surge o Instituto de Gestão
do Património Arquitectónico e Arqueológico, I. P., que resultou da fusão do
Instituto Português do Património Arquitectónico e do Instituto Português de
Arqueologia, incorporando ainda parte das atribuições da extinta Direcção
Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, anteriormente sob a tutela do
Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento
Regional.
o IGESPAR, I. P., tem por missão a gestão, a salvaguarda, a
conservação e a valorização dos bens que, pelo seu interesse histórico,
artístico, paisagístico, científico, social e técnico, integrem o património cultural
arquitectónico e arqueológico classificado do País. Na prossecução das
atribuições que lhe estão cometidas o IGESPAR, I. P., é dotado de autonomia
científica e técnica.

Capítulo 2 – A Classificação do Património Imóvel

Secção 1 - Princípios seguidos durante os anos 70 e 80

Somente na segunda metade da década de 70 conseguimos observar


mudanças substanciais na prática de classificação desempenhada durante a
primeira metade do século e que se revelam, de uma primeira forma, no
incremento significativo do número de imóveis alvo de classificação, de outra
forma, no aumento exponencial da classificação de imóveis particulares,
especialmente casas solarengas e capelas, por último na variação dos critérios
que regulam a classificação. Estas alterações expressa-se em diversas formas
e vão dar sequência a um certo desenvolvimento legislativo anterior e às
advertências das convenções internacionais realizadas até então18 e que se
mostra nos seguintes pontos:

1 18 Carta de Veneza de 1964; Carta Europeia do Património Arquitectónico de 1975; Carta de Florença de
1981 acerca dos jardins históricos.

27
• Protecção de conjuntos urbanos, designadamente através da
classificação de centro históricos, ruas e áreas urbanas possuidoras de valor
patrimonial, bem como pela definição de Zonas Especiais de Protecção – ZEP
– circunscrevendo um conjunto de imóveis classificados num determinado
centro urbano.
• Concepção dos imóveis a classificar como um grupo indissociável
agregado de zona edificada, jardins, zona agrícola, florestal, cercas, muros,
caminhos, entre outros possíveis, como elementos fulcrais para a
sobrevivência e percepção do conjunto classificado como um todo.
• A introdução da noção de sítio arqueológico, em ambiente urbano.
• A prestação de atenção aos estilos arquitectónicos mais recentes,
como é o caso de exemplares da arquitectura do século XIX, entre outros.

Gráfico1 - Imóveis classificados no Norte de Portugal, entre 1970 e 1990.

28
Assim como existiu uma evolução no termo património, o conceito de
património imóvel evoluiu também. A classificação de imóveis no norte de
Portugal mostra-nos essa evolução pois os bens classificados passaram a
abranger não só os monumentos de grande dimensão e importância mas
também os bens patrimoniais com um interesse mais local, como é o caso dos
pelourinhos e cruzeiros.

Secção 2 - Princípios seguidos nos anos 90

O enquadramento legislativo de protecção ao património edificado foi


alvo de significativas alterações com a década de 80, numa primeira fase com
a criação do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), em 1979 e, em
1985 numa segunda fase, com a publicação da Lei de Bases do Património
Cultural (Lei 13/85), que promoveu uma actualização legislativa nacional,
acolhendo no seu articulado, designadamente, as propostas da, à altura
recente, Convenção de Granada.
A nova lei, embora nunca tenha sido alvo de regulamentação, promoveu
o crescimento, no domínio do IPPC/IPPAR, de um tecido técnico especializado
e actualizado pelas metodologias expressas nas várias cartas e convenções
internacionais; e o desenvolvimento de uma opinião pública mais desperta para
questões da protecção do Património, reflectem-se no geral da actuação da
Administração Pública na protecção do património e, como é óbvio numa maior
diversificação das tipologias e caracterizações dos imóveis a proteger, por
consequência a classificar:

• A atenção dada à paisagem construída que vai passar de


elemento de enquadramento a objecto fulcral de protecção.
• A valorização da noção de autenticidade, que se vai reflectir não
só na análise dos imóveis a classificar, mas também no planeamento das
intervenções de salvaguarda.
• O surgimento das primeiras classificações de património
vernacular, associada às preocupações de protecção do património
etnográfico, presentes na lei desde os anos 70.

29
• A evolução urbana, e as áreas que estavam destinadas a
actividades industriais, com o decorrer do tempo, sofreram alterações que
colocam o problema da preservação do Património Industrial, que se encontra
muitas vezes em mau estado de conservação. Aqui encontramos dois tipos de
valores patrimoniais: a arquitectura industrial e os edifícios modernistas que
passam a ganhar mais atenção por parte dos órgão que procedem à
classificação.
• Os estudos científicos e o reconhecimento público das
arquitecturas do século XX levaram a que se procedesse à classificação de
edifícios e conjuntos exemplares de diversos momentos da arquitectura
contemporânea.

Secção 3 - A situação actual da classificação e inventariação do


património edificado

Historicamente o procedimento de classificação, se o formos a analisar,


não passa pela selecção do imóvel a classificar baseado num inventário
generalizado de valores culturais. Á excepção do decreto de 1910, resultante
de um levantamento nacional de valores patrimoniais. Desta forma, o impulso
que conduz à classificação de um bem é, geralmente de carácter pontual, quer
seja de origem local, ou do próprio organismo que realiza a classificação. Desta
forma, verifica-se que as razões que levam ao início de um procedimento de
classificação são as seguintes:

• Proposta do proprietário, que geralmente resulta da vontade de


proteger o bem de agressões exteriores, designadamente pela existência de
uma área de protecção. Outra das motivações, são os benefícios fiscais
previstos na Lei e o acesso a programas de financiamento, nomeadamente na
área turística, onde apoiam preferencialmente os imóveis classificados.

30
Gráfico 2 – Imóveis em vias de classificação no Norte de Portugal.

• Propostas de associações de defesa do património, geralmente


em situações limite de destruição iminente do bem que se pretende classificar.
• Proposta de autarquias locais, geralmente em seguimento de
levantamentos do património concelhio.
• Iniciativa dos serviços do Estado responsáveis pelo procedimento
de classificação. Geralmente em situações pontuais e associadas a momentos
de crise, do bem ou da sua envolvente. Pode ainda surgir esta iniciativa em
consequência de acções de inventário limitadas, de carácter geralmente
específico e nem sempre com carácter formal.

Na Lei 107/2001 que regula as bases da política e do regime de


protecção e valorização do património cultural está expresso no seu artigo 16.º
que além da protecção do património através da sua classificação, os bens
culturais poderão desfrutar de protecção através do registo patrimonial de
inventário. O que se verifica concretamente é que não existe actualmente
qualquer inventário nacional, sistemático e uniforme dos bens patrimoniais. O
que existe é uma multiplicidade de inventários e levantamentos de património,

31
realizados por uma panóplia de entidades e com objectivos e critérios múltiplos
– Inventário do património classificado pelo IPPAS, Inventário do património
arquitectónico da DGMN, Levantamentos de carácter académico e científico,
iniciativas de Associações de Defesa do Património, etc.
Esta informação, que se encontra demasiado dispersa e por isso de
difícil utilização, poderá ser ordenada se se estabelecer o carácter do registo
patrimonial de inventário.
O IPPAR centrou a sua acção, mediante o previsto na Lei, na
valorização e salvaguarda dos bens culturais já classificados ou em vias de
classificação, descorando o desenvolvimento de uma intervenção sistemática
na área do inventário. Foram embora, desenvolvidas acções de inventário
específicas.
Devido à sua qualidade de entidade responsável pela salvaguarda e
valorização do património edificado, no que toca ao trabalho de inventário que
o IPPAR/IGESPAR vem a desenvolver, ele centra-se em imóveis, conjuntos e
sítios de carácter excepcional com uma protecção de carácter nacional, e não
assenta numa recolha de informação compatível com um levantamento
sistemático, o que o torna superficial em relação a todos os valores
patrimoniais.
É nesse sentido que o IPPAR começou a desenvolver um sistema
informático designado Sistema de Integração de Gestão do Património Imóvel
que, com base no inventário do património classificado pretende tornar possível
a sua gestão integrada, quer nos aspectos de intervenção, conservação e
valorização dos imóveis, quer no que toca a salvaguarda desses imóveis e das
suas áreas de protecção, ou ainda na gestão de toda a informação documental
referente aos imóveis classificados.
Com este sistema informático, pretende-se ainda que na sua valência de
inventário, possa servir como modelo de apoio ao desenvolvimento de acções
de levantamento patrimonial que possam ser desenvolvidas por outras
entidades, nomeadamente pelas autarquias locais.

32
Gráfico 3 – Bens imóveis culturais por localização geográfica e por tipo (fonte INE)

Em seguimento das competências atribuídas aos municípios, pelas novas Leis


do Património Cultural e das Autarquias Locais, dando-lhes a capacidade de
classificação de Imóveis de Interesse Municipal, parece uma boa solução localizar nos
Municípios a base do inventário patrimonial sistemático. O que é evidente é que
caberá ao IPPAR, hoje IGESPAR, o desenvolvimento de acções de coordenação, no
sentido de permitir alguma adequação de critérios.

Capitulo 3 – Cartas, convenções e organismos internacionais e a


sua aplicação em Portugal.

Ao longo deste século, os conceitos e as doutrinas acerca do património


cultural têm atravessado uma fase de grande evolução mas nunca
permanecendo imutável para o futuro. A nossa própria percepção do
património evoluiu devido à rapidez das transformações urbanas, onde se
desenrola um crescimento a um ritmo sem paralelo na história e as profundas
alterações da paisagem rural são disso consequência. Isto leva o homem a
reagir e a travar uma luta vital de procura de um novo equilíbrio com o meio
envolvente, natural e construído.
Em Portugal, também tem existido uma grande evolução nesta área,
principalmente na última década, existindo um crescente interesse pela

33
identificação, preservação e divulgação do nosso património arquitectónico.
Esta preocupação que inicialmente se cingia à preservação dos monumentos
de maior significado histórico, alargou-se aos centros históricos devido à sua
importância como um conjunto de imóveis interdependentes. Hoje existe
também uma preocupação ambiental e ecológica devido à visão globalizante
dos problemas, pois a má gestão desta problemática pode levar a alterações
urbanísticas e paisagísticas das nossas paisagens e cidades.

Secção 1 - Os organismos Internacionais e a sua importância

Em 1945, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou uma


instituição multidisciplinar com uma vertente cultural e educacional muito
importante. A essa instituição deu-se o nome de UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura).
A UNESCO tem por missão contribuir para a manutenção da paz e da
segurança ao estreitar, pela educação, pela ciência e pela cultura, a
colaboração entre as nações, a fim de assegurar o respeito universal pela
justiça, pela lei, pelos Direitos do Homem e pelas liberdades fundamentais.19
A UNESCO recebe a contribuição de ONG’s sendo a de maior
importância na área do património imóvel o ICOMOS (Internacional Council of
Monuments and Sites). Esta organização foi criada em 1965 e agrupa pessoas
e instituições que trabalham no âmbito da conservação de monumentos,
conjuntos e sítios históricos, tendo como principais objectivos promover a
conservação, a protecção, a utilização e a valorização dos monumentos,
conjuntos e sítios. Portugal possui um Comité Nacional do ICOMOS.
O ICOMOS tem desempenhado um papel importante junto da UNESCO
tendo dado um importante contributo teórico como é perceptível nas Cartas e
Recomendações por si redigidas, como é o caso de:

• Recomendação sobre o Turismo Cultural, (1976);

1 19 LOPES, Flávio – Cartas e Convenções Internacionais: Património Arquitectónico e Arqueológico.


Lisboa: IPPAR,1996.

34
• Carta sobre a Salvaguarda dos Jardins Históricos, ou Carta de
Florença, (1981);
• Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas,
(1987);
• Carta Internacional para a Gestão do Património Arqueológico,
(1990).

Voltando à UNESCO devemos também referir algumas Convenções e


Recomendações que tiveram grande importância no âmbito da protecção do
património arquitectónico:

• Convenção sobre a Protecção do Bens Culturais em caso de


Conflito Armado, (adoptada em 1954);
• Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e
Natural, (1972);
• Recomendação Relativa à Salvaguarda dos Conjuntos Históricos
e a sua Função na Vida Contemporânea, (1976).

Outra organização com grande importância no que toca ao Património


Imóvel é o Conselho da Europa, fundada por dez países europeus, em 1949,
os seus propósitos são a defesa dos direitos humanos, o desenvolvimento
democrático e a estabilidade político-social na Europa. Tem personalidade
jurídica reconhecida pelo direito internacional e serve cerca de 800 milhões de
pessoas em 47 Estados, incluindo os 27 que formam a União Europeia.
Portugal associa-se como membro desta organização em 1994, quando o
Conselho da Europa já contava com 42 países membros.
O Conselho da Europa originou, a partir dos anos setenta, novos
princípios e filosofias de abordagem do património, defendendo uma visão mais
alargada, pois, não se limita aos grandes monumentos históricos, englobando
todas as componentes do ambiente humanizado e edificado (centro históricos,
conjuntos rurais, património de interesse técnico e industrial e arquitectura dos
séculos XIX e XX).
Uma série de documentos fundamentais foram produzidos por este
conselho, ajudando a definir a actual visão europeia, e por consequência

35
portuguesa, sobre a salvaguarda do património arquitectónico e arqueológico,
como são exemplo:

• Convenção para a Protecção do Património Arqueológico, (1969 e


1992);
• Carta Europeia do Património Arquitectónico, (1975);
• Apelo sobre a Arquitectura Rural e o Ordenamento do Território,
(1976);
• Resolução 813, relativa à arquitectura contemporânea, (1983);
• Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da
Europa, (1985).

O mais importante de todos os documentos fundamentais criados foi a


Convenção de Paris, assinada a 19 de Dezembro de 1954, pois está na origem
de todos os posteriores estudos, reflexões e recomendações desenvolvidas no
seio do Conselho da Europa. Em Portugal, a aplicação da Convenção de Paris,
produziu efeitos a partir de Setembro de 1980, tornando-se visível na nossa Lei
n.º 13/85.

Secção 2 - O alargamento do conceito de Património Imóvel

O conceito de património arquitectónico era muito reduzido até à década


de setenta, pois, até aí era entendido como monumento isolado e a sua
protecção era seguida por princípios que se resumiam a este pensamento.
O crescimento acelerado das cidades e o visível fracasso das grandes
intervenções urbanísticas despontou uma necessidade premente de exigência
e uma nova esperança na procura de uma melhor organização urbanística,
procurando agora uma forma para revitalizar os centros urbanos antigos, com a
reutilização do património edificado existente e a manutenção do carácter
social dos bairros históricos.
Foram duas as referências nesta matéria, a Recomendação para a
Salvaguarda dos Conjuntos Históricos e a sua Função na Vida

36
Contemporânea, aprovada na 19ª reunião da UNESCO em 1976, e a Carta
para a Salvaguarda das Cidades Históricas, aprovada pelo ICOMO’s em 1987.
A Recomendação para a Salvaguarda dos Conjuntos Históricos e a sua
Função na Vida Contemporânea mostra um especial interesse na clarificação
de conceitos que até então não tinham sido estabelecidos.

“Considera-se conjunto histórico ou tradicional, todo o grupo de


construções e de espaços, incluindo os lugares arqueológicos e
paleontológicos, que constituem uma fixação humana, quer em meio urbano,
quer em meio rural e cuja coesão e valor são reconhecidos do ponto de vista
arqueológico, arquitectónico, pré-histórico, histórico, estético ou sociocultural.”20

“Nestes conjuntos, que são muito variados, podem distinguir-se em


especial: os sítios pré-históricos, as cidade históricas, os antigos bairros
urbanos, as aldeias e os casarios, assim como os conjuntos monumentais
homogéneos, entendendo-se que estes últimos deveriam, por regra, ser
conservados cuidadosamente, sem alterações.”21

“Entende-se por salvaguarda, a identificação, a protecção, a


conservação, o restauro, a reabilitação, a manutenção e a revitalização dos
conjuntos históricos ou tradicionais […] e do seu tecido social, económico ou
cultural.”22

A Carta para a Salvaguarda das Cidades Históricas, produzida onze


anos depois declara que por vezes a situação é dramática, com perdas
irreversíveis nas cidades históricas, alterando o seu carácter cultural, social e

2 20 Recomendação Sobre A Salvaguarda dos Conjuntos Históricos e da Sua Função Na Vida


Contemporânea, UNESCO, Quénia, 26 de Novembro de 1976.

2 21 Idem, Ibidem

2 22 Idem, Ibidem

37
também económico. Esta carta propõe também medidas e instrumentos
concretos de actuação, formando a figura de “plano de salvaguarda”.

“A salvaguarda dos conjuntos urbanos históricos deve, para ser eficaz,


integrar-se numa política coerente de desenvolvimento económico e social e
ser tomada em consideração em todos os níveis do planeamento territorial e do
urbanismo.”23

A evolução do pensamento contemporâneo e a consciência que surgiu


nas comunidades acerca da importância da salvaguarda do seu património
está implícita nestes textos, gerando ainda hoje choques de ideias conflitos de
interesse e dificuldades contínuas na realização dos conceitos estabelecidos.

Secção 3 - A Salvaguarda do Património Cultural como uma


responsabilidade colectiva.

A Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural


de 1972 tem como objectivo o estabelecimento de um sistema à escala
mundial capaz e eficaz de protecção colectiva do património cultural e natural
com valor universal excepcional.
A criação da Lista do Património Mundial em Setembro de 1978 com a
inscrição dos primeiros doze bens veio proporcionar aos países e governos de
todo o mundo, que desenvolvem esforços para incluir monumentos e sítios
nesta lista, para além de benefícios directos (financeiros e técnicos), prestígio e
projecção internacional.
Actualmente a lista possui 890 bens inscritos e encontra-se em
permanente actualização. Tornou-se numa grande estratégia de promoção dos
sítios, paisagens e bens culturais ou naturais e numa forma de salvaguarda
desse mesmo património espalhado pelo mundo.

Secção 4 - A Salvaguarda do Património, uma filosofia europeia.

2 23 Carta Internacional sobre A Salvaguarda das Cidades Históricas, ICOMOS, Washington D.C., Outubro
de 1987.

38
A Carta Europeia do Património Arquitectónico de 1975 veio sedimentar
no plano do consenso teórico, a projecção do significado cultural do património
monumental e do enquadramento histórico ou tradicional.
A noção de património arquitectónico é nesta carta confirmada, numa
noção dinâmica e abrangente: “O património arquitectónico europeu é
constituído, não só pelos nossos monumentos mais importantes, mas também
pelos conjuntos de construções mais modestas das nossas cidades antigas e
aldeias tradicionais inseridas nas suas envolventes naturais ou construídas
pelo homem.”24
A Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da
Europa de 1985, ratificada por Portugal em 1991 é ainda hoje um texto de
grande relevância e actualidade uma vez que marca a consagração filosófica e
jurídica dos aspectos fulcrais das políticas de salvaguarda e valorização do
património arquitectónico.
Ao longo de todo o documento, que apesar de integrar preocupações e
princípios já expressos noutras convenções e recomendações anteriores,
atravessa uma preocupação com o objectivo de uma estreita cooperação entre
Estados, na busca de uma política comum de salvaguarda e valorização do
património arquitectónico.
Neste âmbito, a legislação portuguesa articulou-se com o regime
comunitário e da UNESCO, incorporando preceitos contidos nos diferentes
diplomas, conforme os compromissos politicamente assumidos.
É certo que com a entrada de Portugal para a Comunidade Europeia em
1986, e com a respectiva participação como membro de pleno direito, nas
decisões da UNESCO, a legislação portuguesa reflectiu a abertura das
fronteiras, também a nível das medidas de salvaguarda do património.

Capítulo 4 – As competências da administração local relativas ao


património imóvel

2 24 Carta Europeia do Património Arquitectónico, Conselho da Europa, Estrasburgo, 1975

39
A classificação do património cultural deve ser entendida como o ultimo
nível de protecção possível relativo ao património imóvel e móvel. Segundo a
Lei n.º 107/01 a protecção legal dos bens que integram o património cultural
assenta na classificação e inventariação (artigos 18.º e 19.º). A classificação
incide sobre bens, móveis ou imóveis, que possuam incontornável valor
cultural, cuja degradação ou subtracção que impossibilite a sua fruição cultural
em Portugal, devido à exportação indevida, apresenta-se como uma grave
perda no que toca à identidade e património culturais, devendo por isso estar
sujeitos a medidas que garantam a sua salvaguarda.
Podendo os bens imóveis ser classificados como monumento, conjunto
ou sítio, podem também ser classificados relativamente ao seu interesse
nacional, interesse regional, interesse público ou interesse municipal. Enquanto
um bem classificado como de interesse nacional toma a forma de decreto do
governo, a classificação com interesse público terá a forma de portaria e a
classificação de interesse municipal tomará a forma constante da legislação
aplicável (cf. artigo 28.º da Lei n.º 107/01)25.

Secção 1 - A definição das responsabilidades

Na “Lei de Bases”, Lei n.º 13/85 é apontada uma grave insuficiência no


que diz respeito à clarificação das responsabilidades entre a Administração
Central e Local, pois era necessário existir uma articulação entre os diferentes
níveis de poder. O que se encontra disposto no n.º 2 do artigo 7.º da Lei 13/85,
em conjugação com o artigo 26.º torna possível aos Municípios e às Regiões
Autónomas, classificar ou desclassificar património sobre a sua jurisdição. Com
isto surgiram dúvidas acerca da eficácia desta classificação sem o
reconhecimento do Ministério da Cultura, analisar o valor do bem que se
pretendia classificar ao nível do poder local, ou seja, os designados “valores
concelhios” não podiam ser classificados sem que essa classificação fosse
assumida pelo ministério da Cultura mesmo havendo argumentos em contrário.

2 25 MARQUES, Helena da Silva – Património cultural imóvel: As novas competências dos órgãos
municipais. In. Estudos/Património, n.º6, 2004.

40
As responsabilidades financeiras e técnicas, no que toca á salvaguarda
do dito imóvel, não se encontravam igualmente definidas. Quem deveria
financiar os projectos ou acções relativas á salvaguarda dos imóveis, foi a
dúvida que se colocou.
Com isto é natural que as câmaras municipais se resguardassem, no
que toca ao avanço de processos de classificação sem intervenção do IPPC
(Instituto Português do Património Cultural, actualmente IGESPAR), uma vez
que seriam de imediato confrontadas com a necessidade de investimentos
financeiros e técnicos na valorização dos imóveis, que eles mesmos tinham
classificado, ou promovido a sua classificação.
Desta forma surgiu a necessidade de se proceder á redefinição das
regras no que toca á responsabilidade, tanto do poder central como local, no
que diz respeito á classificação de bens que possuam valor concelhio, mas
também á sua preservação.

Secção 2 - Mudança de competência das Autarquias Locais no


domínio do Património Cultural

No Decreto-Lei n.º 77/84 refere no artigo 8.º, o n.º 2 da alínea f), quanto
às competências em matéria de investimentos públicos no domínio da cultura,
referente aos municípios unicamente o “património cultural, paisagístico e
urbanístico do município” sobre a responsabilidade dos municípios, deixando
grandes dúvidas relativas a este tema.
No artigo 20.º da Lei n.º 159/99 aparece uma nova definição das
competências instituídas no Decreto-Lei acima referido, remetendo para os
órgãos municipais as seguintes competências:

a) Propor a classificação de imóveis, conjuntos ou sítios nos termos


legais;
b) Proceder à classificação de imóveis conjuntos ou sítios considerados
de interesse municipal e assegurar a sua manutenção e recuperação;
c) Participar, mediante a celebração de protocolos com entidades
públicas, particulares ou cooperativas, na conservação e recuperação do
património e das áreas classificadas;

41
d) Organizar e manter actualizado um inventário do património cultural,
urbanístico e paisagístico existente na área do município;

Com esta mudança apenas se explicou as verdadeiras competências


dos municípios, podendo estes classificar e inscrever os bens culturais imóveis
nos respectivos instrumentos de gestão urbanística e patrimonial, obrigando
somente a uma comunicação dessas decisões aos organismos centrais. O
registo patrimonial de classificação ficará sempre a cargo dos organismos de
Administração Central.
A organização de atribuições e competências da administração do
Património Cultural entre o Estado e o Poder Local estruturou-se através da
nova lei de bases, seguindo princípios de cooperação interinstitucional e auxílio
administrativo, tendo sempre em atenção a descentralização resultante da Lei
n.º 159/99 no que toca à classificação e qualificação do Património Cultural
imóvel.
A chamada do estado, das Regiões Autónomas e das Autarquias Locais
a prosseguir na defesa e valorização do Património Cultural pode levar a uma
eventual sobreposição de atribuições.
Existindo interesses públicos referentes à defesa e valorização do
Património Cultural não se coloca a hipótese da separação de atribuições.
Aparece entretanto a questão de delimitação de competências entre as
diversas entidades públicas, sendo resolvido este problema através da Lei n.º
159/99.

Secção 3 - Zonas de protecção aos imóveis classificados

Qualquer imóvel classificado pelo Ministério da Cultura deve dispor de


uma zona de protecção, que é constituída por 50 m contados a partir dos
limites exteriores do imóvel, até ser definida uma zona especial de protecção
(ZEP). A ZEP surge na vigência da Lei n.º 13/85, sendo para isso ouvida
previamente a autarquia ou autarquias respectivas podendo incluir-se na zona

42
non aedificandi, em todos os casos, salvo aqueles que fiquem perfeitamente
salvaguardados com a zona de protecção tipo ou padrão. Os imóveis em vias
de classificação ou propostos a classificação como interesse municipal,
beneficiam da zona de protecção padrão 50 m, pois o grau de classificação
final pode ser superior ao proposto, através de um parecer do IGESPAR nesse
sentido.
Estas zonas de protecção para os imóveis classificados ou em vias de
classificação, só podem ser definidas através de parecer favorável da
administração do património cultural competente, neste caso o IGESPAR,
deixando de fora os Municípios ou outras entidades, sendo proibido o
licenciamento para obras de construção ou qualquer outro trabalho que altere a
topografia, ou a distribuição de volumes e coberturas ou o revestimento exterior
dos edifícios.
Os imóveis classificados como “valor concelhio”, actualmente interesse
municipal, após entrada em vigor da Lei n.º 159/99, não dispõe da zona de
protecção pois esta só pode existir para a protecção de imóveis classificados
como monumentos nacionais ou imóveis de interesse público.

Secção 4 - A tutela dos imóveis classificados

A tutela dos imóveis classificados varia consoante o nível de


classificação atribuído ao imóvel. Através da Lei n.º 13/85 conclui-se que a
Administração Central, ao recusar a classificação de um imóvel como
Monumento Nacional ou Imóvel de Interesse Publico e ao aceitar a
classificação de Interesse Municipal transfere a responsabilidade pela
preservação do imóvel para as Câmaras Municipais. A entrada em vigor da Lei
n.º 159/99 vem definir claramente esta situação ao transferir a competência de
classificação dos imóveis, conjuntos e sítios para os órgãos municipais bem
como a competência de assegurar a sua manutenção e recuperação. Estes
pressupostos encontram-se, agora, expressamente assumidos na nova Lei de
Bases do Património Cultural.
Esta responsabilidade adquirida pelos municípios faz com que estes não
tenham a preocupação em inventariar todo o património existente na sua

43
região, pois funcionaria como uma sobrecarga aos seus orçamentos já que a
responsabilidade pela sua preservação e restauro está totalmente a seu cargo.

Secção 5 - As garantias de protecções e as sanções aos atentados


contra o Património Cultural

À tutela penal relativa aos crimes praticados contra os bens culturais


aplicam-se disposições previstas no Código Penal com especificidades
constantes nos artigos 101.º a 103.º da Lei de Bases do Património, Lei n.º
107/01, no que se refere aos crimes de deslocamento, exportação ilícita e
destruição de vestígios.
Esta Lei de Bases do Património é inovadora em Portugal, no que se
refere à tutela contra-ordenacional e à possibilidade de aplicação de sanções
assessorias existentes nos artigos 104.º a 109.º.
A instrução do procedimento por contra-ordenação está a cargo do
serviço de administração do Património Cultural competente para o
procedimento de classificação, tanto a nível dos serviços do Estado, hoje em
dia IGESPAR e às Câmaras Municipais quando o imóvel possui a classificação
de Interesse Municipal. A aplicação da coima compete ao órgão dirigente do
serviço competente para a instrução do procedimento, como foi anteriormente
explicado, sendo 60% do valor da coima para o estado e 40% para a entidade
respectiva, exceptuando quando cobradas pelos organismos competentes dos
governos regionais, pois desta forma o valor da coima reverte totalmente para
a respectiva região.

Secção 6 - Despesas dos municípios com o Património Cultural

Os municípios apresentam grandes despesas na área cultural, onde


estão englobadas as despesas relacionadas com o património cultural imóvel.
No gráfico abaixo disposto, podemos observar um crescimento
constante na área cultural, juntamente com o desporto, representando uma

44
despesa total de cerca de 802,9 milhões de Euros no ano de 2006, traduzindo
um decréscimo de 12% face ao ano anterior.
O pico de despesa total foi atingido em 2005, observando-se uma
tendência de decréscimo nessa despesa, mostrando uma preocupação com a
diminuição do peso da área cultural e desportiva nas despesas dos municípios.

Gráfico 4 - Dados do INE: retirado do relatório Estatísticas da Cultura, Desporto e Recreio 2006

O domínio dos Jogos e Desportos, continua a representar a maior fatia


das despesas municipais aparecendo as despesas com Recintos Culturais e
Património de seguido representando respectivamente, 13% e 11%, formando
no conjunto uma despesa total de 24%, aproximando-se assim dos 37%
destinados aos Jogos e Desportos no ano de 2006.
Os municípios do Alentejo e Algarve foram os que destinaram maior
proporção do seu orçamento às actividades culturais e desporto, 15,6% e
12,5%, respectivamente. As despesas em cultura e desporto tiveram menor

45
peso nos orçamentos do conjunto das autarquias da Região Autónoma da
Madeira (6,4%) e da região de Lisboa (7,5%).

Gráfico 5 - Dados do INE: retirado do relatório Estatísticas da Cultura, Desporto e Recreio 2006

Em 2008, as despesas das Câmaras Municipais com actividades


culturais foram de cerca de 526 milhões de Euros, significando num acréscimo
de 7,5% face ao ano anterior, mesmo assim, inferior aos anos de 2005 e 2006.
Relativamente ao financiamento das actividades culturais por região, os
maiores aumentos ocorreram nas autarquias localizadas na Região Autónoma
da Madeira (80,3%), Alentejo (14,2%) e Lisboa (8,2%). Nas autarquias da

46
Região Autónoma dos Açores e do Algarve registaram-se, face ao ano anterior,
decréscimos de 6,7% e 3,3%, respectivamente.

Gráfico 6 - Dados do INE: retirado do relatório Estatísticas da Cultura 2008

Do total das despesas em actividades culturais realizadas pelas


Câmaras Municipais em 2008 destacam-se as afectas ao domínio do
património cultural, representando em 2008 18% da despesa total,
apresentando assim um aumento percentual e real de 7% face a 2006.

47
Os municípios do Alentejo, Algarve, Norte e Região Autónoma dos
Açores foram os que destinaram maior proporção do seu orçamento às
actividades culturais 8,6%, 7,2%, 6,7% e 6,4%, respectivamente. As despesas
em cultura tiveram menor expressão nos orçamentos do conjunto das
autarquias da Região Autónoma da Madeira (5,7%) e da região de Lisboa
(5,9%).

Capitulo 5 – Mecenato Cultural e a sua importância na salvaguarda


do património.

O papel do Mecenato Cultural na salvaguarda do património cultural tem


assumido uma maior notoriedade com o passar dos anos, criando também
discrepâncias na verdadeira essência do conceito mecenato.

“Quanto ao chamado «mecenato» tive ocasião de na altura chamar a


atenção que «mecenato» não era contribuir para acções culturais em troca de
publicidade ou de redução de impostos. Isso, quando muito, podia ser
considerado «patrocínio», porque «mecenato» é dar sem recompensas.”26

Estes dois conceitos, mecenato e patrocínio, têm sido muitas vezes


entendidas como um só até porque hoje, pelo menos em termos práticos e
legais a distinção não será fácil.

2 26 COSTA, José Pereira da – Documentos para a História dos Arquivos Regional da Madeira e Nacional
da Torre do Tombo. Funchal. 2002.

48
Secção 1 - Evolução histórica do conceito de mecenato

O termo mecenato terá origem em Caius Cilnius Mecenas (nascido por


volta de 70 a.C.), figura de alta ascendência etrusca, foi um diplomata e
conselheiro do Imperador Augusto, sendo considerado como o maior patrono
das letras de toda a antiguidade clássica e por isso, o termo mecenas se
prolongou até aos nossos dias.
O conceito de mecenas e mecenato tem-se, ao longo da história,
alterado quanto à forma e aos seus agentes. Ao mecenato religioso e da
nobreza, exercido por papas, imperadores ou príncipes, junta-se o mecenato
de uma nova classe que surge no século XIV, a burguesia.
A obra até ao século XVI é associada ao seu autor, relegando o
mecenas para um plano de menor evidência.
Em Inglaterra surge, em 1572, um decreto que obrigava os actores a
possuir a protecção de um varão ou ata personalidade, dedicando a ele a sua
obra.
Podemos ver a importância dos mecenas em diversas obras como é o
caso de Rape of Lucrece que Shakespeare dedica ao seu patrono. Em
Portugal temos o caso de Luís de Camões, que na segunda impressão das
Rimas, em 1598, evoca em verso, na Ode 3ª, o seu protector, D. Manuel de
Portugal, filho do Conde de Vimioso.
No século XVII surge o mercado de cópias, suportado em parte por
particulares não abastados, dando um novo impulso às artes e contribuindo
decisivamente para a sua emancipação.
Com o aparecimento do liberalismo e dos Estados modernos
republicanos, o apoio dado às actividades culturais é assumido, quase
totalmente pelos governos deixando o mecenato para segundo plano.

Secção 2 - Mecenato de Empresas

Este tipo de mecenato parece ter surgido nos Estados Unidos da


América em 1945 chagando à Europa nos anos 60, mas só nos anos 70
começa a ganhar expressão.

49
O mecenato de empresas é normalmente associado à qualificação
académica dos gestores profissionais e às técnicas de marketing que surgiam
nesta altura, pois o bom gosto e a cultura deveriam participar na estratégia
empresarial de promoção e expansão, sendo posteriormente entendido
também como uma possibilidade de investimento e capitalização.
Inicialmente era entendido como uma mais-valia na área da publicidade,
acrescentando prestígio e visibilidade às empresas que praticavam mecenato.
Hoje em dia o mecenato assenta noutros princípios, funcionando tanto
para empresas como para particulares, como uma ferramenta para atingir
benefícios fiscais.
O Estado incentiva o investimento privado em concorrência com o
público, para assegurar a salvaguarda do património, nunca deixando de
assumir o papel de principal responsável pelo património cultural do povo que
representa. O Estado nem sempre recebe mais do que perde, isto é, a isenção
que proporciona, nalguns domínios do mecenato, é maior do que aquilo que
teria de despender directamente.
No caso português parece não se dar razão à máxima que diz que a
gestão privada é mais eficiente que a pública, primeiro, porque há um
enquadramento do que e como deve ser feito, e segundo, porque a execução é
da responsabilidade do Estado.

Secção 3 - Evolução Legislativa

Em termos de mecenato, não existem elementos relativos a esta


temática anteriores a 1986, ano em que foi publicado o Decreto-Lei n.º 258/86,
de 28 de Agosto, surgindo como consequência da Lei n.º 13/85, onde se define
os princípios relativos ao Património Cultural Português, contemplando os
benefícios fiscais no artigo 46.º deste diploma.
O Decreto-Lei n.º 258/86 tem subjacente a ideia de “[…]não deve
competir exclusivamente aos poderes públicos o apoio financeiro à criação, à
acção e à difusão cultural, já que, neste domínio, especial responsabilidade
pertence a toda a comunidade por se tratar da defesa e salvaguarda de algo
que é a própria razão de ser da existência de Portugal como entidade
autónoma no concerto dos povos.”

50
Actualmente existe uma nova lei do mecenato, aprovada pelo Decreto-
Lei n.º 74/99, mantendo no essencial, o actual regime dos donativos ao Estado
e a outras entidades equiparadas, referidas no Código do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Singulares e no Código do Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Colectivas.
Nos termos deste estatuto, estão abrangidas pelo regime de donativos o
Estado, as Regiões Autónomas, as Autarquias Locais e qualquer dos seus
serviços, estabelecimentos e organismos, ainda que personalizados, assim
como as Associações Autárquicas e Fundações em que a Administração
Central, Regional e Local participe no seu capital inicial e, ainda, as Fundações
de iniciativa exclusivamente privada que percorram por fins de natureza
essencialmente social ou cultural. Muitas outras entidades podem beneficiar de
donativos sendo, as associações de produção de actividades relativas a
temáticas culturais e de defesa do património histórico-cultural as mais
relevantes na área do património imóvel, pois desempenham um papel
fundamental na recuperação e salvaguarda do testemunho que esse
património representa.
A atribuição dos benefícios fiscais varia consoante a qualidade do
mecenas, pessoa colectiva ou singular, e da entidade que recebe o donativo,
entidade pública ou privada.
O mecenas poderá retirar benefícios económicos da sua doação mas
não é menos verdade que todos nós beneficiamos com isso. Existe também
um carácter participativo nesta acção pois, cada um de nós através de uma
grande empresa ou sendo simples particular podemos ajudar instituições ou
entidades de forma a valorizar o seu trabalho.
Desde a sua criação o instituto do mecenato cultural permitiu o
enriquecimento do património cultural português e por conseguinte do
património imóvel, proporcionando a possibilidade de restauro de monumentos
classificados através do IPPAR hoje em dia IGESPAR.

51
Gráfico 7 - Patrocínios de empresas e instituições ao IPPAR destinados à conservação e

restauro, exposições, aquisição de obras, publicações, comemorações.27

A consciência de quem somos só pode ser atingida através do


património cultural português sendo importante a divulgação, recuperação e
preservação física do mesmo, sendo o mecenato uma ferramenta importante
que permite atingir alguns deste objectivos. Através do mecenato muitas
empresas assumiram também um papel social na área da cultura, permitindo
que a cultura se aproxime de novos públicos que até então se sentiam
afastados da sua identidade cultural.

“A associação de uma empresa ou de alguém a um projecto artístico ou


de ordem patrimonial permite-lhe assumir papel activo no desenvolvimento
cultural do país. Mas é ao mesmo tempo a sua imagem, personalizada através
dessa colaboração (aliada à obra de arte, ao monumento recuperado, ao
espectáculo apresentado), que aparece aos olhos do público com uma nova e
diferente expressão.”28

Tabela 1 - O valor do mecenato no total de receitas do IGESPAR. Valor em euros.

2 27 SILVA, Luís Melo e; Avelino Rosa - O Mecenato. In. Estudos/Património, n.º6, 2004.

2 28 Mecenato Cultural. Lisboa: Secretaria de Estado da Cultura. 1986.

52
53
Conclusão

No desenrolar deste trabalho foi-nos dada a possibilidade de aprofundar


os nossos conhecimentos acerca da temática “Politicas Culturais aplicadas ao
Património Imóvel”, tentamos desenvolver este trabalho de uma forma o mais
lógica possível com o objectivo de tornar perceptíveis as várias metamorfoses
que ao longo do tempo se fizeram sentir, em vários dos campo subjacentes à
compreensão e apreensão das especificidades do Património Imóvel,
nomeadamente o desenvolvimento da legislação que o rege, que reflecte as
diferentes posturas adoptadas na salvaguarda e preservação dos órgãos
governativos, bem como a evolução da classificação deste tipo de património
que nos parece ainda aquém do desejado num país tão rico, como Portugal,
em Imóveis de consagrado valor para a nossa identidade como povo.
Ao terminar este trabalho fica-nos a ideia de que ainda muito há a fazer
no que toca ao Património Imóvel, como disso é exemplo, a falta de articulação
dos diferentes níveis de poder, tornando assim, susceptível ao
desaparecimento de diversos bens que teriam toda a relevância de serem
preservados.
Outro ponto que nos parece mal gerido diz respeito ao financiamento
atribuído pelo Ministério da Cultura e Poder Local ao domínio do Património,
pensando que em muitos casos esta tipologia é posta de lado, dando por
exemplo, os apoios dados aos Jogos e Desporto pelo Poder Local que é
superior em 20% ao financiamento dado ao Património Cultural.
Sabendo que muitas outras temáticas poderiam ser abordadas,
pensamos que os pontos tratados por nós são os que apresentam maior
relevância no que toca a esta temática.
Esperamos ter atingido os objectivos propostos no âmbito deste
trabalho.

54
Bibliografia

• NEVES, José Soares - Despesas dos Municípios com a Cultura [1986 –


2003], Documento disponível em www.oac.pt

• MELO, Alexandre – Politica Cultural: Acção ou Omissão. Versão


electrónica do artigo da publicação periódica do Observatório das Actividades
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• COSTA, António Firmino da - Politicas Culturais: conceitos e


perspectivas. Versão electrónica do artigo da publicação periódica do
Observatório das Actividades Culturais, OBS nº2, Outubro de 1997, pp. 10-14.

• LARAIA, Roque de B. Cultura, um conceito antropológico. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001, pp. 25.

• TOMÉ, Miguel - Património e restauro em Portugal (1920-1995).


Publicações FAUP: Porto, 2002.

• Encontros de divulgação e debate em estudos sociais: Património,


Sociedade de Estudos e Intervenção Patrimonial.1999.

• Intervenção no Património (1995-2000): Nova Politica. Ministério da


Cultura, IPPAR: Lisboa.

• Património, Balanço e Perspectivas 2000-2006. Ministério da Cultura,


IPPAR: Lisboa.2000.

• SILVA, Augusto Santos (2004b) Como Classificar as Políticas Culturais?


Uma Nota de Pesquisa in OBS, nº 12, Lisboa: Observatório das Actividades
Culturais, pp. 10-20.

55
• LOPES, Flávio – Cartas e Convenções Internacionais: Património
Arquitectónico e Arqueológico. Lisboa: IPPAR, 1996.

• MARQUES, Helena da Silva – Património cultural imóvel: As novas


competências dos órgãos municipais. In. Estudos/Património, n.º6, 2004.

• COSTA, José Pereira da – Documentos para a História dos Arquivos


Regional da Madeira e Nacional da Torre do Tombo. Funchal. 2002.

• SILVA, Luís Melo e; Avelino Rosa - O Mecenato. In. Estudos/Património,


n.º6, 2004.

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Webgrafia

• http://dre.pt

• http://www.ippar.pt

• http://www.portaldacultura.gov.pt

• http://www.ine.pt

• www.oac.pt

56

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