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Síntese: A Norma Moral

Devido ao seu valor moral intrínseco a norma moral tem força de obrigação. Para o sujeito
moral seu comportamento deve ser reflexo dos valores morais ligados a seu fim último. Assim, para
os cristãos devem corresponder ao valor central e absoluto da caridade.

No entanto, a lei moral está ligada a consciência e ativa o discernimento no cumprimento


da lei. Porém, o Espirito nos ajuda na condução do discernimento, não decide por nós. A nossa
obediência é exigida no exercício da liberdade. Portanto, a lei moral não se refere apenas ao que se
espera no sentido do que fazer ou não, mas espera uma resposta ao chamado a santidade em Cristo.

As normas morais são necessárias para ajudar a consciência moral, que não capta de modo
intuitivo e direto os valores morais, mas por meio de fórmulas normativas, e para educar a
responsabilidade, tornando-se instrumento para o exercício da liberdade na verdade. Orienta para
uma livre obediência a Deus, movida pessoalmente de dentro e não por cegos impulsos interiores ou
coação externa. Em suma, o homem que realmente adere aos valores morais vive a “livre escolha
pelo bem” (VS, 42). Nesse sentido, justifica-se a necessidade de expressão normativa, pois cada ser
humano tem sua consciência formada de um modo e em uma comunidade, pondo seus dons a
disposição do bem comum.

Segundo o catecismo a lei é uma regra de uma autoridade competente ordenada ao bem
comum que reflete o poder, a sabedoria e a bondade do Deus Criador (n. 1951). Para São Tomás
trata-se de uma ordenação da razão, independente do legislador e de quem se lhe submete, ambos se
guiam por aquilo que é conforme a ordem racional. A lei precisa ser sancionada para ter caráter
vinculante, por quem tenha autoridade para tal. Deve seguir a reta ordem da razão. Assim, uma lei
injusta não pode obrigar. Todavia, o indivíduo ao se submeter a lei sente-se protegido em seus
direitos e ao mesmo tempo o torna mais consciente de no cumprimento de seus deveres.

A lei deve ser justa, prescrever o bem e legislar sobre o que é realizável. Em teologia,
pode-se falar em três tipos de lei:

1) Lei eterna: ordenação da natureza e das ações humanas. Santo Agostinho considerava-a
como a ordem moral revelada por Deus. Para Santo Tomás não é senão a razão da sabedoria divina,
na medida em que ela dirige todos os atos e movimentos. A lei eterna assume a sua forma histórica
em Jesus Cristo, ele é a “lei por excelência e referência obrigatória para a vida do cristão”. Todavia,
para além de legislar ele dá a graça para que se consiga seguir a lei. O seguimento dessa lei, porém,
é livre, trata-se de uma adesão voluntária a vida dada por Cristo.

2) Lei natural: classicamente é tida como a participação da lei eterna na criatura racional.
É, portanto, intrínseca a pessoa humana, enquanto ser racional e livre. Está para além da física e
biologia. Pode-se considerar uma disposição para caminhar para a verdade e um agir coerente com a
mesma, na qual “o homem ouve e reconhece os ditames da lei divina por meio da consciência”
(DH, 3). O magistério tem a missão de ser seu interprete, uma vez que está diretamente ligada a lei
divina. Seu princípio fundamental resume-se na máxima: “faz o bem e evita o mal”. Nota-se que em
essência é um princípio presente em qualquer cultura, cujos atos apresentam significados que
transcendem a mera observação da natureza do ponto de vista físico ou biológico. Assim, as
características da lei natural são a universalidade, a imutabilidade e a objetividade, embora seu
conteúdo não seja percebido por todos de maneira clara e imediata. Daí a necessidade da graça e da
revelação não só para perceber o que fazer e o que evitar, mas para que os atos sejam uma resposta
dada com a própria vida ao chamado a santidade.

3) Lei positiva: é aquela promulgada por um legislador que possui autoridade para tal. Há
a divina e a humana. A humana divide-se em eclesiástica e civil e a divina divide-se em revelada e
natural. A exigência de leis resulta da necessidade de regulamentação das relações para promover o
bem comum, atribuindo a todos direitos e deveres. No contexto atual, entende-se a obrigatoriedade
as leis do Estado “em consciência”, ou seja, após examinadas pelo crivo da consciência pessoal que
tem por critério de avaliação a lei revelada e a lei natural. Assim, uma lei contrária a consciência
deve ser desobedecida. Há de se resguardar a coerência moral no discernimento, para não se fazer
confusão do mal com o bem, seja no campo jurídico seja no campo moral. “Nem tudo que é legal é
moral”. Diante disso pode objetar pela consciência àquilo que fere a moralidade e os valores que a
sustentam, seja pelos meios ou pelos fins. Todavia, não se pode usar a objeção de consciência para
justificar quaisquer ações, como por exemplo, uma objeção fiscal devida ou meio direto de luta
política. Nesse sentido, a Igreja também possui suas leis estabelecendo direitos e deveres a todos os
graus da hierarquia e aos leigos, todavia chama ao dever de acolher as verdades da moral católica e
praticar seu múnus profético em comunhão com a Igreja. Por meio dessas leis ela visa auxiliar no
discernimento moral dos fiéis. Buscando guardar e ser fiel a revelação que lhe foi confiada, o
Magistério tem a função de mestres e juízes em matéria de fé e costumes. Dessa forma, ela ajuda na
formação da consciência dos fiéis ensinando preceitos para que não se desviem ou caiam em erros,
muitas vezes, implícitos, que a consciência pode não reconhecer.

A Igreja nos chama a aderir a suas normas confiando no magistério e no sumo Pontífice em
matéria de fé e costumes, pois aponta caminho para a santificação pessoal e comunitária. Espera-se
uma adesão não para meramente cumprir preceitos, mas assentindo com a inteligência e a vontade,
acolher um plano de amor salvífico que traz balizas para não nos desviarmos.

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