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UANICULO E EDUCAGAO BASICA + Sobre novos e velhos artefatos curriculares — suas relagdes com docentes, discentes e muitos outros feréncias , UMAN, Zygmunt. Modernidad iquida. 28 ed. Buenos ‘ondo , ‘ lqui |. Buenos Aires: E : ‘Aires: Fondo de Cultura -__.. Vida tiquida. Barcelona: Paidés, 2006. HINO SACRISTAN, José. O valor do tempo em edueaciio. Madtid: Morata, 2008, (Comp). Educar por competencias, équé hay dle ntevo? Madrid: Mora- Nilda Alves" . O gatopardo (edicién confor mie 1957). Barcelona: Edhasa, 1 reimpr., 1991. ‘me al manus rancesco. A ciudad de los nif um modo nuevo de; it in Germiin Sénchez Ruipérez, 197. eae ‘m Rouen, na Franga, existe um museu de educagdo™ que faz sucesso ‘entre adultos, jovens e criangas. Os primeiros se “encontram” com sua primeira ou segunda escola ao identificar os artefatos ali expos tos: velhas m&quinas de escrever; quadros didaticos ~ para redacio, atividades em ciéncias, mapas ete. J4 os mais jovens adoram ver ali as escolas de seus avés e de seus pais. SANTOME, Jurjo.A desmotivacién do profesorado. Madrid: Morata, 2006. ‘cagdio em tiempos de Neoliberalismo, 2° ed, Madrid: Morata, 2007. ica curricular. O Caballo de Troya de a cultura escolar. Madrid: |, 2010. ; Ha trés anos, eu o visitava com minha afilhada franco-brasileira ~ ‘Ana Laetitia — entio com nove anos, quando ela parou, na sala que esté ‘montada para mostrar como era uma sala de aula do “eurso prim‘rio” no comeco do século XX, frente a uma estreita e alta vitrine de ferro ¢ vidro, na qual uma série de artefatos/recursos didaticos estava expos ta, Ela 08 ficou observando por uns 10 minutos, ao fim dos quais me olhou e disse: “Dindinha, a escola antes era melhor!” Frente & minha pergunta: “Por qué2”, ela me respondeu: “Na minha escola niio tem (0) Iris Marion. A justiga e a politica de la diferencia. Madrid: Cétedra, 2000. {Le I'Kiducation esti situado em Rowen, na Ni esto iver fet uso” Png Pay + CUNRICULO E EDUCACAO BASICA cceiniochumane que ‘muitos, buscar compreender os espacoste! sto — afinal eu, hoje, hho desenvolvimento dos processos currieularess menitos que se seguir’ao a0 presente — na contemporane! lade, convido, assim, os Tetores @ que pensemos juntos a (UI Inistorian aque contel aeima. Comego pela iin expressa Por na Laat disse que“a escola antes era melhor”. Bsse um pensamento bem a muitos e que é ouvido com frequénela du ma caveira como esta aqui.” E s6 en ‘va exposto entre outros “objetos” ¢ levei snsaria em ter “aquilo” entre o mate ., pensando bem, nunca, Bu nunca . Mas ser que elas devem ali estar, ap. Nesse mesmo dia, visitava o museu um pi erminado momento, parou frente inas de escrever, de diversos tipos, usadas também no inicio do ae problemas que as eto] cnet, ie Se : “Papai, como cetamente, pela presenca de um “crinio” om m guteto in a Laetitia € insu- ig i eens Ou seja, oargumento usaclo por Ana Laetit rar nee oe tao, Vamos entio diseutir, a partir de das \jamos mesmo? Hoje sera mais cle? Por qué? ficiente para discutir esta quest a nts esse mse a GU TE ene que consegui no deposit za eae spereo” quando vou a Rowen! ssas historias vém aqui contadas, como outras que se seguiréo, : io a referi e onde muitas vezes eu me que 6 com elas e com imagens ~ que também vao aparecer nes- 1, mais adiante — que consigo pensar e ter condigies de buscar npreender as escolas brasileiras, em sua variedade, em sua hist6- ‘em suas possibilidades de futuro. £ desta maneira que eu consigo 1, e todos nds pensamos, nas redes educativas cotidianas em que yivemos e aprendemosensinamos® euavocé, vocéamim dentro- las escolas. Com isso, pudemos compreender que os professores aser docentesdiscentes, enquanto os alunos passam a ser dis- ilocentes, em ocasides diversas e com cada vez maior frequéncia, ;pecial quanto aos “usos” dos artefatos téenico-curriculares mais nporaneos ~ televisao, computador, celular ete. s duas hist6rias me ocorreram porque, para tratar de novos artefatos por ‘hjoox);e assim por diante, Como we very fa todo 0 te Conn aa dem Jaro nome de Mi OO Seay + CURRICULO E EDUCAGAO BASICA * logo dois desenhos ado, para Ihe bater com uma espécie de ue foi colocado em pé e com um chay tefatos ~ de palmatéria a chapéu de burro — talvez, dessem jeito nes- ilunos com os quais é tao dificil lidar, hoje, icl? Olhando uma segunda vez estas duas cempre presente mapa nas paredes das duas salas — procurem por este fato do qual cu, pessoalmente, como professora de geografa, fiz tanto le estava sempre por lf, nessas imagens antigas, porque nos curricu- scolares franceses do século XIX, “criados” nos tempos do Napoleso I, rafia era di jportante para “formar” os soldados que seriam. ados nas intermindveis guerras de conquista europeias, Mas nesta época, também, os “melhores” eram assim proclamados nas quais se fazia presente “toda a comunidade escolar” — ‘ores, alunos e responsivei |, que encontrei a imagem reproduzida abaixo: : LOS ARTEFATOS CURRICULARES - SUAS RELACOES COM poets DOCENTES, DISCENTES E MUITOS OUTROS + leiro, temos uma descrigo com- Destas fest: pleta no livro Pompeia, que vale @ pena ler, para quem quer coisa sobre as escolas desse tempo, no Brasil, com a gi francesa que tinha, com seus tantos castigos e su: \cdes. B talvez descobrir que a escola antes nao era mel ethos do corpo humano continuam a me Mas as » perseguir, bem~ los alunos. Vejam esta outra imagem ~ sobre 0 sangue € 0 ‘rio — também encontrada nesse acervo e que reproduzuma, deum cademo de aluno, em seu desenho detalhado: ier "| que me pergunto: por que um esqueleto esté af necessariamente, néio tem grandes coisas a ver com cle? Mas, oy (iCULO E EDUCAGAO BASICA © Mas, voltando a escola de antes, lembi ito divertida, na segiio de cine- ‘ombras da tela eas uma bela imagem: imos, entiio, concordar em uma possivel primeira conclusio: nos- 08 contatos com pessoas e artefatos culturais foram sempre variados e luenciaram de modos diferenciados, tanto nas redes educativas de ‘quanto nas de hoje, Quem tem medo de Virginia Woolf?'® janclo comegamos a falar de tecnologias — novas ou velhas ~ ime- se comega um proceso de “culpabilizacio” dos/das profes- niio sabem usar estes aparelhos, on pior, nfio querem ‘aniinade di Dir «+ SOBRE NOVOS E VELNOS ARTEFATOS CURRICULARES ~ SUAS RELAGOES COM DOCENTES, DISCENTES E MUITOS OUTROS © megan, le Rouen: rente vinda de todos os la a fotografia, conseguida no n usé-los” é uma vamos mostra comentei os seguintes aspectos: a forma como os alunos pr a0 que o senhor presente na fotografia explica: o que é aq ~a televisdo com portas que se fechavam como eram as pt ‘ma quase “amedrontada” do rosto da professora e seu corpo em encolhida; ¢ 0 “a vontade” do tal senhor que af aparece ~ el que sabe e mostra isso também com seu cor cle se recosta na mesa da professora e The dé as costas qui “Minha conversa no é com vocé, que nao sabe nada disso, ‘cena, nao é mesmo? Com essa imagem poderia mesmo at que essa professora nao deveria muito querer usar este art ‘modo tito desrespeitoso, entrou em sua sala de aula, niio é mesmo? ato que, de “Mas a questio é que devemos procurar todos os que tém real medo fatos téenicos e, em especial, de seu “uso”, e nao dizer que 6 0 Colélo ‘SFogos eletrnicos on jogos diversoss % Celulares, mp3, mp4. Esse cartaz foi produzido em um computador e reproduzido em Xerox para ser colocado em cada sala de aula. Ele mostra a io de um “dono de estabelecimento escolar” sobre o uso de arte- 'eenolégicos no espagotempo da sala de aula. Tudo 6 proibido! feito em nome de fazer funciona bem os processos curriculares devem acontecer. A imagem me foi dada e a decisio de colocé-la rtigo é para mostrar que existe o medo do novo ou daquilo que {onomia aos estudantes, na maioria dos adultos que tém de Iilas vens, particularmente. Quando esses jovens sio criangas e possuem de nés uma grand endéncia ~ fisica e emocional ~, todos nés acl oso” os 's que fazem no uso de todos os artefatos « mos A disposigao: do “uso” da lingua le fala palayras ineriveis para exp] 108 “delicioso” os s botwes da televisio (que liga-destiga s que aumenta o pedir ajuda a ninguém...), chegando ao computador (“ele hoje “ela aprenden sozinha existem no computador se complica ~ e muito ~ quando a crianga cresee, vira jovem, deixa de aceitar o que dizemos como saindo da “boca de Dens” e \ina, muito além do que sabemos, esses artefatos e omega a: “falar ; a “querer fazer jogos violentos"; “ver filmes inconvenien- les para a idade”. Coisas que, em determinado momento, descobrimos que jé fazem ha muito tempo, em geral em casa, na nossa auséncia, mas também na escola, algumas vezes (TAVEIRA, 2008).'° E chegam os Iphones. O que vamos fazer? O panico instalado nos adultos leva sempre a proibigdes que nada resolvem, de fato. Como a proibigiio de “colar” nas provas, antigamente, lembram? Durante elas, as pregas dos uniformes, o forro de roupas, as meias, as solas de sapa- {o, 0 tampo de madeira das mesas ete. se enchiam de frases e desenhos que “ajudavam” a responder as perguntas que nos eram feitas... As redes educativas, os artefatos tecnocurriculares ¢ a diversidade humana ‘Uma das lendas criadas, com particular ajuda do que historicamen- chamado de “Escola Nova’, 6 considerar que as escolas estavam :pre “cercadas de muros” e que era preciso levar para dentro Hoje sabemos que isso nunca existiu, em especial pela existéneia movimentos: o primeiro nos é dado pela compreensiio de que os \dos com seus intimeros “praticantes” (CERTEAU, 1994), enti tempos escolares em nés “encarnados” e em nés/eonos escolas que frequentamos, contribuindo para fixarmos, ni to citado entee as piginas 137 € 139, os conhecimentos e outras significacdes, nar em contato com as “coisas”, os objetos, os s antes” que por eles circulam conosco. O segundo las esto se movimentando pela presenga dos tantos grupos s tém interesses: as politicas pensadaspratieadas para/na/com las 0 so por todos aqueles que, em movimentos especificos ou amente, eriam propostas para elas, De governos a especialistas, mentos sociais diversos a igrejas, todos queremos dizer como mi ser as escolas e os eurrfeulos que nelas se deve desenvolver tos dizer, parafraseando um ditado popular ~ “de médico e de / todos nés temos um pouco” ~ que de escolas todos nés sabemos \co e sobre elas opinamos e lutamos com discursos/conversas/ (08 e outros tipos de agdes, mmitas vezes bem mais autori Nesse sentido, tem rias. joa portncia diseutirmos sobre as tantas redes tasde que barticipamos, em suas difereneas, e nas quais conhe- ntos e significagdes vao sendo criados sobre nossas tantas instit PEE EEEREEe Ea emer vegetais e minerais etc. Todas e todos dando ur ‘a ao mundo daquele tempo, fazendo os seres humanos s hecimentos e significagées. Tudo isso, ébom lembrarmos, so artefatos curriculares usados até hoje nas escolas. Nao podia ser de ‘outra forma, pelo menos na maior parte do tempo, naquela época. Nos modos de pensar que se expressam no cotidiano, as coisas se passam de modo diferente: nenhuma ordem, com pensamentos que se eruzam e que mudam de rumo o tempo todo, referindo-se a espa~ costempos que iio apresentam nenhuma ldgica nas aproximagoes que fazem uns dos outros... A esses modos outros de pensar, fomos cha- mando de “redes” que, em nosso caso, dizemos serem “educativas”, ja que nelas nos interessavam os processos justamente de reproducio, transmissao e criagio de conhecimentos e significagSes, 0s processos de aprendizagemensino, os processos curriculares. Fomos descobrindo que essas redes edueativas si as? - e, com calma, comegamos a identificd-las e a indied- rificando os processos com que nelas se davam as relagées entre seus «praticantes”, Isso niio vem sendo facil, mas cada vez mais, vemos ser necessario, Alguns exemplos para mel ‘esentar o problema: nin- nasce racista — muitos se tornam racistas, porque, a conta-gotas, rue sustentam esse tipo de preconceito Ihes foram sendo “in- » em seus pensamentos ¢ nas signifieagdes que dio ae mundo, Jes e falas de seus proximos, por imagens que viram nos meios agiio e comunicacao, por textos que leram, por fatos que vi acontecer, por interpretagdes que pessoas mais v nnsideradas como “mais importantes” (com maior pr por exemplo) analisaram acontecimentos... Do mesmo sexistas, achando que as mulheres cabem os bam deste modo, + cunmicuto € EDUCAGRO BASICA + i tes modos de ser quanto a sexualidade sao “express6es desvian- ‘vicios” ou “maus costumes”. Por isso mesmo, nos espacostempos ec iculares, precisamos nos dediear com ites dos hegeménicos de pesquisar. A 1ém se dedicado ha, pelo menos, 30 ivos e nas pesquisas nicia a criar modos di- to diversos grupos, pelo Uma das coisas que foram articulando é a compreensiio de que os 1es (incluindo aqueles com sinal negativo a que damos 0 nome “pre- ito”) sfio conhecimentos especiais — prenhes de signifieagoes — que levam a ages contra outros que “vemos” como diferentes de nés. jue so importantes analisar para compreendermos como esses jentos so reproduzidos, transmnitidos e eriados ~ entende- que isso s6 pode ser feito considerando as imagens e narrativas tefatos téenico-curriculares poderosos ~ que registram as redes inas em que vivemos. Essas ages deixam pouco resultado regis~ » e se caracterizam por serem elas mesmas aquelas que permitem mento de valores nos seres humanos em processos cotidianos. Esses artefatos precisam, assim, ser também considerados quando nos “conversar” sobre velhos e novos artefatos curriculares. dias atuais, com o relativo barateamento e facilidade de “uso” wagem — cimeras fotogrifieas e cfime- co digitais (que nao exigem 0 processo caro da “revelagdo") — 0 ie acontecimentos escolares fica cada vez. mais frequente, per- tar uma hist6ria que antes “existia” somente em nossa me- com todos eles, Ksse 6 um ‘religionos penser = SUAS RELAGOES COM nves EMUIIO® BUTHOR * VELHOS ARTEFATOS CURR! + Sonne NOVOS E os cunaic as ¢ jovens, estdo “conectados” com seu tempo = @ ni? ferente. F poder fazer diferenga o modo como nbs, os mais elon quemos em “conexo” com eles. Proibir? Impossivel Mas com ele cromvensas” em tomo do “uso” diverso posstve, tanto em relagHozs/o contetidos, quanto aos espacostempos possiveis © necessirios. © sambista/poeta” j4 disse: “as coisas esto no mundo/ew me preciso aprender”. Os artefatos cusriculares estio ai ¢ pre “apropriados” como direito de toto! coe Noses joven oe inusitadas e criativas, esto tomando . irs eee quant a iss, para estarmos prximos Ales ¢ aprendermosensinarmos com eles ¢ a eles. Referéncias EAU, Michel de, A invenciio do cotidiano ~ artes de fazer. Petr6polis/R: oes, 1994. fidianos e suas mil- resquisas nos/dos/com os cotidianos e suas In: OLIVEIRA, Inés Barbosa de e ALVES, -colas ~ sobre redes de saberes. AVEIRA, Eleonora Barréto, As ps 1s possibilidades de apresentacio. Nila, Pesquisas nos/dos/eom os cotidianos das es Vetrdpolis/RI: DP ET Alii, 2008, p. 119-139. ho da Viola, euro

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