Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo:
Introdução:
-1-
quantidade suficiente na ocorrência de um novo potencial de acção. Deste modo, é garantida
uma libertação eficiente do neurotransmissor.
A percepção da possível existência de dois tipos de endocitose remonta aos anos 70,
altura em que se iniciaram os estudos sobre a renovação das vesículas nos terminais nervosos.
Desde aí tem-se vindo a tentar perceber as diferenças entre os dois modelos endocíticos: a
endocitose mediada por clatrina e a endocitose do tipo kiss and run. As diferenças entre
ambos estão relacionadas não só com o mecanismo envolvido, como também com o local de
acção – locais activos ou nas proximidades –, e ainda com o tipo de proteínas envolvidas em
cada um dos processos, requerendo a endocitose mediada por clatrina uma maior maquinaria
proteica do que a de tipo kiss and run (Morgan J. R. et al., 2002).
A fusão exocítica de vesículas envolve a formação de um poro de fusão, canal este que
atravessa ambas as membranas plasmática e vesicular, e possibilita a libertação do conteúdo
para o exterior da célula. Todo este processo, desde a formação e transporte das vesículas
sinápticas à sua fusão, pode ser dividido em cinco passos: trafficking; tethering; docking;
priming e fusion. A maquinaria molecular interveniente é, de igual modo, de extrema
importância, e inclui pequenas GTPases das subfamílias Ral, Rab e Rho, que regulam os
processos da formação, tráfego e fusão de vesículas; o complexo exocisto, que participa no
encaminhar das vesículas para as zonas específicas de fusão na membrana plasmática; e as
proteínas SNARE, fundamentais na fusão vesicular. É a interacção entre estes dois últimos
intervenientes, SNAREs e exocisto, que permite a fusão das membranas nos domínios alvo da
membrana plasmática da célula, durante o processo de exocitose.
Neste artigo fazemos uma abordagem geral acerca dos processos endocíticos e
exocíticos fundamentais nas sinapses, descrevendo as variedades de mecanismos existentes
ao explorarem-se as diferenças fisiológicas que levam à ocorrência de cada. A importância e
modo de regulação da maquinaria molecular é outro tópico essencial, destacando-se as
proteínas sinaptofisina e calmodulina no caso da endocitose, e as SNAREs e sinaptotagmina na
exocitose. O papel fundamental do cálcio na regulação destes mesmos processos e, ainda, os
vários passos em que se desenrolam são igualmente desenvolvidos. Em suma, tentámos que o
-2-
nosso trabalho fosse o mais útil possível para a compreensão do tema como um todo e que
abordasse uma grande variedade de assuntos dentro da Bioquímica.
Introdução histórica:
No final dos anos 70 e 80, a investigação por parte de ambos os grupos incidiu nos
tempos envolvidos no processo, tendo sido também realizada em paralelo alguma
investigação sobre o local de acção no neurónio. Nos anos 80, outros grupos começaram
também a desenvolver estudos nesta área, tendo sido nos anos 90 que houve uma maior
incidência em estudos sobre a importância relativa de cada tipo de endocitose e as condições
que os favorecem, os mediadores proteicos requeridos para cada um dos modelos e os passos
do processo endocítico em que estão envolvidos. (Morgan J. R. et al., 2002).
Com o avançar dos anos, sobretudo por volta da década de 90, foram surgindo novas
técnicas para a medição e controlo da concentração pré-sináptica de cálcio com o uso de
corantes fluorescentes e compostos fotossensíveis que se ligam ao Ca2+, bem como o
aparecimento de métodos para simular a difusão do mesmo no neurónio pré-sináptico. Foram
também desenvolvidas novas técnicas para monitorar a secreção, tais como medições da área
da membrana pré-sináptica através da sua capacitância e, ainda, da absorção e libertação com
corantes fluorescentes em vesículas endocitadas (Zucker R, 1996), bem como a aplicação da
engenharia genética e biologia de membranas a proteínas que participam não só na fusão de
vesículas sinápticas, como também em outros passos do tráfego das mesmas (targeting,
-3-
docking e priming). Modificações a cada um destes passos podem alterar a força das conexões
sinápticas e participar assim na plasticidade sináptica (Lin & Scheller, 2000).
Processos Endocíticos:
1- Comparação entre endocitose rápida (“Kiss and run”) e endocitose lenta (mediada por
clatrina):
Existem dois tipos de processos endocíticos com características distintas nas sinapses,
a endocitose mediada por clatrina e a endocitose rápida denominada por kiss and run.
Pelo tipo de endocitose kiss and run as vesículas apenas se fundem de modo
transiente e incompleto com a membrana plasmática, por meio de formação de um poro de
pequenas dimensões (Granseth B. et al., 2007), sendo posteriormente recuperadas quase
instantaneamente como estruturas intactas a partir da zona activa (Jung N. & Haucke V.,
2007).
Por outro lado, a endocitose mediada por clatrina, ocorre após fusão completa da
vesícula com a membrana, sendo um mecanismo bastante mais lento e que necessita da
presença de várias proteínas acessórias que se ligam à membrana antes de ocorrer a
endocitose (Zhu Y. et al., 2009). Ainda em contraste com a endocitose do tipo kiss and run, a
endocitose mediada por clatrina vai ocorrer não nas zonas activas, mas sim nas suas
proximidades (Brodin L. et al., 2000) (Morgan J. R et al., 2002).
Nestas zonas activas onde vesículas estão prontas para ser libertadas durante a
exocitose, também é observada a endocitose kiss and run, que acontece imediatamente após
a abertura do poro de fusão durante a exocitose, sendo recuperada a membrana da vesícula
sem a necessidade de recorrer a uma maquinaria mais complexa. Sendo então nas zonas
periactivas onde se concentra toda a maquinaria necessária para a endocitose mediada por
clatrina (Jarousse N. et al., 2001).
-4-
fases: recrutamento do revestimento de clatrina, maturação, fissão da vesícula e libertação do
revestimento.
Fig. 1 - Representação esquemática das várias fases da endocitose mediada por clatrina e respectivas imagens por
microscopia electrónica. (Slepnev & Camilli, 2000).
Os mecanismos inerentes à endocitose rápida kiss and run, ainda não são totalmente
compreendidos e foram menos estudados do que o outro tipo de endocitose.
Estudos recentes indicam que os dois tipos de endocitoses são regulados pela mesma
cascata de sinalização cálcio/calmodulina/calcineurina e apontam para uma necessidade da
dinamina para que qualquer endocitose possa ser realizada. Estas observações revelam que
são partilhados mecanismos semelhantes nas fases de iniciação e de fissão evidenciando
também que a endocitose rápida não necessita de uma maquinaria proteica tão complexa pois
as vesículas já não precisam de se libertar de um revestimento intrincado como as
provenientes de uma endocitose lenta (Sun T. et al., 2010).
-5-
Em diversos estudos, em que se utilizaram métodos de capacitância (Morgan J. R. et
al., 2002), sondas fluorescentes (Ryan T. A. et al., 1995) e técnicas de imagem óptica (Granseth
B. et al., 2007), foram obtidas escalas de tempos distintas para os processos endocíticos,
existindo resultados numa escala de tempo entre 1 e 5 segundos, enquanto noutros casos era
observada uma escala de tempo entre 30 a 60 segundos (Ryan T. A. et al., 1995). As diferenças
entre os valores obtidos foram interpretadas como pertencentes a dois mecanismos
endocíticos com cinéticas diferentes (Granseth B. et al., 2007).
O facto da endocitose kiss and run ser activada durante elevada estimulação é de
grande importância fisiológica, uma vez que, nestas condições, ocorre a fusão de um elevado
número de vesículas, o que pode levar à alteração da estrutura dos terminais nervosos. Deste
modo, é sugerido por alguns autores (Wu XS. & Wu LG., 2009) que a endocitose do tipo kiss
and run, activada durante uma estimulação rápida, é importante para manter a estrutura
normal dos terminais nervosos por recuperação das vesículas que se fundiram com a
membrana.
-6-
Fig. 2 - Visão geral dos passos envolvidos na endocitose mediada pela proteína clatrina com respectivas
proteínas intervenientes em cada passo. Os passos estão numerados segundo a ordem sequencial em que
ocorrem na mediação. Interacções proteína-proteína e proteína-lípido desempenham um papel fundamental na
nucleação do revestimento. (PIP2, Fosfatidilinasitol 4,5-bifosfato.) (Takei & Haucke, 2001)
-Sinaptofisina
Uma vez que os processos endocíticos durante e após estimulação são diferentes,
foram realizados estudos (Know E. & Chapman R., 2011) com o intuito de perceber se a
sinaptofisina regula ambos os processos do mesmo modo. Para isso, os autores focaram-se na
porção C-terminal, da sinaptofisina, que faz ligação à dinamina I (proteína que se pensa ser
responsável por mediar a fissão de vesículas durante a endocitose). Chegou-se à conclusão de
que esta região C-terminal é importante para a endocitose que ocorre durante mas não após a
transmissão sináptica. O que está de acordo com o facto de a sinaptofisina apenas recrutar a
dinamina I para a formação de vesículas na presença de concentrações de Ca2+ intracelular
relativamente elevadas (Daly C. et al., 2000). Estas observações indicam que diferentes
domínios da sinaptofisina estão envolvidos no controlo da endocitose, dependendo se esta
ocorre durante ou após estimulação.
-7-
Foram realizados estudos com o intuito de perceber a função do complexo
sinaptofisina/dinamina I na regulação dos processos endocíticos (Daly C. et al., 2000). Para
perceber a importância do complexo, os autores bloquearam a interacção das duas proteínas.
Após um minuto de estimulação contínua, observou-se uma forte diminuição da libertação de
sinal durante a ocorrência de potenciais de acção. Os autores concluíram que o impedimento
da interacção da sinaptofisina com a dinamina I resulta numa diminuição da disponibilidade de
vesículas para se dar a exocitose, durante períodos de elevada frequência de estimulação, o
que está de acordo com resultados de artigos posteriores (Know E. & Chapman R., 2011).
Porém, foi observado que bloqueando o complexo apenas a endocitose rápida, kiss
and run, diminuía. O que está de acordo, mais uma vez, com o facto de a sinaptofisina apenas
se ligar à dinamina I na presença de concentrações de cálcio relativamente elevadas.
Para além de se ligar com a dinamina I a sinaptofisina forma ainda um complexo com a
sinaptobrevina nos terminais nervosos. A interacção entre as duas proteínas ocorre na região
transmembranar da sinaptofisina, tendo sido observado que esta interacção ocorre nos
terminais nervosos em repouso e diminui com o aumento de cálcio intracelular, ao contrário
do que ocorre com a interacção com a dinamina I, sendo que a porção citosólica C-terminal
não é necessária para esta interacção.
- Calmodulina
A calmodulina (CALcium MODULated proteIN) é uma proteína que é sensível aos níveis
de cálcio. É composta por 2 domínios globulares ligados por uma hélice α muito flexível, cada
um dos domínios das extremidades é capaz de estabelecer ligações com 2 iões de cálcio, tendo
a capacidade de se ligar a 4 iões de Ca2+ no total.
-8-
Em modelos que se assemelham à capacidade de uma sinapse não perturbada, a
calmodulina é essencial para o recrutamento rápido de vesículas após um impulso, sem
influenciar a taxa de endocitose (Yao L. & Sakaba T., 2012).
Alguns autores (Wu XS. et al., 2009) sugerem que a calmodulina é o principal sensor de
2+
Ca na endocitose, sendo os resultados de L. Yao e T. Sakaba consistentes com esta hipótese.
Os resultados sugerem ainda que a presença de calmodulina aumenta a taxa de endocitose,
numa relação de dependência com a actividade, mas sem no entanto ser necessária a sua
presença para a ocorrência de endocitose. Dado que a endocitose não é completamente
bloqueada pela ausência de calmodulina têm de existir outros sensores, ainda por identificar,
que também estimulem este processo. Estes resultados coincidem também com a ideia de que
o complexo cálcio/calmodulina modela a capacidade endocítica, à semelhança do papel de
Ca2+ em culturas de neurónios do hipocampo (Balaji J. et al., 2008).
Processos Exocíticos:
-9-
sofrerem regulação a curto prazo. Um exemplo importante é o transporte de proteínas, tais
como receptores, que desempenham a sua função na membrana plasmática. Por outro lado, a
exocitose regulada geralmente requer o armazenamento de membranas percursoras em pools
intracelulares especializados, a partir dos quais são mobilizadas com a activação de cascatas de
sinalização. A composição destas membranas geralmente é diferente da relativa à membrana
plasmática. Este tipo de exocitose permite, ainda, uma entrega controlada de produtos de
secreção como proteínas ou neurotransmissores, ou então a incorporação regulada de
constituintes especializados da membrana plasmática, como transportadores e canais. A
exocitose regulada é, na maioria dos casos, accionada por segundos mensageiros em resposta
à activação dos receptores ou à despolarização da membrana, sendo o cálcio o mais comum
(Jahn R, 2004). As sinapses são um bom exemplo deste tipo de exocitose, com a secreção de
neurotransmissores aquando da fusão de vesículas secretoras com a membrana plasmática,
dependente de Ca2+.
Para além da classificação referida, pode-se ainda definir dois mecanismos diferentes
quanto à fusão de vesículas exocíticas na membrana plasmática. Desta forma, através do dito
mecanismo clássico apresenta-se a fusão completa ou de tudo ou nada onde, ao nível de
sinapses, uma vesícula funde-se com a membrana pré-sináptica e liberta o seu conteúdo para
a fenda. A membrana da vesícula é depois reciclada. Alternativamente, uma vesícula sináptica
pode formar um poro de fusão transiente na membrana pré-sináptica e libertar apenas parte
do seu conteúdo. Neste mecanismo de exocitose, designado por kiss and run, a vesícula é
depois reutilizada. Células com vesículas de maiores dimensões utilizam primariamente a
exocitose por fusão completa, e apenas ocasionalmente por kiss and run. Dentro deste último
processo há ainda que diferenciar modos de libertação do conteúdo das vesículas, tais como
eventos simples, onde uma pequena vesícula sináptica forma um poro de fusão na membrana
pré-sináptica e liberta o seu conteúdo na fenda, afastando-se de seguida da membrana, e
eventos mais complexos, que ocorrem quando o poro de fusão se intercala rapidamente entre
uma forma aberta e uma fechada, permitindo repetições da libertação parcial do conteúdo da
vesícula (Wightman & Haynes, 2004).
Fig. 3 - Representação dos dois mecanismos de fusão exocítica na membrana plasmática da célula: (a) fusão
completa, na qual a membrana da vesícula sináptica é reciclada após a libertação dos neurotransmissores, e kiss
and run, com secreção através de um poro de fusão transiente, dividindo-se este último em eventos simples (b)
e complexos (c). (Wightman, R.M. & Haynes, C.L., 2004).
- 10 -
A partir de estudos realizados por Bruns e Jahn (1995) observou-se que pequenas
respostas, presumivelmente originadas pela fusão de vesículas pequenas, se deveram à
libertação de cerca de 5 000 moléculas em 100 μs, o que sugere uma abertura rápida de um
poro de fusão. Quanto a respostas maiores, originadas estas possivelmente pela fusão de
vesículas grandes e densas, levaram à libertação de cerca de 80 000 moléculas por um poro
que, inicialmente, se abriu da mesma forma como o do caso anterior, mas agora com uma
dilatação progressiva. Não é ainda muito claro se, na maioria das situações, este poro volta a
fechar ou se se dilata de todo, resultando numa fusão completa (Zucker R, 1996).
A vantagem da exocitose por kiss and run assenta no facto de, e sabendo que o
processo de reciclagem de vesículas pelo compartimento endossomal é relativamente lento,
esta levar a uma maior longevidade de uma vesícula sináptica. No caso de neurónios do
mesencéfalo, o uso eficiente de vesículas é necessário devido a um número relativamente
pequeno de vesículas sinápticas ai presentes. Especificamente falando do processo de kiss and
run complexo, este pode apresentar-se como uma forma mais económica de exocitose, sendo
assim vantajoso no caso da existência de poucas vesículas carregadas (Wightman & Haynes,
2004).
2 – A via exocítica:
- 11 -
proteínas motoras facilitam este processo. Assim que as vesículas chegam às zonas activas
estabelecem a primeira interacção com a membrana plasmática à qual se irão fundir, para que
assim sejam dirigidas para essas zonas. Este é definido como o passo seguinte, no qual se
formam ligações com uma certa distância entre a vesícula e a superfície da membrana, tal
como se de pesca se tratasse. Estas interacções estão envolvidas na concentração de vesículas
sinápticas numa sinapse. O docking ocorre quando as vesículas, após a primeira interacção
com a membrana, são ancoradas a esta através de uma proteína ou complexo proteico. Os
processos de tethering e docking antecedem a formação do complexo SNARE, que se
encontrará descrito na secção 4. De seguida, a exocitose de vesículas sinápticas dá-se num
processo constituído por dois passos, um primeiro de priming que inclui todos os rearranjos
moleculares e modificações dependentes de ATP de proteínas e lípidos, seguido pela rápida
fusão de membranas desencadeada pelo influxo Ca2+ e libertação, quase instantaneamente,
dos neurotransmissores. É importante referir que, o processo de priming só ocorre na
exocitose regulada.
Fig. 4 - Vias de transporte nos terminais nervosos. As vesículas sinápticas preenchidas com neurotransmissores ficam
armazenadas no citoplasma até serem translocados para as zonas activas, onde atracam (docking). O priming envolve
todos os passos necessários para que o complexo exocítico fique pronto para libertar os neurotransmissores. Após
exocitose, as proteínas das vesículas encontram-se em clusters, sendo recuperadas por endocitose. Apesar de algumas
controvérsias, pensa-se que esta recuperação ocorre, geralmente, por endocitose mediada por clatrina. Após o
desencapsulamento da clatrina, as vesículas sinápticas são regeneradas dentro do terminal nervoso, passando
provavelmente por um intermediário endossomal. (Jahn et al., 2012)
- 12 -
outros factores que interagem com as proteínas SNARE têm sido estudados, como as
complexinas, VAP33 e as sinaptofisinas.
Fig. 5 - Estrutura do núcleo do complexo sináptico SNARE. O complexo é formado por quatro hélices α paralelas:
domínio H3 da sintaxina, domínio coiled-coil da VAMP, hélice aminoterminal da SNAP-25 e hélice carboxiterminal
da SNAP-25. (Lin et al., 2000)
- 13 -
membranas envolventes. Esta assemblagem é acompanhada por uma grande libertação de
energia, que é utilizada para dar início à fusão das membranas. Após fusão, o complexo
ternário SNARE assume a sua configuração de energia mais baixa e é dissociado pelo NSF,
juntamente com o seu cofactor SNAP. A sinaptobrevina é depois endocitada e reciclada, de
modo a que possa ser utilizada noutro ciclo exocítico.
3.3 Sinaptotagminas
- 14 -
Fig. 6 - Estrutura cristalina dos domínios C2A e C2B da syt1 humana [número de acesso no Protein Data Bank: 2R83].
- 15 -
directamente envolvida na exocitose regulada de neurotransmissores e hormonas (Li & Chin,
2003).
As diversas acções das Rab são mediadas pelos seus efectores, que normalmente
interagem com a conformação activa destas proteínas (ligadas ao GTP) A Rab3 têm, pelo
menos, cinco potenciais efectores, dos quais os mais importantes são a rabfilina e a RIM (Li &
Chin, 2003). A rabfilina é uma proteína associada às vesículas sinápticas, que participa nos
processos exo-endocíticos nas sinapses. No caso da RIM, esta proteína está localizada nas
zonas activas e liga-se especificamente à Rab na sua forma activa, de modo a prevenir a
hidrólise precoce. Esta multiplicidade nos efectores pode reflectir diferentes acções das Rabs
em compartimentos de membrana distintos, bem como apoia a, já referida, coordenação de
inúmeras etapas do tráfego vesicular por parte destas proteínas. Alguns estudos sugerem
ainda que as proteínas Rab são necessárias para a assemblagem das v-SNARES e das t-SNARES
e, consequente, formação do complexo SNARE (Morten Sogaard et al,1994).
- 16 -
O complexo exocisto, no caso da levedura, apresenta o componente Sec15p a interagir
directamente com a forma do Sec4p ligada a GTP, interacção esta que, juntamente com as
interacções proteína-proteína no complexo, controla o docking inicial das vesículas secretoras
às zonas de fusão (Li & Chin, 2003). Outros membros da família Rho de pequenos GTPases,
como o Rho1, Rho3 e Cdc42 interagem também com os componentes Sec3p e Exo70p do
exocisto, encontrando-se o primeiro associado à membrana plasmática.
Uma vez que não há um complexo semelhante ao exocisto que seja necessário para
outros passos do tráfego membranar na via secretora, é possível concluir que o exocisto não é
um elemento fundamental da maquinaria básica de fusão membranar, participando antes nos
passos especializados que levam à exocitose (Yun Kee et al, 1997).
As proteínas SNARE interagem com o complexo exocisto para facilitarem a fusão entre
as membranas plasmática e das vesículas.
- 17 -
que observaram uma diminuição da constante de tempo após elevada estimulação (Wu W. et
al., 2005).
O efeito da concentração de cálcio foi estudado, tanto para baixos níveis de actividade
sináptica, como para actividade elevada, tendo-se observado que, durante baixa actividade, o
efeito regulatório do cálcio funciona de um modo negativo, diminuindo a taxa de recuperação
das vesículas. O mesmo foi observado para elevada actividade, havendo uma diminuição
gradual dos níveis de endocitose conforme a concentração de cálcio intracelular aumenta no
terminal.
A nível exocítico e, sabendo que, em sinapses rápidas este processo requer elevada
concentração pré-sináptica de cálcio, foram feitas diversas experiências, nomeadamente em
neurónios bipolares da retina de peixe-dourado por Heidelberger et al., apercebendo-se estes
que essa concentração necessária teria que ultrapassar os 50 μM para que as velocidades de
secreção se igualassem às atingidas por despolarização (Heidelberger et al., 1994). Ao mesmo
tempo, na junção neuromuscular de lagostim, um aumento transiente na concentração pré-
sináptica de cálcio até cerca de 75 μM desencadeou uma neurosecreção de magnitude e
cinéticas semelhantes à libertação faseada que acompanha um potencial de acção (Landò &
Zucker, 1994). A partir destas experiências foi demonstrada uma dependência não linear da
velocidade de secreção no nível da concentração pré-sináptica de cálcio. Estes estudos
sugerem ainda que, pelo menos, quatro iões Ca2+ se devem ligar com cooperatividade e
afinidades positivas de 10-150 μM a um complexo alvo para desencadear uma secreção rápida
(Zucker R., 1996). Para além do modelo anterior, existem ainda outras possibilidades, como a
de Vogel et al. (1996), na qual a secreção é acelerada pela activação dependente de Ca2+ de
complexos de fusão vesicular, contidos nas vesículas.
- 18 -
de um tampão lentamente difusível, sendo atingidas concentrações de cerca de 150 μM em
zonas situadas entre conjuntos de canais de Ca2+, locais onde são ancoradas vesículas. Estas
mesmas conclusões foram igualmente obtidas por experiências em células cilíadas do sáculo
de rã, por medições da actividade dos canais de potássio activados por Ca2+ que se encontram
simultaneamente localizados com os canais pré-sinápticos de Ca2+ (Roberts, 1994). Um outro
tipo de experiência realizada foi a observação de domínios de Ca2+ em células cilíadas da
cóclea de tartaruga (Tucker e Fettiplace, 1995) e nas sinapses gigantes da lula (Llinás et al.,
1995). Por último, estudou-se também a secreção desencadeada pela entrada de Ca2+ por
misturas de canais activados por alta voltagem de tipo N e P/Q, com a acção de bloqueadores
específicos. Esta experiência levou à conclusão de que, a dependência não linear da secreção
induzida de cálcio no número de canais abertos pode ser desencadeada por microdomínios de
Ca2+ compostos por múltiplos canais em cluster.
A velocidade com que o cálcio desencadeia a libertação dos conteúdos das vesículas,
inferior a 400 μs, sugere que a ligação de Ca2+ ao respectivo sensor apenas induz a abertura do
poro de fusão, não dando início a uma cascata complexa de reacções. A probabilidade de
abertura do poro de fusão depende da tensão e composição das membranas envolvidas, e
portanto, qualquer alteração destes factores na membrana plasmática irá afectar a libertação
dos neurotransmissores (Südhof T, 2004).
- 19 -
por parte do Ca2+ permanecem desconhecidos. As proteínas pré-sinápticas SNARE, compostas
pela sinaptobrevina, pela sintaxina e pela SNAP-25, são essenciais na transmissão sináptica.
Estas formam um complexo cujo núcleo é formado por quatro hélices α, complexo este que
interage com os sensores de cálcio para promover a exocitose sináptica (Jahn et al., 2003).
Desta forma, a identificação dos sensores de cálcio é crucial para o desvendar dos mecanismos
que regulam a transmissão sináptica. A sinaptotagmina-1 é, actualmente, uma das proteínas
melhor caracterizadas que actua como principal sensor de Ca2+ (Martens et. al, 2007).
Mas afinal qual é o papel exacto do cálcio nas sinapses? Quando um potencial de
acção chega a um terminal pré-sináptico, despolariza a membrana o suficiente para que ocorra
a abertura dos canais de cálcio dependentes de voltagem. O gradiente de cálcio através da
membrana é tal que, quando os canais abrem, é produzida uma corrente de cálcio em direcção
ao interior da membrana, levando à entrada deste ião na célula. O cálcio é rapidamente ligado
pela sinaptotagmina pré-sináptica (George J. Augustine, 2001). A activação desta proteína dá,
então, origem à fusão das vesículas com a membrana pré-sináptica (Martens et. al, 2007) e à
consequente libertação de neurotransmissores. Esta libertação desencadeada pelo influxo de
Ca2+ é feita por canais de tipo P/Q ou N, enquanto que canais de Ca2+ de tipo R ou L raramente
se envolvem. Uma vez que o cálcio provoca a conversão de um sinal eléctrico (o potencial de
acção) num químico (a libertação de neurotransmissores), este pode ser considerado como o
“gatilho” para a transdução electroquímica (o termo significa, literalmente, a conversão de
energia eléctrica em informação química).
- 20 -
Conclusões:
A exocitose é controlada e regulada por toda uma maquinaria celular proteica, sendo
os seus componentes fundamentais as proteínas SNARE, o ATPase NSF, a sinaptotagmina, as
proteínas Rab, o complexo exocisto entre muitos outros factores, como complexinas, VAP33 e
as sinaptofisinas.
O processo de kiss and run, que se trata numa primeira fase de uma exocitose até ao
instante da fusão da vesícula (kiss) e que rapidamente se torna numa endocitose no momento
da fissão (run), processo activado durante uma estimulação rápida e/ou no caso da existência
de poucas vesículas carregadas, é importante para manter a estrutura funcional dos terminais
sinápticos recuperando vesículas que não se fundiram totalmente com a membrana.
Altamente regulado, apresenta-se como uma forma eficaz e mais económica de exocitose e
endocitose havendo vantagens como poupança de recursos tanto de maquinaria proteica
como de componentes vesiculares e também uma maior taxa de retorno de vesículas.
Foi possível concluir a existência de um papel regulador por parte do cálcio sobre os
processos endocíticos tendo-se verificado um efeito de retroacção negativa por parte do
mesmo uma vez que é observada uma diminuição da taxa de recuperação de vesículas com o
aumento dos níveis de cálcio intracelular.
Nos processos exocíticos observa-se uma dependência não linear entre estes e as
concentrações de cálcio. Observou-se ainda a existência de microdomínios onde se verifica um
aumento da concentração pré-sináptica de cálcio.
- 21 -
Referências:
Alés, E. et al., 1999. High calcium concentrations shift the mode of exocytosis to the kiss-and-
run mechanism. Nature cell biology, 1(1), pp.40–44.
An, S. & Zenisek, D., 2004. Regulation of exocytosis in neurons and neuroendocrine cells.
Current opinion in neurobiology, 14(5), pp.522–530.
Augustine, G.J., 2001. How does calcium trigger neurotransmitter release? Current opinion in
neurobiology, 11(3), pp.320–326.
Balaji, J., Armbruster, M. & Ryan, T.A., 2008. Calcium control of endocytic capacity at a CNS
synapse. The Journal of neuroscience: the official journal of the Society for Neuroscience,
28(26), pp.6742–6749.
Brodin, L., Löw, P. & Shupliakov, O., 2000. Sequential steps in clathrin-mediated synaptic
vesicle endocytosis. Current opinion in neurobiology, 10(3), pp.312–320.
Bruns, D. & Jahn, R, 1995. Real-time measurement of transmitter release from single synaptic
vesicles. Nature, 377(6544), pp.62–65.
Burgoyne, R.D. & Morgan, A., 2003. Secretory granule exocytosis. Physiological reviews, 83(2),
pp.581–632.
Fatt, P. & Katz, B., 1952. Spontaneous subthreshold activity at motor nerve endings. The
Journal of Physiology, 117(1), pp.109–128.
Gordon, S.L., Leube, R.E. & Cousin, M.A., 2011. Synaptophysin is required for synaptobrevin
retrieval during synaptic vesicle endocytosis. The Journal of neuroscience: the official journal
of the Society for Neuroscience, 31(39), pp.14032–14036.
Jahn, Reinhard, 2004. Principles of exocytosis and membrane fusion. Annals of the New York
Academy of Sciences, 1014, pp.170–178.
Jahn, R. & Fasshauer, D., 2012. Molecular machines governing exocytosis of synaptic vesicles.
Nature, 490(7419), pp.201–207.
- 22 -
Jarousse, N. & Kelly, R.B., 2001. Endocytotic mechanisms in synapses. Current opinion in cell
biology, 13(4), pp.461–469.
Kee, Y. et al., 1997. Subunit structure of the mammalian exocyst complex. Proceedings of the
National Academy of Sciences of the United States of America, 94(26), pp.14438–14443.
Kwon, S.E. & Chapman, E.R., 2011. Synaptophysin regulates the kinetics of synaptic vesicle
endocytosis in central neurons. Neuron, 70(5), pp.847–854.
Landò, L. & Zucker, R.S., 1994. Ca2+ cooperativity in neurosecretion measured using photolabile
Ca2+ chelators. Journal of neurophysiology, 72(2), pp.825–830.
Leitz, J. & Kavalali, E.T., 2011. Ca2+ influx slows single synaptic vesicle endocytosis. The Journal
of neuroscience: the official journal of the Society for Neuroscience, 31(45), pp.16318–16326.
Li, L. & Chin, L.-S., 2003. The molecular machinery of synaptic vesicle exocytosis. Cellular and
molecular life sciences: CMLS, 60(5), pp.942–960.
Lin, R.C. & Scheller, R.H., 2000. Mechanisms of synaptic vesicle exocytosis. Annual review of
cell and developmental biology, 16, pp.19–49.
Llinás, R., Sugimori, M. & Silver, R.B., 1995. The concept of calcium concentration
microdomains in synaptic transmission. Neuropharmacology, 34(11), pp.1443–1451.
Martens, S., Kozlov, M.M. & McMahon, H.T., 2007. How synaptotagmin promotes membrane
fusion. Science (New York, N.Y.), 316(5828), pp.1205–1208.
Meinrenken, C.J., Borst, J.G.G. & Sakmann, B., 2002. Calcium secretion coupling at calyx of held
governed by nonuniform channel-vesicle topography. The Journal of neuroscience: the official
journal of the Society for Neuroscience, 22(5), pp.1648–1667.
Morgan, J.R., Augustine, G.J. & Lafer, E.M., 2002. Synaptic vesicle endocytosis: the races,
places, and molecular faces. Neuromolecular medicine, 2(2), pp.101–114.
Pumplin, D.W., Reese, T.S. & Llinás, R., 1981. Are the presynaptic membrane particles the
calcium channels? Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of
America, 78(11), pp.7210–7213.
Roberts, W.M., 1994. Localization of calcium signals by a mobile calcium buffer in frog saccular
hair cells. The Journal of neuroscience: the official journal of the Society for Neuroscience, 14(5
Pt 2), pp.3246–3262.
Rosa, P. & Fratangeli, A., 2010. Cholesterol and synaptic vesicle exocytosis. Communicative &
integrative biology, 3(4), pp.352–353.
- 23 -
Ryan, T.A., Smith, S.J. & Reuter, H., 1996. The timing of synaptic vesicle endocytosis.
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 93(11),
pp.5567–5571.
Slepnev, V. I. & Camilli, P., 2000. Acessory factors in clathrin-dependent synaptic vesicle
endocytosis. Nature Reviews Neuroscience,1, pp. 161-172
Sun, T. et al., 2010. The role of calcium/calmodulin-activated calcineurin in rapid and slow
endocytosis at central synapses. The Journal of neuroscience: the official journal of the Society
for Neuroscience, 30(35), pp.11838–11847.
Südhof, T.C. & Rizo, J., 2011. Synaptic vesicle exocytosis. Cold Spring Harbor perspectives in
biology, 3(12).
Takei, K. & Haucke, V, 2001. Clathrin-mediated endocytosis: membrane factors pull the trigger.
Trends in cell biology, 11(9), pp.385–391.
Vogel, S.S., Blank, P.S. & Zimmerberg, J., 1996. Poisson-distributed active fusion complexes
underlie the control of the rate and extent of exocytosis by calcium. The Journal of cell biology,
134(2), pp.329–338.
Weimer, R.M. & Jorgensen, E.M., 2003. Controversies in synaptic vesicle exocytosis. Journal of
cell science, 116(Pt 18), pp.3661–3666.
Wightman, R.M. & Haynes, C.L., 2004. Synaptic vesicles really do kiss and run. Nature
neuroscience, 7(4), pp.321–322.
Wu, L.-G., 2004. Kinetic regulation of vesicle endocytosis at synapses. Trends in neurosciences,
27(9), pp.548–554.
Wu, X.-S. et al., 2009. Ca2+ and calmodulin initiate all forms of endocytosis during
depolarization at a nerve terminal. Nature neuroscience, 12(8), pp.1003–1010.
Wu, X.-S. & Wu, L.-G., 2009. Rapid endocytosis does not recycle vesicles within the readily
releasable pool. The Journal of neuroscience: the official journal of the Society for
Neuroscience, 29(35), pp.11038–11042.
- 24 -
Zhu, Y., Xu, Jian & Heinemann, S.F., 2009a. Synaptic vesicle exocytosis-endocytosis at central
synapses: Fine-tuning at differential patterns of neuronal activity. Communicative &
integrative biology, 2(5), pp.418–419.
Zhu, Y., Xu, Jian & Heinemann, S.F., 2009b. Two pathways of synaptic vesicle retrieval revealed
by single-vesicle imaging. Neuron, 61(3), pp.397–411.
Zucker, R.S., 1996. Exocytosis: a molecular and physiological perspective. Neuron, 17(6),
pp.1049–1055.
- 25 -