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ANTROPOLOGIA - Diferengas de género Dentre os quarenta ¢ seis cromossomos do mapa genético humano, apenas um diferencia biologicamente as mulheres dos homens. Entretanto, esse detalhe microse6pico foi o suficiente para dividir quase toda humanidade em dois grupos que se interpenetram sem nunca perderem sua distingio basica. Muitos irdo concordar que homens e mulheres so diferentes do ponto de vista de seus corpos, de sua constituigdo psicolégica e do papel que ocupam na sociedade. Porém, na contramio da diferenga, a Antropologia teceu ao longo do século passado uma tradigdo que desmonta muitas de nossas percepgdes mais fundamentais sobre os sexos. Um cromossomo € formado de diversos genes, de forma que o que separa homens de mulheres é a combinagdo de alguns bocados dessas partes miniisculas. Ainda assim, para a Biologia, esses detalhes so responséveis pela constituigao de corpos diferenciados, compostos de uma maioria de érgdos em comum ¢ de outros que seriam exclusives a cada um dos sexos. Além da caracterizagao genética e anatémica, ha também uma diferenciagio hormonal ~ as mesmas substéncias, mas em quantidades diferentes nos homens e nas mulheres. Se a Biologia propée uma diferenga fisica, a interpretagdo do senso comum se apéia em uma diferenga de comportamento e de papéis. Acima de tudo, mulheres sto possiveis mies — apés serem fecundadas, nutrem, carregam e dio a luz a um novo individuo, que deveré receber atengo por boa parte de sua vida. A poesia e a literatura descrevem com adoragaio e reserva esses seres fantisticos que transitam entre a sensualidade e a matemidade. Ja os homens também tiveram historicamente seu papel: fecundar e prover o sustento para a mulher e para seus descendentes. E verdade que as fungdes para os dois sexos mudaram ao longo da histéria. Atualmente, prineipalmente na sociedade ocidental, boa parte das mulheres integra o mercado de trabalho, e muitos dos homens realizam fungdes domésticas e participam da criagao dos filhos. Ainda assim, algumas expectativas parecem ‘manter-se fixas. Mulheres que abrem mio da maternidade ainda séo vistas com certo estranhamento. Da mesma forma, um homem sustentado por sua companheira dificilmente nao causaré algum constrangimento. NEGANDO OS PAPEIS SOCIAIS - Em um primeiro momento, negar a de que homens e mulheres sio essencialmente diferentes parece algo absurdo, justamente por essa idéia ter extrema accitagio pela ciéncia e pelo senso comum. Entretanto, a abordagem antropolégica sugere uma nova interpretagio a partir de trabalhos que estudaram a fundo outras sociedades (especialmente as ditas sociedades primitivas) e as variadas maneiras como essas culturas enxergaram a realidade. Pierre Clastres*, no capitulo “O Arco ¢ 0 Cesto” de seu célebre livro A Sociedade contra o Estado apresenta a interessante cultura dos Guaiaquis. Nessa sociedade, assim como na nossa, as tarefas eram divididas entre homens ¢ mulheres. Os primeiros se responsabilizavam pela caga, ¢ as segundas, pela coleta € pelos constantes deslocamentos dos objetos pelo territério, uma vez que se tratava de uma sociedade némade. Sem adentrar profundamente em toda a rica andlise que Clastres faz sobre as interdigdes ligadas aos sexos e as familias, os Guaiaquis so importante para nosso tema porque trazem um exemplo de sociedade em que impera a poliandria, ou seja, a unio da mulher com mais de um marido. Conforme sugere o autor, as mulheres Guaiaquis possuiam ima vantagem estrutural em relago aos homens: mesmo casadas, podiam ter relacionamentos com mogos solteiros e transformé-los em maridos secundarios se assim desejassem. Isso nfo significava que os maridos principais ficavam felizes, porém, esses nao tinham muita escolha: se abandonassem suas esposas seriam condenados ao celibato, pois a tribo carecia de mulheres disponiveis. Jé as esposas Jogo encontrariam outro marido, pois havia 0 dobro de homens em relagdo as mulheres. Muito interessante na anélise do autor é a idéia de que a desproporgao numérica entre os sexos poderia ter sido solucionada por outros meios sendo a poliandria, Seria possivel que certos parentes considerados proibidos para o casamento passassem a ser permitidos. Também seria imaginavel que houvesse uum incentivo social ao celibato masculino ou que se admitisse o assassinato de recém-nascidos homens. De qualquer maneira, 0 modelo matrimonial verificado nessa tribo evidencia que dentre as infinitas possibilidades das culturas que ja passaram pelo globo terrestre, os Guaiaquis so uma mostra de que 0 arranjo tecido pela nossa propria sociedade ao que diz respeito as relagdes entre homens ¢ mulheres esté longe de ser o tinico possivel De forma ainda mais sugestiva para essa idéia, Margaret Mead*, em seu livro eldssico Sexo ¢ Temperamento, questiona as nogdes mais comuns dos papéis sexuais ao apresentar trés sociedades na Nova Guiné, A autora toma como base 0 que considerou ser os padres norte americanos: o comportamento feminino seria caracterizado por ser “décil, maternal, cooperativo, no agressivo € suscetivel &s necessidades e exigéncias alheias”, e 0 comportamento masculino seria rclativamente oposto a essa caracterizagio. Tomando esses padrécs como referencia, percebemos que cada uma das trés tribos apresenta comportamentos diferentes para homens ¢ mulheres. Dentre os Arapesh, por exemplo, tanto os homens como as mulheres exibiam uma personalidade que seria considerada feminina na sociedade norte-americana. J4 os integrantes da tribo Mundugumor cram homens e mulheres “implaciveis, agressivos e positivamente sexuados, com um minimo de aspectos carinhosos © maternais em sua personalidade”, apresentando um tipo de comportamento que, segundo Mead, s6 seria encontrado em um homem norte-americano “indisciplinado ¢ extremamente violento”. Tehambulli é a terceira tribo apresentada pela autora e se caracteriza por uma diferenciago entre os sexos € uma clara inversio das expectativas de temperamento de nossa sociedade: a mulher é “o parceiro dirigente, dominador e impessoal, e 0 homem a pessoa menos responsavel e emocionalmente dependente”. Assim, a antropéloga chama nossa atengdo para duas coisas. Primeiro para © fato de que ¢ possivel encontrar invertidos o¢ comportamentos que nds estamos habituados para os sexos na nossa sociedade, Além disso, mostra a possibilidade de que as culturas nao reconhegam uma diferenga de temperamentos entre homens mulheres. A partir dessa andlise, ela conelui que “no nos resta mais a menor base para considerar tais aspectos de comportamento como ligados ao sexo”, uma vez que “a natureza humana é quase incrivelmente maledvel, respondendo acurada ¢ diferentemente a condigdes culturais contrastantes”. Isso seria possivel porque as criangas das diferentes tribos seriam passiveis ao ensinamento do comportamento corrente em sua sociedade, seja ele “feminino” ou “masculino” (do ponto de vista da sociedade ocidental) ¢ esteja ele sujeito ou néo a uma distingdo entre homens e mulheres. Nesse sentido, o argumento é interessante no que diz respeito a diferenga entre homens e mulheres: muitas das caracteristicas corporais que distinguem os sexos seriam constituidas a partir de um treino social do corpo. A delicadeza feminina; a postura imponente dos homens; o jeito discreto de sentar das mulheres recatadas; o largar-se confortavelmente no sofa, tipicamente masculino; ou entdo a ‘maneira sensual feminina de andar movimentando os quadris so todos exemplos das chamadas técnicas do corpo propostas pelo autor. © CONCEITO DE GENERO - Mead, Mauss ¢ Clastres, dentre outros autores, incutiram na tradigdo antropolégica a idéia de que os papéis destinados a homens ¢ mulheres néo so explicados por uma diferenga essencial inserita na natureza de seus corpos. Ainda que sejam biologicamente diferentes, as peculiaridades anatémicas no explicariam as imimeras outras diferenciagdes sociais entre os sexos: sejam elas de hierarquia, de status, de poder, de posi¢ao na divisio do trabalho, de personalidade, de comportamento e nem mesmo de seus trejeitos corporais. Assim, se por um lado essa interpretago nfo nega radicalmente a perspectiva da diferenga anatomica, afirma que a Biologia nada explica no que diz respeito & vida social. O argumento principal ¢ que a natureza dos corpos interpretada pela cultura que, por sua vez, origina inimeros significados que transcendem as diferencas corporais. A partir dessa rejeigio explicago biolégica para as diferencas sociais, a Antropologia eriou 0 conceito de género. “O foco da Teoria de Género é desconstruir a idéia de que existe uma diferenga natural entre homens e mulheres que explique 0 que acontece nas sociedades”, define Heloisa Buarque de Almeida, antropéloga especialista no tema e professora da Universidade de Sao Paulo. “Por muito tempo se dizia que as mulheres tinham menos poder ou que estavam restritas esfera doméstica por causa da reprodugio e da matemnidade, ou seja, devido a elementos associados ao proprio corpo feminino. A Teoria de Género tenta mostrar que nem todas as sociedades tratam as mulheres dessa maneira”, completa. ‘A professora explica que a origem do conceito de género estaria inicialmente associada as ciéncias médicas. “Género aparece na medicina nos anos 1950, no caso dos chamados distirbios de género, como criangas que nasciam intersexuadas, ou seja, que tinham a genitalia que hoje chamamos de ambigua, ou entdo pessoas que nasciam de um sexo e se diziam seres de outro sexo. Era usado quando a identidade do corpo da pessoa nao combinava com aquilo que ela sentia sobre si” ‘Na Antropologia, apesar da impossibilidade de se tragar uma genealogia exata, 0s estudos atuais colocariam a antropéloga norte-americana Gayle Rubin como uma das precursoras do uso do conceito, “O foco de Rubin era mostrar que a relagdo entre os géneros ndo deriva da natureza, pois é histérica, decorre de um arranjo social e tem um momento de fundag4o. Apesar disso, acaba aparecendo ideologicamente como naturalizada”, explica Heloisa. DEBATE COM A BIOLOGIA - Se parte dos estudos antropolégicos afirmam que a explicagao para a diferenga social entre homens ¢ mulheres s6 pode ser compreendida a partir do universo social que os permeia — sem, entretanto, negar que existam diferengas biolégicas e anatémicas reais entre os sexos — outra arte radicaliza o argumento e nega a propria Biologia, Nesse sentido, diversos estudos realizados nas Ilhas Trobriands Tepresentaram uma primeira aproximago, quase intuitiva, as teorias que desconstroem radicalmente a ciéneia. Considerado um dos principais fundadores da Antropologia, Bronislaw Malinowski intrigou-se no comego do século passado com a exética interpretago que os trobriandeses faziam da gravidez ¢ do intercurso sexual. Para essa tribo, 0 homem através da relagao sexual que mantinha com a mulher nfo era responsével pela gerag4o de criangas. A implementagao do bebé no corpo matemo seria realizada a partir de espiritos oriundos exelusivamente do lado da mae, de forma que a fungao do pal era a de “abrir o caminho”, ficando excluido da ascendéncia sobre 0 novo ser. Além disso, os homens trobriandeses eram considerados responsdveis pelo crescimento e pela fisionomia das criangas, que seria formada a partir das relag6es sexuais que mantivessem com as mulheres gravidas. Essa interessante interpretagdo sobre a reprodugao humana abre caminho ara pensarmos que a partir dos mesmos fatos (intercurso sexual, gestagio nascimento) iniimeras explicagdes e relagdes entre causa e efeito podem ser desenvolvidas pelas culturas. Assim, a compreensév du nasvimento como decorrente da gestagdo, ¢ esta iiltima como consequéncia do encontro entre os gametas femininos ¢ masculinos durante o intercurso sexual, nfo é uma decorréncia inevitavel do pensamento humano, mas sim uma particularidade do pensamento ocidental. Por volta de meio século depois das investigagées de Malinowski, Michel Foucault promoveu uma das principais criticas no sentido da desconstruao da ciéncia. O autor levou a jé exposta idéia de Marcel Mauss (de que as técnicas do corpo seriam constituidas de um treino social) ao extremy. Afri que ndo apenas os movimentos corporais so construidos socialmente ¢ incutidos nos individuos, ‘como também o proprio corpo é construfdo politicamente. Para ele, absolutamente nada existe anteriormente ou externamente a0 discurso humano. Toda a suposta realidade concreta s6 seria concebida pelos individuos a partir do “saber”, sendo que esse saber é entendido pelo autor como uma relagio de poder que designa, nomeia e confere sentido a todas as coisas. Sua idéia central é a de que nao existe uma “natureza natural”, ou seja, uma realidade anterior ao saberes € aos discursos humanos. Um bom exemplo nesse sentido € pensarmos que o cfncer é uma enfermidade que tem uma presenga relativamente recente no léxico da medicina. Antigamente, as pessoas que hoje dizemos que morreram em sua decorréncia, morriam porque estavam velhas ou simplesmente sem que se soubesse o por que. Apenas a partir do reconhecimento da existéncia dessa doenga pela comunidade cientifica é que 0 céncer passou a existir no linguajar e no pensamento das pessoas. Da mesma maneira, os sintomas que hoje interpretamos como doenga de Alzheimer ou como outras deméncias degenerativas eram simplesmente sinais de velhice, sem possuirem um sentido particular. © essencial que os dois exemplos pretendem sugerir é de que apenas quando ha um reconhecimento na sociedade de que certo elemento tenha um determinado sentido, que isso passa a estruturar a vida social ¢ fazer parte da interpretagdéo comum. Além disso, 0 reconhecimento dos sentidos das coisas (¢ também o reconhecimento da existéncia das proprias coisas) se realiza por meio de uma relagdo de poder. Assim, o saber ou 0 conhecimento, para Foucault, € sempre permeado por uma forga porque designa positivamente o sentido das coisas. ‘Até esse ponto, deve ser coerente dizer que a teoria do autor implica em uma profunda critica ao sentido da ciéncia, uma vez que nega seu aspecto de saber absoluto, neutro e apolitico, enfatizando a questio do poder que envolve diretamente todo o conhecimento que existe, Para essa concep, ciéncia no é uum aparato de técnicas imparciais, que descobre a realidade extema, imutavel e objetiva. Muito pelo contrario, o argumento de Foucault sugere que a realidade que nos aparece como objetiva é, na verdade, construida por um saber inundado de poder. Nesse mesmo sentido, a medicina seria um saber institucionalizado que implica em um controle dos corpos dos individuos na mesma medida em que impoe © sentido desses corpos. Assim, podemos comegar a pensar na natureza supostamente diferente dos corpos femininos e masculinos como uma idéia Jonge de ser natural. Para ilustrar a concepeio foucaultiana de ciéncia, Heloisa Buarque de Almeida explica como ao longo da histéria da medicina diversos aspectos do corpo humano foram responsabilizados por determinados comportamentos. “No final do século XVIII, como mostra a autora Magali Engel, 0 comportamento feminino ¢ imputado aos ovérios. Quando a mulher € vista como tendo alguma perturbago. mental, como louca ou como promiscua, 0 protocolo é tirar os varios, mesmo que aparentemente estivessem saudaveis”. Depois, conforme completa a antropéloga, o titero surgiria como 0 maior culpado pelos problemas emocionais, e a forma de tratamento mais comum para 9 chamados desvios mentais se tomnaria a extirpagio desse érgio. “Jé por volta dos anos 1940-1950, ganha proeminéncia a idéia dos horménios. Aparece na medicina que 0 comportamento chamado masculino é gerado pela testosterona, que passa a explicar a virilidade, tanto do ponto de vista da poténcia sexual, quanto de um comportamento agressivo e dominador dos homens. Essa vistio também explica 0 comportamento mais afetivo e carinhoso das mulheres como sendo algo gerado pelos horménios”, desenvolve. Hoje em dia, nem mais os horménios ¢ to pouco os érgiios reprodutivos: a forga explicativa da ciéncia estaria na idéia dos genes, que passa a ser a causa maior da diferenga sexual. “Os médicos indicam aspectos biolégicos como determinantes do comportamento, mas esse lugar da natureza parece estar sempre mudando”, finaliza a antropéloga. Na mesma trilha de Foucault, Thomas Lacqueur dé forma ao argumento do filésofo. Em seu livro Inventando 0 Sexo, 0 autor, a partir de um levantamento de manuais de medicina e de outros escritos do campo afirma que até meados do século XVIII havia uma concepedo de sexo iinico, “no qual homens e mulheres cram classificados conforme seu grau de perfeigao metafisica, seu calor vital ao longo de um eixo cuja causa final era masculina.” ‘Assim, segundo esse modelo que imperou até ndo muito tempo atrés, homens e mulheres nao eram considerados fisicamente diferentes. Sua diferenga era apenas em gran (hamens tinham maior calor vital e maior perfeigdo). Essa concepgao se manifestava nos manuais de medicina de tal maneira que nao era descrita nenhuma forma de distingfio anatémica entre 0s sexos. A convergéncia também se exprimia no fato de haver uma mesma nomenclatura para os érgos que hoje so considerados especificos de cada um dos sexos. Lacquer afirma que “durante milhares de anos acreditou-se que as mulheres tinham a mesma genitélia que os homens”, com a diferenga de que a genitélia feminina ficava dentro do corpo, enquanto que a masculina era extema. Os lébios vaginais eram considerados equivalentes ao prepticio masculino, o iitero era a mesma coisa que © escroto e os ovarios seriam uma transposigao dos _testiculos. Impressiona na descrigo de Lacqueur que essa maneira de conceber 0s corpos como iguais prevaleceu A pritica da dissecagao, evidenciando que no se tratava de um conhecimento baseado na impossibilidade de ser enxergar os érgos, mas sim em uma forma de olhar de interpretar 0 corpo diferente da que impera atualmente, ‘Também bastante revelador desse modelo de sexo tinico é a idéia de que sendo a diferenga entre homens ¢ mulheres apenas de grau e nao de natureza, poderia haver uma mudanga de sexo: “as meninas podiam tomnar-se meninos, e os homens que se associavam intensamente com mulheres podiam perder a rigidez e definigao de seus corpos perfeitos, e regredir para a efeminago”. Lacqueur apresenta um relato médico do século XVI que atesta para a possibilidade de se transitar entre os sexos: uma pessoa identificada até ento inquestionavelmente como menina passa a apresentar um “pénis ¢ um escroto extemno”. caso que seria explicado hoje como um exemplo de intersexo (ou seja, de um individuo que possui o aparelho reprodutor ambiguo e que pode desenvolver novos érgios na adolescéncia) foi considerado, naquela época, como a prova da possibilidade de mudanga sexual. Diferente do que normalmente pensamos, no é a simples visio dos corpos que condiciona a teorizago que se faré sobre eles posteriormente; é 0 modelo corrente na sociedade que determinaré a imagem que nossos olhos fardo do que esté em nossa frente, No dia 13 de dezembro de 2010, faleceu a socidloga, professora e pesquisadora Heleieth Iara Bongiovani Saffioti, reconhecida internacionalmente por seus estudos sobre as questdes de género e direito das mulheres. rofessora da Unesp ¢ da PUC -SP, Heleiteh Saffioti publican o livre Género, Patriarcado e Violéncia (Fundagao Perseu Abramo, 2004) . MUDANCAS NOS PADROES DE BELEZA Depende do que vocé considera estranho. Se, no Ocidente, estamos acostumados a ver pessoas loiras ¢ magras nas revistas, em outras partes do mundo a beleza pode ter a ver com peso, tatuagens e acessérios. "Os referenciais de beleza estio ligados & visto de mundo de cada cultura. Como as sociedades so diferentes umas das outras, eles também so", explica a antropéloga Mirela Berger, pés-doutoranda ¢ professora colaboradora da Unicamp. Mas vale lembrar: como a cultura é dindmica, nada é para sempre. Gostos e habitos mudam. "Na sociedade ocidental moderna, por exemplo, a facilidade de comunicagdo entre os ovos favorece a aculturagao, que € quando um povo absorve um modelo cultural de outro", diz a socidloga Flavia Mestriner Botelho, mestranda em ciéneias da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da USP. DESFILE (FORA) DE MODA / Vocé pode torcer o nariz, mas em outros lugares elas fazem sucesso! DIETA... DE ENGORDA/ ONDE Mauritinia - PADRAO: Obesidade Neste pais da Africa Ocidental, quilinhos a mais sao sinal de status para a mulherada: indicam que elas nfo tém de trabalhar, porque 0 marido é rico. Para se adequar, algumas meninas sfio mandadas aos 5 anos a campos de engorda, onde consomem 16 mil calorias por dia! O menu inelui dois copos de manteiga e 20 litros de leite de camelo! >> Ha também uma explicagao "sentimental": quanto maior a mulher, mais espago ocuparia no coragio do amado. ritual ocorre quando ela completa 15 anos. No Brasil, algo semelhante € usado pelos indios caiapés. GUERRA DOS SEXOS/ ONDE Etiépia - PADRAO: Cicatrizes Mesmo quando homens também precisam aderir a modificagdes estéticas, os motivos s&o diferentes. Na tribo karo, eles fazem cicatrizes no peito para representar rivais mortos em batalhas. Jé as mulheres passam pelo mesmo dolorido processo, no peito ¢ na bartiga, s6 para arranjar um marido - que, alids, pode ter quantas esposas quiser. A FLOR DA PELE/ ONDE Nova Zelandia - PADRAO: Tatuagens no Os descendentes dos maoris se adomam com tatuagens tribais chamadas moko, Homens as usam no rustu, © ovulheres tém detalhes azuis nos labios e no queixo, Se antigamente esse tipo de enfeite tinha a ver com status (0 processo era to dolorido que podia levar @ morte), hoje representa uma espécie de ressurgimento da cultura tipica. >> Nas Ihas Marquesas, no Pacifico, tatuagens na mio direita e no pé esquerdo costumavam indicar que a mulher era casada. MUDANGAS NO ESPELHO - Conforme a cultura muda, padrées estéticos também se alteram. Pré-Histéria: Seios grandes e ancas largas indicavam capacidade de gerar bons filhos Renascimento: Depois da peste negra detonar parte da Europa, ser gorda era sinal de satide. O quadro de Monalisa comegou a ser pintado pelo grande Leonardo da Vinci no ano de 1503 e foi ficar pronto somente depois de quatro anos ... SINDROME DE GIRAFA / ONDE Mianmar - PADRAO: Longos pescogos Neste pais asidtico, as mulheres da tribo dos karenis so famosas por alongar pescogo com anéis de metal - eles forgam 0 ombro para baixo € dio a iluso de que o pescogo é mais comprido. O ritual, que € gradativo ¢ comega aos 5 anos, esté caindo em desuso: sem as argolas, os misculos no conseguem mais suportar a cabega >> Boa parte das "pescogudas" de hoje vive ilegalmente em ‘campos de refugiados na Tailéndia, onde atua como "atragao turistica" NAPA A MOSTRA/ ONDE Iré - PADRAO Nariz ocidental Responda rapido: qual lugar onde mais se faz plastica no nariz? Errou quem disse Los Angeles ou alguma cidade brasileira. A camped é Teerd, no Ira. O nariz é estratégico para as mulheres de Ia porque é uma das poucas partes que seus trajes e véus néo escondem. A busca por um look ocidentalizado também faz muito machdo iraniano passar pelo bisturi. >> A febre por um visual ocidental também se alastrou pela Coreia do Sul, onde cirurgias criam olhos mais redondos e com a dobra da palpebra. EFEITO MICHAEL JACKSON/ ONDE Paquistio, Tailandia, Coréia do Sul, Hong Kong, Malésia e india - PADRAO: Pele esbranqui¢ada. Enquanto no Brasil bonito é ser bronzeado, nesses paises a galera foge do sol. Como a maioria tem pele escura, a moda ¢ (tentar) ser branco, com o uso de cosmeéticos alvejantes. Quem nao tem grana apela até para produtos piratas, que podem causar danos irreversiveis. DE MAE PARA FILHA/ ONDE Etiépia - PADRAO: Deformagio labial Nada de pulseiras, brincos ou anéis. Na tribo mursi, as mais "gatas" so as que usam enormes discos de madeira ou porcelana no lébio inferior. O enfeite s6 cabe depois que a mae ou a avé da menina faz um corte na regio - geralmente, 0 Século 17: Espartilhos diminuiam a cintura e ressaltavam que mulheres eram seres frageis. Anos 20: A emancipago feminina prega um look menos sensual: faixas achatam cinturas, seios ou quadris, para deixé-los na mesma proporgao. Anos 40: Mais duronas apés a 2* Guerra Mundial, as mulheres passam a desejar ombros largos. No fim da década, Marilyn Monroe reverte a tendéncia. Anos 60: A onda hippie e a busca pela juventude levam a corpos com poUcos seios ou curvas. Anos 80: Culto a0 corpo saradago inclusive para clas, que queriam parecer mais fortes. Anos 90: O maior objeto de desejo feminino so os seios fartos - ¢ siliconados!

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