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Mecade

ARTIGO TP revisão
et al.

Desenvolvimento da inteligência em
pré-escolares: implicações para
a aprendizagem
Tatiana Pontrelli Mecca; Daniela Aguilera Moura Antonio; Elizeu Coutinho de Macedo

RESUMO – As habilidades cognitivas desenvolvidas na fase pré-escolar


são fundamentais para aquisição de conhecimentos nas fases seguintes.
A avaliação cognitiva nessa fase possibilita verificar possíveis atrasos no
desenvolvimento e estabelecer diferentes perfis de competências em relação
às diversas funções cognitivas. O objetivo do presente trabalho é apresentar
uma revisão dos principais aspectos relacionados, especificidades e desafios
da avaliação cognitiva em pré-escolares, bem como identificar como esta
pode auxiliar no estabelecimento de intervenções precoces e eficazes. O
foco do estudo é o construto inteligência que está diretamente relacionada
com a capacidade de pensar e de resolver problemas. Estudos indicam que a
inteligência é influenciada tanto por aspectos genéticos quanto ambientais,
e possui relação consistente com a aprendizagem. Sendo assim, é de suma
importância compreender como se apresenta o funcionamento intelectual
nos pré-escolares, bem como avaliá-lo adequadamente, auxiliando no
planejamento de estratégias de intervenções psicopedagógicas, bem como
na indicação de tratamentos específicos.

UNITERMOS: Avaliação, Inteligência, Pré-escolares, Aprendizagem

Tatiana Pontrelli Mecca – Doutoranda em Distúrbios Correspondência


do Desenvolvimento, Universidade Presbiteriana Tatiana Pontrelli Mecca
Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil. Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social
Daniela Aguilera Moura Antonio – Mestranda em Rua Piauí, 181 – 10º andar – Consolação – São Paulo,
Dis­­­­­­­túrbios do Desenvolvimento, Universidade Pres­­­bi­ SP, Brasil – CEP: 01241-001
teriana Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: tati.mecca@gmail.com
Elizeu Coutinho de Macedo – Coordenador do Pro­­­
gra­­ma de Pós-Graduação em Distúrbios do Desen­­vol­
vimento, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São
Paulo, SP, Brasil.

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Inteligência em pré-escolares

INTRODUÇÃO Assim, é de suma importância compreender


A fase pré-escolar é um período crítico e como se apresentam as funções cognitivas nos
im­­­­­­­portante para o desenvolvimento humano, pré-escolares por meio de avaliações cuidadosas.
pois fornece os alicerces para aquisição de A avaliação cognitiva de pré-escolares deve levar
outras habilidades mais complexas que serão em consideração as relações familiares e escola-
desenvolvidas nos anos seguintes. Trata-se de res, bem como o seu impacto no funcionamento
uma faixa populacional que se encontra em adaptativo da criança.
processo de maturação biológica, observada por Tais avaliações devem caracterizar adequa-
meio do desenvolvimento social, psicológico e damente o perfil cognitivo e identificar as habili-
motor1. Nessa fase, os pais e educadores passam dades que estão comprometidas e preservadas3.
a perceber de forma mais sistemática os com- Desta forma, alterações desviantes no desenvol-
portamentos da criança e o seu aprendizado, vimento, quando identificadas precocemente,
fazendo comparações com outras crianças da apresentam melhores prognósticos e permitem
mesma idade2. delinear uma intervenção mais eficaz7.
Diferentes habilidades cognitivas são desen- Segundo Grillo e Silva7, a percepção das pri-
volvidas durante a fase pré-escolar, tais como: meiras manifestações de condições que afetam
percepção, raciocínio, memória, capacidade de o comportamento possibilita o encaminhamento
autoregulação e automonitoramento, habilida- a profissionais especializado que podem auxi-
des linguísticas, competências matemáticas3, liar pais e professores. Tais informações podem
formação de conceitos, construção e generaliza- ser úteis no estabelecimento do diagnóstico e
ção de estratégias4. Também é possível observar do prognóstico. Nesse sentido, Lichtenberger8
o desenvolvimento gradual de funções cogniti- indica que pré-escolares que enfrentam atrasos
vas que têm importantes funções nas interações no desenvolvimento físico, emocional, social,
sociais, tais como: produção e significado da adap­­­tativo e cognitivo são frequentemente enca-
fala, capacidade para inferir estados mentais dos minhados para uma avaliação mais abrangente,
outros, consciência e sentimentos de si mesmo5. a fim de auxiliar o diagnóstico e o desenvolvi-
Estas são consideradas habilidades básicas, pois mento de intervenções mais apropriadas.
formam a base para o desenvolvimento posterior A avaliação cognitiva possui um papel fun-
de competências necessárias à vida acadêmica. damental na compreensão do desenvolvimento
Já na fase pré-escolar é possível identificar global da criança. Assim, essa avaliação é im-
atrasos no desenvolvimento de funções cogniti- prescindível na fase pré-escolar, pois quando
vas que podem se relacionar com diversos qua- algum déficit cognitivo é identificado precoce-
dros clínicos precursores de problemas para a mente, as intervenções podem ser iniciadas mais
saúde mental. Dentre tais quadros, destacam-se: rapidamente. A intervenção precoce aumenta
transtornos do espectro do autismo, transtorno a probabilidade de um desenvolvimento mais
do déficit de atenção e hiperatividade, transtor- favorável, podendo promover uma plasticidade
nos de aprendizagem, deficiência intelectual, neuronal mais significativa3. De fato, Garlick9
entre outros. Esses quadros se caracterizam por aponta que a plasticidade neuronal é maior du-
serem respostas comportamentais desviantes rante a infância, em relação a fases mais tardias
ou atípicas, identificadas por sua frequência, do desenvolvimento. Este dado fortalece a ideia
duração e intensidade, quando comparados ao de que intervenções precoces apresentam maior
padrão normal de desenvolvimento6. A dificul- impacto no desenvolvimento da inteligência na
dade em identificar precocemente transtornos fase pré-escolar.
do desenvolvimento desencadeia um ciclo com- No entanto, deve-se levar em consideração
plexo e prejudicial para o desenvolvimento da que a avaliação cognitiva de pré-escolares
criança que apresenta tais déficits3. apre­­­­­­­­senta limitações devido à dificuldade de

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ex­­­pressão e reconhecimento das ações pela pró- obtidos com os de outras crianças se torna uma
pria criança6. Para Ferreira et al.3 esse processo tarefa difícil para os profissionais que trabalham
de avaliação é um desafio para o examinador, com crianças nessa faixa etária.
devido a suas especificidades. Segundo esses Uma das possibilidades de avaliação que tem
autores, é necessário considerar algumas pecu- sido frequentemente utilizada é a caracterização
liaridades, como o impacto das relações com o do perfil neuropsicomotor de bebês. Os instru-
ambiente familiar e escolar podem influenciar mentos comumente utilizados para avaliar tais
no desempenho cognitivo. Além disso, avaliar aspectos são: o Denver Developmental Screening
crianças em seus primeiros anos de vida é com- Test-II11 e a Bayley Scales of Infant Develop-
parar seu desempenho ao de crianças na mesma ment12. As Escalas Bayley de Desenvolvimento
faixa etária, mas também considerar que as Infantil foram criadas para avaliar crianças de
habilidades ainda estão em desenvolvimento4. um mês a três anos e meio. Seu objetivo é indicar
Métodos indiretos, como instrumentos psico- pontos fortes e fracos e as competências de uma
métricos, servem como auxílio na identificação criança em cinco domínios do desenvolvimento:
de áreas comprometidas e preservadas, impor- cognitivo, linguagem, habilidade motora, so­­­­
tantes no processo de tomada de decisões e cial-e­mo­­­­cional e comportamento adaptativo13.
indicação de tratamentos específicos6. Contudo, Embora amplamente utilizados em pesquisas
para a adequada interpretação dos resultados nacionais com crianças em situação de risco e em
desses instrumentos é necessária a comparação programas de acompanhamento14-19, não existem
com os dados de uma amostra de referência. dados normativos nem estudos que demonstrem
Tal amostra indica o que seria considerado um a fidedignidade e validade desses instrumentos
desempenho normal ou discrepante da média, para a população brasileira3.
tanto acima quanto abaixo. Além da falta de estudos de adaptação e parâ-
Entretanto, são escassos os instrumentos metros psicométricos dos instrumentos citados,
disponíveis para a avaliação cognitiva de pré- Fagan20 aponta que medidas sensório-motoras
-escolares no Brasil que tenham dados norma- como as fornecidas pelas escalas Bayley pos-
tivos. É importante salientar que no Brasil só suem baixa sensibilidade e especificidade. A uti­­­
temos um teste para avaliar pré-escolares com lização dessas medidas indica pouco poder de
dados normativos, que é a Escala de Maturidade predição em relação à identificação futura de
Mental Colúmbia (EMMC). Essa escala é aplica- crian­ças com prejuízo cognitivo ou que estão
da a partir dos 3 anos e 6 meses até os 9 anos e dentro da faixa de normalidade. Ou seja, quando
11 meses e avalia especialmente habilidades de a Escala Bayley foi aplicada em crianças com 8
raciocínio que são importantes para o sucesso na meses de idade e, depois aos 3 anos, resultados
escola, principalmente a capacidade para discer- demonstram que a sensibilidade, para deficiên-
nir as relações entre os vários tipos de símbolos. cia intelectual, foi de apenas 45% e, a especifi-
São apresentadas pranchas que contêm de 3 a 5 cidade, para a normalidade, foi de apenas 38%.
desenhos e a criança deve escolher qual desenho Deve-se ressaltar que um dos fatores importantes
é diferente, ou não se relaciona aos outros. Para para esse baixo valor preditivo de inteligência
tanto deve descobrir qual a regra subjacente é a divergência entre os construtos mensurados
à organização das figuras10. Sendo assim, a pelas escalas de desenvolvimento e os testes de
EMMC avalia um tipo específico de raciocínio inteligência de abordagem psicométrica.
e não há outros instrumentos que dêem conta Um dos instrumentos muito utilizado em
das diferentes habilidades cognitivas. Trata-se, pesquisas internacionais para avaliação de in­­
então, de uma lacuna no que diz respeito à ava- teligência global em pré-escolares é a Wechsler
liação neuropsicológica em pré-escolares. Assim, Preschool and Primary Scale of Inteligence –
avaliar pré-escolares e comparar os resultados WPPSI 21. Sua última versão é indicada para

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crianças entre 2 anos e 6 meses a 7 anos e 3 pois, diante de crianças com dificuldades de
me­­­­ses22 e é composto por 14 subtestes. Assim apren­­­­dizagem, uma avaliação de inteligência
como outras versões das escalas Wechsler para pode fornecer pistas sobre quais habilidades
crianças e adultos, a WPPSI fornece um índice estão prejudicadas ou preservadas. Essas infor­
de capacidade cognitiva global, QI Total (QIT), mações podem ajudar no planejamento de es-
bem como o QI Verbal (QIV) e o QI de Execu- tratégias pedagógicas adequadas para suprir as
ção (QIE). Estudos no Brasil também já foram necessidades do aluno.
realizados com esse instrumento, mas ainda não Blaga et al.26 conduziram estudo de segui-
existem adaptações deste para nossa realidade, mento com 200 crianças sem comprometimento
bem como dados normativos para a população cognitivo, avaliando semestralmente cada uma
brasileira23,24. das crianças aos 24, 36 e 48 meses de idade.
Resultados de avaliações feitas por meio de Foram aplicadas provas verbais e não-verbais,
instrumentos como o WPPSI são relevantes, pois incluindo escalas de inteligência. Os autores não
auxiliam no planejamento de estratégias de in- observaram mudanças qualitativas significati-
tervenções educacionais, fornecendo medidas de vas ou descontinuidades no desenvolvimento,
funcionamento global. Isto é possível porque o ou seja, os resultados revelaram associações
perfil cognitivo da criança é avaliado por meio significativas entre as medidas iniciais e poste-
de diferentes tarefas que requerem habilidades riores. Tais achados demonstram uma evolução
distintas. O WPPSI-III fornece três medidas contínua e estável na inteligência ao longo dos
globais: Quociente de Inteligência Total (QIT), anos pré-escolares. De acordo com Rose et al.27,
Quociente de Inteligência Verbal (QIV) e Quo- habilidades cognitivas, como atenção, veloci-
ciente de Inteligência de Execução (QIE). dade de processamento e memória, já podem
Além disso, fornece duas medidas adicio- ser observadas aos 7 meses e tais habilidades
nais: índice geral de linguagem e velocidade demonstram continuidade aos 12 meses, 24 e
de processamento, sendo este último apenas 36 meses.
para crianças a partir dos 4 anos de idade. A maior parte dos testes de inteligência
Além desses índices gerais, existe uma série apre­­­­­­senta dados normativos em função de gru-
de habilidades cognitivas específicas que são pos etários. Esses dados possibilitam comparar
necessárias para a realização de cada subteste, o desempenho do indivíduo com pessoas da
tais como: habilidades atencionais, conhecimen- mesma idade.
to cristalizado, raciocínio fluido, conhecimento A idade tem sido muito usada pelo fato de que
lexical, memória verbal de longo-prazo, memória os escores nos testes de inteligência aumentam
de curto prazo, compreensão verbal, percepção com a progressão da idade. Esse aumento possi-
espacial e habilidades de discriminação e per- bilita inferir sobre o desenvolvimento do sistema
cepção visual. nervoso, bem como da ampliação de sua com-
Estudos têm demonstrado a relação dessas plexidade pela criação de novas redes neurais.
habilidades avaliadas pelo WPPSI-III e habili­ Esse aumento na complexidade organizacional
dades acadêmicas. Altas correlações foram possibilita a resolução de tarefas mais comple-
encontradas entre conhecimentos acadêmicos xas. Assim, a continuidade no desenvolvimento
como a matemática com o QIE. Isto indica que as de habilidades cognitivas ao longo do tempo faz
crianças que apresentaram maiores pontuações com a que a idade seja uma variável relevante
nos subtestes de execução, são aquelas que apre- quando se trata de avaliar inteligência.
sentam melhores pontuações em matemática. Deve-se considerar que, mesmo em fases
Neste sentido, também foram encontradas rela- precoces do desenvolvimento, o ambiente exerce
ções entre leitura e o índice geral de linguagem um papel importante no desenvolvimento cogni­
do WPPSI-III25. Estes achados são relevantes, tivo. Neste sentido, Almeida et al.28 afirmam

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que, embora as pesquisas apontem que o desen­ tida como estimação da influência de fatores
volvimento cognitivo está associado à idade e ambientais. Por isso, estudos têm demonstrado
à escolaridade, ainda não se sabe exatamente o impacto da escolarização nos desempenhos
qual a influência de cada uma dessas variáveis. de testes que avaliam tanto a inteligência fluida
Bradley et al.29 ressaltam que a inteligência como a cristalizada. Sendo assim, um ambiente
é influenciada tanto por aspectos hereditários enriquecido é fundamental como possibilidade
quanto pelo ambiente. Esses autores avaliaram de intervenção nos casos de inteligência abaixo
quase 30.000 crianças americanas, desde o nas- da média no ensino infantil.
cimento até os 13 anos de idade, entre 1986 a O estudo de Lu et al.33 teve por objetivo in-
1994. Os pesquisadores utilizaram o inventário vestigar a relação entre habilidades cognitivas
Home Observation for Measurement of the Envi- e desempenho escolar em crianças chinesas
ronment (HOME). Esse inventário tem por obje- pertencentes a séries que se referem ao que d­e­­­­­
tivo medir, no ambiente natural, a quantidade e nominamos no Brasil de Ensino Fundamental I.
a qualidade de estímulo e apoio disponíveis para Foram avaliadas 179 crianças nas seguintes
a criança. A avaliação é feita de forma sistemati- habilidades: inteligência fluida, memória de
zada e compreende os seguintes aspectos: como trabalho, desempenho em provas de linguagem
ocorrem as interações comunicativas verbais e em chinês e Matemática. Os resultados demons-
não-verbais entre cuidador e criança; como os traram que inteligência e memória de trabalho
adultos disciplinam a criança; como o tempo da são bons preditores de desempenho acadêmico,
criança é organizado; utilização de brinquedos sendo que juntas explicam 17,8% da variância
apropriados para a idade; como o adulto interage no desempenho no idioma chinês e 36,4% em
fisicamente com a criança; caracterização da ma­­­temática. Entretanto, quando as habilida-
rotina social da criança com outras pessoas além des são analisadas de forma independente, foi
da mãe; presença de materiais que estimulem observado que memória de trabalho é melhor
o aprendizado; descrição do ambiente físico da preditora para desempenho em matemática,
casa; estabelecimento de limites; e, por fim, des- enquanto que inteligência é melhor preditora
crição das atividades da criança dentro e fora de para o desempenho no idioma chinês.
casa. Os resultados desse estudo demonstraram Em uma recente revisão de literatura feita
correlações positivas entre: responsividade dos por Buschkuehl e Jaeggi34, foi observado que
pais, desempenho e comportamento dos filhos, é possível realizar intervenções em habilida-
características típicas de ambientes enriqueci- des de memória de trabalho que aumentou
dos e QI. Assim, os autores concluem que um e/ou melhorou o nível intelectual. As tarefas
ambiente doméstico enriquecido se relaciona a que produziram aumento no nível de inteligên-
aumento na inteligência dos filhos29-31. cia foram de diversos tipos, envolvendo treino
Outro aspecto comumente associado à inte- de habilidades visoespaciais e de memória de
ligência é a sua capacidade de prever desempe- trabalho fonológica. Na tarefa que envolvia
nhos em atividades acadêmicas ou profissionais. habilidades visoespaciais, diferentes figuras
Diversos estudos correlacionam escores obtidos foram apresentadas em diferentes lugares e as
nos testes de inteligência com notas de avalia- crianças deveriam recordar o local em que cada
ções das disciplinas escolares ou desempenho estímulo aparecia.
em testes de leitura e matemática. Os resultados Na tarefa de memória fonológica, as crianças
têm demonstrado, com bastante regularidade, a deveriam recordar uma sequência de palavras
existência de forte relação entre a inteligência e ou números e depois contá-los na sequência
a exposição à educação formal32. A escolaridade inversa. Também foram realizadas intervenções
é uma variável que está associada à estimu- para memorização utilizando as letras como
lação formal e sua relação com inteligência é estímulos. Nessa tarefa, foi apresentada uma

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sequência de letras e o objetivo foi identificar Sendo assim, a avaliação cognitiva de crian­­
a posição que determinada letra apareceu, por ças pré-escolares se faz de extrema importân­
exemplo, se o estímulo alvo (letra A) foi a pri- cia e deve considerar aspectos genéticos, am­
meira, segunda ou terceira letra que apareceu na bientais e educacionais dos quais a criança faz
sequência apresentada. Os autores sugerem que parte. Essa compreensão permite uma avaliação
esses tipos de intervenções podem ser adaptadas adequada da criança, fornecendo uma medida
para crianças que ainda não foram expostas a de funcionamento global, bem como de pos-
estímulos como números e letras. Para isto, po- síveis alterações desse funcionamento e das
dem ser usadas outras categorias mais usuais, necessidades específicas do indivíduo. Dessa
como animais, frutas, cores e brinquedos. Vale forma, é possível contribuir para indicação de
ressaltar que as intervenções foram realizadas tratamentos adequados, bem como na elabora-
por meio de tarefas computadorizadas, mas que ção de estratégias de intervenções eficazes que
podem ser adaptadas em versões mais tradicio- auxiliem no desenvolvimento psicopedagógico
nais, utilizando materiais como cartolina. dessas crianças.

SUMMARY
Intelligence development in preschoolers: implications for learning

The cognitive abilities developed in preschool age are critical to acquiring


knowledge in the following years. In the cognitive assessment of preschool
children it is possible to recognize delays in the development and establish
different profiles of competence concerning various cognitive functions.
Therefore, the aim of this paper is to present a review of the main aspects
and challenges of specific cognitive assessment in preschool children, as well
as it can assist in the establishment of early and effective interventions. The
focus of the study is the intelligence, a construct that is directly related to the
ability to reasoning and problem solving. Studies indicate that intelligence
is influenced by genetic and environmental features, and has a consistent
relationship with learning. Thus, it is of paramount importance to understand
how to present intellectual functioning in preschool, and evaluate it properly,
assist in planning intervention strategies for psychopedagogy, and an
indication of specific treatments.

KEY WORDS: Assessment, Intelligence, Preschoolers, Learning.

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Trabalho realizado no Laboratório de Neurociência Artigo recebido: 11/10/2011


Cogn­­­­itiva e Social do Programa de Pós-Graduação Aprovado: 3/12/2011
Strictu Sensu em Distúrbios do Desenvolvimento da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo,
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