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NATAL/RN
2018.1
ALINE CRISTINA JEREMIAS DA SILVA
NATAL/RN
2018.1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
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Profª. Drª. Jacqueline Aparecida de Souza
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Orientadora
_____________________________________
Profº. Me. Francisco de Assis Noberto Galdino de Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Examinador
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Doutorando em Ciências da Linguagem Gustavo Tanus Cesário de Souza
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Examinador
AGRADECIMENTOS
Este trabalho discorre acerca dos contributos do clube de leitura para a literacia
informacional e literária. Tem como objetivo geral verificar como o clube de leitura é um
dispositivo para literacia informacional e literária. Objetiva-se especificamente descrever o
papel ou ações do bibliotecário como mediador literário; reconhecer os contributos do
bibliotecário na perspectiva da literacia informacional; pontuar aspectos da literacia literária;
apontar as convergências entre as literacias informacional e da literária; estruturar um clube
de leitura literária. Utiliza-se como metodologia a revisão bibliográfica, uma vez que foi
realizada uma pesquisa que revela explicitamente o universo de contribuições científicas de
autores sobre um tema específico. O projeto clube de leitura evidenciará a importância da
atuação do profissional bibliotecário como mediador literário frente ao público juvenil
trazendo benefícios aos seus usuários com iniciativas educativo-culturais desenvolvidas na
instituição, colaborando igualmente com o desenvolvimento da cidadania e educação nas
comunidades onde estão inseridas. Conclui-se que o clube de leitura é de fato um dispositivo
para literacia informacional e literária, visto que por intermédio dele seus integrantes
desenvolverão competências informacionais que possibilitarão buscar, selecionar e avaliar as
informações em diferentes fontes, utilizando-as de modo crítico.
This paper discusses the contributions of the reading club to informational and literary
literacy. Its main purpose is to verify how the reading club is a device for literary and literary
information. It specifically aims to describe the role or actions of the librarian as literary
mediator; recognize the contributions of the librarian in the perspective of information
literacy; to punctuate aspects of literary literacy; to point out the convergences between
informational and literary literacies; structure a literary reading club. It uses as a methodology
the bibliographic review, once a research that explicitly reveals the universe of scientific
contributions of authors on a specific theme. The reading club project will highlight the
importance of the professional librarian acting as a literary mediator in front of the youth
audience bringing benefits to its users with educational and cultural initiatives developed in
the institution, also collaborating with the development of citizenship and education in the
communities where they are inserted. It concludes that the reading club is in fact a device for
informational and literary literacy, since through it its members will develop informational
skills that will enable them to search, select and evaluate information in different sources,
using them critically.
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10
2 A BIBLIOTECA E A PROMOÇÃO DA LEITURA LITERÁRIA.................. 15
2.1 Formação de leitores............................................................................................... 16
2.2 Práticas de promoção de leitura no âmbito nacional e internacional................ 21
2.3 Leitura literária: breves conceitos......................................................................... 25
3 CLUBE DE LEITURA.......................................................................................... 27
4 LITERACIA INFORMACIONAL E LITERÁRIA............................................ 31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 39
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 42
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1 INTRODUÇÃO
A leitura, além de ser uma ferramenta pedagógica que contribui para formação
educacional do sujeito ao mesmo tempo em que auxilia seu desenvolvimento social e crítico,
permite também a oportunidade de uma compreensão de mundo e de obtenção de
conhecimento através do acesso aos livros e os demais materiais informacionais. Silva (2005,
p. 51) afirma que “a leitura crítica é a condição para a educação libertadora, é condição para
verdadeira ação social que deve ser implementada nas escolas e nas bibliotecas”. As escolas
não devem ser o único espaço de formação, a escola é um local da aprendizagem sistemática e
sistematizadora da leitura e de outros saberes e competências encontradas na sociedade.
(COSSON, 2014).
Segundo Andrade e Blattmann (2008), as ações que estimulam o hábito da leitura são
fatores que influenciam o aprendizado nos diversos momentos da vida e os serviços
bibliotecários de incentivo à leitura, associados ao processo de ensino aprendizagem,
favorecem o desenvolvimento e consolidação do hábito de leitura. As Bibliotecas além de
apresentarem um papel fundamental na promoção da literacia é um espaço de democratização
literária, onde o bibliotecário é o profissional adequado a realizar a mediação entre o usuário e
a informação, assim transformando-a em conhecimento.
Ler e escrever são fundamentais em qualquer sociedade tida como civilizada, pois a
leitura e a escrita estão presentes em todo e qualquer lugar, seja em documentos, avisos,
boletos, jornais, livros, entre outros. Apesar de ter diminuído o número de analfabetos no país,
ainda é alarmante o número de analfabetos funcionais, pessoas que sabem ler, mas por falta de
prática não conseguem assimilar o que está escrito.
No tocante às bibliotecas, considerando-as como dispositivos1 produtores de sentidos,
elas permitem o acesso à informação, no qual a construção de significados vivenciados
através da pesquisa, leitura, literatura, eventos culturais e artes. Deste modo, inseridas no
processo educacional, desempenha a função de estimular, seduzir e fomentar a leitura, para
que o usuário seja capaz de adquirir as informações desejadas e ampliar seus horizontes, no
sentindo de enriquecimento cultural, assim como para seu aprimoramento pessoal
Nesse âmbito um dos recursos que pode ser utilizado para abrandar tanto a quantidade
de analfabetos funcionais, quanto à desmotivação no que se refere às práticas de leitura são os
1
Dispositivo: mecanismos de mediação nos processos de significação. Ainda, dispositivo é considerado nas
dimensões de mediação material e simbólica (RASTELI; CAVALCANTE, 2014, p. 44).
11
círculos de leitura ou clube de leitura. Este dispositivo estimula a leitura coletiva, a formação
e a consolidação de uma comunidade de leitores, além de, agregar um caráter social à leitura.
O círculo de leitura é uma prática privilegiada de grupos de leitores que se reconhece
como parte integrante de uma comunidade leitora específica. Deste modo, apresenta três
questões relevantes da leitura em grupo: 1º “o caráter social da interpretação dos textos” e a
apropriação e manipulação do repertório “com um grau maior de consciência”. 2º “a leitura
em grupo estreita os laços sociais, reforça a identidade e a solidariedade entre as pessoas”. 3º
“os círculos de leitura possuem um caráter formativo” (COSSON, 2014, p. 139).
Deste modo, os círculos de leitura são tão importantes para os seus participantes como
também para os mediadores do círculo, além de ser uma troca de saberes é também um
momento de construção social e de estímulo ao senso crítico e analítico de todos os
envolvidos.
De alguma maneira associada aos aspectos da leitura e formação de leitores,
recentemente no cenário da Ciência da Informação tem sido recorrente o termo Information
Literacy ou literacia informacional. Se o conceito de alfabetização traduz o ato de ensinar e de
aprender, a literacia, corresponde a capacidade de utilizar as competências lecionadas e
desenvolvidas de leitura, de escrita e de cálculo. Esta capacidade resiste, assim, a
especificações dicotómicas, como “analfabeto” e “alfabetizado” (BENAVENTE et al., 1996).
Existem diversos tipos de literacia: mediática, familiar, cultural, estatística, científica,
em saúde, digital, acadêmica, informacional, literária etc. A mediática, que consiste na
capacidade de analisar, avaliar, produzir e difundir mensagens mediatizadas de diferentes
formas, seja elas impressas ou digitais. A familiar, que fundamenta-se no envolvimento dos
pais, família e ou comunidade no processo da leitura e da escrita dos seus filhos, através de
divergentes atividades e práticas. A cultural é uma forma de olhar para as questões sociais e
culturais através do viés literário, pensando, empregando comunicação, comparação e crítica
em uma escala além da de uma linguagem ou um estado-nação, evitando a concepção. A
estatística é a capacidade de interpretar, avaliar e discutir informações estatísticas e os
argumentos fundamentados em dados difundidos por órgãos de comunicação social. A
literacia científica surgiu diante da necessidade de criar condições para que os cidadãos
pudessem entender e colaborar em projetos em ciência e tecnologia. A literacia em saúde que
está relacionada à cientifica, pois ambas têm em comum o papel fundamental na educação dos
alunos, e tem como objetivo torna-los cidadãos livres e responsáveis. A literacia acadêmica
está relacionada às competências ou capacidades que os alunos do ensino superior precisam
adquirir no decorrer do curso para facilitar seus estudos e auxilia-lo em suas pesquisas. A
12
CANDELORO, 2006, p. 43). A busca em livros juntamente com analises na Internet forneceu
embasamento para a construção da parte teórica do projeto.
Com o avanço da tecnologia e a riqueza de informações do mundo atual, a Internet
transformou-se em uma megabilioteca, uma única palavra-chave resulta em milhares de
páginas de documentos. “A grande rede mundial numa incessante metamorfose recebe novos
servidores, novos conteúdos e novas tecnologias.” (DUARTE; BARROS, 2009, p. 147). Por
isso, encontram-se na pesquisa artigos, teses e dissertações criando uma base para sustenta-la,
como também as leis que regem a profissão do profissional bibliotecário e as instituições da
sua classe profissional.
No tocante ao objetivo que visa estruturar um clube de leitura terá como referência
uma biblioteca privada, sem fins lucrativos, que tem como usuários comerciários, seus
dependentes, associados, alunos matriculados nas escolas da instituição, em escolas públicas e
o público em geral. A biblioteca em questão compõe uma rede que está espalhada por todo
Brasil, e tem como objetivo orientar e incentivar o hábito da leitura em seus usuários, através
de empréstimos e consulta local de jornais, revistas, livros, HQs e mangás. O seu acervo é
diversificado, e possui todos os gêneros literários, além de contar com livros estrangeiros,
nacionais e regionais. Os serviços prestados aos seus usuários são: acesso à Internet, consulta
e pesquisa, orientação à pesquisa, disseminação seletiva da informação, treinamento de
usuários, visita monitorada, hemeroteca e empréstimo domiciliar. Atualmente a biblioteca
conta com um bibliotecário, dois servidores e um estagiário.
Esta monografia é composta por 5 capítulos, além deste primeiro introdutório.
O segundo capítulo, discorre sobre Biblioteca e a Promoção da Leitura Literária, como
o profissional bibliotecário pode auxiliar na Formação do Leitor, sendo um mediador literário,
sobre as Práticas de Promoção da Leitura no Âmbito Nacional e Internacional, os projetos de
leis que regem o Brasil para essa finalidade e por fim, Leitura Literária: Breves Conceitos.
No terceiro capítulo é discutido o conceito e funcionamento de um Clube de Leitura.
Também, é apresentado o projeto Clube de Leitura apontando suas diretrizes e como ele pode
despertar o hábito e gosto da leitura em jovens entre 15 e 25 anos, reconhecendo a leitura
como recurso que contribui no processo de ensino e aprendizagem, e também como elemento
importante para o ingresso e a participação do adolescente na vida social.
No quarto capítulo é discutida a Literacia Informacional, seus conceitos e a sua
importância na vida do indivíduo, tanto no profissional, pessoal e social e as convergências
entre a Literacia Informacional e Literária.
14
As bibliotecas são antes de qualquer coisa espaços voltados para leitura, uma
biblioteca bem estruturada, dinamizada por profissionais especializados
(bibliotecários) pode se tornar uma ferramenta poderosa na formação de
leitores, quando são realizados projetos que visem desenvolver o habito de
frequentá-las. (WISNIEWSKI; POLAK, 2009, p. 1).
O leitor não é passivo, ele opera um trabalho produtivo, ele reescreve. Altera
o sentido, faz o que bem entende, distorce, reemprega, introduz variantes,
deixa de lado os usos corretos. Mas ele também é transformado: encontra
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algo que não esperava e não sabe nunca aonde isso poderá levá-lo (PETIT,
2008, p. 28-29).
Nesta perspectiva, o docente como mediador literário deve contar com estratégias para
orientar esses procedimentos, como, por exemplo, proporcionar aos indivíduos a seleção das
obras que desejam compartilhar em companhia dos demais. Segundo Solé (1998, p. 117) “as
tarefas de leitura compartilhada devem ser consideradas a melhor ocasião para os alunos
compreenderem e usarem as estratégias úteis para compreender os textos”, com essa prática é
possível que os educadores possam realizar avaliações formativas da leitura, de seus
educandos e em respectivo do processo, pode ser utilizado também como um recurso para
intervir nas carências educacionais dos alunos.
Fernandes (2007) afirma que para privilegiar a formação e consolidação do leitor, é
fundamental que a escola ofereça oportunidades para que o estudante possa trocar
experiências e discutir o que leram, tornando essa ação diversificada, estimulante e relevante,
não apenas para os alunos como também para o professor. Essa prática, quando democrática,
além de valorizar as predileções do discente, colabora para gerar uma afinidade dele com a
leitura literária. Em síntese é de responsabilidade do mediador intermediar a relação entre os
adolescentes e as obras que eles escolherem, como também de sugerir novas leituras e
flexibilizar a leitura dos materiais encontrados no acervo para que o leitor não fique restrito
apenas a um dispositivo e gênero literário.
Para mim a leitura não importa apenas em prazer – esse prazer tipo saborear
uma torta de maça ou fazer uma boa viagem; para mim a leitura dá
fundamentalmente o PRAZER LIBERTÁRIO. É lendo, até maus livros que
despertamos para as indagações sobre o MUNDO NOVO QUE ESTÁ
SENDO CONSTRUÍDO. (LOUZEIRO, 1984 apud SILVA, 2005, p. 11).
A leitura é feita do que se sabe, do que foi aprendido e se conhece, como esclarece
Faguet (2009, p. 37) “é assim que a leitura, se exige o hábito do exame de consciência, em
contrapartida também nos confere o mesmo hábito”, ele afirma também que como
consequência quando considerados bons leitores, o individuo relaciona os personagens de
ficção não à pessoas conhecidas, mas a si próprio, ao adquirir esse hábito, “lemos a nós
mesmos como um livro”. O ato de ler deve ser algo de elevado significado para o leitor,
acrescentando-lhe novas experiências e reformulando as ideias já existentes, que faça parte do
seu contexto e que lhe permita aprender ou reaprender.
A leitura pode definir o status social que o jovem ocupa na sociedade, pois
(saber) ler é um meio de reconhecimento e valorização social. É importante,
entretanto, que a leitura não seja reconhecida apenas por essa vertente, mas
que esteja clara a ideia de que também é um caminho para escapar de
verdades cristalizadas, de repetições e, principalmente, fazer com que ela se
torne um subsídio para provocar mudanças sociais. A leitura, como fonte de
acesso ao saber e como construção social, remete fundamentalmente a uma
indagação: o que fazer com o saber adquirido e com a valorização social de
quem lê? Um dos maiores receios de quem detém o monopólio do poder é
que haja uma democratização profunda do conhecimento, principalmente
através da leitura. (AREIAS, [20--?], p. 5).
Essa pesquisadora ainda discorre sobre diferentes contributos que a leitura é capaz de
oferecer, que vai além de ser uma ferramenta que auxilia para a educação formal, profissional
e social, também vale-se como mecanismo para o indivíduo não ser marginalizado. Ademais,
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A Lei citada acima ainda aponta prerrogativas desses profissionais que vão desde
procedimentos técnicos como a classificação e catalogação de documentos até a gestão de
ambientes informacionais.
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O plano possui diretrizes para uma política pública voltada à leitura e ao livro no
Brasil e, em particular, à biblioteca e à formação de mediadores. Quatro eixos orientam a
organização do Plano:
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No tocante a leitura pode-se afirmar que ler está além do codificar e decodificar
palavras, segundo Solé (2009, p. 18) “Ler é compreender e interpretar textos escritos de
diversos tipos com diferentes intenções e objetivos, a leitura contribui de forma decisiva para
a autonomia do indivíduo, a leitura é um instrumento crucial para que possamos nos mover
com certa garantia em uma sociedade letrada”. Porém para o sujeito ter sucesso na sociedade
atual não basta apenas ser alfabetizado.
À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez
maior de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que,
concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na
escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo fenômeno se evidencia: não
basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, mas não
necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não
necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para
envolver-se com as práticas sociais da escrita: não leem livros, jornais,
revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não
sabem preencher um formulário (SOARES, 2006, p. 45).
O texto literário é uma produção artística, no qual se espera que o leitor vivencie uma
interação com uma obra de arte. Interação essa que lhe permita uma experiência que inclua
além do seu lado emocional, sua imaginação, desejo, medos, admiração, entre outros
sentimentos. (PAIVA; PAULINO; PASSOS, 2006).
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1. Qualidade ou condição do que é iletrado.
2. Estado ou condição de quem não sabe ler nem escrever. = ANALFABETISMO, ALITERACIA,
ILETRISMO.
3. Incapacidade para perceber ou interpretar o que é lido. (PRIBERAM..., 2018)
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Segundo Paiva, Paulino e Passos (2006, p. 25), tratando-se de uma interação literária
do sujeito para com o texto, não existe uma interpretação certa ou errada, ela não se limita à
lógica derivada da leitura dos textos técnicos, nesse tipo de leitura a imaginação predomina,
como a interpretação individual de cada leitor. Os autores completam que “A leitura literária
é associada à reflexão e à imaginação, quando estimula nossa percepção a romper com o
automatismo da rotina cotidiana. Essa característica faz parte da função social da literatura”.
Quando o leitor entra em contato com diferentes realidades através da leitura, ele adquire
novas experiências, acaba refletindo sobre a sua vida e começa a enxergar sua realidade por
outro contexto.
A leitura literária quebra as barreiras da ficção e da realidade, contribui para o
vocabulário do sujeito, como também para escrita, proporciona conhecimentos e experiências,
viagens e aprendizado cultural, forma cidadãos instruídos e críticos, além de ser uma
excelente atividade de lazer.
3 CLUBE DE LEITURA
[...] a primeira, com bases econômicas (todo mês o leitor paga um valor fixo
e recebe uma determinada obra); a segunda trata-se da reserva de um espaço
onde são disponibilizados livros, revistas e outros documentos para leitura e
empréstimo e a terceira criação de um grupo de leitores que se reúnem para
ler e discutir um determinado texto/livro.
O clube de leitura em que seus membros se reúnem dispostos a debater obras literárias
sendo elas livros, HQs, mangás etc, pode ser usanda como uma estratégia de democratização
da leitura e fomento ao hábito de ler. Além disso, essa metodologia incentiva à leitura coletiva
e a formação e criação de uma comunidade de leitores, nesse contexto Cosson (2014, p. 138),
salienta que:
refere-se a comprovar se o texto foi compreendido, fazendo perguntas para si mesmo”, através
do autoquestionamento almeja-se que o leitor possa questionar o texto explanado e que
estabeleçam uma ligação “sobre o que já se leu e sobre a bagagem de conhecimentos e
experiências do leitor”, ao fazer essa associação o leitor estará estabelecendo sentido ao texto.
Em um clube de leitura é pertinente que o mediador saiba envolver o grupo utilizando
estratégias para que os participantes não sejam membros passivos, pois um dos seus muitos
objetivos é fazer da leitura uma prática social que auxilie na literacia informacional e literária.
O projeto clube de leitura terá como referência uma biblioteca privada, sem fins
lucrativos, que tem como usuários comerciários, seus dependentes, associados, alunos
matriculados nas escolas da instituição, em escolas públicas e o público em geral. A biblioteca
em questão compõe uma rede que está espalhada por todo Brasil, e tem como objetivo
orientar e incentivar o hábito da leitura em seus usuários, através de empréstimos e consulta
local de jornais, revistas, livros, história em quadrinhos (HQs) e mangás. O seu acervo é
diversificado, e possui todos os gêneros literários, além de contar com livros estrangeiros,
nacionais e regionais. Os serviços prestados aos seus usuários são: acesso à Internet, consulta
e pesquisa, orientação à pesquisa, disseminação seletiva da informação, treinamento de
usuários, visita monitorada, hemeroteca e empréstimo domiciliar. Atualmente a biblioteca
conta com um bibliotecário, dois servidores e um estagiário.
A elaboração de um clube de leitura para a instituição mencionada neste trabalho tem
como finalidade estimular o gosto pela literatura na perspectiva de promover o hábito de
leitura nos jovens entre 15 e 25 anos, reforçando a leitura como recurso empregado para
contribuir no processo de ensino e aprendizagem, e também como elemento importante para o
ingresso e a participação do adolescente na vida social.
Neste contexto, as bibliotecas dessa instituição poderão ser utilizadas como espaço
prioritário para intervenção onde serão criados Clubes de Leitura, nesse espaço os
bibliotecários, estagiários de biblioteconomia e pedagogos se reunirão mensalmente com
grupos de jovens atendidos pela proposta, para debater obras literárias de acordo com a sua
faixa etária e que despertem o prazer no hábito de ler. Utilizando-se sempre dos materiais
disponíveis nas bibliotecas, como os livros, história em quadrinhos (HQs) ou mangás.
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Dia do Orgulho Nerd, ou Dia do Orgulho Geek, é uma iniciativa que defende o direito de toda pessoa em ser
um nerd ou um geek, e para promover a cultura nerd/geek, comemorada em 25 de maio. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Orgulho_Nerd>. Acesso em: 29 maio 2018.
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O termo Cosplay, proveniente do japonês Kosupure é uma abreviação de costume roleplay. A tradução para o
português se refere a fantasiar-se ou disfarça-se de um personagem. Os participantes e adeptos a esta
modalidade, são chamados de cosplayers. [...] De certa forma o Cosplay é a homenagem de um fã a seu
personagem. Disponível em: <https://www.infoescola.com/cultura/cosplay/>. Acesso em: 29 maio 2018.
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contação de histórias, bate-papo com autores convidados, entre outros; divulgar informações
através de meios de comunicação formais e informais, nesse âmbito o bibliotecário seria
responsável por elaborar exposições na biblioteca, com temas interessantes e que contribuam
para acrescentar conhecimento para os usuários, exibição de filmes, saraus, entre outros; e
promover atividades infanto-juvenis, nesse caso, o clube de leitura seria a ação programada.
Além disso, irá também instruir e auxiliar o jovem a utilizar fontes informacionais de
diferentes suportes e instrui-lo a selecionar fontes informacionais que se adeque ao seu perfil.
Os membros do clube de leitura serão entre dez e vinte pessoas, que irão se reunir
mensalmente na biblioteca, sempre às sextas-feiras, para discutir durante duas horas a respeito
de uma obra definida no cronograma que será montado pelos participantes, bibliotecário e
estagiário da unidade. Para melhor se comunicarem os membros terão como suporte um grupo
no wattsapp, além de disponibilizarem os seus e-mails para o bibliotecário responsável pela
mediação, para que assim, este possa enviar informações ou avisos referentes às reuniões ou
obras que serão discutidas.
A divulgação do clube será feita através da página da Internet da instituição e de suas
mídias sociais (Facebook e Instagram), além dos murais. Será feita uma seleção com os
inscritos e serão escolhidos os que melhor se adequarem ao perfil do clube. Serão realizados
dez encontros, sendo o primeiro para que os membros possam ter previamente contato com o
mediador e os participantes do clube, como também para definir um cronograma e escolher as
leituras que serão realizadas durante as reuniões.
As bibliotecas da instituição serão utilizadas, além do espaço físico com acervo de
livros e periódicos a ser aproveitados em horários definidos. Nelas, serão realizadas atividades
interligadas ao acervo existente na unidade, de acordo com a realidade dos seus
frequentadores, transformando-se em um local de aprendizagem, de formação e
transformação, trazendo benefícios aos seus usuários com iniciativas educativo-culturais
desenvolvidas na instituição, colaborando igualmente com o desenvolvimento da cidadania e
educação nas comunidades onde estão inseridas.
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Chegou o fim de semana. Terei para ler três imensos jornais de domingo e
uma pilha de revistas de marketing, de management, de publicidade, de
informática, de variedades e de educação, além de todo o clipping do setor
educacional, acumulado durante a semana. Trouxe para casa cinco livros
novos que comprei esta semana, para se juntar às dezenas de outros livros
que estão, há meses, na fila de espera para serem lidos. Passei na locadora e
aluguei dois filmes imperdíveis, que todos já viram, menos eu. Além disso,
pretendo colocar em dia os mais de 100 e-mails atrasados, que estão
aguardando resposta. Tem ainda uma festa de aniversário da família para ir,
os slides de duas palestras para preparar e um espetáculo teatral excelente
que, é claro, já está nos últimos dias na cidade.
informação que ele consome durante a sua vida, é a informação adquirida sair do mentefacto13
e ser externada, ele colocar o conhecimento em prática no seu dia a dia, seja na vida social,
profissional ou pessoal. Assim:
Como assevera Benavente et al. (1996), a literacia é algo a ser apreendido em diversos
momentos, uma vez que o perfil não é constante nem deve ser encarado como válido para
todos os momentos. Complementarmente, enquanto a informação pode ser definida por um
conjunto de representações mentais codificada e socialmente contextualizadas que podem ser
comunicadas, estando, portanto, indissociadas da comunicação, a literacia por vezes tem sido
associada às competências de leitura e escrita de um sujeito, toda via o seu conceito vai além
do analfabetismo ou alfabetismo. Se o conceito de alfabetização traduz o ato de ensinar e de
aprender, a literacia demonstra a capacidade de uma pessoa utilizar as competências
aprendidas de leitura, escrita, cálculo, entre outras. (FRANCISCO, 2008). Em síntese a
literacia seria a aplicação da informação que individuo aprendeu no decorrer da sua vida.
Por vezes, na literatura encontra-se alguma confusão ou imprecisão terminológica
entre letramento, alfabetização e literacia. Acerca disso Soares (1998) advoga que a
alfabetização é a obtenção do código da escrita e leitura, e ocorre quando se há apropriação da
técnica de grafar e reconhecer letras, usar o papel, entender o sentido da escrita, pegar no
lápis, codificar, estabelecer relações entre sons e letras, de fonemas e grafemas, enquanto o
letramento é a aplicação desta tecnologia em práticas sociais de leitura e de escrita.
Contudo, no Brasil a literacia ainda é um campo em ascensão, por isso se utiliza mais
a expressão competência informacional, que para melhor explica-lo existem algumas palavras
chaves que melhor se adequam ao conceito: mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,
recursos, habilidades, que agreguem valor, entre outros.
13
Nesse aspecto, é considerada a atividade intelectual como mentefacto. Esse termo é utilizado na Ciência da
Informação, como sinônimo de informação. Uma vez que ela é materializada, surge o artefacto. (ARAÚJO,
2013).
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2009). Enquanto a literacia em saúde está relacionada à cientifica, pois ambas têm em comum
o papel fundamental na educação dos alunos, e tem como objetivo torna-los cidadãos livres e
responsáveis (CARVALHO; JOUDAN, 2014).
A literacia acadêmica está relacionada às competências ou capacidades que os alunos
do ensino superior precisam adquirir no decorrer do curso para facilitar seus estudos e auxilia-
lo em suas pesquisas.
No ano de 1974, o termo literacia informacional surgiu pela primeira vez na literatura,
o bibliotecário americano Paul Zurkowski, escreveu um relatório denominado de The
information service environment relationships and priorities, nesse documento ele discorreu
sobre uma abundância de produtos e serviços fomentado por organizações privadas e seus
vínculos com a biblioteca. Zurkowski prenunciava uma perspectiva de transformações e
propunha que “se iniciasse um movimento nacional em direção a information literacy.
Sugeria que os recursos informacionais deveriam ser aplicados às situações de trabalho, na
resolução de problemas, por meio do aprendizado de técnicas e habilidades no uso de
ferramentas de acesso a informação”. (DUDZIAK, 2003, p. 24).
Inicialmente, a literacia informacional foi definida como “a capacidade de
compreender a tecnologia, os media e a informática, incluindo a capacidade de utilizar um
computador e o respetivo software, saber onde encontrar e como organizar a informação, esse
termo surgiu associado ao ensino, à aprendizagem e às bibliotecas escolares”. (CRAVO,
2014, p. 15). Com o tempo o conceito de literacia informacional tornou-se mais abrangente,
relacionado a uma série de habilidades e competências que incluem desde o saber localizar a
informação a utiliza-la para a resolução de problemas e tomadas de decisões, seja no âmbito
profissional ou pessoal.
A American Library Association (2018)16 afirma que um sujeito com literacia
informacional é capaz de:
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
o jovem ler apenas por obrigação as literaturas pedagógicas apontadas pelo professor, assim
criando um ranço no que cocerne a qualquer outro tipo de leitura. É importante apresentar ao
profissional bibliotecário a sua atribuição de desenvolvedor de literacia em seus usuários, para
que ele proporcione a quem busca a informação o potencial de saber localiza-la e como
utilizá-la ao seu favor.
Nessa perspectiva, espera-se colocar em prática o projeto clube de leitura, para que
futuramente seja realizado um trabalho empírico, no qual o bibliotecário de fato possa
comprovar as premissas discutidas neste trabalho, além de colocar em prática às ações
voltadas para o fomento da leitura e literacia.
Espera-se que com esse trabalho os profissionais bibliotecários possam refletir sobre o
seu papel social e desperte nele o interesse em promover práticas de incentivo à leitura
literária, como também que ele identifique a importância de capacitar seus usuários no que se
refere ao desenvolvimento das literacias informacional e literária.
42
REFERÊNCIAS
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