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Docente Orientador:
____________________________________________________
Msc Yolanda Muloche
(Orientadora da Faculdade de Ciências sociais e humanidade - Universidade
Zambeze)
DECLARAÇÃO
________________________________________________
9
AGRADECIMENTOS
IV
DEDICATÓRIA
Ao PAPAI dos Céus, que implantou e tornou possível a concretização deste sonho,
Louvado;
À minha MÃE ANA MARIA DA COSTA XAVIER “”, pela confiança e motivação;
Aos meus amigos, de boa vontade, cujo apoio empreenderam para tornar possível a
minha formação, minhas honrarias.
V
RESUMO
VI
ABSTRACT
The work will focus on the theme "The Principle of Freedom of the Press Vs
Presumption of Innocence - of the violation of rights to the good name, honor and
image". The objective will be centered around the treatment given to the person under
investigation or accused of committing a criminal offense by the Press or Media in the
exercise of their freedom of the press. personality, namely, the right to a good name,
image and honor of the person being investigated or accused in criminal proceedings.
Keywords: Law, name, honor, image, press.
VII
ABREVIATURAS
art. - artigo
CC – Código Civil
Cc – Conselho Constitucional
V.g. – Verbigratias
p. – página
pp – páginas
cfr. – confira.
LOTJ – Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais
VIII
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS .................................................................................................... IV
DEDICATÓRIA ................................................................................................................ V
RESUMO ........................................................................................................................ VI
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................9
IX
5.2.SUGESTÕES .........................................................................................................44
6. BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................45
X
1. INTRODUÇÃO
1
CANOTILHO, J. J. Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 5ª Edição, Coimbra:
Livraria Almedina, 2002.
9
No capítulo II do presente trabalho debruçarei sobre a conceitualização e o
desenvolvimento dos princípios da liberdade de imprensa e o da presunção de inocência.
Como acima referido, a vexata quaestio que aqui se coloca, é a situação em que
da colisão da liberdade de imprensa e da presunção de inocência, resulte a violação dos
direitos de personalidade, mormente, ao bom nome, a imagem e a honra da pessoa do
investigado ou acusada em processo penal.
2
Particularmente de KONRAD HESSE, v. “interpretactión constitucional, In Escritos de
derechoconstituciona”l, Centro dos EstudiosConstitucionales, Madrid, 1992, pp. 33 e ss.
3
Os princípios: a) da unidade constitucional; b) do efeito integrador; c) da maximaefectividade; d) da
justeza ou da conformidade funcional; e) da concordância pratica ou da harmonização; e f) da força
normativa da constituição.
10
CAPÍTULO II: A ESSÊNCIA E O ALCANCE DOS PRINCÍPIOS DA
LIBERDADE DE IMPRENSA E O DE PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.
4
Cfr. Constituição da Republica Portuguesa Anotada, 3ª edição, Coimbra, 1993, p. 225.
5
CANOTILHO, J.JGomes, Direito Constitucional, 2 Vol, Edica, Editora, Coimbra, 2014, p. 152
6
JORGE MIRANDA, apelida de liberdade de comunicação social, o que na CRM se designa por
liberdade de imprensa. Mas acrescenta, «a liberdade de expressão é mais que a liberdade de comunicação
social, porquanto abrange todos e quaisquer meios de comunicação entre as pessoas», Cfr. Manual de
Direito Constitucional. Vol. IV, cit., p. 374.
11
Por um lado, o seu âmbito de protecção é inferior ao da liberdade de expressão, mas
por outro lado, alarga-se a aspectos que não se prendem directamente com esta, como os
direitos internos dos jornalistas ou o direito de acesso às fontes de informação.
A liberdade de imprensa tal como a conhecemos hoje, teve seu início na Inglaterra e
sua história foi marcada por batalhas gloriosas desde 1695, passando pelo final do
século XIX, seguindo até ao advento da Segunda Guerra Mundial.9
7
Cfr.CANOTILHO J.J GOMES e VITAL MOREIRA. Constituição da República Portuguesa Anotada.
Cit., p-225.
8
Neste sentido, NUNA E SOUSA, Liberdade de Imprensa. Coimbra, 1984, pp. 69 e ss..
9
DOTTI, 1980, p. 112 Citado por JoseFabio de Azevedo. “Liberdade de imprensa e a dignidade da
pessoa humana do investigado”. Artigo Publicado na net. www.revistas.unifacs.br.Acessado no dia 18 de
Março de 2015.
12
A história aponta para a necessidade que o homem tinha de comunicar-se, de
informar e de ser informado. Essa necessidade se mostra tão antiga quanto o
aparecimento das primeiras civilizações:
Alguns autores referem que, em 1750 antes de cristo, no reinado de Thomas III,
os egiptólogos descobriram na poeira dos séculos, publicações que relatavam os
escândalos locais. Também na China, onde, segundo Jacques Bourquin já era conhecido
o papel, teria existido em tempos remotos um jornal intitulado King Pao.10
10
Idem
11
Idem, opcit: p. 109.
13
2.1.2. O Desenvolvimento da imprensa em Moçambique.
12
Cfr: S. Carvalho, coord., História de Moçambique, Vol. 2, Agressão Imperialista (1986-1930),
(Maputo: Departamento de História da Universidade Eduardo Mondlane, 1983).
14
elite urbana e politicamente activa e serviram ao processo de debate e disputa entre as
forças sociais, mas também como espaço de negociação dos interesses das elites
coloniais em conflito.
13
in Em Torno dos Nacionalismos em África, org. A. Nascimento e A. Rocha, (Maputo: Alcance Editores,
2013).
15
meios de comunicação na busca pela liberdade, que evolui em tal sentido, até a sua
consagração no art. 74º da Constituição da Republica de Moçambique de 1990.
No entanto, desta abordagem uma questão não deve calar, qual seja a de saber o
que vem a ser um direito fundamental?
Ora, essa questão muitas vezes é difícil de ser respondida, uma vez que os
direitos do homem têm sofrido modificações devido as alterações históricas,
dificultando definir-lhes um conceito sintético. Daí, várias expressões para designa-los
são empregues, tais como: direitos naturais, direitos humanos, direitos do homem,
direitos individuais, direitos públicos subjectivos, liberdades fundamentais, etc.
14
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. p. 517
16
ordenamento jurídico. Os direitos fundamentais, constituem em cada ordenamento
constitucional, uma unidade. Mas isso não significa que não podem ser classificadas em
diferentes ângulos. É nesta óptica que na Constituição da Republica de Moçambique,
esses direitos acham-se classificados em individuais e institucionais, sendo individuais,
o direito à vida, os direitos de personalidade/pessoais (art. 40.º e 41.º), o direito ao
trabalho (art. 84.º), direito à educação (art. 88.º), e os demais direitos sociais; e direitos
institucionais o direito de antena (art. 49.º), direito à liberdade de reunião e de
manifestação (art. 51.º CRM), o de livre associação (art. 52.º), o direito das comissões
sindicais (art. 86.º), e.t.c.15
Não é absoluto também enquanto valor constitucional, visto que apesar de que a
constituição não prevê nenhuma norma geral sobre o exercício dos direitos, quer de
direitos fundamentais, quer de direito a liberdade de imprensa em particular, o art. 43º
da CRM prescreve expressamente que: «os preceitos constitucionais relativos aos
direitos fundamentais são interpretados e integrados de harmonia com a Declaração
17
Universal dos Direitos do Homem e a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos
Povos».
15
M, MIRANDA, Jorge: Manual de Direito Constitucional: Direitos Fundamentais. TOMO IV. 5ª Ed.
Coimbra Editoras. 2012. p. 115.
16
Idem.
17
Veja-se que oart. 4.º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 previa que «A
liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique a outrem. Assim, o exercício dos
direitos naturais de cada homem não tem limites senão os que asseguram aos outros membros da
sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados por Lei».
Porquanto, Encontramos uma norma geral no art. 29.º da Declaração Universal
dos Direitos do Homem, onde não só se afirma que «o indivíduo tem deveres para com
a comunidade fora da qual não é possível o livre pleno do desenvolvimento da sua
personalidade», como também se prescreve que «no gozo dos direitos e liberdades
«ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista
exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdade dos
outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do
bemestar numa sociedade democrática», e se acrescenta que, «em caso algum, os
direitos e liberdades poderão ser exercidos contra fins e os princípios das Nações
Unidas»15
Não se pode afirmar o momento histórico exacto onde teria surgido o princípio da
presunção de inocência, pois a doutrina diverge sobre o assunto. Alguns autores definem
como prováveis marcos temporais, a Magna Carta, a Declaração dos direitos da
Virgínia, o Direito Romano, porém, grande parte da doutrina entende que o referido
princípio só ficoupositivado com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
15
Cfr:MIRANDA, Jorge: Manual de Direito Constitucional: Tomo IV p.265, Sobre o art. 29, nº 2, da
Declaracao Universal dos Doireitos Humanos, citando Rene Marcic,
Devoirsetlimitationsappartéesauxdroits, in reúne de la comissionInternacionaledesJuristes, t. IX, n-º 1,
1968 73 e ss.
18
surgimento de vários outros textos internacionais como o Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos de 1966.
É certo que o Estado Moçambicano tem direito e interesse em punir indivíduos que
tenham condutas em desconformidade com a lei, podendo aplicar sanção a aqueles que
cometem ilícitos. No entanto esse direito/dever de punir do Estado deve conviver e
respeitar a liberdade pessoal, um bem jurídico do qual o cidadão não pode ser privado,
senão dentro dos limites da lei.
16
GOMES FILHO, Citado por Azevedo, op. cit., p. 09.
19
Portanto, diante do cometimento de um ilícito, para que o Estado imponha pena, ou
que a imprensa julgue ou divulgue informações directamente ligados ou relacionados
com aquele acto ilícito, deverá respeitar o suposto autor de tal ilícito, dando-lhe todas as
garantias constitucionais, e permitindo que este se defenda, e não tenha sua liberdade
cerceada. Sendo necessário, portanto, que ocorra um processo, e enquanto não houver
sentença transitada em julgado, em que o Estado prove a culpabilidade, o suposto autor
será presumido inocente.
Diante disso, o acusado não pode ser obrigado a colaborar na apuração dos
factos, uma vez que o devido processo penal, dá a ele o direito de não produzir provas
contra si mesmo18 (seja por isso que a confissão do arguido não vale como prova de
delito – art. 174º CPP)22podendo na fase do interrogatório permanecer em silêncio (art.
254º, n.º 2). Só devia se proceder deste modo, porque se assim não fosse, o acusado se
transformaria em objecto de investigação, quando na verdade é um sujeito processual.
17
O mesmo ocorre a nível do Direito Civil quando do – art. 342. nº 1, resulta que, quem alega um facto
cabe fazer a sua prova.
18
Sobre os meios proibidos de interrogatório, escreve o ilustre Professor Figueiredo Dias, p:454 e ss.
22
Cfr: SOUSA, João Castro e: da tramitação do processo penal. Coimbra, p: 214-
20
No segundo caso, no que se refere ao paradigma do tratamento do acusado, no
curso do processo penal, considera-se inocente enquanto não for definitivamente
condenado. Assim sendo, durante as investigações e a tramitação processual, o réu não
deve ser punido antecipadamente, e nem mesmo tratado como culpado, aplicando só as
medidas necessárias, e restringindo o mínimo de direitos possíveis, uma vez que ainda
não se sabe se o acusado é inocente ou culpado.
À partida, o facto que aqui se refere deve se entender como sendo uma afirmação ou
uma insinuação, feita pela palavra (escrita ou oral), pela imagem ou pelo som, que
impliquem ou possam implicar desprimor para o visado. Este resultará (ou poderá
21
resultar) apoucado, desprivilegiado, aviltado, ou, por qualquer modo, diminuído na
consideração social ou naquela que ele tenha de si mesmo.19
19
Cfr: CORDEIRO, António Menezes, tratado de direito civil Português II, tomo III, almeidina, p: 553
20
Sergio Ricardo de Souza (2008, p.46).
22
resulte interesse colectivo ou com a pretensão da salvaguarda de outro direito maior.21
Este é um limite externo a liberdade de imprensa, quando colide com a presunção de
inocência, com vista a se preservar a pessoa humana nas suas relações familiares, sociais
e com o próprio Estado.26
Ora, assim como muitos institutos jurídicos, a ideia de honra tem origem no
Direito Romano. “Prima faciecom o sentido geral de iniuria, que servia para designar os
delitos de contornos imprecisos, perpetrados contra pessoas, consolidando-se, depois,
com a estimação de iniuria na acepção de contumélia, ou seja, ofensa moral”23
21
Cfr. MIRANDA, Jorge. Op cit. p. 341.
26
Idem.
22
JESUS, Damásio Evangelista de . Direito penal: parte especial: dos crimes contra a pessoa. Dos crimes
contra o patrimônio. 16 ed: S-araiva, 1994. v. 2. p. 177.
23
CORDEIRO, António Menezes, tratado de direito civil Português II, tomo III, almeidina, p: 558
23
A primeira característica está enraizada no princípio da dignidade da pessoa
humana, onde a honra, independentemente de raça, cor, classe social, religião, etc., é
uma qualidade intrínseca a toda e qualquer pessoa, a segunda característica diz respeito
ao conteúdo da honra, tanto na vertente objectiva quanto na subjectiva. A honra
objectiva, diz respeito `a reputação que uma pessoa goza no meio social em que está
colocada, e a subjectiva é a ideia que cada pessoa tem de si mesma sobre sua própria
dignidade moral.
Pois, a honra interior ou subjectiva não pode ser atingida, pois como se pode
constatar, esta não está nas mãos de ninguém senão da própria pessoa, e por isso
ninguém pode afectar ou desonrar a honra subjectiva de outrém.
24
GERHARD ERDSIEK, Der Ehrenschutz in der defensive. Citado por CORDEIRO, António Menezes,
tratado de direito civil Português II, tomo III, almeidina, p: 557.
25
“Razoável”, nas palavras de DIAS FIGUEIREDO, Direito de Informação e tutela da honra cit., p.137.
31
Toda expressão formal e sensível da personalidade de um homem é imagem para o Direito. A idéia de
imagem não se restringe, portanto, à representação do aspecto visual da pessoa pela arte da pintura, da
escultura, do desenho, da fotografia, da figuração caricata ou decorativa, da reprodução em manequins e
máscaras. Compreende, além, a imagem sonora da fonografia e da radiodifusão, e os gestos, expressões
dinâmicas da personalidade." (MORAIS, Walter - Direito à própria imagem. São Paulo: Revista dos
Tribunais, ano 61, n. 443, setembro de 1972, p. 64)
24
acusado, indiciado ou sob investigação criminal ostenta, por conta daquele princípio
constitucional que anuncia que ninguém pode ser declarado culpado até que exista uma
sentença condenatória transitada em julgado.
A norma retro citada, cria uma certa confusão no seio de vários debates jurídicos,
principalmente quando do nº 2 resulta que “não é necessário o consentimento da pessoa
retratada quando assim o justifiquem (…), exigências de polícia ou de justiça.
25
pessoas indiciadas de prática de certos ilícitos criminais sem o seu prévio
consentimento.
26
Em nenhum momento podemos pensar em fazer uma censura a Liberdade de imprensa, porque a
constituição da Republica de Moçambique, veda essa possibilidade ao prever que, o direito à informação
não pode ser limitado por censura – art. 48/2 in fine da CRM.
27
COSTA, José Manuel Cardoso da. A hierarquia dos valores constitucionais. p. 17.
28
Canotilho, opcit: p. 287
26
âmbito de proteção de vários direitos, liberdades e garantias e; b) acumulação de
direitos, hipótese que um determinado bem jurídico, leva à acumulação, na mesma
pessoa, de vários direitos fundamentais”.
29
Robert Alexy (alemão) deu nova roupagem a Dworkin (contrariamente a ele), afirmando a existência
de uma seta que direciona até onde é possível seguir. p. 607, Revista da Ordem dos Advogados, 1997
30
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional, Almedina, Coimbra, Outubro de 198 p 495.
31
Idem. pp.1255-1257
32
Princípios ou regras que devem ser cumpridas sem excepçao.
27
Porém, a colisão ou conflito de direitos fundamentais encerra, por vezes,
realidades diversas que nem sempre são diferenciadas com clareza.
33
Que, Segundo Jorge Miranda (Teoria do Estado e da Constituição, Editora Forense, Rio de Janeiro,
2003, p. 453), se podem considerar como substancialmente constitucionais, não repugnando, para o autor,
vê-las dotadas de um valor de costume constitucional (praeterlegem)
34
Sobre os restantes principioscfr; J.J. Gomes Canotilho; Direito Constitucional e Teoria da Constituicao,
pp. 1208-1210; JORGE BACELAR DE GOUVEIA: Manual de Direito Constitucional, Vol II, Almedina,
Coimbra, 2005, pp.664-665.
35
KONRAD HESSE: “ Interpretacion constitucional”, pp. 45 e sgs; J.J. GOMES CANOTILHO: Direito
Constitucional e Teoria da Constituição, pp. 1207-1208; JORGE BACELAR DE GOUVEIA: Manual de
Direito Constitucional, Vol II, Almedina, Coimbra, 2005, pp.664.
36
MIRANDA JORGE: Teoria da Constituição, op cit. p.451.
28
em relação aos outros. O campo de eleição deste princípio situa-se, normalmente, no
âmbito da colisão entre direitos fundamentais ou entre direitos fundamentais e bens
jurídicos constitucionalmente protegidos37.
Até aqui, a questão parece consensual no que tange a resolução do conflito, o
que já não é consensual são as consequências. Para Gomes Canotilho, o principio da
unidade da constituição que acima vimos, preclude a atribuição de uma diferente
dignidade hierárquico-normativa aos diversos bens constitucionalmente protegidos38, o
que obriga, imediatamente, à procura de soluções de concordância pratica e máxima
efectividade através do recurso ao principio da proporcionalidade em sentido amplo39.
Já o autor Jorge Miranda, tem um entendimento diferente, defendendo que,
mesmo no seio de uma constituição compromissória como a nossa, a resolução de certas
contradições pode passar por uma solução de preferência ou prioridade, na efectivação
de alguns princípios frente aos restantes, que nuns casos se traduz em «coordenação»,
mas noutros, em «subordinação».
E, portanto, se em alguns casos a solução de contradições passa por uma solução
de concordância pratica, assente num critério de proporcionalidade, outras há, em que a
solução passa por uma «hierarquização dos valores inerentes aos princípios
constitucionais40.
37
CANOTILHO, J.J. GOMES; Direito Constitucional e Teoria da Constituicao, p.1209; GOUVEIA
,JORGE BACELAR DE: Manual de Direito Constitucional, Vol II, Almedina, Coimbra, 2005, p.664:
38
CANOTILHO J.J Gomes; Direito Constitucional e Teoria da Constituição, pp.1167-1168; GOUVEIA,
JORGE BACELAR DE: Manual de Direito Constitucional, Vol II, p. 664
39
CANOTILHO, opcit: pp.1279-1280. Ora, tendo todos os bens jurídico-constitucionais igual dignidade
constitucional, a solução correcta do conflito deve ser aquela que consiga o equilíbrio menos restritivo
para qualquer um deles. Como propostas metódicas de resolução das colisões de direitos fundamentais, o
Autor avança com a ideia de que o domínio potencial ou domínio normativo da norma, ou «direito prima
facie», da lugar ao «domínio actual» através de um procedimento a posteriori de «concordância pratica»
dos bens jurídicos em presença , sendo certo que muitos deles apresentam uma estrutura principal,
devendo por esse motivo ser jurídico-dogmaticamente constituídos, no plano conceptual, como
obrigações de optimização.
40
MIRANDA,JORGE: Teoria da Constituição, pp.451-452
29
sociedades modernas levam ao abrigo da Constituição valores e interesses diversos, que
eventualmente entram em choque; e (ii) sendo os direitos fundamentais expressos,
frequentemente, sob a forma de princípios, sujeitam-se, como já exposto (v. supra), ao
choque com outros princípios e à aplicabilidade no limite do possível, à vista de
circunstâncias fácticas e jurídicas.
E quando assim acontece urge perceber-se ainda estamos mesmo perante uma
pura colisão de direitos fundamentais que pode ser solucionado segundo os critérios
tradicionais de solução de conflitos normativos que acima abordamos ou aqueles não
são aptos como regra geral, para a solução de colisões ora em análise, qual seja, entre a
liberdade de imprensa e presunção de inocência.41
41
No entendimento de Jorge Miranda, esse tipo de colisão é normal. Cfr:MIRANDA, Jorge: Manual de
Direito Constitucional: Direitos Fundamentais. TOMO IV. 5ª Ed. Coimbra Editoras. 2012. p. 115
48
Recorde-se o STV Crime sobre investigação – uma “palhaçada” que a STV passou em capítulos
tentando concluir que uma senhora mandara matar seu marido o ano passado. Recorde-se também da
apresentação pública que ocorreu no Macurrungo dos jovens supostos assassinos de três meninos que até
o tribunal acabou por absolver porque nada provou o seu envolvimento no crime.
30
sensacionalismo) é de auferir proveito próprio, o que muitas vezes provoca a
manipulação da opinião pública e consequentemente colabora com a execração do
suposto autor do facto delituoso48, situação essa que desrespeita completamente as
vertentes do princípio da presunção de inocência.
42
MELLO, Carla Gomes de. Mídia e Crime: Liberdade de Informação Jornalística e Presunção de
Inocência. Revista de Direito Público, Londrina, v. 5, n. 2, ago. 2010. Disponível
em:http://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/texto.asp . Acesso em: 10 de Março de 2015. 50 A
colisão típica é aquela em que a esfera de protecção de um direito é constitucionalmente protegida em
termos de intersectar a esfera de outro direito ou de colidir com uma outra norma ou principio
constitucional. Ex: A midia no seu dever de informar divulgar imagens e nome de um cadastrado
perigoso, que já foi julgado e condenado por pratica de vários crimes.
31
Este imperativo é anunciado pela CRM quando do nº 2 do art. 56.º, consagra que
«O exercício dos direitos e liberdades pode ser limitados em razão da salvaguarda de
outros direitos ou interesses protegidos pela constituição» - é o tal princípio da
proporcionalidade no exercício dos direitos e liberdades fundamentais.
O mais interessante para o tema em análise, é que ainda na óptica dos deveres
dos jornalistas, a al.f) do art. 28.º prescreve que como um dos deveresdos jornalistas,
“Repudiar o plágio, a calúnia, a difamação, a mentira, a acusação sem provas, a
injúria e a viciação de documentos”. Interessa para nosso trabalho o sublinhado
(acusação sem provas), este é um nítido parâmetro adequado para evitar que a liberdade
de imprensa colide com a presunção de inocência, porque como acima analisamos, a
presunção de inocência significa que ninguém pode ser considerado culpado sem uma
sentença condenatória transitada em julgado, o que equivale ainda dizer que, sem que se
reúnam provas suficientes para sustentar a indiciação de um certo individuo pela pratica
de um delito penal não se pode afirmar que tal individuo seja culpado. Portanto, apesar
do papel importante que tem a imprensa na materialização dos direitos individuais e
32
colectivos consagrados na lei fundamental43, deve se abster de acusar sem provas ou
expor as imagens das pessoas que ainda estão sendo investigadas.
1. O retracto de uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido no comercio sem o
consentimento dela (…);
2. Não é necessário o consentimento da pessoa retratada quando assim
justifiquem, a notoriedade, o cargo que a pessoa desempenhe, exigência de
policia ou de justiça, finalidade cientifica, (…) ou quando a reprodução da
imagem vier enquadrada na de lugares públicos, ou na de factos de interesse
publico ou que hajam decorrido publicamente,
3. O retracto não pode, porem, ser reproduzido, exposto ou lançado no comercio,
se do facto resultar o prejuízo para a honra, a reputação ou simples decoro da
pessoa retratada.
43
Neste sentido, o ANTEPROJECTO DE REVISÃO DA LEI DE IMPRENSA (Revisão pontual da Lei
n.º18/91, de 10 de Agosto).
33
exibição ser necessária para (ii) exigências de polícia ou de justiça, (…) ou (iii) na de
factos de interesse público ou que hajam decorrido publicamente. Ou seja: pode ser
proibido tudo o que não tenha sido autorizado e não seja necessário à administração da
justiça ou à manutenção da ordem pública na sua leitura mais óbvia. Portanto, a norma
não resiste a um sopro de bom direito. Impõem-se, assim, algumas observações.
Como se vê, os critérios empregados pelo Código Civil não encontram qualquer
amparo constitucional e, na prática, acabam servindo de escudo para a imprensa
irresponsável que a procura de audiência e lucro, sob pretexto exigência da polícia ou da
justiça, ou mesmo do interesse publico, julga pessoas indiciadas de prática de um delito
criminal, expõe sem mascara nem maquilhagem a sua imagem, comprometendo desse
jeito a sua honra e o bom nome.
“O artigo 20 do novo Código Civil44, que representa uma ponderação de interesses por
parte do legislador, é desarrazoado, porque valora bens constitucionais de modo
contrário aos valores subjacentes à Constituição. A opção do legislador, tomada de
44
Lê-se art. 79º do Código Civil Moçambicano.
34
modo apriorístico e desconsiderando o bem constitucional de presunção de inocência,
por uma lado, e da liberdade de imprensa por outro lado, pode e deve ser afastada pela
interpretação constitucional. 45”
Posto isso, conclui-se que, a única forma de fazer o art.º 79 do CC conviver com
o sistema constitucional, seria entender que: ao contrário do que se poderia parecer em
uma primeira leitura, a divulgação de informações verdadeiras e obtidas licitamente sem
intersectar os direitos individuais e garantias constitucionais (incluindo a presunção de
inocência) sempre se presume necessária ao interesse público ou mesmo exigências de
polícia ou de justiça, caso não se entenda o dispositivo dessa forma, não poderá ele
subsistir validamente.
Dai decorrer a confusão por parte da imprensa, alias, essa confusão foi notória
quando o Presidente da República solicitou, em 13 de Junho de 2007, ao Conselho
Constitucional a fiscalização preventiva, por impulso das organizações MISA
Moçambique, Fórum Nacional de Editores e Sindicado Nacional de Jornalistas,
representando os jornalistas moçambicanos, manifestando a sua preocupação em relação
45
CARVALHO,Luis Gustavo Grandinetti Castanho de: Colisão entre Liberdade de Expressão e Direitos
da Personalidade. Critérios de Ponderação. Interpretação Constitucionalmente adequada do Código
Civil e da Lei de Imprensa: Disponível em: http://www.verbojuridico.com.br/ doutrina/texto.asp .
Acessadoem: 12 de Março de 2015.
46
Opcit: João Trindande& Luís Mondlane: Apontamentos de Direito Processual Penal 1994/95.
35
ao conteúdo do nº 2 do art.º 13 da LOTJ, alegando que tal ignora o princípio de
publicidade das audiências em processo criminal e o direito dos cidadãos à informação,
estabelecidos no nº 2 do artigo 65 e nº 1 do art. 48.º, ambos da Constituição da
República).47
Ora, importante é, perceber que este princípio diz respeito à fase do julgamento,
mas deve ceder espaço, em certos casos, ao segredo, ao oculto. O sigilo em si mesmo,
não significa uma burla ao Estado Democrático de Direito, mas sim, sua imposição
abusiva, sem nenhum fundamento no interesse publico ou social, ou em outro valor
constitucionalmente relevante.
47
V. g. Acórdão nº 3/CC/2007 de 23 de Julho, Conselho Constitucional: República de Moçambique.
Processo nº 07/CC/07
48
CASTRO, João e Sousa: A tramitação do Processo Penal, Coimbra editora, P. 194.
57
MOREIRA, Vital. O Direito de Resposta na Comunicação Social. Coimbra: Coimbra
Editora, 1994, p. 09.
36
No nosso direito pátrio, o regime jurídico do direito de resposta encontra-se
consagrado nos arts. 33º e 34º da Lei 18/91 de 10 de Agosto, que em suma prescreve:”
“O direito de resposta assiste a toda a pessoa singular ou colectiva ou organismo público
que se considere lesado pela publicação, transmissão radiodifundida ou televisiva, de
referências inverídicas ou erróneas susceptíveis de afectar a integridade moral e o bom
nome do cidadão ou da instituição, o seu exercício deve ser feito dentro do prazo de 90
dias, conforme os termos referidos no artigo 33: Com a publicação da resposta,
desmentido ou rectificação, dentro de dois números a contar da sua recepção, no mesmo
período, no mesmo lugar e com igual relevo ao do escrito que lhe deu causa, ou na sua
difusão na mesma emissora, programa e horário em que foi divulgada a transmissão que
lhe deu causa; A publicação ou difusão é feita de uma só vez, sem interpelação nem
interrupção, e é gratuita; O conteúdo da resposta é limitado pela relação directa e útil
com o conteúdo da publicação ou difusão que lhe deu causa, não devendo exceder a
extensão do escrito ou emissão a que responde, nem conter expressões desprimorosas ou
que envolvam responsabilidade civil ou criminal, a qual, em todo o caso, só ao autor da
resposta poderá ser exigida.”
Atento a este dispositivo legal, inequivocamente constata-se que o direito de
resposta é um direito de interesse pessoal no que diz respeito à defesa da honra, imagem
e reputação. E, ele deve ser considerado um verdadeiro estado de legítima defesa, pois o
ofendido age imediatamente, antes que o dano da ofensa cause males maiores.49
49
Neste sentido, JORGE MIRANDA, op. cit., p. 559.
50
NOBRE, Freitas. Comentários à Lei de Imprensa. 3a ed. São Paulo: Saraiva, 1985.
37
Forçoso é, admitir que o direito de resposta, integrante do direito de informação,
é um instrumento capaz de solucionar o problema da violação do direito à imagem, à
honra e o bom nome dos indivíduos na hipótese da colisão da liberdade de imprensa
com a presunção de inocência por razões fáceis de depreender: Primeiro porque
observa-se, uma “visão rasa” a respeito da utilidade do instituto. Considerando que, o
acesso ao direito de resposta ficara restrito àqueles que foram directamente ofendidos.
Mas considerando-se, que o direito de informação importa no direito à informação
verdadeira, e que esta constitui um direito difuso da sociedade, urge repensar o instituto
de forma mais ampla, de modo que, qualquer legitimado com o fim de preservar a
verdade de um fato possa exercer este direito difuso, (não cingindo-se apenas aos
herdeiros ou cônjuge da pessoa directamente ofendida).
38
tem interferido na resolução deste tipo de problemas. Portanto, este facto tem servido de
um estímulo para que a Media continue a ofender a honra das pessoas.
Sem perceber de vista que na fixação do montante indemnizatório por danos não
patrimoniais deve se ter como guia que orienta a mente do juiz na aplicação do critério
da equidade o princípio da dignidade da pessoa humana, de modo que não se atribua
indemnizações que possam levar a concepção que há pessoas sem valor algum.52
Há situações em que, temos dano não patrimonial indirecto nas situações em que
o mesmo facto é susceptível de provocar danos de duas espécies patrimonial e não
patrimonial, devendo nestas situações a reparação abranger a um aspecto duplo: a
compensação do puro dano não patrimonial acrescida da indemnização dos reflexos
matérias ou seja dos danos patrimoniais causados53. Por exemplo da publicação de uma
51
Mas aprofundado sobre bens jurídicos não patrimoniais; COSTA, Mário Júlio de Almeida, direito das
obrigações, 9 edição, Almeidina, pág. 543
52
RANGEL, Rui Manuel de Freitas, A reparação judicial dos danos na responsabilidade civil, 3ª edição,
Almeidina, pág. 205
53
MarioJulio de Almeida: Direito das obrigações, 9ª edição Almeidina, pag.544
39
notícia acusando uma pessoa de prática de um crime de furto ou de abuso de confiança,
podem resultar não só o sofrimento morais à vítima, mas também podem ocasionar
perdas económicas pela diminuição de oportunidades do emprego ou ainda um desgosto
que leva a um estado depressivo e uma consequente paralisação do trabalho.
54
Veja-se o nº 2, art. 42 da Lei da 18/81 de 10 de Agosto.
55
MIRANDA, op. cit., p. 270
40
a) Quando tratando-se de particulares a imputação haja sido feita sem que o
interesse publico ou interesse legitimo do ofensor justificassem a sua
divulgação;
b) Quando tais factos respeitem a vida privada ou familiar do difamado;
c) Quando for imputado a pessoa particular ou servidor público, fora do
exercício das suas funções um facto criminoso sobre que houver condenação
ainda não cumprida, ou acusação pendente em juízo, mais em um e outro
caso será unicamente admissível a prova resultante da sentença em juízo
criminal, passada em julgado;
d) No caso da acusação estar pendente em juízo, sobrestar-se-á no processo por
difamação ate final da decisão sobre o facto criminoso, nos termos do n.º 1
do artigo 230 do CP.
56
É o que se pode depreender da leitura do art.º 230 do CP.
57
O mesmo que sucede no direito penal comum, arts. 20 a 22 do CP.
41
5. CONCLUSÃO E SUGESTÕES
5.1.CONCLUSÃO
Neste trabalho, dedicou-se a abordar sobre um dos mais activos e sensível tema
de Direito, que merece maior reflecção – o da violação dos direitos de personalidade por
consequência da colisão da Liberdade de imprensa com o da presunção de inocência.
Seria mais prático e flexível, tratar o assunto de uma forma generalizada, seja,
falar superficialmente do problema da violação dos direitos à imagem, à honra e ao bom
nome pela imprensa, no exercício despreocupado da sua liberdade, aliás, argumentos
não nos faltariam para o efeito, porque este é um assunto de debate em vários fóruns de
Direito desde a emergência das sociedades modernas e democratizadas.
Mas também foi dito que, quanto aos danos resultantes desta colisão, existem no
nosso ordenamentos jurídicos instrumentos jurídicos capazes de no mínimo amenizar o
problema, mas que, o sistema da justiça nacional não tem se preocupado com o assunto,
foi dai que chamamos a responsabilidade civil por danos não patrimoniais.
42
tipos “Injúria” ou “Difamação”. O estudo ateve-se somente às matérias criminais, pois é
por meio delas que se pode imputar falso crime às pessoas abalando, consequentemente,
a presunção de que as mesmas são inocentes.
58
É o EXEMPLO o programa que passa aos sábados na Televisão Miramar em simultâneo com a Radio
da mesma emissora, intitulada de “Balanço Geral Casos de Policia”.
43
5.2.SUGESTÕES
Por sua vez, espera-se que o Poder Judiciário, possa cumprir com o seu papel,
estabelecendo, dentro do que existe na Constituição da República, Código Civil e
Código Penal, as devidas punições daqueles que teimam em ofender a dignidade da
pessoa humana do investigado, rumo a uma sociedade mais humana, ética, solidária e
protectora dos direitos, garantias e dignidade da pessoa humana e, com isso, lutar-se
para a concretização do almejado Estado de Direito e democrático preocupado com o
bem estar social.
44
6. BIBLIOGRAFIA
LEGISLAÇÃO
45
Legislação Complementar, Maputo, 2000, Reimpressão
Declaração Universal dos Direitos dos Homens.
• Carta Africana dos Direitos Do Homem e do Povo.
• Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP);
SITIOS DA INTERNET
• http// :www.govnet.gov.mz
• http// :www.oam.org
• http// :www.ldh.mz
• http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/60a540df07
1bb0a7802572e50037dff6?OpenDocument&Highlight=0,omiss%C3%A3o,i
mpura.
• http//. www.revistas.unifacs.br
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