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“QUEM É O DIABO PERTO DO HOMEM QUE MATOU EM

NOME DE DEUS?”
(CORUJA BC1)

“DEUS, POR QUE QUE A VIDA É TÃO AMARGA, NA TERRA QUE


É CASA DA CANA DE AÇUCAE”
(EMICIDA)

“O SORRISO AINDA É A ÚNICA LÍNGUA QUE TODOS


ENTENDEM.”
(EMICIDA)
DEDICATÓRIA

Dedico este livros as minhas mães. Sim, mães no


plural. Por terem me criado e me tornado a pessoa que
sou hoje. Eu sou um conjunto de fragmentos vossos: Ana
Carneiro, Arlete de Jesus, Ana de Almeida e Florinda
Francisco.
PREFÁCIO
Quando eu era pequena meu pai me dizia ”Deus é Africano”. Quando eu
cresci descobri que essa foi a mentira mais antiga do mundo. mais antiga
que a escuridão e o tempo. Homens mataram-se para governar o mundo e
no final quem chegamos a conclusão que quem governa o mundo é a
fome e a seca, é o ódio e a dor, é o remorso e a perda. O mundo tornou-se
um conjunto de nadas que somando não resulta em nada, apenas no
vazio. O mundo já não faz sentido e tudo virou uma incerteza mas uma
certeza eu tenho. “Deus não é Africano.” Essa é a história de áfrica um ano
depois de tudo que você se lembra.
CAPÍTULO UM
Já carreguei pedras em meu colo, armas em minha mão. Mas
nada se compara ao peso do mundo que carrego nas costas. A coisa
mais fácil do mundo é respirar. Eu acreditava nisso mas actualmente a
coisa mais difícil pra mim é respirar pois eu sinto o mundo me sufocar,
o mundo estendeu suas mãos nuas entre a minha garganta e apertou
ela com toda força que respirar se tornou a coisa mais difícil pra mim.
Faz um ano que aconteceu a maior guerras da história, homens e
mulheres inocentes me seguiram pois acharam que eu lhes levaria a
glória. Acharam que os deuses estavam do meu lado e no final
descobrimos que não. Inocentes morreram em uma luta com a
esperança de uma vida melhor. mas foi tudo invão. A África branca foi
engolida pelo oceano e os deuses não nos avisaram, nem os ancestrais.
Eles nos guiaram para uma guerra que desde o começo sabiam que nós
tinhamos perdido. Eles nos deram esperança mas no final sabiam que
era tudo uma ilusão. Nós lutamos pelo liquido preciso e no final
dscobrimos que ele não existe. Por quê os deuses não nos disseram
desde o começo que o outro lado já não existe? O nosso lado só não foi
engolido por causa do grande muro contruido por homens há anos
atrás. Ou seja, nós não devemos nada aos deuses.
Nenhum outro aldeão cofiança nos orixás mais. todos perderam
sua fé. Para piorar, nenum aldeão quer saber de mim. Todos me
odeiam e me culpam por tudo pois eu sou a filha de xangô, a suposta
escolhida por ele para trazer justiça ao nosso povo mas no final o que
eu trouxe foi apenas morte.
Seis meses depois da batalha ter terminado a fonte do grande
reino secou de vez. A sede aumentou, a fome aumentou. Crianças e
idosos não conseguiram aguentar por muito tempo e morreram. eu me
culpo por todas essas mortes e a culpa pesa. Agora eu carrego o peso
da culpa e o peso do mundo nas costas. Eu pareço viva mas estou
morta por dentro.
Pensamentos como esse correm pela minha cabeça enquanto eu
sinto o vento tocar meu rosto e minhas tranças flutuarem com a força
do vento. O sol está se pôr, a ilumunação do pôr do sol deixam o brilho
de meus olhos no chão. Estou sentada entre uma montanha pois a vista
daqui é a melhor do mundo. Consigo enxergar o pouco da natureza que
ainda resta. Eu sei que em breve ela vai sumir, sinto isso nos meus
lábios secos que se podessem falar por conta própria gritariam de
aflição. Sinto isso na minha pele desedratada e no meu corpo fraco.
Mas mesmo assim ficar no topo da montanha a ver aquele pôr do sol
lindo. me fez pensar que valeu a pena ter nascido.
Arrastei minhas mãos pelas pedras na chão até alcançar o Oxê.
Segurei-o forte e levei ele para perto de meu rosto e só conseguia me
perguntar: por que eu ainda estou com ele? Por que ainda não deitei-o
fora? Aquele machado só me trazia más memórias e as memórias nos
destroem.
Ouvi barulhos de pedras a cairem. Como se alguém estivesse a
tentar subir a montanha. Nem me dei o trabalho de olhar para atrás se
fosse um animal faminto prestes a me devorar me fazia um grande
favor.
“Afro!” disse uma voz atrás de mim enquanto se aproximava aos
poucos. Eu reconheci a voz, era meu tio. Eu nem me dei o trabalho de
virar ele se aproximou e sentou do meu lado esquerdo. “procurei por ti
o dia todo.”E eu com isso?” Pensei. Olhava para o pôr do sol enquanto ele
falava, olhei pra baixo e vi a distância então pensei: se eu me jogar daqui todo
esse peso acaba não? Meu tio não parava de falar. meus pensamentos
falavam mais alto que ele mas eu ouvi as últimas palavras que saíram
da sua boca.”ele quer falar contigo antes de morrer Afro”.
“o quê, quem?” virei o rosto na direcção dele, meu olhar de
preocupada não combinava com o meu rosto seco e pálido.
“o ancião, ele já não tem muito tempo.” Eu sabia que o ancião
estava muito doente. Não sei se é da fome ou da sede. Mas ele estava
muito fraco, nem Ossaim pode curar ele. Tentamos com todos as folhas
medicinais oferecidas pela natureza mas nada resultou.
Levantei-me com pressa, meu tio também. Comecei a andar
quando meu tio me segurou pelo braço.
“Afro!”.
“o que foi?”.
“não estás a esquecer de nada?” olhei para o chão e reparei que
ele estava a falar do oxê. Suspirei e voltei para pega-lo.
“satisfeito?” falei enquanto saia do local. Coloquei o oxê entre as
costas e comecei a descer a montanha, o topo era tão distante que
quando chegamos a superficie o sol já tinha terminado de se pôr e a
noite veio junto com a lua.
Caminhamos em silêncio durante um bom tempo. Eu não queria
conversar e estava a torcer para ele não puxar assunto.
“você não é a culpada!” olhei para ele. É fácil dizer que não sou a culpada
quando não carrregas esse peso todo nas costas. pensei. Mas não podia continuar
em silêncio então falei.
“ o ancião está a morrer e eu poderia ter impedido isso. Eu sou a
culpada.” Olhei para ele e do nada as palavras sairam da minha boca.
“você não entende esse peso tio.” Ele olhou para mim e suspirou.
“você sabe quantos homens eu perdi em batalha enquanto eu
liderava? Você sabe quantos homens morreram em treinamentos que
eu próprio realizei?” ele parou de andar e pegou no meu ombro me
fanzendo parar também. “olha pra mim!” olhei para ele vi o seu rosto
pálido e seus lábios secos como os meus”cada soldado que morreu
naquela batalha morreu por conta própria, pois, ninguém obrigou-os a
lutar eles lutaram para salvar seu povo. A seca não foi você que trouxe
para nossas vidas, ela começou bem antes de você nascer!” tentei
baixar o rosto mas ele segurou meu queixo e levou-o pra cima:” olha
pra mim!” eu olhei.”guerreiros não morrem quando uma faca atravessa
seu coração. Gurreiros morrem quando seus pensamentos destroem
você.” Ele tinha razão. é assim que eu me sintia, Morta.
Caminhamos até a aldeia. Não tinhamos homens a guardarem os
portões pois já ninguém tinha tanta froça para ficar em pé. Quando
atravessamos os portões da aldeia aqueles olhares voltaram a surgir.
Olhares de desilusão, ódio, raiva, desperezo. Os comentários em voz
baixa começaram. Eu era vista como uma maldição naquele local que
outrora era visto como minha casa. Por vezes eu só quero desaparecer
daqui, o povo que antes me amava agora me odeia com todas as forças.
Continuei com a cabeça erguida e segui em frente como fiz
sempre durante esse tempo todo. Fingir que não estou a ouvir por
vezes ajudava.
Chegamos a casa do ancião. Entramos sem sequer bater palmas
pois ele já nem tinha força de permitir nossa entrada. Ele estava
deitado em uma colchão com lençóis brancos sujos. A volta dele
estavam dois homens, uma Mulher e uma menina que me parecia ter
uns quinze e poucos anos de idade. Ela usava o cabelo crespo e negros
como o seu tom de pele. Vestia um traje preto e vermelho como é
habitual em nossa aldeia.
“Sikamene!” disse meu tio.
“Sikamene!” responderam todos a volta do ancião. Eu me
aproximei mais vi ele estendido se esforçando para olhar para mim.
“Afro!” disse o ancião com a voz morta. Ele estendeu sua mão em
minha direcção e fez um sinal para eu me aproximar. Caminhei para
perto dele me ajoelhei e segurei as mãos dele. “teus olhos ainda
brilham, enquanto brilharem haverá esperança.” Ele apertou a palma
da minha mão na dele. “eu não tenho muito tempo, mas me prometa
que você nunca vai deixar de confiar nos orixás”.
“eles nos abandonaram!”.
“nunca, xangô não te daria este poder para nos abandonar assim”
“então por quê eles não nos estão a ajudar agora?”
“sinceramente eu não sei filha, mas todos os meus anos como
ancião eu aprendi que os orixás são bons. Nem todos, mas na sua
maioria e xangô é um dos bons. Continue a confiar neles Afro, continue
a…”
ele parou de falar seus olhos ainda estavam abertos mas senti
suas mãos deixarem de segurar firmemente a minha.
“Ngana!Ngala!Ngana!” eu gritava enquanto sacudia ele mas ele
não respondia. Meu tio me puxou daí e me levou para fora.
“ele se foi Afro.” Comecei a chora e não conseguia falar sem
gritar.
“por minha culpa, mas um que morreu por minha culpa!”
coloquei a palma da mão na boca para tentar conter meus gritos sentei
no chão e comecei a chorar. Meu tio ajoelhou e me abroçou.
“vai, chora! vai te fazer bem.” E eu chorei, eu chorei como nunca
tinha chorado antes. Eu já não tinha forças para nada a não ser para
chorar. Já perdi muitas pessoas, pessoas que amei e a dor é
insuportável.
Depois de alguns minutos me concentrei e limpei minhas
lágrimas.
“e agora, vamos ficar sem ancião?”
“não!” respondeu a menina que estava dentro da barraca do
ancião com a gente. “eu serei a nova anciã, quer dizer ainda preciso
aprender muita coisa mas eu fui a escolhida pelo Ngana.” Limpei
minhas lágrimas mais uma vez e levantei.
“venha!” chamei a menina. Ela se aproximou. “espero que
consigas manter o legado dele vivo”. Ela sorriu.
“é uma honra ouvir isso da filha de xangô!”. Segurei a cabeça dela
com carinho.
“meu nome é Afro e não filha de xangô!” coloquei um sorriso leve
entre os dentes para não soar agressiva. Me virei e me retirei do local
deixando ela e meu tio lá.
Comecei a caminhar em direcção a minha casa. Minha cabeça não
estava no lugar panquei em alguém e essa pessoa me empurrou e eu
caí no chão de costas.
“Bruxa!” disse a mulher que me empurrou para o chão. Não
revidei. Levantei e continuei a andar. Cheguei em casa, entrei. Estava
meu pai e minha mãe deitados na sala com vela acesa no meio do chão.
Os dois estavam com suas roupas de dormir totalmente brancas e
cobriam o corpo todo com excepção da cabeça.
“Filha, tudo bem?” perguntou minha mãe.
“o Ngana morreu!” comecei a chorar após proferir aquelas
palavras. Minha mãe e meu pai se levantaram e me abraçaram.
“não chores minha pequena guerreira.” Disse meu pai. Ele já me
considerava uma guerreira. Meu pai e minha mãe me dizem sempre
para ignorar as pessoas pois elas não entendem o quanto eu quero o
bem delas.
“eu preciso ir.” Disse meu pai.
“ir para onde?” perguntei.
“o corpo do ancião não pode ficar aí por muito tempo.
Precisamos fazer o ritual de enterro ainda hoje.” Disse meu pai.
“eu posso ir?” perguntei.
“não, esse povo já tem falado coisas de mais. melhor ficares aqui
em casa com a tua mãe.”
“teu pai tem razão filha. Tua presença lá não vai ajudar em muita
coisa”. Fiz que sim com a cabeça. Meu pai se preparava para sair.
“Kanina” disse meu pai.
“Kanina” respondemos eu e minha mãe. Ele saiu, minha cabeça
estava a doer. Eu precisava descansar.
“você quer conversar?” perguntou minha mãe.
“não, eu preciso dormir”.
“está bem filha.” Caminhei para o meu quarto, me joguei na cama
e fechei os olhos.
CAPÍTULO DOIS
Escuridão. me lembro dessa sensação, me lembro desse lugar frio
e escuro. Não precisava me questionar pois eu sabia muito bem onde
eu estava. A escuridão a minha volta, apenas os meus olhos
iluminavam aquele lugar. Senti alguém segurar meu braço.
“Afro!” era minha avô. Me virei e fiquei de frente pra ela naquele
local escuro e vázio apenas estavamos as duas.
“Avô?” perguntei enquanto olhava para ela.
“Eu tenho uma mensagem para você. Pequena Afro.” Puxei o meu
braço que estava preso entre seus dedos e me libertei.
“Mensagem? Eu não quero saber de nenhuma mensagem!”.
“Afro, a sabedoria está…”.
“não me venhas com essa da sabedoria estar no silêncio!” gritei.
Minha voz carregava toda minha raiva, era como se eu tirasse a raiva
toda pra fora por intermédio da voz mas mesmo assim eu não
consiguia conter as lágrimas em meus olhos.” Da última vez eu fiquei
em silêncio! Não fiquei?! Eu ouvi tudo e fiz tudo que vocês me
disserarm mas vocês mentiram para mim e eu levei inocentes a
morte!”.
“Afro, filha eu…”.
“para! Chega! Eu não quero te ouvir,eu quero acordar! Eu quero
acordar agora!”.
Despertei na cama. Minha respiração estava ofegante como se
alguém estivesse me asfixiando. Comecei a respirar fundo, fiquei
sentada por um bom tempo. Sentia o suor cair pelo meu rosto como
lágrimas que caíem dos olhos.
Minha mãe entrou no quarto assustada.
“Afro, o que se passa você está bem?” ela me abraçou e começou
a apalpar meu rosto como se estivesse a procura de alguma ferida em
mim. “eu ouvi você gritar. O que houve?”.
“Nada mãe, eu estou bem foi só um pesadeleo”.
“Você tem certeza?”
“sim eu tenho, eu estou bem.” Minha mãe beijou minha testa e se
retirou do meu quarto. Não consegui voltar a dormir, eu não sei o que
os ancestrais queriam comigo agora mas eu também não quero saber.
Eu quero distância deles.
Na manhã seguinte, acordei mas com muito sono pois me
esforcei muito para não voltar a dormir depois daquele sonho. Mas
desisti de resistir ao sono e depois de algumas horas voltei a dormir.
Minha mãe estava na sala a se preparar para sair.
“vamos Afro, não temos muito tempo.” Olhei para ela sem
entender do que ela falava.
“tempo para quê?” perguntei.
“hoje é dia de destribuição, esqueceu?” eu estava nem aí para
isso. Depois da batalha do grande reino a água que sobrou trouxemos
para as aldeias e dividimos ela. Como forma de poupar a água para
nossa sobrevivência meu pai arranjou um dia de uma em uma semana
que nós possamos beber, ele despeja a água na palma da nossa mão,
em apenas uma das mão e nós bebemos. Depois esperamos a outra
semana para poder voltar a beber. Isso ajudou muitos a sobreviverem
até agora mas os velhos e as crianças não resistem e acabam por
morrer e como se não bastasse o nosso estoque de água também está
no fim. Daqui há umas duas semanas ele acaba e todos vamos morrer,
não importa a idade.
“eu não vou, dá última vez todos se revoltaram por eu estar lá”.
“Afro, se não fosse por você nem está água que restou nós
teriamos. Quem tentar dizer alguma coisa sequer vai se arrepender
pelo resto da vida pois conhecerá a fúria de uma mãe.” Olhei para ela.
Tentei sorrir mas o sorriso era pesado e meus lábios não conseguiam
ergue-lo. “vamos!” ela me puxou pelo braço. Saímo de casa e
começamos a caminhar pela aldeia. Estava um dia de sol, todos os
aldeiões olhavam para nós mas nenhum conseguia fazer comentários.
Isso acontecia sempre que minha mãe ou meu pai ficavam perto de
mim. Chegamos até uma coluna de fila enorme que as pessoas fizeram
para poder beber a água. Minha mãe ficou atrás de mim e me segurou
pelos ombros. As pessoas naquela fila olhavam para mim mas
nenhuma conseguia soltar um comentário sequer.
Ficamos um bom tempo naquela coluna de pessoas até que
finalmente chegou nossa vez. Meu pai olhou para nós e sorriu.
Despejou água na palma da minha mão e eu bebi. A sensação foi
incrivel, eu conseguia sentir o gosto daquele líquido dominar meu
corpo todo mas apenas por uns instantes. Eu queria mais, eu queria
saborear ela para sempre pois meu corpo pedia por isso. Eu mataria
por isso, eu atravessava o mundo inteiro só para poder beber este
liquido para sempre.
Me retirei do local e deixei minha mãe lá. Eu sabia que a ideia não
era das melhores: caminhar pela aldeia sem minha mãe por perto mas
eu não preciso disso no momento. Se me deixar pra baixo faria eles
felizes então que seja. Foi sempre isso que eu quis, felicidade para
todos os aldeiões.
Voltei para casa. Entrei e me instalei no meu quarto, vi o oxê
estendido no chão, lembrei do esfroço que tive para obter ele e no final
parece que foi tudo invão. Pensamentos como este corriam pela minha
cabeça enquanto eu sentava na cama. Eu estava cansada, lutei muito
para ficar acordada no dia de ontem. o sono estava a dominar meu
corpo enquanto o sol ainda estava estável.
Meu corpo não obdecia meu comandos então deitei-me na cama
e fechei os olhos.
Meus olhos se abriram. Foi como piscar para mim. Em um
momento eu estava acordada e em um piscar de olhos eu estva de volta
a este lugar escuro e silêncioso. Não sei como minha avô ainda terá
coragem de insitir, eu não vou ouvir ela de novo. Atrás de mim ouvi
uma voz chamar pelo meu nome.
“Afro!” eu reconheci aquela voz. meu corpo começou a tremer,
meu coração quase saltava de dentro do meu peito. Virei devagar e vi
ele. Em pé na minha frente.
“Kellan! és mesmo tu?” perguntei perplexa. Eu não acreditava no
que os meus olhos viam.
“sim, sou eu.” Respondeu ele com aquele sorriso no rosto. Ele se
aproximou de mim, chegou o mais perto possivel.
“então eles decidiram enviar você para me convencer?” ele sorriu
de novo.
“não, fui eu que sugeri e eles aceitaram”. Ele não conseguia olhar
para o meu rosto. Pelos vistos nem depois da morte a cegueira some. “
a pergunta que não quer se calar é: você estará disposta a me ouvir?”.
“sempre!” respondi.
“Eu acredito que as perguntas são mais importantes que as
respostas. Para cada pergunta existe uma respostas, para cada
resposta existem mil perguntas.” Depois dele ter dito aquilo eu sabia
de certeza que aquele era mesmo o kellan. “então eu sugiro que
comeces com as perguntas, eu darei a resposta e tu farás mais mil
perguntas com base as minhas respostas”.
“por que os ancestrais me disseram para lutar até conseguir
chegar no outro lado visto que ele já não existe?”. Comecei por esta
pergunta.
“os ancestrais apenas reproduzem o que os orixás lhes
transmitem. Infelizmente xangô não conseguiu transmitir a mensagem
corretamente para os ancestrais.”
“como não, ele não tem poder suficiente para transmitir uma
mensagem simples?”.
“não, ele não tem. O mediador entre orum (céu) e a terra (aiê)
não é xangô, mas sim Exu. O mediador entre os vivos e os mortos não é
xangô ma sim Obaluaiê. Existe uma rivalidade actualmente em Orum,
entre Exu, Xangô e os demais orixás. Por isso xangô não consegue se
comunicar de maneira perfeita com a gente”.
“então por isso as mensagens sempre vinham incompletas?”.
“sim Afro.”
“deixa advinhar tem uma nova mensagem pra mim?”
“sim, você sabe da verdadeira história de xangô?”
“a lenda de sua origem?”
“sim, ela é real. Xangô foi um homem antes de se tornar orixá. Ele
era o rei de Oyó, governou durante anos o local. Certo dia a procura de
novas armas de conquista. O rei xangô pediu para que sua esposa.
Trouxesse uma poção mágica do reino dos baribas. Sua esposa na volta
pra casa curiosa ficou, decidiu exprimentar o líquido poderoso que
carregava na cabeça. Ela sentiu um gosto terrivel na boca e cuspiu a
poção. No entanto ao invés de cuspir o líquido ela soltou uma grande
labareda. Ao saber da novidade xangô queria a porção e a teve. xangô
empolgou-se com a nova arma e decidiu exercitar os poderes dela.
Enquanto xangô utilizava-a o povo ficava com medo do barulho e da
luz que ela emitia.. o barulho fciou conhecido como trovão e o brilho
como raio. Certo dia ele tentou testar o poder do fogo e acabou por se
auto-destruir. Ninguém encontrou seus restos mortais então toda vez
que os trovões e relâmpagos tomavam os céus. O povo de Oyé
lembrava que seu rei continuava vivo.” Eu já sabia dessa história toda
só não entendia onde ele queria chegar.”Afro, Oyé ainda existe. Oxum a
deusa das águas doces é uma das mulheres de xangô e como
recompensa por seu amor ela deixou uma fonte infinita de águas
instalada em Oyé. Você precisa chegar até lá pois só terá poder de abrir
a fonte quem primeiro sentar no trono de xangô”. Se isso for verdade,
quer dizer que o povo ainda tem uma chance de viver.
“e o que me garante que isso não é mais uma mensagem
incompleta? Será que Oyé existe mesmo?”.
“sim Afro, nós sabemos que a mensagem é real por um simples
motivo. Exu também está atrás do trono.”
“como assim? Ele em pessoa?”
“não afro, a verdade é que… tu não és a única a colidir sua alma
com a de um orixá. Existem mais dois de vocês: o filho de Exu e o filho
de Ogum. Sobre o filho de ogum não tenho muita infromação mas ele
está na terra, ele pode ser qualquer um, até mesmo alguém que você
conheça. seus olhos são azuis, ele almeja a guerra, seus braços são
feitos de ferro e ele toma banho com sangue de seus inimigos.” Era
muita informação para mim. Eu não conseguia gerir aquela informação
toda. “ quanto ao filho de exu nós sabemos que é uma menina, seus
olhos são castanhos, tal como exu ela é muito poderosa. Ela domina o
tempo, ela pode matar um passaro hoje com uma pedra que lançou
ontem. Ela sabe que tu sabes onde fica o trono então virá atrás de
você.”
“e se eu não conseguir? E se eles chegarem ao trono primeiro? E
se…”
“shiiih!” kellan colocou seus dedos entre seus lábios e fez tal
barulho que do nada me fez calar. “não duvides de ti, Afro. Você fez um
monte de perguntas ao longo da nossa conversa. Mas existe uma
pergunta que antes não tinha resposta alguma. Mas agora eu tenho.”
“qual pergunta?”.
“a vida! A vida é uma pergunta e tu és a resposta.” Meus olhos
brilhavam, faz tempo que eu não sentia eles assim. Eu queria tocá-lo
mas estava com medo de não poder senti-lo. Ele se aproximou mais e
colocou sua mão nua em minha bochecha esquerda.
“ eu descobri que o amor é palpável quando toquei em você.”
Disse Kellan. Eu conseguia sentir as mãos dele, eu conseguia sentir ele,
era tão real.
“você está mesmo aqui.” Ele sorriu. Tirou suas mãos e virou-se,
começou a caminhar para o escuro.”Amanhã eu vou dormir mais cedo
pra sonhar contigo!” ele virou-se e sorriu. Eu sorri também e pela
primeira vez em um ano eu sorri de verdade.
Acordei de novo com a respiração instável. Não sei por quê mas a
localização exacta de Oyé estava na minha mente. Será que Kellan
passou ela pra mim assim que me tocou? Eu não sei. Olhei para o oxê
no chão e naquele momento eu percebi o que tinha que fazer.
Peguei o oxê e coloquei entre as minhas costas preso. Saí de casa
e caminhei pelas ruas da aldeia, aqueles olhares de julgamento
voltaram-se pra mim outra vez. Parei no meio da vila, eu poderia
apenas sair daí e ir a procura de oyé mas algo me dizia que precisava
tirar tudo para fora.
“Por vezes eu me pergunto se vocês são perfeitos. Sim vocês que
estão a olhar pra mim nesse momento!” todos pararam seus afazeres e
prenderam seus olhares em mim. Quando dei por conta estava um
círculo de pessoas a minha volta.”vocêS jogaram o peso do mundo em
minhas costas como se eu fosse de ferro e poderia carregar ele. Não fui
eu que trouxe a seca para vossas vidas, eu apenas tentei acabar com
ela! Mas o que recebi em troca? Despreso, rejeição, ódio. Até parece
que só vocês sofrem com isso. Vocês não têm noção de como eu estou
destruida por dentro, me sinto vazia e inútil. eu grito por ajuda mas
ninguém me ouve, eu fico em silêncio mas até o meu silêncio é
barulhento e eu só queria que vocês ouvissem o que os meus silêncios
gritam!” eu não queria chorar, cansei de chorar mas eu precisava que
eles me ouvissem.”eu tive um sonho, falei com os ancestrais. E eles me
disseram que Oyé existe e existe uma fonte infinita de água dentro
dele. Eu não quero que vocês venham comigo eu vou partir sozinha
nessa missão mas saibam de algo, eu estou a fazer isso por vocês.
Mesmo depois de tudo que me fizeram passar vocês ainda são meu
povo e eu não consigo ver meu povo morrer!”. Ninguém respondia mas
notei o arrependimento nos olhos de cada um, cabeças baixadas e ros e
olhares de culpa.
“eu vou com você!” disse uma voz que se aproximou para o meio
perto de mim. Era meu tio. “tragam uma carruagem agora, isso é uma
ordem!”. Os homens de meu tio sairam atrás de uma carruagem.
“você tem a certeza tio?”
“sim, eu tenho pequena”. Minha mãe e meu pai tinham ouvido
tudo e se aproximaram de mim.
“antes que penses algo, quero que saibas que não vou impedir-te
para ficares. Eu estava errado esse tempo todo, mulheres podem ser
guerreiras e tu és a prova viva!” disse meu pai olhando seriamente
para mim. Caiu uma lágrima no meu olho esquerdo.”não chores filha”.
“eu choro sim. Chorar não me torna menos guerreira, me torna
humana!” respondi meu pai sem limpar as lágrimas. Vi o olhar de
orgulho no rosto de minha mãe, ela nem conseguia proferir palavras
mas o silêncio dela dizia muito.
Homens atravessaram o círculo de pessoas com uma carruagem
presa a um cavalo. A carruagem era aberta não tapava o sol e nem
impedia o vento. Os mesmos homens se aproximaram com mais dois
cavalos.
“Nós também vamos senhor!” disseram os dois guerreiros de
meu tio. Meu tio fez que sim com a cabeça. Os guerreiros subiram em
seus cavalos, meu tio subiu no cavalo preso a carruagem e eu subi na
carruagem. Minha mãe olhou para mim.
“Kiambote Lawu!” disse minha mãe. Olhei firmemente em seus
olhos e sorri.
“Kanina!” respondi. Meu tio deu partida no cavalo e eu sentei na
carruagem. Havia um monte de panos estendido no chão, senti-me
curiosa de destapa-lo mas quando dei por mim estavamos a sair da
aldeia e minha atenção virou-se para o mundo ao meu redor.
CAPÍTULO TRÊS
Fazia um bom tempo que cavalgavamos. Meu tio tinha
perguntado por onde seguiriamos eu havia respondido “aldeia 3” eu
não sabia o que encontraria pelo caminho, então, precisava de todo
apoio possivel e decidi começar pelas guerreiras mais forte da terra.
Mas para além disso eu também precisava ver minha melhor amiga.
Faz um bom tempo que não a vejo. Sinto saudades dela, melhores
amigos nunca deveriam ficar longe um do outro por muito tempo.
Enquanto caminhavamos minha atenção voltou-se para aquele
monte de pano branco estendido no chão da carruagem.
“Tio, o que tem por baixo destes panos?” meu tio olhou pra mim.
“Eu não sei, que tal destapares?” coloquei as mãos por cima do
pano. A curiosidade era maior que meu desejo por um litro de água.
Destapei o pano branco e finalmente descobri o que tinha por baixo
dele.
“O que você está a fazer aqui?” perguntei.
“Desculpa eu não queria ficar pra trás, eu posso ser útil.”
Respondeu a menina que substituiria o ancião.
“você é útil na aldeia, fazendo coisas que os aspirantes a ancião
fazem” ela se levantou e ficou sentada. Puxou dois garrafões debaixo
do pano.
“eu trouxe água!” disse ela enquanto mostrava os garrafões. Meu
tio parou o caválo e os outros dois cavalos também pararam.
“de onde você tirou essa água?” perguntei.
“da aldeia, eu roubei”.
“você é maluca?” perguntei espantada com a atitude dela.”você
tem noção de quantas pessoas precisam disto lá?”.
“Afro!” dizia meu tio tentando me fazr calar.
“você tem noção de quantas pessoas condenou a morte?!”.
“Afro, já chega!” disse meu tio.
“Ela precisa me ouvir!”. Respondi ao meu tio sem olhar pra ele.
“tu estás a sair para um missão, vais arriscar a tua vida para
salvar a de todas aquelas pessoas. Eu não acho justo você fazer isso e
eles não sacrificarem algo para ajudar você nesta luta.” Disse ela com
tom suave. Eu sei que ela tinha razão mas eu estava cansada de ser
vista como a pessoa que trouxe o mal para eles.”me diz Afro, tu lutas
pela justiça. mas o que é justiça para ti? Achas o que eles fazem contigo
justo? Ou a justiça não recaí a ti? Será que em um julgamento a justiça
só recaí aos queixosos? Quem luta pela justiça não tem direito a
justiça?” eram imensas questões que ela me fazia.
“Eu só quero que eles sobrevivam.” Respondi.
“então beba água e luta por eles”.
“você é muito pequena para proferir estas palavras tão sábias.”
ela sorriu pra mim e entregou um garrafão. Comecei a beber mas não
acabei ele, entreguei ao meu tio, ele bebeu e entregou para os seus
homens e eles também beberam.
“como você se chama?” perguntei para a menina.
“Gina.” Respondeu ela com um sorriso no rosto.”acho melhor não
usarmos o outro garrafão tão cedo.” Ela guardou a garrafa entre os
panos. Meu tio deu partida e voltamos a andar.
“ me conta,Gina. Como você foi escolhida para ser a sucessora do
ancião.” Perguntei com um tom amigável e leve.
“acho que melhor que eu o teu tio pode explicar.” Olhei para o
meu tio e ele começou a falar.
“bom, primeiramente saiba que Gina não nasceu em nossa aldeia.
Ela chegou nos portões da nossa aldeia quando ainda era pequena
tinha apenas dez anos”.
“ela está em nossa aldeia há cinco anos apenas?” perguntei.
“sim, ela estava perdida sem ninguém, com frio e muita sede. Eu
acolhi ela e levei até o ancião. Ele ficou espantado com a inteligência de
Gina e decidiu começar a treinar ela para lhe subistituir.” Me virei pra
Gina.
“e de onde você vem?”.
“aldeia 5.” Respondeu Gina.
“por quê você foi abandonada?” perguntei.
“em minha aldeia, o conhecimento é poder e infelizmente eu não
era tão inteligente como eles, minha mãe com vergonha do que o povo
falaria me abandonou na porta da vossa aldeia”. Ela me fazia lembrar o
bomá. Mas ela não estava nem um pouco revoltada pois contava sobre
si com um sorriso lindo no rosto.
“mas tu és inteligente.” Rebati.
“não, eu sou sábia. tudo que eu sei aprendi com a experiência ela
é a melhor professora. Eu não sei ler, todos em minha aldeia sabem, eu
não sei resolver um cálculo tão simples como achar a raíz quadrada de
quatro. Mas eu aprendo vendo os outros errarem e aprendo com meu
meus próprios erros.” Ela dizia sem parar de sorrir.
“então sábios, não sabem ler?” perguntei.
“não foi isso que eu disse. Homens Sábios podem ser inteligentes
mas nem sempre os inteligetes são sábios. Lembra da antiga rainha?
Sim, ela era inteligente mas não governava com sabedoria, um sábio
saberia o quanto a vida é difícil e velaria por ajudar todos de igual para
igual.” Ela tinha razão. Acho que estava a entender seu ponto de vista.
“ainda não entendi o que tu queres dizer.”
“eu vou explicar.” Disse ela em um tom irónico.”existem cabeças
cheias de conhecimento e cabeças feitas de conhecimento”.
“ o que isso quer dizer?” perguntei.
“cabeças cheias de conhecimento estão cheias de informações
retiradas de livros e outras fontes de aprendizagem mas o seu titular
não sabe usa-la da forma mais apropriada (este é inteligente) ele sabe
como acabar com a fome do mundo mas não acaba com ela mesmo
assim. Minha mãe me contou que homens antigos que governavam
africa eram muito inteligentes, tinham as melhores formações mas
ainda assim o mundo desabou pois eles tinham a cabeça cheia de
conhecimento mas não sabiam usar ela.” Ela suspirou.”cabeças feitas
de conhecimento estas têm um conhecimento organizado e usam ele
de forma organizada também.(este é o sábio) todo seu conhecimento
ele põe em prática e não para de aprender com a vida.” Ela Suspirou.
“se nossos antepassados que governaram esse lugar fossem sábios nós
não estariamos aqui a lutar por água.” Ela estava meio séria mas de um
momento para o outro voltou a sorrir como se tudo aquilo fizesse parte
da vida e o importante fosse seguir em frente sorrindo.
“você tem toda razão,Gina.” Gostaria de aprender muito mais
com você.
“eu adimiro muito você Afro. Por isso estou aqui. Desde o dia que vi
você lá na aldeia a quebrar o paradigma de que mulheres não podem
ser guerreiras, a lutar por justiça e igualdade, a liderar um exército de
homens e mulheres. Eu adimirei muito você e eu não poderia perder a
chance de fazer parter da história desta vez.” Coloquei as mãos na
cabeça dela e sorri.
“Não sei se mereço tudo isso mas está bem. Agora eu adimiro você
também, por tudo que você passou e superou.” Ela sorriu e me
abraçou. Fiquei meio assustada com aquele abraço eu não esperava
por ele.
“chegamos!” disse meu tio enquanto parava o cavalo. Olhei para frente
e vi que estavamos no portão da aldeia 3.descemos da carroagem
todos. No portão tinham duas guerreiras guardando ele.
“Chamem a líder!” gritou uma das guerreiras. Meu tio desceu de seu
cavalo ao mesmo tempo que o portão se abria.
“Tio, tu não poderás entrar então…”
“Ele pode entrar!” disse uma voz que me cortou bem antes de eu
terminar de falar. Era Ashia vestida com seu traje lilás que
representava as cores de sua aldeia. Seus cabelos afro cresceram ainda
mais.”Mas você… só se me dares um abraço muito forte.” Sorri e corri
pra perto dela. Abracei ela e ela me abrçou. “é tão bom voltar a ver
você depois de tanto tempo”.
“Também tive saudades sua idiota!” ela me empurrou pra trás e
sorriu. “como ousas chamar a líder da aldeia 3 de idiota? Você perdeu o
medo?”.
“pelas flechas de odé, você agora é a líder?!” perguntei
admirada.” Meus parabéns!” abracei ela de novo.
“venham, entrem!” entramos todos na aldeia. O lugar ainda
estava meio desmoronado, as guerreias estavam em treinamento como
de costume e eu só me perguntava se na aldeia 3 as pessoas também
me odeiam. Mas reparei que nenhuma delas olhava mal para mim, ou
seja todas estavam ocupadas em seus treinamentos. Caminhavamos
para o palácio da aldeia mas eu decidi parar pois eu não tinha muito
tempo.
“Ashia!” ela parou e olhou pra mim.”eu tenho duas questões,
primeira: por que meu tio pode entrar na aldeia visto que ele é um
homem?”.
“quando eu subi ao poder mudei as regras, eu sei que fui contra
costumes mas costumes errados não podem ser aplicados. Minha mãe
morreu por causa deste costume, eu coloquei um basta!”.
“que bom, e elas aceitaram?” indaguei.
“no começo não,mas com o passar do tempo notaram que já era
hora de inverter o quadro.” Ela olhou pra mim.” E qual é a outra
pergunta?”.
“eu quero saber se tu e as guerreiras de sua aldeia me apoiariam
em uma busca pelo trono de xangô”.
“isso não existe.” Disse Ashia despreocupada.
“eu também achava que não, mas eu sei exactamente onde ele
está”.
“deixa advinhar. Você sonhou de novo e a tua avó te contou essa
história! Me diz afro por que dessa vez a tua avó não está errada?”.
“porque não foi ela que colocou a localização em meus
pensamentos. Foi o Kellan” comecei a sorri e me aproximei dela.”Ashia
eu vi ele, eu falei com ele e até senti ele. Como se estivesse vivo de novo
e eu confio nele.” Ashia supirou.
“ por mais que eu queira eu não posso. Eu sou uma líder agora.
Minha aldeia depende de mim eu não posso largar tudo e correr
contigo pelo mundo”,
“mas você devia!”.
“por que?”.
“porque é isso que amigos fazem e tu és minha melhor amiga!”
“Afro eu não posso”.
“Tu estás a me deixar pra trás?”.
“eu não estou, eu só estou a dizer que há coisas mais importantes
agora!”.
“Primeiro a amizade depois a liderança, é assim que tinha que
ser.”
“Afro, tenta entender o meu lado. Eu preciso cuidar da minha
aldeia!”.
“mas eu preciso de ovcê agora Ashia. Amizades não são só rosas
mas espinhos também”.
“infelizmente eu não posso ir”. Me virei e comecei a
caminhar.”Afro!”. ignorei ela olhei para o meu tio.
“vamos!”. Os guerreiros junto com Gina começaram a me seguir
enquanto eu me retirava do local.
“Não importa o quão chateada estejas, ainda és a melhor e única
amiga que eu tenho!” parei de andar. Me virei e olhei pra ela eu queria
dizer “tu também” mas não conseguia pronunciar as palavras. Me virei
e continuei a andar.
Depois de algumas horas estavamos a caminhar para o sul. O sol
ainda batia forte em nossos rostos eu estava na carruagem com Gina,
meu tio e os outros guerreiros cavalgavam do nosso lado. Mas eu só
conseguia pensar nas últimas palavras de Ashia “Não importa o quão
chateada estejas, ainda és a melhor e única amiga que eu tenho.”
quando eu me virei eu quis tanto dizer “tu também” mas não consegui
eu queria voltar e pedir desculpas e dizer que entendo o ponto dela. A
aldeia dela é importante por isso ela não pode vir tal como o povo todo
pra mim é importante por isso eu estou a ir.
Estavamos quase a chegar em nosso proximo destino: a aldeia 2.
Me perguntava se Baakir estaria disposto a isso? Eu não sei o quanto
ele mudou, será que ele ainda segue os orixás? Ou também deixou de
confiar neles? Eu não sei.
“Chegamos!” disse meu tio. “desta vez só eu e Afro entraremos.”
Os outros fizeram que sim com a cabeça. Nos aproximamos do portão
tinha quatro homens a proteger o portão preto da aldeia, os guereiros
usavam trajes azuis escuros e botas pretas, os muros eram largos. um
pouco altos e eram escuros como a noite.
“Sikamene!” disse meu tio.
“Sikamene!” responderam os guerreiros. Reparei que eles
olhavam pra mim com desgosto. Pude entender logo que não sou bem
vinda nesta aldeia.
“Desejamos falar com o filho mais velho do líder” o guerreiro
olhou pra mim de baixa para cima eu queria perguntar se ele nunca viu
uma mulher antes e está assustado mas lembrei que seria meio pesado
e não acabaria bem. O melhor é suportar os olhares e conseguir sair
daqui com Baakir.
“Entrem!” entramos na aldeia o lugar estava cheio de casas de
palha mas meio vazio. O guerreiro nos levou até um local onde tinha
um monte de pessoas juntas a chorar. Parece que toda aldeia estava
naquele local. O soldado entrou no meio daquela gente toda e quando
voltou, voltou com Baakir. Ele usava um traje da mesma cor que o resto
da aldeia seu cabelo cheio e sem tranças agora estavam presos a
elasticos de alumunio. Ele ficou feliz por me ver e deu um pequeno
grito a se aproximar.
“Afro!” me abraçou.”Pelos orixás há quanto tempo não te vejo!”.
Era bom saber que ele ainda invocava os orixás em suas emoções, isso
era um bom sinal.
“um ano, ou mais, não sei.” Sorri de volta para ele. Ele
cumprimentou meu tio baixando a cabeça e interlaçando as suas mãos.
“Sikamene!”
“Sikamene!” respondeu meu tio,
“por que as pessoas estão a chorar?” perguntei.”alguém
morreu?”.
“não, acabou de nascer um membro novo na aldeia. Na minha
cultura nós choramos quando alguém nasce e festejamos quando
alguém morre, pois esta pessoa veio para um mundo de dor e
sofrimento”. Ele estava em pé me explicando.
“Nossa! Então você não teme a morte?”.
“O quê, tá maluca?” soltei um riso sem querer. É que a forma que
ele disse aquilo parecia engrçada. Estava com saudades das piadas do
Baakir.”eu respeito a minha cultura mas eu não quero morrer não.”
Voltei a sorrir.
“Baakir.” Disse eu enquanto ficava séria.”preciso contar o motivo
de eu estar aqui, eu tive um sonho.” ele me cortou logo.
“woh, woh, woh. Pode parar, da última vez que você me contou
sobre um sonho teu eu quase morri virgem!” eu estava indecisa se ria
ou ficava séria. Expliquei para ele sobre o trono de xangô, sobre o
sonho com o kellan.
“Desculpa Afro, eu não posso ir. Eu gostaria muito mas as
pessoas em minha aldeia ficariam revoltadas se eu seguisse você,meu
pai não me deixaria nem voltar a entrar. Eu sinto muito.” Não poderia
cometer o mesmo erro que cometi com Ashia. Então coloquei um
sorriso no rosto e me despedi.
Continuavamos a busca de ajuda estavamos a caminho da aldeia
7. Aldeia de Kiros. Aldeia 7 é a única aldeia que eu acho que lutaria por
mim. Por mais que as coisas venham ter seguido o caminho que
seguiram eles ainda colocam Ogum em suas orações, eu acredito que
um deles possa vir a ser o filho de ogum. Talvez até mesmo kiros. Pai
de kiros tem um enorme respeito por mim por eu carregar comigo o
oxê então eu me sentia confiante que naquela aldeia sairiam homens
para lutar ao meu lado.
Senti a carruagem andar mais rápido do que o normal. Meu tio
acelerava a velocidade do cavalo.
“Vamos!” dizia meu tio. Pelo tom de voz ele parecia preocupado.
Eu não entendia o que se passava vi o rosto de Gina intacto com olhar
de medo virado para o norte. Quando eu virei meu rosto vi o por que
daquilo tudo. Um exército de guerreiros montados em cavalos,
armados se aproximava de nós. Parecia um batalhão de cem homens e
nós ainda estavamos muito distante da aldeia 7.
“Gina!” gritei. Fica abaixada e se cobre com os panos. Aconteça o
que acontecer não saias daí. Gina acenou com a cabeça e se
tapou.”quem são eles?” perguntei ao meu tio enquanto o cavalo corria
com toda velocidade possivel.
“pelas roupas pretas, é um exército do grande reino!” disse meu
tio. Eles estavam cada vez mais pertos. Meu tio mandou os nossos dois
guerreiros se prepararem. Eu não sabia como aquilo era possivel. Nós
deixamos o grande reino deserto desde a última batalha. Mas uma
coisa eu sabia. Eu teria que lutar.
Os cavalos se aproximaram. Um exército de homens armados até
os dentes estava atrás de nós. Me surpreendi quando vi quem liderava
eles. Aquele rosto me era familiar. Era Enzi. O filho da rainha Nala, seu
cabelo era de tamanho médio em seu pescoço tinha um fio com dois
olhos pindurados nele. No seu lado esquerdo estava Shena segurando
as cordas a volta de seu cavalo com apenas o braço direito pois o
esquerdo já não existia. Olhei para os ombros dela vi patentes iguais as
de seu pai. O que me faz pensar que ela é a nova general do exército.
Flechas e lanças começaram a ser jogadas em nossas direcção.
Umas caíam perto de mim, outras simplesmente caíam no chão. Puxei o
oxê das minhas costas e me posicionei para lutar.
Eles estavam perto de nós apenas a dois metros. Enzi puxou uma
faca de seu estoque e atirou nas pernas do cavalo de um dos guerreiro
de meu tio. O cavalo estava prestes a cair.
“salta pra carruagem!” gritei pra ele. Ele estava no lado direito da
carruagem, se posicionou pra saltar, o cavalo de enzi estava muito
perto dele. O guerreiro saltou de seu cavalo com intuito de cair na
carruagem, Enzi pulou de seu cavalo ao mesmo tempo e encontrou
com o guerreiro ainda no ar. Vi os dois se chocarem no ar bem antes de
cairem ao chão enzi enfiou dez facadas no peito do guererio e só parou
de perfura-lo quando chegaram no chão. Me surpreendi com sua
rapidez. Postos no chão Enzi cambaleou pra frente e atirou duas facas
na coxa do cavalo que meu tio montava. A carruagem e o cavalo foram
para o chão nos levando juntos, caí sobre a areia e cambaliei. Quando
levantei minha cabeça, shena vinha em alta velocida com seu cavalo na
minha frente. Me acertou com uma bola de ferro enorme que ela
carregava em sua mão direita. Atingiu minha cabeça e eu vi tudo ficar
escuro aos poucos a minha volta, vi meu tio no chão a ser espancado
por homens, vi o outro guerreiro a ser morto, caí no chão e apaguei por
completo.
CAPÍTULO QUATRO
Minha cabeça doía enquanto eu lutava para abri os olhos. Ainda
via tudo as voltas, senti minhas mãos pesadas como se tirassem o
mundo das minhas costas e colocassem na minha mão. Abri os olhos e
reparei que eu estava algemada com os braços abertos longes um do
outro. Correntes pesadas seguravam meus braços, meu joelho doía
pois parece que estou ajoelhada há um bom tempo.
Olhei a minha volta o lugar era enorme. Todo feito de pedras e
metais. Vi uma escada de pedra perto a uma parede que dava acesso a
parte de cima onde alguém poderia assistir uma batalha por aí. Me
perguntei se aquele lugar já foi uma especie de arena alguma vez mas
não podia pensar muito pois a cabeça não parava de doer.
Uma porta se abriu e vi alguém entrar nela. Era Enzi. Ele se
aproximou aos poucos para perto de mim.
“Afro, filha de xangô o orixá da justiça!” gritou ele enquanto batia
palmas. Ele vestia um traje preto com botas e calças pretas, seu cabelo
era médio e seu pescoço carregava um colar com um para de olhos
preso nele.”Eu sou apaixonado por olhos e os teus me parecem muito
especiais.” Ele carinhava meu rosto enquanto dizia tais palavras. Eu
não tinha nem forças para fazer ele parar. Ele levantou meu rosto com
suas mãos e olhou fixamente pra mim. Eu não sei o que ele sentiu a
olhar pra mim mas o sorriso ragasdo, longo e maníaco que ele colocou
no seu rosto me deixava assustada, eu não sei explicar mas seu olhar
me transmitia pavor.
“onde está meu tio? onde está Gina?” ele não largava meu rosto.
“coloquei o seu tio em outro compartimento do grande reino.
Quanto a segunda pergunta, ela fugiu e eu não sei pra onde” fiquei feliz
por gina ter conseguido fugir. “agora minha vez: onde fica o trono?”.
“Qual trono?” indaguei. Ele sorriu, achei que o sorriso iria parar
mas ele deu uma gargalhada contagiante com a voz muito alta.
Achei que seria melhor não irrita-lo e então tentei consertar a
borrada que fiz.
“Por que você almeja o trono de xangô?”
“almejar o trono, eu?” ele deu uma pequena gargalhada.”eu não
almejo o trono, minha irmã almeja. Minha mãe ensinou pra ela que as
mulheres deveriam governar o mundo, homens já tiveram sua vez e
tudo que trouxeram foi destruição! Se ela sentar no trono ela terá em
posse a única fonte de água que ainda existe no mundo. E tu bem sabes,
Afro. Que a água no nosso mundo nos dá poder, poder de governar os
homens e colocar eles submissos a mulher.” Ele se levantou por
completo e falou bem alto.”quanto a mim! Eu apenas quero sangue, eu
quero matar pois eu sinto prazer em tirar vidas. Eu não consigo ver um
ser humano respirar perto de mim por muito tempo o desejo de
colocar minhas mãos em seu pescoço e cortar a garganta deles fora é
maior que a minha vontade de viver!”.
“Você é doente!”. Ele deu uma gargalhada alta que fizeram meus
ouvidos sentirem-se incomodados.
“Eu não sou doente Afro, tu apenas não consegues me ver.” Ele
tirou uma faca de sua cintura e começou a se aproximar de mim, fiquei
assustada, comecei a lutar para sair das correntes. Alguém abriu a
porta e entrou no local antes dele poder me tocar.
“Alteza!” ele parou e olhou para trás. Era um de seus
homens.”sua irmã deseja sua presença urgentemente.” Ele baixou a
faca, olhou para mime sorriu. Não demorou muito colocou-se a andar e
saiu do local.
A porta fechou-se e eu fique naquele lugar sozinha durante muito
tempo. Penso que passaram-se horas e eu não parava de pensar: o que
aconteceu com o meu tio, aonde eles levaram ele. Perguntas rodavam
minha mente mas respostas não apareciam.
A porta voltou a abrir. Eu estava sem forças mas ainda conseguia
levantar a minha cabeça para ver quem estava a passar por ela. Vi uma
mulher com vestido branco e uma coroa dourada na cabeça que
combinava com o colocar cravado em seu peito. Ela se aproximou de
mim, alguém fechou a porta isso fez com que ficassemos apenas as
duas naquele lugar. Ficamos de frente uma para outra.
“Olá, Afro.” Ela me saudou da maneira mais simpática possivel.
Com um sorriso contagiante como se fossemos amigas há muito tempo.
“o que você quer?” perguntei meio aborrecida. Não sei se era
aborrecimento ou fraqueza mas eu estava sem energia para nada.
“eu quero que você me diga onde fica o trono de xangô.”
“deixa advinhar, para você sentar nele e poder se sentir superior
aos homens.” Ela mostrou um sorriso seco.
“pelos vistos meu irmão já falou contigo sobre mim.”
“falou. E eu não ligo para o teu motivo eu não vou falar!”.
“Afro, eu estou aqui como amiga. Se meu irmão vier interrogar
você, você vai desejar ter morrido”.
“eu não vou dizer, você e o teu irmão doente não vão arrancar
nada de mim!”.
“ele não é doente, é apenas diferente. sabes, eu e Enzi somos
gêmeos. Eu nasci primeiro e em seguida veio ele. Desde pequenos eu
notei que ele não era uma criança comum. Quando meu pai chegava a
casa ele trazia animais de estimação para nós os dois. Eu brincava com
os meus, atribuia nomes e tudo. Mas Enzi perferia cortar as cabeças
dos dele e arrancar os olhos. quando não se sentia satisfeito arrancava
dos meus. Colocava em um cordão e metia no pescoço”.
Não sei o objectivo dela estar a me contar essas coisas mas eu
decidi participar da conversa.
“Vocês nunca pensaram em trata-lo?” ela sorriu.
“Meu pai tentou, quando descobriu que seu filho era o demônio
em pessoa. Ele acreditava que foi uma maldição dos orixás então levou
Enzi para o melhor curandeiro do grande reino. Mas não resultou.
Insatisfeito e sem opção, meu pai pegou Enzi e levou pra fora do
grande reino, minha mãe e eu tentamos impedir mas não resultou. Ele
levou Enzi para as montanhas, abandonou ele lá rodiado dos animais
mais perigosos. Ele tinha apenas oito anos. Dois dias depois numa
noite, Enzi entava de volta ao portão do grande reino. Eu fiquei feliz
por ver ele vivo, estavamos nas janelas a vê-lo. Ele carregava em suas
costas um saco quando ele despejou o saco no chão dentro dele sairam
cabeças de vários animais diferentes:tigres, gorilas,ursos, Hienas.
Aquilo só aumentou a raiva de meu pai. Meu pai pegou ele e levou para
um lugar de ode ele jamais voltaria. Para floresta das sombras o local
mais solitário de todos, onde nenhum homem jamais voltou vivo de lá.
Passaram-se cinco anos. Eu lembro como se fosse ontem, eu tinha
tereze anos na altura quando Enzi entrou no grande reino junto com
um homem que lhe treinou durante esses anos todos. Um homem que
tinha uma história bem semelhante a dele. Esse homem era Bomá, o
guerreiro das sombras. Eles invadiram o palácio mataram todos os
soldados da guarda de meu pai e no final Enzi arrancou a garganta do
nosso pai”.
“foi a rainha que matou o rei!” rebati. Ela deu uma risada.
“foi isso que ela te contou? Minha mãe teve que dizer ao povo
que o rei morreu de uma doença. Ela subiu ao poder e adotou Bomá
como seu guardião pessoal, ela sempre quis o trono para ela e Enzi deu
isso a ela”.
“a rainha me disse que envenenou o rei.”
“e você acreditou? Me diz Afro, de quem tu achas que são os
olhos cravados no colar de Enzi como troféu?” depois daquela
pergunta eu ignorei todo meu questionamento. “são os olhos do meu
pai, que ele arrancou com as próprias mãos. Então acredita quando eu
te digo Afro. Responda-me onde está o trono porque se meu irmão te
interrogar você vai desejar estar morta!”.
“minha resposta ainda é a mesma!” ela se levantou e suspirou,
virou-se e caminhou até a porta. Antes de air voltou a olhar pra mim.
“fico feliz por xangô ter escolhido uma mulher para carregar o
oxê.” Virou-se e saiu da sala.
Não sei quanto tempo faz que eu estou aqui. Meus braços
tremem de dor presos naquelas correntes duras como a vida. Pelo sol
que sempre vem e vai por essas janelas, presumo que já se passaram
dias que estou aqui, estou fraca, com sede, me sinto morta. Mas nem
essa fraqueza me faria dizer a localização do trono.
Uma das questões que mais dominou meus pensamentos foi:
como eles sabem do trono? Mas isso não importava muito o
importante é que eles sabem. Ouvi a porta abrir de novo. Aziza voltou a
entrar e se aproximou de mim lentamente.
“Decidi vir te dar mais uma chance antes de dar toda liberdade
ao meu irmão de te interrogar.” Me esforcei para levantar a minha
cabeça e assim poder ver ela.
“e eu devia agradecer?”.
“eu luto por empoderamento feminino, estou a fazer os possiveis
de não deixar meu irmão tocar em ti”.
“você luta por poder apenas!”.
“fico triste em saber que você não entende a causa pela qual
luto.” Eu já não tinha força alguma mas me esforçava para falar.
“me faça entender”.
“durante anos o grande reino foi governado por reis, homens que
apenas queriam exibir o poder que tinham. Eu quero mudar esse
quadro e colocar apenas mulheres no poder”.
“o problema não está em homens governarem mas sim no ser
humanos, sem generos. Todo ser humano é imperfeito e pessoas
imperfeitas erram”.
“Afro, coloca seis homens no poder. Destribui para eles toda
riqueza possivel. Sabes o que vai acontecer? Dos seis cinco usarão tal
riqueza para mostrar a outros homens que eles podem e são
superiores, usarão a riqueza para atrair mulheres e as exibirão para
outros homens só para mostrar o quão são poderosos, porque homens
são assim, isso está em seu adn. Apenas um dos seis poderá agir
diferente.” Ela se aproximou mais um pouco de mim.”coloca seis
mulheres no poder e destribua toda riqueza possivel. Mulheres não se
preocupam em atrair homens com riqueza para exibir, serão vistas
como uma qualquer”
Ela suspirou e se aproximou mais.”Das seis, cinco usarão a
riqueza de maneira sábia e apenas uma por ser imperfeita como
disseste irá agir de maneira tola!”. Notei ela ficar meio irritada e depois
se acalmar.”minha mãe foi a tola dentre as seis”.
“você acha que isso é lutar pelo empoderamento feminino?
Mulheres no poder de maneira absoluta? E os homens? Eles não têm
direito? Enquanto colocas mulheres no poder de forma absoluta será
que estás a ser melhor que o homem que coloca homens no poder de
maneira absoluta?”.
“você não entende Afro!”.
“sabe o que eu entendo? Eu entendo que se queremos igualdade
entre os generos ir pelo teu caminho não seria o viável. Que tal colocar
uma mulher a governar e um homem como seu braço direito? Ou então
o contrário, um homem a governar e uma mulher como seu braço
direito? Que tal criar um conselho misto onde homens e mulheres
trocam ideias de como governar tudo? É assim que tem que ser,
igualdade para os dois lados”.
“Me diz Afro, por quê você acha que xangô o orixá da justiça não
escolheu um homem para colidir com sua alma? Ao invés disso
escolheu você”.
“eu não fui escolhida por ser mulher, fui escolhida por ter um
bom coração e lutar por justiça. me diz, Aziza… se achas que lutas por
justiça por que xangô não escolheu você para colidir sua alma?”.
“eu tentei te ajudar Afro.” Ela se virou e começou a caminhar
para saída do local. Fechou a porta com força e eu voltei a ficar sozinha.
Depois de algum tempo a noite chegou. Quanto tempo mais meu
corpo aguentaria? Aonde está o oxê? Mais uma vez ninguém podia
ouvir o que os meus silêncios gritavam.
A porta voltou a abrir. Desta vez foi enzi que entrou por ela, junto
com shena e mais cinco homens seus. Ele se aproximava batendo
palmas e sorrindo.
“Vejamos, eu quero machucar vocô. Sério, eu quero muito. Já
imagino os teus lindos olhos amarelos brilharem em meu colar!” ele se
abaixou sem tirar aquele sorriso largo em seu rosto.”mas a shena aqui,
quer matar você. Ela quer vingança pelo que vocês fizeram ao seu
querido pai.”
“Ela merece ser torturada primeiro!” disse um de seus homens. O
sorriso no rosto de Enzi sumiu. Ele se levantou, virou e olhou pra ele.
“venha!” o homem Exitou.”vamos, não tenhas medo venha.” Enzi
dizia tais palavras da maneira mais suave possivel. O homem se
aproximou, era um jovem magro e negro que parecia ter a minha
idade. Enzi tirou uma faca do bolso e entregou para ele. O jovem
recebeu a faca.
“ o que faço com ela senhor?”.
“Corte seus dedos.” O jovem estava assustado, eu também estaria
no lugar dele. Se ele não cortasse os dedos eu acho que seria
morto.”corte seus dedos ou eu mato você. A escolha é tua”.
“eu vou cortar senhor!” o jovem estava assustado. Agaixou e
colocou suas mãos abertas no chão. A faca tremia em sua outra mão
enquanto se aproximava do dedo mendinho. A faca colidiu com o dedo
o jovem gritou para ganhar coragem e por fim cortou. Largou a faca e
metade de seu dedo no chão. O jovem começou a chorar enquanto se
levantava.
“toma este lenço, cobre o ferimento!” ordenou Enzi. O jovem
recebeu o lenço e tapou os dedos fazendo um nó nos dedos com o
lenço. “agora vem a parte divertida!” gritou enzi puxando sua espada e
com rapidez cortou o braço do jovem por completo. Foi o mesmo braço
em que o jovem tinha tirado o dedo outrora. O jovem gritava de dor,
sangue saltava pelos ares. Enquanto isso enzi ria como se alguém lhe
tivesse contado uma piada.
“levem-no daqui e tragam o priseineiro!” disse Enzi. Dois homens
levaram o jovem, depois de alguns minutos voltaram a entrar com meu
tio acorrentado. Trouxeram ele para perto de mim e prenderam ele da
mesma forma.
“Tio você está bem?” ele me parecia fraco tal como eu.
“estou, não se preocupa.” Era para eu me preocupar. Ele estava
péssimo.
“Onde está a Gina?”.
“Gina não foi capturada, ela conseguiu fugir depois da carruagem
cair.” Fiqeuei aliviada pelo menos uma notícia boa. Olhei para Enzi.
“então você vai nos questionar e caso não respondemos seremos
torturados?”.
“quem disse isso?” perguntou enzi.”primeiro eu torturo, só
depois questiono.”
“eu já disse que não vou responder nada!”
“quem disse que será você que eu vou torturar.” Um dos homens
de enzi se aproximou com uma faca que parecia ter sido mergulhada
no fogo.”abram a boca dele!” os homens agarram a cabeça do meu tio e
abriram a boca. Eu gritava para ele não fazer nada mas era inútil. meu
tio lutava para fechar a boca mas não lhe sobravam muitas forças.” A
língua é um órgão pequeno e inofensivo. Mas ela é a arma mais
perigosa do mundo, ela pode destruir alguém com apenas uma
palavra.” Enzi colocou dois dedos dentro da boca de meu tio. Puxou sua
língua pra fora e pousou a faca quente por cima da língua. Meu tio
gritava de dor, eu gritava para ele parar mas ele continuou o seu
discurso.”basta um: eu te ódio, morra! Ou eu nunca te amei e uma
pessoa morre por dentro. A língua tem esse poder.” Enzi inclinou a faca
e começou a cortar a língua do meu tio. Enquanto meu tio gritava enzi
se divertia como se cada grito lhe desse mais prazer.
Metadade da língua estava na mão de enzi um dos homens se
aproximou com um prato de ferro e ele colou lá o órgão. Meu tio
sangrava pela boca. Eu susurrei as palvras “vou contar.” Mas meu tio
mexeu a cabeça indicando que não posso contar.
“para com isso seu louco!” falei enquanto olhava para o enzi.
“eu nã sou louco Afro, Você só não consegue me ver.” A porta se
abriu, Aziza entrou no local. Olhou para mim e aquele olhar me soava
como: eu avisei-te, agora estás a sofrer com as consequências. Ela
subiu as escadas e ficou no topo da sala nos assistindo de cima. Enzi
puxou uma especie de anzol de seu bolso. Um metal pequeno de ferro
ligado a um fio fino longo. Ele se aproximou do meu tio devagar.
“Dizem que os olhos são o espelho da alma, eu não acredito nisso.
As pessoas não conseguem enxergar para além do que seus olhos lhes
mostram, por isso julgam pela aparência e não pelo conteúdo.” Ele
pegou num pequeno aluminio em forma de meioa lua que continha
uma ponta como a de uma agulha enfou dentro dos olhos do meu tio
enquanto os guardas lutavam para os olhos não fecharem, eu vi a
agulha entrar e ficar intacta lá dentro. Meu tio gritava por uma dor que
eu não sei descrever. Enzi se afastou do meu tio pegou no fio que
estava preso a agulha e puxou, puxou com tanta força que olho
esquerdo dele todo saiu. Enzi puxou até a palma de sua mão e colocou
o olha no prato.
“vamos ao proximo!” ele começou a caminhar de volta para
frente do meu tio. Mas eu não conseguiria ver aquilo de novo.
“para!” gritei e ele parou.” Eu vou contar aonde fica o trono.” Meu
tio já não tiha nem forças para reagir. Vi o sorriso rasgado no rosto de
aziza lá de cima. Enzi se aproximou de mim.
“comece a falar!”.
“Oyé fica a su…” um barulho de porta aberta me impediu de
terminar.
“Senhor, o grande reino está a ser atacado!” disse um guarda que
abriu a porta que estava do meu lado esquerdo. oposto a porta em que
aziza entrou.
“atacado por quem?” perguntou Enzi.
“Estamos a ser atacados por…” uma espada vinda de trás
atravessou a barriga do guarda, alguém atingiu-o por trás. Shena
aproveitou a distração ergueu sua espadas e começou a correr na
minha direcção. A mesma espada que atravessou o guerreiro foi
lançada e caiu perto dos pés de Shena fazendo ela parar.
“você quer perder o outro braço?” perguntou Ashia.
“Eu esperei um ano pra isso. Eu vou matar vocês as duas!” disse
shena. Ela tentou avançar mas enzi parou ela. “com todo respeito
alteza. Tira suas mãos de mim ou o reino perderá mais um rei.” Enzi
olhou pra ela e sorriu. Na porta em que estava Ashia entraram mais
vinte guerreiras de sua aldeia. Na porta em que entrou aziza entraram
trinta guerrerios do reino.
“Shena, guerreiros do grande reino.” Disse aziza de
cima.”ninguém interfirá na batalha. Deixem meu irmão se divertir.” Os
guerreiros recuaram menos shena.
“quando eu terminar, eu prometo que deixo a líder viva pra
você.” Shena consentiu e antes dela recuar enzi pegou em sua mão. “e
mais uma coisa, eu não recebo ameaças sou eu quem as faz! Acene com
a cabeça se você entendeu.” Shena acenou enzi soltou ela e ela recuou.
CAPÍTULO CINCO
As vinte guerreiras rodaram Enzi. Ashia ficou na frente dele.
“solta ela você não tem saída. Seus cem guerreiros estão a ser
massacrados lá fora. Você perdeu.” Disse Ashia.
“então você acha que eu tenho todo meu exército aqui no reino?”
ele soltou uma gargalhada. “eu tenho duzentos homens nas montanhas.
Eles estão a caminho daqui. Vocês invadiram o reino e eles receberam
um alerta” Enzi tirou a camisa e puxou duas facas do seu estoque de
facas que ficava na cintura.”mas não se preocupem, vocês estarão
mortas antes deles chegarem.”
“veremos!”
“venham dançar com a morte!” gritou Enzi.
As guerreiras se aproximaram com suas espadas atacando enzi.
A cada golpe que ele desviava acertava com a faca na garganta de uma
guerreira. Ashia bateu com o lado oposto da espada na nuca de Enzi
por trás. Ele ajoelhou. Duas guerreiras seguraram seus braços outra
enfiou uma faca nas costas dele. Ashia estava na frente dele. Começou a
dar socos no rosto dele. A cada soco ele gritava.
“Vocês não podem me matar, porque não podem me ver!” Ashia
não parava de golpear o rosto dele. Nenhum dos guerreiros se movia
nem a própria irmã ordenava nada. Ashia golpeou mais uma vez. Acho
que ela estava com raiva não pelo que enzi me fez mas porque ele
matou sete guerreiras de ashia.”vocês não podem me matar, porque
não podem me ver!” Ashia golpeou mais um vez. Enzi baixou o rosto.
Ainda com o rosto baixado soltou uma gargalhada e dessa vez falou
baixinho.”vocês não podem me matar, porque…” levantou o seu rosto e
seus olhos estavam azuis como céu.”não podem me ver!”.
Enzi jogou as duas guerreiras que seguravam seu braços pelos
ares. Pegou uma espada e começou um massacre. Ele só acertava seus
cortes em um sítio “barrigas.” Uma guerreira tentou acertar a cabeça
dele com uma espada ele baixou e rasgou a barriga dela. Enquanto ele
estava em baixo Ashia desceu a espada na cabeça dele mas Enzi travou
a espada com os braços. O barulho da colização pareceu o de dois
ferros que acabaram de impactar-se. Não tinha sangue em seu braço
sua pele estava intacta.
“Eu sou filho de Ogum, Deus da guerra e do ferro. Armas não me
podem matar porque são parte de mim!”. Rasgou a perna de Ashia com
uma faca. Ashia caiu. Enzi se levantou e já não tinha nenhuma
guerreira de pé. Todas estavam deitadas naquele chão banhado de
sangue com suas tripas por fora. Um dos homens de Enzi jogou uma
corrente de ferro pra ele. Enzi enrolou a corrente em sua mão
esquerda.
“Ashia, fuja!” gritei.”fuja por favor!” ela ficou de pé na minha
frente.
“Eu não vou te abandonar de novo.” Enzi começou a caminhar
com a corrente na direcção de Ashia. Ashia virou-se pra mim e cortou
as correntes que me prendiam, em seguida cortou as do meu tio e ele
caiu pro chão.
Ashia voltou a olhar pra ele vindo em nossa direcção. Conseguia
sentir a determinação dela, ela estava convicta do que queria. Peguei
em uma espada que estava no chão com a pouca força que me restava e
ataquei primeiro.
Tentei acerta-lo com a espada ele se defendia com a corrente
enrolada em seu punho. Golpeou-me com o punho coberto por
correntes de ferro e eu caí. Tentou golpear a segunda vez comigo no
chão Ashia travou o golpe com a espada. Ashia tentava acerta-lo mas
Enzi defendia-se perfeitamente, golpeou a espada de Ashia ao ponto da
espada saltar da palma das mãos dela. pegou no pescoço dela e jogou
ela para longe. Tentei atacar com um soco mas foi mais fraco que o
soco de um recemnascido. Ele golpeou o meu rosto com os punhos
cobertos de ferro eu recuei dois paços ele me puxou de volta pela
roupa e deu-me uma cabeçada, eu recuei, me puxou de volta e acertou-
me com outro soco, agarrou meu pescoço e me levantou até a altura de
seu rosto. Seus olhos azuis brilhavam como o mar mais ao mesmo
tempo transmitia terror.
“Não entendo por que os teus olhos transbordam pânico se você
está prestes a conhecer a coisa mais bela do mundo… A morte!”. Disse
Enzi.
Ele me remessou ao chão com tanta força e eu me perdi em meus
pensamentos. (a imagem de kellan a ser arremessado pelo chão veio a
minha mente) olhei para Ashia e pensei: ela está aqui pra me proteger
e pode perder a vida por isso tal como kellan tentou me proteger e
perdeu a vida. Eu não posso deixar isso acontecer de novo.
Enzi começou a se aproximar em minha direcção. Naquele
momento eu senti o oxê chamar por mim, fechei os olhos e pude saber
exactamente onde ele estava ergui minhas mãos com meu corpo
deitado no chão, senti o oxê voar em minha direcção, podia sentir cada
parede que ele quebrava pra chegar até mim até que por fim quebrou a
última parede. Os punhos delee estavam perto do meu rosto mas não
chegou a me tocar pois o oxê impactou com ele arremessando-o para
trás.
O oxê flutuava na minha frente. me levantei e segurei ele.
“Veremos se seus braços de ferro sobrevivem ao meu machado!”
“Afro!” gritou Ashia. “O teu tio vai morrer se ficarmos aqui mais
tempo. Acredita eu quero mata-lo mais do que tu. Mas precisamos ir.”
Guardei o oxê nas costas. Ashia me ajudou a levantar meu tio e
começamos a sair do local. Os guerreiros tentaram nos seguir mas enzi
fez um sinal para pararem como se estivesse a nos deixar fugir.
Saimos da sala e começamos a correr pelo palácio. Na parte de
fora tinha um grupo de guerreiras panteras que derrotaram os homens
do reino. Receberam meu tio e colocaram ele em uma carruagem. eu
subi na mesma carruagem e começamos a caminhar para distante do
castelo.
Caminhamos durante um bom tempo. Na carruagem estava Gina.
Ela me explicou que quando fugiu caminhou até a aldeia 3 para buscar
ajuda e foi assim que Ashia descobriu aonde eu estava. Mas o que me
surpreendia foi o por que que Ashia veio visto que ela não queria
deixar sua aldeia.
“Por que você veio?” perguntei. Estavamos as duas na carruagem.
“uma amiga um dia me disse: Amigos não são só rosas, espinhos
também.” eu sorri pois aquela citação era minha. Eu me sentia fraca
mas me concentrava para continuar de pé. “então Enzi é o filho de
Ogum!”. Ela suspirou.”você acha que pode vencer ele?”.
“no estado em que estou não. Mas eu acredito que posso.” Ela
voltou a suspirar.
“Eu não posso vencer ele, mas eu posso te ajudar a vence-lo.” Me
esforcei para sorrir. “e agora o que faremos? Minha aldeia está sem
ninguém. Eu vou mandar as minhas guerreiras de volta mas eu
continuarei com você”.
“minha primeira preocupação é o meu tio. Gostaria que as tuas
guerreiras o levassem de volta pra casa, para ele ser tratado. Por
favor.” Notei que ela mudou seu humor.
“nunca mais uses essa palavra comigo”.
“qual palavra?”.
“por favor”.ela desviou o olhar.”sou tua melhor amiga”.
“você tem razão então eu ordeno que você mande suas
guerreiras levarem meu tio para minha aldeia. Agora!” ela sorriu.
“as ordens vossa alteza!” eu sorri de volta mas me esforçando
para tal.”e depois para onde vamos?”.
“Kaneia.”.
“o local que você conseguiu o machado?”. Perguntou
surpresa.”por quê?”.
“Preciso saber como usar o machado, eu sinto que lá está a
explicação. Se eu soubesse como usar a cem porcento meu tio estaria
bem agora.”
“você tem razão, então é para lá que nós vamos”.
“mas antes precisamos ir para outro lugar”.
“qual?”.
“aldeia 7, por mais poder que eu tenha eu não posso vencer essa
guerra sem meus amigos do meu lado. Eu preciso de kiros,Amai,Baakir
e você”.
“eu não sei se as aldeias lutarão por ti mas sei que eles vão”.
“temo que não”.
“por quê?”.
“Baakir disse que não pode, eu já tentei”.
“eu também disse isso, lembras?” ela sorriu.”depois dele ouvir
sobre o filho de ogum ele vai aceitar”.
“Kiros é o único que eu acho que não negaria.” Ela sorriu.
“é claro que não, ele ama batalhas!” disse ashia.
“eu realmente achei que kiros seria o filho de ogum.” Tentei sorri
mas minha cabeça doía e comecei a ficar tonta, meus olhos fecharam e
eu desmaiei.
Quando acordei ouvia barulho, abri os olhos e estava em uma
cama deitada. O cheiro de ervas medicinais pairava no ar. Curativos
foram feitos em todos os lugares feridos do meu corpo. Menos o
coração esse não tem curativo que o aguente.
Saí da casa de palha em que eu estava e senti o sol tocar minha
pele. me deparei com uma movimentação de pessoas enorme ao meu
redor. Cada uma fazia uma coisa. Pelas cores das vestimentas azul e
preto notei que eu estava na aldeia 7. Ninguém fazia outra coisa
naquele lugar. A não ser criar armas e lutar. A aldeia tinha um monte
de escultura de predras de guerreiros a volta. Fiquei parada a olhar pra
elas.
“são meus ancestrais.” Disse uma voz atrás de mim. Me virei para
ver quem era, era Kiros. “todos foram grandes guereiros, os melhores
dos melhores e todos morreram com honra, sem se ajoelhar diante de
nenhum outro homem.”
“É um prazer voltar a ver-te, kiros.” Ele estendeu sua mão e eu a
minha nos cumprimentamos.
“bem vinda a minha aldeia. Venha eu quero te mostrar algo.”
Segui ele caminhamos até uma multidão aglomerada. Estavam todos a
olhar para baixo de um buraco enorme feito de pedras. Nos
aproximamos e vi dois homens lá em baixo a duelarem. Pai de Kiros
estava no topo das pedras sentado assistindo a luta. Um dos guerreiros
golpeou o outro com o soco e venceu a luta. A multidão vibrou em
gritos mais altos que a vida.
“este é nosso passa tempo aqui na aldeia.”
“vossos costumes se resumem a batalhas?”
“sim!” o pai de kiros levantou-se e amultidão parou de vibrar.
“Quem será o proximo?!” gritou o pai de kiros. Alguém pousou
suas mãos em meus ombros.
“opah! Minha vez.” Disse Ashia. Piscou pra mim e em seguida
jogou-se para dentro da arena. A multidão vibrou. Uma mulher
pantera naquela arena era surreal para eles.
“sabes que ela vai vencer não sabes?” perguntei pra kiros.
“Claro que vai, o adversário não sou eu.” Respondeu kiros.
A luta começou e eu decidi puxar assunto com kiros.
“Ashia te contou sobre o que houve?”
“sim!” suas respostas eram sempre curtas. Como alguém que não
quer perder tempo com conversas.
“e o que achas de tudo?”.
“eu vou te apoiar, eu ainde confio nos deuses.” Fiquei feliz por
ouvir aquilo.
“ela te disse o que enfrentaremos?”
“sim!” esperei um tempo para ver se finalmente ele tornaria suas
respostas mais longas.”ela me contou sobre Enzi o filho de ogum. Eu
vou matar ele”.
“Ele é praticamente um Deus Kiros.” Ele olhou pra mim.
“desde que sangra como eu, não há homem que me assuta.”
“mas você teme a morte?”
“eu já te disse uma vez Afro, Eu sou imortal.”
A multidão vibrou, Ashia tinha acabado de vencer a luta. Ela
subiu para onde estavamos.
“Então, os guerreiros mais fortes da terra não é?” disse Ashia
olhando para o kiros. Kiros colocou um sorriso rasgado no rosto.
Perguntei a Ashia sobre meu tio, ela disse que foi levado para minha
aldeia, perguntei quanto tempo fiz apagada ela disse que foram dois
dias. Perguntei sobre a Gina, ela sorriu e disse para olhar para trás. Eu
olhei e lá estava ela. Sorrindo pra mim. Abanei a cabeça na intenção de
demonstrar como ela não aprende. Já quase morreu e mesmo assim
não desiste de me apoiar.
As trombetas tocaram, a expressão facial de kiros ficou séria.
“o que é isso?” perguntei.
“Alguém se aproxima da aldeia.” Respondeu kiros.
Corremos até o portão da aldeia para saber o que estava a
acontecer.
Estavamos do lado de fora. Era Baakir na entrada totalmente
armado até os dentes.
“deixem-no entrar, é amigo, não inimigo.” Disse kiros. Os
guerreiros abriram caminho para Baakir. Ele entrou na aldeia. Tinhas
duas espadas nas costas, a cintura estava coberta de facas, arregava
dois martelos um em cada mão. Ficamos todos adimirados com ele.
“pra quê isso tudo Baakir?” perguntei.
“Eu não faço ideia. Em um momento ouvi que enfretaremos semi-
deuses e no outro eu já estava com isso tudo em meu corpo.”
“o que te fez mudar de ideia?” ele suspirou.
“você quer a verdade?” perguntou baakir.
“Sim, Baakir eu quero a verdade.”
“A verdade é que eu tenho medo, meus irmãos estão doentes,
eles são pequenos e não vão sobreviver por muito tempo sem água. Eu
temo a morte, mas temo mais ainda quando ela vai atrás de quem eu
amo. Então, se existe um por cente de chance de nós acharmos uma
fonte de água… eu matarei deuses se for necessário.” Baakir nunca
tinha sido tão profundo antes. Meu corpo até se arripiou com tais
palavras.
“Nós vamos salvar todo mundo. Inclusive os teus irmãos.”
Respondi. Baakir voltou a colocar aquele sorriso descontraído no rosto.
As trombetas voltaram a tocar. Dessa vez foram duas. Voltamos
a sair pelo portão. Se aproximava um exército da aldeia. Eles vinham
montados em cavalos. Dava para ver Enzi na frente, junto com Shena
na sua esquerda e Aziza no seu lado direito. Pai de kiros saiu da aldeia
e ficou no portão perto de nós. Em seguida vários guereiros da aldeia
se amontuaram perto de nós. Enzi estava com um exército de
cinquenta homens pelo menos, não era tão grande. O que me faz
pensar do por que ele não usa os tais duzentos homens que ele tem.
Eles chegaram perto e pararam seus cavalos. Reparei que os
olhos de kiros voltaram ao normal. Enzi desceu de seu cavalo e se
aproximou um pouco.
“Líder da aldeia 7. Eu sou kiros, filho de Ogum. Meus ancestrais
comunicaram-se comigo e me disseram que Afro precisa ser morta,
pois ela é o mal, a causadora das nossas secas.” O que ele dizia não fazia
sentido. Com certeza ele queria virar todos contra mim apenas. Mas
algo veio clarear tudo. Sendo enzi filho de ogum com certeza seus
ancestrais se comunicaram com ele e foi assim que ele ficou a saber de
Oyé.
“Fodam-se os teus ancestrais!” disse Kiros.”se você quiser ela vai
ter que passar por mim.”
“Eu só quero a filha de xangô. Se me derem ela, vocês evitarão
mortes desnecessárias.” Disse Enzi.
“Você está na aldeia errada.” Kiros abriu as mãos.”Você está na
aldeia sete, aqui… somos todos imortais!” gritou Kiros. Seus homens
começaram a rugir e abater o lado oposto das lanças no chão. Olhei
para o pai de Kiros e ele não dizia nada, apenas olhava para o filho
aquele olhar de um pai orgulhoso.
Enzi colocou um sorriso no rosto. Levantou as mãos e fez um
sinal com os dois dedos. Seus homens recuaram três paços. Em seguida
deu dois paços para frente e tirou sua espada das costas.
Kiros olhou para seus homens e disse.
“Recuem!” os guerreiros deram três paços para trás. Kiros
avançou e tirou sua espada. Ficaram os dois frente a frente.
“Venha dançar com a morte!” gritou Enzi.
“A morte está farta de mim, pelo número de almas que envio pra
ela.” Disse kiros segururando sua espada.
Os dois começaram a correr um na direcção do outro com suas
espadas na mão. Uma espada foi lançada no meio dos dois antes de se
impactarem.
“Já chega!” disse Aziza. Enzi parou. Conseguia ver sede por
sangue em seu olhar. Kiros também parou. “Nós temos costumes. Não
atacamos aldeias. Desde os tempos dos nossos ancestrais foi assim e eu
respeito os costumes de nosso povo.” Aziza olhou para o pai de Kiros.”
Ou estou enganada líder.”
“Kiros, recua!” ordenou o pai de kiros. Senti que ele não quis
obedecer mas depois de alguns segundos ele recuou.
“Enzi!” disse Aziza chamando atenção para ele recuar. Enzi
sorriu. Recuou e subiu em seu cavalo.
“Você não vai ficar dentro desta aldeia por muito tempo!” disse
Aziza enquanto olhava para mim. Deram partida em seus cavalos e
sairam do local.
CAPÍTULO SEIS
Na manhã seguinte estavamos os cinco em cavalos diferentes a
caminho de kaneia. Gina ainda tinha o outro garrafão em meu e nós
consumimos ele pelo caminho a kaneia. Baakir não parava de tirar suas
dúvidas a Gina durante a viagem. Ele sempre achava um momento para
perguntar algo.
“Gina. Me diz, como é ser uma anciã? Você vê coisas?
Tipo,mortos!” Gina riu.
“Tecnicamente eu ainda não sou uma anciã. É preciso um ritual
para isso e eu sumi da aldeia bem antes do ritual.” Respondeu Gina.
“Mas você já viu… Mortos?” perguntou Baakir. Gina voltou a rir.
“Qual é o teu problema com mortos?” perguntou Gina. Baakir não
respondeu apenas sorriu.
Caminhamos durantes horas quando nos deparamos com um
reclame de tábua que dizia “kaneia” paramos pois notamos que
chegamos.
“De volta a Kaneia.” Afirmou kiros.
“De volta onde tudo começou.” Afirmei. Descemos dos cavalos os
cinco e ultrapassamos o reclame. Das arvores sairam homens que
estavam escondidos nelas.
“Eu sou Afro, filha de xangô!” eles pararam e ficam a olhar pra
mim. “eu carrego o oxê de xangô, meus olhos amarelos são a prova do
que digo.” Eles baixaram suas armas. “eu pretendo falar com o velho de
kaneia.”
“Chamar um velho de velho é o maior elogio de todos.” Disse o
velho saindo dos fundos. Fiquei feliz por lhe ver. “Afro, filha de xangô.
Bem vinda de volta a kaneia.” Ele se virou e começou a andar. “por que
estão aí parados? Venham, vamos começar o treinamento o quanto
antes?” me perguntei como ele sabia o que eu vim fazer. “a coias que
não se perguntam Afro!” afirmou ele enquanto andava. Ele está na
minha mente ou algo assim? Sorri e comecei a seguir ele.
Caminhamos até a grande montanha em que o oxê estava quando
o tirei. Pensei perguntei pra mim” vou ter que subir isto de novo?”
“Não por agora.” Respondeu o velho. “por agora vocês precisam
descansar. Seus homens trouxeram comida e água. Me perguntei de
onde saiu aquela água apezar de ser pouca.”Há coisas que não se
perguntam Afro.” Venham!” seguimos ele até uma especie de casa feita
de pedras. Entramos nela, o lugar dentro era todo iluminado e parecia
o céu com estrelas amarelas.
“sentem e comam!” disse o velho. Nos sentamos e começamos a
comer. Alguns comiam tão rápido que parecia que não comiam há
anos. As frutas foram devoradas em segundos. Especialmente Gina que
comia como um leão. Olhei para o velho, ele estava em pé em uma
parede com aquela barba branca e olhos negros com a sua pele. “Por
que há perguntas que você não responde?” perguntei ao velho.
“Você perguntaria aos deuses como eles podem fazer o que
fazem?” perguntou o velho.
“Eu gostaria de saber.” Respondi.
“você já viu um deus?” perguntou ele.
“Não.” Respondi
“mas você acredita neles.” Afirmou o velho.
“sim, acredito.”
“a isso chamamos fé. A fé é inquestionável.” Disse o velho.”A fé é
pedir aos deuses para chover amanhã e assim que amanhecer você sair
de casa protegido para chuva não te molhar enquanto o sol ainda
brilha.” Achei as palavras sábias. Mas não consegui esconder o sorriso
em meu rosto pois Baakir parou de comer e ficou a concentrar o velho
com a boca aberta como alguém não estivesse a entender nada do que
o velho dizia.
A noite veio e com ela aproveitamos dormir. Na madrugada antes
do amanhecer o velho nos acordou e nos levou para o meio da floresta
aida dentro de kaneia. Estavamos os cincos lá em pé.
“Todos você são importantes para a batalha que se aproxima. Por
isso decedi treinar todos.” Disse o velho.
“Eu não preciso de treino!” respondeu Kiros.
“você é Kiros, Filho do líder da aldeia 7. Você não tem noção do
que te espera pela frente.” O velho se aproximou de kiros e olhou
firmemente em seus olhos. “Os teus olhos nunca serão azuis. Mas você
não deixou de ser adimirado pelos deuses. Muito menos por Ogum.”
“como você sabe disso?” perguntou Kiros.
“Xangô me contou!” disse o velho.”ele me contou que você vai
triunfar, você será kiros o homem que enfrentou mil homens e não
morreu. Ele me contou que ogum adimira você apezar de não escolher
você para colidir com ele.” O velho sorriu e recuou. “Os deuses me
disseram que vocês juntos vão triunfar nessa guerra pelo trono de
xangô. Vocês só precisam estar prontos.”
O velhou virou sua atenção pra mim dessa vez.
“Xangô disse que Afro derrotará seus inimigos no final de tudo.”
Virou sua atenção para todos os outros. “e você são o caminho para ela
chegar ao topo.”
Nos convecemos e nos preparamos para treinar. Treinamos
golpes de espadas, ataques e defesas durante o dia todo. No dia
seguinte fizemos a mesma coisa tinha virado nossa rotina.
No terceiro dia o velho trouxe seus guardiões para o treino todos
carregavam espadas em suas mãos pegamos as nossas e ficamos em pé
em frente dos guardiões a esperda do mandato do velho.
“Guardiões, preparem suas armas!” eles ergueram suas espadas.
Eram cinco a nossa frente. “vocês!” disse o velho enquanto apontava
para nós.”larguem suas armas!” quase todos soltaram suas armas
menos Baakir.
“por que você não largou a sua?” perguntou o velho.
“Eles estão armados eu não vou lutar contra eles desarmado.”
Respondeu Baakir. O velho pegou em uma espada e disse.
“Esta é minha espada!” em seguida jogou a espada na frente de
Baakir. “joga a tua espada perto da minha!” Baakir suspirou mas por
fim jogou a espada no chão perto a do velho.” Agora ordena a tua
espada para que ela lute!” Baakir ficou sem reação. “vamos mande a
tua espada lutar!” Baakir continuava sem reação. “Não são as espadas
que vencem batalhas mas sim quem segura elas.”
Baakir deu uma pequena risada.
“Diz isso pro machado da Afro.” Não resistimos e nos pusemos a
rir, até kiros riu. O velho contuava sério a olha para nós.
“Ataquem.” Disse o velho e seus guardiões atacaram. Seguiu-se
uma batalha de pessoas armadas contra pessoas não armadas que
durou um longo tempo mas no final vencemos.
Estavamos deitados no chão todos cansados o velho se
aproximou de nós e nos mandou levantar-mos para voltamos a casa de
pedra pois a noite se aproximava. Chegamos a casa voltamos a comer e
a beber.
Nós comiamos e conversavamos o velho em seu canto e nós no
nosso.
“ser enquanto ser, viver pelo motivo certo, saber entender e
estender tudo que brilha em seu ser. Para ofuscar a maldade. Saber
estar seguro e criar um ambiente de felicidade no seio de quem o
acredita, somos todos diferentes ao mesmo tempo iguais.” Disse o
velho.
“Mais o quê que esse velho tem? Eu não entendo porra
nenhuma!” disse Baakir.
No dia seguinte o velho me chamou antes do sol nascer enquanto
ainda todos dormiam. Ele me levou até a montanha.
“agora é contigo!” entendi o que ele quis dizer. Coloquei o oxê
entre as costas e comecei a subir. Lembrei das vezes incontaveis que
caí na primeira vez que subi e prometi pra mim mesma dessa vez não
voltar a cair. depois de um tempo o sol nascia e eu consegui chegar ao
topo da montanha. Olhei para o céu e meus olhos brilhavam. O oxê
tornou-se pesado nas minhas costas. Tirei ele era como se tivesse vida.
As nuvens tornaram-se amarelas ao meu redor. O brilho em meus
olhos aumentou. Sentia a faisca do oxê colidida a mim. O céu rúgio e
soltou raio que caiam sobre a montanha mas não me atingiam.
“Você não tem noção do poder que tem, Afro.” me virei para ver
quem era. Meus olhos ainda estavam acesos. Era o velho.”você sente
esse poder em ti?”.
“eu sinto.” Respondi olhando para o machado.”é como se eu
pudesse fazer o mundo se ajoelhar pra mim.” O céu voltou a rugir. O
velho deu cinco passos na minha direcção e olhou bem firme em meus
olhos.
“Para usar seus poderes você só precisa pensar.”
“mas eu penso!”
“há uma diferença entre ter pensamentos e pensar” disse o
velho.”o que você tem são apenas pensamentos.” Ergui o oxê e pensei
em atrair os raios amarelos do céu para mim eles me obeceram.
Cairam tão rápidos em cima do oxê e eu senti a imensidão do poder
que eu realmente tinha.pensei em parar com tudo e os raios sumiram,
meus olhos voltaram ao seu amarelo inicial e as nuvens voltaram a ser
conzas.
“Você está quase pronta!” disse o velho.
“sim, estou pronta!” respondi.
Descemos a montanha, todos acabavam de acordar.
“Onde você estava?” perguntou Gina.
“A pergunta certa seria: onde estaremos daqui a pouco?” o velho
disse-nos que estavamos prontos para partir, começamos a nos
preparar. Comida e água, o pouco que restou.
Ashia colocou duas espadas entre as costas, kiros também,
Baakir e seus martelos, Gina usava uma espada. Estavamos prontos
para ir a Oyé. Começamos a caminhar para saída de kaneia junto com o
velho que nos acompanhou até a saída, os guardiões estavam na saída
nos viram de longe e abriram caminho. Senti uma sensação estranha,
minha pele ficou arrepiada. O velho parou e nós também. parece que
eu não era a única com aquela sensação, o vento soprava forte feito um
fugitivo. Passaros voavam das arvores e seguiam o vento como se suas
vidas dependessem daquilo. Meu coração batia forte, conseguia ouvir a
ansiedade dele, ou medo.
“Ela está aqui!” exclamou o velho.
“Ela quem?” perguntou Ashia.
“Afro, você precisa ser forte!” disse o velho ignorando a pergunta
de Ashia. O vento contu«inuava a soprar, alguém dava paços lentos a
nossa frente.”Não tenham medo. E lutem.” O velho tirou sua espada. A
nossa frente tinha uma jovem negra, magra, cabelos curtos. Seus olhos
eram castanhos e brilhavam sem parar, suas roupas combinavam com
a cor de seus olhos, toda castanha. Ao seu lado tinha um jovem forte e
grande, carregava uma espada nas costas, rosto pintado de branco e
cabelo rapado.
“Quem é você?” perguntei. Ela parou de andar mas os olhos não
desviaram de mim.
“Eu sou uma alma perdida que vaga pelo mundo, sou vazia como
o ar e solitária como o nada” disse ela com uma voz baixa e roca como
alguém que estivesse a falta de ar.
Ela abriu suas mãos e tinham pequenas pedras nela todas com
manchadas de sangue. Ela deixou as pedras cairem no chão, contei
dezoito pedras.
“Afro agora é com você. Minha jornada termina aqui!” disse o
velho.
“como assim?” perguntei
“os sangues nas pedras são nossos. Meu e de meus homens. Ela
nos matou bem antes de chegar aqui!” disse o velho.
“Não pode ser!” Ele olhou pra mim e sorriu. Seus dentes
brilhantes de um momento pro outros ficaram banhados de sangue,
sua garganta foi perfurada por algo invisivel. O furo era do tamanho de
uma pequena pedra.
O velho caiu. Em seguida todos os guardiões começaram a cair
também. ficamos todos assustados. Não sabia como reagir, vi o velho
morrer na minha frente e a raiva dominou meu coração outra vez.
Peguei no machado e ergui ele. Ele tornou-se pesado em minhas
mãos. Corri em direcção a ela meus olhos amarelos acederam como
chamas amarelas em uma fogueira. Antes de alcança-la lancei o
machado na direcção dela. A terra ao meu redor pairou pelo ar devido
ao poder do oxê. Ela levantou a mão direita, senti meu corpo parar, A
terra congelou no ar o oxê começou a voltar para a minha mão, a areia
começou a voltar aos chão, meu corpo começou a recuar. Enquanto
tudo recuava ela avançou pra perto de mim com uma faca e me acertou
na barriga. Quando o oxê voltou em minha mão eu estava no começo.
No local em que eu estava bem antes de lançar o oxê mas dessa vez
com uma faca presa na minha barriga e sangue caindo pelo meu corpo.
“Então você domina o tempo?” perguntou kiros tirando sua
espada. Ashia também tirou a sua, Gina tirou a sua, Baakir segurou
forte os dois martelos.
“Eu não domino o tempo. Eu sou o tempo!” ela me empurrou
para o chão e correu na dirrecção de kiros. Kiros tentou acerta-la, ela
fez kiros recuar dois segundos e avnçou pra frente dele arremessando
ele para uma arvore, kiros estava no chão. Ashia atacou, ela desviou.
Deu um soco no rosto de ashia ela caiu no chão. Baakir atacou com seus
machados ela desviou todos os golpes, deu uma cabeçada em baakir ele
recuou, Baakir deu outra de volta ela recuou. O jovem na minha frente
em pé tentou avançar para luta.”Eu trato disso!” ele parou de andar. Ela
baixou rápido e golpeou com faca na perna de Baakir. Baakir se
ajoelhou. A faca dela estava no pescoço de Baakir.
“Não!” gritei apavorada. Ela nem sequer olhou pra mim.
“O tempo me conta histórias. Ele contou-me que tu morres daqui
a dois segundos!” ela fez o movimento com a faca para rasgar a
garganta de Baakir. Antes dela terminar caiu um metal perto deles e
uma explosão surgiu arremessando os dois para longe.
“Quê isso?” perguntou Baakir enquanto lutava para levantar do
chão. Eu já não conseguia sorrir. Estava no chão sem forças com sangue
nas mãos mas eu sorri e disse.
“Isso, é quimíca!” Amai voltou a lançar outra perto dela, outra e
outra. Explosões dominavam o lugar fumaça pairava pelo ar.
“Precisamos sair daqui, agora! Minhas bombas não são infinitas.”
Baakir correu perto de mim e me levantou, Kiros pegou no cavalo com
carruagem e subiu nele. Gina correu até a carruagem e subiu, Ashia em
seguida depois eu e Baakir. Amai subiu por última e Kiros deu partida.
Subimos na carruagem todos. A fumaça ficava mais pequena quanto
mais nós nos distanciavamos. Vi os dois sairem do meio do fumo, eles
ficaram a nos encarar a distância e nós estavamos cada vez mais longe
deles.
Amai rasgou metade da minha roupa, pegou na faca.
“Isso vai doer!” puxou a faca da minha barriga. Eu comecei a
gritar de dor. Ela apertou com um pano. Em seguida mandou gina
apertar firme o pano.”Agora vai doer ainda mais.” madou Gina tirar a
mão, em seguida despejou um liquído na ferida e ela começou a arder.
Eu gritava pois a dor era mais que a vida.”Agora vai doer ainda mais.”
“O bom é que eu não sinto a dor fisíca com a mesma intensidade
que a psicológica.” Respondi.”então vai enfrente!” ela puxou uma
agulha do bolso com um conjuto de linhas. Juntou a ferida e começou a
costurar a sangue frio. Ashia colocou um pano sobre a minha boca e
Amai continuou. Depois de dois minutos ela parou. Sentou e respirou
fundo.
“você vai sobreviver.” Disse Amai.
“Olá pra ti também Amai, eu sou Baakir lembra? Eu estou bem!
Aproposito esse sangue no meu pescoço é só um arranhão já passa!”
ela sorriu.
“Você não deixa de ser parvo?” perguntou Amai.
“Eu não sou parvo, sou idiota.”
“qual é a diferença?” perguntou Amai sorrindo.
“parvos são parvos a tempo inteiro, idiotas são parvos quando
querem.” Ela sorriu e se aproximou de Baakir. Colocou um pano
banhado do mesmo liquido que ardeu em minha ferida a volta do
pescoço de baakir.
“Como você descobriu onde estamos?” perguntou Ashia.
“as tuas guerreiras foram até minha aldeia entrgar a tua
mensagem. Eu fui até a aldeia de kiros, não vos achei e então segui
viagem para kaneia.” Disse Amai.
“ela é muito forte.” disse Ashia.
“Não, não é.” Respondeu Amai.
“como assim? Ela quase nos matou.” Entrei na conversa.
“ela não pode usar seu poder por muito tempo, eu estudei ela
antes de atacar.” Disse amai.
“Explica melhor isso.” disse Kiros lá de cima do cavalo.
“Cada vez que ela usa o tempo a seu favor ela fica fraca e precisa
recarregar energia. Repara que no confronto contra Afro ela usou o
tempo a seu favor, contra Kiros também, mas contra Ashia e Baakir ela
lutava como uma pessoa normal pois seus poderes estavam a ser
recarregados.” Ficamos todos espantados pois o que Amai dizia fazia
sentido.
“você está a dizer que ela tem um ponto fraco?” perguntei
“Ela é filha de exu e não exu em pessoa. Ela domina os poderes de
exu dentro de um corpo humano. Ela não é invencivel”.
“como é possivel ela recuar o tempo, apenas pra mim e pra ela
não? Ela recuou o tempo eu recuei com o tempo mas ela avançou.”
Tossi depois de dizer tais palavras.
“Vibração, comprimento de onda ou frequência. Apesar de todos
estarmos sujeitos ao tempo em geral e vibrarmos no mesmo
comprimento de onda ou frequência no fluxo temporal… cada um de
nós tem sua própria vibração, o seu comprimento de onda, ou seja o
seu tempo de existência.” Ela suspirou.” É isso que la faz para não
gastar muita energia. Ao invés de usar o tempo para dominar a vossa
existência em geral, ela usa para dominar a existência de cada um.
Quando a Afro foi dominada pelo tempo todos os outros podiam se
mover inclusive ela. Foi isso que aconteceu.”
“Estou com vontade de lamber teu cerébro!” disse Baakir. Amai
sorriu. Mas ele tinha razão até eu estava impressionada. Amai estudou
ela em poucos minutos, ela sabe como ela luta e seus pontos fracos isso
era simplesmente incrivel mas eu não sei por que estava adimirada,
era Amai a pessoa mais inteligente que eu conheço.
A noite se aproximou e nós continuamos a cavalgar pelo mundo.
Meus olhos pesavam. O sono era mais forte que a minha vontade de
estar acordada, fechei os olhos e dormi.
CAPÍTULO SETE
Quando acordei a noite ainda se mantia plena. Meu olhos
pesavam pois o sono ainda reinava em mim. A carruagem havia
parado.
“Por quê paramos?” perguntei enquanto esfregava meus olhos.
“Vamos fazer uma fogueira e descansar.” Respondeu
Kiros.”Amanhã continuamos.”
Ashia e Amai me ajudaram a descer da carruagem. coloquei meus
braços sobre os ombros das duas e me ajudaram a caminhar até a
floresta. Perto da maior das arvores foi onde decidimos ficar. Baakir
acendeu a fogueira e começamos a nos aquecer. Puxei Gina para deitar
em meu colo e ela deitou. Ficamos todos sentados a volta daquela
fogueira.
“Falta pouco para chegarmos a Oyé.” Tentei puxar assunto pois o
silêncio estava a dominar o lugar.
“Não faças isso Afro!” disse Amai.
“Fazer o quê?”
“Falar sobre Oyé para nós.”
“Amai tem razão.” Respondeu Ashia. “Quanto menos nós
sabermos melhor. Se você nos dizer aonde fica Oyé, fica mais fácil para
eles chegarem até lá.” Entendi o que elas queriam dizer. No momento
eu sou a única chave para chegar a Oyé se eu expalhar com eles a
localização aí seremos muitas chaves.
“É como diz o ditado: em terra de cegos, quem tem um olho é
rei.” Disse Amai.”E tu tens um olho, Afro.”
“Isso não faz sentido.” Bufou baakir.”Se todos são cegos como é
que vão saber que aquele que diz ter um olho não está a menti?
Qualquer um pode dizer que tem um olho no meio de cegos mesmo
não sendo verdade.”
“Baakir, foi uma metafóra!” Respondeu Amai.
“Eu não sei o que é uma metafóra. Mas não faz sentido nenhum.”
Amai bateu com a palma da mão em sua testa e suspirou.
“Eu mereço!” disse Amai. Tirou a mão do rosto.”Por que será que
a filha de Exu quer o trono.” Amai tentava desviar das piadas de Baakir.
“Com certeza poder. É o que todos querem hoje em dia.”
Respondeu Baakir.
“Não.” disse Kiros sério e calmo.”Ela é filha de Exu. Exu é um
orixá vingativo. Creio que ela está a procura de vingança.”
“Quantas pessoas no mundo querem vingança por uma estupidez
qualquer?” pergunteou Baakir-“Muitas. Então não deve ser isso.” Kiros
olhou para Baakir.
“Os motivos dela podem ser mais sólidos que os de outras
pessoa.” Respondeu Kiros.
“Creio que kiros tem razão.” Disse Ashia.”Exu procura sempre
vingança para quem lhe fez mal. Mas ele procura sempre metódos
inteligentes de fazer isso.”
“Quais?” perguntou Amai.
“Uma vez dois amigos de infância que nunca discutiram se
esqueceram de fazer oferendas para Exu em uma segunda feira. Ele
decidiu se vingar por tal desrespeito. Os dois amigos estavam a
trabalhar no campo. Exu colocou um chapéu pontudo na cabeça. O
chapéu era branco no lado direito e vermelho no lado esquerdo. Exu
caminhou até os dois amigos passou no meio deles e cumprimentou-os
educadamente: Bom trabalho meus amigos! Estes gentilmente
responderam: Bom passeio, nobre estrangeiro. Assim que Exu afastou-
se o homem que trabalhava no campo a sua direita falou para seu
companheiro: Quem pode ser esse homem de chapéu branco? O que
estava no lado esquerdo respondeu: O chapéu dele é vermelho. O da
direita insistiu: Não, ele é branco, um branco de alabastro, o mais belo
branco que existe. O outro insistiu: não, era vermelho, um vermelho
escarlate de fulgor insustentável. E a conversa continuou: ele era
branco! Não, ele era vermelho! Ele era branco estás a me chamar de
mentiroso ou pensas que sou cego?” Ashia suspirou” cada um dos
amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança do outro,irritados
eles começaram a bater um ao outro até matarem-se a golpes de
enchada. E exu tinha acabdo de realizar sua vingança sem eles
notarem.”
“Uau!” Amai respondeu.”Essa foi uma das histórias de vinganças
mais perfeitas que eu já ouvi.” Eu tentava me concentrar nas palavras
de Amai mas o sono me dominava.
Quando meus olhos se abriram eu estava de volta naquele lugar
escuro e frio. Mas eu estava feliz e não conseguia para de sorrir. Torcia
para que fosse Kellan a aparecer de novo.
“Afro!” Virei e vi Kellan de pé.
“Estou aqui.” Me aproximei dele. “Como você está?”
“Isso depende de ti.” Respondeu Kellan.
“De mim?”
“sim, se você está bem eu estou bem.” Coloquei um sorriso no
rosto.”então me diz… como estamos hoje?”. Meu sorriso se alargou.
“bom, estamos mais ou menos. Eu conheci a filha de exu e o filho
de ogum. Eles são muito poderosos eu não sei se consigo derrota-los.”
“Eu confio no teu potencial Afro. Tu és muito mais forte que eles.”
“Um deles domina o tempo kellan, eu quase morri nas mãos
deles. Meus amigos me salvaram, caso contrário eu estaria morta.”
Kellas suspirou.”gostaria de achar uma forma de poder vencer eles de
uma só vez.” Kellan baixou a cabeça e voltou a suspirar. Aquela reação
me fez perceber que havia uma forma e ele sabia. “Kellan, você conhece
alguma forma de eu vencer eles?”.
“Sim, mas eu já te deixaria fazer isso. É muito perigoso!”
“perigoso? Eu acho que já nada me assusta. Se existe uma forma
você precisa me dizer”.
“Eu não posso.”
“Me diz Kellan!”
“Já disse que não.” Tentei me acalmar e me colocar no lugar dele.
“Está bem. Pelo menos me diz o que é. Eu prometo que não irei
fazer.”
“Você promete?”
“Você confia em mim?”
“até de olhos fechados.” Comecei a rir e ele também.
“Eu prometo que não irei fazer tal coisa.”
“Existe uma forma de você ganhar mais poder e assim conseguir
derrotar seus inimigos.”
“qual é?”
“Obaluaié!” Kellan pronunciou tal palavra como se eu soubesse o
que quer dizer.
“O que é isso?”
“É um orixá. O orixá mais temido pelos homens.”
“Eu nunca ouvi falar.”
“claro que não. Nenhum homem vivo teria coragem de falar
sobre esse orixá. Ele é responsável pela morte. Ninguém esconde nada
deste orixá. Ele é capaz de enxergar qualquer detalhe da vida de uma
pessoa. É responsável pela morte já que rege a terra e é dela que tudo
tudo nasce e tem seu fim. Mas ao mesmo tempo ele está associado a
cura ele defende os doentes pobres. Sendo assim. Obaluaiê pode causar
uma epidemia mas ao mesmo tempo pode curar qualquer mal. Ele
carrega uma lança de madeira e seu rosto é coberto com uma enorme
palha. Seu brilho é intenso como o sol. Seu brilho mataria qualquer um
rapidamente. Por isso ele aparece sempre coberto por uma palha pois
seu brilho é muito poderoso e mataria quem o visse. Ele pode ti dar
esse poder de matar qualquer um mas ao mesmo tempo ele pode
matar você. Nenhum humano jamais invocou elee viveu.”
“como faço para invocar ele?”
“você me ouviu?”
“eu prometi que não farei isso. Mas não quer dizer que não posso
saber mais sobre nossos orixás.” Kellan suspirou concordando comigo.
“Para invocar este orixá você precisa criar um vínculo com ele
atravez se uma oferenda. No caso de Obaluaiê você deve ofertar uma
galinha de Angola. Matando uma e em seguida saudar o orixá. Aí ele
aparece.”
“entendi.” Tudo aquilo era novo pra mim. Menos a galinha que eu
sabia exactamente aonde encontrar.
“Você vai vencer eles. Eu acredito em você.”
“A vida não tem sido fácil pra mim!”
“Ás vezes não é a vida que tem que ficar fácil e sim tu que tens
que ficar mais forte.” Kellan sabia sempre o que dizer e no momento
certo. Vi ele a desaparecer aos poucos tentei toca-lo mais não cheguei a
tempo e por fim acoredei.
Meus olhos abriram e já fazia sol. Gina estava em meu colo e o
restante dormia no chão perto a fumaça da fogueira. Naquele momento
parecia que o universo estava a tentar me dizer alguma coisa. Pois,
perto da fumaça da fogueira estava uma galinha preta e com pintas
brancas.
“Acoredem.” Susurrei. Baakir acordou. Gina no meu colo também,
os outros ainda se esforçavam para levantar. “Baakir, que tipo de
galinha é aquela?” perguntei enquanto apontava para galinha.
“Nossa já não era sem tempo.estou com fome!”Baakir se levantou
e comçou a andar na direcção da galinha. Levantei rápido e corri na
direção dele para impedi-lo mas antes de eu começar a correr a galinha
havia fugido.”ótimo! você assustou a comida.”
“Você não entende, eu acho que isso é um sinal dos orixás.”
“Como assim?” perguntou Ashia. Então expliquei sobre o sonho
com kellan e sobre Obaluaiê.
“Você não vai invocar este orixá!” disseram todos ao mesmo
tempo.
“Eu entendi e até prometi ao kellan que não iria. Mas você não
acham estranho ela aparecer do nada?”
“Comida Afro. Ela apareceu pra ser comida!” disse Baakir.
“Eles têm razão Afro. Você não pode arriscar a tua vida assim. Se
você morrer as nossas chances de vencer são muito pequenas.” Disse
Gina. Concordei com todos e nos preparamos para partir.
Começamos a caminhar para Oyé novamente. Kiros na frente e
todos nós na parte de trás de novo. O silêcio voltou a dominar o local.
Ninguém se pronunciava e a carruagem continuava a andar. Estavamos
em uma região meio deserta, onde poucas flores sobreviveram. O que
era estranho pois nós estavamos a caminho de um afonte infinita de
água mas só aparecia mais seca pela frente, quando o lugar que a água
já estava no fim ainda tinha flores.
A carruagem parou de repente e nossos corpos se moveram de
um lado para o outro. Levantamos para ver o que se passava. Por quê
Kiros havia parado.
Na nossa frente estava o jovem que outrora apareceu em Kaneia
com a filha de Exu. Kiros olhava pra ele e ele olhava para kiros sem
dizer nada. Baakir desceu da carrugem com seus martelos nas mãos. O
resto de nós ficamos em pé a ver o cenário.
CAPÍTULO OITO
O jovem parecia ter a minha idade. Era forte, braços largos e sua
altura parecia ser de um metro de oitenta. Baakir parou na frente dele
com os martelos mas em nenhum momento o jovem tirou sua arma
para lutar.
“Eu não vim lutar. Eu vim em paz.” Disse o jovem.
“A paz só se conquista com guerra!” respondi de cima da
carruagem.”onde está a tua amiga?”. Ele desviou o olhar para mim.
“Minha neta não está cá. Eu deixei ela pra trás, está cansada e
precisa recarregar energias.” Neta? Me perguntei. Isso não faz nenhum
sentido.
“Como assim neta?” perguntou Baakir.
“Adila é minha neta. Eu sou seu Avô.”
“Você tem praticamente a idade dela.” Voltei a entrar na
conversa. Mas tudo ficou mais claro quando Amai juntou os pontos e
disse.
“Eu entendi. Ela usou seu poder para rejuvenescer você. Ela usou
das suas habilidades em manipular a existência e tornou você mais
jovem.”
“Sim, foi isso que aconteceu. Agora vocês estão dispostos a ouvir
a minha proposta?”
“Fala, ou seus dentes voltaram a cair como quando você era
velho!” disse Baakir apontando o martelo da sua mão direito para ele.
O homem olhou para o Baakir seriamente.
“Nunca ameaces um velho a busca de paz. Ele pode ser mais
pergigoso que mil homens a busca de guerra.” Baakir tentou responder
mas eu cortei ele para poder deixar o homem falar. Então ele começou
a explicar.
“Meu nome é Kinté. Eu sou chefe líder dos guerreiros da aldeia
oito.”
“Aaldeia oito?” perguntei. Só existem sete aldeias e ele vem com
essa história de aldeia oite. As coisas começaram a fazer menos sentido
ainda.
“Há muito tempo atrás quando as aldeias foram divididas.
Existiam oite aldeias. Nessa época nenhum de vocês existia ainda. A
aldeia oite era a aldeia dos gurreiros Leopardos, uma aldeia cheia de
pessoas belas e rica em cultura. Um dia nosso líder cometeu um erro.
Em uma visita ao grande reino em que o rei convidou todos os líderes
para um banquete. Mas meu líder foi com a intenção de se apoderar do
trono. Ele tentou matar o rei mas falhou ao executar seu plano. Como
resultado de sua atitude o rei mandou matar ele. Em seguida o reinou
voltou a reunir com todos os líderes de todas as aldeias para uma
votação. A votação consistia em expulsar a aldeia oite por completo.
Todos os líderes votaram a favor e nós pagamos pelo erro de nosso
líder mesmo sem ter noção do que ele pretendia. Sendo assim, nós
fomos expulsos da nossa terra e obrigados a sobreviver pelo mundo.
Sem água e nem comida. Nós caminhamos durante anos a procura de
melhores condições de vida mas cada vez que o tempo passasse mais
pessoas morriam de fome e sede. Quando minha filha deu a luz a Adila
o nosso povo já estava a beira da extinção, ela nasceu em uma
realidade fria e crua e com o passar dos anos ela ouvia histórias de
tudo que aconteceu, que vosso povo fez ao nosso e a raiva começou a
consumir ela, a sede por vingaça dominava seu coração. Eu não a culpo
pois todos nós tinhamos a mesma sede, os mesmo pensamentos, a
mesma raiva. Mas nós não tinhamos força para nos vingar. Até que…”.
“Até que o quê?” perguntei.
“Até que Adila completou 16 anos e seus olhos tornaram-se
castanhos. Nosso ancião disse que era uma mensagem dos orixás, que
exu estava do nosso lado e que nossa vingança estava perto. As pessoas
a volta de Adila continuavam a morrer enquanto ela aprendia a
dominar seus poderes. Quatro anos depois Adila estava pronta mas só
restava um aldeão vivo para além dela. “eu” só que eu estava velho,
fraco e perto da morte também. Adila não suportava a ideia de me
perder. De perdas ela já estava farta. Você têm noção do que é perder
uma aldeia inteira que ti viu crescer? Que te amou e te cuidou durante
a vida toda? Acho que não pois vossas aldeias ainda vivem.” O homem
continuou sua explicação depois de uma pequena pausa.
“Eu estava a beira da morte e prestes a deixar ela. Ela disse que
me faria voltar a ser jovem e assim eu teria mais tempo de vida. Eu
tinha noção de como rejuvenescer alguém poderia gastar ela, ela
poderia até ter morrido pois o poder exigia muito de si. Então pedi
para ela não fazer aquilo. mas Adila insistiu e eu não tinha forças para
impedir ela. Eu rejuvesci e forte como antes. Somos duas pessoas sem
alma a busca de vingança.”
“por que só agora?” perguntou Baakir.”depois dela te
rejuvenescer vocês poderiam vir atacar os nossos povos.”
“sim, mas Adila mais uma vez arriscou sua vida. Dessa vez com
previsões, ela tem um limite de tempo para prever e quando ela
ultrapassa esse limite ela quase morre. Mas naquele dia ela não queria
saber da morte. Ela previu o futuro e nele ela viu a queda do grande
reino. A filha de xangô e a seca dominar o mundo. ela previu até o dia
em que filha de xangô sairia de sua aldeia a busca de Oyé. Por isso nós
esperamos até esse momento. Pois Oyé nos dará poder e com ele nos
vingaremos.” O velho começou a se aproximar.”mas eu não quero
mortes pois vocês são inocentes. Não têm culpa dos actos de seus
líderes tal como nós. Então eu peço que me digam aonde fica Oyé e
quando o trono for Adila estiver sentada no trono você poderão ter
uma vida normal, diferente dos vossos líderes.”
“Eu sinto muito por tudo que seu povo passou. Mas eu não posso
deixar que ela sente no trono. Mas eu posso pedir para vocês estarem
do nosso lado e juntos acabaremos com essa guerra de vez. vocês já
não vão passar fome nem sede. O que me diz?” perguntei.
“Filha de xangô, minha Neta não tem a mesma paciência que eu.
De estar a busca de paz. Então eu aconselho-te a rever minha
proposta.”
“A minha resposta é não!” ele levantou a cabeça e olhou pra mim.
“você tem a certeza?” perguntou ele. “pense duas vezes.”
“eu já fiz a minha proposta. Se vocês decidirem aceitar nós
estaremos de braços abertos para vos receber.” O homem
simplesmente se virou e começou a caminhar para longe.
“A proxima vez que eu aparecer… Trarei a morte comigo.” Disse
o velho já distante de nós.
Continuamos nossa caminhada com os olhos abertos pois a
qualquer momento eles poderiam aparecer. Me perguntava se tudo
que ele contou era verdade, será que existiu mesmo uma oitava aldeia?
Mas se na realidade não existiu o que eles ganhariam com essa
mentira. Eu só tinha certeza de uma coisa: eu precisava chegar rápido a
Oyé e ocupar o trono. Eu não poderia deixar Aziza ocupar, nem Adila e
muito menos Enzi. Apesar de Aziza ter seus motivos e Adila também
mas nenhuma delas quer o bem comum. Mas quem define o certo do
errado eu? Eu realmente não sei mas não posso parar de lutar pelo que
acredito.
Depois de algum tempo a noite veio e o cavalo estava cansado.
“Precisamos repousar.” Afirmou Kiros parando o cavalo. Todos
concordamos em repousar mas desde que ficassemos atentos a toda
hora. Descemos do cavalo entramos em uma uma pequena floresta e
repousamos. Baakir havia feito uma fogueira novamente nós ficamos a
volta dela.
“Vocês acham que eu posso derrotar ela?” perguntei para todos.
“Sim.” Respondeu Ashia. Todos os outros concordaram menos
Amai.
“Eu não sei, ela é muito poderosa!”
“então você acha que eu não posso vencer?”
“eu não disse isso.” Respondeu Amai.”eu estou a dizer que não
sei, só tu sabes Afro. Só tu consegues sentir a imensidão do poder que
tens. Agora eu te pergunto: você acha que ele é suficiente para vencer?”
“sim, eu acho. Eu só não sei usa-lo na totalidade.”
“O que o velho de kaneia te ensinou não é suficiente?”
“é, mas eu sinto que posso mais. entendes? Só não sei como
usar.”
“Então você precisa saber.” Disse Amai.
O silêncio reinou o local até que Ashia liberou um assunto.
“Ele disse que quando aparecer trará a morte.” Ashia parecia
séria como se estivesse a pensar naquilo o caminho todo.
“Eus sou quem a morte teme!” Disse Kiros. O silêncio premaceu
no lugar.
“Kiros, eu por vezes me pergunto se tu tens noção dos
adversários que enfrentas.” Disse Baakir.”Eles são praticamente
Deuses na terra, por favor para de achar que você venceria algum
deles.” Disse Baakir. Kiros olhou fixamente nos olhos de Baakir até eu
fiquei me apavorei. Estava a torcer para ele não levantar e atacar ele
pelo que disse.
“Ashia, você lutou contra O enzi não foi?” perguntou Kiros sem
desviar o olhar de Baakir.
“Sim, lutei.”
“Ele sangrou?”
“Sim sangrou quando acertava o rosto dele.”
“Tudo que sangra vive e tudo que vive morre.” Kiros não desviou
seu olhar.” Eu não sei se isso é bom ou mal, mas eu sou o único ser vivo
que me assusta!” Baakir engoliu um cuspe em seco.
“Eu entendi.” Disse Baakir. Olhei para os dois e deu uma pequena
risada. Me levantei e comecei a caminhar sozinha. Deixei eles a volta da
fogueira a conversarem.
Achei um espaço aberto sem arvores. Apenas capim tinha no
chão, o céu estava recheado de estrelas então decidi sentar e olhar para
elas. A imensidão de estrelas no céu era de se adimirar. A visão era
mais bela do que tudo que eu já tinha visto.
Alguém se aproximou de mim e sentou ao meu lado. Era Gina.
“Você também ama as estrelas como eu?” perguntou Gina.
“Sim, elas me fazem acreditar que o mundo é mais complexo que
eu.”
“A complexicidade acenta naquilo que queremos para vida.”
Disse Gina.”O que tu mais almejas Afro?”.
“Ser feliz. é isso que todo mundo quer.”
“Isso não existe!”
“A felicidade?” perguntei.
“Não, o ser feliz.”
“por quê tu dizes isso?”
“A felicidade é um estado, ninguém é feliz apenas temos
momentos felizes.” Respondeu Gina”Por vezes estamos felizes e por
vezes não estamos. A felicidade é um estado. É como estar com
preguiça ou estar cansado. Tudo isso é um estado. Um momento em
que você está pois depois tu deixas de estar.” Olhei para ela e voltei a
me encantar com sua palavras.
“Então nós somos um conjunto de emoções que mudam a cada
momento?”
“sim, nós somos!” ela olhou pra mim e sorriu.
“Não vejo a hora disso tudo acabar e poder ti ver a agir como
anciã.”
“Eu creio que em breve verás acho que falta pouco.”
“falta mesmo, nem sei o por que que paramos Oyé fica há duas
horas de caminhada no leste. Estamos muito perto.”
“Eu sinto muito Afro.”
“Pelo o quê?”
“Por isso!”
Gina enfiou uma faca na minha costela. Eu caí no chão, ela ficou
em cima de mim e tapou minha boca. Eu tentava grita mas ninguém me
ouviria. As mãos dela cobriam toda minha boca.
“Os teus amigos avisaram-te para não contares a localização de
Oyé. Mas o teu ponto fraco mais uma vez te arruinou. Você vê o bem
em todo mundo. esse é o teu ponto fraco.” Pegou uma pedra com a mão
direita e acertou a minha cabeça. Não resisti e apaguei.
Vozes me diziam para acordar. A dor que eu sentia na cabeça era
maior que a da primeira vez que apaguei. Abri meus olhos de vagar e
as vozes continuavam a chamar por mim. Me dizendo para acordar.
Consegui abri eles por completo e só via vultos. Me esforcei para me
concentrar e consegui enxergar e ouvir direiro.
“Afro Acorda!” Disse Ashia. Ela estava do meu lado direito presa
a uma arvore. Alguém amarrou ela. No meu lado esquerdo estava
Baakir,Kiros,Amai. Todos amarrados cada em uma arvore. Tentei me
mover mas não consegui e percebi que eu também estava presa em
uma arvore.
Na minha frente estava Gina a preparar suas armas e o resto de
comida que tinhamos para partir. No seu lado direito estava Kinté a
seguar a corda do cavalo. Paços se aproximavam de mim. Olhei em
direcção do sitio que vinha o barulho dos paços e vi ela. Adila a filha de
Exu.
Ela se aproximou de mim e agaixou a minha frente. Olhou
fixamente nos meus olhos e eu olhei nos dela. Conseguia ver o castanho
perpétuo que dominava seus olhos.
“O tempo é o autor da vida, tu és apenas um mero personagem
criado pelo tempo. É o tempo quem decide se o personagem morre ou
vive, se chora ou ri e no final é ele quem decide o final da história.”
Disse Adila. “Por muito tempo em também fui uma personagem na
história da vida, eu era a personagem que mais sofria, a minha história
nunca teve alegria, só tristeza. Então eu me fartei. Saí da história e me
tornei o tempo… agroa, sou eu quem narra e escreve a história.” Ela
puxou uma faca e esconstou em meu rosto.”Quando eu era uma mera
personagem nessa história, eu só via escuridão a minha volta, eu vivia
com medo dela. O medo me atormentou durante anos. Mas quando
veio a luz e levou toda essa escuridão… eu apenas fiquei com mais
medo ainda, pois eu descobri que minha sombra já não seguia os
movimentos do meu corpo!” ela começou a apertar forte a faca no meu
rosto e sangue começou a se formar.
“Filha, pará!” Gritou Gina.
Ela parou. Tirou a faca do meu rosto e levantou. Todos nós
naquelas arvores presos ficamos adimirados com o pronunciamento de
Gina.
“Como assim filha?” perguntei. Gina se aproximou de nós e
recebeu a faca das mãos de Adila.”Como assim filha?!” perguntei de
novo.
“Adila é minha filha, eu sou mãe dela.” Disse Gina enquanto
olhava para o rosto da filha. Gina se virou pra mim e continuou a falar.
“Não existe nenhuma menina que veio da aldeia da tua amiga
Amai. Eu nasci na aldeia oite. Apenas nós os três sobramos dela “
Então você também estava a beira da morte e ela te
rejuvenesceu?” perguntou Baakir. Eu já não conseguia falar pois a raiva
começou a dominar meus pensamentos. Eu fui enaganada esse tempo
todo. Ela fingiu gostar de mim, fingiu me apoiar e no final era tudo
falsidade! Meus pensamentos gritavam mais alto que a minha voz.
“Não, eu fui rejuvenescida pois isso fazia parte do nosso plano.”
Respondeu Gina.”Quando minha filha viu o futuro, nós precisavamos
começar a agri. Então ela me devolveu a adolescência, seria mais fácil
uma menina indefesa entrar em uma aldeia e se tornar um membro de
lá do que uma adulta. O objectivo era estar sempre de olhar na Afro até
descobri aonde ficava Oyé. Durante cinco anos eu convive longe da
minha família e perto dos meus inimigos infiltrada sem ninguém
notar.” Ela suspirou e voltou aolhar pra mim.”E por fim, o plano
funcionou. Eu gostei de ti Afro, eu não quero o teu mal. Eu vi que você é
uma pessoa de bom coração por isso ainda estás viva.” Ela se levantou
e começou a caminhar em direcção ao cavalo junto com sua filha.
Enquanto ela andava, vários cenários se passaram pela minha
mente. Me perguntava por quê ela ajudou Ashia a me salvar? Por que
ela insistiu em estar sempre do meu lado? As respostas eram obvias
mas eu não queria acreditar nelas. Eu não queria acreditar que ela só
me salvou por que precisava da localização exacta de Oyé que eu tinha
em minha mente. Ela subiu no seu cavalo, Kinté subiu em outro e antes
de Adila subir nos seu… Meus olhos acenderam que nem o sol.
CAPÍTULO NOVE
O oxê estava estendido no chão. Distante de mim. Ele começou a
flutuar no ar e veio em minha direcção com toda velocidade possivel.
Acertou as cordas que me predndiam na arvamro e de um momento
pro outro eu estava livre. Eu poderia bem libertar os outros as isso
daria tempo para Gina e sua família fugirem.
O oxê voltou pra minha mãe e eu agarrei ele com a palma da mão
direita. Adila se virou pra mim e ficamos a olhar uma pra outra. Minha
costela dóia, ainda sentia o golpe da faca que Gina acertou em mim.
Mas nem isso me impediria de lutar.
“Mãe, Avô… se afastem!” eles se afastaram com os cavalos o mais
longe possivel. Meus olhos brilhavam e os dela também começaram a
brilhar.
“Afro, não se esqueça. Ela tem pontos fracos!” disse Amai.
Depois de ouvir as palavra de Amai dei um grito e comecei a
correr em dirrecção de Adila. Antes de lhe alcançar lancei o oxê na
direcção dela mas ela já estava com as mãos no ar e eu junto com oxê
congelamos, meus paços começaram a retroceder o oxê começou a
voltar pra mim e quando dei por mim eu estava de volta aonde tudo
começou. Na arvore amarrada e o oxê estava longe de mim jogado no
chão.
Adila começou a correr em minha direcção com sua faca prestes
a atingir o meu peito. Estendeu sua mão com toda rapidez a faca estava
perto dos meus olhos quando o metal da faca colidiu com o metal do
oxê que voou rapidamente em minha direcção. O oxê soltou pequenos
raios que arremeçou Adila para longe. Usei a mesma tática para o oxê
me libertar das cordas. Adila estava a se levantar e eu corri na frente
dela tentei acertar ela mas, seus olhos acenderam castanhos, uma luz
mais brilhante que a anterior e em seguida voltaram ao normal.
Ela esquivou o meu ataque bem antes de eu sequer direcionar
aonde lhe acertaria. Ela estava atrás de mim e antes de eu virar para
acertar ela já estava baixada. Acertou um soco no meu queixo e eu
recuei dois paços.
Era como se ela sabia todos os meus movimentos adiantados.
Golpeou meu peito com soco e em seguida outro no meu rosto, não me
dava tempo de usar o oxê. Me deu uma cabeçada e eu caí no chão.
“Eu previ como seriam os dois minutos futuros dessa luta, eu sei
todos os teus proximos movimentos!”. Amai olhou pra mim e falou
baixo para ninguém ouvir mas eu pude ler os lábios dela.
Ergui o oxê no ar e enviei em direcção a ela, mas ela voltou a se
adiantar ao desviar, o oxê foi para longe e ela se aproximou de mim em
alta velocidade, acertou com a faca no meu braço fazendo um corte.
Chamei o oxê para atingi-la por trás mas ela desviou bem antes do oxê
chegar. Ele estava na minha mão e ela abaixada. Afundei o machado
nela e ela travou me segurando no pulso do braço direito onde estava o
oxê. Ela se levantou com a mão a segurar forte o meu pulso e eu fazia
força para me libertar mas não conseguia.
“Afro, Agora!” era o sinal que eu estava a espera. Amai calculou o
tempo da luta e eu precisava que os dois minutos passassem e eles
passaram.
“Xangô disse que eu venceria essa batalha.” Falei olhando pra ela.
“Você não vencerá.” Disse Adila.
“Deuses não mentem!” meu olhos acenderam ainda mais fortes, o
céu começou a rugir, minha mão direita estava presa junto com o oxê
até que ele ganhou alma e alma do oxê saiu da minha mão direita para
a esquerda e quando atingiu a palma da minha mão esquerda ele
ganhou a forma fisica e eu tinha repartido o oxê em dois.
Acertei o oxê da esquerda no peito dela lhe arremessando para
longe. O céu voltou a rugir, o vento soprava forte, meus olhos
brilhavam como o sol e as estrelas juntos. O oxê da esquerda
transformou-se em fogo e o da direita ficou coberto por raios.
Lancei a energia de raios de um oxê nela e ela foi arremessada
para uma arvore, me aproximei e bati com o oxê coberto de chamamas
no peito dela, bati de novo, de novo e de novo. Juntei os dois oxês
transformaram-se em um juntando chamas e raios me preparei para
acertar o peito dela e senti uma faca me perfurar pelas costas.
Caí no chão, o oxê também. o céu voltou ao normal. Kinté havia
me acertado por trás, Adila estava quase desmaiada ele pegou ela
meteu no colo e correu para o cavalo. Deram partida e começaram a
desaparecer aos poucos. Via tudo a girar a minha volta, sangue escorria
pela minha boca. Tudo em mim dóia, desde o psicológico ao fisíco. Mas
uma vez eu perdi, eles fugiram e eu não sei se poderei vencer eles. Com
ela já foi difícil lutar e se forem dois? Eles estão agora a caminho de
Oyé, eles vão vencer e as aldeias continurão a sofrer, o povo continuará
a morrer, eu não conseguia conviver com aquilo. mas de repente o
sinal dos deuses voltou a aparecer. A galinha de angola estava na
minha frente. Olhei para ela e percebi que dessa vez não pode ser uma
coincidência.
Comecei a me rastejar em direcção dela. Ashia e Amai gritavam
sem parar, em seguida Baakir e Kiros. Todos gritavam a mesma coisa.
“Afro, pará. Não faz isso!” eu não lhes prestava atenção e
continuei a rastejar pra perto dela. A voz de kellan veio em meus
pensamentos “Você promete? Sim eu prometo” lágrimas caiam sobre
os meus olhos pois eu estava prestes a quebrar a promessa. Enqunto
eu rastejava eu gritva de dor, mas não a fisíca nem a psicológica. Dessa
vez foi uma dor que até minha alma sentiu.
Cheguei perto dela, peguei ela com as mãos ainda deitada ao
chão. Tirei uma faca da minha cintura e perfurei ela. Me deitei de
costas para o chão e olhei o céu com lágrimas nos olhos e sangue
escorrendo pela boca.
“Omolu, Omulu, Obaluaiê. Responsável pela morte e pelo fogo. Eu
lhe invoco!” meus olhos se fecharam e a escuridão tomou tudo a minha
volta.
CAPÍTULO NOVE
De volta ao lugar escuro e frio. Havida algo de errado. Desta vez
estava mais frio do que o normal e ao mesmo tempo quente. a sensação
era difícil de descrever. Uma forma humana estava na minha frente em
pé. Eu conseguia ver seus braços e seus pés mas o resto do corpo não.
Estava tudo coberto por uma palha enorme. Seu corpo estava curvado
e sua mão carregava uma lança de madeira.
“Como Ousa invocar Obaluaiê?!” a voz soou grossa e fina ao
mesmo tempo como um eco. Era impossivel de descrever.
Meu corpo não dóia. Era como se todos os ferimentos em mim
tinham sarado.
“Meu nome é…”
“Como Ousa dizer a Obaluaiê seu nome?! Obaluaiê conhece tudo.
Você desrespeita Obaluaiê e indaga a capacidade de seu poder!” a voz
mudou. Desta vez soou como a de um homem velho e ao mesmo tempo
a de um homem jovem.
“Me desculpa, eu não quis ofender você.”
“Você?” O lugar ficou mais quente e meu corpo começou aquecer.
Minha pele ardia por causa da queimadura e minha visão começou a
desaparecer aos poucos. Eu gritei mas naquele momento reparei que
minha voz tinha sumido.”Dirija-se a Obaluaiê com respeito.” Acenei
com a cabeça o mais rápido possível e de repente a quentura sumiu e
minha visão voltou.
Fiquei de joelhos no chão a respirar fundo. Levantei o rosto e
olhei para ele.
“Desculpa por invocar Obaluaiê. Mas eu preciso da sua ajuda.”
“Você tem noção que invocar Obaluaiê é o mesmo que invocar a
morte, não tem?”
“Eu tenho. Mas meus motivos são superiores a minha vida.”
“Você quer o que todos querem. Poder!” Me perguntei como
venceria um dialogo com um orixá que tem mais conhecimento que eu?
“Todos queremos poder. Obaluaiê tem razão. A diferença está em
como cada um vai usar ele. No meu caso eu quero poder para salvar o
mundo.”
“Salvar o mundo? Obaluaiê achou engraçado.” Em seguida ele riu.
Seu riso soou forçado e ao mesmo tempo real.”Se você quer salvar o
mundo começa por elimar o que destrói ele.” Ele voltou a ficar sério.” A
raça humana!”
“A raça humana?” perguntei.
“Você sabe por quê o corpo de Obaluaiê está sempre inclinado?”
“Não, eu não sei.”
“por causa de toda dor e tristeza que Obaluaiê carrega. Maior
parte dessa dor que Obaluaiê sente vem de vocês… humanos. Vocês são
o mau do mundo. são vocês que destróem a natureza. Matam os
animais e quando não estão satisfeitos matam-se vocês próprios.”
Pensei em escolher cuidadosamente minhas proximas palavras pois
não queria voltar a passar por aquela tortura de novo.
“Mas nem todos nós somos assim. Eu concordo com Obaluaiê
mas ainda existem pessoas que dedicam suas vidas em cuidar das
plantas, cuidar de animais como se fossem humanos. Nem tudo está
perdido e Obaluaiê sabe disso. Você, quer dizer… Obaluaiê tem o poder
de elimar toda alma existente na terra se ainda não o fez é por que viu
que algumas ainda lutam pelo bem.” Engoli um cuspe em seco. Estava
com medo do que vinha a seguir.
“Você luta por água como todos os outros na terra.”
“Não, eu não luta por água. Eu luto pelo povo.” Voltei a engolir
um cuspe em seco pois foi a segunda vez que contrariei ele.
Ele se aproximou de mim. Meu cração batia forte a cada paço
dele, minha respiração tornou-se ofegante. Meus olhos deixaram de ser
amarelos e voltaram aos de um humano normal. Euconseguia sentir a
imensidão do poder de um orixá. Não tem descrição mas sua presença
era mais poderosa do que tudo que eu já senti. Ele chegou perto. Um
metro de distância e parou.
“Obaluaiê gostou de você!” coloquei um sorriso no rosto e
respirei de Alívio.”Obaluaiê vê bondade em você, obaluaiê vê
humanidade em você, Obaluaiê vê amor e coragem em você. Afro, filha
de xangô!”
“Então Obaluaiê vai me ajudar?” perguntei.
“Você quer o poder para derrotar seus inimigos? Você quer que
Obaluaiê te dê seu poder de domar a morte? Obaluaiê sabe que não é
isso que você quer.”
“Obaluaiê tem razão. Eu sei que Obaluaiê conhece todos os
detalhes da vida de uma pessoa. Eu quero saber todos da minha. Assim
saberei como usar todo poder que me foi dado por xangô.”
“Obaluaiê não pode simplesmente te dizer como. Obaluaiê
precisa mostrar pra você mas você terá que ver além da palha de
Obaluaiê” ele avançou mais um paço pra perto de mim.”Nenhum
humano sequer já viu Obaluaiê sem palha. Tal acto mataria o Humano
pois obaluaiê carrega um brilho intenso capaz de matar qualquer ser
que respira. Você quer ver o que tem atrás da palha de Obaluaiê? Você
deseja saber tudo sobre você? Você deseja salvar a humanidade e
sacrificar tua própria vida por eles?” respirei fundo. Eu sabia dos riscos
e não pensei duas vezes, eu estava decidida.
“Eu quero ver além da palha de Obaluaiê.” Ele ficou um tempo a
minha frente como alguém que estivesse a olhar pra mim.
“Você não tem medo. Obaluaiê vê isso em você.”
“Eu estou pronta.”
“Você está ciente do preço a pagar para poder ver além da palha.”
Disse ele meio que adimiro com a minha convicção.
“Eu estou pronta!” repeti. Sem receio, sem baixar a cabeça.
“Então veja…” disse ele destapando a palha de seu rosto aos
poucos. Começou a sair uma luz intensa dentro dele. Uma luz capaz de
me cegar, o lugar outrora escuro tornou-se ilumido. Meu coração
começou a bater forte, senti a minha vida se afastar de mim. Era como
se minha alma lutasse para fugir de meu corpo mas eu não deixava. Eu
precisava resistir. A luta tornou-se mais difícil, pude ouvir minha alma
gritar os gritos soavam a pânico mas por fim consegui. A luz se
acalmou e foi aí que eu vi o que tava por trás da palha…
Era eu mesma. Sem os olhos amarelos mas eu mesma.
“Sou eu por trás da palha?” perguntei.
“É isso que Obaluaiê é. Obaluaiê é todo mundo. depende de quem
vê. Por isso eu conheço os segredos de todos os homens, eu sou todos
em um. Por isso eu posso curar uma epidemia e ao mesmo tempo
causar uma. Eu sou o lado bom dos homens e o lado mau dos homens.”
Fiquei impressionada por ainda estar viva mas mais impressionada
ainda por tal revelação.
“Então por isso a sua voz soava por vezes como a de uma mulher
e ao mesmo tempo a de um homem, como a de um velho e ao mesmo
tempo a de um jovem?”
“Obaluaiê é todo mundo!”
“Eu vou sobreviver?”
“Quem você vê atrás da palha?”
“Eu mesma.”
“Quem é você? Uma pessoa boa ou ruim?”
“Boa, na maior parte das vezes eu tento ser boa.”
“Se um assasino estivesse na frente de Obaluaiê agora. Ele
morreria pois ele veria ele mesmo. O que ele faria com outro ser
humano é o que aconteceria com ele. Você só está viva por ter um bom
coração, Afro filha de xangô!” ele fecou a palha e a luz desapareceu. O
lugar voltou a ficar escuro e de repente o amarelo de meus olhos
começaram a voltar e com ele a sensação de saber tudo. eu sabia
exactamente até onde eu era capaz de usar meus poderes e como eu
poderia usar. Eu tinha meus próprios segredo vagando pela minha
mente.
“Agora você sabe do que é capaz e Obaluaiê vai voltar a
descansar.” Ele estalou os dedos e eu senti algo me puxar. De repente
estava de volta na floresta.
Deitada no chão comecei a gritar. Ashia e os outro me seguravam
tentando me acalmar mas eu sentia meu corção arder. Como se
estivesse sido jogado em uma fogueira. Eu só conseguia gritar.
“Afro se concentra.” Disse Amai.
“Meu coração!”
“Calma Afro. Respira, vamos você consegue.” Disse Ashia.
Comecei a me esforçar para respirar e me acalmar. A quentura
que dominava meu corpo e meu coração começou a cessar aos poucos.
Minha respiração voltou ao normal e tudo aquilo passou.
Olhei para os meus ferimentos e vi que eles sararam. Nem a dor
eu sentia mais.
“Você está bem?” Perguntou Ashia.
“Estou.” Respondi meio perdida em meus pensamentos ainda.
Baakir segurou minha mão e me puxou fazendo com que eu me
levantasse.
“Precisamos ir para Oyé.” Falei.
“Vai adiantar em algo?” Perguntou Amai. “Eles já devem ter
chegado lá faz um bom tempo.”
“Eu sei, mas eles não encontrarão Oyé.” Amai olhou pra mim
como alguém que estivesse a espera de uma explicação.”Agora eu sei
de tudo. compreendo a imensidão do meu poder. Eu tinha uma
pequena visão de onde Oyé estava.”
“Pequena?” perguntou Amai. “Então Oyé não está aonde você
dizia estar?”
“está e não está.”
“O que?” perguntou Amai.
“Se a Amai não está a entender imagina eu!” Exclamou Baakir.
Sorri e peguei no Oxê que encontava-se no chão.
“Apenas me sigam e confiem em mim.”
“Eu sinto que precisaremos de força.” Disse Ashia. Olhei para ela
e acenei sim com a cabeça. “Quero que saibas que não estou a te
abandonar Afro.”
“Eu sei.” Respondi com um sorriso. “Nós vamos precisar das
guerreiras panteras.” Ela sorriu e me abraçou.
“Aproveitem e beijem-se também!” Ashia me largou sorriu para
Baakir e deu um pontapé nos testiculos dele. Baakir ajoelhou no chão e
começou a gritar de dor.
“Eu quero fazer isso desde o primeiro dia que ouvi palavras a
sairem da tua boca.” Ashia fez um carinho no cabelo dele. Pegou sua
espada e começou a caminhar a pé.
“Você vai a pé até a aldeia 3?” perguntei.
“Não, eu ordenei a elas que me seguissem, provavaelmente estão
em Kaneia neste momento ou nos seguiram. Espero encontrar elas
pelo caminho”
“Kiambote Lawu!” falei.
“Kiambote Lawu!” respondeu Ashia.
Baakir ainda estava a recuperar da sua dor. Conseguiu levantar-
se mas eu conseguia ver sua dor atravez da sua expressão facial.
“Eu nem falo assim tanto!” disse Baakir em pé. Amai deu um
chute no mesmo lugar e Baakir voltou a ajoelhar.
“Desculpa eu também sempre quis fazer isso!” Amai começou a
rir. Kiros ajudou Baakir a se levantar e levou ele para carruagem.
subimos nela e Kiros deu partida.
Caminhamos durante um bom tempo. O sol estava a desaparecer
do céu e a noite estava a dominar o mundo. Amai estava no meu lado
direito, Baakir a nossa frente e Kiros por cima do cavalo. Eramos os
quatros contra o mundo.
“Você viu Obaluaiê sem palha?” perguntou Baakir.
“Sim, eu vi.” Respondi.
“Como ele é?”
“Isso eu não posso responder.”
“Por que não?”
“Porque nenhum homem viu atravez da palha, ninguém sabe o
que tem por de trás dela. Essa é a realidade da nossa crença e eu não
vou destruir ela.” Baakir olhou pra mim como alguém que estivesse a
se preparar para fazer uma outra pergunta. “Há coisas que não se
questionam. Um velho sábio me ensinou isso.”
Baakir entendeu e não voltou a questionar. A noite finalmente
chegou, o céu estava estrelado e o vento estava frio. Olhei para o Kiros
e disse:
“Pára!” a carruagem parou de repente. Peguei no oxê e desci da
carruagem.
“O que se passa?” perguntou Kiros enquanto eu passava por ele.
“Chegamos!” respondi sem parar de andar.
“Não tem nada aqui!” disse Amai enqunto descia da carruagem.
parei no meio daquele deserto frio, fechei os os olhos e inspirei o ar do
lugar. Abri os olhos e vi que eles estavam perto de mim. Distantes da
carruagem.
“Se afastem!” ordenei. Eles recuaram. Quando notei que estavam
longe o suficiente, ergui o oxê e olhei para o céu. Meus olhos
acenderam, o céu rugiu e de repente um raio amarelo caio do céu e
colidiu com o oxê. O raio desapareceu e o oxê ficou cheio de energia.
Faíscas amarelas dominavam ele por completo.
Bati o oxê com toda força possivel no chão. A areia a minha volta
se moveu e os raios se espalharam pela terra. Um pequeno buraco
abriu, tinha um ferro nele e o oxê encaixou nele perfeitamente. Meu
corpo vibrava, meu braço esquerdo estava a ser dominado por raios
eu me concentrava naquilo como se minha vida estivesse aí.
Kiros, Amai e Baakir se aproximaram de mim.
“ O que estás a fazer?” perguntou Kiros.
“Estou a…” as palavras sumiram da minha boca quando eu vi
Gina e Kinté a nossa frente.
“Onde está Oyé?” perguntou Gina
“Onde está a tua filha?” perguntou Amai.
“Atenção todos vocês!” eles viraram pra mim. “Eu não posso tirar
as minhas mãos do Oxê e não sei quanto tempo terei que ficar aqui.
Baakir deu dois paços a frente.
“Aonde está a filha de Exu?” eles continuavam na nossa frente
estagnados desta vez sem responder a nada.
“Acredito que isso é um plano deles. Eles podem ter vindo aqui e
não ter encontado Oyé, Adila age por impulso, aposto que ela previu o
que aconteceria aqui e está apenas a espera do momento exacto para
aparecer.”
“Adimiro a tua inteligência.” Disse Gina.
“E eu a tua capacidade de enganar.”
“Só os inteligentes conseguem idealizar uma boa mentira.”
“isso pouco me importa, você enganou a todos usando o nome da
minha aldeia!” disse Amai enquanto puxava sua espada.
“Sei que eu pareço indefesa, mas eu não sou. Aconselho-te a
baixares esssa espada.”
“Eu baixarei.” Amai jogou a espada no chão. “Armas brancas
nunca foram o meu forte!” Puxou um metal redondo de dentro do seu
traje e lançou na direcção deles. O metal explodiu e eles foram
arremessados para trás.
“Usa ele de novo!” disse Baakir.
“Só me resta um, vamos ter que lutar.” Amai correu até a sua
espada que estava no chão apanhou ela e não parou de correr até
alcançar os dois. Baakir deu partida em seguida com os seus dois
martelos e começou um duleo entre os quatros.
Ferro impactava ferro, areia pairava pelo ar e o som do impacto
das armas era como música para os meus ouvidos. Olhei para a minha
direita e meu coração bateu forte. Como se alguém tivesse dado um
soco nele. Era Enzi e um exército de pelo menos duzentos homens. Ao
seu lado estava Aziza e Shena. Seus olhos estavam azuis, eu não
esperava por isso e não podia tirar minhas mãos do oxê.
“Eu preciso de mais tempo!” falei sem me dirigir a ninguém.
“Quanto tempo você precisa?” perguntou Kiros.
“O suficiente!”
“Darei-te isso e muito mais!” Kiros não parava de olhar para o
exército a sua frente. Tirou suas duas espadas das costas e começou a
caminhar em direcção do exército.
“Kiros..” falei. Ele parou de andar.
“deixa advinhar, você vai tentar me fazer lembrar que não posso
vencer?” eu sei que é isso que sempre faço com ele, mas de longe o que
eu pensava era isso. Olhei para ele e disse exactamente o que eu quis
dizer:
“Em cada dez guerreiros… mate mil!” Ele sorriu e começou a
caminhar em direcção a eles.
CAPÍTULO DEZ
Enqunto Kiros caminhava ele levantava e batia as duas espadas
uma na outra sem parar.
“Vocês ouvem isso?!” gritou Kiros. “É ogum a chamar por mim!”
Enzi colocou um sorriso no rosto enquanto via Kiros se
aproximar.
“Eu vou lutar contra todos vocês! Eu vou matar a maioria e
quando eu morrer estarei em Orum sentado em uma mesa redonda
brindando com os orixás enquanto conto pra eles as minhas histórias
de glória!” Kiros continuava a bater as espadas. Os homens do exército
começaram a rir enquanto tiravam suas armas, prestes a atacar.
“Vocês riem porque pensam estar em vantagem, eu não sou
qualquer guerreiro, meu corpo é deste tempo mas minhas habiliades
não. Comparado a vocês eu estou quinhetos anos avançado.” Kiros
abriu os braços.”Aproximem-se para verem a morte de perto!” Enzi
ergueu sua mão direita ao ar e quando baixou ela, um grupo de vinte
homens começou a correr na direcção de kiros.
Eles se aproximaram e o deulo começou. Kiros se defendia de
todos os ataques mas os seus eram certeiros e não falhava em golpear
nenhum. Depois de um bom tempo todos os guerreiros estavam no
chão e a espada de kiros estava banhada de sangue.
“Eu quero mais!” gritou Kiros. Os guerreiros que outrora se riam
ficaram adimirados e eu conseguia ver o pânico em seus olhos.
Enzi levantou a mão esquerda e enviou mais vinte. Os homens
vieram na direcção de kiros a toda velocidade. Alcançaram ele. Espadas
colidiam com espadas, kiros enfiou sua espada na barriga de um e
ergueu ela até a cabeça ragando o homem ao meio. Deitou uma das
espadas no chão e tirou uma faca da sua cintura, enfiou a faca na
cabeça de um guerreiro, tirou a faca e voltou a enfiar mais sete vezes
com rapidez e força. Uma espada rasgou suas costas, ele ajoelhou e
recebeu um soco de outro homem em seguida. Quando o segundo soco
deste mesmo homem vinha para atingir kiros ele travou o soco, puxou
o braço do homem e enfiou a faca dentro da boca dele.
Kiros se levantou e continuou a luta, sangue saltava no ar e
homens ião para o chão.
Todos estavam mortos e kiros ainda estava intacto.
“Eu almejo ser recordado…” gritou Kiros com o rosto cheio de
sangue que não era dele.”recordado como o maior guerreiro da
história. Imagino os aldeões em uma noite fria sentados a volta da
fogueira a contarem histórias sobre kiros, o guerreiro que matou mil
homens!”
Enzi sorriu e desceu do cavalo. Começou a caminhar na direcção
de Kiros, sua espada estava a ser arrastada no chão, seu olhos
brilhavam azul. Como o céu refletido no mar.
“Kiros!” Gritou Enzi.
“Enzi!” gritou Kiros.
“Me diz… você pode me ver?” Perguntou Enzi.” Você não pode
matar o que não pode ver!”
“Se o que eu não vejo respira, então morre!”
“Venha dançar com a morte!”
Enzi corria na direcção de kiros e kiros corria na direcção de
Enzi. Ambos com uma espada na mão. As espadas colidiram e o duelo
começou. Enzi atacava kiros defendia, Kiros atacava Enzi defendia.
Baakir estava no chão, Kinté quase tinha derrotado ele. Kinté
enfiou a ponta da espada em baakir mas não a tempo pois ele desviou e
se levantou.
“Eu sou do tempo que guerreiros de verdade existiam, a tua
geração é dominada pelo ego e se esquece que lutar não consiste em
falas que amedrontam o adversário.”
“Então por que você não cala a boca, velho desgraçado?!” Baakir
correu na frente dele com os martelos e tentava acertar kinté, mas
kinté se defendia perfeitamente de todos os golpes. Conseguia ver o
desespero de Baakir a tentar acertar o velho mas em todas as
tentativas falhava e o velho rasgava ele.
Baakir estava de volta no chão. Desta vez de joelho, cansado e
com a respiração rápida.
“Eu não estou a lutar contra você, eu estou a reeducar você!”
“Sabes o que eu acho?” perguntou Baakir enquanto fingia que
ainda estava cansado pois eu via sua mão rastejar aos poucos até o
martelo.
“O que meu jovem?” Kinté se aproximava com a espada por trás
de Baakir.
“Eu sempre achei que velhos ficavam melhor sem dentes!” Baakir
virou seu braço que segurava o martelo com muita força e velocidade
atingindo direito o queixo e a boca de kinté. Kinté estava no chão e
sangrava, cuspiu e seu cuspe veio acompanhado de sangue e dois de
seus dentes.
Kinté chutou os pés de baakir e ele caiu. Kinté subiu em cima de
baakir e começou a acertar socos nele. Várias vezes seguidas sem
parar.
Espada colidia com espada. Amai atacava e Gina se defendia dos
ataques de Amai. Em um golpe mal feito a espada de Amai voou pelos
ares.
“Espadas não são o teu forte não é?” Gina perguntou. Em seguida
começou a tentar golpear Amai com a espada mas amai conseguia se
esquivar com rapidez.
Amai caiu no chão. Mas não me pareceu que os golpes de Gina
levaram Amai a cair. Gina se aproximou com toda rapidez, Amai não se
movia, quando Gina chegou perto vi ela estagnar perto do corpo de
Amai.
“Se eu fosse você não moveria um dedo sequer.” Disse Amai
enquanto se levantava. “desde o começo da nossa luta eu coloquei esse
despositivo no chão, ele funciona como um explosivo, o peso aciona ele
e falta de peso leva-o a explosa. Ou seja se você tirar seu pé, você
morre. A luta que estavamos a ter, na tua cabeça era uma luta em que
você se esforçava para acertar uma esapda em mim, mas n minha era
apenas uma preliminar para te levar até o dispositivo. Eu estudei a
largura dos teus paços enquanto lutavamos, a velocidade do teu
andamento e por fim descobri como te atrair até a armadilha.” Amai se
afastou dela sorriu e disse:
“Você achou que me desarmou quando a espada caiu das minhas
mãos, na verdade você nunca chegou a me desarmar… a minha única
arma é o conhecimento”.
Kiros cortou Enzi pelas costas, Enzi cortou Kiros pelas pernas.
Os dois ficaram em pé a olhar um para o outro. Enzi lançou sua espada
no chão e puxou sua faca. Seus olhos azuis acederam como nunca. Enzi
atacou kiros com rapidez, kiros tentava acertar Enzi mas não conseguia
acompanhar os seus reflexos. Enzi enfiou uma faca no braço esquerdo
de kriso, tão rápido tirou a faca e enfiou na lateral da barriga de kiros.
Kiros deu uma cabeçada em Enzi, enzi recuou largando a faca presa na
lateral da barriga de Kiros.
Kiros atacou com sua espada golpeando enzi, enzi travava os
golpes com os braços que pareciam de ferro. Enquanto ele travava os
golpes, punha-se a rir. Socou com força a espada e ela foi pro ar. Enzi
deu um soco com os punhos de ferro no rosto de kiros, kiros começam
a escorrer muito sangue pelo nariz.
Enzi puxou a faca que estava na lateral da coluna de kiros, rasgou
o traje de kiros, enfiou a ponta da faca no meio do peito deles. Segurou
kiros para não fugir e começou a passear com a faca pelo peito do
kiros.
Kiros gritava de dor mas enzi não parava de passear a faca. A dor
era tanata que até eu senti a distância.
Enzi parou de passear com a faca no peito do kiros. Tirou a faca
olhou para o que fez e sorriu. No peito de kiros coberto de sangue, enzi
havia escrito um “E”. em seguida largou kiros, seu corpo estava
cansado e caiu sobre o chão.
“Você tem minha inicial em seu peito agora!” gritou Enzi
enquanto se aproximava de kiros com sua faca de novo. “Essa é minha
maior homenagem. Eu respeito você kiros, é uma pena que você não
pode me ver.” Enzi se aproximou de kiros, baixou e colocou a ponta da
faca em seu pescoço. Pensei em parar tudo para salvar Kiros, era a
única coisa que me vinha na mente. Deixar ele morrer e salvar o
mundo ou salvar ele e correr o risco de destruir o mundo. concerteza
Kiros era a prioridade.
Kiros tentava dizer algo. Enzi baixou os ouvidos até a boca de
kiros para entender.
“Você ouve isso?” perguntou Kiros. Barulho de ferros a colidirem
com ferros surgia dos fundos. “É o barulha da minha vitória! É a minha
aldeia clamando vingança!” Kiros sorriu.
Um grupo de guerreiros da aldeia 7 surgiu atrás de mim, em
seguida aaldeia 2, de baakir, aldeia 4, aldeia 5, aldeia 6, aldeia 1
liderada por meu tio. Ele tinha um tapa olho mas parecia estar em
forma. Meu pai estava no seu lado e nossos guerreiros todos também, e
por fim, Aldeia 3 que sua líder não liderava apenas sua aldeia mas
todas as aldeia. Ashia estava na linha de frente em cima de uma cavalo.
“Em nome do orixá da guerra…” disse Ashia gritando.”Deus do
ferro, deus das armas!” Kiros sorriu e voltou a fazer mais uma pergunta
pra Enzi.
“Você sente esse cheiro?” Enzi não entendeu. Kiros olhou para os
guerreiros de enzi no canto do olho. “É medo!” Enzi olhou para seus
homens e conseguia sentir o medo em seus olhos. eles sabem como foi
o último confronto contra as aldeias.
“Em nome do ferro que todo homem aqui carrega entre as mãos
eu digo…” Ashia ergueu sua espada pro céu.
“OGUM AIÊ!” Gritou Ashia como se aquelas fossem as últimas
palavras que ela diria na vida.
“OGUM AIÊ!” gritaram os guerreiros dando partida para o
confronto.
Enzi largou kiros e se levantou.
“Eles invocam ogum em uma guerra contra o filho de ogum. E
ainda me chamam de louco!” Enzi começou a correr na direcção do
exército. “Venham dançar com a morte!”
Aziza fez um sinal e seu exército todo começa a seguir Enzi em
direcção a batalha.
Espadas colidiram com espadas. Homens contra mulheres e
mulheres contra homens. Era como se eu estivesse a ver algo que já
aconteceu de novo. uma guerra que já mais seria esquecida.
Baakir vencia a batalha contra Kinté. Seu martelo golpeava várias
vezes o homem até ele cair ao chão. Amai juntou-se ao exército. Baakir
continuou sua luta até Kinté perder os sentidos.
“Eu vou buscar o kiros!” disse baakir em voz alta enquanto corria
para a batalha.
Baakir começou a atravessar os guerreiros tirando um por um do
caminho. Foi golpeada no braço direito e depois no esquerdo. Ajoelhou
e ergueu o martelo com força acertando o rosto do adversário, em
seguida acertou o outro da mesma forma.
Continuou a correr e derrubar os inimigos a sua frente, ele não
para mas os golpes de espadas, no braço, barriga e na perna que lhe
atingiam lhe deixava cada vez mais lento.
Baakir continuou mas apareceram três guerreiros na sua frente.
Ele estava cansado e sem forças. Baakir gritou enquanto corria na
direcção uma bomba de metal saltou na frente dos homens antes de
baakir chegar e dela surgiu uma explosão. Os homens foram
arremessados pelo ar abrindo assim caminho para Baakir. Ele olhou
pra trás e viu Amai. ela piscou pra ele disse.
“Viu como foi bom eu ter guardado a última?”ele sorriu para
Amai e correu em direcção de Kiros que estava estendido no chão.
Baakir baixou seu corpo pegou os braços de kiros.
“Me diz que você pode andar!”
“Por que você veio me salvar?” perguntou Kiros.
“Eu não podia deixar o maior gurreiro da história morrer”
respondeu Baakir.
“Eu fui derrotado. Eu não sou o maior guerreiro da história.”
“Você foi o único guerreiro que matou a triplicar os adverários
no torneio oxum, você foi o único guerreiro que invandiu o grande
reino e abriu os portões, você fez um semi Deus sangrar, você
enfrentou um exército de guerreiros sozinho. Você é o maior guerreiro
da história Kiros!” Kiros se esforçava para levantar. Baakir puxava ele
e lhe colocou em pé.
“Temos um longo caminho pela frente.” Disse Baakir enquanto
olhava para o campo de batalha que eles tinham que passar os
dois.”você ainda consegue andar?” kiros puxou sua espada que estava
no chão, titou seus braços do ombro de baakir. Seu corpo estava
desestabilizado mas ele conseguia ficar em pé.
“você está pronto?” perguntou Kiros?
“Para o que?”
“Para fazer história ao meu lado!” Baakir sorriu e ergueu seus
martelos.
“Em nome do ferro e das armas…” Disse Baakir.
“Em nome do ferro que carregamentos entre as mãos…” disse
kiros erguendo sua espada e do nada senti um silêncio dominar o local.
A exitência se refletia só nos dois.
“OGUM AIÊ!” Gritaram os dois ao mesmo tempo enquanto
corriam em direcção a batalha. Entraram nela e começaram a lutar.
Kiros rasgou a espada no primeiros guerreiro, jogou a espada baakir e
baakir jogou em martelo pra kiros que ele usou para para acertar a
cabeça do mesmo guerreiro. Baakir acertou com a espada no ombro de
um dos guerreiros, a espada ficou presa kiros jogou o martelo pra ele e
baakir começou a bater por cima da esapda atté ela cortar o braço do
guerreiro por completo.
A luta continuou. Os dois trocavam suas armas enquanto lutavam
e nenhum gurerreiro conseguia lhes acertar um golpe sequer.
Ashia deixou dois guerreiros cairem no chão. O terceiro ainda
estava em pé quando uma espada cortou a cabeça dele mas não era da
Ashia.
“Ela é minha!” Disse Shena depois de cortar a cabeça do
guerreiro. As duas estavam uma na frente da outra. Shena segurava a
espada com uma das mãos.
“Durante um ano eu imaginei como seria esse momento.” Disse
Shena se aproximando de Ashia. “Eu treinei sem parar, o ódio dominou
meu coração e me tornou mais forte” shena estava mais perto de Ashia.
“A esapada que carrego nas mãos foi de meu pai e é com ela que eu vou
matar você e depois a tua amiga.” Shena aumentou a velocidade e
tentou golpear Ashia. A espada de Ashia caiu no chão.
Shena começou a golpear Ashia sem parar com a espada, vários
golpes seguidos, braço rasgado, peito perfurado. Ashia estava no chão
com uma perna ajoelhada e a outra meio erguida. Shena transbordava
raiva nos olhos. Pegou no cabelo de Ashia e colocou a espada no
pescoço dela. Ashia começou a sorrir.
“Você vê graça na morte?” perguntou Shena. Ashia continuava a
sorrir.
“Eu sou a líder da aldeia 3. Uma guerreira pantera. Homens não
nos podem derrotar!” disse Ashia.
“Eu não sou um homem!” respondeu Amai.
“Mas foste treinada por um!” Ashia golpeou a barriga dela com o
pé que estava meio erguido. Shena recuou e Ashia se meteu em pé.
Shena se aproximou mas foi bloqueada, em seguida Ashia executou
uma queda shena voou no ar e seu corpo bateu forte no chão.
Ashia estava com a espada de shena nas mãos. Shena se levantou.
Ashia colocou a espada nas costas e começou a golpear o rosto de
shena com socos um atrás do outro.
“Eu fui treinada pelas mulheres mais fortes do mundo!” disse
ashia em seguida acertou um soco no rosto de shena.
“Seus reflexos são previsiveis como os de um homem.” Disse
Ashia acertando outro soco no rosto de shena. Shena tentou acertar
Ashia mas Ashia desviou.”Seus ataques são lentos como os de um
homem.” Ashia acertou mais um soco no rosto de shena que estava
coberto de sangue. E outro soco, outro e outro. Ashia puxou a espada
de suas costas. “E como qualquer outro homem…” Enfiou a espada na
barriga de shena até perfurar o lado de trás.” Você morre!”.
Shena ajoelhou e começou a deitar sangue pela boca, seus olhos
não desviavam do céu. Ashia largou ela e seu corpo colidiu com a terra.
CAPÍTULO ONZE
A terra começou a tremer. Todos os guerreiros pararam de
atacar um ao outro. Meu braço vibrava e estava quente. eu comecei a
gritar pois a dor era mais dura que a vida e poderosa como a morte.
A terra se abriu apenas na minha circunscrição e de baixo dela
começaram surgir pedras. A areia subiu e com ela vinha uma
insfraestrutura enorme. Eu continuava a gritar pois o meu braço dóia
ainda mais. todos os guerreiros pararam para testemunhar aquilo.
Por fim a infraestrutura chegou a superficie. Seus portões eram
gigantes e ela era feita toda de pedra. Maior que o grandre reino e em
seu gigante portão tinha a escrita “Oyé: reino de xangô”.
Meu braço ainda dóia mas eu consegui erguer o oxê. Todos
estavam parados a olhar para mim. Adila apareceu no meu lado
esquerdo, tirou sua mãe do despositivo de Amai e mandou ela cuidar
seu Avô. Olhei para ela e ela pra mim. Desviei o olhar para o campo de
batalha.
“Kiros!” gritei. Ele olhou pra mim, nosso olhos conversavam sem
som e sem movimentos. Em seguida me virei e comecei a caminhar
para dentro do do reino. Eu não precisava dizer mais nada, todos
entenderam o que iria acontecer. A luta pelo trono de xangô finalmente
começaria.
Kiros e Adila caminharam atrás de mim, entramos os três no
reino. O lugar era enorme, cheio de flores e pedras, animais e o vento
tinha forma da vida.
A minha frente estava o trono. Feito de pedra e ouro. A espera
que alguém sentasse nele. Na minha esquerda estava Adila a olhar para
o trono também. na minha direita estava Enzi, a olhar para o trono
também.
Aldeões e guereiros do grande reino ficaram na parte de fora.
Ninguém sequer passou o portão. Eles estavam como plateia naquele
momento. Todos podiam ver o que acontecia dentro.
“Peguem vossas armas!” meus olhos acenderam e meu machado
começou a soltar pequenos raios amarelos.”E rezem para seus deuses,
pois vão precisar muito da ajuda deles!”.
Enzi foi para esquerda, Adila foi para o lado direito. Dividi o oxê
em dois. Um estava a ser dominado pelo fogo e outro pelos raios. Meus
olhos brilhavam mais ainda, mais do que lua e as estrelas naquela noite
fria. Os aldeões começaram a bater as pernas no chão causando um
barulho cativante.
Os olhos de kiros acenderam. Mais do que o normal. O azul
iluminado dominou seus olhos por completo. Tirou a espada que
estava presa na sua cintura. Os guerreiros do grande reino começara a
bater seus pés no chão e a soltar rugidos motivadore com o som da
boca.
Os olhos de Adila brilhavam mais ainda. O castanho dominou
seus olhos como o ar domina a vida. Puxou uma espada das suas
costas. Eu estava no meio deles, seria eu contra eles, eu contra o
mundo e eu me recusava a perder dessa vez.
Os dois começaram a correr na minha direcção. Fiquei estagnada
a espera que eles chegassem.
Suas armas colidaram com as minhas. Desviei de um dos ataques
de Adila e acertei o machado de fogo com toda força em Enzi. Ele
ergueu os braços e travou o ataque. O barulho da colisão veios
acompanhado com um campo de força invisivel que nos arremssou os
três para os ares. O povo vibrou e no momento me senti de volta nas
arenas do grande reino.
Antes de eu tocar o chão meus corpo congelou e começou a
recuar. os olhos de Adila brilhavam e enquanto eu e enzi recuavamos
nossos movimentos ela gritava liberando o poder. A multidão batia as
pernas com mais força no chão. Quando ela terminou nós estavamos de
volta no mesmo lugar antes de nos atacarmos os três.
Adila voltou a sua posição inicial, eu senti que já havia vivenciado
tudo aquilo.
“Ela recuou o tempo!” gritou Alguém lá de fora. Me pareceu a voz
de Amai mas com o barulho que o povo fazia não tinha como eu ter a
certeza.
Os dois correram na minha direcção de novo. suas armas
colidiram com a minha. Desviei de um dos aqtques de adila e quase
acertei meu machado nos braços de ferro de enzi. Mas parecia que
Adila previu meus movimento, enfiou um faca de forma rápida na
minha barriga e enzi acertou meu queixo com um soco . eu fui lançada
para longe e antes de tocar no chão o tempo congelou.
Adila correu em minha direcção. enquanto eu recuava ela
acertava vários golpes em mim com a sua faca. Quando tudo parou eu
estava de volta prestes a atingir o enzi com meu machado de novo.
Adila avançou o tempo pra mim e enzi e voltou a me esfaquear
dessa na barriga e quando dei por mim eu estava no chão a sangra os
oxês estavam no chão, um na minha direita e outro na minha esquerda.
Ela começou a caminha pra perto de mim com sua espada a ser
arrastada no chão. Comecei a me esforçar para levantar todos os
lugares possiveis do meu corpo dóiam e sangravam. Segurei o machada
dos raios com a mão direita. Meus amigos lá fora torciam por mim,
gritavam meu nome sem parar, todos os aldeões gritavam por mim e
eu sabia que não podia perder aquela batalha de jeito algum.
“O tempo é o maior inimigo do homem.” Disse Adila se
aproximando.”Eu sou o tempo então não temo ninguém!”
“Não, o maior inimigo do homem é o destino. Nem o tempo pode
mudar o destino, você pode recuar e avançar o tempo o quanto quiser
mas o destino não mudado. E segundo o destino você morre hoje com
meu machado no meio do peito!”
Adila correu na minha direcção e eu na dela. Joguei o oxê nela
ela travou o oxê e começou a fazer ele recuar junto comigo. Era isso
que eu queria pois ela esqueceu do outro oxê que voou dominado pelo
fogo atingindo ela, lhe arremessou para longe. A multidão começou a
vibrar mais alto.
Fiquei em pé os dois oxês flutuavam na minha frente. Enzi vinha
a andar na minha direcção, com um sorriso rasgado no rosto e de
repente começou a correr na minha direcção. Segurei os dois oxês e
começamos a lutar. Machado contra braços de ferro, Ogum contra
Xangô, guerra contra Justiça. Juntei os oxês em um e atingi os punhos
de Enzi arremessando ele para longe. Os dois ficaram perto um do
outro. Eu já não tinha forças e sabiam que se continuasse assim
perderia a batalha. Tudo em mim dóia, estava a perder muito sangue.
Os dois se levataram e começaram a caminha pra perto de mim.
“Há uma diferença entre eu e vocês. Vocês se tornaram filhos de
exu e ogum no decorrer da vida, eu sou filha de xangô desde o dia em
que nasci!” o céu começou a rugir. A multidão ficou em silên, Raios
amarelos dominavam o céu escuro, o vento soprava forte e eu liberava
raios amarelos a volta de meus olhos. Meus cabelos começaram a
flutuar, junto com meu corpo que ficava mais quente e pesadado.
Deixei o oxê no chão e libertei todo o poder que eu sabia que tinha.
O céu rugia mais alto. Eu gritava pois o poder exigia muito de
mim, as nuvens tornaram-se escuras o vento soprava mais forte ainda
e por fim… a lua tornou-se amarela como os meus olhos. Eu estava no
ar, com raios a minha volta e brilhos infinitos nos meus olhos. Eu sentia
o poder da justiça correr pelas minhas véias. Era como se eu pudesse
dominar toda realidade do mundo.
“Kaô Kabecilê!” gritei. A luz da lua atravessou meu corpo, os raios
atravessaram meu corpo era como uma porta para todo aquele poder
que arremessei para a terra em direcção de kiros e Adila. Uma luz forte
dominou o lugar todos fecharam seus olhos pois o poder era imenso
para a visão humana.
Quando a luz sumiu, eu estava em pé no chão a sangrar Enzi
estava todo queimado, Adila também e os dois gritavam de dor.
Comecei a me aproximar deles aos poucos os pequenos fragmentos de
pedras no chão flutuavam por onde eu passava. Toda realidade me
obdecia naquele momento, eu era um deus na terra.
Me aproximei de Enzi. Ele não parava de gritar de dor. Ergui
minhas mãos e sem tocar nele fiz ele se aproximar de mim. Ele ficou
em pé a flutuar, muito perto de mim.
Aziza gritou e atravessou o portão a correr. Enzi estava no chão,
sua respiração era de alguém que estava a ser asfixiado, eu conseguia
ouvir os batimentos do coração dele, batiam cada vez mais lente.
Ergui a mão esquerda e levantei Adila. Kinté tentou se aproximar
mas foi impedido por guerreiros da aldeia 7. Adila ainda tinha alguma
força notei que ela quis voltar a dominar o tempo quando ergueu sua
mão. O oxê voou com uma rapidez na direcção dela acertou seu peito e
lhe arremessou em uma parede. Fiz o Oxê voltou a minha mão.
Aziza colocou enzi no colo. Ela estava sentada e enzi com a
cabeça no seu colo e então Aziza começou a falar com ele.
“Você vai ficar bem Enzi.” Disse Aziza.
“Eu… eu, não sou louco.” Disse enzi.
“As maiores loucuras são cometidas pelas pessos mais sãs.” Disse
aziza. “Você nunca temeu a morte porque sabes que a vida é uma
prisão que só a morte nos liberta dela.”
“Enzi ergueu suas mãos até o rosto de aziza e disse:
“Você pode me ver.”.
Todos começaram a entrar no reino. Meu coração ardia como
chmas em uma fogueira. Peguei no oxê e comecei a caminhar em
direcção do trono, as mãos que seguravam o oxê escorria sangue com
lágrimas nos olhos dos homens. Meu corpo já não existia, eu sentia
isso. cocheava mas aos poucos cheguei ao trono coloqeui o oxê no chão
de cabeça pra baixo e me sentei no trono devagar.
Uma montanha enorme se moveu, dela começou a surgir água,
água esta que deu origem a rios e cacheiras. O reino estava cheio, todos
estavam na minha frente a olhar pra mim sentada e sangrando naquele
trono de pedra e ouro.
Kiros se ajoelhou a frente de mim e baixou sua cabeça, Baakir
ajoelhou e baixou suas cabeça, Ashia, Amai, Aldeia !,2,3,4,5,6 e 7. Todos
os guerreiros do grande reino se ajoelharam e baixaram suas cabeças.
Conseguia ver o sol nascer e com ele um novo dia viria. Um dia
sem guerra, sem fome, sem sede e sem morte. Um dia sem dor e sem
sofrimento. Um dia repleto de amor, um dia justo e não cruel, um dia
que o mau deixará de reinar o mundo.
Sorri para aquele pôr do sol e vi minha vida passar pelos meus
olhos. vi meu tio treinar comigo na floresta, vi minha aldeia sorrir e
festejar, vi meu pai contar histórias sobre a origem dos orixás a volta
da fogueira, vi Ashia do meu lado a sorrir comigo, vi o ancião dentro de
sua casa comigo na sua frente, vi minha aldeia gritar meu nome
enquanto eu iria para o torneio, vi kiros e baakir a festejarem comigo
enquanto chovia perto da carruagem, Vi Amai comigo no quarto que
dividimos no grande reino e vi Kellan na carruagem a sorrir pra mim
pela primeira vez. então eu sorri a seguir, os amarelos de meus olhos
sumiram, senti meu coração parar de bater e meus olhos se fecharam.
O silêncio é solitário como a morte, a escuridão é vazia como o
nada. A luz só represnta o bem a escuridão representa tudo que é mal
no mundo. e se fosse o contrário? Tudo depende de perspectivas, elas
fazem a realidade da vida e na minha perspectiva a luz é dor e a
escuridão é amor.
Onde estou? Indago meus próprios pensamentos. Que lugar é
este? Não é escuro e frio aqui então eu não estou com os ancestrais.
Que lugar é este? Continuo a indagar pra mim mesma.
- Perguntas são como o vento. Elas vêem e vão. Disse uma voz
atrás de mim. Me virei para ver quem era, era uma mulher negra e com
cabelos negros iguais seu tom de pele. Seu vestido longo era vermelho
e seu cheiro era como as flores mais belas da terra.
- Quem é você? Perguntei a mulher.
- Meu nome é Iansã. – a orixá dos ventos.
- também és responsável pelo cortejo funebre dos homens. É por
isso que você está aqui?
- Não, Afro! Respondeu uma voz que veio da parte de trás do meu
ouvido esquerdo. Me virei e vi um homem negro alto e forte. Vestido de
tudo branco. Era oxalá, o orixá da paz e criador dos homens. – você
está em Orum pequena Afro. Disse o orixá.
- Como assim? por que? Perguntei.
- Você é uma de nós agora. Disse outra voz que vinha do meu
lado direito. Me virei e vi xangô. De repente ao seu lado apareciam
mais orixás. Iemanjá, Oxum, Oxossi, Ossaim, Obaluaiê e muitos outros
que preencheram o lugar com minha presença.
- Vocês me tornaram em uma de vocês? Xangô sorriu e se
aproximou de mim. Colocou suas mãos sobre os meus ombros e disse:
- Olha para baixa Afro. Olhei para o chão branco que parecia ser
feito de nuvens e vi o que Xangô quis me mostrar.
A terra, Aiê. Todos em baixo estavam felizes conseguia ver a paz
no sorriso das crianças. Vi Ashia, estava adulta e estava sentada no
trono de Oyé junto com kiros que também parecia ter crescido, estava
com barbas e mais forte do que o normal. Os dois reinavam oyé como
um casal de reis. Todas as aldeias tornaram-se um único e o povo do
grande reino se uniu a elas. já não via trajes de cores diferentes. Todos
usavam a mesma cor, todos estavam unidos. Amai construiu uma
escola e passou a ensinar tudo que sabe para as crianças junto com
Gina, Baakir era o general do novo exército. Animais passeavam pelo
reino as plantas cresciam e floresciam no lugar.
- Por que eles estão tão adultos? Perguntei.
- o tempo em Orum é diferente que o tempo em Aiê. Para ti fora
dois segundos mas para eles já se passaram oito anos.
Vi todos a correrem para um só lugar, toda população.
- O que está a acontecer? Perguntei para xangô.
- Espera e observe. Ashia saiu do reino, palácio, junto com kiros e
todo povo seguia ela. andou para perto do rio e todos seguiram ela.
Mergulhou o bebé que carregava no braço na água e ergueu ele para o
céu. Em seguida todos ergueram suas mãos nuas também.
- O que eles estão a fazer? Perguntei.
- estão a agradecer a quem é responsável pela vinda desta
criança ao mundo. disse xangô. – Estão a agradecer a Afro, a orixá da
vida.
Coloquei um sorriso no rosto e voltei a olhar pra baixo então
xangô disse:
- Nenhum de nós pode transfromar alguém em orixá. Quem faz
isso são eles. Basta acreditarem e nós renascemos como deuses. Foi
assim que eu me tornei um orixá e é assim que você se tornou uma.
Olhei para tudo a minha volta e a felicidade dominou meu
coração. Eu estava em orum com todos os orixás a minha volta me
dando boas vindas ao céu. Nada era maior que isso, nenhuma palara
descreveria o que eu sentia. Naquele momento eu notei que… a vida
era uma pergunta e eu era a resposta.

FIM
EXPLICAÇÕES ANTES DO AGRADECIMENTO
Esta história carece de uma correção e revisão rigorosa. Caso
tenha encontrado um erro na narrativa eu peço as minhas sinceras
desculpas.
Não sei se de alguma forma desrespeitei a cultura Iorubá ou ate
mesmo as religiões que se revêem em tais crenças. Obaluaiê é um orixá
que ninguém sabe o que tem atrás da sua palha, tudo que vem depois
sobre afro enchergar ela mesma foi mera criação do autor, penso que
essa seja a beleza da arte, ela pode dar um toque especial a realidade e
não só. Mas se tal modificação ofende a cultura então eu peço
desculpas pois eu acho que arte não pode desrespeitar os valores
culturais de um povo.
Uma das principais oferendas de obaluaiê é a galinha de angola.
Mas ela não serve para invocar tal orixá. As oferendas são como uma
súplica para alcançar uma determinada graça, bem como para
homenagear um orixá. Ou seja elas servem como agradecimento aos
orixás.
AGRADECIMENTO
Espero não me esquecer de ninguém. Isso seria suicidio.
Começarei a agradecer a quem me deu apoio quando esta obra ainda
estava apenas em meus pensamentos: ao meu grande amigo e
companheiro josemar pereira da gama que incansavelmente espalhou
o primeiro livro como um vírus pelo mundo. ou apenas os lugares que
ele pode alcaçar, obrigado pela motivação e por acreditar em mim. Ao
cupcake que apesar de tudo eu não posso deixar de agradecer pois foi a
primeira pessoa saber da obra quando ela ainda só estava nos meus
pensamentos, osmainy raimundo minha Amai da vida real, fã número
zero desta obra e a minha primeira leitora da vida, obrigado pela
motivação e pelos gritos que deste a cada capítulo que eu enviava,
beatriz bernado obrigado pela capa e por teres me mostrado que eu
tenho um universo complexo criado. Infelizmente não pude expandir
ele como queriamos que fosse pois se assim eu fizesse teria de alterar
este final que de alguma forma mecheu comigo, Waldíkia Manuel
obrigado pelo apoio incondicial e pela motivação que só tu sabes dar se
o kellan existisse tu adotarias ele, eu sei. Mauro gustavo, kiros da vida
real, obrigado por espalhar esta duologia como uma praga por
benguela/Lobito. Mariza Ashia da vida real, Aliança obrigado pela
correção e revisão do primeiro livro foste um anjo, Magassi agradeço
pelo conteúdo cultural que me apresentas e por intermédio dele
surgiram várias ideias, tu não mereces morrer os orixás te esperam em
orum, Agradeço a toda conexão nerd pelo apoio incondicional a obra,
Bartolomeu que espero que me perdoe por ter matado o kellan ainda
irás de superar, Ideolino, wagney (a afro não tomou banho neste livro
também), suzy manuel que mergulhou no universo da literatura depois
de afro, foi uma honra saber disso e nunca me esquecerei. Alessia
Vterra obrigado por leres a obra, wandy viviane en«u nem sei o que
dizer sobre o teu apoio palavras não bastam te pago um café na
proxima vida e para todos que apoiaram o esforço e dedicação eu não
posso mencionar todos caso contrário serei o novo stephan king pois
esse livro terá 600 páginas e por fim agradecer ao pudim mais
saboroso do planeta terra pelos seus fragmentos deixados nessa
história e seu irmão Leandro que foram a primeira leitura colectiva de
Afro. Obrigado a todos pelo apoio incondicional e prometo que no lirvo
fisíco não vou me esquecer de ninguém.
LÚCIO SILVEIRA

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