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AULA 5 – REDAÇÃO – PROFESSOR EDUARDO – TURMA: 1.

301 (ENSINO MÉDIO)

A DEDUÇÃO, A INDUÇÃO E A ANALOGIA

 A dedução é a operação que consiste em passar de uma ou mais


proposições, tomadas como premissas, para uma nova proposição que é a
sua consequência necessária.

Trata-se portanto de um movimento que extrai de um princípio geral uma


conclusão particular. Passa das leis para os factos ou das causas para os
efeitos e, por isso, as suas conclusões são proposições apodícticas ou
necessárias (que não poderiam ser de outro modo).

Exemplo:
«Todos os homens são mortais.
Pedro é homem.
Pedro é mortal.»

Existem alguns princípios lógicos que servem de base à dedução. É o caso


dos princípios da não-contradição, da identidade e do terceiro
excluído. Estes três princípios são o fundamento mais sólido da dedução,
na medida em que possuem, desde logo, um carácter verdadeiro,
necessário e imediato, sendo evidentes ao espírito .

 Contrariamente à dedução, a indução é a operação que consiste em fazer


passar do particular para o geral. Partindo dos factos, da observação e
da experiência, a indução permite concluir uma lei geral, aplicável a todos
os casos da mesma espécie. Na indução, o pensamento parte dos factos
concretos para as causas que os explicam. As suas conclusões são, pois,
assertórias ou contingentes (isto é, podiam ser de outro modo, não
necessárias), uma vez que se fundam na investigação experimental. É o
caso do seguinte exemplo:

A água dos rios Tejo, Douro, Mondego e Guadiana é doce.


Ora, o Tejo, o Douro, o Mondego e o Guadiana são rios.
Logo, a água dos rios é doce.

Podemos distinguir dois tipos de indução: indução completa ou


totalizante, também designada por aristotélica ou formal e a indução
incompleta, também conhecida por amplificante ou baconiana. A primeira
verifica-se sempre que se infere um universal depois de se terem
enumerado todos
os casos singulares compreendidos nesse universal. Exemplo:
Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Úrano, Neptuno e Plutão
descrevem rotas elípticas.
Ora, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Úrano, Neptuno e Plutão são
todos os planetas do sistema solar.
Logo, todos os planetas do sistema solar descrevem rotas elípticas.

Enunciámos todos os casos particulares de planetas existentes no


universal «sistema solar». Verificada, para cada um, a condição
enunciada, podemos aplicar a conclusão a todo o grupo («todos os
planetas do sistema solar»).

Este tipo de indução é uma indução rigorosa, já que a conclusão não


implica nada que não esteja já contido nas premissas.

O segundo tipo de indução, contudo, é mais arriscado. Ela verifica-se


sempre que se infere um universal depois de se ter enumerado, de modo
subjetivo e não exaustivo, um certo número de partes de um universal.
Ou, por outras palavras, trata-se de atribuir a uma classe de seres, ou
categoria de factos, a propriedade que foi verificada em um ou em alguns
deles. Exemplo:

O cobre, o zinco e o ferro são bons condutores de calor.


Ora, o cobre, o zinco e o ferro são metais.
Logo, os metais são bons condutores de calor.

A diferença em relação à indução completa é bem clara: enquanto naquela


enunciámos todos os casos do universal considerado («planetas do
sistema solar»), aqui limitámo-nos a enunciar três casos do grupo
«metais», e não todos os casos particulares contidos nesse conjunto. Por
isso, a conclusão, no caso da indução incompleta, não é mais que uma
conclusão geral e não universal, ao contrário da indução completa.
Como tal, convém à maior parte dos casos mas não, necessariamente, a
todos – verifica-se frequentemente, mas não sempre.

A indução incompleta não implica, pois, uma necessidade, nisto se


distinguindo também da dedução. Ela apenas nos indica uma probabilidade
que, como tal, até pode ser errada.

 Do ponto de vista argumentativo, uma analogia consiste em partir de uma


relação geralmente conhecida e admitida e assimilá-la a outra que pode
ser mais distante ou problemática. A analogia funciona, assim,
aproximando o que é mais familiar ao que é mais estranho para,
desse modo, permitir aplicar (por transferência) ao que nos é menos
familiar, os critérios de clareza que temos relativamente ao que nos é
mais familiar.

Por exemplo, se uma farmacêutica pretende introduzir um novo


medicamento, ela pode recorrer à analogia para o promover, dizendo que
«do mesmo modo que as novas tecnologias foram estranhas antes de
serem banais, também este novo medicamento será em breve de
consumo generalizado».

A analogia, que estabelece uma conexão entre o particular e o


particular, produz assim uma justaposição de relações cuja força
argumentativa reside na capacidade encontrar um análogo que surja
como evidente e inquestionado, de tal modo que a sua dimensão óbvia
passe para a relação com a qual é comparado.

Segundo Perelman, a analogia não estabelece uma relação de igualdade


simétrica: «o interesse da analogia consiste na aproximação de dois
domínios heterogéneos, cujo primeiro par, a que nós chamamos tema, se
desejaria esclarecer, precisar ou avaliar graças ao segundo, qualificado de
foro da analogia. Aliás, essa é a razão pela qual se afirma que o tema não
é igual ao foro, mas que é como o foro: a razão de similitude tende para a
igualdade, se se conseguem assimilar inteiramente as duas relações, mas,
se se chega a estabelecer a mesma relação entre os termos do tema e do
foro a analogia desapareceu, porque tema e foro se tornam homogéneos»
(Perelman, 1987: 207).

Uma das formas mais vulgares de refutar uma analogia é dizer que não
se podem comparar coisas que não são comparáveis, ou seja, recusar a
aproximação entre o tema e o foro da analogia proposta. Sendo a
argumentação a partir da analogia fundada na similitude de duas relações,
ela torna-se tanto mais forte quanto as características relevantes do que é
comparado sejam realmente familiares e óbvias. Pode também aceitar-se
uma analogia operando uma inversão da finalidade para a qual ela é
proposta, colocando-a assim ao serviço do contradiscurso. A analogia tem
também relação com a metáfora — considerada por Perelman como uma
«analogia condensada» —, funcionando as metáforas como verdadeiros
hologramas do discurso.

No campo jurídico, por exemplo, o recurso ao precedente implica uma


forma de argumentação analógica que convoca o modo como se decidiu
num determinado caso passado para que ele seja tomado em consideração
no modo de decidir no caso presente. Em termos de racionalidade, as
argumentações pela analogia remetem para aquilo a que Perelman (1972:
7) chamou a regra de justiça, a qual aponta para uma equidade no
tratamento de situações consideradas como essencialmente semelhantes e
é vista como «a regra mestra da razão prática», remetendo para uma
racionalidade assente em processos de comparação.

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