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Rabelo Queiroz
January 2010
Uma forma útil de refletir sobre o que deve ser um artigo é tentar responder à seguinte
questão: por que nos pedem artigos científicos como requisitos para conclusão de cursos
de pós-graduação? O artigo científico não é uma prova-mestra de conteúdo e
capacidades. Ele pretende ser um instrumento que permite a verificação e avaliação de
certo conjunto de habilidades, que são sensatamente exigíveis dentro de certos contextos
específicos. É evidente que não faria sentido exigir a entrega de um artigo científico de
um candidato a professor de dança de salão ou de capoeira: as habilidades que tais
profissões exigem não são mensuráveis através da redação de um artigo. Mas pensemos
em um concurso público para juízes, promotores e procuradores: todas essas são
profissões “analíticas”, e não corporais; mesmo assim, concursos de ingresso nessas
carreiras não exigem que candidatos redijam artigos científicos, via de regra. Algumas
delas conferem pontos classificatórios para quem tenha produção científica publicada,
mas a vasta maioria dos aprovados não a tem. Eles têm apenas de se classificar (muito
bem!) em concorridas provas objetivas e dissertativas, respondendo a questões pontuais
e detalhadas, que revelam outras habilidades e capacidades que não aquelas que um
bom artigo científico é capaz de explicitar. Por que, então, cursos de pós-graduação
exigem artigos científicos? Que têm eles de tão especial?
1
Mestre e doutor em Direito pela Faculdade de Direito da USP. Coordenador de Pesquisas e de
Metodologia de Ensino da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
1
QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei
lidos? É simples: porque são artigos científicos que contam à comunidade científica, em
primeira mão, as novidades da ciência, que os jornais traduzem para o público geral.
Sabendo de tudo isso, já é possível ter alguma idéia do porquê de artigos científicos
serem cobrados em cursos de pós-graduação. Um bom artigo científico é capaz de
mostrar que seu autor consegue se inserir em um debate relevante, bem como
demonstrar familiaridade com o estado da arte da produção acadêmica dentro de seu
assunto de pesquisa, além de conseguir produzir conhecimento sólido, relevante e
inovador na matéria. Essas são habilidades que qualquer instituição de ensino se orgulha
em conseguir incutir em seus alunos, além de contribuírem, positivamente, para um
exercício qualificado de variadas atividades profissionais e acadêmicas. Por tudo isso,
um bom artigo científico tem muito a dizer sobre seu autor e suas capacidades e, quando
bem executado, é uma ótima maneira de se demonstrar a apreensão de capacidades e
conteúdos transmitidos ao longo de um curso de pós-graduação – e por isso são
freqüentemente exigidos como requisito para sua conclusão. Nas páginas seguintes,
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei
veremos um pequeno roteiro para a produção de um artigo que atenda bem a esses
requisitos.
2. O tema do artigo
A escolha do tema é fundamental para uma monografia científica, seja ela um artigo,
uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutoramento. Para que o texto produzido
seja verdadeiramente “científico”, não basta que o tema seja restrito e instigante. É
preciso, antes de qualquer coisa, que ele seja suscetível de ser cientificamente estudado.
Para tanto, é preciso que o pesquisador guarde em mente algumas características que ele
deve ostentar:
Já foi dito que trabalhos científicos comunicam resultados relevantes de pesquisa a seu
público leitor. Que significa relevância, neste contexto? Significa, resumidamente,
produção de conhecimento inovador. Cientistas e pesquisadores são socialmente
apreciados porque são capazes de fazer algo importante: eles descobrem coisas, através
de procedimentos intelectuais sofisticados que exigem treinamento específico
(“métodos científicos”), que geralmente respondem a dúvidas relevantes. Estas
relevância e inovação manifestam-se de muitas formas distintas.
Algumas vezes, pesquisadores publicam artigos científicos que trazem uma resposta
nova para uma velha pergunta. Tome-se, por exemplo, a questão da orientação sócio-
ideológica dos juízes em suas sentenças: os juízes brasileiros, visando a aplacar seus
sentimentos pessoais de injustiça social, costumam favorecer a parte mais fraca em suas
sentenças? Um ensaio de 20052 aventou, a partir de entrevistas com magistrados
brasileiros, a hipótese de que o Judiciário teria a tendência de desrespeitar cláusulas
contratuais e dispositivos legais para favorecer o litigante economicamente mais fraco e,
assim, fazer “justiça social” ao arrepio das formas jurídicas. Tal hipótese foi, e bem
provavelmente continua sendo, tratada como verdade inconteste por muitos. Porém, no
2
ARIDA, Pérsio; BACHA, Edmar e RESENDE, André Lara. “Credit, interest, and jurisdictional
uncertainty: Conjectures on the case of Brazil”, Rio de Janeiro: IEPE/CdG, Texto para Discussão n.2,
2003, Publicado em GIAVAZZI. F.; GOLDFAJN, I; HERRERA, S. (orgs.); Inflation targeting, debt, and
the Brazilian experience, 1999 to 2003. Cambridge, MA: MIT Press, may 2005.
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei
ano seguinte, uma pesquisa foi levada a cabo com o específico propósito de testar a
veracidade, ou não, da tal hipótese. Resultado: ela provou-se falsa. De acordo com essa
última investigação, os litigantes economicamente mais fortes têm 45% mais chances de
saírem vitoriosos em uma disputa judicial do que os mais fracos, em casos iguais.3 Uma
pesquisa com esse objeto é certamente relevante, e seus resultados dão o perfeito
recheio para um bom artigo.
Outras vezes, pode-se simplesmente fazer uma pesquisa com o propósito de organizar
e sistematizar algo que está confuso por, digamos, sucessões legislativas pouco claras.
Tome-se, por exemplo, um trabalho que procure estipular qual é, afinal, o regime de
juros vigentes no Brasil. Um tal trabalho perguntar-se-ia: a Lei da Usura foi ou não
revogada pelo Código Civil de 2002? Trata-se de uma questão bastante discutida
atualmente, cuja relevância é evidente.
3
FERRÃO, Brisa L. M.; RIBEIRO, Ivan C. “Os Juízes Brasileiros Favorecem a Parte Mais Fraca?”. UC
Berkeley: Berkeley Program in Law and Economics. Disponível em:
http://escholarship.org/uc/item/0715991z. Acesso em 13/07/2010.
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“No Second Life, vida é virtual e dinheiro real”. Valor Econômico, 18/07/2007, p. B2.
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
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Todos esses temas são muito diferentes entre si, mas compartilham uma característica
relevante. O leitor atento terá notado que todos os temas foram apresentados como
perguntas. Isso indica que são objetos de verdadeiras dúvidas, de indagações
significativas. O mesmo leitor terá notado, ainda, que nenhuma das perguntas é singela
ou simplória; todas são razoavelmente difíceis, e demandam certa reflexão e estudo para
que sejam respondidas com substância. Tais reflexões e estudos são justamente as
pesquisas – que, se bem feitas, serão capazes de construir boas respostas para cada uma
dessas perguntas. Eis a diferença entre uma pesquisa, que é capaz de gerar um artigo, e
o mero estudo diletante, que, por mais que contribua positivamente para o aumento de
conhecimentos de um estudante, não suscita, via de regra, o tipo de reflexão necessária
a um artigo científico.
É importante também notar que os temas citados, tais como formulados – como dúvidas
ou perguntas – são diferentes de coisas como “Da ideologia da decisão judicial”, ou
“Dos juros”, ou “Da tributação da publicidade na Internet”, ou ainda “Da moeda social:
aspectos jurídicos”. Postas desta forma, aquelas perguntas, que eram férteis temas de
pesquisa, convertem-se em meros assuntos. A diferença entre um mero assunto e um
verdadeiro tema de pesquisa é que o assunto indica um campo de interesse, mas não
necessariamente um objeto de inquietação, de dúvida, que será respondido por um
trabalho de pesquisa. Posso ler e estudar sobre um assunto, mas para fazer uma
pesquisa, preciso de uma pergunta, um objeto de dúvida para o qual busco uma
resposta. É provável que o leitor deste texto, às voltas com os preparativos para a escrita
de um trabalho científico, tenha já um assunto, mas ainda não um tema. Como fazer
para transformar um assunto em um tema? Um bom exercício é justamente buscar
extrair dele uma pergunta, um problema, uma dúvida – com ponto de interrogação
ao final, inclusive. Na visão de senso comum, pesquisadores são como detetives do
mundo da ciência, pois uns e outros investigam as coisas com métodos científicos e
descobrem verdades até então ignoradas, mas há uma importante diferença entre
detetives e cientistas: enquanto detetives recebem o problema pronto (um crime para o
qual não se encontra o culpado), cujo sentido é mais ou menos óbvio (encontrar o
assassino), o cientista primeiro constrói o problema para só depois resolvê-lo por meio
da pesquisa científica.
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei
A pergunta ou problema que serão tema de pesquisa devem refletir um objeto relevante
para a discussão acadêmica. O fato de um tema ser objeto de freqüentes discussões entre
pesquisadores e juristas é bom indicativo de sua relevância enquanto pauta de
investigação. O filósofo italiano Umberto Eco, em sua clássica obra Como se faz uma
tese, diz, a certa altura, que “livros conversam entre si”.6 Ao fazê-lo, aponta para o fato
de que acadêmicos e pesquisadores freqüentemente escrevem diversos livros sobre
assuntos repetidos. Tome-se, por exemplo, o campo da filosofia: quanta coisa já não foi
escrita ao longo da história sobre objetos de dúvida como “como sabemos alguma
coisa?”, ou “que é a justiça?”, ou ainda “como as palavras podem ter significados?”,
entre outras. A mesma coisa vale para o Direito, que também tem seus “campeões da
audiência” entre os problemas jurídicos: “como determinar o valor de indenizações por
danos morais?”, “o sistema recursal brasileiro determina a morosidade judicial?”, “que
5
Conforme DURAN, Camila Vilardi. Direito e Moeda: o Controle dos Planos de Estabilização
Monetária pelo Supremo Tribunal Federal. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 103 e ss.
6
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 20ª Ed. São Paulo: Perspectiva.
6
QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei
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MARCHI, Eduardo Cesar Vitta. Guia de Metodologia Jurídica. Teses, Monografias, Artigos. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 48.
8
Respectivamente, conforme citados no texto: http://www.periodicos.capes.gov.br; http://www.scielo.org
; http://www.ssrn.com/. Até a data de escrita deste artigo, a Revista Direito GV era o único periódico
jurídico disponível no Scielo: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1808-
2432&lng=pt&nrm=iso.
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
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pública, já que, por exigência dos organismos governamentais que cuidam dos
programas de pós-graduação no Brasil, os programas de mestrado e doutoramento
devem disponibilizar, pela internet, as dissertações e teses defendidas em bibliotecas
digitais virtuais. Todas as grandes universidades já possuem bibliotecas digitais com
bom volume de teses e dissertações disponíveis gratuitamente na rede: USP,9
Unicamp,10 UFRGS,11 UERJ,12 UFPE,13 etc. Para facilitar a vida dos pesquisadores, o
Ministério da Ciência e Tecnologia oferece um portal que unifica as buscas em algumas
bibliotecas digitais.14 O pesquisador que dominar línguas estrangeiras poderá também
consultar bibliotecas de teses estrangeiras, fartamente disponíveis na internet.15 Artigos
científicos, teses e dissertações devem ser a principal fonte de consulta de um
pesquisador, pois é através deles que nos inserimos nos debates da comunidade
acadêmica.
Além desses veículos, há algumas fontes subsidiárias que podem ser úteis na construção
de um tema-problema, mas que de forma alguma bastam para se fazer uma pesquisa, e
nem devem ser a principal fonte de um pesquisador. Entre essas fontes subsidiárias,
destacam-se, em primeiro lugar, os jornais de grande circulação. Jornais são úteis para
apontar situações problema: uma polêmica em torno de novas formas de fiscalização da
Receita Federal, uma dúvida jurídica sobre a competência para a exploração econômica
de certo recurso natural, um debate sobre concentração de mercado e danos à
concorrência em razão de alguma recente operação de fusão entre empresas e assim por
diante. Notícias desse tipo são habituais na grande mídia e indicam situações-problema
que envolvem debates jurídicos. Não por acaso, grandes juristas são freqüentemente
entrevistados em tais reportagens e dão breves opiniões sobre as polêmicas retratadas.
Entretanto, como os argumentos jurídicos por elas ventilados costumam ser
9
http://www.teses.usp.br/.
10
http://libdigi.unicamp.br/.
11
http://www.lume.ufrgs.br/.
12
http://www.bdtd.uerj.br/.
13
http://www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado/.
14
http://bdtd.ibict.br/pt/a-bdtd.html.
15
A busca pela internet revelará muitos portais desse tipo. Assim como no Brasil, a maioria das
universidades disponibiliza a produção intelectual de seus programas de doutorado na rede. Alguns
exemplos, que estão longe de ser exaustivos, todos de portais em língua inglesa: http://adt.caul.edu.au/
(Ásia e Austrália); www.unisa.ac.za/Default.asp?Cmd=ViewContent&ContentID=15350 (África do Sul);
http://www.collectionscanada.gc.ca/thesescanada/index-e.html (Canadá);
http://ethesis.helsinki.fi/english.html (Finlândia); http://etd.ncsi.iisc.ernet.in (Índia);
http://www.lib.ncsu.edu/etd, http://etd.library.vanderbilt.edu/ETD-db, http://www.pitt.edu/~graduate/etd,
etda.libraries.psu.edu, http://etd.ils.unc.edu/dspace (EUA).
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Outra espécie de fontes subsidiárias são os portais jurídicos (Conjur, Direitonet, Jus
Navegandi, Boletim Jurídico, Migalhas etc.), aos quais se chega com muita facilidade
quando se consultam temas jurídicos com qualquer ferramenta de busca na internet
(Google, Bing, Yahoo etc.). Esses portais contêm, no mais das vezes, pequenos artigos
escritos por profissionais do direito, bacharéis e estudantes. Além de indicarem a
existência de alguma situação-problema que esteja atualmente na pauta dos juristas,
esses sítios poderão também sugerir alguma bibliografia desconhecida ao pesquisador,
que eventualmente apareça citada nos artigos em que abrigam. Não mais do que isso.
De todas as fontes de informação até aqui citadas, portais jurídicos são os que menos
têm critérios de qualidade para a seleção do material que publicam: periódicos
científicos são avaliados por agências públicas e normalmente têm conselhos editoriais
e pareceristas externos que opinam sobre a qualidade dos textos publicados;
dissertações e teses passam por uma argüição pública em banca com examinadores
internos e externos; e mesmo os grandes jornais costumam selecionar suas fontes entre
juristas de prestígio e atores diretamente envolvidos na situação-problema reportada.
Portais jurídicos não têm nada disso, e com um agravante adicional: não há
constrangimento de espaço físico que os obrigue a ser seletivos em relação ao material
que recebem, já que tudo “cabe” na internet. Por tudo isso, recomenda-se muito cuidado
com o uso desse tipo de material, que não deve, de forma alguma, protagonizar a
bibliografia de um artigo científico.
Além de o tema estar na pauta de debates dos juristas, contribuirá para a sua relevância
uma certa originalidade em sua forma de construção ou abordagem. Note-se bem:
originalidade não é a mesma coisa que ineditismo, que é requisito apenas das teses de
doutoramento, mas indica apenas uma forma inovadora e criativa de tratamento de um
assunto que pode muito bem não ser inédito. Um exemplo singelo: o instituto da
repercussão geral como requisito de admissibilidade de recursos extraordinários, criado
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ótimo, mas que, por qualquer circunstância, esteja além das capacidades de quem
pretende trabalhá-lo.
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aventurar-se por este assunto terá de dispor de tempo livre para visitar estes arquivos e
bibliotecas, para consultar in loco os livros e documentos. Registre-se, contudo, que
algum alívio nesse sentido é dado pela internet, pois muitos documentos históricos já
são abertamente acessíveis na rede: os debates parlamentares da Câmara e do Senado
desde a Independência até o presente, por exemplo, já estão digitalizados nos sítios de
cada uma dessas casas,16 com boas ferramentas de consulta, sobretudo para períodos
mais recentes, quando a informação é mais organizada.
Uma boa quantidade de livros – entre eles alguns clássicos – é oferecida em sítios
brasileiros e estrangeiros de domínio público, como o Portal Domínio Público do
Ministério da Educação,17 o Gutenberg Project,18 um portal de base wiki com mais de
30.000 títulos disponíveis, ou o ainda a Online Books Page19 da Universidade da
Pensilvânia (EUA), além de ferramentas de busca específicas para livros on-line.20
Todos esses serviços permitem ainda a conveniência adicional de se realizar buscas
dentro do conteúdo da obra pelas ferramentas usuais de “localizar” de processadores de
texto ou navegadores de internet, facilitando assim a identificação de passagens
específicas de interesse. Por fim, quando o conteúdo do livro não for de domínio
público, restará sempre a opção, mais custosa mas que às vezes vale o investimento, de
se adquirir o livro, também com a ajuda da internet. Além de sítios de livrarias, que
possibilitam a compra de qualquer livro em catálogo em qualquer lugar do mundo, há
também boas opções de “sebos” (comércios de livros usados) na internet, tanto no
Brasil21 quanto no exterior,22 que possibilitam não só a compra de livros usados a bons
preços, mas também de livros atualmente fora de catálogo.
16
Respectivamente, http://imagem.camara.gov.br/diarios.asp e
http://www.senado.gov.br/publicacoes/anais/asp/AP_Apresentacao.asp
17
http://www.dominiopublico.gov.br
18
http://www.gutenberg.org
19
http://onlinebooks.library.upenn.edu/
20
http://books.google.com.br/
21
http://www.estantevirtual.com.br
22
http://www.abebooks.com
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pesquisa (bem como, evidentemente, o tempo de obtenção desse material, como no caso
de importação de livros ou consulta a arquivos e bibliotecas) deve ser computado a esse
cronograma.
Como todo o tempo para a realização de uma pesquisa sempre será justo, em função da
complexidade do trabalho de investigação e escrita de um artigo científico, convém que
o pesquisador restrinja, o quanto possível, o tema a ser pesquisado, de forma a torná-lo
plenamente “estudável” diante dos inerentes percalços de uma investigação. Temas
muito amplos tendem a levar a trabalhos impossíveis de serem executados em toda sua
plenitude, ou, o que é mais comum, a uma abordagem superficial e simplória do objeto
de estudos, o que não convém a uma investigação científica. Um exemplo: em trabalho
recente sobre direito sucessório de cônjuges e companheiros no Brasil, o autor
estabeleceu o seguinte escopo para seu trabalho de investigação:
23
CARVALHO NETO, Inácio Bernardino de. A evolução do direito sucessório do cônjuge e do
companheiro no Direito brasileiro: da necessidade de alteração do Código Civil. Tese de doutoramento.
Faculdade de Direito da USP. 2005.
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24
MONTEIRO, Vera Cristina Caspari. A caracterização do contrato de concessão após a edição da lei
11.079/2004. Tese de doutoramento. Faculdade de Direito da USP. 2009.
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• O tema deve ser um problema, um objeto de dúvida, e não mera indicação de assunto.
Construa seu tema como uma pergunta, com ponto de interrogação!
• De um mesmo assunto, podem ser extraídos muitos temas-problema distintos, cada
qual ensejando uma pesquisa diferente.
• O tema deve ser relevante: procure informar-se sobre os debates acadêmicos atuais em
sua área de interesse, preferencialmente nos veículos de divulgação próprios da
comunidade acadêmica.
• A internet pode ser uma poderosa aliada, mas também uma traiçoeira arapuca: é preciso
ter critério ao buscar informações na rede.
• Escolha temas dentro de assuntos que lhe sejam familiares: trabalhos científicos não
são o momento de aprender coisas absolutamente novas.
• O tema deve também ser suficientemente restrito, de forma que o pesquisador tenha
tempo de pesquisar todas as fontes necessárias.
• Alguns temas e métodos demandam conhecimentos de línguas estrangeiras, que
deverão ser conhecidas pelo pesquisador que os escolher.
• Fontes de fácil acesso devem ser privilegiadas, e o tema da pesquisa deve ser definido
com isto em mente. Algumas fontes estão restritas a poucas bibliotecas ou a arquivos
públicos. É importante ter certeza de que se poderá ter pleno acesso às fontes
necessárias para a pesquisa.
• O tema deve ser suficientemente restrito, de forma que possa ser exaustivamente
pesquisado dentro das limitações de tempo do pesquisador. Recortar um tema amplo é
fundamental para a viabilidade da pesquisa.
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vista, é confuso de ser observar em sua totalidade (se é que a sua totalidade é
observável, tão complexa que é).
Para remediar esse estado de coisas, dever-se-ia começar buscando uma forma original
de abordar este velho problema. Uma possibilidade seria avaliar o desempenho
individual de juízes que trabalham sob as mesmas condições no que diz respeito à
celeridade com que julgam. Note-se bem: o problema original do pesquisador – “Por
que a justiça é lenta?” –, que era muito amplo e complexo, ficou agora mais simples e
instigante: “Há diferenças de desempenho, em termos de celeridade, entre juízes que
trabalham sob as mesmas condições materiais e processuais?”.25 Outro dado de se notar
25
Este é um dos problemas abordados pelo Projeto Meretíssimos, da ONG Transparência Brasil, de onde
se tirou a inspiração para este exemplo. O leitor poderá, com muito proveito, acessar os relatórios de
pesquisa do projeto em http://www.meritissimos.org.br/stf/index.php. Recomenda-se também a leitura
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aqui é que boa parte das fontes que normalmente usamos em pesquisas jurídicas não
serão úteis para responder a esta pergunta: o problema, da forma apresentado, não é um
problema de interpretação legal, nem de divergências doutrinárias. É um problema
fático: quanto demora cada juiz para julgar, e como posso explicar as eventuais
diferenças de desempenho entre eles? Pois bem, o pesquisador descobrirá rapidamente
que sua tarefa será identificar, dentro de um conjunto de julgados, a data de recebimento
de cada ação por um magistrado, a data de seu respectivo julgamento, medir o tempo de
sua duração e comparar os desempenhos de cada juiz. Por uma questão de facilidade no
acesso a informação, ele poderá restringir-se ao STF ou ao STJ, que oferecem essas
informações on line em seus sítios de internet. Poderá também medir os intervalos entre
diferentes etapas processuais (pedidos de vista, pedidos de informações, providências
administrativas internas da corte) e ensaiar algumas hipóteses explicativas mais
específicas sobre certas causas de demora pontuais, o que faria sua observação um tanto
mais interessante. Suas principais fontes de pesquisa, em uma investigação desse tipo,
seriam os extratos processuais disponíveis nessas páginas.
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
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A primeira coisa a ter em mente talvez seja óbvia, mas é demasiadamente importante
para não ser explicitada: respostas normativas sempre são dadas a partir de um critério,
um parâmetro, e no caso das respostas jurídicas, este parâmetro é dado pelas normas
jurídicas. Estas normas provêm principalmente do direito posto, que é aquele criado
pela atividade oficial do Estado através dos procedimentos legislativos aceitos na
prática jurídica de cada nação (aprovação bicameral no Congresso seguida de sanção
presidencial no Brasil; “Raínha no Parlamento” na Inglaterra; aprovação pelos Majlis e
aprovação pelo Conselho de Guardiões no Irã; etc.). O direito posto, antes de ser
aplicado a um caso concreto, tem de ser interpretado, e esta atividade interpretativa é
compartilhada por diversos atores jurídicos em uma dada comunidade: alguns o
26
SASTRE ARIZA, Santiago. “Para ver com mejor luz. Una aproximación al trabajo de la dogmática
jurídica”. In: C. COURTIS (org.), Observar la ley. Ensayos sobre metodología de la investigación
jurídica. Madrid: Trotta, 2006.
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qualquer desvio nesse sentido poderá ensejar reprovação jurídica (multas, condenações
judiciais em ações individuais ou coletivas, etc.) e social (publicidade negativa, danos
reputacionais) à instituição violadora. Supondo, assim, que um banco estrangeiro queira
iniciar operações no Brasil e pergunte a seu corpo de advogados se o CDC será ou não
aplicável a suas atividades, a resposta terá de ser positiva. Tal resposta positiva terá por
fundamento uma interpretação da dogmática do Direito do Consumidor, nas linhas já
mencionadas, na qual se reconhece existir uma norma jurídica, interessubjetivamente
compartilhada pelos diversos operadores do direito, que manda aplicar a legislação
consumerista às relações entre bancos e seus clientes.
Pois bem, uma evidente possibilidade para um trabalho científico, seja ele um artigo,
uma monografia ou uma tese, será o de responder normativamente a uma pergunta de
caráter dogmático: tal coisa é permitida? proibida? obrigatória? quais são as
conseqüências jurídicas da violação à regra posta? tal operação é ou não uma compra e
venda, para fins tributários? esta outra operação é crime? é ilícito administrativo? Seria
ilícito civil? Todas estas perguntas, que são jurídicas no sentido mais estrito da palavra,
têm natureza dogmática (quem as faz quer saber como deve agir, à luz dos dogmas do
direito), e trabalhos acadêmicos podem muito bem se ocupar de lhes propor respostas
dogmaticamente fundamentadas. Podemos subdividir em dois grupos as pesquisas desse
tipo: pesquisas de lege lata e de lege ferenda.27
Um primeiro tipo de investigação dogmática é a que pode ser chamada de lege lata. Em
latim, de lege lata significa “segundo a lei criada” ou “de acordo com a lei existente”.
Este tipo de pesquisa elege um problema interpretativo-jurídico como objeto, e busca
esclarecê-lo e oferecer a resposta que entende ser-lhe a melhor resposta jurídica,
considerando os dispositivos legais válidos para a matéria em questão. Sinteticamente,
podemos traçar um roteiro de cinco etapas para um trabalho científico que trabalhará
um problema de interpretação jurídica de lege lata:
27
A subdivisão a seguir é proposta em: COURTIS, Christian. “El juego de los juristas. Ensayo de
caracterización de la investigación dogmática. In: C. COURTIS (org.), Observar la ley. Ensayos sobre
metodología de la investigación jurídica. Madrid: Trotta, 2006. O conteúdo de cada uma das subdivisões
foi parcialmente tirado da proposta de Courtis, mas modificado quando se entendeu necessário.
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QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Artigo Científico: Concepção, Temas, Métodos e Técnicas. BePress
Selected Works, 2011. Disponível em: http://works.bepress.com/rafaelmafei
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Este método supõe que as divergências interpretativas sobre aspectos pontuais de textos
legais são como meras pontas de icebergs, que escondem divergências mais
substantivas que nem sempre aparecem explícitas. Ler textos dogmáticos “adversários”
buscando a questão subjacente é uma boa maneira de trabalhar divergências
interpretativas de forma mais convincente do que o simples “há quem diga A... por
outro lado, há quem diga B...”, de onde pouca coisa se pode efetivamente concluir.
Outro exemplo, insistindo neste mesmo ponto, que ajudará a esclarecer as coisas um
pouco mais. Tomemos o debate em torno dos programas de ação afirmativa no ensino
público superior - as impropriamente chamadas “políticas de quotas”. Há juristas
competentes, esclarecidos e bem intencionados que são a favor dessas políticas, como
há outros, com os mesmos predicados, que lhes são contrários. Sobre o que, afinal,
divergem essas pessoas? O debate em geral aparece na mídia como se girasse em torno
da existência ou não de raças, ou ainda da culpa das gerações presentes em relação aos
atos discriminatórios do passado, sempre temperadas, num caso e noutro, por
dispositivos constitucionais relativos à educação como direito de todos, ou ainda ao
princípio da igualdade. Mas será este mesmo o âmago da disputa? Será que algum
desses grandes juristas desconhece o estado da arte das pesquisas genéticas sobre raças,
ou nosso passado escravista, ou os dispositivos constitucionais em questão? É de se
duvidar. Haveria então algo mais profundo, e menos aparente, sobre o que discordam
partidários e opositores das políticas de ação afirmativa? Esta é uma boa forma de
começar a construir uma resposta dogmática para esta dúvida interpretativa. Será que
estes adversários concordam, por exemplo, sobre qual a natureza e propósito do ensino
superior, para fins de julgamento da (in)aceitabilidade das ações afirmativas? Como não
há vagas no ensino superior em número suficiente para todos os interessados, o debate
gira em torno da melhor forma de se distribuir um bem escasso, e fazer isso pressupõe
que saibamos qual é a natureza do bem que estamos distribuindo, pois isso influi
decisivamente na determinação dos critérios válidos para sua distribuição: se não
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Lei Complementar 95/1998, art. 9º: “A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis
ou disposições legais revogadas”.
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houver vinho de primeira linha em quantidade suficiente para todos os enófilos, posso
aumentar o preço da garrafa e vendê-lo apenas para os que pode pagar mais por ele, mas
este mesmo critério não será adequado para se determinar a forma de distribuição de
vacina de poliomielite infantil em caso de escassez. Voltando à educação superior, se eu
a enxergar como um mecanismo de integração e ascensão sociais, bem assim como
parte de uma política distributiva mais ampla, talvez eu me incline em favor dos
partidários das políticas de ação afirmativa; mas se eu a enxergar como parte de uma
política de desenvolvimento tecnológico de ponta, ao contrário, talvez eu não esteja
disposto a abrir mão dos candidatos mais bem preparados no presente, por mais que a
seleção de alunos por este critério aprofunde desigualdades sociais historicamente
construídas. Seria esta questão quanto à natureza do ensino superior a dúvida subjacente
à polêmica em questão, escondida por debaixo da ponta do iceberg? Admitindo que sim,
o pesquisador teria então de lhe buscar a resposta entre as normas jurídicas brasileiras:
que dizem as normas pertinentes que deve ser a função atribuída à educação pelo
Estado, para fins de resolução de conflitos jurídicos a seu respeito? Que diz a
Constituição? E a legislação infraconstitucional? Estas perguntas de fundo,
“descobertas” ou construídas pelo pesquisador, são, note-se bem, ótimos temas-
problemas para trabalhos dogmáticos. Note-se também que a questão posta nestes
termos abre outras portas até agora pouco aventadas: critérios de ação afirmativa são
igualmente (in)aceitáveis no ensino médio e no ensino superior? Na graduação e na pós-
graduação? Questões assim tratadas ganham novos horizontes com muita facilidade. É
por isso que certa quantidade de reflexão e pesquisa iniciais são necessárias antes de o
pesquisador estabelecer em caráter definitivo qual será o tema-problema de sua
pesquisa.
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que a verdadeira questão é não a maneira mais justa, mas sim a maneira mais eficiente,
do ponto de vista da geração social de riquezas, de alocação desses recursos sociais
escassos, por onde eu provavelmente desaguaria em alguma teoria de análise econômica
do direito. A escolha entre ambas é possível, e há juristas de primeiro time que optaram
por cada uma delas.
“De lege ferenda” é uma expressão latina que significa “de encontro à lei”, ou “contra a
lei”. Pesquisas deste tipo não querem investigar uma dúvida interpretativa para um
problema jurídico, como fazem as de lege lata. Elas já partem de uma a resposta
dogmática estabelecida, mas com a qual não concordam; por isso, criticam a resposta
juridicamente válida e / ou propõem-lhe alterações.29
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“Bajo este rótulo [investigación de lege ferenda], considero las investigaciones dedicadas a la propuesta
de reformas o modificaciones del derecho positivo. La motivación de este tipo de investigación es la
insatisfacción del jurista com una regulación vigente em el derecho positivo – o com la ausência de
regulación de un determinado caso”. COURTIS, Christian, “El juego de los juristas...”, p. 125.
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O problema identificado pode dizer respeito à redação concreta de uma dada lei, ou
ainda à interpretação predominante de um dispositivo legal. Pode também dizer
respeito a um elemento de legislação antigo, que permaneça vigente mas esteja já em
desacordo com o contexto (político, econômico, social) do atual arranjo social. A idéia
será sempre mostrar que uma determinada parte da ordem normativa vigente,
considerada a redação com que está positivada e / ou o entendimento dominante a seu
respeito, é por alguma razão ruim ou insatisfatória e precisa de alteração. Campos
férteis para colheita deste tipo de problemas são as áreas da vida social em que houve
significativas mudanças de paradigmas, sem a devida atualização legislativa. Os direitos
civis dos casais homoafetivos são um exemplo. Outro exemplo atual vem de área
bastante diferente, o penal: faz sentido manter um estrito controle penal sobre a evasão
de divisas, como faz a Lei 7.492/86, elaborada em uma década econômica e
monetariamente tormentosa, se considerarmos a atual estabilidade financeira e a
plenitude de reservas cambiais que o Brasil hoje tem? Não seria o caso de se rever a
interpretação dos dispositivos legais pertinentes, ou mesmo de se lutar por sua
derrogação?
Finalmente, o artigo poderá indicar, a título de conclusão, e com base na mesma matriz
teórica, as alterações legislativas necessárias para um melhor tratamento jurídico da
situação problema.
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al do artigo científico.
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