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JOÃO AIRES ATAÍDE DA FONSECA JÚNIOR

MODELOS PREDITIVOS E ESPAÇOS ARQUEOLÓGICOS:


MÉTODOS E USOS NA AMAZÔNIA

Tese de doutorado

Belém, Pará
2019
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JOÃO AIRES ATAÍDE DA FONSECA JÚNIOR

MODELOS PREDITIVOS E ESPAÇOS ARQUEOLÓGICOS:


MÉTODOS E USOS NA AMAZÔNIA

Tese de doutorado

Tese de doutorado apresentada como


requisito parcial para obtenção do título de
Doutor em Antropologia, área de
concentração em Arqueologia, pelo
Programa de Pós-Graduação em
Antropologia da Universidade Federal do
Pará.

Orientador: Prof. Dr. Diogo Menezes Costa

Belém, Pará
2019
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


Biblioteca de Pós-Graduação do IFCH/UFPA
iv

João Aires Ataíde da Fonseca Júnior

MODELOS PREDITIVOS E ESPAÇOS ARQUEOLÓGICOS:


MÉTODOS E USOS NA AMAZÔNIA
Belém, XX de março de 2019

Banca examinadora:

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________
Dr. Marcos Pereira Magalhães - Examinador externo
Museu Paraense Emílio Goeldi / Departamento de Arqueologia (MPEG)

__________________________________________________________________________
Prof. Dr. Tiago Pedro Ferreira Tomé - Examinador interno
Universidade Federal do Pará / Programa de Pós-Graduação em Antropologia (UFPA/PPGA)

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________
Prof. Dr. Hilton Pereira Silva - Examinador interno suplente
Universidade Federal do Pará / Programa de Pós-Graduação em Antropologia (UFPA/PPGA)

__________________________________________________________________________
Prof. Dr. Diogo Menezes Costa – Orientador
Universidade Federal do Pará / Programa de Pós-Graduação em Antropologia (UFPA/PPGA)
v

Modelos preditivos e espaços arqueológicos: métodos e usos na Amazônia

Resumo

A presente tese aborda as discussões metodológicas referentes às modelagens de dados


espaciais de sítios arqueológicos, utilizando o conceito de modelo preditivo. São apresentados
os resultados alcançados nas regiões do baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas, das Serras
de Carajás e do baixo curso do rio Tocantins, localizadas no Estado do Pará, Brasil. As análises
demonstram que o conceito de modelo arqueológico preditivo permanece o mesmo desde a sua
origem, mas os métodos de sua construção e aplicabilidade são constantemente aprimorados.
Tal fato pode ser explicado devido este ramo da arqueologia estar atrelado a programas de
computador e às novas tecnologias. Sua utilização tem adquirido cada vez mais importância
como ferramenta de gestão e de proteção de sítios arqueológicos permitindo, também, que
empreendedores públicos ou privados possam avaliar possíveis impactos ao patrimônio cultural
da União. Através de seus mapas hipotéticos são projetadas as áreas com elevados potenciais
de ocorrência de novos sítios, servindo como orientação para pesquisas de campo, otimizando
tempo e recursos em prospecções arqueológicas. Dentre as considerações finais da pesquisa,
verifica-se que para a elaboração e o uso de modelos arqueológicos preditivos devem ser
consideradas as características dos complexos arqueológicos e os locais em estudo, observando
a diversidade de antigos grupos indígenas ao longo dos rios da Amazônia e, por conseguinte,
das diversas formas e escolhas de se ocupar e modificar a paisagem.

Palavras-chave: arqueologia amazônica, modelos preditivos, patrimônio arqueológico.


vi

Predictive models and archaeological places: methods and uses in the Amazon

Abstract

The present thesis approaches the methodological discussions related to spatial data modeling
from archaeological sites, utilizing the concept of predictive model. There are presented the
results achieved in the regions of the low course of the Nhamundá-Trombetas’ rivers, from
Serra dos Carajás and from the low course of Tocantins’ river, all located in the State of Pará,
Brazil. The analysis demonstrates that the concept of archaeological predictive modeling
remains the same from its origin, but the methods of its construction and applicability are
constantly improved. This fact can be explained because this branch of archeology is linked to
computer programs and new technologies. Its uses are becoming increasingly important as tools
for management and protection of archaeological heritage, also allowing that public or private
entrepreneurs can evaluate possible impacts on the Union's cultural heritage. Through its
hypothetical maps, areas with high potential for new archaeological sites are projected, being
useful as a guide for field research, optimizing time and resources in archaeological surveys.
Among the final considerations of the research it is verified that for building and the use of
predictive archaeological models, the characteristics of the archaeological complexes and the
studies areas needs to be considered, observing the diversity of ancient indigenous groups
among Amazon's rivers and, therefore, of the different ways and choices to occupy and to
modify the landscape.

Key-words: Amazon archaeology, predictive models, archaeological heritage


vii

Índice de ilustrações

Figura 1 - Mapa de localização das três áreas de estudos: a região entre o baixo curso dos rios
Nhamundá-Trombetas, a região das Serras de Carajás e o baixo curso do rio Tocantins
(adaptado de Aires da Fonseca, 2016)........................................................................................12
Figura 2 - Mapa produzido em minha dissertação de mestrado, "Nimuendajú Revisitado:
Arqueologia da Antiga Guiana Brasileira" (adaptado de Aires da Fonseca, 2008). ................ 12
Figura 3 - O sítio Cipoal do Araticum. Ganham destaques a extensa camada de terra preta e a
floresta com palmeiras e cipós. (adaptado de Aires da Fonseca, 2018a. Foto: João Aires). .... 18
Figura 4 – Recorte da imagem de satélite Landsat TM 5 com o sítio Cipoal do Araticum
(adaptado de Aires da Fonseca, 2016). ..................................................................................... 19
Figura 5 – Representação artística dos tipos de vegetações no sítio Cipoal do Araticum e seu
entorno. (Adaptado de <www.agroflorestal.net>. Acesso em 19.10.2017). ............................ 20
Figura 6 - Croqui com os retângulos demarcando as prováveis elipses observadas na região do
baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas. ............................................................................ 21
Figura 7 - Mapa com a concentração de sítios e projeções de locais favoráveis a novos sítios
arqueológicos, no interflúvio do baixo curso dos rios Nhuamundá-Trombetas. ...................... 21
Figura 8 - A região da Serra Sul de Carajás tem como característica marcante sua diversidade
de paisagens e de sítios arqueológicos, identificados em áreas abertas ou em cavernas. ........ 24
Figura 9 - Modelo arqueológico preditivo criado para a Serra Sul de Carajás no Projeto
Arqueológico Carajás (PACA). ................................................................................................ 25
Figura 10 - Mapa com a distribuição de sítios arqueológicos identificados na margem direita do
baixo curso do rio Tocantins (adaptado de Aires da Fonseca, 2016). ...................................... 28
Figura 11 – O modelo arqueológico preditivo para a região de interflúvio do baixo curso dos
rios Nhamundá-Trombetas (adaptado de Aires da Fonseca, 2018a). ....................................... 32
Figura 12 - Modelo arqueológico preditivo para a região do baixo curso dos rios Trombetas e
Nhamundá (adaptado de Aires da Fonseca, 2018a). ................................................................ 33
Figura 13 - Composição dos três modelos preditivos criados para as Serras de Carajás. ........ 35
Figura 14 – Ferramentas para a abertura de uma unidade arqueológica de 1x1m, com orientação
ao norte: duas trenas métricas, uma bússola e o Teorema de Pitágoras. .................................. 36
Figura 15 - Mapa com a representação das distâncias em relação aos rios, com e sem considerar
a altimetria do terreno. .............................................................................................................. 38
viii

Sumário
Resumo ....................................................................................................................................... v
Abstract ...................................................................................................................................... vi
Índice de ilustrações .................................................................................................................vii
Introdução ................................................................................................................................. 10
1- Pressupostos teóricos......................................................................................................... 13
2- Artigos que constituem a tese............................................................................................ 15
2.1- Artigo 1 ......................................................................................................................... 15
Os estudos no baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas .................................................. 16
Os Estudos nas Serras de Carajás ......................................................................................... 22
Os Estudos no Baixo rio Tocantins ...................................................................................... 26
2.2- Artigo 2 ......................................................................................................................... 29
2.3- Artigo 3 ......................................................................................................................... 34
3- Considerações finais .......................................................................................................... 39
4- Bibliografia........................................................................................................................ 41
Anexos ...................................................................................................................................... 47
Artigo 1: .................................................................................................................................... 47
Aires da Fonseca. 2016. Aspectos teóricos e metodológicos no uso de modelos arqueológicos
preditivos: uma abordagem na Amazônia brasileira, in Amazônia antropogênica. Organizado
por M. P. Magalhães, pp. 177-198. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. .......................... 47
Artigo 2: .................................................................................................................................... 72
Aires da Fonseca. 2018a. Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios
arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas. Boletim do Museu Paraense
Emílio Goeldi Ciências Humanas 13 (2) 353-376. .................................................................. 72
Artigo 3: .................................................................................................................................... 96
Aires da Fonseca. 2018b. Modelagem espacial de sítios arqueológicos nas Serras de Carajás:
as inferências dos modelos preditivos, in A Humanidade e a Amazônia: 11 mil anos de evolução
histórica em Carajás. Editado por M. P. Magalhães, pp. 211-231. Belém: Museu Paraense
Emílio Goeldi. .......................................................................................................................... 96
10

Introdução

A prospecção arqueológica sempre foi o que mais me fascinou na arqueologia


amazônica1. Horas a fio em trilhas na mata ou em rios, com muita chuva e sol verificando a
possível ocorrência de sítios arqueológicos. Esta etapa da pesquisa traduz uma mistura de
planejamentos, de hipóteses, de métodos e de técnicas que possibilitam encontrar vestígios
materiais do passado humano em lugares, na maioria das vezes, de difícil acesso. Eu considero
esta etapa da pesquisa como o melhor lugar para testar hipóteses, realizar experimentos e aplicar
as constantes inovações que são desenvolvidas no campo da geotecnologia.

Neste sentido, a presente tese de doutorado tem como premissa a utilização e


desenvolvimento de programas computacionais, que possam auxiliar a pesquisa arqueológica
na elaboração de hipóteses capazes de indicar o potencial arqueológico de uma área em estudo.
Utilizando modelagens espaciais de sítios arqueológicos conhecidos e as diversas variáveis
ambientais associadas como a proximidade de rios, a declividade do terreno ou um determinado
tipo de vegetação.

O meu primeiro contato com o tema se deu em duas etapas campo, no Estado do Amapá,
durante meu mestrado no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
(MAE-USP), ao longo dos anos de 2005 e 2008, sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Neves. O
título da dissertação foi “Nimuendajú Revisitado: Arqueologia da Antiga Guiana Brasileira” e
o objetivo foi desenvolver um método que pudesse identificar novos sítios arqueológicos
descritos por Curt Nimuendajú como “alinhamentos de pedra”, atualmente conhecidos como
“megalitos da Amazônia” (Saldanha 2016). O projeto foi elaborado após a minha entrada no
MAE-USP, influenciado pelas descobertas do Museu Goeldi em Calçoene-AP no ano de 2005,
e também pela disciplina da professora Fabíola Silva, a “Formação do Registro Arqueológico”,
que abordava o tema modelos arqueológicos preditivos.
De acordo com a minha banca de defesa do mestrado, formada pelos professores Paulo
de Blasis, Fabíola Silva e Renato Kipnis, foram argumentadas as principais necessidades do
projeto de pesquisa e as congratulações devido ao esforço metodológico empreendendo as
etapas de levantamento de campo com a pesquisa histórica, a modelagem de dados, a definição

1 O termo prospecção arqueológica, que pode ser interpretada do termo em inglês survey, refere-se aos
caminhamentos e às tradagens para verificações em superfície e subsuperfície, com objetivo de identificar
vestígios arqueológicos (Zeidler 1995). Na Amazônia, os fragmentos de cerâmica e de artefatos feitos em rocha
são as principais evidências encontradas em campo.
11

da área de estudo, a ida a campo, a logística, as tomadas de decisões, os imprevistos e finalmente


as descrições dos sítios arqueológicos identificados (Aires da Fonseca 2008).
A professora Fabíola Silva considerou que o desenvolvimento de modelos
arqueológicos preditivos, com testes em campo, seria sempre um esforço válido e de constantes
desenvolvimentos e aprimoramentos. Para o professor Renato Kipnis havia a necessidade de
uso de algoritmo para maiores especificidades na identificação das áreas de alta, de média e de
baixa probabilidade de locais favoráveis à ocorrência de novos sítios.
Na época eu tinha o mínimo de conhecimento das ferramentas necessárias para
interpolar os dados geoespaciais. O programa Google Earth de visualização de imagens de
satélite tinha acabado de ser lançado e meu conhecimento em ArcGis, o programa de
computador com sistema de informações geográficas (SIG), era praticamente nulo. O método
utilizado consistiu apenas em determinar a presença (z=1) e ausência (z=0) de pontos próximos
de cursos de rios, considerando alguns tipos de vegetações, a altimetria e depois uma
interpolação de dados no programa Surfer. O resultado foi um mapa bastante simplificado para
quase todo o Estado do Amapá com uma notável e extensa distribuição das categotrias de alta,
de média e de baixa probabilidade de ocorrência de sítios (figura 1).
Após o ritual de passagem no mestrado, retornei ao Museu Goeldi e participei do
“Projeto Trombetas”, coordenado pela Dra. Vera Guapindaia entre os anos 2000 e 2010, logo
em seguida entrei no “Projeto Arqueológico Carajás” (PACA), coordenado pelo Dr. Marcos
Magalhães entre os anos de 2010 e 2018, e coordenei um pequeno projeto de diagnóstico no
baixo curso do rio Tocantins, no ano de 2012.
Este período que antecedeu o meu ingresso no Programa de Pós-Graduação em
Antropologia na Universidade Federal do Pará (PPGA-UFPA), em 2015, consistiu no
amadurecimento de ideias e novas experiências de campo na arqueologia amazônica, e que
resultaram em três áreas de estudos que compuseram as discussões em três artigos para a
presente tese de doutorado: a região entre o baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas, a região
das Serras de Carajás e o baixo curso do rio Tocantins (figura 2).
12

Figura 2 - Mapa produzido em minha dissertação de mestrado, "Nimuendajú Revisitado: Arqueologia da


Antiga Guiana Brasileira" (adaptado de Aires da Fonseca 2008).

Figura 1 - Mapa de localização das três áreas de estudos: a região entre o baixo curso dos rios Nhamundá-
Trombetas, a região das Serras de Carajás e o baixo curso do rio Tocantins (adaptado de Aires da Fonseca
2016).
13

1- Pressupostos teóricos

Portanto, sobre esses modelos arqueológicos preditivos poderiam ser feitos dois
questionamentos: como construí-los? E por que desenvolvê-los? A literatura aponta que a
origem destes modelos se deu com a chamada “Gestão dos Recursos Culturais” (Cultural
Resource Management-CRM), que durante a década de 1960, nos E.U.A, buscava um amplo
programa para preservar os registros históricos identificados em várias localidades, que
estavam sendo impactadas pelas instalações de ferrovias e rodovias no país. Foram aplicados
os estudos sobre padrões de assentamentos e correlações com variáveis ambientais, tendo a New
Archaeology2 como propulsora a partir do uso de computadores e de sistemas de informações
geográficas, durante a década de 1970. Já na década de 90, ocorreu um boom na popularização
de aparelhos com “Sistema de Posicionamento Global” (Global Position System-GPS) e de
imagens de satélites em programas de sensoriamento remoto (Verhagen 2007).
A premissa básica de um modelo arqueológico preditivo é que exista uma correlação
quantificável, entre a presença de um sítio e diversas características ambientais. Esta correlação
deve ser válida para que as características ambientais similares, existentes em outras regiões
ainda não levantadas, possam indicar a provável ocorrência de novos locais que contenham
vestígios arqueológicos, tendo como objetivo a confecção de mapas hipotéticos indicando
faixas de potencial arqueológico de baixa, de média e de alta probabilidade (Warren 1990;
Brandt, Groenewoudt e Kvamme 1992; Arnoff 1993; Dann e Yerkes 1994; Kipnis 1997; Parcak
2009).

Destarte, os sítios arqueológicos hoje em dia identificados em um determinado espaço


físico, tais como em locais de terrenos planos, em áreas elevadas ou próximas de um curso de
rio, podem constituir o reflexo de escolhas culturais advindas de aspectos das relações
econômicas, sociais ou ritualísticas, outrora estabelecidas por antigos grupos humanos. Em se
tratando de modelos, a distribuição espacial de sítios deve apresentar um padrão de distribuição
no espaço. Do contrário, se a amostra possuir sítios distribuídos de forma aleatória nas
paisagens, as chances de se estabelecer uma hipótese que consiga projetar locais favoráveis a
novos sítios arqueológicos tornam-se o mero acaso.

2 A Nova Arqueologia, ou arqueologia processual, possui entre seus principais expoentes o estadunidense Lewis
Binford, com a publicação New Perspectives in Archaeology, e o britânico David Clark com o seu livro Analytical
Archaeology, ambos publicados em 1968. Trata-se de um movimento na arqueologia que ansiava por um maior
cientificismo nas pesquisas, utilizando o raciocínio hipotético-dedutivo e o teste de hipóteses. Dentre suas práticas
estão o uso de computadores para cálculos estatísticos e a compreensão de que o meio ambiente possui um
importante papel na economia e nas relações sociais de antigos grupos humanos (Darvis 2002).
14

Em relação à arqueologia da paisagem, esta pode ser compreendida por três aspectos
(Criado Boado 1999):

 O espaço enquanto entorno físico ou matriz ambiental, destacando os estudos


paleoambientais e da geoarqueologia nesta compreensão;
 O espaço enquanto entorno social onde são desenvolvidas as relações sociais individuais
ou entre grupos;
 O espaço pensado enquanto meio simbólico, onde a natureza é apropriada pelas relações
humanas.

As pesquisas que serão apresentadas nos artigos da presente tese versam sobre a
hipótese de que as geolocalizações de sítios arqueológicos conhecidos e suas características
ambientais, observadas hoje em dia, possam indicar novos lugares que contenham vestígios
arqueológicos.

Por ter um caráter de desenvolvimento e aplicação do método de modelos preditivos, os


artigos tratam principalmente do primeiro conceito abordado por Criado Boado (Op. cit.), das
características físicas do entorno dos sítios, como distâncias de cursos de rios, cotas de
altimetrias, rugosidade do terreno ou de tipos de vegetações.

São a partir destas características físicas que hoje em dia se observa os processos pós-
deposicionais na formação do registro arqueológico (Schiffer 1987), sendo possível mapeá-los
e criar projeções. O exemplo advém das matas secundárias associadas em alguns sítios
arqueológicos na região do baixo curso do rio Nhamundá-Trombetas. Estes sítios encerram o
que hoje é debatido como floresta antropogênica (Clement et al. 2015), com concentrações de
determinados tipos de plantas contendo propriedades medicinais, alucinógenas ou alimentícias.
Estima-se que estas plantas foram manejadas para permanecerem nas proximidades de antigos
assentamentos e estiveram relacionadas ao universo simbólico de antigos grupos indígenas.
Estes locais indicam o que para Balée (2008) seriam os espaços de indigeneidade, ou no que
para Magalhães et al. (2016) seria a paisagem antropogênica.

Assim sendo, o pressuposto seguinte consiste em traduzir o observado em campo pelo


pesquisador para o meio computacional, pois os arquivos digitais possuem variações de acordo
com a escala, a projeção cartográfica escolhida e a época de aquisição dos dados (Câmara et al.
2001). Por exemplo, os arquivos relacionados com as características do terreno, as imagens de
radar provenientes da Shuttle Radar Topography Mission-SRTM (USGS 2018), possuem uma
resolução espacial de 90m ou 30m, ou seja, as representações espaciais compreendem uma área
15

de 30x30m e feições do terreno menores do que estas dimensões não serão visíveis ou passíveis
de análises.

Diante desta perspectiva da arqueologia da paisagem e da necessidade de transpor o


observado em campo para os programas de computador, surge a pergunta: mas como construir
modelos arqueológicos que sejam preditivos?

Como descrito no início, a experiência de modelagem de dados aplicada na minha


pesquisa do mestrado, apresentou demasiadas generalizações espaciais. Estima-se que com a
pesquisa agora desenvolvida no doutorado, com dez anos de diferença do mestrado, tenham
sido aprimorados estes estudos arqueológicos, pois os resultados alcançados, bem mais do que
somente a modelagem de sítios arqueológicos ao longo dos principais rios e lagos na Amazônia,
demonstram que a elaboração de mapas hipotéticos de potencial arqueológico são capazes de
mapear o que vem sendo observado ao longo das três últimas décadas na arqueologia da região:
uma heterogeneidade na distribuição de sítios arqueológicos dentre seus mais diversos
ambientes ecológicos (Roosevelt 1991; Neves 2000; Schaan 2001; Heckenberger 2001, 2005;
Guapindaia e Lopes 2011; Souza et al. 2018)

2- Artigos que constituem a tese

Os capítulos seguintes visam apresentar algumas informações adicionais na produção


dos artigos que compõem a tese, descrevendo as dificuldades no desenvolvimento e os
resultados que foram alcançados pelas pesquisas, onde nas considerações finais são descritos
os desdobramentos, de ordem técnica, que podem ser úteis como ferramentas de análise na
arqueologia preventiva e na gestão do patrimônio arqueológico (Caldarelli 2015). No total,
foram selecionados dois capítulos de livro e um artigo publicado no Boletim do Museu Paraense
Emílio Goeldi.

2.1- Artigo 1

Intitulado “Aspectos teóricos e metodológicos no uso de modelos arqueológicos


preditivos: uma abordagem na Amazônia brasileira” (Aires da Fonseca 2016), este capítulo de
16

livro aborda os estudos realizados no baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas, nas Serras de
Carajás e no baixo curso do rio Tocantins.
Os estudos no baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas

A região entre o baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas, no oeste do Estado do
Pará (figura 2), está dentro da área da Floresta Nacional Saracá-Taquera com diversos
ambientes ecológicos como áreas ribeirinhas, lacustres, terras baixas, encostas, topos de platôs
e, consequentemente, com uma ampla diversidade de sítios arqueológicos. Muitos destes sítios
apresentam extensas áreas de terra preta arqueológica ao longo dos rios principais, contendo
abundância de fragmentos cerâmicos e líticos, enquanto uma pequena quantidade destes sítios
apresenta camadas arqueológicas curtas, com pouca incidência de vestígios e alguns deles
localizados no topo dos platôs na região (Aires da Fonseca 2013, 2016, 2018).
A arqueologia dessa região apresenta sítios multi-componenciais, com estilos cerâmicos
definidos entre Pocó, de ocupação mais antiga entre os séculos II a.C. e IV d.C., o estilo Kondurí
com ocupação mais recente, por volta do século X d.C. e chegando próximo do contato com o
europeu (Hilbert 1955; Hilbert & Hilbert 1980; Guapindaia 2008; Guapindaia e Lopes 2011).
No ano de 2009, o Projeto Trombetas encontrou um importante sítio chamado de Cipoal
do Araticum, localizado em área de interflúvio, na margem direita do rio Araticum entre os
Platôs Aviso e Bela Cruz, com área de 400x600m e tem como características principais a
incidência de terra preta arqueológica, a vegetação composta por mata de cipós e alta frequência
de plantas úteis de usos medicinais, de resinas, algumas comestíveis e outras alucinógenas
(figura 3). A datação por C14 recua em 2.000 a.C., isto é, o sítio Cipoal do Araticum abrange
grande parte da ocupação humana que se tem conhecimento na região, contendo estilos
cerâmicos relacionados principalmente ao estilo Pocó e em menor quantidade ao estilo
cerâmico Kondurí (Junqueira 2010; Guapindaia e Aires da Fonseca 2013).
Foi a partir do Cipoal do Araticum que retornei aos estudos de modelos arqueológicos
preditivos. E a inspiração ocorreu pelo fato de que a vegetação marcante do sítio era passível
de ser visualizada em imagens de satélite, pois a mesma possuía um dossel3 florestal mais baixo
e aberto com formato elíptico (figura 4).
Se projetarmos o que seria a composição florestal da área do sítio, teríamos estágios
sucessionais da floresta com 18 anos de idade, circundada por uma floresta mais antiga com
dossel denso e elevado e algo próximo de uma floresta com 40 anos de idade (figura 5).

3
Locais na floresta onde as copas das árvores se tocam. Os dosséis podem alcançar mais de 25 metros de altura
na Amazônia (Mendonça, Bernardi e Moreira 2013).
17

A partir das características observadas nas imagens de satélite do sítio Cipoal do


Araticum, inicie uma busca aleatória por outros locais com formatos elípticos semelhantes a
este sítio (figura 6). Para cada local identificado, criei pontos georreferenciados e os comparei
com os pontos de sítios arqueológicos conhecidos considerando dois fatores:
 os valores médios das distâncias da rede de drenagem;
 e a frequência das classes de declividade (lugares planos, ondulados ou de relevo
acidentado).
Dos pontos que foram criados, aqueles que mais se aproximavam dos sítios
arqueológicos conhecidos, conclui que seriam locais de alto potencial para novos sítios
arqueológicos. Com o teste em campo, de fato foram identificados sete novos locais com
vestígios arqueológicos. Contudo, devido ao fato da escolha aleatória de possíveis locais com
vegetação antropizada semelhante ao Cipoal do Araticum, verificou-se que as novas áreas
estavam próximas às concentrações de sítios conhecidos. Assim, o que foi obtido foi mais um
mapa com as concentrações de registros arqueológicos conhecidos, não sendo alcançados os
preceitos de um modelo arqueológico preditivo que indique áreas que vão além dos locais que
já foram alvos de pesquisas (figura 7).
As implementações viriam somente no ano de 2018 com a publicação do segundo artigo,
para esta mesma área do baixo Nhamundá-Trombetas, contendo um novo procedimento
metodológico, mas antes disso, duas outras áreas de pesquisa ainda neste artigo precisam ser
discutidas para finalmente serem apresentados os resultados finais da presente tese.
18

Figura 3 - O sítio Cipoal do Araticum. Ganham destaques a extensa camada de terra preta e a floresta com palmeiras e cipós. (adaptado de Aires da Fonseca 2018a. Foto:
João Aires).
19

Figura 4 – Recorte da imagem de satélite Landsat TM 5 com o sítio Cipoal do Araticum (adaptado de Aires
da Fonseca 2016).
20

Figura 5 – Representação artística dos tipos de vegetações no sítio Cipoal do Araticum e seu entorno. (Adaptado de <www.agroflorestal.net>. Acesso em 19.10.2017).
21

Figura 6 - Croqui com os retângulos demarcando as prováveis elipses observadas na região do baixo curso
dos rios Nhamundá-Trombetas.

Figura 7 - Mapa com a concentração de sítios e projeções de locais favoráveis a novos sítios arqueológicos,
no interflúvio do baixo curso dos rios Nhuamundá-Trombetas.
22

Os Estudos nas Serras de Carajás

Na Serra Sul dos Carajás, foi aplicado um tipo de modelagem espacial bastante
comum para os usuários de ArcGis, que consiste na sobreposição de camadas com
variáveis ambientais e a atribuição de valores a cada uma delas. A partir disso, cria-se
uma nova camada com os valores combinados. Como o “Projeto Arqueológico Carajás”
teve acesso aos arquivos de alta resolução de aerofotogrametria da empresa VALE S.A.,
foi possível obter as variáveis ambientais de altimetria, de amplitude do terreno, de
declividade do terreno, de distâncias da rede de drenagem e do uso e cobertura do solo,
nesta região em que a diversidade de paisagens é uma característica marcante (figura 8).
Os valores destas variáveis foram extraídos para um arquivo de pontos de sítios a
céu aberto na região e os resultados

“(...)permitiram verificar que mais de 80% dos pontos estão associados a áreas planas
e ligeiramente onduladas, com altimetrias entre 150 e 450m, tendo uma distância da
rede de drenagem variando entre 100 e 400m, sendo que a distância média entre estes
locais, cada qual distribuídos nas proximidades dos rios Pacú, Sossego, Salobo e
Mirim, apresentaram uma média de 600m, ou seja, é provável que as antigas aldeias
estivessem distantes entre si em uma faixa de 600m” (Aires da Fonseca 2016).

Para combinar os mapas rasters destas variáveis em um único mapa, utilizei o


algoritmo chamado Weighted Overlay, do pacote Spatial Analyst Tools do ArcGis,
considerando o valor de 50% de relevância para a classe de declividade, de 25% para a
amplitude do terreno (a altimetria local entre foz e cabeceira) e de 25% para os valores
de distância de rios.
Este tipo de modelo preditivo apresentava uma forte interferência do pesquisador,
pois foram necessárias atribuições de valores às variáveis explicativas. No caso das Serras
de Carajás foi considerada como mais importante a variável de declividade do terreno,
dando maior relevância para as áreas planas como sendo a principal característica dos
sítios na área em estudo. Os testes em campo indicaram novos sítios arqueológicos (figura
9).
Contudo, a confecção do modelo preditivo continuava subjetiva, pois não
necessariamente a disposição espacial dos sítios era capaz de definir suas características
ambientais. Faltavam mais variáveis explicativas, faltava automatizar os valores a serem
dados às variáveis que realmente fossem capazes de determinar um padrão de distribuição
23

no espaço e, principalmente, faltavam testes estatísticos que pudessem validar a


identificação de padrões de distribuição espacial.
Estima-se que estas necessidades tenham sido alcançadas no terceiro artigo desta
tese, “Modelagem espacial de sítios arqueológicos nas Serras de Carajás: as inferências
dos modelos preditivos” (Aires da Fonseca 2018b), quando pude retornar aos dados
arqueológicos de Carajás com um novo método de análise.
24

Figura 8 - A região da Serra Sul de Carajás tem como característica marcante sua diversidade de paisagens e de sítios arqueológicos, identificados em áreas abertas
ou em cavernas.
25

Figura 9 - Modelo arqueológico preditivo criado para a Serra Sul de Carajás no Projeto Arqueológico Carajás (PACA).
26

Os Estudos no Baixo rio Tocantins

A pesquisa realizada no baixo curso do rio Tocantins consistiu em um diagnóstico


para definir o potencial arqueológico em áreas que sofreriam impactos do plantio de
palmas. O interessante foi que a bibliografia pesquisada na época indicava apenas a
localização aproximada de dois sítios arqueológicos descritos por Curt Nimuendajú, na
década de 1920. Isso seria um problema, pois havia a necessidade de ter mais sítios
arqueológicos conhecidos para serem observadas as variáveis ambientais
correlacionadas.
A solução para o levantamento de campo foi extrair a rede hidrográfica, utilizando
os arquivos da SRTM (USGS 2018), utilizar as imagens de satélite para verificar a
vegetação, as cartas topográficas do IBGE que possuem os nomes de rios e de localidades
e um SIG para criar um buffer4 delimitando uma área de 1km de distância de cada rio da
área em estudo, situada entre a margem direita do rio Tocantins e a margem esquerda do
rio Moju.
Junto comigo estavam Jorge Mardock e Fábio Santos e no quarto dia de
levantamento de campo já tínhamos quase certeza de que em cada dia de trabalho seria
identificado ao menos um local com vestígios arqueológicos. No total foram encontrados
quatorze sítios e quatro ocorrências, em apenas quinze dias de levantamento de campo,
observando a superfície do terreno, locais com perfis estratigráficos expostos e,
obviamente, entrevistas com moradores locais apresentando o projeto de pesquisa e
perguntando sobre possíveis ocorrências de “taperas velhas de índios”, de “igaçabas” ou
“pedras de corisco”5 (figura 10).
Como análise dos resultados, ficou evidente o alto potencial arqueológico
existente na região e para cada povoado que tenha surgido ao longo dos rios no interior,
muito provavelmente eles estarão situados sobre um sítio arqueológico. O fato é que uma
simples modelagem de dados foi efetiva o suficiente para que fosse programada a etapa
de campo, definindo hipoteticamente as áreas de levantamento. Como agora existem as

4O Buffer consiste em uma análise espacial de distâncias, geralmente métricas, onde um polígono é criado
ao redor de uma determinada feição no mapa. Com isso é possível estabelecer áreas para análises com 100
metros de distância de um determinado ponto, por exemplo.
5
Das pesquisas de campo que pude participar na Amazônia, os moradores que vivem nas proximidades dos
sítios arqueológicos, principalmente os agricultores, costumam chamar de “tapera velha de índio” os locais
que possuem uma vegetação secundária, ou capoeira consolidada, sendo comum estes locais possuírem um
solo mais escuro e bom para plantações. Ficam nestes locais os fragmentos cerâmicos ou vasilhames
inteiros também conhecidos como igaçabas e, um pouco mais raras, as pedras de corisco ou de raios
descritas pelos arqueólogos como fragmentos de lâminas de machado lítico.
27

coordenadas de vinte locais com vestígios arqueológicos, existe a possibilidade de aplicar


outros modelos preditivos e realizar novos testes em campo, incluindo escavações,
análises laboratoriais dos vestígios e obtenções de cronologias.
28

Figura 10 - Mapa com a distribuição de sítios arqueológicos identificados na margem direita do baixo curso do rio Tocantins (adaptado
de Aires da Fonseca, 2016).
29

2.2- Artigo 2

Intitulado “Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios


arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas” (Aires da Fonseca
2018a), este artigo retoma a pesquisa sobre modelos arqueológicos preditivos realizada
no artigo 1, mas com um novo método de modelagem e interpretação dos dados.
Com o meu ingresso no PPGA-UFPA, a disciplina de introdução à estatística para
antropólogos demonstrou a necessidade de aprimorar os estudos com modelos
arqueológicos preditivos. Apesar do professor Tiago Tomé ter avisado que “a estatística
espacial era completamente diferente da estatística clássica”, estava claro que a
subjetividade nos modelos que eu havia criado deveria ser reduzida e a disposição
espacial dos sítios deveria informar suas principais características.
Um elemento importante que faltava nos estudos de arqueologia espacial, era um
programa de computador que pudesse reconhecer padrões. Um algoritmo capaz de
verificar, armazenar e aprender sobre as variáveis ambientais associadas aos sítios
arqueológicos e então iniciar uma busca por toda a área de estudo identificando locais
que contivessem aproximações, ou exatamente as mesmas variáveis observadas nos sítios
arqueológicos.
No ramo da computação isso se chama machine learning (aprendizado de
máquina) e nos estudos de ecologia chama-se species distribution modeling (distribuições
regionais de espécies), em que o algoritmo de máxima entropia, no programa MaxEnt,
apresenta as probabilidades de locais semelhantes aos sítios informados (Phillips, Dudík
e Schapire 2004; Phillips, Anderson e Schapire 2006). Sendo esta ferramenta uma das
“engrenagens faltantes” em modelos arqueológicos preditivos, que foram experimentadas
nos artigos dois e três desta tese.
O desenvolvimento destes estudos veio a partir de uma simples frase do meu
orientador: “João, você deve aprender o R para aprimorar as análises”. Indicando logo em
seguida um texto clássico na arqueologia, Statistics for archaeologists: a commonsense
approach (Drenan 2009), que ao ser combinado com o texto de Carlson (2018), An R
Companion to Statistics for Archaeologists by Robert Drennan, montava-se o quadro para
a aprendizagem mínima da linguagem R em arqueologia.
A partir desse momento eu iniciava longas horas em frente ao computador para
aprender e ainda continuo aprendendo, a sintaxe da linguagem de programação em R e
seu universo de bibliotecas. Foi um longo caminho iniciando com um simples Hello
30

World impresso no monitor, passando pela compreensão de que valores poderiam ser
inseridos em variáveis, como “a=5” e “b=3” e ao aplicar uma operação em uma terceira
variável, como “c=a*b”, obter-se-ia “c=15”. Depois destes primeiros passos veio a
compreensão de que os sítios arqueológicos passariam a ser tratados como valores de
pixels, ou de pontos com tabelas contendo “altimetria=15”, ou ainda a localização
espacial de “distantes 600m de um rio de 3ª ordem.
O programa R, além das análises estatísticas e da construção de gráficos para
representar os dados e os resultados (Wickham 2016), ele também consiste em uma
linguagem de programação. Com o R é possível automatizar as análises, acessar os
algoritmos de outros programas como o Grass-GIS ou o MaxEnt, e reduzir ainda mais as
chances de erros na sequência de procedimentos das análises, pois o script desenvolvido
irá sempre executar as mesmas linhas de comandos ou funções definidas (Bivand,
Pebesma e Gómez-Rubio 2008).

De volta aos sítios do baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

Neste artigo foi apresentado o novo método utilizado na aquisição e análise dos
dados espaciais e também contribuiu, assim eu espero, para as discussões sobre os sítios
em área de interflúvio na Amazônia. As considerações, incluindo aí o que seria a hipótese
da tese, apontam que para o desenvolvimento de modelos arqueológicos preditivos deve-
se estimar as características de cada complexo arqueológico e o local em estudo,
observando a diversidade de antigos grupos indígenas ao longo dos rios da Amazônia e,
por conseguinte, das diversas formas e escolhas de se ocupar o espaço.
Um ponto crucial neste novo método de análise consiste na escolha da amostra de
sítios conhecidos e sua distribuição espacial. Para que sejam identificados padrões de
distribuição nas paisagens a amostra deverá conter sítios relativamente próximos,
seguindo o princípio de que quanto mais próximos estiverem entre si mais semelhantes
eles serão. Por exemplo, de nada adiantaria estudar a área que compreende o baixo curso
dos rios Nhamundá-Trombetas inserindo, na mesma amostra, os sítios do alto rio Tapajós
ou então dos sítios na região de Gurupá, na foz do rio Xingú. Entende-se que este
procedimento produz mapas com diversos vieses amostrais que “mascararam” as áreas
com potencial arqueológico em locais do interior.
Assim sendo, o método que escolhi para a definição das amostras de sítios utiliza
31

o conhecimento atual sobre os limites espaciais dos complexos arqueológicos na


Amazônia (ver Barreto, Lima, Betancourt 2016), e também as delimitações por sub-
bacias hidrográficas contendo os rios principais, seus tributários e divisores de água
(Guerra e Guerra 2008; Agência Nacional de Águas 2017).
Destarte, dois modelos preditivos foram criados: uma para representar os sítios
localizados no interflúvio, com amostra de n=20 sítios, localizados distantes das margens
dos rios Trombetas e Nhamundá e que compartilham características ambientais
aproximadas (figura 11). E outro modelo contendo todos os sítios conhecidos na região
(n= 76), demostrando que onde existe o maior número de sítios arqueológicos conhecidos
as projeções do modelo terão maior incidência, ou seja, nas margens dos grandes rios e
lagos da região (figura 12).
32

Figura 11 – O modelo arqueológico preditivo para a região de interflúvio do baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas (adaptado de Aires da Fonseca 2018a).
33

Figura 12 - Modelo arqueológico preditivo para a região do baixo curso dos rios Trombetas e Nhamundá (adaptado de Aires da Fonseca 2018a).
34

2.3- Artigo 3

Ao retomar os dados da pesquisa nas Serras de Carajás, para o segundo livro do


PACA, foi publicado o capítulo “Modelagem espacial de sítios arqueológicos nas serras
de Carajás: as inferências dos modelos preditivos” (Aires da Fonseca 2018b).
Desta vez foram considerados todos os tipos de sítios arqueológicos e a estimativa
de que a análise cluster6, realizada no programa R considerando as variáveis ambientais
relacionadas à amostra de n=277 sítios informada, seria capaz de separar em três grupos
os sítios na região: aqueles situados no topo das serras e nas encostas superiores (em
cavernas); aqueles situados nos vales e os sítios localizados nas “terras baixas”, no sopé
das serras ou ao longo das margens dos rios principais. Aparentemente funcionou e de
acordo com informação oral do arqueólogo Marcos Magalhães, o coordenador do Projeto
Arqueológico Carajás, o modelo era capaz de refletir o observado em campo sendo útil
nos levantamentos de prospecção, devido especificar coordenadas para locais de alto
potencial.
No mapa abaixo (figura 13) podemos notar que: as ocupações nos topos das serras
e nas vertentes superiores relativas às ocupações em abrigos sob rocha, e as ocupações
nas áreas imediatas nos vales e terras baixas. Tais padrões de assentamentos denotam a
completa utilização das diversas paisagens existentes nas Serras de Carajás. Ressalta-se
também que os espaços “vazios”, em cinza do relevo sombreado, demonstram
composições das variáveis ambientais de menor correlação com os sítios arqueológicos
conhecidos, ou então que não guardam semelhanças com as paisagens das amostras de
sítios informadas (os triângulos, os quadrados e os círculos em branco no mapa).

6
A análise cluster consiste em separar uma amostra informada em subamostras, que contenham elementos
semelhantes em seus valores (atributos) das variáveis explicativas da análise. Ou seja, espera-se que ao
aplicar uma análise cluster em uma amostra de sítios contendo os valores de altimetria, de declividade do
terreno, de distâncias de ordens de rios, dentre outras variáveis, o mesmo seja capaz de discriminar as
semelhanças e diferenças entre os sítios e de determinar novos grupos. Por exemplo, um grupo de sítios
localizados nas encostas de serras com altimetrias acima de 300m em relação ao nível do mar, poderia ser
o Cluster 1 com tipos específicos de sítios arqueológicos localizados em uma determinada paisagem.
35

Figura 13 - Composição dos três modelos preditivos criados para as Serras de Carajás.
36

Neste terceiro artigo uma nova variável explicativa foi desenvolvida. Até então eu
sabia que o Teorema de Pitágoras era muito útil para abrir as unidades de escavações de
1x1m. Com uma bússola e duas trenas, estica-se uma como sendo um dos catetos em até
1m e alinhada com o norte e a outra trena como sendo a hipotenusa, marcando até 1,41m
e fazendo os ajustes, até obter-se um quadrado orientado ao norte (figura 14). Mas, saber
que este mesmo Teorema seria útil para estabelecer as distâncias das ordens de rios
considerando a topografia, foi uma novidade formidável.

Figura 14 – Ferramentas para a abertura de uma unidade arqueológica de 1x1m, com orientação ao norte:
duas trenas métricas, uma bússola e o Teorema de Pitágoras.

Falo em uma novidade, pelo fato de que todos os modelos preditivos que eu havia
criado possuíam as relações de distâncias como se fossem uma régua medindo dois pontos
no espaço sem considerar as medidas verticais, isto é, o relevo ficava de fora. Para
implementá-la, a solução foi obter dentro da calculadora raster do SIG, o quadrado da
soma dos quadrados do raster de distância com o modelo digital do terreno. Assim, o
arquivo final passava a considerar as distancias em áreas planas e também as distâncias
contendo as medidas, por exemplo, das encostas de morros.
37

À primeira vista parecia não haver diferenças, mas em lugares com relevos
acidentados, como nas Serras de Carajás, esse novo arquivo passava a ter importância por
informar medidas mais próximas do observado em campo. Como demonstração, o mapa
abaixo aponta as diferenças nas medidas de distâncias entre o ponto 1, localizado no topo
de uma serra, e o ponto 2 localizado em um rio de 3º ordem. Se considerarmos as
distancias com e sem as medidas do relevo, ocorrerá uma diferença de mais de 800m. Ao
observarmos as distancias entre os pontos 4 e 3, em um local onde não existe muita
variação de altimetria do terreno, a diferença das medidas de distância em relação ao rio,
com e sem as informações do terreno, reduz para menos de 250m (figura 15).
38

Figura 15 - Mapa com a representação das distâncias em relação aos rios, com e sem considerar a altimetria do terreno.
39

3- Considerações finais

Ao reunir de forma cronológica o meu desenvolvimento acadêmico nos estudos


de arqueologia espacial, fica cada vez mais clara a conhecida frase do estatístico George
Box de que “todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis” (Box, Hunter e Hunter
2005), extrapolando os modelos estatísticos até chegar nos modelos científicos em geral.
Quando leio este termo “úteis”, sempre vem em mente algumas perguntas que os
amigos Carlos Barbosa, Wagner Veiga e Denise Schaan (in memoriam) faziam sobre
empreender todo e qualquer projeto de pesquisa científica: “Para que serve esse trabalho?
Qual a utilidade? Algum problema será resolvido? ”
Espera-se que os artigos publicados, ao apresentarem algumas formas de
modelagens de dados espaciais e de interpretações dos resultados, possam de alguma
forma contribuírem para o desenvolvimento deste ramo da arqueologia. Eu espero que os
mundos da estatística e da linguagem de programação em computadores, onde eu apenas
comecei a arranhar as superfícies, possam cada vez mais serem estudados por alunos de
arqueologia, seja em universidades ou por iniciativa própria, pois os resultados são
promissores e com chances de cada dia serem criadas novas ferramentas de análises.
Quanto às possibilidades de algum “problema ser resolvido”, a Instrução
Normativa nº 01/2015 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), condiciona em determinados projetos de arqueologia preventiva a apresentação
do potencial arqueológico de uma área a ser levantada, devendo este ser o resultado da
interpretação de dados históricos, etnohistóricos, de indicadores geomorfológicos e de
modelos preditivos (Art. 18 e Art. 23 da IN do IPHAN nº 01/2015).
Estimo que o principal uso da metodologia desenvolvida nesta tese de doutorado,
seja utilizada na arqueologia preventiva (Caldarelli 2015). Afinal de contas, este ramo da
pesquisa arqueológica teve sua origem na otimização de tempo e de recursos definindo
áreas específicas para levantamentos de campo e a necessidade de identificar e proteger
sítios históricos e arqueológicos de possíveis impactos, em decorrência de grandes
empreendimentos econômicos.
Tomemos por exemplo os modelos preditivos desenvolvidos para a proteção do
patrimônio arqueológico e histórico nos Estado de Minnesota, pelo “Departamento de
Transporte do Estado de Minnesota” (Hudak et all. 2002) e no Estado de Washington
pelo “Departamento de Arqueologia e Preservação Histórica” (Brooks 2009).
40

Obviamente que os modelos desenvolvidos por estes dois departamentos do Governo dos
Estados Unidos, com mais de 20 anos de aprimoramentos no método, resultaram em
modelos robustos para os levantamentos de campo, com diversos testes e dados
estatísticos que permitiram a construção de um banco de dados de sítios arqueológicos
preciso.
Seria interessante ver algo semelhante realizado por órgãos governamentais no
Brasil, contudo, apesar das discussões científicas serem até mesmo anteriores aos anos
2000 detalhando o método para a proteção do patrimônio arqueológico (Kipnis 1997), a
ideia ainda não é vista de forma difundida. Espera-se que as publicações recentes sobre
este tema (McMichael et al. 2014; Robrahn-González, Lazzaris e Oliveira 2016;
Kozlowski 2018; Souza et al. 2018), possam alavancar ainda mais este tipo de estudo na
arqueologia brasileira. Acredito que o uso de modelos arqueológicos preditivos com a
construção de hipóteses sobre o potencial arqueológico, deveria ser mais uma peça a ser
colocada na “caixa de ferramentas” de campo de arqueólogas e arqueólogos, junto com
as cartas Munsell, o gps, a bússola, a caderneta de campo, a escala e a câmera fotográfica.
Como demostrado ao longo de minha trajetória acadêmica, os métodos
apresentados nesta tese não são definitivos, existem diversas formas de modelagens de
dados espaciais, de testes estatísticos, de possibilidades de inserções de novas variáveis e
de amostras de sítios. É evidente que o desenvolvimento tecnológico irá sempre aprimorar
as pesquisas em arqueologia. Tomemos como exemplo a alta precisão do sensor remoto
de Light Detection And Ranging (LIDAR) com definições sobre as formas do terreno,
oferecendo medidas em centímetros, ao invés de medidas em metros como temos nas
imagens de SRTM. Ou ainda o uso de veículo aéreo não tripulado (conhecidos como
Drones), que ao serem adaptados sensores específicos para capturas de imagens
multiespectrais e câmeras fotográficas de alta resolução, eles se tornam capazes de
fornecer dados para gerar modelos digitais da superfície e do terreno e de verificar o vigor
da vegetação através de índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI),
aumentado, sobremaneira, o mapeamento de feições arqueológicas em uma pesquisa.
Por fim, espera-se que o uso de modelos preditivos seja mais recorrente no meio
acadêmico e na chamada arqueologia preventiva, seja para a modelagem de dados
espaciais de sítios, para a otimização de levantamentos de campo ou então para o uso na
gestão de recursos culturais (CRM), tornando o patrimônio arqueológico brasileiro mais
visível e protegido.
41

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Verhagen, Philip. 2007. Case Studies in Archaeological Predictive Modeling. Amsterdam


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applications. Editado por Peter Stahl, pp. 7-41. Cambridge: University Press.
47

Anexos

Artigo 1:

Aires da Fonseca. 2016. Aspectos teóricos e metodológicos no uso de modelos


arqueológicos preditivos: uma abordagem na Amazônia brasileira, in Amazônia
antropogênica. Organizado por M. P. Magalhães, pp. 177-198. Belém: Museu Paraense
Emílio Goeldi.
Amazônia
Antropogênica
Marcos Pereira Magalhães
Organizador
GOVERNO DO BRASIL
Presidente da República
Dilma Vana Rousseff
Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação
Celso Pansera

MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI


Diretor
Nilson Gabas Júnior
Coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação
Ana Vilacy Galúcio
Coordenadora de Comunicação e Extensão
Maria Emília da Cruz Sales
Coordenador de Ciências Humanas
Glen Shepard

NÚCLEO EDITORIAL DE LIVROS


Editora Executiva
Iraneide Silva
Editoras Assistentes
Angela Botelho
Tereza Lobão
Editora de Arte
Andréa Pinheiro

Instituição filiada
Amazônia Antropogênica
ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
no uso de modelos arqueológicos preditivos:
uma abordagem na Amazônia brasileira
João Aires da Fonseca

INTRODUÇÃO
As pesquisas arqueológicas na Amazônia sempre tiveram um viés teórico e metodológico
direcionando a coleta de dados (especialmente da cultura material) e suas interpretações,
feitas mediante um quadro teórico pré-estabelecido. De acordo com Neves (2000), se
observarmos as pesquisas realizadas durante as décadas de 1940 a 1970, principalmente
as desenvolvidas por Meggers (1977, 1990), os reflexos das teorias do determinismo
ecológico, dentro de um sistema fechado (TRIGGER, 1971), irá nos mostrar uma Amazônia
onde a principal ocorrência de sítios arqueológicos estaria restrita às várzeas dos grandes
rios, existindo apenas uma possível incidência de sítios menores, ou apenas sítios de
acampamento/passagem, em áreas mais distantes, uma vez que as características dos
solos das áreas de interflúvios não seriam capazes de suportar uma ocupação de longa
duração, devido à escassez de nutrientes e à impossibilidade de uma agricultura intensiva.
Cria-se então um quadro geral de dicotomia entre várzea e terra firme, onde esta última
área era tida como um vazio demográfico, sem a ocorrência de sítios arqueológicos
distantes das margens dos grandes rios da Amazônia. Um quadro condizente com o
proposto para a cultura de floresta tropical estabelecida por Steward (1948) e Lowie (1948)
no Handbook of South American Indians.
Contudo este quadro teórico atualmente é amplamente refutado, tendo como base as
escavações de novos sítios arqueológicos, e em novas interpretações das relações
humanas e seu meio ambiente, sendo este observado agora não de forma determinística
e moldando culturas, mas passível de adaptações e alterações pelas ações humanas,
compondo o que Trigger (1971) classifica de um sistema ecológico aberto (open-system
ecology). Em relação à dicotomia várzea/terra firme, todos os espaços, todos os
ecossistemas amazônicos passam a ser inseridos em uma ampla e complexa rede
177
interligada seja para o uso econômico, como a obtenção de recursos das matas de terra
Amazônia Antropogênica

firme, matérias-primas como rochas, caças, plantações de mandiocas, entre outros


diversos usos que, em conjunto com a já conhecida alta fertilidade da várzea Amazônia,
estrutura uma perspectiva para a constituição de complexas sociedades. De espaços
restritos às margens dos grandes rios, como o Amazonas, o Trombetas, o Tocantins, o
Parauapebas ou o Tapajós, as pesquisas recentes trouxeram à tona sítios arqueológicos
situados em áreas de interflúvio, compostos de terra preta arqueológica, cerâmicas e
materiais líticos (CARNEIRO, 1983, 2007; ROOSEVELT, 1991; NEVES, 2000; HECKENBERGER, 2001,
2005; MAGALHÃES, 2005; SCHAAN, 2001; GUAPINDAIA, 2010).
Se as novas hipóteses para interpretar a distribuição de sítios arqueológicos deixam de
estabelecer que as ocorrências destes estejam restritos apenas às áreas altamente férteis
da várzea amazônica, passando-se às evidências de sítios também em áreas de interflúvio,
as questões a serem elaboradas no quadro atual são: como ter acesso a estes sítios
arqueológicos, mediante as dificuldades logísticas de locomoção e tempo em meio a
uma floresta tropical densa, ou, em algumas regiões, em áreas de cerrado? Estima-se que
esta área de floresta de terra firme, compreenda 70% da Amazônia brasileira (ARTAXO,
2014). Portanto, como abordar uma área de estudo com estas dimensões, quando a
questão é identificar novos sítios arqueológicos? Qual metodologia de levantamento de
campo ou quais direcionamentos teóricos podem ser utilizados?
Estas questões já foram observadas por Zeidler (1995), ao apresentar um panorama da
metodologia de levantamento arqueológico em áreas neotropicais florestadas. Este autor
discute as dificuldades da descoberta de sítios arqueológicos na Amazônia devido a
questões logísticas, de acessos, de recursos financeiros e do tempo de execução e os
direcionamentos para áreas de levantamento específicas, que possam trazer resultados
positivos, como a identificação de novos sítios arqueológicos.
Neste capítulo são apresentados os testes de quatro modelos arqueológicos preditivos,
elaborados e aplicados em três regiões distintas da Amazônia brasileira, ambas localizadas
no Estado do Pará, Brasil (Figura 1).
Na primeira região um modelo foi desenvolvido dentro do Projeto Arqueológico em
Porto Trombetas1, localizado no baixo rio Trombetas, na área da Floresta Nacional Saracá-
Taquera, onde existem diversos ambientes ecológicos como áreas ribeirinhas, lacustres,
terras baixas, encostas e topos de platôs e, por conseguinte, uma gama diversificada de
sítios arqueológicos estudados desde a década de 1950, quando têm início as pesquisas
arqueológicas sistemáticas (HILBERT, 1955; HILBERT; HILBERT, 1980; GUAPINDAIA, 2008; GUAPINDAIA,
2010; GUAPINDAIA; LOPES, 2011). Esta região apresenta como uma característica importante,
o fato de os sítios arqueológicos serem encontrados em área de floresta densa, onde foi
possível verificar um determinado tipo de vegetação associada aos sítios de ocupação
permanente.

1
Coordenado pela pesquisadora Dra. Vera Guapindaia, durante os anos de 2000 a 2012, nas áreas de atividades
mineradoras da Mineração Rio do Norte (MRN).
178
Amazônia Antropogênica
Figura 1. Mapa de localização das três áreas onde foram aplicados os modelos arqueológicos preditivos.
Mapa: Aires da Fonseca.

Na segunda região foram desenvolvidos dois modelos preditivos que foram testados no
Projeto Arqueológico Carajás2, localizado na Serra Sul de Carajás, onde também a região
é marcada pela diversidade de paisagens naturais com variações de altimetria entre 200
m e mais de 800 m em relação ao nível do mar, compondo áreas de topo de serras, com
vegetação de savana e planícies, apresentando floresta tropical densa onde também
ocorre a diversidade de sítios arqueológicos (MAGALHÃES, 2005; MAGALHÃES; AIRES DA FONSECA;
BARBOSA, 2011).
Na terceira região, outro tipo de modelo preditivo, com apenas uma variável, foi
desenvolvido para o Projeto de Levantamento Arqueológico na Área de Implementação
do Plantio de Palma de Óleo3, situado no interflúvio da margem direita do baixo rio
Tocantins com o rio Moju, onde os trabalhos de arqueologia sobre populações pretéritas
tiveram início com os registros de Curt Nimuendaju no ano de 1926 (STENBORG, 2004).

2
Coordenado pelo pesquisador Dr. Marcos Pereira Magalhães, iniciado no ano de 2011, nas áreas de
atividades mineradoras da Vale S.A. (Vale).
3
Coordenado pelo pesquisador Ms. João Aires da Fonseca, no ano de 2012, nas áreas de implementação do
plantio de palma pela Petrobras Biocombustível (PBIO).
179
Amazônia Antropogênica

O USO DE MODELOS ARQUEOLÓGICOS PREDITIVOS


Na arqueologia brasileira, bem como na internacional, existe um embate entre os
resultados arqueológicos advindos de projetos acadêmicos, aqueles produzidos em
Universidades e Museus, imbuídos de problemas científicos, e aqueles provenientes de
salvamentos arqueológicos ou de arqueologia de contrato, comumente caracterizados
apenas como descritivos, onde são realizadas as coletas de vestígios arqueológicos
ameaçados de destruição (CALDARELLLI; SANTOS, 2000).
É dentro deste âmbito de arqueologia de contrato, que o desenvolvimento e
aplicabilidade de modelos arqueológicos preditivos são criados, com o intuito de
otimizar tempo e recursos para o levantamento de campo, e o acesso a extensas áreas
de pesquisa. Kipnis (1997) demonstra que o uso destes modelos, especialmente com a
criação de mapas que indiquem alta, média e baixa probabilidade de ocorrência de
sítios arqueológicos em uma dada região, são ferramentas importantes para a
elaboração de grandes projetos que causem impactos ambientais, como rodovias,
gasodutos, mineração, hidrelétricas, etc. Desta forma, empresas privadas ou públicas
poderão tomar medidas de decisões mediante os possíveis danos que possam ser
causados ao patrimônio cultural.
Neste aspecto, o uso de um modelo arqueológico preditivo tem sua origem, no que
nos Estados Unidos foi denominado de Cultural Resource Management (CRM), durante a
década de 1960, em um amplo programa para preservar os registros históricos
identificados em várias localidades. Com o advento dos estudos de padrões de
assentamentos e correlações com variáveis ambientais, dentro do contexto da New
Archaeology, as interpretações destes padrões espaciais tiveram maior desenvolvimento
com o uso de programas de computador e um Sistema de Informação Geográfica (SIG),
já na década de 1970, tendo o “boom” ocorrido na década de 1990, com a popularização
do uso de aparelhos de GPS e de imagens de satélite em programas de Sensoriamento
Remoto (SR) (VERHAGEN, 2007).
Contudo Verhagen e Whitley (2011) vão além das expectativas dos resultados obtidos
com o CRM, utilizado apenas como uma ferramenta para otimizar o levantamento de
campo (prospecção), sendo caracterizado como explicativo, descritivo, e somente pela
busca por correlações entre os sítios e as variáveis ambientais. Estes autores propõem
também o uso a partir de teorias que direcionem (theory driven) as interpretações dos
padrões de ocorrências espaciais dos sítios identificados, ou seja, ultrapassar a barreira
do mapeamento e classificação de sítios, para a interpretação espacial dos mesmos. A
combinação destas duas linhas de pesquisas gera resultados mais completos, uma
vez que ambas podem montar quadros interpretativos, a partir dos vestígios
arqueológicos espacialmente identificados, abrindo espaço para interpretações
teóricas relacionadas com as dinâmicas de interações entre o homem e o ambiente,
de acordo com cada região e tempo estudados.
A proposta do presente capítulo consiste em apresentar ambas as linhas de pesquisa
descritas por Verhagen e Whitley (2011), aplicadas na região de Porto Trombetas,
180
construindo, testando e interpretando os resultados obtidos com um modelo

Amazônia Antropogênica
arqueológico preditivo, a partir de informações empíricas e teóricas. Estabelecendo
que determinados lugares tiveram um papel importante para antigos grupos indígenas,
como lugares constituídos ou transformados em demarcadores culturais, como áreas
atrativas para assentamentos permanentes devido a diversos aspectos de relações
sociais e econômicas, como a possibilidade de manejo de espécies vegetais, a busca
por caça, por matérias-primas (rochas, madeiras), o uso de lugares notáveis ou
significativos na paisagem, imbuídos de significados, a exemplo do topo dos diversos
platôs na região que permitem uma ampla visibilidade do território ou um espaço
exclusivo para o manejo de espécies vegetais (ZEDEÑO, 1997; SILVA, 2013).

CONSTRUINDO UM MODELO ARQUEOLÓGICO PREDITIVO


A premissa básica de um modelo arqueológico preditivo é de que exista uma relação
quantificável, entre a presença de um determinado tipo de sítio e uma gama
diversificada de características ambientais. Esta relação deve ser válida para que então
características ambientais similares, existentes em outras regiões ainda não
levantadas, possam indicar a ocorrência provável de novos sítios. O objetivo principal
é gerar um mapa de sensibilidade com faixas de baixa, média e alta probabilidade
de ocorrência de sítios arqueológicos em novas regiões, o que irá permitir criar um
guia para o levantamento de campo em busca de possíveis vestígios (WARREN, 1990;
BRANDT, GROENEWOUDT; KVAMME, 1992; ARNOFF, 1993; DANN; YERKES, 1994; VAN LEUSEN, 2002;
PARCAK, 2009).
Em suma, a construção de um modelo arqueológico preditivo, ou de locais favoráveis à
ocorrência de sítios, pode ser organizada da seguinte forma (AIRES DA FONSECA, 2013):
1) Caso existam sítios arqueológicos já registrados na área a ser levantada, busca-se
definir as principais características dos mesmos, tal como tamanho, se são sítios de
acampamento ou de habitação, a proximidade de recursos hídricos, o tipo de vegetação
associada, a distância entre esses sítios e a possibilidade de ser estabelecido um
padrão, recorrente, de distribuição espacial;
2) Caso não exista registro de sítios anteriores à pesquisa, usam-se então deduções de
que determinados locais foram propícios à ocupação humana, como a proximidade
de recursos hídricos e áreas planas livres de inundações;
3) O uso de sensoriamento remoto e de um Sistema de Informação Geográfica (SIG),
para que as análises feitas nos itens 1 e 2 possam ser interpretadas através de mapas
(ARNOFF, 1993; BURROUGH; MCDONNEL, 2000);
4) A construção de um mapa temático (mapa de sensibilidade) indicando as áreas de
baixa, média e alta probabilidade de ocorrência dos sítios;
5) Levantamento em campo das áreas apontadas pelo mapa temático para o teste do
modelo construído.

181
Amazônia Antropogênica

A região de Porto Trombetas


A construção e o teste do modelo preditivo, apresentado neste texto, foram
desenvolvidos dentro do Projeto Trombetas, que abrangeu a área que se estende da
margem direita do rio Trombetas até à margem norte do Lago do Sapucuá. Diversos
sítios arqueológicos, contendo extensas áreas de terra preta com fragmentos
cerâmicos e líticos, foram registrados nesta região, principalmente após a década de
1950, quando tem início as pesquisas arqueológicas sistemáticas (HILBERT, 1955). As
pesquisas atuais continuam descrevendo esta região como contendo sítios
multicomponenciais, com estilos cerâmicos definidos entre Pocó, de ocupação mais
antiga entre 2200 AP. e 1600 AP., e o estilo Konduri com ocupação mais recente, entre
1000 AP. até próximo do contato com a colonização europeia (Hilbert; HILBERT, 1980;
GUAPINDAIA, 2008; GUAPINDAIA; LOPES, 2011).
Um banco de dados foi criado por Machado (2001), contendo todos os sítios
arqueológicos registrados na região de Trombetas, desde aqueles identificados na
década de 1950 até o ano de 2001, sendo que este inventário continuou a ser
alimentado, conforme o desenvolvimento das pesquisas realizadas pelo Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG) até o ano de 2012 (Guapindaia & Aires da Fonseca,
2012), totalizando a identificação de 76 sítios arqueológicos (Figura 2).
A partir deste banco de dados, foi possível iniciar a construção do modelo
arqueológico preditivo. Com o auxílio do SIG e de sensoriamento remoto foi possível
estabelecer padrões de ocupação no espaço, relacionando os 76 sítios conhecidos
com as variáveis de distância de recursos hídricos, da declividade do terreno e de
determinadas feições elípticas identificadas nas imagens Landsat TM 5, que apontam
para alterações na altura do dossel da vegetação, exatamente em áreas onde ocorrem
os sítios arqueológicos.
O principal sítio arqueológico que apresenta estas variáveis é o sítio PA-OR-127: Cipoal
do Araticum. Identificado em 2009, a característica marcante deste sítio é o tipo de
vegetação existente na área central onde ocorre a maior quantidade de terra preta,
fragmentos cerâmicos e líticos. De acordo com o levantamento botânico (JUNQUEIRA,
2011), existe uma grande concentração de lianas (cipós) e palmeiras (mucajá, inajá)
que, ao serem observadas em imagens Landsat TM 5, tornam-se visivelmente
destacadas como uma cobertura vegetal com dossel mais baixo em relação à floresta
tropical densa do entorno. O mesmo havia sido apontado por Hilbert (1990) e Paula
(1998) em relação ao sítio PA-OR-77: Araticum, distante à jusante apenas 4 km do
sítio Cipoal do Araticum (Figuras 3 e 4).
Portanto três variáveis foram utilizadas para a construção do modelo preditivo aplicado
no Projeto Trombetas: a variável de proximidade de igarapés e rios, a de áreas planas
ou ligeiramente onduladas (mapa de declividade) e a variável denominada de feições
elípticas observadas em imagens de satélite Landsat TM 5.

182
Amazônia Antropogênica
Figura 1. Mapa com a localização de sítios arqueológicos identificados desde a década de 1950 até o ano de 2012
na região que compreende o baixo rio Trombetas e o lago do Sapucuá Fonte: Aires da Fonseca, 2013.

Figura 2. Localização do sítio Cipoal do Araticum e a delimitação da feição elíptica que compõe a área com vegetação
de dossel baixo, marcada pela presença de mata de cipós e palmeiras. Fonte: Aires da Fonseca, 2013.
183
Amazônia Antropogênica

Figura 3. Localização do sítio Araticum e a delimitação da feição elíptica que compõe a área com vegetação de
dossel baixo, marcada pela presença de mata de cipós e palmeiras. Fonte: Aires da Fonseca, 2013.

Correlação dos sítios conhecidos com as variáveis do modelo preditivo


As imagens de radar SRTM, após o processamento no programa ArcGis, proporcionaram
a criação de mapas com a rede de drenagem e de declividade do terreno da região em
estudo, os quais, ao serem correlacionados com o banco de dados de sítios arqueológicos,
possibilitaram estabelecer determinados padrões (Figura 5).
Em relação à declividade do terreno, grande porcentagem de sítios está associada a
terrenos ligeiramente ondulados e planos (72%). E em relação à distância aproximada da
rede de drenagem, praticamente 70% dos sítios estão na faixa entre 0-400m de distância
e os outros 30% estão acima de 400m.
No que concerne à variável das feições elípticas, em apenas 17 sítios foi possível observá-
las, o que corresponde a 22,4% do total. Este baixo índice pode ser explicado pelo simples
fato de que a maioria das ocorrências de sítios arqueológicos está relacionada com
áreas impactadas, ou seja, eles estão situados nas margens do rio Trombetas, do lago
Batata e do lago Sapucuá onde existem comunidades ribeirinhas com casas e plantações,
tornando-se inviável a identificação desta variável de vegetação, uma vez que ela foi
suprimida. Portanto estes 17 sítios já conhecidos, que apresentaram todas as variáveis
propostas no modelo preditivo, foram utilizados como comparativos às demais áreas
ainda não pesquisadas e apontadas pelo modelo como de alta probabilidade de
ocorrência.
184
Amazônia Antropogênica
Figura 4. Mapa de declividade com os sítios Cipoal do Araticum e Araticum. Fonte: Aires da Fonseca, 2013.

Correlação entre sítios conhecidos e as áreas do modelo preditivo


A etapa seguinte foi identificar outras possíveis formas elípticas em áreas ainda não
pesquisadas. No total foram localizadas 153 áreas contendo estas feições e, para cada uma
delas, foram atribuídos polígonos e inseridos pontos centrais para que então pudessem ser
relacionados com as demais variáveis do modelo. Não por mera coincidência, estas novas
áreas também apresentam um relevo com baixa declividade, tendendo para um terreno
que vai de ligeiramente ondulado (30,1% na 8ª classe e 49,7% na 9ª classe) a plano (14,4%
na 10ª classe), juntamente com uma distância que não ultrapassa de 500 m em relação à
rede de drenagem, o que ocorre em praticamente 80 % das 153 áreas identificadas.
Em comparação com os resultados da análise espacial dos sítios já conhecidos com as
áreas projetadas pelo modelo preditivo, foi possível estabelecer uma semelhança em
praticamente todas as variáveis ambientais em ambas as análises, tornando o modelo
preditivo válido e passível de verificação em campo (Gráficos 1 e 2).

Teste do modelo em campo


No total, o modelo arqueológico preditivo foi testado em quatro etapas de campo
compreendendo treze áreas levantadas. Duas destas áreas não apresentaram evidências
de sítios arqueológicos, e sim a ocorrência de fenômenos naturais que causaram a abertura
de clareiras na floresta devido à dinâmica dos rios e à incidência de ventos fortes. Contudo
estas duas informações de campo servem para calibrar as imagens de satélite e determinar
outras áreas onde estes fenômenos podem ter ocorrido.
185
Amazônia Antropogênica

Gráfico 1. Relação dos sítios conhecidos (gráfico vermelho) e as áreas apontadas pelo modelo preditvo (gráfico
azul) com as classes de declividade do terreno. Fonte: Aires da Fonseca, 2013.

Gráfico 2. Relação dos sítios conhecidos (gráfico vermelho) e as áreas apontadas pelo modelo preditvo (gráfico
azul) com a distância da rede de drenagem. Fonte: Aires da Fonseca, 2013.
186
Do restante das áreas, cinco apresentaram somente um solo escuro e floresta antropizada,

Amazônia Antropogênica
com alta frequência de palmeiras, pequiás, sapucaias e bacabas, sendo estas descritas
como ecofatos e com indícios de provável ocorrência de sítios. Nas outras seis áreas foi
possível identificar terra preta, fragmentos cerâmicos e líticos, por terem sido impactadas
pela estrada que liga a vila de Porto Trombetas à cidade de Terra Santa. Todas estas
ocorrências estavam localizadas em áreas planas, situadas próximas a rios e das feições
elípticas delimitadas na imagem de satélite Landsat TM 5, que foram comprovadas em
campo como contendo áreas com um dossel baixo em uma vegetação tipicamente
antropizada (Figura 6).
O fato é que se considerarmos os 76 sítios do banco de dados, juntamente com as 153
áreas apontadas como de alta probabilidade de ocorrência de sítios, sendo que 6 delas já
foram confirmadas como sítios, torna-se possível projetar um mapa de densidade de
mais de 200 sítios arqueológicos para área em estudo. As concentrações, que são tanto
de sítios quanto de projeções, montam um quadro hipotético de distribuição espacial e
densidade de ocupação relacionadas com os diferentes nichos ecológicos da região,
mas também apresentando locais de concentrações exatamente em locais intermediários
entre as encostas dos platôs e das terras baixas, havendo uma relação com a diversidade
de recursos faunísticos e florísticos, e também nas proximidades dos cursos dos principais
rios e lagos, como o caso do rio Trombetas e do lago Batata (Figura 7).

Figura 6. Localização das áreas levantadas para o teste do modelo preditivo no Projeto Trombetas. Fonte: Aires
da Fonseca, 2013.
187
Amazônia Antropogênica

Figura 7. Mapa hipotético com a densidade (Kernel Density) de sítios arqueológicos na região do baixo rio Trombetas
e o lago Sapucuá. Fonte: Aires da Fonseca, 2013.

PROJETO ARQUEOLÓGICO CARAJÁS


Para a construção de modelos arqueológicos preditivos, o uso de uma base de dados de
sítios já identificados em etapas de campo torna-se essencial para que sejam criadas
inferências e projeções de novos sítios arqueológicos em áreas ainda não investigadas.
Atualmente o Projeto Arqueológico Carajás (PACA) possui uma base de dados extensa,
abrangendo trabalhos de vários outros projetos (MAGALHÃES, 2005; CALDARELLI; KIPNIS ; KOOLE,
2008; PEREIRA, 2002; SILVEIRA; RODRIGUES; OLIVEIRA, 2009).
De acordo com o levantamento feito para este capítulo, foi possível reunir um total de 82
locais (pontos georreferenciados) com vestígios arqueológicos, situados em sua maioria
na Serra Norte e Serra Sul, incluindo tanto sítios de abrigo quanto a céu aberto. Contudo,
neste capítulo são abordados somente os sítios localizados a céu aberto, situados tanto
em áreas de terras baixas quanto no topo de platôs4. A análise espacial destes pontos
dentro de um SIG permite responder a perguntas: qual a relação destes sítios com as
variáveis ambientais? Quais frequências eles apresentam, quando se observam suas cotas
altimétricas? Qual a distância de cursos de rios e sua disposição em terrenos planos ou
irregulares? E a distância entre estes sítios?

4
Para as caracterizações ambientais da Serra dos Carajás, ver Silva Santos e Costa Lima et al., no capítulo 4.
188
Como resposta, os dados da Serra dos Carajás permitiram verificar que mais de 80% dos

Amazônia Antropogênica
pontos estão associados a áreas planas e ligeiramente onduladas, com altimetrias entre
150 e 450m, tendo uma distância da rede de drenagem variando entre 100 e 400m, sendo
que a distância média entre estes locais, cada qual distribuído nas proximidades dos rios
Pacu, Sossego, Salobo e Mirim, apresentaram uma média de 600m. Ou seja, é provável
que as antigas aldeias estivessem distantes entre si em uma faixa de 600m. Este tipo de
caracterização estabelece um padrão de ocorrência de sítios em uma dada área, onde
estas características servem de parâmetro para a construção do modelo arqueológico
preditivo em áreas ainda inéditas.

Teste do modelo em campo


O teste de dois modelos arqueológicos preditivos foi realizado na Serra Sul de Carajás,
sendo os levantamentos restritos à busca de sítios a céu aberto e em dois ambientes
ecológicos distintos que compreenderam as áreas de planícies, com cotas altimétricas
variando de 200 a 350m de altitude, abrangendo quase a totalidade do rio Pacu e do rio
Sossego, e áreas no topo das serras com altitudes ultrapassando 750m em relação ao
nível do mar. Desta forma, as áreas de encostas, onde comumente são identificadas
grutas contendo vestígios arqueológicos, portanto os sítios abrigados, não fizeram parte
da análise deste capítulo (Figura 8)5.

Figura 8. Mapa hipsométrico e áreas de levantamento arqueológico do Projeto Ferro Carajás S-11D. Fonte: Aires
da Fonseca, 2013.

5
Para as descrições e contextualizações de sítios de abrigos, ver o texto de Barbosa, no capítulo 4.
189
Para as áreas de topo de serra, não relacionadas com os abrigos e cavernas, a variável
Amazônia Antropogênica

passível de verificação para construir um modelo preditivo incidia sobre as observações


em locais no entorno de lagos, tanto perenes quanto intermitentes, e ao longo do curso
das cabeceiras de rios, com o intuito de serem identificados possíveis polidores e afiadores.
Estes lagos puderam ser visualizados a partir do levantamento aerofotogramétrico de
alta resolução que permitiu a observação detalhada da vegetação que delimitava as bordas
dos lagos. De fato, as únicas ocorrências registradas em céu aberto eram relacionadas a
lascas e núcleos de hematita nas atuais bordas de dois lagos intermitentes e um polidor
ao longo do curso de um rio sem nome (Figuras 9 e 10).

Figura 9. Modelo preditivo criado tendo como variável as bordas de lagos perenes e intermitentes no topo de
serras. Fonte: Aires da Fonseca, 2013.

Desta forma, um possível modelo arqueológico preditivo para este tipo de sítio
arqueológico e sua localização espacial em topo de serras poderá ser aplicado em
ambientes similares tendo como premissa uma análise detalhada, em campo, do entorno
de lagos perenes e/ou intermitentes, como sendo de alta probabilidade de ocorrência
de material lítico lascado nesta região.
190
Amazônia Antropogênica
Figura 10. Panorama de um lago intermitente no topo da serra. Próximo da margem foram identificados lascas
e núcleos de hematita Foto: Carlos Barbosa.

O segundo modelo também feito na área da Serra Sul de Carajás, onde foram
identificados sítios arqueológicos em 2008, foram visitados pelo PACA para a definição
de um possível padrão de localização no espaço. Estes sítios estavam bem próximos de
rios, distando no máximo 400m, em uma área plana e livre de inundações e com altimetria
entre 150 e 400m em relação ao nível do mar (CALDARELLI, 2004, 2008; CALDARELLI; KIPNIS;
KOOLE, 2008). A partir destas informações, foi possível isolar as áreas, ainda sem
levantamentos arqueológicos, que apresentavam estas características tomando como
variáveis a distância de recursos hídricos, os principais igarapés e rios, a altimetria e a
declividade do terreno. Para combinar estas variáveis em um único mapa, utilizou-se a
ferramenta, do programa ArcGis, Spatial Analyst Tools> Overlay> Weighted Overlay,
considerando-se 50% de relevância para os valores da declividade, 25% para os valores
de amplitude do terreno e 25% para os valores de distância de rios. O resultado final foi
um mapa com áreas de alta, média e baixa probabilidade de ocorrência de sítios, onde
foram feitas prospecções (sondagens). Os resultados foram bastante positivos sendo
encontrados vários locais com vestígios arqueológicos (Figura 11).
Contudo esta área da Serra Sul foi bastante impactada pela agropecuária sendo quase
inexistente qualquer tipo de vegetação que possa ser associada aos sítios. Desta forma,
para que o modelo arqueológico preditivo possa ser aprimorado, é importante o uso da
variável de florestas antropizadas, e essencial que sejam feitos novos levantamentos dentro
da Floresta Nacional de Carajás (FLONACA), pelo fato de ali, a vegetação estar preservada.
E uma área propícia para ser aplicado o modelo é o extenso vale entre a Serra Norte e a
Serra Sul de Carajás estendendo-se até a margem esquerda do rio Parauapebas6.

6
O segundo teste deste modelo arqueológico preditivo na Serra dos Carajás está em andamento, no projeto de
doutorado do autor, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGA-UFPA).

191
Amazônia Antropogênica

Figura 11. Mapa com o modelo preditivo para as áreas de planície no Projeto Ferro Carajás S-11D. Fonte: Aires
da Fonseca, 2013.

Ferramentas de projeções: rotas de menor custo


Outra ferramenta de projeção do programa ArcGIs é a possibilidade da criação de rotas
entre dois pontos conhecidos a partir da seguinte pergunta: qual é o caminho com o
menor custo, o menor esforço de deslocamento, evitando-se locais com acentuados
aclives e declives? Ou seja, pode-se perguntar ao programa a rota que permaneça somente
em locais planos ou ligeiramente ondulados, evitando-se ao máximo o esforço em subidas
e descidas muito íngremes.
Para a elaboração desta rota de menor custo, o programa ArcGis necessita de um modelo
digital do terreno (DEM, sigla em inglês), da elaboração de um mapa de declividades, de
dois pontos conhecidos na área a ser percorrida, sendo um ponto de partida e um ponto
de chegada, e também da extensão Spatial Analyst Tools, onde são aplicadas as ferramentas:
Surface, Reclass, Overlay e Distance. Como ponto de partida conhecido, foi utilizado o sítio
PA-AT-330: Boa Esperança II, e como ponto de chegada foi utilizado o sítio PA-AT-337:
S11-D47/48 (gruta e abrigo, respectivamente). Após a elaboração do DEM foi possível
criar o mapa de declividade (Slope), o qual foi reclassificado em valores de 1 a 10, sendo
os valores menores representantes de um terreno plano e os valores maiores como
representantes de um terreno com acentuados aclives e declives
192
A rota gerada pelo programa ArcGis acessa diversos outros sítios identificados e paisagens

Amazônia Antropogênica
construídas, como o Manjolim da Serra, o Araracuara e a proximidade do sítio Mangangá
(e sua paisagem de entorno). Desta forma, é possível inferir um corredor de circulação,
uma área de mobilidade constante, entre estes sítios, devido a serem contemporâneos e
também por eles serem acessados por uma rota de fácil circulação, tendo-se como
premissa a utilização de acessos que perpassavam locais planos ou menos íngremes,
sendo possível utilizar este fator como mais uma variável para a construção de modelos
preditivos (Figura 12).

Figura 12. Mapa com a projeção da rota de menor custo criada no programa ArcGis. Observar a proximidade
de outros sítios arqueológicos da projeção do hipotético corredor de circulação.

PROJETO BAIXO RIO TOCANTINS


O levantamento arqueológico, realizado no interflúvio dos rios Tocantins e do rio Moju,
teve por objetivo avaliar o potencial arqueológico da região e os possíveis impactos que
um empreendimento de agricultura viria causar ao patrimônio arqueológico. De acordo
com o levantamento bibliográfico, a única referência a assentamentos humanos antigos
foi feita por Curt Nimuendaju em 1926, ao descrever dois sítios contendo fragmentos
cerâmicos e terra preta, localizados próximos da margem direita do rio Tocantins, não
existindo informações sobre possíveis sítios em áreas de interflúvio (STENBORG, 2004).
No total, foram estabelecidas para o levantamento de campo cem áreas, que
correspondem às pequenas e grandes propriedades para os plantios de palmas. Por não
terem sido identificados sítios arqueológicos em pesquisas anteriores, a construção do
193
modelo preditivo para o levantamento de campo considerou apenas a variável de
Amazônia Antropogênica

proximidade de recursos hídricos, deduzindo ter sido este um fator essencial para a
ocupação humana, devido à necessidade de captação de água, de serem locais com
maior disponibilidade para caça e pesca e, possivelmente, também para o transporte e
circulação de pessoas.
Portanto, para a identificação prévia da rede hidrográfica, adquirida em parte através das
imagens de radar SRTM e o seu refinamento com a observação e delimitações feitas a
partir de imagens Landsat TM 5 e da carta do IBGE (1998), foi possível identificar quais
propriedades estavam mais próximas de igarapés e rios. Para esta rede hidrográfica, atribui-
se uma distância de 1 km, utilizando a ferramenta do ArcGis, Spatial Analyst
Tools>Distance>Euclidian Distance, sendo o levantamento de campo direcionado primeiro
para as áreas mais próximas dos igarapés e rios selecionados. A metodologia de
levantamento aplicada em campo consistiu, apenas, em observações de vestígios
arqueológicos em superfície e, quando possível, de verificações em subsuperfície, sempre
que as atividades agrícolas e a aberturas de estradas vicinais tornavam possível a verificação
do subsolo.
Como resultado, em quinze dias de coletas de dados em campo, foram identificados
quatorze novos sítios arqueológicos, contendo fragmentos cerâmicos e líticos com terra
preta e quatro ocorrências de fragmentos cerâmicos esparsos (Figura 13). Tais resultados
corroboram a eficiência que análises prévias feitas com o uso de um sistema de informação
geográfica e de sensoriamento remoto, e o estabelecimento de modelos coerentes de
relação de sítios arqueológicos e determinadas variáveis ambientais podem proporcionar
ao pesquisador. Essas análises resultam na elaboração panorâmica da distribuição de
sítios no espaço, permitindo iniciar a construção de inferências e tomadas de decisões
no desenvolvimento de projetos de pesquisas mais abrangentes para a área em estudo.
Com a conclusão do levantamento de campo, o primeiro modelo preditivo, construído
sem a caracterização ambiental de sítios arqueológicos previamente estudados, terá como
próximo passo o seu refinamento, uma vez que as dezoito áreas identificadas como
contendo vestígios arqueológicos possuem uma estreita relação com os principais rios e
igarapés (Figura 14). Ou seja, torna-se estatisticamente válida a variável de proximidade
de recursos hídricos, como sendo uma área de alta probabilidade de ocorrência de novos
sítios arqueológicos, o que torna viável a utilização de um modelo preditivo para as
demais áreas não levantadas.
Além deste tipo de levantamento poder atribuir a relevância de determinados locais, de
acordo com as áreas de alta e baixa probabilidade de ocorrência de sítios do modelo, ele
permite criar hipóteses da distribuição espacial dos sítios identificados. O que pode ser
observado é que as áreas de campos de natureza, com vegetação arbustiva, que durante
os períodos de chuvas intensas na Amazônia tornam-se lagos extensos, não tão profundos,
atualmente ainda servem de atrativo para um grande número de caças. É provável que os
antigos grupos indígenas tenham utilizados estas áreas para captação de recursos,
estabelecendo tanto acampamentos temporários quanto assentamentos permanentes
no entorno destas áreas de campos de natureza.

194
Amazônia Antropogênica
Figura 13. Mapa com a distribuição de ocorrências e sítios arqueológicos identificados no projeto baixo rio
Tocantins. Fonte: Aires da Fonseca, 2013.

Figura 14. O gráfico apresenta a relação entre os sítios identificados em campo e a distância dos principais
igarapés e rios. Distâncias acima de 1 km das margens destes cursos de águas compreendem áreas de
baixa probabilidade de ocorrência de sítios arqueológicos, de acordo com o modelo proposto. Fonte: Aires da
Fonseca, 2013.
195
De fato, a distribuição espacial das evidências arqueológicas identificadas no baixo rio
Amazônia Antropogênica

Tocantins, desenham um arco que vai desde a margem direita do rio Tocantins, tendo
como limite estes campos de natureza, adentrando o interflúvio, mas acompanhando as
margens de igarapés e rios principais. Portanto, existiu uma complexa ocupação indígena
na região nos quais diversos ambientes ecológicos foram utilizados e que somente com
levantamentos futuros será possível estabelecer modelos de distribuição mais refinados
que certamente poderão ser projetados, por exemplo, para a margem esquerda do rio
Tocantins, onde poucas pesquisas arqueológicas foram realizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de algumas críticas ao uso de modelos preditivos com a premissa de que
determinadas variáveis do aspecto físico ambiental, como a proximidade ou distância de
cursos de rios e a declividade do terreno, possam causar erros de interpretação nas
pesquisas arqueológicas, principalmente devido à subjetividade de atribuições de valores
às variáveis (EBERT, 2000; PELINNI, 2008), os testes do modelo preditivo apresentados neste
trabalho mostraram-se bastante promissores para a identificação de sítios arqueológicos.
Eles ainda nos permitem aprimorar o modelo em pesquisas futuras e compreender a
distribuição dos sítios no espaço e suas relações com a paisagem. Uma compreensão
diz respeito aos sítios encontrados em áreas de interflúvio, distante do curso de rios
principais, como o rio Trombetas e do Lago Sapucuá, permitindo inferir maior
complexidade da ocupação humana em diversos locais, além das áreas dos grandes rios
amazônicos (GUAPINDAIA, 2008; LEVIS et al., 2012).
Para os sítios da região de interflúvio, entre os rios Trombetas e o lago Sapucuá, as
possibilidades das análises das imagens Landsat TM 5 permitiram a identificação da
vegetação com baixo dossel, indicando a existência de sítios arqueológicos, como o Cipoal
do Araticum. Essas .possibilidades apresentam uma ferramenta que produz coordenadas
específicas para os levantamentos de campo. O Cipoal do Araticum pode ser considerado
um sítio de densa ocupação devido a ter terra preta profunda e datações radiocarbônicas
que vão do ano 4000 AP. até o ano 1000 AP. (GUAPINDAIA; AIRES DA FONSECA, 2013).
Desta forma, o sítio Cipoal do Araticum apresenta uma configuração que corrobora as
assertivas de que a presença humana, principalmente as antigas comunidades indígenas
na Amazônia, não causaram a degradação da vegetação e sim um aumento em sua
biodiversidade, devido à presença e alta frequência de espécies úteis que foram manejadas
ao longo do tempo pelo homem (BALÉE, 1993). A atual paisagem que podemos observar
no sítio Cipoal do Araticum, especialmente quando observamos o tipo de floresta que o
circunda e a floresta associada à maior parte da área onde ocorre terra preta de índio,
fragmentos cerâmicos e líticos, pode ser classificada no que para Balée é descrito como
paisagens que evidenciam indigeneidade (BALÉE, 2008), ou como paisagem antropogênica,
tal como Magalhães descreve neste livro. Dentro de um espaço de não mais que 400 x
600 m, é encontrada uma alta frequência de plantas úteis relacionadas com usos
medicinais, utilização de resinas para impermeabilização, alucinógenas e, principalmente,
plantas comestíveis, entre outras (JUNQUEIRA, 2010).
196
A identificação de sítios, relacionados com determinadas variáveis ambientais, como

Amazônia Antropogênica
áreas planas, proximidade de rios e lagos e determinados tipos de vegetação permitem
estabelecer um padrão de ocorrência verificável em regiões similares ainda não
levantadas, que apresentem as mesmas características ambientais. Em Porto Trombetas
existe uma estreita relação destas variáveis e a identificação de novos sítios
arqueológicos, sendo o sítio Cipoal do Araticum o que apresenta estas características
de forma mais contundente.
Para a construção de um CRM na região de Porto Trombetas, não há dúvida que apenas
a identificação dos sítios arqueológicos, incluídos aqueles descobertos com o modelo
preditivo, distribuídos em diversos ambientes ecológicos, serviriam apenas como alerta
para que as atividades mineradoras não os destruíssem, ou então servir como
planejamento para os impactos que serão causados. O método em si teria mérito devido
a sua eficiência na execução do objetivo de identificar novos sítios, contudo, quando
avançamos nas análises destes dados espaciais, inferindo possíveis respostas aos
padrões de distribuição espacial, novos cenários, novos quadros hipotéticos das relações
humanas desenvolvidas na região, percebemos algo mais heterogêneo corroborando
com as hipóteses de alta complexidade do uso do espaço por antigos grupos indígenas.
Ao observarmos a distribuição tanto dos sítios arqueológicos identificados em campo
como aqueles projetados pelo modelo preditivo, outra variável ambiental pode ser
associada aos sítios situados no interflúvio do rio Trombetas e o Lago Sapucuá: a
proximidade dos diversos platôs existentes na região. Neste ponto os conceitos de
demarcadores culturais, de locais significativos (ZEDEÑO, 1997; SILVA, 2013), podem ser
utilizados para explicar o padrão espacial de distribuição de sítios arqueológicos próximos
aos platôs.
De acordo com o levantamento botânico realizado por Salomão (2009), relacionado com
a densidade, a estrutura e a distribuição espacial da castanha do Brasil (Bertholletia excelsa
H. & B.), no topo de dois platôs na região de Porto Trombetas, o platô Almeidas e o Platô
e Aviso, seus resultados apontam para uma alta densidade de castanheiras situadas no
topo do platô Almeidas, totalizando 1.140 indivíduos identificados, em uma relação de
1,5 árvore/ha, enquanto que no topo do Platô Aviso foram registrados apenas 7 indivíduos,
em uma relação de 0,005 árvore/há. Além das possibilidades de dispersão natural, Salomão
aponta também para possíveis florestas manejadas por antigos grupos indígenas na
região. Não época da publicação deste levantamento botânico, o sítio Cipoal do Araticum
ainda não havia sido identificado, e a sua localização é relativamente próxima,
principalmente se considerarmos os demais sítios situados às margens do rio Trombetas
e Lago Sapucuá.
Portanto, se considerarmos as florestas de castanhais como um produto do manejo de
antigas ocupações indígenas, o que é indicado pela presença de sítios arqueológicos no
entorno, estas áreas de interflúvio tiveram uma intensa circulação de pessoas que acessavam
locais estrategicamente localizados, compondo um quadro de uso e dispersão em vários
ambientes ecológicos. As pesquisas atuais, desenvolvidas em Carajás no âmbito do PACA,
apontam para a mesma direção como demonstrado com a aplicação do modelo preditivo.

197
Desta forma, os estudos arqueológicos nas regiões de Porto Trombetas, de Carajás e do
Amazônia Antropogênica

baixo rio Tocantins, quando combinados com o quadro teórico da arqueologia amazônica
atual, que propõem a incidência de sítios arqueológicos em diferentes paisagens, indo
muito além das margens dos grandes rios, juntamente com o uso de novas tecnologias
para métodos de levantamentos de campo (SIG, SR e modelos preditivos), a
complexidade e a diversidade das interações humanas com a paisagem configuram a
densidade populacional de uma época, em “(...) que se do ar deixassem cair uma agulha, há de
dar em cabeça de índio e não no solo alto.” (Descrição do Padre Alonso de Rojas sobre a grande
quantidade de índios às margens do rio Amazonas em 1639) (LEITÃO, 1941).

198
72

Artigo 2:

Aires da Fonseca. 2018a. Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios


arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá-Trombetas. Boletim do Museu
Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas 13 (2) 353-376.
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no


baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas
Spatial distribution patterns and predictive models: archaeological sites on the lower
courses of the Nhamundá and Trombetas rivers

João Aires da Fonseca


Universidade Federal do Pará. Belém, Pará, Brasil

Resumo: O presente artigo possui enfoque metodológico relacionado à modelagem de dados espaciais de sítios arqueológicos,
utilizando o conceito de modelo preditivo. O método está embasado em modelos de distribuição de espécies com o
algoritmo de máxima entropia. Para sua construção, foram utilizados n = 76 pontos de sítios arqueológicos da região
situada no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas, porção oeste do estado do Pará, Brasil. Toda a análise teve o
uso de softwares livres (Qgis, Grass-Gis, R e MaxEnt) e de cenas de satélite e de radar de domínio público (Landsat 5 e
SRTM). Os resultados alcançados apontam para áreas altamente propícias à incidência de sítios arqueológicos, distribuídas
por diversos ambientes ecológicos, indo desde as margens dos principais rios e lagos, perpassando locais de interflúvio
nas proximidades e nos topos dos platôs que compõem a região. As discussões apontam que, para a elaboração e o
uso de modelos arqueológicos preditivos na Amazônia, devem ser consideradas as características de cada complexo
arqueológico e o local em estudo, observando a diversidade de antigos grupos indígenas ao longo dos rios da Amazônia
e, por conseguinte, das diversas formas e escolhas de se ocupar o espaço.
Palavras-chave: Arqueologia amazônica. Modelo preditivo. Algoritmo de máxima entropia.

Abstract: The methodological focus of this article is spatial data modeling, utilizing the concept of predictive archaeological models.
This method is based on software using species distribution models with a maximum entropy algorithm. The model was
constructed using n = 76 archaeological point locations from the region between the lower courses of the Nhamundá
and Trombetas Rivers in the state of Pará, Brazil. The entire analysis involved open source software (Qgis, Grass-Gis, R
and MaxEnt) and free satellite and radar images (Landsat 5 and SRTM). The results obtained indicate the presence of
various ecological niches with high archaeological potential, ranging from the banks of the major rivers and lakes through
the hinterland areas surrounding the plateaus in the region. The discussions about the results and analysis indicate that the
use and construction of predictive archaeological models in the Amazon region should consider both the archaeological
complexes and the region in question, observing the diversity of established indigenous groups along the rivers in Amazonia
as well as the various ways of selecting and the occupying the area.

Keywords: Amazon archaeology. Predictive model. Maximum entropy algorithm.

AIRES DA FONSECA, João. Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá
e Trombetas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018. DOI: http://
dx.doi.org/10.1590/1981.81222018000200006.
Autor para correspondência: João Aires da Fonseca. Universidade Federal do Pará. Rua Igarapé Tucunduba, 1034 – Guamá. Belém, PA,
Brasil. CEP 66075-123 (airesarch@gmail.com). ORCID: http://orcid.org/0000-0002-1316-1183.
Recebido em 16/10/2017
Aprovado em 08/02/2018

BY

353
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

ARQUEOLOGIA E MODELOS PREDITIVOS compreender a dispersão destes sítios por toda a bacia
Modelos arqueológicos preditivos têm sua origem no amazônica, apresentando novos dados para as discussões
esforço teórico e metodológico de proteção de sítios, dentro sobre as distribuições de antigas ocupações em áreas de
de programas de gestão de recursos culturais (do inglês várzea e de terra firme, bem como sobre quais impactos
Cultural Resource Management – CRM) (Verhagen, 2007). a presença humana pode ter causado na composição
Dois aspectos podem ser associados ao seu uso. O primeiro das florestas ao longo de séculos de assentamentos.
deles consiste na função de mapear áreas com elevadas Para McMichael et al. (2014), os resultados
probabilidades de ocorrências de sítios, para verificar possíveis alcançados permitem descrever uma concentração de sítios
impactos a serem causados por grandes empreendimentos, arqueológicos na porção centro-leste da Amazônia, onde
como hidrelétricas, ferrovias, portos, entre outros (Kipnis, os sítios compostos por terra preta – que provavelmente
1997; Caldarelli; Santos, 1999; Aires da Fonseca, 2016). denotam intensas ocupações – estão localizados em áreas
No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico próximas ao curso dos grandes rios; também possibilitam a
e Artístico Nacional (IPHAN), órgão responsável compreensão de que, nas áreas de interflúvio, esses sítios
pela gestão de sítios arqueológicos, propõe em sua apresentam baixa incidência, de acordo com a projeção do
Instrução Normativa n. 01/2015 que, em determinados modelo criado. Desta forma, um quadro da Amazônia antiga
empreendimentos econômicos, os estudos arqueológicos é descrito com esparsas ocupações em áreas do interior e
devem utilizar modelos preditivos como forma de avaliação densas ocupações ao longo dos rios principais, a exemplo
da potencial ocorrência de novos sítios em áreas de dos rios Amazonas, Madeira e Tapajós. Apesar de os autores
impactos diretos destes (Brasil, 2015). ressaltarem que este quadro pode ser o resultado de um
O segundo aspecto, de cunho mais acadêmico, incide viés amostral, devido ao maior registro de sítios ter ocorrido
em utilizar a modelagem de dados espaciais, com o intuito exatamente em áreas próximas destes rios, a hipótese de
de ir além da gestão de recursos culturais, e com o uso de vazios demográficos em áreas de interflúvio também é
teorias que possam orientar (theory driven) as inferências sustentada pela não identificação de terra preta em sítios
sobre as configurações espaciais de sítios arqueológicos do interior, principalmente na porção do oeste amazônico.
(Verhagen; Whitley, 2012). Em outras palavras, que tais Contudo, os resultados da pesquisa desenvolvida pelo
teorias permitam responder hipoteticamente por quais presente artigo, utilizando os pontos de sítios arqueológicos
motivos determinados sítios arqueológicos ocorrem do baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas, bem como
em certos locais, buscando compreender as dinâmicas variáveis ambientais correlacionadas, apontam para um quadro
construídas entre o homem e o ambiente, de acordo com hipotético divergente do apresentado por McMichael et al.
as especificidades de cada cultura, do território e do tempo (2014). A pesquisa considerou dois fatores importantes nas
em estudo (Aires da Fonseca, 2016). definições das amostras e das dimensões da área de estudo:
Os recentes resultados apresentados por McMichael 1) A utilização de dois modelos preditivos: o primeiro
et al. (2014) demonstram de maneira clara a utilização considera a totalidade de sítios arqueológicos conhecidos
de modelos preditivos e os resultados que estes podem em relação às variáveis ambientais selecionadas, permitindo
proporcionar para a construção de quadros hipotéticos verificar o quão distribuídos estão nas paisagens, além de
na arqueologia amazônica. A partir de amostras de pontos possibilitar a observação de um possível viés amostral
de sítios, classificados entre contendo e não contendo quanto à maior incidência de sítios nas proximidades dos
terra preta arqueológica, a pesquisa desenvolveu um rios e de lagos principais, indicando que isso possa ocorrer
modelo preditivo, utilizando variáveis ambientais para em razão de maior número de pesquisas nestes ambientes.

354
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

O segundo modelo foi criado abrangendo a possibilidade [...] relação quantificável, entre a presença
de um determinado tipo de sítio e uma gama
de modelar os sítios e as paisagens relacionadas às áreas diversificada de [...] [variáveis ambientais que
de interflúvio, agrupando-os por características ambientais possam caracterizá-los]. Esta relação deve ser
válida para que então características ambientais
aproximadas, em vez de classificações entre sítios que similares, existentes em [...] [outros locais] ainda
contêm e não contêm terra preta arqueológica; e não levantados, possam indicar a ocorrência [...]
[favorável] de novos sítios. O objetivo principal
2) A escolha da área de estudo que contivesse, em [consiste em] gerar um mapa de sensibilidade com
parte, a ocorrência espacial de um complexo arqueológico, faixas de baixa, de média e de alta probabilidade
de ocorrência de sítios arqueológicos em novas
neste caso o complexo cerâmico Konduri, em vez de regiões, o que irá permitir criar um guia para o
considerar a bacia amazônica inteira e manipular pontos levantamento de campo em busca de possíveis
vestígios. (Aires da Fonseca, 2016, p. 181).
de sítios de diversos outros complexos. A premissa, neste
aspecto, consistiu na hipótese de que determinadas formas Para a sua construção, são necessários os seguintes
de ocupar o espaço são intrínsecas a determinadas culturas, passos:
e utilizar uma amostra compreendendo todos os sítios 1) Caso existam [bancos de dados de sítios
arqueológicos atualmente conhecidos na Amazônia implicaria arqueológicos georreferenciados na área a
ser levantada], busca-se definir as principais
em considerar que antigos grupos indígenas compartilhavam características dos mesmos, tal como tamanho,
das mesmas formas e escolhas de se ocupar o espaço. se são sítios de acampamento ou de habitação,
a proximidade de recursos hídricos, o tipo de
Desta maneira, o quadro de dispersão de sítios vegetação associada, a distância entre esses sítios
arqueológicos, tanto em áreas de interflúvio como nos [entre outras características ambientais];
2) Caso não exista registro de sítios anteriores
rios principais, a ser apresentado ao longo deste artigo, à pesquisa, usam-se então deduções de que
aproxima-se dos resultados de pesquisas arqueológicas determinados locais foram propícios à ocupação
humana, como a proximidade de recursos hídricos
que apontam para uma complexa rede de relações sociais e áreas planas livres [de alagamentos];
e econômicas, com uso intensivo de diversos ambientes 3) O uso de um [...] Sistema de Informação
Geográfica (SIG), para que as análises feitas nos itens
amazônicos (Balée, 1993; Stenborg et al., 2012; Moraes; 1 [...], possam ser interpretadas através de mapas;
Neves, 2012; Magalhães, 2013; Clement et al., 2015). 4) A [confecção] de um mapa [...] indicando as
áreas de baixa, de média e [de] alta probabilidade
Diante da importância do uso de modelos preditivos [de locais favoráveis à incidência de novos sítios];
em pesquisas arqueológicas, deve-se, então, perguntar 5) Levantamento em campo das áreas apontadas
[...] pelo mapa [...] para o teste do modelo [...]
sobre como construí-los e quais os direcionamentos (Aires da Fonseca, 2016, p. 181).
teóricos, metodológicos e técnicos podem ser aplicados,
de acordo com cada região em estudo. O presente artigo Contudo, estas características apresentam a
retoma as discussões apresentadas em pesquisas anteriores construção de modelos segundo os quais as inferências
no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas (Aires da do pesquisador são constantemente empregadas por meio
Fonseca, 2013), aplicando novas metodologias e o uso de da definição de valores e de pesos às variáveis utilizadas, a
softwares livres para a inclusão de análises geoestatísticas. fim de atender à necessidade de conhecimento empírico
da área em estudo, seja através de levantamentos de
CONSTRUINDO MODELOS ARQUEOLÓGICOS campo ou da obtenção de informações junto a moradores
PREDITIVOS locais com saberes sobre o terreno, os tipos de matas
Uma característica interessante no uso de modelos preditivos (vegetações) e de locais com vestígios arqueológicos.
diz respeito à forma como eles são construídos. Em estudos Modelos empíricos possuem um papel importante
anteriores, foi possível concluir que seu conceito incide na: principalmente em áreas de estudo onde o registro de sítios

355
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

arqueológicos é escasso, os quais, no entanto, carregam computador e de algoritmos pode ser utilizada para
consigo a subjetividade e a possibilidade de erros de organizar, modelar, testar, analisar e apresentar os
interpretação (Ebert, 2000; Pellini, 2008). Uma boa saída para resultados das pesquisas. Neste artigo, foram adotados
reduzir isto consiste no uso da matemática e da estatística, os seguintes materiais:
através de softwares que possam gerar os valores das 1) A base de dados de sítios arqueológicos utilizada
variáveis explicativas, sem interferência constante do usuário. foi composta das pesquisas de campo realizadas durante
Desta forma, uma sexta característica pode ser adicionada os anos 2000 e 2010 pelo Museu Paraense Emílio
na construção de modelos preditivos: o uso de programas Goeldi, no âmbito do Projeto Trombetas (Guapindaia;
estatísticos com algoritmos que possam relacionar os pontos Lopes, 2011). Durante este projeto, foi desenvolvido
de sítios arqueológicos às variáveis ambientais associadas, um Sistema de Informação Geográfica (SIG) contendo
para que, então, sejam identificadas novas localidades que as informações de pontos de sítios coletados em
apresentem valores aproximados, ou idênticos, dos atributos campo, sendo a grande maioria proveniente de
ambientais provenientes de sítios arqueológicos conhecidos. pesquisas revisitadas, iniciadas na década de 1950, e
outros compõem a base de dados apresentada por
MATERIAIS E MÉTODOS Machado (2001). O total da amostra compreende n
Diante do conceito e dos requisitos necessários à construção = 76 pontos de sítios arqueológicos (Figuras 1 e 2 e
de um modelo preditivo, uma série de programas de Apêndice);

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo. Mapa: João Aires da Fonseca (2017).

356
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

Figura 2. Distribuição espacial dos sítios arqueológicos na região do baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas. Mapa: João Aires da
Fonseca (2017).

2) Duas cenas do satélite Landsat 5 compuseram o Para a modelagem deste material e a obtenção das
mosaico (LT05 L1TP 228061 20091007 20161020 01 T1 variáveis ambientais informadas no modelo, foi adotado o
e LT05 L1TP 229061 20090928 20161020 01 T1) para a programa estatístico R (R Project..., 2017), que permitiu
análise de vegetação (USGS, [201-]); a utilização de modelos matemáticos e a possibilidade
3) Quatro cenas do programa Shuttle Radar de verificar, de uma forma mais simples e direta, a
Topography Mission (SRTM) com resolução de 30 m representação gráfica dos resultados destes modelos
1-arc. seg. (s02_w056_1arc_v3, s02_w057_1arc_ através de tabelas e de gráficos (boxplots e dendogramas),
v3, s03_w056_1arc_v3 e s03_w057_1arc_v3), de projeções cartográficas, dos testes estatísticos, da
provenientes do site Science for a changing World, foram padronização e da validação de dados, por meio dos
utilizadas para as análises do terreno e da hidrografia pacotes raster, rgdal, spatialEcology, caret, e1071 e usdm.
(USGS, [201-]); e O programa Qgis (2.18.3) foi utilizado para editar os dados
4) Da Agência Nacional de Águas (ANA) fora utilizado espaciais e manipular visualmente as tabelas e os mapas.
o arquivo vetorial de ‘massa d’água’, que define os grandes No programa Grass-Gis (7.2.0), foram obtidos os arquivos
rios e lagos naturais da área de estudo (ANA, 2017). de imagens (rasters) das variáveis explicativas.

357
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

Desta forma, da imagem de radar SRTM foi as relações entre a presença de pontos de sítios
possível extrair os seguintes valores: 1) altimetria em arqueológicos e as variáveis ambientais informadas, as
relação ao nível do mar; 2) declividade do terreno; quais, ao serem combinadas, obtiveram os resultados
3) curvatura do terreno (locais planos, convexos ou estatísticos, como os valores de área sob a curva (AUC)
côncavos); 4) rugosidade do terreno, com o uso do – que pressupõem valores ótimos acima de 0.7 (AUC
algoritmo r.tri (Terrain Ruggedness Index), produzido por > 0.7) – e os resultados do teste Jackknife, com valores
Pawley (2017), sendo definidos os valores relacionados de importância das variáveis na construção do modelo.
às áreas com solos planos ou irregulares; 5) posições A partir do primeiro teste no MaxEnt, foi possível
das faces do terreno em relação ao norte, ao sul, verificar as variáveis ambientais com ganho Jackknife
ao leste e ao oeste; 6) índice de radiação solar com muito próximo de zero ou sem ganho algum, sendo
valores entre 0 e 1, produzido por Evans (2017) no estas retiradas da análise, realizando-se o teste seguinte,
pacote R spatialEcology; 7) índice de posição topográfica até que todas pudessem contribuir para a construção
(Topographic Position Index - TPI), que permitiu verificar do modelo preditivo.
se os pontos estão situados em áreas planas, em vales O principal produto confeccionado no MaxEnt,
ou em áreas íngremes (pacote spatialEcology); 8) rios no entanto, consiste no mapa contendo as projeções
de 2ª, de 3ª, de 4ª e de 5ª ordem, através do método espaciais de áreas com alta, média e baixa probabilidade
Strahler, informado no algoritmo r.watershed, do Grass- de locais favoráveis à ocorrência de sítios arqueológicos,
Gis, para que fossem obtidas as distâncias euclidianas tendo como parâmetro a média dos valores das variáveis
dos pontos de sítios em relação às ordens de rios - em ambientais, extraídas pela amostra de pontos de sítios
relação aos rios de 6ª e 7ª ordem, correspondentes ao informados (Phillips et al., 2004, 2006).
Trombetas, ao Nhamundá e ao Amazonas, utilizou-se o Como análise final, para a construção de um modelo
arquivo vetorial de ‘massa d’água’ da ANA (2017), que preditivo capaz de indicar possíveis sítios arqueológicos em
corresponde às dimensões das margens destes grandes
rios -; 9) índice de vegetação da diferença normalizada Quadro 1. Variáveis explicativas utilizadas na construção dos modelos
arqueológicos preditivos.
(Normalized Difference Vegetation Index - NDVI), com o
intuito de fazer uma possível associação entre o vigor da Variáveis utilizadas

vegetação, em épocas de poucas chuvas na Amazônia, Altimetria (alt)

e os sítios arqueológicos com terra preta (Ponzoni; Declividade (decli)

Shimabukuro, 2010). Curvatura do terreno (curva)

No total, foram obtidas treze variáveis ambientais Rugosidade do terreno (tri)

(Quadro 1), que, para serem utilizadas no programa Posição das faces do terreno (dir_decli)

Maximum Entropy Species Distribution Modeling (MaxEnt), Índice de radiação solar (solar)

tiveram de ser validadas através do teste de correlação Índice de posição topográfica (tpi)

de Spearman e do teste de Variance Inflation Factor (VIF), Rios de 2ª ordem (ordem2)

para detectar colinearidade em valores de VIF > 10, que Rios de 3ª ordem (ordem3)

podem ocasionar influências nos resultados do modelo Rios de 4ª ordem (ordem4)

(Phillips et al., 2006; Naimi et al., 2014). Rios de 5ª ordem (ordem5)

O programa MaxEnt (versão 3.4.1), constituído Massa d’água (massa_agua)

do algoritmo de máxima entropia, permitiu estabelecer Índice de vegetação da diferença normalizada (ndvi)

358
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

áreas de interflúvio, empregou-se o método hierárquico de 1.000 AP, e Konduri, com datações associadas aos anos
agrupamento (cluster), utilizando-se a distância Euclidiana e subsequentes até próximo da colonização europeia,
o método de encadeamento completo (complete linkage como a primeira ocupação cerâmica (Hilbert, P.,
method) no software R (3.4.1), classificando-se a amostra 1955; Hilbert, P.; Hilbert, K., 1980; Guapindaia, 2008;
de sítios em três grupos (n = 76), de acordo com Guapindaia; Lopes, 2011).
características ambientais aproximadas. Através desta Entre estes sítios, possui destaque o Cipoal
classificação, extraiu-se a segunda amostra de sítios do Araticum, descoberto em 2009 pelo “Projeto
para a construção do segundo modelo preditivo, que Arqueológico Trombetas”1. Trata-se de um sítio localizado
permitiu verificar as principais mudanças e características na área de interflúvio, à margem direita do rio Araticum,
no uso de uma amostra heterogênea, contendo todos os entre os platôs Aviso e Bela Cruz, com área de 400 x
tipos de sítios, e de uma mais homogênea, com pontos 600 m. Suas características principais são as incidências
de sítios apresentando valores das variáveis ambientais de terra preta arqueológica, uma vegetação composta
mais aproximadas (Drennan, 2009; Carlson, 2012; por mata de cipós, havendo alta frequência de plantas
Baxter, 2015). úteis (medicinais, resinas, comestíveis, alucinógenas). Este
sítio apresenta uma datação por C14 recuando em 4.000
ESTUDO DE CASO: O BAIXO CURSO DOS antes do presente. Dessa forma, ele abrange grande
RIOS NHAMUNDÁ E TROMBETAS parte da ocupação humana de que se tem conhecimento
A região que compreende o baixo curso dos rios na região, contendo estilos cerâmicos relacionados
Trombetas e Nhamundá, na porção oeste do estado principalmente ao Pocó e, em menor quantidade, ao
do Pará, está dentro da área da Konduri (Junqueira, 2010; Guapindaia; Aires da Fonseca,
2012, 2013) (Figura 3).
[...] Floresta Nacional Saracá-Taquera, onde Diante das especificidades deste sítio e das
existem diversos ambientes ecológicos, como
áreas ribeirinhas, lacustres, terras baixas, encostas,
possibilidades do uso de modelos arqueológicos preditivos,
topos de platôs e, por conseguinte, uma gama as seguintes questões podem ser levantadas: existiriam na
diversificada de sítios arqueológicos [...] (Aires da
Fonseca, 2016, p. 178).
região outros locais semelhantes ao Cipoal do Araticum,
indicando a ocorrência de novos sítios arqueológicos?
Muitos destes sítios apresentam extensas áreas de Quais discussões podem ser levantadas a respeito de sítios
terra preta arqueológica ao longo dos rios principais, de interflúvio e sítios da várzea amazônica?
contendo abundância de fragmentos cerâmicos e líticos, Apesar de o questionamento ter como ponto
enquanto uma pequena quantidade deles apresenta de partida o sítio Cipoal do Araticum, é de suma
camadas arqueológicas curtas, com pouca incidência de importância a análise da distribuição espacial dos demais
vestígios, sendo que alguns estão situados no topo dos sítios arqueológicos existentes na região, para que,
platôs na região (Aires da Fonseca, 2016). então, possam ser construídos e testados modelos
As pesquisas atuais continuam adquirindo novos arqueológicos preditivos, apresentando os cenários
dados que confirmam sítios multicomponenciais, hipotéticos de antigas ocupações humanas entre os rios
definindo os estilos cerâmicos Pocó, entre 4.000 e Nhamundá e Trombetas.

Coordenado entre os anos de 2000 a 2010 por Vera Guapindaia, este projeto consistiu em extensos levantamentos e salvamentos
1

arqueológicos na área da Mineração Rio do Norte.

359
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

Figura 3. Sítio Cipoal do Araticum: A) localização; B) fotografia evidenciando o sítio, que foi identificado em 2009, com dimensões de 400
x 600 m. Suas principais características são a localização na área de interflúvio do baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas, a marcante
vegetação, composta por cipós, palmeiras e plantas úteis, bem como a extensa camada de terra preta arqueológica. Mapa (A): João Aires
da Fonseca (2017); Foto (B): João Aires da Fonseca (2010).

RESULTADOS uma vez que ambas lidam com áreas de vales para o tpi e
A validação das treze variáveis ambientais relacionadas com áreas convexas para curva, por exemplo.
aos pontos de sítios arqueológicos da região (n = 76) Foi indicada também a correlação entre o índice de
indicou elevados valores de coeficientes de correlação de vegetação da diferença normalizada (ndvi) e a altimetria
Spearman (rho). Ocorreu uma correlação negativa entre (alt), muito provavelmente relacionada ao tipo de
as variáveis de incidência solar (solar) e a declividade do vegetação encontrado no topo dos platôs.
terreno (decli), uma vez que, quanto menor a declividade, Por fim, a correlação positiva mais elevada ocorreu
mais áreas planas ocorrerão e, portanto, haverá maior entre a variável alt e massa d’água (massa_agua), que,
incidência solar nestas áreas. devido à maior incidência de pontos de sítios associados
A declividade também apresentou forte correlação aos grandes rios e lagos da região, também apresentam
positiva com a rugosidade do terreno (tri), provavelmente cotas altimétricas mais baixas. Dessa forma, a correlação
porque ambas as variáveis possuem valores similares às de discrimina que, quanto mais baixos e próximos os pontos
áreas planas. O mesmo aconteceu com as variáveis de índice de sítio das massas d’água, maiores são as ocorrências de
de posição topográfica (tpi) e curvatura do terreno (curva), sítios arqueológicos na região (Tabela 1).

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

Tabela 1. Coeficientes da correlação de Spearman para as treze variáveis explicativas do modelo (n = 76). Em negrito, destacam-se os
índices com os valores mais elevados, que informam possível colinearidade e a necessidade de retirada de uma das variáveis do modelo.
As legendas para as siglas estão descritas no Quadro 1.

ordem3 ordem4 ordem5 solar tpi dir_decli decli ndvi curva tri alt massa_agua
ordem2 -0.14 0.08 -0.06 0.09 -0.09 0.04 -0.14 -0.11 -0.01 -0.05 0.07 0.17
ordem3 -0.25 -0.01 -0.21 0.01 -0.01 0.14 -0.2 -0.1 0.07 -0.37 -0.46
ordem4 -0.02 0.26 0.31 0.17 -0.27 0.33 0.27 -0.17 0.38 0.44
ordem5 -0.25 -0.15 -0.2 0.27 -0.15 -0.23 0.37 -0.34 -0.54
solar -0.01 0.28 -0.84 0.09 0.14 -0.8 0.11 0.28
tpi 0.2 -0.07 0.37 0.81 -0.03 0.4 0.22
dir_decli -0.24 0.09 0.23 -0.25 0.27 0.34
decli -0.09 -0.2 0.72 -0.12 -0.28
ndvi 0.46 -0.04 0.61 0.54
curva -0.08 0.55 0.36
tri -0.03 -0.25
alt 0.86

Contudo, apesar da incidência de correlações Tabela 2. Aplicação do teste de Variance Inflation Factor (VIF)
informando resultados sem a incidência de colinearidade (VIF
elevadas, os valores do teste de colinearidade (pacote > 10), entre as variáveis explicativas associadas à amostra em
USDM no R) ficaram todos abaixo de 10 (VIF < 10), estudo. As legendas para as siglas estão descritas no Quadro 1.
não sendo excluída nenhuma variável a partir deste Variáveis VIF
método (Tabela 2). massa_agua 4.884
Os resultados do primeiro teste no MaxEnt solar 4.695
determinaram que as variáveis de declividade e de alt 4.617
curvatura do terreno tiveram contribuição com valor decli 3.397
zero e permutação bem próxima de zero. Estas duas curva 3.290
variáveis foram retiradas, sendo realizado um segundo tpi 3.161
teste no MaxEnt, desta vez com as variáveis explicativas tri 3.142
retornando com valores de ganho acima de zero (Tabela 3). ordem5 1.809
Desta forma, foram utilizadas onze variáveis ambientais ordem4 1.565
na construção do modelo preditivo, sendo estabelecido o ndvi 1.537

uso de 25% da amostra de n = 76 pontos de sítios para o ordem3 1.335

teste de validação. O modelo apresentou como resultados dir_decli 1.204

os valores de AUC acima de 0,8, tanto para o Training data ordem2 1.199

(AUC = 0,906, correspondente a n = 57 pontos de sítios)


quanto para o Test data (AUC = 0,872, correspondente a Em relação aos valores de ganho do teste
n = 19 pontos de sítios). Tais resultados forneceram valores Jacknife, a variável de distância da massa de água
elevados para a validação do modelo preditivo (Figura 4). apresentou maior influência sobre a distribuição dos

361
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

pontos de sítios, fato comumente conhecido devido (scale e center). Conforme o gráfico de boxplot
ao maior registro de sítios arqueológicos ao longo evidenciou, determinados valores distantes das
das margens dos grandes rios e lagos da região. A medidas centrais (outliers) poderiam configurar sítios
variável ndvi aparece como aspecto importante pelo arqueológicos que compartilhavam características
fato de poder classificar tanto florestas antropizadas, a ambientais díspares, ou seja, a amostra poderia
exemplo da vegetação identificada no sítio Cipoal do comportar determinados tipos de sítios em paisagens
Araticum, além de possibilitar a identificação de locais distintas (Figura 7). Desta forma, a análise hierárquica
de vegetação aberta ou de capoeira recente, associada de agrupamentos (cluster) forneceu uma interessante
às ocupações ribeirinhas assentadas, em grande parte, amostra de n = 20 sítios no cluster 3, definindo
em sítios arqueológicos (Figura 5). um grupo localizado na região de interflúvio dos
O principal resultado produzido pelo programa rios Nhamundá e Trombetas, tendo como um dos
MaxEnt – e de maior interesse para as interpretações integrantes o sítio Cipoal do Araticum (Figura 8).
arqueológicas – consistiu no mapa contendo as Com a nova amostra definida, foi criado um segundo
localizações de áreas definidas com a baixa, a média e modelo preditivo, verificando-se os pressupostos de
a alta probabilidade de locais semelhantes aos n = 76 colinearidade, os valores de VIF em conjunto com os
pontos de sítios informados e com as respectivas médias testes do MaxEnt, de onde tiveram que ser retiradas as
dos valores das variáveis ambientais (Figura 6). variáveis de índice de radiação solar (solar), de massa
A partir dos dados obtidos neste primeiro d’água (massa_agua), de índice de rugosidade do terreno
modelo, os valores das variáveis ambientais associadas (tri), de curvatura do terreno (curva) e do índice de
aos n = 76 pontos de sítios foram normalizados posição topográfica (tpi) (Tabelas 4 a 6).

Tabela 3. Valores de AUC (normalizados em porcentagem) dos testes de contribuição e de permutação realizados pelo programa MaxEnt.
Foram retiradas da análise as variáveis ambientais de declividade e de curvatura do terreno, devido à baixa contribuição ao modelo.

Primeiro teste Segundo teste


Variáveis Contribuição (%) Permutação (%) Variáveis Contribuição (%) Permutação (%)
agua_longlat 37,9 35,3 agua_longlat 37,9 31,8
ordem_4_longlat 15 16 ordem_4_longlat 14,9 22,9
solar2_trasp_longlat 11,2 1,4 solar2_trasp_longlat 11,3 2,3
ordem_3_longlat 9,8 14,1 ordem_3_longlat 10,1 6,5
ordem_5_longlat 8,8 9,3 ordem_5_longlat 8,9 9,3
ndvi_longlat 7,5 9,5 ndvi_longlat 7,4 13,3
tri_longlat 4,1 6,1 tri_longlat 4 3,3
ordem_2_longlat 3,2 3,4 ordem_2_longlat 3,2 6,1
tpi_norm_longlat2 1,3 1,5 tpi_norm_longlat2 1,3 2,8
altimetria_longlat 0,7 1,1 altimetria_longlat 0,7 0,9
direcao_decli_longlat 0,4 2,2 direcao_decli_longlat 0,3 0,8
declividade_longlat 0,1 0      
curvatura_longlat 0 0,1      

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

Figura 4. Os valores de AUC alcançaram resultados acima de 0,8, sendo considerados como valores aceitáveis para a composição do
modelo preditivo.

Figura 5. Valores de ganho de AUC para o teste Jackknife. A variável com maior contribuição para o modelo foi a distância dos pontos de
sítios em relação à massa de água.

363
364
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

Figura 6. Modelo arqueológico preditivo para a região do baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas. O modelo reflete o já conhecido padrão de maior incidência de
sítios nas proximidades dos grandes rios e lagos, evidenciando a área de interflúvio com esparsos episódios de locais com alta probabilidade desta ocorrência. O sítio Cipoal
do Araticum e as áreas do entorno foram classificados entre locais de média para baixa probabilidade de ocorrência de sítios arqueológicos. Mapa: Projeto UTM, João Aires
da Fonseca (2017).
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

Figura 7. Boxplot dos n = 76 pontos de sítios arqueológicos e os respectivos valores (normalizados) das variáveis ambientais utilizadas na
construção do modelo preditivo. Os outliers indicam as ocorrências de diferentes sítios na paisagem.

Figura 8. Análise hierárquica de agrupamento (cluster) para a amostra de n = 76 pontos de sítios associados às doze variáveis ambientais do
modelo preditivo. O cluster 3, onde está inserido o sítio Cipoal do Araticum, foi selecionado como amostra (n = 20) para a construção do
segundo modelo, com o intuito de localizar áreas semelhantes aos sítios deste grupo na região do baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas.

Tabela 4. Coeficientes da correlação de Spearman para as treze variáveis explicativas do segundo modelo (n = 20). Em negrito, destacam-se
os índices com os valores mais elevados que informam possível colinearidade e a necessidade de retirada de variáveis do modelo. As
legendas para as siglas estão descritas no Quadro 1.
  ordem3 ordem4 ordem5 solar tpi dir_decli decli ndvi curva tri alt massa_agua
ordem2 0.18 0.35 -0.19 -0.12 0.16 -0.01 -0.07 0.03 0.32 -0.06 0.45 0.1
ordem3 0.23 -0.31 -0.1 0.08 -0.21 -0.05 0.27 0.08 -0.03 0.47 -0.1
ordem4 -0.49 0 0.24 -0.2 -0.11 0.16 0.1 -0.14 0.18 0.84
ordem5 -0.28 -0.01 0.26 0.39 -0.26 -0.15 0.25 0.05 -0.57
solar 0.02 0.33 -0.85 0.24 0.14 -0.8 -0.31 0.22
tpi 0.4 -0.22 -0.02 0.75 0.02 0.46 0.29
dir_decli -0.36 0.09 0.37 -0.35 0.1 -0.06
decli -0.24 -0.34 0.82 0.19 -0.31
ndvi 0.29 -0.07 0.15 0
curva -0.06 0.54 0.14
tri 0.3 -0.25
alt                       -0.03

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Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

Tabela 5. Resultados do teste de Variance Inflation Factor (VIF) para o segundo modelo. Devido ao resultado de VIF > 10, foram retiradas
as variáveis de índice de radiação solar (solar) e a variável de massa d’água (massa_agua), destacadas em negrito. As legendas para as siglas
estão descritas no Quadro 1.
1º teste 2º teste 3º teste
Variáveis VIF Variáveis VIF Variáveis VIF
solar 39.481 massa_agua 16.413 decli 9.111
curva 25.342 ordem4 10.371 tri 7.932
tri 18.890 decli 9.149 curva 5.141
massa_agua 16.497 tri 8.529 ordem5 4.293
decli 13.116 ordem5 7.824 ordem4 3.852
ordem4 12.308 curva 6.598 tpi 3.785
ordem5 9.864 ordem3 6.330 alt 3.118
ordem3 7.260 tpi 4.425 ordem2 2.175
tpi 6.355 alt 4.396 ordem3 1.791
alt 5.499 ordem2 3.088 ndvi 1.776
ndvi 3.306 dir_decli 1.957 dir_decli 1.762
ordem2 3.196 ndvi 1.874
dir_decli 2.926  

Tabela 6. Valores de AUC (normalizados em porcentagem) dos testes de contribuição e de permutação realizados pelo programa MaxEnt
para o segundo modelo. Em negrito, foram retiradas da análise as variáveis ambientais de índice de rugosidade do terreno (tri), as de
curvatura do terreno (curva) e de índice de posição topográfica (tpi).

1º teste MaxEnt 2º teste MaxEnt


Variáveis Contribuição (%) Permutação (%) Variáveis Contribuição (%) Permutação (%)
altimetria_longlat 35,4 26,7 altimetria_longlat 34,7 6,3
ordem_5_longlat 20,9 41,5 ordem_5_longlat 25,5 45,7
ndvi_longlat 15,8 11,9 ndvi_longlat 13,6 11,7
ordem_2_longlat 11 13,3 ordem_2_longlat 11,1 10,6
ordem_3_longlat 6,4 1,8 ordem_3_longlat 5,3 19,4
direcao_decli_longlat 4,3 0,8 direcao_decli_longlat 3,6 0,5
ordem_4_longlat 3,2 2,7 declividade_longlat 3,1 1,1
declividade_longlat 2,6 0,6 ordem_4_longlat 3 4,7
tpi_norm_longlat2 0,4 0,2
curvatura_longlat 0,1 0,5
tri_longlat 0 0

Para o segundo modelo, foram utilizadas oito correspondente a n = 15 pontos de sítios, e o Test data
variáveis ambientais, sendo estabelecido, para o teste de em AUC = 0.868, para n = 5 pontos de sítios. Tais
validação, o uso de 25% da amostra de n = 20 pontos resultados forneceram valores elevados para a validação
de sítios. O modelo apresentou como resultados os deste segundo modelo preditivo, apresentando as variáveis
valores de AUC para o Training data em AUC = 0.986, de altimetria e de distância de rios de 3ª ordem como as

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

de maior contribuição, devido ao fato de ter sido utilizada com alta probabilidade de ocorrência em áreas de
uma amostra mais homogênea e associada ao interflúvio, interflúvio, o que reflete a mudança de amostra e também
com sítios próximos a rios menores (Figuras 9 e 10). das variáveis utilizadas, que possuem resultado bastante
O mapa do segundo modelo detalha as características promissor nas discussões sobre a construção de modelos
da segunda amostra de sítios, semelhantes ao Cipoal do preditivos e as inferências sobre o uso do espaço por
Araticum. É interessante notar o adensamento de locais populações pretéritas na Amazônia (Figura 11).

Figura 9. Valores de AUC para o segundo modelo criado, indicando resultados aceitáveis para a composição do modelo.

Figura 10. Valores de ganho de AUC para o teste Jackknife. As variáveis com maiores contribuições no segundo modelo foram a de altimetria e
de rios de 3ª ordem, o que reflete uma amostra situada em locais de interflúvio, em cotas altimétricas mais elevadas e próxima de rios menores.

367
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

Figura 11. Segundo modelo preditivo criado com uma amostra de sítios (n = 20) que compartilham características ambientais aproximadas.
Nele, o sítio Cipoal do Araticum e áreas do entorno estão relacionados a locais com alto potencial de ocorrência de sítios arqueológicos
em área de interflúvio. Mapa: João Aires da Fonseca (2017).

ANÁLISES do lago do Sapucuá. De fato, este modelo representa a


O primeiro modelo preditivo possui uma configuração realidade de vários sítios arqueológicos com terra preta
das áreas com alto potencial, as quais se encaixam e fragmentos cerâmicos e líticos nestes locais. Contudo,
perfeitamente nas inferências já bastante conhecidas deve-se considerar o fato de que, ao longo de mais de
da arqueologia amazônica: a de que os principais sítios cinquenta anos de pesquisas arqueológicas na região,
com grandes extensões, com terra preta arqueológica e os registros de sítios foram realizados, em sua maioria,
alta frequência de vestígios cerâmicos e líticos ocorrem exatamente neste tipo de ambiente: nas proximidades
ao longo dos principais rios e lagos, em alguns trechos dos rios Nhamundá e Trombetas e dos lagos principais.
de forma contínua e em outros de forma intercalada Poucos registros de sítios ocorreram em áreas do interior,
(Meggers, 1977, 1990). de interflúvio destes rios, ressaltando que o sítio Cipoal do
Ao observarmos o mapa do primeiro modelo Araticum foi descoberto somente no ano de 2009, devido
(Figura 6), existem grandes manchas indicando áreas com à expansão das atividades mineradoras e à necessidade de
altos potenciais, situadas ao longo do rio Trombetas e pesquisas arqueológicas em áreas ainda não levantadas.

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

Assim sendo, o sítio Cipoal do Araticum, dentro da Dessa forma, estima-se que, para se compreender
amostra de n = 76 sítios utilizada nesta pesquisa, possui a distribuição de sítios arqueológicos em áreas de
uma posição espacial fora da média de ocorrência de sítios interflúvio, seja necessária a utilização de amostras e de
na região. Estatisticamente, ele é considerado um outlier, variáveis relacionadas aos interflúvios. Como descrito
sendo que a sua representação em um modelo arqueológico anteriormente, este procedimento foi realizado com
preditivo pode ser mascarada ou ‘mal interpretada’ a classificação dos n = 76 pontos compondo grupos
(Figura 6). Estes n = 76 pontos de sítios ocorrem em diversas que contivessem valores aproximados das variáveis
paisagens na área de estudo. Como o algoritmo de máxima ambientais, sendo selecionada a amostra do grupo onde
entropia utiliza a média de ocorrência destes pontos em está situado o sítio Cipoal do Araticum. Os resultados
relação às variáveis ambientais, uma amostra que contenha do segundo modelo apresentam um mapa no qual
coleta concentrada em determinado ambiente apresentará claramente a porção central onde está localizado o sítio
tendência de maiores concentrações no ambiente onde Cipoal do Araticum possui grandes concentrações de
se tem o número mais expressivo de pontos coletados. áreas com alto potencial de locais favoráveis à ocorrência
Isto é evidente ao observarmos a Figura 1, pois nela de sítios (Figura 11).
existe apenas a indicação de alguns pontos com alto potencial Sobre esse aspecto, é importante ressaltar que a
em áreas de interior, mas, em sua maioria, o interflúvio utilização de modelos preditivos – e no caso da aplicação
apresenta correlação de média para baixa probabilidade de de modelos de distribuição de espécies, como o MaxEnt,
sítios arqueológicos, incluindo o sítio Cipoal do Araticum, as indicações de áreas com alto potencial de ocorrências
o que põe em dúvida a eficácia do modelo criado. Como de sítios – são correlações estabelecidas entre o ponto de
seria possível um sítio com terra preta arqueológica e com sítio informado e os valores das variáveis ambientais. Dessa
dimensões de 400 x 600 m não fazer parte de indicativos maneira, as áreas em vermelho no mapa (Figura 11) indicam
de áreas com alta probabilidade de ocorrência de sítios? locais muito próximos da topografia do terreno como sendo
A proposta do presente artigo incide justamente em planos, distantes em torno de 400 m de algum trecho de rio,
modelar a paisagem onde o sítio Cipoal do Araticum está com cotas altimétricas por volta de 70 a 100 m em relação
inserido, assim como busca verificar se existem outras ao nível do mar, assim como observado no sítio Cipoal do
áreas semelhantes. A saída encontrada para evitar o viés Araticum. Nesta porção central, existem diversos espaços
amostral descrito acima foi classificar a amostra de sítios com estas características, onde não necessariamente estão
por proximidade de valores das variáveis ambientais situados sítios arqueológicos. Eles, todavia, representam a
associadas. Assim, tem-se como hipótese de que certos média dos valores das variáveis ambientais informadas e, por
ambientes foram escolhidos para um determinado uso mais que em alguns trechos não venham a ser identificados
por antigas ocupações humanas, havendo, atualmente, a vestígios arqueológicos, em muito se assemelham aos locais
localização de vestígios arqueológicos em compartimentos dos sítios informados na amostra.
ambientais específicos: sítios situados ao longo das Contudo, a variável de vegetação classificada
margens dos grandes rios e lagos; sítios situados em áreas através de ndvi pode vir a apresentar uma relação de
intermediárias, próximos aos platôs da região, onde as causa e efeito. Ao considerarmos que a presença humana
grandezas dos rios são menores e ocorrem outros tipos em um determinado lugar tenha alterado a composição
de fauna e flora; e sítios situados no topo dos platôs, da floresta, através de derrubada da vegetação para
nas cotas altimétricas mais elevadas, onde existem as plantações ou para assentamentos, podemos arguir
cabeceiras de rios ou nenhum curso de rio. que a causa de uma vegetação específica, desenvolvida

369
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

posteriormente ao abandono do sítio, está associada às Outras evidências que suscitam florestas antropizadas
atividades humanas registradas nestes locais. nesta área de interflúvio do baixo curso dos rios Nhamundá
Tendo isso em mente, os levantamentos botânicos e Trombetas são os resultados do levantamento botânico
na área do sítio Cipoal do Araticum registraram a realizado por Salomão (2009), ao ter identificado alta
existência de um tipo de vegetação específica, contendo concentração de castanheiras (Bertholletia excelsa H.
presença de lianas, um dossel mais baixo da vegetação & B.) no topo do platô Almeidas. No total, foram
em relação à floresta circundante e concentração registradas 1.140 espécies, com abundância de 1,5
de espécies vegetais úteis, com resinas e plantas árvore/ha, enquanto que no platô Aviso, distante alguns
medicinais, definindo-se, assim, uma floresta antropizada quilômetros do Almeidas, foram observadas apenas sete
(Junqueira, 2010). Esta característica é tão evidente que espécies de castanheiras, com abundância 294 vezes
é possível observá-la em imagens Landsat 5 (Aires da inferior à registrada no Almeidas. De acordo com este
Fonseca, 2013), sendo uma importante variável para autor, esse padrão espacial de distribuição de castanhais é
a identificação de sítios em áreas florestadas, como incomum, havendo a possibilidade de se considerar sua
no caso Floresta Nacional (FLONA) Saracá-Taquera, origem antrópica em decorrência da incidência de sítios
localizada na área de estudo deste artigo. arqueológicos na região (Figura 12).

Figura 12. Detalhe do segundo modelo preditivo nos arredores dos platôs Almeidas, Aviso e Bela Cruz, indicadas como de alto potencial
para incidência de sítios. No topo do platô Almeidas, foram registradas por Salomão (2009) mais de 1.100 espécies de castanheiras
(Bertholletia excelsa H. & B.), suscitando a hipótese de influência humana devido a ocorrências de sítios arqueológicos nas proximidades.
Mapa: João Aires da Fonseca (2017).

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Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

A possibilidade de uma origem antrópica dos A pesquisa contida neste artigo teve como
castanhais identificados na região tem sido uma das direcionamento apenas a classificação dos sítios
principais abordagens científicas na arqueologia amazônica, arqueológicos em relação às variáveis ambientais que foram
na qual um dos enfoques incide em compreender em adquiridas de maneira remota com SIG, utilizando-se de
qual escala o homem pode ter manejado, ao longo de imagens de satélite e de radar. Não existem dúvidas de que
várias gerações, a composição das florestas e a formação as combinações de novas variáveis explicativas – advindas
de paisagens culturais (Balée, 1993; Clement et al., 2015). de dados de escavações e de trabalho de laboratório,
Diante destes fatores, as indicações de áreas com detalhando as dimensões dos sítios, a presença ou a
alto potencial podem conter novos locais com sítios ausência de terra preta arqueológica, os estilos cerâmicos
arqueológicos semelhantes ao Cipoal do Araticum. De recorrentes ou de inventários botânicos – poderão
acordo com o segundo modelo preditivo criado, existe construir modelos ainda mais robustos.
clara disponibilidade de locais propícios à ocorrência de Desta forma, espera-se que o uso de modelos
novos sítios no entorno do platô Almeidas e, com isso, preditivos se torne mais recorrente no meio acadêmico,
possível dispersão de florestas antropizadas, provavelmente ou de contrato, seja para a modelagem de dados espaciais
indicada pelos valores da variável ndvi. Ao considerarmos de sítios, para a otimização de levantamentos de campo
a incidência de um sítio com terra preta arqueológica ou, ainda, para o seu uso na gestão de recursos culturais
em uma área de interflúvio, contendo datações que (CRM), de forma que o patrimônio arqueológico brasileiro
recuam 4.000 AP, estas áreas com alto potencial podem, possa se tornar mais visível e protegido.
hipoteticamente, ser classificadas como paisagens que
evidenciam indigeneidade (Balée, 2008) ou espaços da REFERÊNCIAS
cultura neotropical (Magalhães, 2013) (Figura 12). AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS (ANA). Brasília, 2017.
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locais. Neste artigo, tomou-se como premissa a ideia de S1981-81222013000300012.
que determinados lugares na paisagem tiveram importante BALÉE, William. Sobre a indigeneidade das paisagens. Revista de
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especificamente selecionados em razão das relações sociais BALÉE, William. Indigenous transformation of Amazonian forests:
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373
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

Apêndice. Lista de sítios arqueológicos utilizados na pesquisa (Projeção UTM, Datum WGS 84, Fuso 21 S). Os nomes de alguns sítios
compreendem o antigo sistema de cadastro de sítios arqueológicos empregados pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da
Bacia Amazônica (PRONAPABA) (Simões; Araujo-Costa, 1978). A sigla PA-OR significa estado do Pará (PA) e a área de Oriximiná (OR),
seguida da numeração do sítio arqueológico. A sigla COTRA corresponde à Correia Transportadora, em razão de os sítios terem sido
identificados no local de instalação destas estruturas da empresa Mineração Rio do Norte (MRN), na região. (Continua)
Sítios Leste Norte
1 PA-OR-101 562739 9841830
2 PA-OR-100 562946 9841718
3 Perpétuo Socorro 563411 9841675
4 PA-OR-99 562911 9841193
5 PA-OR-70 563368 9841236
6 Maria Rama 563368 9841012
7 PA-OR-93 566411 9839072
8 PA-OR-63 567066 9838676
9 PA-OR-114 567591 9838555
10 PA-OR-111 564066 9833246
11 PA-OR-110 564549 9834685
12 PA-OR-109 565057 9835564
13 PA-OR-79 568117 9834978
14 PA-OR-68 572547 9837590
15 PA-OR-84 572970 9837392
16 PA-OR-105 571910 9835306
17 PA-OR-94 572039 9833332
18 PA-OR-83 573745 9832961
19 PA-OR-81 573711 9832099
20 PA-OR-78 574383 9831660
21 Pantanal 574668 9831091
22 PA-OR-66 574806 9831074
23 PA-OR-104 573840 9830367
24 PA-OR-85 574944 9832065
25 PA-OR-82 574616 9832574
26 JOCA 574349 9832901
27 PA-OR-112 571539 9826325
28 PA-OR-113 570737 9825868
29 PA-OR-108 567678 9818378
30 PA-OR-106 574711 9818128
31 PA-OR-107 576641 9817783
32 PA-OR-87 574857 9830091
33 PA-OR-86 575409 9830841

374
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 13, n. 2, p. 353-376, maio-ago. 2018

Apêndice. (Continua)
Sítios Leste Norte
34 PA-OR-92 575926 9830703
35 PA-OR-88 576857 9830177
36 PA-OR-89 577581 9829988
37 PA-OR-90 577840 9829919
38 PA-OR-91 579003 9829557
39 PA-OR-67 580011 9829135
40 PA-OR-95 581141 9828997
41 PA-OR-69 581934 9828764
42 PA-OR-96 584106 9829738
43 PA-OR-97 586157 9829402
44 PA-OR-98 586648 9829453
45 PA-OR-76 563308 9812733
46 PA-OR-75 564153 9812672
47 PA-OR-64 567910 9813034
48 PA-OR-65 568514 9813172
49 PA-OR-80 570255 9811534
50 São Sebastião 569755 9810130
51 PA-OR-77: Araticum 559817 9802769
52 PA-OR-115 558386 9787625
53 PA-OR-116 558567 9785721
54 PA-OR-59 582209 9797253
55 PA-OR-60 581210 9797830
56 PA-OR-61 581278 9798666
57 PA-OR-58 583088 9797977
58 PA-OR-57 589174 9798856
59 PA-OR-56 585700 9802416
60 PA-OR-55 590932 9801097
61 PA-OR-54 599154 9804363
62 PA-OR-53 603283 9803407
63 PA-OR-50 607256 9803622
64 PA-OR-52 611367 9802838
65 PA-OR-51 614100 9801605
66 COTRA Almeidas 565571 9810584
67 COTRA Aviso III 563310 9810672
68 COTRA Aviso II 563882 9810420
69 COTRA Aviso I 563371 9810182

375
Padrões de distribuição espacial e modelos preditivos: os sítios arqueológicos no baixo curso dos rios Nhamundá e Trombetas

Apêndice. (Conclusão)
Sítios Leste Norte
70 PA-OR-127: Cipoal do Araticum 555326 9803939
71 Bela Cruz II 552054 9804510
72 Bela Cruz I 553272 9804073
73 Greig I 553795 9797334
74 Greig II 552517 9795288
75 PA-OR-123: Aramã 561854 9796578
76 PA-OR-127: Papagaio 565254 9819238

376
96

Artigo 3:

Aires da Fonseca. 2018b. Modelagem espacial de sítios arqueológicos nas Serras de


Carajás: as inferências dos modelos preditivos, in A Humanidade e a Amazônia: 11 mil
anos de evolução histórica em Carajás. Editado por M. P. Magalhães, pp. 211-231.
Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi.
Museu Paraense Emílio Goeldi

11 mil anos
de evolução histórica
em Carajás

Marcos Pereira Magalhães


Organizador

Belém
2018
Produção Editorial
IrIraneide
aneide Silv
Silvaa
Ang
Angelaela Botelho

Projeto Gráfico e editoração eletrônica


Andréa Pinheir
Pinheiroo

Foto da capa
Marcos Pereira Magalhães

Ficha Catalográfica
e Nomalização Bibliográfica
Coordenação de Informação
e Documentação (CID/MPEG)

Impressão
Gráf ica e Editor
Gráfica Editoraa Santa Cr uz (Belém-PA)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Elaborado pela Biblioteca do Museu Paraense Emílio Goeldi
M188h A humanidade e a Amazônia : 11 mil anos de evolução histórica em Carajás
/ organização Marcos Pereira Magalhães. – Belém: Museu Paraense Emílio
Goeldi, 2018.
260 f.: il.
Inclui Bibliografia
ISBN: 978-85-61377-95-3

1. Arqueologia. 2. Carajás, Serra dos (PA). I. Magalhães, Marcos Pereira


(org.). II. Título.

CDD (22 ed.) : 930.1098115


© Copyright por/by Museu Paraense Emílio Goeldi, 2018.
João Aires da Fonseca

Estudos de arqueologia espacial comumente apresentam as características da vegetação,


do solo, da geomorfologia e da geologia da área de estudo na qual a pesquisa está
inserida. Este é um procedimento de grande utilidade, especialmente para os leitores
que não estiveram em campo e que são capazes de interpretar as paisagens através do
conjunto informações sobre os tipos de rochas, da fitogeografia, da pedologia e das
diversas formações do terreno.
Tomemos como exemplo as descrições da amostra de n=2771, pontos de vestígios
arqueológicos, relacionados às mais diversas paisagens na região das Serras de Carajás,
no Estado do Pará, onde mais de 50% da amostra está na Formação Carajás, com
parte no Complexo Xingu (27,44%), e pontos dispersos na Formação Águas Claras,
Grupo Salobo, dentre outras classificações da geologia (Tabela 1). Em referência à
distribuição de sítios nas categorias geomorfológicas, observa-se que praticamente 60%
da amostra está caracterizada entre as porções dos vales, parte das encostas e no topo
das serras (Serra dos Carajás), e o restante da amostra situada nas partes baixas, na
Depressão do Bacajá e na Depressão do Médio Xingu (Tabela 2).

1
A composição desta amostra compreende uma pequena parte das pesquisas arqueológicas em Carajás. As
coordenadas foram obtidas através de informações pessoais e trocas de arquivos com os pesquisadores do
Museu Paraense Emílio Goeldi: Marcos Pereira Magalhães, Maura Imázio da Silveira e Edithe Pereira; e da
Fundação Casa de Cultura de Marabá: Marciano Grokaliski. Ressalta-se que os sítios e os respectivos projetos
e arquivos podem ser encontrados no banco de dados do Centro Nacional de Arquelogia (CNA):
www.iphan.gov.br, ou através do www.sei.iphan.gov.br.
Tabela 1. Ocorrências de sítios arqueológicos (n=277) em relação às classes geológicas nas Serras
de Carajás (fonte: IBGE, 2018).
Quantificação de sítios da amostra (n = 227) em relação às classes de geologia.
Símbolo Unidade Sítios %
NAgpc Formação de Carajás 158 57,04
APPxi Complexo Xingu 76 27,44
MAac Formação Águas Claras 12 4,33
NAsl Grupo Salobo 10 3,61
Massa d’água 5 1,81
PP3(G)sc Suíte Intrusiva Serra dos Carajás 5 1,81
E3dl Cobertura Detrito-Laterítica Paleogênica 3 1,08
NArn Grupo Rio Novo 3 1,08
NAta Grupo Tapirapé 2 0,72
NA(G)e Granito estrela 1 0,36
NA(G)pl Granito Palquê 1 0,36
NAab Grupo Alto Bonito 1 0,36
Sítios 277 100,00

Quanto à distribuição da amostra referente aos solos, esta aparece dividida entre 49,82%
na classe Cambissolo, característico do topo das Serras de Carajás, e 42,60% em solos
Podzolico Vermelho-Amarelo, ocorrendo nas terras baixas onde se encontram os sítios
a céu aberto (Tabela 3).
Quanto às classes de vegetação, apesar de 40,43% da amostra estar associada à
vegetação de Floresta Ombrófila Densa de Submontana com dossel emergente; e 27,80%
associada às áreas degradadas devido a intensas atividades da pecuária; Em 22,74%
os sítios pertencem à classificação de Refúgios Vegetacionais Montano Arbustivo ou de
Comunidades Relíquias (IBGE, 2012), onde estão as principais características ambientais
que influenciaram as escolhas de paisagens, pelas antigas ocupações humanas na região
de Carajás (Tabela 4), fato destacado pelos pesquisadores do PACA, demonstrando de
forma detalhada as estruturas das grutas (BARBOSA, 2016), os tipos de solos; da cobertura
vegetal através dos estudos botânicos; análises das coleções cerâmicas e líticas e
interpretação das cronologias e evidências ao longo de mais de 11000 anos de história
(SCHMIDT; LIMA et al.; NASCIMENTO; GUEDES; MAIA; MAGALHÃES et al., neste livro).

212
Tabela 2. Distribuição dos sítios da amostra em relação às classes geomorfológicas na área de estudo
das Serras de Carajás (Fonte: IBGE, 2018).
Quantificação de sítios em relação à geomorfologia
Legenda (CARGA) Unidade Geomorfológica Sítios %
348Dt33 Serra dos Carajás 116 41,88
339Pri Depressão do Médio Xingu 51 18,41
351Dt31 Depressão do Bacajá 36 13,00
348Dc41 Serra dos Carajás 12 4,33
348Da3 Serra dos Carajás 12 4,33
339Dc21 Depressão do Médio Xingu 11 3,97
351Dt32 Depressão do Bacajá 8 2,89
348Dei Serra dos Carajás 7 2,53
348Dc2 Serra dos Carajás 6 2,17
348Dc3 Serra dos Carajás 3 1,08
348Dc33 Serra dos Carajás 3 1,08
339Dc3 Depressão do Médio Xingu 2 0,72
348Dc31 Serra dos Carajás 2 0,72
351Pri Depressão do Bacajá 1 0,36
348Pgi Serra dos Carajás 1 0,36
348Dc43 Serra dos Carajás 1 0,36
348Da2 Serra dos Carajás 1 0,36
348Ac Serra dos Carajás 1 0,36
Massa d’água 3 1,08
Total de sítios 277 100,00

Tabela 3. Quantidade de sítios da amostra, relacionados aos tipos de solos na região das Serras de
Carajás (Fonte: IBGE, 2018).
Quantificação de sítios da amostra (n = 227) em relação às classes de solos.
Descrição (CLAS2) Descrição (FED3) Sítios %
C Cambissolo 138 49,82
PV Podzolico Vermelho-Amarelo 118 42,60
LA Latossolo Amarelo 13 4,69
PE Podzolico Vermelho-Escuro 7 2,53
LV Latossolo Vermelho-Amarelo 1 0,36
Sítio 277 100,00

213
Tabela 4. Incidências de sítios arqueológicos da amostra (n=277) em relação às classes de vegetação
(Fonte: MMA, 2018).
Quantificação de sítios da amostra (n = 277) em relação às classes de vegetação.
Classe Dominante Classificação Pretérita Sítios %
Dse Floresta ombrófila densa submontana 112 40,43
dossel emergente
Ap Pecuária (pastagens) Floresta ombrófila 77 27,80
densa
rmb Refúgio vegetacional montano arbustivo 63 22,74
Asc Floresta ombrófila aberta submontana 13 4,69
com cipós
Dsu Floresta ombrófila densa submontana 4 1,44
dossel uniforme
Ds Floresta ombrófila densa submontana 3 1,08
Magua Massa d’água 3 1,08
As Floresta ombrófila aberta submontana 1 0,36
Vsp Vegetação secundária com palmeiras Floresta ombrófila 1 0,36
aberta
Total de sítios 277 100,00

Diante desta disponibilidade de dados e informações, este capítulo tem como premissa
a utilização de arquivos digitais para a interpretação espacial dos sítios arqueológicos
nas Serras de Carajás, tendo como pressuposto que os algoritmos dos programas
, do
e do possam apresentar resultados que permitam inferir respostas
sobre os seguintes questionamentos:
• Quais padrões de distribuição espacial podem ser observados nos sítios arqueológicos
das Serras de Carajás?
• É possível criar modelos preditivos para levantamentos em locais ainda não
pesquisados?
Espera-se que com este primeiro ensaio em modelagem de dados arqueológicos
espaciais, seja possível contribuir para os estudos de uma região que somam quase 40
anos de pesquisas; e que em muito têm contribuído para a compreensão da ocupação
humana na Amazônia.

214
CONCEIT
CONCEITOO, MA TERIAIS E MÉT
MATERIAIS ODO DE CONSTR
MÉTODO UÇÃO
CONSTRUÇÃO
DE MODEL
MODELOSOS AR Q UEOLÓGICOS PREDITIV
ARQ OS
PREDITIVOS
Modelos arqueológicos preditivos são os resultados de diversas análises espaciais
entre pontos ou áreas de sítios arqueológicos, em relação às múltiplas variáveis
ambientais associadas: os tipos de vegetação, as distâncias entre cursos de rios, as
altimetrias, os tipos de solos, as declividades do terreno, dentre outros aspectos,
dependendo de cada área e dos problemas de pesquisas envolvidos. De posse desta
relação, a partir do uso de programas estatísticos e de Sistema de Informação
Geográfica (SIG), com algoritmos capazes de interpolar os pontos de sítios
arqueológicos e as variáveis explicativas, obtém-se projeções para novas localidades
que apresentam valores aproximados, ou idênticos, dos atributos ambientais atrelados
aos sítios arqueológicos conhecidos (AIRES DA FONSECA, 2016, 2018).
A porção da Serra de Carajás abordada neste capítulo, onde estão concentradas as
pesquisas do projeto PACA, está inserida na bacia do rio Itacaiúnas (Figura 1). Como
apresentado na introdução, a amostra de sítios utilizada compreende n=277 pontos
entre as categorias de sítios em abrigos sob rocha, a céu aberto ou apenas ocorrências
esparsas de materiais identificados em superfície. O intuito em utilizar uma amostra
sem uma prévia definição de tipos de sítios, como será demonstrado, consistiu em
verificar se o método aplicado seria capaz de separar os 277 pontos entre três
compartimentos ambientais através das variáveis informadas, esperando-se novas
amostras de sítios representando as áreas mais elevadas no topo e nas encostas das
serras, outra nos vales e nas terras baixas e, por fim, uma amostra de sítios localizados
nas proximidades de rios de maior grandeza, como o rio Sossego, o Parauapebas e o
Itacaiúnas (Figura 2).
Para a obtenção das variáveis ambientais, foi necessária a construção de um mosaico
com o modelo digital do terreno (DEM) com os arquivos da
2
(SRTM), relativos à bacia do rio Itacaiúnas, delineado pelo arquivo de Ottobacias
da Agência Nacional de Águas (ANA, 2017). Em seguida, foram extraídas as informações
da rede de drenagem, com uso do algoritmo no Grass, e a construção dos

2
Obtidas em USGS (2018): imagens s06_w49_1arc_v3 até s06_w52_1arc_v3 e s07_w49_1arc_v3 até
s07_w52_1arc_v3.

215
Serra dos Carajás - Projeto PACA

Figura 1. Localização da Serra Norte e da Serra Sul, com informações da altimetria sobre relevo
sombreado, na área da bacia do rio Itacaiúnas.

arquivos de distâncias, considerando a topografia do terreno. Com este procedimento


foram obtidas as variáveis de altimetria (DEM) e das distâncias das ordens de rios
(2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 7ª ordens).
Da Agência Nacional de Águas, foram obtidos os arquivos referentes aos pontos de
cabeceiras e de massas d’água, contendo as dimensões de lagos e rios na área de
estudo, tendo o devido cuidado de retirada dos lagos artificias, principalmente os
relacionados aos rejeitos dos projetos de mineração. Para estes dois arquivos também
foram definidas no Grass as distâncias destas feições, considerando o relevo, o que
possibilitou correlacionar os pontos de sítios como próximos ou distantes das cabeceiras
e lagos.
Para a obtenção dos valores de declividade, de rugosidade e direção das faces do
terreno em relação ao norte-sul e leste-oeste ( ), todos gerados a partir do DEM,
foi utilizado o programa R e os pacotes e .

216
Serra dos Carajás - Distribuição espacial dos Sítios Arqueológicos (n=277)

Figura 2. Distribuição espacial da amostra de sítios utilizada (n=277) na região das Serras de
Carajás. A partir das informações de altimetria, é possível observar que a amostra abrange diversos
compartimentos ambientais.

Com referência à variável de vegetação, extraiu-se o polígono do arquivo de vegetação


do projeto SIVAM em escala de 1:250.000 (IBGE , 2018). As pesquisas botânicas
apontam para uma alta incidência de espécies úteis nas proximidades de sítios
em grutas, situados neste tipo de vegetação (LIMA et al., neste livro), e em se
tratando da obtenção de variáveis para um modelo preditivo, a possibilidade de
seleção de tipos de vegetação estreitamente associadas à presença de sítios
arqueológicos, é uma excelente variável para compor um modelo. Dessa forma, foi
isolado o polígono correspondente às Comunidades Relíquias, e criado um arquivo de
distância dos limites deste polígono, considerando a topografia do terreno (Figura 3).
Desse modo, foram empregadas 14 variáveis explicativas na construção dos modelos
preditivos (Figura 4).

217
Serra dos Carajás - Ocorrências de Refúgios Vegetacionais

Figura 3. Distribuição de Refúgios Vegetacionais Montano Arbustivo, ou de Comunidades Relíquias,


em relação à amostra de sítios situados no topo e nas vertentes das serras de Carajás. Este tipo de
vegetação consistiu em uma importante variável ambiental na construção do modelo preditivo, sendo
um importante indicativo de incidência de sítios arqueológicos na região.

DIVIDINDO A AMOSTRA DE SÍTIOS


EM COMP AR
COMPAR TIMENT
ARTIMENT OS AMBIENT
TIMENTOS AIS (P
AMBIENTAIS AISA
(PAISA GENS)
AISAGENS)
Ao serem verificadas as médias dos valores das variáveis atribuídas aos pontos de sítios
informados (n=277), já era esperada a incidência de na amostra, uma vez que
os pontos de sítios situados em grutas, que estão em altitudes mais elevadas, alguns
em encostas, próximos a cabeceiras de rios e de uma vegetação específica, em muito
se diferem das variáveis ambientais dos sítios situados nas terras baixas (Figura 5).
O propósito de não separar a amostra de sítio, entre os localizados em grutas ou a
céu aberto, por exemplo, permitiu que o método de utilização de específico
na sistematização de dados, fosse capaz de identificar e classificar os pontos de sítios
conforme as semelhanças dos valores das variáveis ambientais informadas. A hipótese

218
Figura 4. As variáveis explicativas utilizadas para a construção dos modelos preditivos. Para as
variáveis de ordens de rios, de pontos de cabeceiras, de massa d’água e de Refúgio Vegetacional
Arbustivo, foram criadas as distâncias destas feições considerando a topografia do terreno, sendo
possível correlacionar a proximidade ou distância dos pontos de sítios destas feições.

Figura 5. Boxplot com os valores normalizados das variáveis explicativas relacionados à amostra de
n=277 pontos de sítios das Serras de Carajás. A alta incidência de outliers indica a diversidade de
ambientes relacionados aos sítios da amostra.

219
é de que ao dividir a amostra por compartimentos ambientais, diminui-se um possível
viés amostral relacionado a uma maior coletada de pontos em um determinado
ambiente, a exemplo do topo das serras, em detrimento do baixo registro de sítios
nas áreas de terras baixas.
Desta forma, com a utilização do método hierárquico de agrupamento ( , utilizando
a distância Euclidiana e o método de encadeamento completo ( )
no (3.4.1), foram criados três grupos a partir da amostra de sítios (n=277)
de acordo com características ambientais aproximadas (Figura 6). Com esta classificação
foram extraídos três grupos: o Cluster 1 (n=137), o Cluster 2 (n=123) e o Cluster 3
(n=17), sendo cada grupo utilizado na construção de três modelos preditivos, permitindo
verificar a distribuição espacial dos tipos de sítios e as respectivas paisagem associadas,
sendo possível verificar a projeção destas paisagens em locais ainda não pesquisados
na área de estudo (DRENNAN, 2009; CARLSON, 2012; BAXTER, 2015; AIRES DA FONSECA, 2018).

Figura 6. Análise cluster da amostra de n=277 pontos de sítios em relação às quatorze variáveis
ambientais informadas. Foram extraídas três novas amostras para a construção dos modelos
arqueológicos preditivos.

MODEL OS PREDITIV
MODELOS OS
PREDITIVOS
Com a obtenção dos pontos de sítios e das variáveis ambientais, foi possível utilizar o
programa (3.4.1), que consiste
no uso do algoritmo de máxima entropia, permitindo estabelecer as relações entre a
presença de pontos de sítios arqueológicos e as variáveis ambientais informadas e que,
ao serem combinadas, obtém-se os resultados estatísticos como os valores de Área Sob

220
a Curva (AUC), que pressupõem valores ótimos acima de 0.7 (AUC>0.7), e os resultados
do teste com os valores de importância das variáveis na construção do modelo.
Mas o principal produto gerado pelo programa consiste no mapa com as projeções
espaciais de áreas com alta, média e baixa probabilidade de locais favoráveis à ocorrência
de sítios arqueológicos, tendo como parâmetro a média dos valores das variáveis
ambientais extraídas pela amostra de pontos de sítios informados (PHILLIPS et. al., 2004;
PHILLIPS et. al., 2006).

RESUL
RESULTTADOS
O primeiro modelo utilizando o Cluster 1 ( ), apresentou como resultados os valores
de AUC=0.991 para o (correspondente a n=97 pontos de sítios), e para o
teste aleatório de validação, correspondente a 32 pontos de sítios, obteve-se os valores de
com AUC=0.987 (Figura 7). Para os resultados do teste as variáveis de
altimetria, de distância de cabeceiras, de distância de massa d’água (lagos) e de vegetação,
compuseram as principais variáveis na construção do modelo (Figura 8).

Figura 7. Valores de AUC para amostra Cluster 1 (n=137) apresentando resultados acima de 0.8,
sendo considerados como valores aceitáveis para a composição do modelo preditivo.

221
Figura 8. Valores de ganho do AUC para o teste Jackknife. As variáveis de altimetria, de distância de
cabeceiras, de distância de massa d’água (lagos) e de vegetação, compuseram as principais variáveis
na construção do modelo, tendo como amostra o Cluster 1 (n=137).

Para o segundo modelo utilizando o Cluster 2 ( ), retornaram os valores de AUC


=0.964 para o (correspondente a n=91 pontos de sítios), e para o teste
aleatório de validação, correspondente a 30 pontos de sítios, obteve-se os valores de
com AUC=0.871 (Figura 9). Para os resultados do teste as variáveis
de distância de rios de 4ª ordem, de declividade do terreno e de vegetação, compuseram
as principais variáveis na construção do modelo (Figura 10).
Para o terceiro modelo utilizando o Cluster 3 ( ), retornaram os valores de
AUC=0.983 para o (correspondente a n=13 pontos de sítios), e para o
teste aleatório de validação, correspondente a 4 pontos de sítios, obteve-se os valores
de com AUC=0.972 (Figura 11). Para os resultados do teste as
variáveis de distância de massa d’água (lagos), de distância de rios de 5ª ordem e de
rugosidade do terreno, compuseram as principais variáveis na construção do modelo
(Figura 12).

222
Figura 9. Valores de AUC para amostra Cluster 2 (n=123) apresentando resultados acima de 0.8,
sendo considerados como valores aceitáveis para a composição do modelo preditivo.

Figura 10. Valores de ganho do AUC para o teste Jackknife. As variáveis de distância de rios de 4ª
ordem, de declividade do terreno e de vegetação, compuseram as principais variáveis na construção
do modelo, tendo como amostra o Cluster 1 (n=137).

223
Figura 11. Valores de AUC para amostra Cluster 3 (n=17) apresentando resultados acima de 0.8,
sendo considerados como valores aceitáveis para a composição do modelo preditivo.

Figura 12. Valores de ganho do AUC para o teste Jackknife. As variáveis de distância de massa d’água
(lagos), de distância de rios de 5ª ordem e de rugosidade do terreno, compuseram as principais
variáveis na construção do modelo, tendo como amostra o Cluster 3 (n=17).

224
A composição dos três mapas dos modelos preditivos gerados, considerando as incidências
de Alta e Média-Alta probabilidade, apresentou concentrações de áreas favoráveis à
incidência de novos sítios arqueológicos e extensas áreas ainda a serem pesquisadas,
que não possuem correlação de variáveis ambientais semelhantes aos sítios arqueológicos
conhecidos, ao menos nas amostras de sítios aqui utilizadas (Figura 13).
Serra dos Carajás - Distribuição espacial das amostras de Sítios Arqueológicos

Figura 13. Composição dos três modelos preditivos gerados e suas respectivas amostras. É interessante
notar as ocupações nos topos das serras, e em parte das encostas, relativas às ocupações em abrigos
sob rocha, e as ocupações nas áreas imediatas nos vales e terras baixas. Tais padrões de assentamentos
denotam a completa utilização das diversas paisagens existentes nas Serras de Carajás. Ressalta-se
também que os espaços “vazios” do relevo sombreado (em cinza) demonstram composições das
variáveis ambientais onde não existem pontos de sítios conhecidos; e que não guardam semelhanças
com as paisagens das amostras de sítios informadas.

ANÁLISES
Os resultados alcançados com o método proposto neste capítulo, demonstram a estreita
relação entre os pontos de sítios em abrigos sob rocha e os Refúgios Vegetacionais
Montano Arbustivo, que, como já comentado, tratam-se de vegetações com grande
influência humana (LIMA et al., neste livro).

225
Um fato interessante é que as áreas imediatas às grutas de Carajás apresentam vales e
terras baixas conectando os diversos ambientes. Tomemos como exemplo os sítios da
Serra Sul de Carajás, ao longo do rio Sossego, onde sítios com o Boa Esperança, o
Mangangá e o Complexo Bacaba denotam uma circulação entre as terras baixas, os
vales e os topos das serras, e ao longo da bacia do rio Pacu, uma ampla área propícia
à ocupação a céu aberto (Figura 14). De forma geral, o padrão de ocupação da Serra
Sul apresenta características semelhantes na Serra Norte, especialmente pela inserção
no tipo de vegetação de Refúgio Vegetacional Montano-Arbustivo, pelas cotas altimétricas
aproximadas e a disposição dos sítios em grutas no início das vertentes e a proximidade
com áreas favoráveis a assentamentos nas terras baixas, com grandes vales
demonstrando possíveis acessos entre os sítios a céu aberto e os sítios em grutas no
topo das serras (Figura 15).

Serra dos Carajás - Serra Sul

Figura 14. Serra Sul de Carajás. De acordo com os modelos preditos criados, existe uma estreita
relação entre as áreas nas bases das serras, nas terras baixas e determinados vales interligando os
topos das serras. Sítios como o Mangangá, e os demais ao longo do rio Sossego, apontam para
possíveis caminhos até as grutas no topo da Serra Sul, a exemplo do Complexo Bacaba.

226
Serra dos Carajás - Serra Norte

Figura 15. Serra Norte de Carajás. Semelhante às características ambientais observadas na Serra
Sul, a Serra Norte também possui o interessante padrão de disposição de sítios ao longo das terras
baixas, vales e topo de serras. Observa-se que nem todos os vales possuem as características propícias
para habitação, conforme o observado na amostra de sítios do Cluster 2.

Em se tratando de modelos arqueológicos preditivos, a possibilidade de informar áreas


com uma vegetação característica, associada aos dados botânicos que indicam uma
elevada antropização relacionada à alta incidência de sítios relacionados, apontam de
maneira clara para novos locais com alto potencial de incidência de novos sítios
arqueológicos, devendo apenas ser combinado com as demais variáveis informadas,
como a declividade, a proximidade de nascentes ou demais ordens de rios e posição da
face do terreno em relação ao norte-sul e leste-oeste. Neste sentido, a porção central
entre a Serra Norte e a Serra Sul de Carajás apresenta projeções dos modelos indicando
novas áreas a serem pesquisadas, permitindo inferir um possível corredor de circulação
interligando os extremos das Serras (Figura 16).

227
Serra dos Carajás - Entre as Serras Norte e Sul

Figura 16. Porção central entre a Serra Sul e a Serra Norte de Carajás. Os modelos preditivos
indicam extensas áreas com probabilidade de ocorrência de novos sítios arqueológicos e um provável
corredor de circulação entre os extremos norte e sul das Serras de Carajás.

Uma questão a ser levantada a partir dos resultados obtidos incide sobre o “vazio”
existente na porção oeste das serras, observado nas projeções dos modelos preditivos.
Muito provavelmente este vazio está relacionado à escassez de amostras de sítios, o
que é perfeitamente compreensível, visto que a área de estudo é composta de múltiplos
compartimentos ambientais. Mas, também, devido às concentrações de pesquisas em
áreas de mineração, coincidentes com os locais onde ocorrem os Refúgios Vegetacionais
Montano Arbustivo e também de grutas (Figura 17).
Contudo, se consideramos um quadro hipotético e inferir sobre os padrões de ocupação
e as projeções dos modelos preditivos criados, pode-se concluir que, o conhecimento
que temos hoje sobre os sítios arqueológicos de Carajás, seja exatamente o resultado
das escolhas culturais dos lugares de habitação, principalmente no topo e nas bases

228
Serra dos Carajás - Região Oeste

Figura 17. Porção oeste das Serras de Carajás. Devido à diversidade de paisagens e da falta de
registros de sítios arqueológicos, é possível observar um “vazio” na porção oeste das serras onde
não foram indicadas áreas propícias para ocorrência de sítios, a partir das amostras utilizadas. Tal
cenário demostra o quanto ainda falta ser pesquisado nas Serras de Carajás e em seu entorno.

das serras. É possível especular que as extremidades das Serras Sul e da Serra Norte,
com sua vegetação característica, nos daria a possibilidade da completa observação das
terras baixas, ao longo das bacias do rio Pacu ou do Sossego, e que a disponibilidade de
abrigos sob rocha tenha sido culturalmente atrelada aos antigos grupos humanos que
ali habitaram desde o início da colonização da região, há milhares de anos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após este breve panorama sobre a distribuição espacial de sítios arqueológicos em uma
porção das Serras de Carajás, demostrou-se as coordenadas geográficas específicas de
locais ainda a serem pesquisados, e que em muito se assemelham às características
ambientais do que hoje se conhece sobre os sítios, em especial nos locais com Matas de

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Refúgio (capões). É provável que a quantidade de sítios arqueológicos relacionados a essas
paisagens tenha sido fruto da escolha cultural realizada por antigos grupos humanos. Fato
que pode ser verificado pela complexa vegetação antropizada que caracteriza esses locais
hoje e pelos carvões arqueológicos das mesmas plantas que ainda verdejam nesses
ambientes, os quais remontam até 11000 anos no passado.
É muito provável que futuramente outros sítios arqueológicos serão identificados na
porção oeste das Serras de Carajás, ainda pouco conhecida arqueologicamente, mas o
que se pode afirmar em relação a estes sítios é que certamente estarão relacionados a
outras paisagens, que diferem do registro atual que dispomos sobre as Serras Norte e
Serra Sul, seja pela não ocorrência de Matas de Refúgio, ou por características de
altimetria, da existência de lagos, de declividades do terreno ou da proximidade de
cabeceiras dos rios (Figura 17).
Dessa forma, espera-se que nos próximos 40 anos de pesquisas arqueológicas em Carajás,
as questões colocadas neste capítulo possam ser elucidadas, pois trata-se de uma
importante região capaz de explicar as origens das ocupações humanas na Amazônia.

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