Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dilmar Miranda
Em 1972, sua parceria com João Bosco ganha destaque, com “Agnus Sei”, devido a
um fato curioso. Lançada no lado B do compacto do jornal alternativo O Pasquim, a
canção faz companhia à inédita Águas de Março no lado A, interpretada pelo seu autor,
o já consagrado Tom Jobim. No mesmo ano, a dupla apresenta várias canções à Elis
Regina que irá incluir “Bala com Bala” no seu LP Elis. A partir daí, ela se destaca
como a grande intérprete da dupla, tendo gravado 20 canções da parceria. Um dos seus
maiores sucessos foi, sem dúvida, “O Bêbado e a Equilibrista”, lançado no LP “Essa
Mulher”(1979). Graças ao seu teor, a canção ganha um novo papel, tornando-se o hino-
ícone dos exilados pela ditadura, sendo apropriada pelos Movimentos Femininos pela
Anistia e Comitês Brasileiros pela Anistia, de vários estados do país.
Na verdade, a MPB dos anos 1970 havia sofrido uma significativa mudança na sua
forma poética de denúncia e de resistência aos tempos de chumbo em que então
vivíamos. Antes, nos agitados anos 60, com o protagonismo de diversos movimentos
sociais (Ligas camponesas e a luta pela Reforma Agrária, a militância do Centro
Popular de Cultura da UNE, a luta pela nacionalização das companhias de petróleo, o
Movimento de Educação de Base da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o
Método Paulo Freire de Alfabetização de Adultos) radicalizados pela resistência ao
golpe militar de 64, aflora o que passou a ser chamado de canção engajada,
caracterizando então a MPB da época, com sua temática basicamente social. Em
meados da década, o termo engajado dá lugar à canção de protesto, uma provável
importação do termo protest songs das canções americanas contra a guerra do Vietnã.
Podemos com certeza incluir sob tal título, canções que denunciavam as condições de
vida das classes trabalhadoras das cidades e do campo (show Opinião, com Nara Leão e
depois Maria Bethânia, Zé Keti e João do Vale), ou que denunciavam a situação do país
sob a ditadura militar, como a canção paradigmática da era dos festivais, Pra não dizer
que não falei das flores, e Disparada, de Geraldo Vandré.