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SEGURANÇA
EM SISTEMAS
FOTOVOLTAICOS
CONHEÇA NOSSOS APOIADORES
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04
CUIDADOS COM
OS MATERIAIS
PARTE 2
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ESPECIFICAÇÃO DE EQUIPAMENTOS EM CC – PARTE 2
No artigo anterior, abordei a especificação dos materiais em corrente contínua para FV. Nesse
artigo abordarei a especificação das seccionadoras e das caixas de junção (string box).
Seccionadoras:
Antes de analisarmos como uma seccionadora deve ser especificada, precisamos definir quando
precisamos usá-la.
A IEC 62458 (e o projeto de norma da ABNT NBR 16690) vai definir quando é obrigatório a
instalação de um dispositivo capaz de seccionar a tensão no lado de corrente contínua de um
sistema fotovoltaico.
Essa determinação é feita em função da classificação DCV do arranjo. Como essa classificação
DCV não é de uso corriqueiro para boa parte da comunidade técnica, abaixo temos uma tabela
que resume essa classificação.
* É permitido aos circuitos DVC-A apresentarem tensões até os limites de DVC-B em condições de falta por um tempo
máximo de 0,2 s.
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Com essa definição em mãos, podemos agora estabelecer onde é necessário o uso de um
dispositivo para seccionar e qual o tipo dispositivo devemos utilizar, conforme tabela a seguir.
Tensão do arranjo
Circuito ou sub-circuito Meios de isolamento Requisitos
fotovoltaico
Condutor da série
Dispositivo seccionador Recomendado a
fotovoltaica
Condutor do subarranjo
Dispositivo seccionador Necessário
DVC-A fotovoltaico
Condutor do arranjo Dispositivo
Necessário
fotovoltaico interruptor/seccionador
Condutor da série
Dispositivo seccionadora Recomendado a
fotovoltaica
Dispositivo seccionadora Necessário
Condutor do subarranjo
Dispositivo
DVC-B e DVC-C fotovoltaico Recomendado
interruptor/seccionadorb
Condutor do arranjo Dispositivo interruptor/
Necessário
fotovoltaico seccionador
a Conector e soquete isolados (toque seguro) e fusível ejetável são exemplos de dispositivos seccionadores
adequados.
b Quando um dispositivo interruptor/seccionador é utilizado isso também pode fornecer a função de
Analisando as duas tabelas, podemos ver que a grande maioria dos arranjos fotovoltaicos que
utilizamos é o DVC-C, e, nesses casos, no mínimo precisaremos do arranjo de um dispositivo
interruptor seccionador. É muito comum o uso dos termos seccionador e interruptor de forma
errônea, então, antes de mais nada, vamos buscar a terminologia correta.
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• Interruptor-seccionador: interruptor que, na posição aberta, atende aos requisitos de isolação
especificados para um seccionador;
Se olharmos com atenção a tabela 2, veremos que a norma distingue bem locais apenas com
seccionador dos locais com dispositivo interruptor seccionador. Na maioria das instalações no Brasil,
nosso arranjo fotovoltaico está enquadrado em DCV-C. Assim será, no mínimo, sempre obrigatório o
uso de dispositivo interruptor seccionador no arranjo. Com isso, a primeira coisa que temos que ter
em mente é que precisa ser sob CARGA. Apesar de não ser correta a terminologia, se escrevermos
interruptor ou seccionador na especificação, devemos usar a expressão SOB CARGA.
O objetivo de ser redundante (no caso do uso da palavra interruptor, já que por definição ele é SOB
CARGA) é que o mercado não tem o devido domínio das terminologias técnicas, e nossa
preocupação é garantir a segurança. Mas, os dispositivos interruptores/seccionadores também
precisam atender as seguintes características:
• não possuir qualquer parte de metal exposta, tanto no estado ligado como desligado;
• apresentar corrente nominal igual ou superior a do respectivo dispositivo de proteção;
• não ser sensíveis à polaridade (correntes de falta em um arranjo fotovoltaico podem fluir no
sentido oposto ao de operação normal);
• ser dimensionado para seccionar plena carga e potenciais correntes de falta do gerador
fotovoltaico e quaisquer outras fontes de energia conectadas, tais como baterias, geradores
e a rede elétrica, se presente;
• quando a proteção contra sobrecorrente for incorporada, devem ser dimensionados de
acordo com 5.3.;
• interromper todos os condutores energizados simultaneamente.
Não podemos esquecer que o interruptor-seccionador deve ser apropriado para uso em CC.
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Caixa de Junção (String Box):
Estamos de novo em um item polêmico. Qualquer instalação em que não se use
microinversores (sobre microinversores falaremos futuramente) vai precisar de uma caixa de
junção, mesmo que seja apenas para acondicionar o dispositivo interruptor seccionador, de
uso obrigatório, como vimos.
Além do dispositivo interruptor seccionador, ainda podemos ter DPS, disjuntores, dispositivos
fusíveis, etc. Todos esses dispositivos devem ficar acondicionados em uma ou mais string
box (utilizarei o termo em inglês, por ser o termo consagrado no mercado nacional).
Para analisarmos como especificar a string box, precisamos saber o que ela é. Novamente,
iremos recorrer a terminologia técnica:
Pela definição, podemos ver que é muito parecido com a definição de quadro de distribuição:
Ao buscarmos pelas normas de produto vigentes, temos que as normas de produto que
englobam o escopo da string box seriam a NBR IEC 60439-1 e as NBR IEC 61439-1 e -2.
Todas elas trazem em seu escopo tensão nominal inferior a 1500V em CC.
.
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Para as string box montadas por pequenos fabricantes, na maioria dos casos, não temos certeza
que o conjunto como um todo atende a uma dessas três normas. Na verdade, alguns desses
fabricantes desconhecem até o fato de se possuir norma para isso.
Restrições de custo e dificuldade na compra de uma string box com certificação de que foi
produzida em conformidade com alguma dessas normas vai dificultar a escolha e especificação.
No entanto, a norma de instalações, a ABNT NBR 5410, PROÍBE o uso de duas fontes diferentes
no mesmo quadro, com exceção pra os conjuntos de manobra projetados para efetuar o
intercâmbio, como podemos ver no item transcrito a seguir:
4.2.5.7 Quando a instalação comportar mais de uma alimentação (rede pública, geração local,
etc.), a distribuição associada especificamente a cada uma delas deve ser disposta
separadamente e de forma claramente diferenciada das demais. Em particular, não se admite
que componentes vinculados especificamente a uma determinada alimentação
compartilhem, com elementos de outra alimentação, quadros de distribuição e linhas,
incluindo as caixas dessas linhas, salvo as seguintes exceções:
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a) circuitos de sinalização e comando, no interior de quadros;
Temos que, em uma instalação conectado a rede, é o inversor que faz o intercâmbio entre as
fontes, dessa forma, não é permitido por norma que se instale as chamadas string box CA +
CC.
Então, lembre-se sempre que o responsável pelo projeto e execução não é o fabricante, mas
a pessoa que emite a ART (anotação de responsabilidade técnica). Delegar essa função para
o fabricante da string box pode se revelar um risco quando o produto não atender as normas
de instalações.
Fontes consultadas:
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05
DPS NO LADO CC
DO SISTEMA
FOTOVOLTAICO
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DPS NO LADO CC DO SISTEMA FOTOVOLTAICO
Os 4 artigos anteriores abordaram conclusões que poderiam ser tiradas a partir de consulta e
conhecimento técnico de eletricidade. Os artigos foram mais uma curadoria do que alguma
informação realmente nova.
No entanto, quando falamos de DPS, a coisa complica um pouco (na verdade, muito).
As duas principais normas de instalações que versam sobre o uso de DPS são a NBR5410 e a
NBR5419. O assunto e a correta especificação de DPS já não é simples no lado de CA, e falar
sobre isso fugiria um pouco ao objetivo deste artigo. Mas quando falamos sobre DPS para o lado
de CC em um sistema fotovoltaico, temos um problema ainda maior. O DPS NÃO pode ser o
mesmo que utilizamos em CA.
Esta parte do ABNT NBR IEC 61643 é aplicável aos dispositivos para proteção de surto contra
efeitos diretos e indiretos de descargas atmosféricas ou outras sobretensões transitórias. Estes
dispositivos são montados para serem conectados a circuitos de 50/60 Hz c.a. ou c.c, e
equipamentos de tensão nominal eficaz (r.m.s) até 1 000 V ou 1 500 V c.c. As características de
desempenho, os métodos de ensaios e as características nominais são estabelecidos para estes
dispositivos que contêm pelo menos um componente não linear destinado para limitar surtos de
tensão e desviar surtos de corrente.
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Pelo escopo, a norma atende a CC até 1500 V, logo, atende a FV. Parece simples, certo? Mas
não é.
Um pouco de história:
Após uma série de incêndios na Europa (principalmente na Alemanha), foram realizadas
investigações que, entre os anos de 2006 e 2007, concluíram que o DPS, fabricado conforme a
norma existente, era um possível foco de incêndio ao fim da vida. Catálogos de fabricantes da
época chamavam atenção sobre isso.
.
Em 2009, um fabricante alemão desenvolveu e patenteou um DPS com um fusível integrado que
solucionava esse problema. Esse DPS foi concebido de tal forma que, ao final de sua vida útil,
esse fusível interrompia o circuito internamente, acabando com o risco de incêndio.
Em 2011, foi publicada uma norma europeia, a EN-50539-11 (Low-voltage surge protective
devices. Surge protective devices for specific application including d.c. Requirements and tests
for SPDs in photovoltaic applications), voltada especificamente para corrente contínua em FV,
pois se chegou ao consenso de que a IEC 61643-11 não atenderia a FV. Essa norma, entre
outros avanços, trouxe a necessidade de se prever um meio de desconexão do DPS do sistema
ao fim de sua vida útil.
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POR QUE EXISTE RISCO DE INCÊNDIO?
O que um DPS faz é dar passagem para a terra no momento do surto. Ele sai de um estado
isolante (circuito aberto) para um estado de curto (circuito fechado), e quando o surto (a
sobretensão) cessa, ele volta ao seu estado normal (ou, pelo menos, deveria).
O que caracterizará o fim da sua vida útil é o fato de o equipamento ser incapaz de voltar ao
estado original. Nesse momento, então, o circuito permanece fechado. Nas instalações em que a
corrente de fuga é alta, um fusível de retaguarda externo ao DPS o isolaria do sistema,
terminando o risco de incêndio.
No entanto, em um sistema FV conectado à rede (on grid), a corrente de curto circuito não é
muito maior que a nominal. Na verdade, em condições de baixa insolação, a corrente de curto
circuito ainda será menor que a corrente em condições normais de alta insolação. Em virtude
disso, o fusível de retaguarda não atuaria nesses casos.
Um DPS conforme a IEC 61643-1 (ou a -11, em sua revisão atual) vai, em seu interior, tentar
fazer essa desconexão mecanicamente, mas, a associação de corrente contínua em tensões
altas e a ausência de câmara de extinção de arco no interior do DPS virará uma fonte de calor e
um foco de incêndio.
Para além de juízos de valor pessoal que possamos fazer, a NR-10 deixa claro que, na ausência
ou omissão de normas nacionais, devem ser aplicadas as normas internacionais ou estrangeiras.
Esse caso não é um item claro de omissão na norma?
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DPS em Y:
Uma recomendação dos fabricantes de DPS para instalações fotovoltaicas é que eles sejam
ligados em Y, pois essa configuração é resistente caso haja falha de isolação em um sistema
fotovoltaico.
Por exemplo, se em um sistema de 1000 V o polo negativo tem uma falta a terra, entre o polo
positivo e a terra teremos uma tensão de 1000 V. Se utilizamos um DPS singelo de 500 V, ele irá
queimar. Em uma configuração em Y sempre teremos 2 varistores em serie que vão suportar
essa tensão (500 V + 500 V) e a tensão se divide entre os dois.
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A SITUAÇÃO NO BRASIL
O projeto de norma de Instalações Elétricas – Arranjos Fotovoltaicos foi baseado no documento
que deu origem a IEC 62548 Photovoltaic (PV) Arrays. Design requirements e traz em seu texto
que os DPS no lado de CC de um arranjo FV deverão estar de acordo com a EN 50539-11,
obrigatoriedade esta que já consta da IEC 62548.
Fica a pergunta, será necessário algum acidente grave para que sejamos mais
responsáveis?
Nota do Autor:
Texto escrito com a contribuição de Maria José Lopez, engenheira eletricista. É Gerente
da América Latina da DEHN+SOHNE.
Anteriormente trabalhou como especialista em proteção de sistemas fotovoltaicos na filial
da Espanha da Dehn.
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06
OS RISCOS DA
CORRENTE
ALTERNADA
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O LADO DAS INSTALAÇÕES EM CORRENTE ALTERNADA
Toda instalação de um sistema fotovoltaico conectado à rede necessariamente possui instalações em
corrente alternada. A princípio, não existem, ou não deveriam existir, riscos diferentes daqueles que
uma instalação elétrica normalmente tem. Mas a realidade nos mostra que não é bem assim.
Como é o mercado?
O mercado de geração distribuída, principalmente o segmento de microgeração, foi desenvolvido por
meio dos principais fatores:
• Mudança na regulação, que permitiu a injeção de energia na rede da distribuidora e seu uso
posterior na forma de créditos;
• O desenvolvimento de um mercado de empresas de distribuição, que passaram a oferecer todos
os itens necessários (kits) para um sistema fotovoltaico;
• O desenvolvimento de um mercado de cursos/treinamentos que visam formar mão de obra
capacitada para o dimensionamento e a instalação de um sistema fotovoltaico;
Destes três elementos, o grande problema é que os treinamentos que visam capacitar, não abordam
um ponto muito importante: Instalações elétricas em corrente alternada. Dessa forma, coloca -se uma
série de pessoas no mercado, que estão trabalhando e modificando a instalação elétrica de
residências, e desprezando o acréscimo de riscos associados a isso.
O mais curioso é que, com quase 12 anos de NR-10, esse assunto não seja tratado com a devida
atenção. Vamos às principais preocupações em CA.
Ainda, é necessário a avaliação do aterramento, de modo a definir se ele está adequado ou não,
e, não estando, definir e providenciar as intervenções necessárias para sua a adequação.
Mesmo que aceitemos que o modelo e tipo de DPS que virá no kit seja o ideal, caberá (ou
deveria caber) ao projetista do FV verificar a correta coordenação dos DPS existentes com o
novo DPS a ser instalado com o sistema fotovoltaico.
Entradas de energia alimentadas com rede aérea ou em empreendimentos que possuem SPDA
instalado deveriam possuir DPS classe 1 e depois os classe 2. A maioria das instalações
existentes não têm DPS, ou, se têm, estão especificados incorretamente.
Por último, um DPS para corrente alternada precisa de um fusível de proteção, cujo valor
máximo encontra-se no catálogo de cada fabricante. Também é muito comum a instalação do
DPS ser feita sem o fusível de proteção.
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Ponto de conexão:
O local onde o gerador fotovoltaico é conectado
efetivamente às instalações elétricas da edificação é o
ponto de conexão. Se utilizarmos um disjuntor, por
exemplo, ele deverá ter, no mínimo, as características
dos demais disjuntores do mesmo quadro. Além disso,
esse disjuntor exigirá uma intervenção no quadro de
distribuição, que não pode ser realizada de qualquer
Figura 1 - DPS em CA sem dispositivo de proteção
maneira.
Linhas elétricas
A linha elétrica a ser utilizada no lado de CA precisa
avaliar as influências ambientais às quais estará
submetida. Instalações em locais com afluência de
público, por exemplo, não poderão ser de PVC.
Talvez seja um dos pontos mais críticos para
residências quando falamos em FV. A NBR5410 me
define o que pode ser usado e onde; certas linhas
elétricas que são aceitas em instalações industriais, por
exemplo, não podem ser utilizadas em instalações
residenciais. O uso de cabos aparentes, instalação de
Figura 2- Quadro usado em instalação residencial
condutores CC e CA (oriundos de fontes diferentes)
são bastante adotados em instalações FV atualmente.
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Conclusão:
É impossível a execução de uma instalação FV com condições mínimas de segurança elétrica,
sem a observância e o amplo domínio da ABNT NBR 5410. É necessário que o mercado entenda
isso, e que entenda que não se forma um especialista em instalações elétricas em 100h de
treinamento, por exemplo.
Sem um esforço continuo do mercado, dos seus principais players — e nesse caso incluo as
associações (incluindo ABSOLAR e ABGD) —, dos distribuidores, fabricantes, empresas de
engenharia consultiva, projetistas e instaladores, não teremos uma melhora na segurança
dessas instalações. Aliás, no primeiro acidente grave que ocorrer, o lobby contra a geração
distribuída só aumentará, e dessa vez com argumentos. É nosso dever lutar por instalações FV
mais seguras, quer pelo aspecto de responsabilidade, quer pelo aspecto financeiro.
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MENSAGEM
FINAL
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O momento do Mercado Fotovoltaico de Geração Distribuída
Quando esses artigos foram escritos, meu intuito principal era incomodar meus leitores para que
refletissem. Naquele momento minhas palavras pareciam de profeta do apocalipse.
Infelizmente, nos últimos meses temos tido uma série de relatos de incêndio, módulos que voam,
estruturas que caem.
Mas o beneficio traz suas responsabilidades. Como agentes ativos, e não mais passivos,
interagimos com a rede da concessionária e com todo o sistema elétrico.
Os deveres quanto à segurança das pessoas não pode ser relegado a segundo plano.
Falhas de engenharia recentes em casos diversos no Brasil (ciclovia no RJ, viadutos em SP,
Barragens em MG) mostram o que acontece quando a engenharia, de alguma forma, falha. E
uma instalação fotovoltaica é um serviço de engenharia.
Por fim, convido a todos a conhecer o blog www.viniciusayrao.com.br, onde abordo temas
técnicos e de gestão, focados em eletricidades, e a Abracopel (www.abracopel.org) e suas
ações.
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