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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR


CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - CCJ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CONSTITUCIONAL

GUARDA DE FILHOS E MEDIAÇÃO FAMILIAR: GARANTIA DE


MAIOR APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Ana Carolina Pereira Cabral

Fortaleza - CE
Outubro - 2008
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ANA CAROLINA PEREIRA CABRAL

GUARDA DE FILHOS E MEDIAÇÃO FAMILIAR: GARANTIA DE


MAIOR APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Direito como requisito parcial para
a obtenção do título de Mestre em
Direito Constitucional, sob a
orientação da Prof.ª Dr.ª Lília Maia
de Morais Sales.

Fortaleza - Ceará
2008
___________________________________________________________________________

C117g Cabral, Ana Carolina Pereira.


Guarda de filhos e mediação familiar : garantia de maior aplicabilidade
do princípio constitucional do melhor interesse da criança e do adolescente /
Ana Carolina Pereira Cabral. - 2008.
109 f.

Cópia de computador.
Dissertação (mestrado) – Universidade de Fortaleza, 2008.
“Orientação : Profa. Dra. Lília Maia de Morais Sales.”

1. Guarda de filhos. 2. Mediação e conciliação (Direito). I. Título.

CDU 347.635
___________________________________________________________________________
ANA CAROLINA PEREIRA CABRAL

GUARDA DE FILHOS E MEDIAÇÃO FAMILIAR: GARANTIA DE


MAIOR APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Prof.ª Drª Lília Maia de Morais Sales
UNIFOR

_____________________________________________
Prof. Dr. Carlos Roberto Martins Rodrigues
UNIFOR

_____________________________________________
Prof. Dr. Fernando Basto Ferraz
UNIFOR

Dissertação aprovada em:


A Ana Letícia, minha filha, que já nasceu em
um país consciente da necessidade de se
preservar com prioridade o bem-estar das
crianças e adolescentes.
AGRADECIMENTOS

À professora Lilia Maia de Morais Sales, pelas horas dedicadas à orientação deste
trabalho.

Ao professor José Bastos, pelo incentivo na execução do presente trabalho.

Aos membros da banca examinadora, Professor Doutor Fernando Basto Ferraz e Carlos
Roberto Martins Rodrigues, pela atenção.

À Ana Letícia, que com seu sorriso inocente e seu amor puro me enche de alegria e me
dar forças a seguir em frente, mesmo com tantos obstáculos.

Aos meus pais Cabral e Fernanda pelo amor e eterno incentivo e ajuda na minha vida
profissional e pessoal.

Aos meus avós Gibson e Hercília, por me ensinarem que o amor e a família são as bases
de uma vida digna.

Ao meu marido Alexandre, companheiro e colega de mestrado que me incentiva a


aprender sempre mais e que soube entender meus momentos de ausência durante a execução
do presente trabalho.

Aos meus irmãos André e Leonardo, por existirem na minha vida e pelo apoio nos
momentos difíceis.

À Mariana, por fazer parte da minha família e ser minha irmã de coração.

Ao meu amigo Rommel pelo incentivo e auxilio durante a execução do trabalho e a


minha amiga Carolina por me ajudar e compartilhar comigo os principais momentos da minha
vida.
6

Aos meus colegas de mestrado por compartilharem comigo momentos maravilhosos


durante o curso.

Aos funcionários do mestrado, pelas palavras de ânimo e incentivo durante o curso de


mestrado.

Aos meus alunos, que mesmo sem saber, me incentivam com seus questionamentos, a
aprender sempre mais.
RESUMO

A criança e o adolescente têm na figura dos pais a base para a sua formação. A dissolução da
união dos pais pode abalar o desenvolvimento de sua personalidade. Durante a constância da
união, a criança e o adolescente desfrutam da presença e participação de ambos os pais em
todos os aspectos da sua vida. Os atributos do poder familiar são exercidos por ambos os
genitores, que decidem conjuntamente sobre a criação e a educação da prole. A ruptura da
entidade familiar traz à tona a questão da guarda dos filhos. Existem várias modalidades de
guarda, mas o modelo tradicionalmente adotado no Brasil é o da guarda exclusiva. Esse
modelo, porém, atualmente tem sido muito questionado, pois está sendo considerado
ultrapassado e insuficiente, na medida que não atende às necessidades de pais e filhos. A
guarda compartilhada surgiu na Inglaterra e hoje é utilizada nos Estados Unidos, França,
Canadá, entre outros países. Essa modalidade de guarda revelou-se bastante satisfatória, pois
garante aos pais a continuidade do exercício pleno do poder familiar e aos filhos o convívio
com eles, além do direito de tê-los participando de suas vidas, semelhante a uma família
intacta. Apesar de recém-positivada, já era majoritária a posição que admitia a sua aplicação.
Quando a questão é a instituição de guarda de filhos menores, é necessário levar em
consideração primeiramente se os direitos dos filhos serão atendidos de forma prioritária, pois
pelo princípio constitucional do melhor interesse da criança e do adolescente, leva-se em
conta sempre o bem-estar do menor. A Mediação Familiar, como forma pacífica de solução
de conflitos, é o meio adequado para regulamentar a guarda de filhos, pois na Mediação os
genitores, através de um diálogo aberto, podem resolver acerca do bem-estar dos filhos em
conjunto, visto que na Mediação Familiar não há interferência de terceiro, ou seja, são as
partes (genitores) que acordam o resultado, de maneira a torná-lo mais fácil de ser respeitado.
Assim, por meio da Mediação Familiar, a guarda de filhos menores poderá atender ao
princípio do melhor interesse da criança e do adolescente e, conseqüentemente, garantir um
desenvolvimento saudável aos filhos menores.
Palavras-chave: Guarda. Mediação familiar. Princípio melhor interesse da criança e
adolescente.
ABSTRACT

The child and adolescent have in the picture of the parents the basis for their formation. The
dissolution of the union of parents may affect the development of his personality. During the
constancy of the union, the child and the adolescent enjoy the presence and involvement of
both parents in all aspects of their lives. The attributes of the familiar power are exercised by
both parents, who decide together about the growth and education of the offspring. The
rupture of the familiar entity brings the question of the children’s custody.There are various
forms of custody, but the model traditionally adopted in Brazil is the exclusive custody. This
model, however, currently has been much questioned, as it is being considered outdated and
inadequate as it does not meet the needs of parents and children. The shared custody
appeared in England and today is used in the United States, France, Canada, among other
countries. This type of custody proved to be quite satisfactory, as it ensures to parents the
continuity of the full exercise of the familiar power and to the children the living together
with them, besides the right of having them participating in their lives, similar to an intact
family. In spite of being newly positive, the position which accepted its application was
already majority.When the issue is the institution of custody of minor children, it is necessary
to take into consideration whether the rights of the children will be granted as a priority,
because by the constitutional principle of the best interest of the child and adolescent , it takes
into account always the well-being of the child. The Familiar Mediation as a peaceful way of
solution of conflicts, is the appropriate way to regulate the custody of the children, as in the
Mediation, the parents, through an open dialogue, can resolve about the welfare of the
children together, because in the Familiar Mediation there is no interference of a third party,
namely, are the parties (parents) who agree the result, in order to make it easier to be
respected. Thus, through the Familiar Mediation, the custody of minor children may meet the
principle of the best interest of the child and adolescent and, therefore, ensure a healthy
development for minor children.
Key-words: Custody. Familiar mediation. Principle of the best interest of the child and
adolescent.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 12

1 PODER FAMILIAR........................................................................................................... 15

1.1 Notícia histórica do instituto do poder familiar......................................................... 16

1.2 Evolução do poder familiar no Brasil........................................................................ 18

1.3 Conteúdo do poder familiar....................................................................................... 20

1.3.1 Normas quanto à pessoa dos filhos ............................................................... 21

1.3.2 Quanto aos bens dos filhos ............................................................................ 26

1.4 Extinção do poder familiar ........................................................................................ 26

1.4.1 Suspensão do poder familiar.......................................................................... 29

1.4.2 Perda do poder familiar ................................................................................. 30

2 GUARDA ........................................................................................................................... 34

2.1 Evolução legislativa do instituto da guarda no Brasil ............................................... 34

2.2 Exercício da guarda ................................................................................................... 37

2.2.1 Guarda na vigência do casamento ................................................................. 37

2.2.2 Guarda na separação e no divórcio consensual ............................................. 37

2.2.3 Guarda na separação litigiosa e no divórcio litigioso.................................... 39

2.2.4 Guarda na separação de fato......................................................................... 41

2.2.5 Guarda na separação de corpos ..................................................................... 42

2.2.6 Guarda de filho havido fora do casamento.................................................... 43

2.2.7 Guarda na união estável................................................................................. 43

2.2.8 Guarda no caso de invalidade do casamento ................................................. 44

2.2.9 A guarda no Estatuto da Criança e do Adolescente ...................................... 45


10

2.3 A importância do estudo social para o deferimento da guarda.................................. 47

2.4 Obrigações e direitos dos genitores ........................................................................... 49

2.4.1 Obrigações do genitor guardião..................................................................... 50

2.4.2 Responsabilidade civil.................................................................................. 50

2.4.3 Direitos e deveres do genitor não guardião ................................................... 51

2.4.4 Direito de visita ............................................................................................. 52

2.4.5 Dever de fiscalização..................................................................................... 54

2.4.6 Dever de prestar alimentos ............................................................................ 55

3 MODALIDADES DE GUARDA ...................................................................................... 56

3.1 Guarda de fato ........................................................................................................... 56

3.2 Guarda desmembrada e delegada .............................................................................. 57

3.3 Guarda comum .......................................................................................................... 58

3.4 Guarda provisória e definitiva ................................................................................... 58

3.5 Guarda exclusiva, única ou monoparental................................................................. 59

3.6 Guarda alternada........................................................................................................ 63

3.7 Aninhamento ou nidação........................................................................................... 65

3.8 Guarda compartilhada ............................................................................................... 65

3.9 Princípio do melhor interesse da criança e o instituto da guarda .............................. 69

4 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ......................................................................................... 73

4.1 Evolução da mediação de conflitos ........................................................................... 74

4.2 Formas de resoluções extrajudiciais de conflitos: diferenças entre mediação e


conciliação, mediação e arbitragem e mediação e negociação ............................ 75

4.2.1 Mediação e conciliação ................................................................................. 76

4.2.2 Mediação e negociação.................................................................................. 77

4.2.3 Mediação e arbitragem .................................................................................. 78

4.3 Princípios aplicados à mediação de conflitos ............................................................ 79

4.3.1 Princípio da autonomia de decisão das partes ............................................... 79


11

4.3.2 Princípio da imparcialidade dos mediadores e auxiliares técnicos da


mediação de conflitos................................................................................. 80

4.3.3 Princípio do sigilo na mediação de conflitos................................................. 82

4.4 Da aptidão ou competência do mediador .................................................................. 83

4.5 Da credibilidade......................................................................................................... 84

4.6 Objetivo, vantagens e limitações da mediação de conflitos ...................................... 84

4.7 Projeto de Lei nº 4.827 de 1998, de autoria da Deputada Federal Zulaiê Cobra, com o
substitutivo feito pelo Senado Federal ......................................................................... 86

4.8 Mediação familiar...................................................................................................... 87

4.9 Conflitos familiares ................................................................................................... 90

4.10 Objetivos da mediação familiar................................................................................. 92

4.11 Mediador familiar ...................................................................................................... 92

4.12 Co-mediador .............................................................................................................. 94

4.13 Da aplicação da mediação nos conflitos que envolvem a questão da guarda de filhos..... 97

CONCLUSÃO........................................................................................................................ 100

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 103


INTRODUÇÃO

A sociedade brasileira vem sofrendo uma série de modificações ao longo dos últimos
anos, pois a mulher deixou o trabalho do lar e passou a trabalhar fora. Por outro lado, o
marido passou a conviver mais tempo com os filhos, deixando de ser aquela figura pai-
provedor. E, como não poderia ser diferente, as normas legais passaram e ainda passam por
constantes alterações para poderem ser adequar à nova vida social.

A Constituição Federal de 1988 trouxe dispositivos importantes, como a igualdade entre


homem e mulher; a igualdade sem qualquer discriminação entre os filhos havidos ou não do
casamento, dentre outras modificações. O novo Código Civil, observando os preceitos da
Carta Magna, alterou os dispositivos referentes aos deveres entre marido e mulher para
deveres recíprocos entre os cônjuges. Em relação aos filhos, ambos os genitores passaram a
exercer, em plena igualdade de condições, o poder familiar.

Em decorrência das mudanças sofridas pela sociedade brasileira, o número de


casamentos ou uniões que são dissolvidos cresceu rapidamente. E como toda separação gera
sofrimento não só para o casal que está se separando, mas também para os seus filhos, estes
são os mais prejudicados com o rompimento da relação conjugal dos seus genitores. Por isso,
é que o fim de uma união não pode representar a separação, o afastamento de um dos
genitores dos seus filhos, mas apenas a separação do homem e da mulher.

Assim, o instituto da guarda de filhos é matéria de maior relevância no Direito de


Família, pois é necessário que a criança ou o adolescente tenham sempre seus interesses
atendidos. Várias são as hipóteses de guarda de filhos, apesar de a legislação brasileira
explicitamente disciplinar priorizando a guarda única e a guarda compartilhada. A guarda
única ou exclusiva é a mais utilizada hoje nos tribunais brasileiros. Nesta modalidade de
guarda, apenas um dos genitores é o guardião e cabe a ele decidir sobre os assuntos mais
importantes do filho; já ao outro genitor, é apenas dado o poder-dever de fiscalização,
vigilância e visitas.
13

Diante da possibilidade de exclusão de um dos genitores da vida do filho menor, fez-se


com que a modalidade de Guarda Compartilhada ganhasse vários adeptos. Esta modalidade de
guarda surgiu para tentar minimizar os efeitos em relação à pessoa dos filhos quando havia a
ruptura da união conjugal. Os tribunais pátrios já reconheciam a guarda compartilhada. O
centro de estudos da Justiça Federal – STJ já entendeu que o artigo 1.583 (redação original) se
referia tanto à guarda compartilhada ou conjunta quanto à guarda única. Recentemente, o
Código Civil foi alterado pela Lei nº 11.698, de 13 de junho de 2008, que inseriu de forma
expressa a guarda compartilhada no Código Civil brasileiro.

Visando a preservar o menor, e assim atender ao princípio constitucional do melhor


interesse da criança, é que a instituição da guarda de filhos, quando é feita através da
Mediação Familiar, proporciona ao filho menor uma maior segurança e aos pais a expectativa
de que as necessidades dos filhos serão supridas. É por meio da Mediação Familiar que os
genitores podem resolver, sem a interferência de um terceiro, acerca do bem-estar dos filhos
menores. Assim, cabe aos próprios genitores, com base no diálogo aberto e franco, a escolha
de qual modalidade de guarda atenderá melhor aos interesses dos filhos menores. É ainda
através do diálogo entre os ex-cônjuges que o convívio futuro será definido, pois o que
acabou foi a relação entre homem e mulher, e não entre filhos e genitores.

Assim, a guarda instituída por intermédio da Mediação Familiar terá mais condições de
atender aos interesses do menor, princípio consagrado na Constituição Federal de 1988, no
Estatuto da Criança e do Adolescente e no Novo Código Civil, do que a guarda de filhos
arbitrada por terceiro, a exemplo do Estado, pois se sabe que os pais conhecem todas as
necessidades dos seus filhos.

Em virtude do exposto acima, o presente trabalho surgiu da necessidade de se utilizar


uma forma que privilegiasse mais os interesses da criança e do adolescente. A partir da
necessidade de se utilizar de um meio pacífico de solução de conflitos familiares, procurou-se
estudar modelos de solução não adversarial para a solução de conflitos, em especial no
momento de se regularizar a guarda de menores, pois se sabe que a matéria referente à guarda
de filhos é a que mais gera conflitos entre os genitores. Assim, a necessidade de se definir a
guarda de filhos menores, por meio da Mediação Familiar, se dá porque a Mediação prioriza o
diálogo entre os genitores, não admite interferência do mediador e dá às partes total liberdade
para resolver o que seja melhor para os filhos. Portanto, entende-se que é através da Mediação
14

Familiar que se consegue alcançar com mais eficácia o princípio constitucional do melhor
interesse da criança e do adolescente.

O objetivo geral desta pesquisa é ampliar e difundir os conhecimentos acerca da guarda


de filho instituída através da Mediação Familiar. Os objetivos específicos são analisar o
instituto do Poder Familiar, o instituto da Guarda de Filhos, a Mediação Familiar e ainda a
regulamentação da guarda de filhos através da Mediação Familiar.

As hipóteses da pesquisa foram investigadas com base na pesquisa bibliográfica,


mediante estudos na doutrina, legislação, jurisprudências. Com relação à utilização dos
resultados, a pesquisa é pura pois tem como finalidade aumentar o conhecimento sobre o
assunto e auxiliar na construção de uma nova realidade. Quanto à abordagem, caracteriza-se
como qualitativa pois busca-se um maior aprofundamento e compreensão das ações e relações
humanas. No que concerne aos fins, é descritiva pois descreve, registra e analisa os fatos
jurídicos sem modificá-los e, exploratória, pois procura definir e buscar novas informações
sobre o tema abordado.

No primeiro capítulo, “Poder familiar”, foi apresentado um estudo sobre a evolução do


instituto, a importância do papel dos pais no desenvolvimento dos filhos e os direitos e
deveres decorrentes do poder familiar. O segundo capítulo, “Guarda”, abrange a evolução do
instituto, a questão da guarda dos filhos na dissolução da entidade familiar, abordando seus
aspectos jurídicos e as obrigações e direitos dos genitores. O terceiro capítulo, “Modalidades
de guarda”, descreve algumas das diversas modalidades de guarda conhecidas pela doutrina,
em especial, a guarda única e a guarda compartilhada.

O quarto e último capítulo, “Mediação familiar”, analisa a evolução do instituto, a


mediação e outros meios de solução pacífica de conflitos, bem como os princípios utilizados
na Mediação de Conflitos, os objetivos e vantagens da Mediação, os conflitos familiares, o
mediador e o co-mediador familiar e a aplicação da mediação nos conflitos que envolvem a
guarda de menores. Assim, a mediação familiar bem conduzida levará a escolha da melhor
forma de se estabelecer a guarda dos filhos menores. Porém, deve-se levar em consideração
sempre a necessidade de sempre se observar o princípio constitucional do melhor interesse da
criança e do adolescente.
1 PODER FAMILIAR

O poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à


pessoa e aos bens dos filhos menores 1 , ou seja, é o conjunto de direitos e obrigações imposto
aos pais para proporcionar o bem-estar do filho menor. Orlando Gomes, ao expor sobre o
tema, diz que

o ser humano, no inicio de sua vida, isto é, na infância e em certas fases da


juventude, necessita de cuidados especiais, precisa de quem o crie e eduque, ampare
e defenda, guarde e cuide dos seus interesses, em suma, tenha regência de sua pessoa
e de seus bens. Daí resulta o instituto do pátrio poder, cabendo aos pais o mister de
exercê-lo. 2

Igualmente, Washington de Barros Monteiro conceitua o poder familiar como “o


conjunto de obrigações, a cargo dos pais, no tocante à pessoa e bens dos filhos menores.” 3

Agregado ao conceito de obrigação está o princípio do melhor interesse da criança, que


reflete a necessidade de se perceber essa obrigação não como um fim em si mesma, mas como
um instrumento para garantir que a criança e/ou o adolescente tenha sua dignidade respeitada,
prevalecendo o afeto e o direito muito mais do que uma obrigação. Marcos Alves da Silva, em
monografia sobre a matéria, afirma que

A nova compreensão da relação entre pais e filhos, nascida da superação do conceito


de ‘pátrio poder’, assenta-se sobre três pilares fundamentais: a affectio, a
publicização das relações de família e a emergência de um novo sujeito: a criança e
o adolescente. 4

A figura central do poder familiar é a criança ou o adolescente, e o princípio do melhor


interesse da criança ou adolescente fundamenta a relação do poder familiar. Em conseqüência,
são geradas obrigações aos pais de garantir o bom desenvolvimento físico e mental dos filhos
para que no futuro se tornem adultos conscientes do seu papel na sociedade em que vivem.
Yussef Said Cahali afirma que

1
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: Direito de família. São Paulo: Saraiva, 2005. v. VI.
2
GOMES, Orlando. Direito de família. 8. ed. Rio de janeiro: Forense, 1995, p.367.
3
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: Direito de família. São Paulo: Saraiva, 2004. v. 2, p.348.
4
SILVA, Marcos Alves da. Do pátrio poder à autoridade parental – repensando fundamentos jurídicos da
relação entre pais e filhos. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p.55.
16

a lei provê os genitores do poder familiar, com atribuições que não se justificam
senão por sua finalidade; são direitos a eles atribuídos, para lhes permitir o
cumprimento de suas obrigações em relação à prole; não há poder familiar senão
porque deles se exigem obrigações que assim se expressam: sustento, guarda e
educação dos filhos. 5

Assim sendo, o poder familiar garante uma proteção ampla aos filhos menores, que têm
na legislação brasileira todas as suas necessidades essenciais regulamentadas por leis. O
princípio de que a criança deverá ter suas necessidades atendidas e que todos os atos
praticados pelos pais sejam em prol dos interesses dos filhos fazem com que a relação de
poder familiar se baseie em fundamentos sólidos de afeto, respeito e solidariedade.

1.1 Notícia histórica do instituto do poder familiar

O instituto do poder familiar, pelo Código Civil de 1916, denominado de pátrio poder,
teve origem no Direito Romano 6 . Para este Direito, o pater famílias exercia autoridade
absoluta sobre seus filhos e, apesar do abrandamento dos costumes e das restrições jurídicas à
pátria potestas, os filhos e as filhas continuaram, em toda a história do direito romano,
submetidos ao poder do pai (ou avô), desde que vivessem, não existindo emancipação pela
idade. 7 José Carlos Moreira Alves afirma que

[...] partir do período pós-clássico os poderes constitutivos do patria potestas se vão


abrandando, até que, no direito justinianeu- mudado o ambiente social, alteradas
fundamentalmente as funções e a estrutura da família, e sobrepujado o parentesco
agnatício pelo cognatício – a patria potestas se aproxima do conceito moderno de
pátrio poder(poder educativo e levemente corretivo), embora conserve- o que a
afasta deste- duas características antigas: a vitaliciedade do pátria potestas e a
titularidade pelo ascendente masculino mais remoto. [...]. 8

Segundo o relato histórico do autor acima referido, pode-se dizer que, no início do
Direito Romano, o chefe da família dispunha do jus vitae et necis, ou seja, o direito de expor o
filho ou matá-lo. Também tinha o direito de transferi-lo a outrem (in causa mancipi) e o
direito de entregá-lo como indenização (noxae deditio). Esses eram alguns dos direitos
pessoais sobre os filhos que, com o passar do tempo, foram sendo abrandados. No âmbito do
direito patrimonial, o chefe de família tinha mais alguns direitos, tais como: o filho não
possuía nada próprio, pois todos os seus bens eram de seu pai, porém as dívidas contraídas
pelo filho eram por ele devidas.

5
CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p.349.
6
Período do Direito Romano marcado pela construção de novas idéias foi do século VIII a.c. até o século VI d.c.
7
GLISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988, p.611.
8
ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v.II, p.267.
17

Apesar de várias regras rígidas no Direito Romano, alguns avanços podem ser
elencados na legislação que regulamentava os direitos e deveres do patria potestas, tais como:
no século IV d.C., o filho que exerce função na corte imperial passa a ter direito aos seus bens
adquiridos; no séc. V foi dado o mesmo privilegio aos eclesiásticos e aos advogados. Quanto
ao direito do chefe da família de dispor da vida e da morte de seus filhos, só desaparece com o
Imperador Constantino.

No Direito Germânico 9 , assim como no Romano, o poder do chefe da família era


bastante amplo. Este poder, chamado de mundium, pertencia somente ao pai. No início, o
chefe de família no Direito Germânico poderia dispor da vida e da liberdade de seu filho,
pois, de acordo com os costumes do povo germânico, o pai poderia dar seu filho como
escravo com a finalidade de ver sua divida liquidada, ou seja, o mundium implicava o direito
de vida e de morte sobre o filho. Essas regras rígidas ao longo do tempo foram sendo
atenuadas e os filhos passaram a ter mais liberdade.

Marcos Alves da Silva afirma que “o ‘pátrio poder’ do direito germânico apresentava as
seguintes características que o diferenciavam do direito romano: a) a emancipação do filho
com a maioridade, b) a atribuição do ‘pátrio poder’ à mãe, em caráter subsidiário ou
supletivo.” 10

Houve, ao longo do tempo, restrições ao mundium do chefe de família germânico.


Como se pode perceber, no século VIII o direito de expor os filhos sofre restrição, pois passou
o pai a não ter mais o direito de expor o filho, se o mesmo tocasse a água do mar (assim o
filho ser tornava emancipado). O infanticídio só era admitido em certas ocasiões, tais como: a
filha coabitasse com um escravo; ou se a filha cometesse adultério. Segundo Glissen,

o cristianismo exerceu uma profunda influência sobre a evolução do poder paternal.


Inicialmente, tornou-se defensor dos fracos, nomeadamente das crianças.
Desenvolve idéias morais a partir das quais deduz o princípio de que o pai, ao lado
dos direitos que tem sobre os filhos, tem também deveres a seu respeito. 11

As idéias do Cristianismo aos poucos começaram a interferir na relação pai-filhos, pois


o Cristianismo pregava o direito à vida, à liberdade dos filhos e à existência de uma relação de
afeição e caridade entre os mesmos.

9
Período principal do Direito Germânico foi do século II a.c. até século XIII d.c.
10
SILVA, Marcos Alves, op. cit., 2002, p.29.
11
GLISSEN, John, op. cit., 1988, p.600.
18

No sistema feudal 12 , o instituto do pátrio poder não foi tão rigoroso como no Direito
Romano. No feudalismo, o pai deixou de possuir o direito de vida e morte sobre o filho e
apenas passou a ter o direito de correção.

1.2 Evolução do poder familiar no Brasil

Até a entrada em vigor do Código Civil, em 1916, os filhos se encontravam em poder


do pai, mesmo após atingir a maioridade civil, resquícios do Direito Romano que
influenciaram a maioria das legislações ocidentais. No Brasil só foi modificado com a
Resolução de 10 de outubro de 1931, que fixava a maioridade aos 21(vinte e um anos).

Marcos Alves da Silva observa, ao analisar o pátrio poder no Brasil antes do Código
Civil de 1916, que

No direito pátrio pré-codificado, o pátrio poder, que era exercido exclusivamente


pelo pai, somente incidia sobre os filhos nascidos de justas núpcias e sobre os
legitimados, em razão de casamento superveniente ao nascimento da criança. Dito
de outra forma, o pátrio poder constituía-se em instituto do que era chamada a
família legitima. 13

No Direito pré-codificado, o pátrio poder era de titularidade exclusiva do pai, não tendo
a mulher/mãe nenhum direito de exercê-lo, nem mesmo com a morte do marido. Com o
Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, a mulher viúva passou a ser a titular do pátrio
poder, enquanto não contraísse um novo matrimônio.

O Código Civil de 1916 adotou a nomenclatura de pátrio poder e seguiu os princípios


romanos mais abrandados, os quais davam ao pai o poder de decidir sobre filhos. Importante
ressaltar que o instituto do pátrio poder utilizado pela legislação pátria de 1916 visava
principalmente ao interesse do menor.

Este mesmo Código disciplinou o pátrio poder no art. 379 e seguintes, abrangendo as
disposições gerais acerca do instituto, normas quanto à pessoa e bens dos filhos, suspensão e
extinção do pátrio poder.

Inicialmente, seguindo as tradições romanas, o Código Civil de 1916, disciplinado no


artigo 380, deu ao pai a exclusividade de exercer o pátrio poder, cabendo à mulher apenas na
falta ou impedimento do marido o direito de exercê-lo. A primeira redação do Código Civil

12
Fase de maior importância do Feudalismo foi do século IX d.c. até o século XIII d.c.
13
SILVA, Marcos Alves da, op. cit., 2002, p.41.
19

também retirava da mulher bínuba 14 o exercício do pátrio poder em relação aos seus filhos do
primeiro casamento, pois, a partir da celebração do novo casamento da mãe, os filhos
passavam para os cuidados de um tutor.

A mulher, na época da redação original do Código Civil de 1916, podia exercer o pátrio
poder sobre seus filhos naturais, que não fossem frutos de casamento e desde que o pai não os
houvesse reconhecido, pois havendo o reconhecimento paterno caberia o exercício do pátrio
poder ao pai.

Houve profunda mudança com o advento da Lei nº 4.121, de 1962, Estatuto da Mulher
Casada, no Código Civil de 1916, que alterou algumas normas com relação ao pátrio poder,
que passou a ser exercido pelo pai, mas agora com a colaboração de sua mulher. E quanto à
mãe bínuba exercer o pátrio poder, passou esta a não mais perder a titularidade do pátrio poder em
relação aos filhos do primeiro casamento, além de exercer o munus sem a interferência do novo
marido. As duas mudanças foram importantes para o Ordenamento Civil Brasileiro, mas não
foram suficientes porque a mulher ainda não exercia os mesmos direitos conferidos ao
homem.

Mesmo após o Estatuto da Mulher Casada ter alterado o Código Civil no tocante ao
exercício do pátrio poder, ainda restou a preferência dada pela legislação ao pai, quando
dispõe, no parágrafo único do artigo 380, que na hipótese de divergência quanto ao exercício
do pátrio poder, deveria prevalecer a decisão paterna, com a ressalva de poder a mãe recorrer
ao juiz para a solução da divergência.

Até a Constituição Federal de 1988 prevalecia a desigualdade entre os cônjuges. A


mulher era apenas mera colaboradora do seu marido. A partir de 1988, com a entrada em
vigor da atual Carta Magna, os art. 5°, I, e art. 226, § 5°, determinaram:

Art. 5°, I. homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição.
[...]
Art. 226, § 5º. Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher.

A partir de então, tanto o homem quanto a mulher passaram a ser titulares do poder
familiar e a exercê-lo em igualdade de condições.

14
Bínuba – indica a mulher que se casou duas vezes e o seu primeiro casamento foi extinto. No Brasil acontecia
na maioria dos casos quando a mulher ficava viúva e casava-se novamente perdendo assim a titularidade do
pátrio poder em relação ao filho do primeiro casamento.
20

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90, foi o pioneiro em


apresentar princípios que prezam o bem-estar físico e psíquico do menor. Ainda hoje,
passados 18 anos, o Estatuto da Criança e do Adolescente é uma legislação moderna e, se bem
aplicada, de grande valia para a sociedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente disciplina,
no seu art. 21, que:

[...] o pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na
forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de,
em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução
da divergência.

Pode-se perceber que o Estatuto da Criança e do Adolescente consolidou o já disposto


pela CF/88. Após a regulamentação pelo Estatuto, não restou qualquer dúvida acerca da
titularidade do pátrio poder.

Em 2003, entrou em vigor o atual Código Civil e o instituto do pátrio poder, após
algumas modificações, foi denominado de poder familiar. A troca de nomenclatura foi válida,
visto que pátrio poder se referia à autoridade paterna (patria potestas do Direito Romano) e
deixava a figura materna à margem. O instituto do poder familiar é mais abrangente, e pai e a
mãe o exercem de forma igualitária.

O Código Civil de 2002 disciplina o poder familiar no Livro IV (Do Direito de


Família), título I, subtítulo II, capítulo V, nos arts. 1.630 a 1.638, onde regulamenta desde as
disposições gerais, conteúdo do poder familiar, perda, suspensão e extinção.

1.3 Conteúdo do poder familiar

O conteúdo do poder familiar é composto das normas quanto à pessoa do filho e seus
bens. Para o presente trabalho as disposições legais no tocante à pessoa dos filhos são mais
importantes, tendo em vista que se ligam mais intimamente ao instituto da guarda de menores.

O Código Civil de 2002 deslocou para a parte destinada a direito patrimonial as regras
quanto aos bens dos filhos, denominado o título de “Do usufruto e da administração dos bens
dos filhos menores”, ressaltando-se que a matéria continuou sendo conteúdo do poder
familiar.
21

1.3.1 Normas quanto à pessoa dos filhos

O artigo 1.634 do Código Civil e os artigos 19 e 22 do Estatuto da Criança e do


Adolescente disciplinam as normas quanto à pessoa dos filhos menores. O artigo 1.634
Código Civil dispõe que:

Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I – dirigir-lhe a criação e
educação; II – tê-los em sua companhia e guarda; III - conceder-lhes ou negar-lhes
consentimento para casarem; IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o
poder familiar; V - representá-los, até aos dezesseis anos da vida civil, e assisti-los,
após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VI -
reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; VII - exigir que lhes prestem
obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

O inciso I do artigo 1.634 disciplina que cabe aos pais a criação e educação dos filhos
menores. Esta norma fundamenta o bom exercício do poder familiar. A criança tem direito de
ser criada sob a proteção de seus genitores, pois incumbe aos pais velar não só pelo sustento
dos filhos, como também por sua formação, a fim de torná-los úteis a si, à família e à
sociedade 15 , ou seja, cabe aos pais proporcionar aos filhos uma vida saudável para que tenham
um bom desenvolvimento físico, mental, intelectual e social, para assim se tornarem adultos
conscientes do seu papel de cidadão na sociedade em que vivem.

A criação dos filhos envolve tanto o aspecto material quanto o imaterial, pois não basta
que os pais contribuam para as necessidades básicas dos seus filhos, tais como: alimentação,
moradia, educação, lazer, mas também é importante o apoio psicológico, moral e o afeto dado
por ambos os genitores para proporcionar o adequado bem-estar da criança.

É necessário que a educação seja analisada de forma ampla, pois ambos os pais têm a
obrigação de matricular os filhos na escola, seja ela da rede privada ou pública de ensino, o
que vai depender das condições econômicas dos pais. Compete ainda aos pais proporcionar
aos filhos uma educação religiosa, moral, política e cívica para que os mesmos possam ter um
desenvolvimento saudável.

O genitor que descumprir o dever de criação e educação dos filhos menores sofrerá
sanções tanto na esfera penal quanto na cível. Assim, o genitor que não contribui com a
criação do filho está cometendo o crime de abandono material, tipificado no art. 244 do
Código Penal, que dispõe:

15
MONTEIRO, Washington de Barros, op. cit., 2004. v.2, p.350.
22

Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho
menor de dezoito anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou
maior de sessenta anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou
faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou
majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente,
gravemente enfermo.

O pai ou a mãe que não cumpre a obrigação de pagar pensão alimentícia ao filho incorre
no crime de abandono material, que prevê pena ao genitor que não prover, sem justa causa, a
subsistência ao filho menor de 18 anos. Os tribunais são pacíficos no entendimento de
condenar o genitor pelo crime de abandono material no caso de não pagamento de pensão
alimentícia. 16

Quanto à infração ao dever de educação, é configurado crime de abandono intelectual,


tipificado no art. 246 do Código Penal, e imputa pena de detenção de 15 dias a 1 mês ou multa
a quem deixar, sem justa causa, de dar instrução primária a filho que está em idade escolar. 17

No âmbito cível, o genitor que deixar o filho em abandono material, moral e/ou
intelectual terá como punição ao descumprimento do dever de criação e educação a perda do
poder familiar, que será aplicada por sentença judicial.

O inciso II disciplina que “tê-los em sua companhia e guarda”. É direito e dever dos
pais terem o seu filho em sua companhia e guarda. A guarda é indispensável para o efetivo
cumprimento da criação e educação do menor.

A guarda do menor faz parte do conteúdo do poder familiar, mas o genitor que não tiver
o filho sob sua guarda não perderá o poder familiar em relação a ele. Também há a hipótese
16
APELAÇÃO CRIMINAL – ABANDONO MATERIAL NA FORMA CONTINUADA – FILHO MENOR –
PENSÃO ALIMENTÍCIA – NÃO-PAGAMENTO – ABSOLVIÇÃO – IMPOSSIBILIDADE – APELO
CONHECIDO E DESPROVIDO – 1. Aquele que deixa, sem justa causa, de prover a subsistência do filho
menor de idade face a reiterada inadimplência com os pagamento de pensões alimentícias judicialmente
fixadas, incorre em crime de abandono material. 2. Verificando-se que o apelante deixou de efetuar o
pagamento da pensão devida, somente o fazendo quando a justiça foi acionada, resta demonstrado o dolo na
conduta do mesmo. Recurso conhecido e improvido. (ESPÍRITO SANTO. TJES – ACR 045030007095 – 2ª
C.Crim. – Rel. Des. José Luiz Barreto Vivas – J. 14.12.2005) ABANDONO MATERIAL – MENOR –
PENSÃO ALIMENTÍCIA – NÃO-PAGAMENTO – CONFIGURAÇÃO – “Abandono material – Agente que,
mesmo tendo condições financeiras, deixa sem justa causa de prover a subsistência de filhos menores de
dezoito anos, faltando-lhes, reiteradamente, ao pagamento de pensões alimentícias judicialmente fixadas –
Configuração: configura o delito de abandono material a conduta do agente que, mesmo tendo condições
financeiras, deixa sem justa causa de prover a subsistência de filhos menores de dezoito anos, faltando-lhes,
reiteradamente, ao pagamento de pensões alimentícias judicialmente fixadas, obrigando sua ex-mulher a
cobrá-las em juízo, revelando-se um devedor contumaz.” (SÃO PAULO. TACRIMSP – ACrim. 1374501/3 –
2ª C. – Relª Juíza Maria Tereza do Amaral – DJSP 16.02.2004 – p.178).
17
Inexistência do crime por falta de vaga – TACRSP “não se configura crime de abandono intelectual se deixa
o réu de promover a instrução primaria do filho menor por falta de vaga no estabelecimento de ensino local.”
(SÃO PAULO. JTACRIM 22/376).
23

da guarda do menor ser dada a terceira pessoa quando for mais conveniente para os interesses
do menor (art. 1.584 §5˚ do Código Civil Brasileiro).

Durante o casamento ou união estável dos pais, a guarda dos filhos será de ambos os
genitores e, no caso de separação do casal, os filhos ficarão sob a guarda de um deles apenas,
se assim ficar acordado. Ainda a critério dos pais, poderá ser instituída a guarda
compartilhada, na qual os dois têm a guarda jurídica.

Não havendo acordo entre os pais, será determinado judicialmente a quem caberá a
guarda dos filhos. Os tribunais 18 têm se posicionado no sentido de manter o status quo, ou
seja, o filho menor permanecer sob a guarda do genitor que tinha sua guarda de fato no
momento da entrada da ação, salvo quando for prejudicial ao menor. A tendência de se manter
o status quo do caso será mantida até ser decidido por sentença quem passará a exercer a
guarda. 19

O instituto da guarda de menores será devidamente analisado em capítulo posterior.

O Inciso III dispõe que compete aos pais “conceder-lhe ou negar-lhes consentimento
para casarem; [...].” O menor entre 16 e 18 anos necessita de autorização de ambos os pais
para contrair núpcias. Esta autorização não é absoluta, pois se houver negativa por parte dos

18
AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE GUARDA DE MENOR – DEFERIMENTO DA MEDIDA
LIMINAR – BUSCA E APREENSÃO – TRANSFERÊNCIA DA GUARDA PARA O PAI – Inexistência de
fundamento para a alteração da situação do menor que estava sob a guarda da mãe. Necessidade de
manutenção do status quo. Agravo provido. Não havendo nenhuma demonstração de que o menor, sob a
guarda da mãe, encontra-se em perigo material ou moral, cumpre manter o status quo ante, a fim de que não
seja o mesmo submetido a grandes alterações em sua realidade pessoal no curso do processo. (BAHIA. TJBA
– AI 34.726-4/2004 – (18.978) – 1ª C.Cív. – Relª Desª Maria Da Purificação Da Silva – J. 14.12.2005).
19
APELAÇÃO CÍVEL – REGULAMENTAÇÃO DE GUARDA AJUIZADA PELA MÃE – CRIANÇA
CRIADA PELOS AVÓS PATERNOS DESDE SEU NASCIMENTO – SATISFATÓRIA QUALIDADE DE
VIDA – MÃE HONESTA E TRABALHADORA, PORÉM SEM VIDA FAMILIAR E ECONÔMICA
ESTABILIZADA – INEXISTÊNCIA DE MOTIVOS PARA ALTERAR O STATUS QUO – DIREITO DA
MENOR EM VIVER COM A FAMÍLIA NATURAL, ART. 19, DA LEI 8.069/90 –
PREQUESTIONAMENTO DA MATÉRIA – PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR – DIREITO
DE VISITA E DE CONVIVÊNCIA PARCIAL CONCEDIDOS – COISA JULGADA MATERIAL –
INEXISTÊNCIA – RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO – Em não havendo elementos
suficientemente capazes de demonstrar a conveniência da se alterar o status quo em que vive a menor, deve
prevalecer o seu interesse, que se mostra mais relevante em confronto com o da mãe de quem vive separada há
muito tempo, em especial se esta, apesar de honesta e trabalhadora, não se mostra familiar e economicamente
estabilizada. Nos casos em que o direito em viver com a mãe estiver em conflito com o principal interesse do
menor, que compreende desenvolvimento físico e intelectual com conforto, saúde, bem estar, adaptabilidade,
educação escolar de qualidade e atendimento das necessidades básicas, deve este prevalecer acima de qualquer
outro, inclusive em relação aos daqueles que litigam pela guarda. A decisão que regulamenta a guarda de
menor, permitindo visitação e convivência com a mãe não faz coisa julgada material, podendo, depois, ser
modificada se comprovada a efetividade do convívio, a harmonia decorrente e o renascer da afetividade
mútua. (MATO GROSSO DO SUL. TJMS – AC 2002.002814-3/0000-00 – Naviraí – 2ª T.Cív. – Rel. Des.
Horácio Vanderlei Nascimento Pithan – J. 25.11.2003) JECA.19).
24

pais, sem motivo justo, poderá ser dada através de decisão judicial. Os pais podem mudar sua
decisão até o momento da celebração do casamento.

O artigo 1.634 Inciso IV do Código Civil dispõe que compete aos pais “nomear-lhes
tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou
sobrevivo não possa exercer o poder familiar.”

Com base na interpretação do dispositivo acima, não resta, dúvidas de que cabe aos pais
primeiramente escolher a pessoa que possa ser tutor de seus filhos, caso ambos faleçam. A
legislação civil concedeu esta prerrogativa aos pais, porque os mesmos sabem quem está mais
apto a exercer a função de tutor de seus filhos.

O Inciso V regulamenta que cabe aos pais “representá-los, até os 16 (dezesseis) anos,
nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento.”

Até os 18 anos incompletos, a pessoa ainda não atingiu a capacidade civil plena, ou seja,
não poderá exercer sozinha os atos da vida civil. Portanto, cabe aos pais assistir os seus filhos
até a idade de 16 anos em todos os atos. Caso o menor não esteja devidamente representado, o
ato por ele praticado será considerado nulo. Dos 16 aos 18 anos, o menor deverá ser assistido
por seus pais, sob pena de anulabilidade do ato.

Os tribunais firmaram entendimento DE que, se houver necessidade de representação, a


procuração poderá utilizar a forma particular; porém, se o menor for assistido, a procuração
deverá constar em instrumento público, visando a resguardar os interesses do menor que
participa diretamente do ato praticado. 20

Em função do falecimento de um dos genitores, caberá ao outro exercer de forma


exclusiva o poder familiar, mesmo que venha a se casar novamente. Caso ocorra o
falecimento dos dois genitores do menor, o múnus de representar ou assistir o menor caberá

20
HERDEIRO MENOR – SUCESSÃO – BENS – PEQUENO VALOR – RITO – ARROLAMENTO –
CABIMENTO – MANDATO – REPRESENTANTE DO MENOR – INSTRUMENTO PARTICULAR –
EFICÁCIA – PROVIMENTO – Inexiste impedimento a que se imprima o rito de arrolamento ao feito
sucessório, quando não há concorrente na sucessão e o valor dos bens não ultrapassa o estabelecido no art.
1036 da norma adjetiva. Exige-se instrumento público de mandato quando for a parte menor relativamente
capaz, sob assistência, fazendo-se bastante e eficaz o instrumento particular, em se cuidando de menor
absolutamente incapaz e legalmente representado. (BAHIA. TJBA – AL 54.936-6/2000 – (26.362) – 4ª C. Cív.
– Rel. Des. Paulo Furtado – J. 12.03.2003).
25

ao tutor nomeado pelos pais, por testamento ou documento autêntico, ou ainda pelo juiz, na
falta de tutor nomeado previamente pelos pais do menor.

Existindo conflitos de interesse entre pais e filhos, o juiz, embasado no artigo 1692 do
Código Civil, nomeará um curador especial para defender os interesses do menor na ação.

O Inciso VI dá aos pais o direito de ter os seus filhos consigo, conforme se subtrai do
inciso citado “Reclamá-los de quem ilegalmente o detenha.” Este dispositivo garante a
qualquer um dos genitores ajuizar ação de busca e apreensão do menor de quem ilegalmente o
detenha, para ter seu filho novamente sob sua proteção.

O genitor que detém a guarda do menor poderá entrar com a ação de busca e apreensão
do menor contra o outro genitor que não devolveu o filho após a visita. É o posicionamento
pacífico dos tribunais brasileiros. 21

Não poderá exercitar esse direito o pai que, por longo tempo, descuida-se inteiramente
do filho. Igualmente, se ele vive em lugar prejudicial à saúde física e mental ou à educação
dos filhos, não pode invocar o disposto no questionado dispositivo legal. 22

É necessário que os filhos também tenham limites e respeito por seus pais, daí a
importância de se preservar o dever de obediência e respeito, visto que qualquer relação sem a
presença desses dois elementos estará fadada ao insucesso, conforme o inciso VII do artigo
1634 do Código Civil que dispõe que “exigir que lhes prestem obediência, respeito e os
serviços próprios de sua idade e condição.”

21
AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO – INTERESSE DA CRIANÇA –
BEM-ESTAR PSICOLÓGICO – 1. A liminar de busca e apreensão de menor deve ser deferida nos casos em
que é retirada abruptamente do convívio da mãe, pelo genitor, após a visita. 2. Agravo provido. (DISTRITO
FEDERAL. TJDFT – AGI 20060020117600 – Relª Desª Sandra de Santis. DJU 15.02.2007 – p. 95). CIVIL –
AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO – LIMINAR – AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE DO DIREITO
INVOCADO – INDEFERIMENTO – Consubstanciada a plausibilidade do direito invocado pela autora de
ação de busca e apreensão de menor do qual é genitora e detém a guarda legal, decorrente da inexistência de
indícios de falta de assistência ao menor, bem como comprovação de que o mesmo sempre freqüentou a escola
durante o período em que esteve sob sua companhia, bem ainda em face da constatação de que a guarda e
educação dos filhos, consoante a mais abalizada doutrina, se constitui em responsabilidade dos pais, só
podendo referidos encargos ser deferidos a terceiros em caso excepcionais, impõe-se a manutenção da decisão
recorrida que deferiu o pedido liminar de busca e apreensão do menor em favor de sua genitora. (DISTRITO
FEDERAL. TJDFT – AGI 20030020110205 – 3ª T.Cív. – Rel. Des. Vasquez Cruxên – DJU 09.12.2004 – p.
96).
22
MONTEIRO, Washington de Barros, op. cit., 2004. v.2, p.352.
26

Quanto aos serviços prestados pelos filhos menores, mesmo sendo trabalhos
domésticos, devem ser de acordo com a sua idade e que não prejudiquem as atividades
escolares e o lazer, visto que a Constituição Federal de 1988 proíbe o trabalho infantil.

Estes são os atributos do poder familiar em relação à pessoa dos filhos, os quais devem
ser observados para que tenham um bom desenvolvimento.

1.3.2 Quanto aos bens dos filhos

O Código Civil de 2002 alterou a disposição das normas que contêm os dispositivos
relativos ao poder familiar quanto aos bens dos filhos. Hoje está disciplinado na parte de
direito patrimonial, com a denominação de “Do usufruto e da administração dos bens dos
filhos menores.” Embora a matéria tenha sido transferida para seção diversa, não deixa de ser
matéria referente ao poder familiar.

As principais considerações são: ambos os pais, em igualdade de condições, são os


administradores legais dos bens dos filhos menores; para se alienar ou gravar de ônus reais os
bens imóveis do menor, os pais precisam de autorização judicial e esta só será concedida se
for demonstrado que será em prol da educação e criação do filho menor.

1.4 Extinção do poder familiar

O Código Civil, no artigo 1.635, disciplina acerca da extinção do poder familiar, in


verbis: “Art. 1.635. Extingue o pode familiar: I – pela morte dos pais ou do filho; II – pela
emancipação, nos termos do art. 5°, parágrafo único; III – pela maioridade; IV – pela adoção;
V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.”

Caso ocorra a morte dos pais ou dos filhos, desaparece um dos pólos da relação do
poder familiar e, conseqüentemente, o poder familiar será extinto. Caso faleça apenas um dos
genitores, o poder familiar será exercido pelo genitor sobrevivente. Na hipótese de morte dos
pais, o menor ficará sob os cuidados de um tutor previamente nomeado por seus pais ou
designado pelo juiz competente. O poder familiar será extinto pela emancipação, nos termos
do art. 5°, parágrafo único, isto é, o menor emancipado, de acordo com os ditames legais,
adquire plena capacidade civil e não necessitará mais do auxílio e proteção dos pais para
conduzir seus atos.
27

A emancipação é um ato de vontade dos pais para que o filho maior de 16 (dezesseis)
anos e menor de 18 (dezoito) anos atinja e exerça a plenitude da capacidade civil. Não é
necessária homologação judicial da emancipação, sendo apenas exigida que se faça através de
instrumento público. Há casos em que a lei disciplina a emancipação do menor por sentença
judicial. O inciso III dispõe que com a maioridade civil o poder familiar será extinto, ou seja,
aos 18 anos, o filho torna-se maior e, assim como o emancipado, adquire plena capacidade
civil e pode exercer sozinho todos os atos da vida civil.

O novo Código Civil, quanto à maioridade civil, dispõe que a menoridade cessa aos
dezoito anos completos. Assim, a relação de sustento, que é decorrente do poder familiar,
também é extinta, ou seja, após a maioridade dos filhos, nos termos dos arts. 5º e 1.630 e ss.
do Código Civil Brasileiro, a relação de poder familiar é extinta e a obrigação de alimentar
decorrente da relação de poder familiar passa a não existir.

Com a maioridade cessa o dever de sustento decorrente do poder familiar que o pai deve
ao filho menor. A partir daí ter-se-á uma nova relação, que é a de parentesco, e se o filho
demonstrar que necessita ainda de auxílio, a relação de pagamento da pensão alimentícia será
prolongada.

O posicionamento dominante no país tem sido no sentido de admitir a prorrogação da


pensão alimentícia até a média dos 24 (vinte e quatro) anos, desde que o filho ainda estude e
não tenha ainda condições de prover sua própria subsistência 23 , 24 . Ressalva-se que dependerá
do caso concreto 25 essa fixação de idade ou ainda das condições econômicas do genitor.

23
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – PENSÃO ALIMENTÍCIA –
EXONERAÇÃO – MAIORIDADE – PEDIDO LIMINAR – INDEFERIDO – AGRAVO CONHECIDO –
RECURSO IMPROVIDO – I. A obrigação alimentar tem relação não apenas com a idade, mas também, com
o vinculo de parentesco ou afinidade existente entre alimentante e alimentado. Assim, a extinção do poder
familiar, por si só, não é causa suficiente à exoneração do encargo. Na espécie, tudo deverá ser avaliado a fim
de comprovar a necessidade de receber os alimentos e a possibilidade do genitor em pagá-los, o que será feito
com submissão ao contraditório e à ampla defesa. II. Com efeito, é entendimento jurisprudencial que o fato de
o filho ter atingido a maioridade civil não extingue ipso facto a obrigação alimentar do genitor, máxime
quando o alimentando for estudante e não tiver condições econômicas de prover suas próprias necessidades.
III. Outrossim, impende ressaltar que a fixação de alimentos exterioriza o poder discricionário concedido pelo
legislador ao juiz de interpretar a norma segundo o caso concreto, eis que tal situação exige prudência e
avaliação dos fatos, não devendo ser mero aplicador da norma. IV. Agravo conhecido. Recurso improvido.
Negar provimento. Maioria. (DISTRITO FEDERAL. TJDFT – AGI 20050020107851 – (245568) – Rel. Des.
Hermenegildo Gonçalves. DJU 13.06.2006 – p.45).
24
PENSÃO ALIMENTÍCIA – MAIORIDADE CIVIL – EXONERAÇÃO – VEDAÇÃO – NECESSIDADE DE
PRODUÇÃO DE PROVA – ACADÊMICO – SUBSISTÊNCIA – TÉRMINO DO CURSO – A ação de
exoneração de alimentos reclama dilação probatória, não bastando o atingimento da maioridade civil para
perder tal direito. A obrigação pode perdurar, demonstrando sua necessidade, não mais com fundamento no
dever de sustento, mas, sim, em decorrência do parentesco. Se o alimentando é acadêmico e comprova não
28

Ao atingir 18 anos, o filho deverá provar sua necessidade de receber os alimentos em


virtude da relação de parentesco que existe. Há agora uma inversão do ônus probatório. Nesse
sentido, o Superior Tribunal de Justiça editou a súmula 359, que dispõe: “o cancelamento de
pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante
contraditório, ainda que nos próprios autos.”

A doutrina e a jurisprudência 26 reconhecem que a pensão alimentícia, a partir dos 18


anos do filho, poderá ser mantida como decorrência de outra relação jurídica diversa do poder
familiar, como se pode perceber na lição de Cahali a seguir:

[...] Quanto aos filhos, sendo menores e submetidos ao poder familiar, não há um
direito autônomo de alimentos, mas sim uma obrigação genérica e mais ampla de
assistência paterna, representada pelo dever de criar e sustentar a prole; o titular do
poder familiar, ainda que não tenha o usufruto dos bens do filho, é obrigado a
sustentá-lo, mesmo sem auxilio das rendas do menor e ainda que tais rendas
suportem os encargos da alimentação: a obrigação subsiste enquanto menores os
filhos, independentemente do estado de necessidade deles, como na hipótese,
perfeitamente possível, de disporem eles de bens (por herança ou doação) enquanto
submetidos ao poder familiar [...] 27

Segundo o mesmo autor: “[...] Efetivamente, com a maioridade, pode surgir obrigação
alimentar dos pais em relação aos filhos adultos, porém de natureza diversa, fundada no art.
1694 do Código Civil; essa obrigação diz respeito aos filhos maiores [...].” 28

O inciso IV dispõe que o poder familiar dos pais biológicos será extinto pela adoção do
menor. A criança ou adolescente perde o vínculo jurídico com seus pais biológicos quando é

possuir meios para tanto, os alimentos são devidos até o término do curso. (RONDÔNIA. TJRO – AC
100.001.2004.014478-9 – 2ª C.Cív. – Rel. Des. Roosevelt Queiroz Costa – J. 31.05.2006).
25
EXONERAÇÃO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA – filho que atingiu a maioridade [está com 25 anos de idade]
e nunca se interessou pelos estudos, não terminando sequer o ensino médio – pessoa apta ao trabalho e sem
impedimento para o exercício de qualquer profissão ou outra atividade – extinção da obrigação alimentar
mantida – não-provimento. (SÃO PAULO. TJSP – ac 495.411-4/7 – 4ª cdpriv. – rel. des.Enio Santarelli
Zuliani – j. 11.10.2007. rj24-2007).
26
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS – BINÔMIO NECESSIDADE-
POSSIBILIDADE – VISUALIZAÇÃO DA NECESSIDADE DO ALIMENTADO – NÃO-
COMPROVAÇÃO DA IMPOSSIBILIDADE DO PAGAMENTO – EXONERAÇÃO INCABÍVEL –
SENTENÇA MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO – Ante a ausência de prova concreta da impossibilidade
financeira do alimentante de arcar com a obrigação alimentar, deve ser mantido o dever de pagar o valor da
pensão alimentícia, fixada de acordo com o binômio necessidade-possibilidade. A maioridade do alimentando,
por si só, não é causa suficiente para a exoneração dos alimentos, diante da nova interpretação dada ao pátrio
poder, hoje denominado poder familiar, especialmente quando demonstrada a necessidade de o filho continuar
recebendo o amparo paterno no que tange aos alimentos, a partir de circunstâncias que denunciam tal
realidade, aliada à permanência da capacidade do alimentante. (MATO GROSSO DO SUL. TJMS – AC-Lei
Especial 2007.009269-5/0000-00 – Aquidauana – 4ª T.Cív. – Rel. Des. Rêmolo Letteriello – J. 22.05.2007).
27
CAHALI, Yussef Said, op. cit., 2006, p.349.
28
CAHALI, Yussef Said, op. cit., 2006, p.351.
29

adotada e, conseqüentemente, a relação de poder familiar com os pais biológicos é extinta, de


maneira que quem passará a exercitar o poder familiar será o pai/mãe adotivo. 29

Caso os pais adotivos faleçam, não será restituído o vínculo jurídico com o pai
biológico e o filho adotivo será considerado órfão, tendo em vista que a adoção é ato
irrevogável.

A única relação que subsiste após a adoção de um menor é o impedimento do artigo


1.521 do Código Civil que dispõe: “Não podem casar: I – os ascendentes com os
descendentes, seja o parentesco natural ou civil.”

Portanto, mesmo que o menor tenha sido adotado e não exista mais relação civil com
seus pais biológicos, o laço natural subsiste.

Será também extinto o poder familiar através de decisão judicial na forma da lei, que é
dada em caso de perda do poder familiar, que será objeto de analise em tópico posterior.

1.4.1 Suspensão do poder familiar

A suspensão do poder familiar é imposta nas infrações menos graves, que importam em
descumprimentos dos deveres paternos. A suspensão é sanção aplicada aos pais infratores,
mas não visam, prioritariamente, a punir os pais, mas, sim, resguardar os direitos dos filhos.
Paulo Luiz Lobo Netto afirma:

A suspensão pode ser total ou parcial, para a prática de determinados atos. Esse é o
sentido da medida determinada pelo juiz, para a segurança do menor e de seus
haveres. A suspensão em relação a um dos pais concentra o exercício do poder
familiar no outro, salvo se for incapaz ou falecido, para o que se nomeará tutor. A
suspensão total priva o pai ou a mãe de todos os direitos que emanam do poder
familiar. 30

29
DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR – ADOÇÃO – CRIANÇA RECÉM-NASCIDA – ABANDONO –
NASCIMENTO – COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA – INTERESSE PREPONDERANTE DA
MENOR – Constatado probatoriamente a existência de abandono de criança recém-nascida pela mãe
biológica, bem como que a colocação da menor em família substituta atende plenamente os interesses da
menor, impõe-se a destituição do poder familiar e a concessão da adoção. (RONDÔNIA. TJRO – AC
100.014.2002.008557-9 – 2ª C.Cív. – Rel. Des. Marcos Alaor Diniz Grangeia – J. 21.03.2007). PODER
FAMILIAR – DESTITUIÇÃO – INTERESSE DO MENOR “DESTITUIÇÃO DO PÁTRIO PODER – PAI
EM DESFAVOR DA MÃE – FILHA MENOR – A destituição do pátrio poder há sempre que ser decidida
considerando o interesse superior da menor in casu, se a menor já se encontra sob a guarda de outro casal, com
o qual se encontra bem cuidada e educada, os quais inclusive já requereram sua adoção, com a destituição do
pátrio poder de ambos genitores, não há interesse efetivo em se destituir a mãe do pátrio poder, em pedido
formulado pelo pai.” (MINAS GERAIS. TJMG – AC 1.0281.01.000653-0/001 – 7ª C.Cív. – Rel. Des.
Edivaldo George dos Santos – DJMG 25.08.2004 – p. 01).
30
LÔBO NETTO, Paulo Luiz; AZEVEDO, Álvaro Villaça (Coord.). Código Civil comentado: direito de
família, relações de parentesco, direito patrimonial: arts. 1591 a 1693. São Paulo: Atlas, 2003. v. VXI, p.220.
30

É dada a suspensão do poder familiar nos casos do art. 1.637 do Código Civil brasileiro
que dispõe:

Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou
arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o
ministério público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do
menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à
mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a
dois anos de prisão.

Assim sendo, a suspensão do poder familiar dependerá sempre da análise do caso


concreto, é temporária e, desde que cessem os motivos que levaram à aplicação da suspensão
do poder familiar, poderá ser retirada pelo Judiciário 31 . Existe a hipótese de suspender o poder
familiar em relação ao único filho. Esta forma de suspensão é denominada pela doutrina como
facultativa. Desse modo, quando o pai ou a mãe é condenado por sentença transitada em
julgado a pena que exceda 2 (dois) anos de prisão, os mesmos terão a relação de poder
familiar suspensa até que a pena seja integralmente cumprida 32 . Ressalta-se que o crime não
poderá ter sido cometido contra seu próprio filho.

1.4.2 Perda do poder familiar

A perda do poder familiar será aplicada quando os pais incidirem nas condutas dos
incisos do art. 1.638 do Código Civil. Será decretada a perda do poder familiar 33 quando o

31
DIREITO CIVIL – FAMÍLIA – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – AÇÃO DE
DESTITUIÇÃO/SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR E/OU APLICAÇÃO DE MEDIDAS
PERTINENTES AOS PAIS, GUARDA, REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS E CONTRIBUIÇÃO PARA
GARANTIR A CRIAÇÃO E O SUSTENTO DE MENOR – SITUAÇÃO DE RISCO PESSOAL E SOCIAL –
SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR DO PAI SOBRE O FILHO – APLICAÇÃO DE MEDIDAS DE
PROTEÇÃO À CRIANÇA – VISITAS PATERNAS CONDICIONADAS A TRATAMENTO
PSIQUIÁTRICO DO GENITOR – É certo que, pela perspectiva de proteção integral conferida pelo ECA, a
criança tem o direito à convivência familiar, aí incluído o genitor, desde que tal convívio não provoque em seu
íntimo perturbações de ordem emocional, que obstem o seu pleno e normal desenvolvimento. O litígio não
alcança o pretenso desenlace pela via especial, ante a inviabilidade de se reexaminar o traçado fático-
probatório posto no acórdão recorrido, que concluiu pela manutenção da decisão de suspensão do poder
familiar do genitor e das visitas ao filho, enquanto não cumprida a medida prevista no art. 129, III, do ECA
(encaminhamento do pai a tratamento psiquiátrico), por indicação de profissionais habilitados. Há de se
ponderar a respeito do necessário abrandamento dos ânimos acirrados pela disputa entre um casal em
separação, para que não fiquem gravados no filho, ao assistir ao esfacelamento da relação conjugal, aos
sentimentos de incerteza, angústia e dor emocional, no lugar da necessária segurança, conforto e harmonia,
fundamentais ao crescimento sadio do pequeno ente familiar. Recurso especial não conhecido. (BRASIL. STJ
– REsp 776.977/RS – (2005/0142155-8) – 3ª T. – Relª Min. Nancy Andrighi – DJU 02.10.2006).
32
“MENOR- Suspensão do pátrio poder – Réu condenado por sentença criminal irrecorrível em crime cuja pena
excede a dois anos de prisão- Presença dos pressupostos objetivos descritos na norma do art. 394, parágrafo
único do Código Civil- Adequação do julgamento antecipado da lide- Sentença de procedência confirmada”
(SÃO PAULO. TJSP- AC 236.366-1 – Taubaté – 5 C.Cív. – Rel. Des. Luís Carlos de Barros-j. 5.10.1995).
33
PODER FAMILIAR – AÇÃO DE DESTITUIÇÃO – MENOR – ABANDONO E DESCASO –
COMPROVAÇÃO – CABIMENTO – “Apelação cível - Ação de destituição de pátrio poder - Art. 22 do
31

pai/mãe castigar imoderadamente o filho; deixar o filho em abandono material, moral e


intelectual; praticar atos contrários aos bons costumes (levar menor a bares, boates, manter
relações sexuais na sua frente etc.); e reincidir reiteradamente nas faltas previstas como
suspensão do poder familiar.

Ao se analisar o artigo 1634, I do Código Civil, já foi abordado o tema abandono do


filho menor. A jurisprudência pátria é unânime no sentido de que os pais perdem o poder
familiar ao abandonar os filhos menores. 34

O inciso I do artigo 1.638 dispõe que “castigar imoderadamente o filho”. A legislação


não proíbe de forma explícita a correição física moderada no menor e, por isso, a maioria da
doutrina afirma que a legislação proibiu os maus-tratos. Mesmo que a maior parte dos
doutrinadores 35 36
pense dessa maneira, existem outros que afirmam que qualquer modalidade
de castigo físico é violência e atenta contra a dignidade da criança e do adolescente.

Estatuto da Criança e do Adolescente - Deveres inerentes ao pátrio poder - Não-cumprimento - Abandono e


descaso com a criança - Quadro acentuado de desnutrição - Incidência do art. 395, III, do Código Civil de
1916 - Perda do pátrio poder confirmada - Pressupostos legais comprovados - Art. 24 do ECA - Sentença
mantida - Recurso não provido. Comprovado o descaso e o descuido com o filho, a medida que se impõe é a
destituição dos pais do pátrio poder, nos termos do art. 395, III, do Código Civil de 1916 e art. 24 do Estatuto
da Criança e do Adolescente.” (SANTA CATARINA.TJSC – AC 03.008206-9 – 3ª C. – Rel. Des. Wilson
Augusto do Nascimento – DJSC 28.08.2003 – p. 25) JECA.22 JCCB.395 JCCB.395.III JECA.24.
34
PODER FAMILIAR – DESTITUIÇÃO – ESTADO DE ABANDONO – INTERESSE DOS MENORES –
Constatado o estado de abandono de menores, decorrente de problema mental da mãe e de alcoolismo do pai,
importa que seja declarada a perda do poder familiar deles, quando evidenciado que a medida melhor atende
aos interesses das crianças e pode proporcionar-lhes o desenvolvimento mental, físico e sadio. (RONDÔNIA.
TJRO – AC 100.012.2004.004001-3 – 2ª C.Cív. – Rel. Des. Marcos Alaor Diniz Grangeia – J. 21.03.2007).
PODER FAMILIAR – Destituição. Menor entregue pela mãe biológica aos cuidados do casal requerente, que
formulou pedido cumulado com adoção. Existência de forte vínculo afetivo entre a criança e o referido casal,
já se encontrando ela totalmente inserida na família substituta. Genitora que, alegando ser a entrega da filha
aos cuidados de outro casal insuficiente para gerar a perda do poder familiar, não comprova ter capacidade
para prover a manutenção da menor em ambiente familiar sadio, necessário ao seu pleno desenvolvimento.
Abandono material e moral caracterizado. Destituição dos genitores do poder familiar e concessão da adoção
pleiteada. Necessidade. Recurso improvido. (SÃO PAULO. TJSP – AC 142.088-0/7-00 – Paulo de Faria –
C.Esp. – Rel. Des. Canguçu de Almeida – J. 15.01.2007).
35
“Para tanto podem os pais até castigá-los fisicamente, desde que o façam moderadamente. A aplicação de
castigos imoderados caracteriza crime de maus-tratos, causa de perda do poder familiar (art. 1638, I do C.C.)”
GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 2005. v. VI, p.367.
36
“[...] Castigar imoderadamente o filho. Não que sejam proibidas atitudes corretivas dos pais, o que
normalmente acontece e mesmo se faz necessário em determinadas circunstancias. A própria educação requer
certa rigidez na condução do procedimento do filho, que não possui maturidade para medir as conseqüências
de seus atos, fato normal e próprio da idade infantil e juvenil. Em muitas ocasiões, somente se consegue um
padrão médio de comportamento se imposta uma disciplina mais forte e atenta [...]” e mais “[...] A lei tolera os
castigos comedidos e sensatos, necessários em momentos críticos da conduta do filho, e condena as explosões
de cólera e da violência, que nada trazem de positivo. Pelo contrário, tal repressão conduz à revolta, ao
desamor e ao aniquilamento do afeto, do carinho e da estima. [...].” RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família.
2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.612.
32

Acerca da possibilidade ou não de se aplicar castigo físico nos filhos, o jurista Paulo
Luiz Lobo Netto argumenta

Como resquício do antigo pátrio poder, persiste na doutrina e na legislação a


tolerância ao que se denomina castigo ‘moderado’ dos filhos. O novo Código, ao
incluir a vedação ao castigo imoderado, admite implicitamente o castigo moderado.
O castigo pode ser físico ou psíquico ou de privação de situações de prazer.
Deixando de lado as discussões havidas em outros campos, sob o ponto de vista
estritamente constitucional não há fundamento jurídico para o castigo físico ou
psíquico, ainda que ‘moderado’, pois não deixa de consistir violência à integridade
física do filho, que é direito fundamental inviolável da pessoa humana, também
oponível aos pais. O artigo 227 da Constituição determina que é dever da família
colocar o filho (criança ou adolescente) a salvo de toda violência. Todo castigo
físico configura violência. Note-se que a Constituição (art. 5.º, XLIX) assegura a
integridade física do preso. Se assim é com o adulto, com maior razão não se pode
admitir violação da integridade física da criança ou adolescente, sob pretexto de
castigá-lo. Portanto, na dimensão do tradicional pátrio poder era concebível o poder
de castigar fisicamente o filho; na dimensão do poder familiar fundado nos
princípios constitucionais, máxime o da dignidade da pessoa humana, não há como
admiti-lo. O poder disciplinar, contido na autoridade parental, não inclui, portanto, a
aplicação de castigos que violem a integridade do filho. 37

No caso de castigo físico aplicado pelos pais, que seja configurado maus-tratos contra o
menor 38 , os pais irão responder pelo crime de maus-tratos e, por meio de procedimento
judicial, perderão o poder familiar. O Código Penal, em seus artigos 129 § 9°, e 136, tipifica
as condutas como crime de ação penal pública. O inciso III dispõe que perderá o poder
familiar o genitor que praticar atos contrários à moral e aos bons costumes. O juiz precisará
conhecer os valores da sociedade em que vive, conhecer as condutas criminosas, como forma
de poder apreciar se o ato cometido pelo genitor fere ou não os bons costumes e a moral 39 .
Necessário também que o princípio do melhor interesse da criança seja respeitado no
momento da decisão do judiciário.

37
LÔBO NETTO, Paulo Luiz. Do poder familiar. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8371>.
Acesso em: 15 maio 2008.
38
CIVIL E PROCESSUAL – AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DE PÁTRIO PODER – MAUS TRATOS,
ABANDONO DE MENOR E INJUSTIFICADO DESCUMPRIMENTO DOS DEVERES DE GUARDA E
EDUCAÇÃO – INTERESSE PREVALENTE DA CRIANÇA – FUNDAMENTAÇÃO – SUFICIÊNCIA –
RECURSO ESPECIAL – PROVA – REEXAME – IMPOSSIBILIDADE – ECA, arts. 19, 23 e 100. I.
Inobstante os princípios inscritos na Lei nº 8.069/90, que buscam resguardar, na medida do possível, a
manutenção do pátrio poder e a convivência do menor no seio de sua família natural, procede o pedido de
destituição formulado pelo Ministério Público estadual quando revelados, nos autos, a ocorrência de maus
tratos, o abandono e o injustificado descumprimento dos mais elementares deveres de sustento, guarda e
educação da criança por seus pais. II. “A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso
Especial”– Súmula nº 7 STJ. III. Recurso Especial não conhecido.” (BRASIL. STJ – RESP 245657 – PR – 4ª
T. – Rel. Min. Aldir Passarinho Junior. DJU 23.06.2003 – p. 00373) JECA.19 JECA.23 JECA.100.
39
“PÁTRIO PODER – DESTITUIÇÃO- ADMISSIBILIDADE – mãe condenada criminalmente por homicídio
contra seu marido e pai dos menores- instigação da outra filha menor a participar da trama assassina - Prática
de atos contrários à moral e aos bons costumes- inteligência do artigo 395, III, do código Civil- fato ademais,
que desestruturou o universo psicológico dos menores- recurso não provido.” (SÃO PAULO. TJSP – AC
230.071-1 Osasco – 8 C Cív.- Rel. Des. Massami Uyeda – j. 16.08.1995).
33

O inciso IV dispõe que perderá o poder familiar quem “incidir, reiteradamente, nas
faltas previstas no artigo antecedente.” A perda do poder familiar é permanente e, ao contrário
da suspensão, vai atingir toda a prole, pois o titular que perdeu o poder familiar não tem
condições de exercê-lo em relação aos outros filhos.

Existem outras normas na legislação brasileira que disciplinam acerca de casos que
levam à perda do poder familiar, quais sejam: havendo interdição do genitor, a perda do poder
familiar por parte desse genitor será automática, visto que o pai/mãe que não possui plena
capacidade civil, portanto não pode ser responsável pelo menor.

O artigo 22, cumulado com o artigo 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que


disciplinam a perda do poder familiar, dispõe que os pais que infringir os deveres e
obrigações aludidos no artigo 22, que são: sustento, guarda e educação dos menores, e ainda
cumprir as determinações judiciais que sejam no interesse do menor terão o poder familiar
perdido.

O Código Penal brasileiro, em seu artigo 92, II, disciplina que “são também efeitos da
condenação a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes
dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado.”

Ressalta-se que o genitor que perdeu o poder familiar não deixa de ter a obrigação de
sustentar o filho menor. Dessa forma, a obrigação de prestar alimentos ao filho é devida e
poderá ser cobrada judicialmente.

O artigo 102 da Lei nº 6.015/73 e o artigo 264 do Estatuto da Criança e do Adolescente


prevêem que a sentença que suspender ou destituir o poder familiar deverá ser averbada no
livro de registro de nascimentos da circunscrição onde nasceu o menor.

As considerações acima são as mais importantes no tocante ao Poder Familiar, pois a


perda ou a suspensão do Poder Familiar gera a perda ou suspensão do direito de guarda dos
filhos.
2 GUARDA

Guarda, segundo Plácido e Silva 1 , é “derivada do antigo alemão wargen (guarda,


espera), de que proveio também o inglês warden (guarda), de que formou o francês garde,
pela substituição do w em g. É termo empregado em sentido genérico para exprimir proteção,
observância, vigilância ou administração.” E guarda tanto significa custódia, como proteção
que é devida aos filhos pelos pais.

2.1 Evolução legislativa do instituto da guarda no Brasil

O instituto da guarda no direito brasileiro foi disciplinado pela primeira vez pelo
Decreto n° 181, de 1890, em seu artigo 90, que dispôs:

a sentença do divorcio litigioso mandará entregar os filhos communs e menores ao


cônjuge inocente e fixara a cota com que o culpado deverá concorrer para a
educação delles, assim como a contribuição do marido para o sustenta da mulher, si
esta for innocente e pobre. 2

O Código Civil de 1916, em sua redação original, disciplinou a matéria nos arts. 325 e
seguintes quando aduziu que:

Artigo 325 – No caso de dissolução da sociedade conjugal por desquite amigável,


observar-se-á o que os cônjuges acordarem sobre a guarda dos filhos. Artigo 326 –
Sendo o desquite judicial, ficarão os filhos menores com o cônjuge innocente. §1° se
ambos forem culpados, a mãe terá direito de conservar em sua companhia as filhas,
emquanto, menores, e os filhos até a edade de seis annos. §2° os filhos maiores de
seis annos serão entregues à guarda do pae. Artigo 327 – Havendo motivos graves,
poderá o juiz, em qualquer caso, a bem dos filhos, regular de maneira diferente da
estabelecida nos artigos anteriores a situação delles para com os pais [...]. 3

Pode-se sustentar, portanto, que o interesse do Estado em priorizar o bem-estar do


menor, ou seja, dar condições para que a criança/adolescente tenha um desenvolvimento

1
DE PLÁCIDO, e Silva. Vocabulário jurídico. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p.365-366.
2
BRASIL. Câmara dos Deputados. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/internet/infdoc/novoconteudo/legislacao/republica/leis1890_jan_fev/pdf19.pdf. Acesso em: 19
jun. 2008.
3
BRASIL. Câmara dos Deputados. <http://www.camara.gov.br/internet/infdoc/novoconteudo/legislacao/republica/leis-
1916-vI- 519p/leis1916a.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2008.
35

sadio, já é consagrado no ordenamento pátrio desde o Decreto nº 181, de 1890, e


explicitamente no artigo 327 do Código Civil de 1916, em sua redação original.

O Decreto-lei nº 3.200/41 dispõe acerca do poder familiar e implicitamente da guarda


de menores em seu artigo 16, que diz: “O pátrio poder será exercido por quem primeiro
reconheceu o filho, salvo destituição nos casos previstos em lei.” 4

O Decreto-lei nº 9.701/46 disciplina, em seu artigo 1°, que “no desquite judicial a
guarda dos filhos menores, não entregues aos pais, era deferida a pessoa notoriamente idônea
da família do cônjuge inocente.”

Observa-se que o objetivo de garantir ao menor seu bem-estar é disciplinado na


legislação brasileira desde as primeiras legislações pátrias, deixando evidente, no Decreto-lei
nº 9.701/46, que o interesse do menor prepondera em relação aos dos seus pais.

A Lei nº 4.121/62, Estatuto da Mulher Casada, promoveu alterações na matéria relativa


à guarda dos menores e alterou novamente a legislação que regulamenta a guarda, porém sem
ter como principal observância o bem-estar do menor. O Estatuto da Mulher Casada
disciplina, em seu artigo 326, que:

Sendo desquite judicial, ficarão os filhos menores com o cônjuge inocente.§ 1º Se


ambos os cônjuges forem culpados ficarão em poder da mãe os filhos menores,
salvo se o juiz verificar que de tal solução possa advir prejuízo de ordem moral para
êles.§ 2º Verificado que não devem os filhos permanecer em poder da mãe nem do
pai deferirá o juiz a sua guarda a pessoa notòriamente idônea da família de qualquer
dos cônjuges ainda que não mantenha relações sociais com o outro a quem,
entretanto, será assegurado o direito de visita.

A Lei nº 5.582/70 alterou o artigo 16 do Decreto-lei nº 3.200/41 e deu uma nova


redação, a qual disciplina que: “Art. 16. O filho natural enquanto menor ficará sob o poder do
genitor que o reconheceu e, se ambos o reconheceram, sob o poder da mãe, salvo se de tal
solução advier prejuízo ao menor.”

A Lei nº 6.515/77, conhecida por Lei do Divórcio, disciplinou as normas que protegem
os filhos menores nos artigos 9° a 16. Dessa forma, alterou os artigos dispostos no Código
Civil de 1916 que disciplinavam a matéria. Assim sendo, a Lei do Divórcio, seguindo os
decretos-leis e leis anteriores, continuou observando e priorizando o bem-estar do menor
quando o assunto tratava de sua guarda.

4
BRASIL. Senado Federal. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/sicon/ExecutaPesquisaBasica.action>.
Acesso em: 19 jun. 2008.
36

A Constituição Federal de 1988 assegurou, no art. 227, que

é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,


com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligencia, discriminação,exploração, violência, crueldade e opressão.

Observou-se o princípio do maior interesse do menor, consagrado na Declaração


Universal dos Direitos da Criança 5 . O princípio VII dispõe que: “O interesse superior da
criança deverá ser o interesse diretor daqueles que têm a responsabilidade por sua educação e
orientação; tal responsabilidade incumbe, em primeira instância, a seus pais.”

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90, prioriza o bem-estar do menor


e disciplina, dentre outros pontos, acerca da guarda no caso de situação irregular, ou seja,
separado da família ou órfão.

O Código Civil de 2002 disciplina acerca da guarda dos filhos menores e confere aos
pais a mesma igualdade de condições de pleitear e exercer a guarda dos mesmos, sendo
observado sempre o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, que é principio
norteador na fixação da guarda de menores.

Recentemente, entrou em vigor a Lei nº 11.698/2008 que estabeleceu de forma explícita


a possibilidade de adoção da guarda compartilhada por pais separados no Brasil. Referida lei
alterou os artigos 1.583 e 1.584 do Código Civil.

Assim, o artigo 1.583 Código Civil passa a dispor que: “A guarda será unilateral ou
compartilhada.” A redação original do Código Civil disciplinava, em seu artigo 1.583, a
instituição da guarda dos filhos no caso de rupturas conjugais amigáveis, diferentemente da
nova redação, que utilizou o caput do artigo 1.583, para estabelecer as duas formas de guarda
que poderão ser utilizadas de acordo com o ordenamento jurídico brasileiro.

Pode-se concluir que as outras modalidades de guarda exercidas pelos pais, como
aninhamento ou nidação e guarda alternada, não poderão ser adotadas, pois a lei é taxativa no
que se refere à guarda exercida pelos pais, assinalando que somente poderá ser a unilateral ou
a compartilhada.

5
A Declaração Universal dos Direitos da Criança foi adotada pela assembléia das nações unidas em 20 de
novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil.
37

2.2 Exercício da guarda

A guarda dos filhos menores tanto na vigência do casamento de seus pais, nos casos de
separação e divórcio consensual, separação de corpos, separação e divórcio litigioso,
separação apenas de fato, guarda de filhos na durante a união estável dos pais, guarda
disciplinada no Estatuto da criança e do adolescente e a guarda instituída nos casos de
invalidade do casamento, deverá sempre observar o bem-estar do filho menor como condição
especial para a se deferir a guarda a um ou ambos os pais.

2.2.1 Guarda na vigência do casamento

A guarda dos filhos menores durante a vigência do casamento pertence a ambos os


genitores. Durante o casamento, os dois exercem em igualdade de condições todos direitos e
deveres relativos ao poder familiar e, conseqüentemente, à guarda dos filhos menores.

Ocorrendo a falta ou o impedimento de um dos genitores de exercer o poder familiar,


caberá ao outro exercer com inteira exclusividade. Se houver qualquer tipo de divergência
entre os genitores quanto a educação, moradia etc., antes de se entrar com ação judicial, é
valido o diálogo entre as partes, por meio da utilização da mediação familiar, para que o
conflito seja resolvido de uma forma menos dolorosa e prejudicial não só para o menor como
para os pais.

2.2.2 Guarda na separação e no divórcio consensual

A redação original do art. 1.583 do Código Civil disciplinava, in verbis: “No caso de
dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal pela separação judicial por mútuo
consentimento ou pelo divórcio consensual, observar-se-á o que os cônjuges acordarem sobre
a guarda dos filhos”. Após a recente mudança ocorrida com a entrada em vigor da Lei nº
11.698/08 que alterou os artigos 1583 e 1584 do Código Civil, a matéria ficou disciplinada no
inciso I do artigo 1.584 do Código Civil que dispõe: “A guarda, unilateral ou compartilhada,
poderá ser: I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação
autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar.”

A fixação da guarda dos filhos menores na separação consensual e no divórcio


consensual é acordada pelos genitores e posta como cláusula na petição inicial de separação,
38

pois na maioria dos casos não há ninguém melhor habilitado do que os pais para saber quem
atenderá mais aos interesses do menor.

Assim, a principal inovação do inciso I do artigo 1.584 consiste em deixar explícita, no


Código Civil brasileiro, a possibilidade legal de se adotar a guarda compartilhada. Quanto a
ser definida a guarda dos filhos menores através de acordo em ações de separação, divórcio, já
era disciplinada no artigo 1.583, caput, em sua redação original. Referido inciso acrescentou a
questão da decisão da guarda nas ações de dissolução de união estável que já era utilizada
antes. Arnaldo Rizzardo argumenta que

com a separação amigável, os pais decidem com quem permanecerão os filhos.


Decidem quanto à sua vida, não raramente sem enfrentar as preferências e as
necessidades. Por acordo entre eles, deslocam-se os filhos de uma convivência para
outra. Inspiram a decisão não propriamente os interessados destes últimos, e sim os
cônjuges. Ajeitam-se interesses e conveniências pessoais, para levar a bom termo a
separação, sem pensar na pessoa do filho. E mais ao juiz nem é dado o poder para
decidir contrariamente, a menos que salte às claras às inconveniências da guarda por
um cônjuge desprovido de condições e qualidades. 6

Na realidade, “salvo distorções - sempre passíveis de correção, por via judicial - a


conveniência dos critérios de guarda dos filhos é sempre mais bem entrevista pelos pais, que
por pessoas distantes do problema familiar.” 7

Assim sendo, a instituição da guarda deve ter como alvo os interesses do menor, tanto
que as disposições sobre guarda de menores não transitam em julgado 8 , pois havendo
qualquer mudança que passe a prejudicar os interesses do menor a sua guarda poderá ser
revista.

Na separação consensual, quando as partes acordam sobre a guarda de seus filhos, é


importante mencionar que o genitor que não detém a guarda sobre a prole não importará a
renúncia, suspensão ou perda do poder familiar em relação aos mesmos.

O Código de Processo Civil regulamenta a ação de separação consensual no art. 1.121 e


ss. e dispõe que é necessária a cláusula relativa à guarda dos filhos como requisito para a
homologação da separação.
6
RIZZARDO, Arnaldo, op. cit., 2004, p.265
7
SÃO PAULO. 3ª Câmara do TJSP, 26.03.1980, ap 288-222.
8
CIVIL – FAMÍLIA – APELAÇÃO – MODIFICAÇÃO DE CLÁUSULA – ACORDO JUDICIAL EM
SEPARAÇÃO CONSENSUAL – INVERSÃO DE GUARDA – IMPOSSIBILIDADE – I- Os elementos de
convicção contidos nos autos revelam que as crianças estão sendo bem tratadas por seu genitor. Portanto, não
há motivo para inverter a guarda dos filhos comuns das partes. II - Recurso improvido. Unânime. (DISTRITO
FEDERAL. TJDFT – APC 20000310100887 – 1ª T.Cív. – Rel. Des. José Divino de Oliveira. DJU 04.11.2004
– p. 19).
39

Conclui-se que o juiz não está obrigado a homologar o acordo relativo à guarda dos
filhos, se verificar que não atende aos interesses dos mesmos. Portanto, em regra, a guarda
dos filhos menores será a acordada entre os genitores, desde que em prol dos interesses dos
menores.

2.2.3 Guarda na separação litigiosa e no divórcio litigioso

A guarda de menores decorrente da separação litigiosa dos pais é um assunto dos mais
melindrosos e delicados do processo judicial, visto que o ideal seria que os próprios pais
resolvessem sozinhos, sem que precisassem da intervenção da autoridade judicial. Quando
esgotados os esforços dos pais no sentido de solucionar o problema da guarda, recorreriam às
vias judiciárias.Verônica Ferreira afirma que

as separações legais, apesar do alivio imediato, costumam trazer muito sofrimento


para o casal e sua família, além de não proporcionarem nenhum entendimento do
que se passou e prepararem terreno para novos desastres. Isso porque são precedidos
de afastamento afetivo, do divorcio emocional, o que gera sofrimento, uma vez que,
em nossa cultura, os motivos que levam ao casamento são, acentuadamente, de
ordem sentimental. 9

A guarda dos filhos na separação litigiosa é a questão que gera maior discórdia entre os
cônjuges, pois ambos estão abalados emocionalmente com a separação e, geralmente, os dois
querem ter os seus filhos sob sua proteção.

No caso de separação litigiosa 10 , a guarda será concedida a quem tiver na época


melhores condições de exercê-la 11 . Entende-se por melhores condições não a econômica, mas
psicológicas e morais, e que demonstrar um vínculo de afinidade maior com o filho. Observa-
se também que a expressão “melhores condições” constitui cláusula geral, uma brecha
deixada pelo legislador para ser preenchida pelo aplicador do direito, dependendo do caso
concreto. Washington de B. Monteiro afirma que:

[...] a expressão condições utilizada nesse dispositivo não está seguida de qualquer
adjetivo, de modo que sua compreensão deve ser ampla, levando em conta aspectos
morais, educacionais e ambientais, dentre outros que tenham em vista o melhor

9
FERREIRA, Verônica A. da Motta Cezar. Família, separação e mediação – uma visão psicojurídica. São
Paulo: Método, 2004, p.59.
10
Artigo 1584 do Código Civil dispõe que “decretada a separação judicial ou divórcio, sem que haja entre as
partes acordo quanto à guarda dos filhos, será ela atribuída a quem revelar melhores condições para exercê-la.”
11
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE SEPARAÇÃO LITIGIOSA – RECURSO INTERPOSTO CONTRA
DETERMINAÇÃO DA GUARDA DA FILHA DO CASAL – A guarda dos filhos será atribuída à parte que
revelar melhores condições de exercê-la. Inteligência do art. 1.584 do CC recurso improvido. (BAHIA. TJBA
– AC 15841-5/99 – (67.783) – 3ª C.Cív. – Rel. Des. Manoel Moreira – J. 17.06.2003) JCCB. 1584.
40

atendimento aos interesses do menor, sem que fique adstrita à situação econômica
ou financeira dos seus genitores. 12

A legislação civil atual leva em consideração, para determinar a guarda, os laços de


afinidade e de afetividade na fixação da guarda dos filhos menores. Este é o melhor critério
para tal determinação, pois os interesses dos filhos não podem ser atrelados à culpa de
qualquer dos pais na dissolução da sociedade conjugal.

A preocupação do juiz não poderá cingir-se, apenas, à controvérsia entre os litigantes,


mas deverá se ater, especialmente, ao bem-estar do filho menor ou incapaz, de forma que os
seus interesses se sobreponham aos interesses de seus pais. Para uma solução mais correta e
justa, o juiz poderá valer-se, inclusive, de equipes interprofissionais na elaboração de laudos
psicológicos e sociais. 13

Mesmo na separação litigiosa, a questão relativa à guarda dos filhos menores deveria ser
tratada com um cuidado diferencial, visando à rápida solução do conflito e atendendo aos
anseios do menor. O diálogo, através da mediação familiar, serviria para diminuir o
sofrimento desses menores, pois os pais, entrando em acordo quanto aos interesses dos filhos,
não passariam para as crianças expectativas ruins, mágoas, raivas, tristezas, dentre outros
sentimentos que prejudicariam o desenvolvimento sadio da criança ou adolescente. Referido
tópico será abordado de forma mais aprofundada adiante. Se o juiz verificar que o menor não
terá seus interesses atendidos na companhia do pai ou da mãe, poderá a autoridade judiciária,
com base no art. 1.584, parágrafo único, deferir a guarda à pessoa idônea, para o que será
levado em conta o grau de parentesco e afinidade dessa pessoa com o menor. Carlos Alberto
Bittar, em artigo sobre o assunto, afirma que:

O direito de guarda tem profundas implicações, pois é por meio dele que vai ser
conduzida a formação pessoal dos filhos. A estruturação e o desenvolvimento da
personalidade dos filhos vão estar assentados sobre esse vital direito. Daí a
necessidade de que o juiz somente defira a guarda dos filhos a pessoa que não o pai
ou a mãe, em último caso, atentando para as circunstâncias de fato que revelem a
inconveniência do deferimento desse direito a um dos ex-cônjuges. Mesmo que o
magistrado, na análise das circunstâncias do caso, decida pela conveniência de que a
guarda seja exercida por outra pessoa, é fundamental que ele utilize como balizas
para sua decisão o grau de parentesco e a relação de afinidade e afetividade do filho
com a pessoa à qual será deferida a guarda. 14

12
MONTEIRO, Washington de Barros, op. cit., 2004, v.2, p.286.
13
LEITE, Heloisa Maria Daltro (Coord.). O novo Código Civil: livro IV do direito de Família. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 2007, p.157.
14
BITTAR, Carlos Alberto. Separação e Divórcio no novo Código Civil. Júris Síntese, n. 53, p.23-35, maio/jun.
2005.
41

Conclui-se que o critério que irá orientar o juiz para deferir a guarda do menor a um dos
pais ou a terceiro deverá atender ao interesse e bem-estar do menor, que há de ter preferência
sobre os direitos ou prerrogativas dos pais.

2.2.4 Guarda na separação de fato

Entende-se por separação de fato a manifestação por parte dos cônjuges de não viverem
mais juntos e, assim, romperem com o vínculo conjugal sem qualquer intervenção do Poder
Judiciário. A guarda dos filhos menores, quando há separação de fato15 , não é especificamente
regulamentada pelo Código Civil. Deve-se utilizar o princípio do bem-estar dos filhos que
norteia o julgador ao deferir a guarda de menores nos casos previstos em lei. Quando há
discussão acerca da guarda, a jurisprudência tem se manifestado por manter o status quo 16 , ou
seja, a criança deverá permanecer com o genitor com quem atualmente mora até que seja
definida a questão da guarda na ação de separação. A jurisprudência, com base neste preceito,
admite que, pela ação de busca e apreensão, 17 um dos genitores possa reaver o filho que tem

15
2ª Câmara do TJSP: A guarda do filho menor pode existir sem o pátrio poder e sem prejuízo deste. Estando os
cônjuges separados de fato, deve ser mantida a situação existente ao se separarem (08.03.1977, RT 527/105).
16
AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE MENOR – LIMINAR – CASOS
EXCEPCIONAIS – DESNECESSIDADE – RECURSO IMPROVIDO – Agiu acertadamente o juiz ao ouvir o
ministério público, que opinou pelo indeferimento da tutela, por não haver motivos que justifiquem a
mudança, até a decisão definitiva, cuidando ainda de nomear uma psicóloga, com o objetivo de ouvir o menor,
a fim de convencer-se da necessidade de concessão da medida liminar de busca e apreensão do menor, desde
que, futuramente, a r. Medida poderia causar-lhe transtornos psíquicos. (BAHIA. TJBA – AI 15.827-3 –
(25.755) – 4ª C.Cív. – Relª Juíza Conv. Vilma Costa Veiga – J. 27.11.2002). AGRAVO DE
INSTRUMENTO – Ação cautelar de guarda provisória com pedido de busca e apreensão. Anulação da
sentença. Cerceamento de defesa. Retorno das partes ao status quo ante. Interesse dos menores. I. Anulada a r.
Sentença, restaura-se a liminar inicialmente concedida, que concedeu a guarda provisória dos menores em
favor da mãe. II. Considerados os interesses dos menores, especialmente o ano letivo que está no fim, e o fato
de que já mudaram de residência em virtude do ajuizamento da ação, é mais prudente que se mantenha a
situação atual até ulterior decisão, após a regular instrução do feito. III. Agravo de instrumento conhecido e
provido. Unânime. (DISTRITO FEDERAL. TJDFT – AGI 20060020091547 – 4ª T.Cív. – Relª Desª Vera
Andrighi. DJU 19.12.2006 – p. 113)
AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE GUARDA DE MENOR – DEFERIMENTO DA MEDIDA
LIMINAR – BUSCA E APREENSÃO – TRANSFERÊNCIA DA GUARDA PARA O PAI – Inexistência de
fundamento para a alteração da situação do menor que estava sob a guarda da mãe. Necessidade de
manutenção do status quo. Agravo provido. Não havendo nenhuma demonstração de que o menor, sob a
guarda da mãe, encontra-se em perigo material ou moral, cumpre manter o status quo ante, a fim de que não
seja o mesmo submetido a grandes alterações em sua realidade pessoal no curso do processo. (BAHIA. TJBA
– AI 34.726-4/2004 – (18.978) – 1ª C.Cív. – Relª Desª Maria da Purificação da Silva – J. 14.12.2005).
17
CAUTELAR – BUSCA E APREENSÃO DE MENOR – Presentes os elementos determinantes da tutela
cautelar, imperiosa a busca e apreensão. O fumus boni juris decorre da guarda do filho ter sido deferida ao pai,
sendo indevida e imotivada a retenção da criança pela genitora, e o periculum in mora está em que a
permanência dela na casa da genitora enseja situação de risco, seja pela notícia de que o companheiro dela está
respondendo a processo por abuso sexual, seja pela ausência à escola. Recurso provido. (RIO GRANDE DO
SUL. TJRS – AGI 0007284649 – 7ª C.Cív. – Rel. Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves – J.
10.12.2003). AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE MENOR –
Concessão de liminar com base na verossimilhança das alegações da autora e à luz dos documentos acostados
aos autos. Possibilidade. Preliminar de intempestividade do recurso rejeitada. Preliminar de nulidade do
42

sob sua guarda. Ressalta-se que é necessário que fique demonstrado nos autos da ação que o
menor não está tendo os seus interesses atendidos e que o genitor que detém a guarda não está
cumprindo com os seus deveres.

Esta medida é de caráter excepcional, porque o direito de ter os filhos sob sua guarda
cabe a ambos os pais, pois compete aos dois o exercício do poder familiar, sem qualquer tipo
de preferência. Portanto, será deferida a guarda a quem tiver melhores condições de ficar com
o menor.

2.2.5 Guarda na separação de corpos

O art. 1.585 do Código Civil dispõe, in verbis: “Em sede de medida cautelar de
separação de corpos, aplica-se quanto à guarda dos filhos as disposições do artigo
antecedente.”

O artigo antecedente a que o artigo 1.585 do Código Civil se refere foi alterado pela Lei
nº 11.698/08 que entrou em vigor no dia 16.6.2008, mas apesar de modificar a redação do
artigo não retirou que se não houver acordo entre as partes sobre a guarda dos filhos ficará
para aquele que revelar melhores condições. Agora fica ressaltado que sempre que possível
será instituída a guarda compartilhada. Caso não seja possível ficar a guarda dos filhos sob o
poder do pai ou da mãe, será dada a um terceiro, se assim for melhor para os interesses do
menor.

A ação cautelar de separação de corpos poderá dispor sobre a guarda provisória dos
filhos menores. Aliás, em pedido de separação de corpos, o juiz pode ordenar, mesmo de
ofício, que, durante o processo principal, a guarda dos filhos seja atribuída a este ou àquele
cônjuge. 18

processo por ausência de intervenção do ministério público rejeitada. Agravo a que se nega provimento.
Vislumbrando nos autos que a concessão da liminar de busca e apreensão de menor se baseou na
verossimilhança das alegações da autora, e que os documentos acostados demonstram que a criança foi
retirada do poder da mãe de forma abusiva/correta é a decisão liminar que fez retornar aquela ao convívio
desta. A preliminar de intempestividade do agravo deve ser rechaçada, se a agravada fez afirmações
equivocadas, havendo inexatidão na contagem do prazo. O prazo começa a correr a partir da juntada do
mandado regularmente cumprido “para o indeferimento liminar da petição de guarda, não é obrigatória a
prévia audiência do ministério público, bastando que seja intimado da sentença para assegurar a sua
intervenção no feito em que há interesse de menores”. (BAHIA. TJBA – AI 10.126-9/2005 – (18.966) – 1ª
C.Cív. – Rel. Des. Raimundo Antonio de Queiroz – J. 07.12.2005).
18
CAHALI, Yussef Said, op. cit., 1998, p.489.
43

Assim como na guarda resultante de separação de fato, na ação de separação de corpos,


a tendência jurisprudencial é manter a criança sob a guarda de quem a cria no momento atual,
salvo se houver motivos graves que justifiquem tal mudança. 19

Porém, sempre tendo em mente que o princípio que norteia o instituto da guarda será o
de preservar os interesses da pessoa do filho, este princípio é norte para qualquer questão em
que se discuta a guarda dos filhos menores.

2.2.6 Guarda de filho havido fora do casamento

O artigo 1.633 do Código Civil dispõe que “o filho, não reconhecido pelo pai, fica sob o
poder familiar exclusivo da mãe; se a mãe não for conhecida ou capaz de exercê-lo, dar-se-á
tutor ao menor.”

Assim, o filho reconhecido ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu, e se ambos
os genitores reconheceram o filho, será decidido entre eles qual dos dois deverá ter a guarda
da criança.

Caso não haja acordo entre os pais do menor, caberá ao Judiciário, com base no art.
1.612 do Código Civil, decidir quem tem melhores condições de atender 20 aos interesses do
menor e a este será deferida a guarda e ao outro genitor o direito de visita.

O filho não reconhecido por seu pai, e que tenha sua mãe desaparecida ou incapaz, terá
um tutor para cuidar do seu desenvolvimento e negócios.

2.2.7 Guarda na união estável

A união estável, com a Constituição Federal de 1988, passou a ser reconhecida como
entidade familiar. O ordenamento jurídico brasileiro dispõe que a união estável é a união entre

19
AGRAVO DE INSTRUMENTO – ALTERAÇÃO DE GUARDA PROVISÓRIA DE FILHO MENOR –
PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO INFANTE – GUARDA A FAVOR DA MÃE – AUSÊNCIA DE
REQUISITOS LEGAIS QUE AUTORIZEM A REVOGAÇÃO DA MEDIDA – RECURSO IMPROVIDO – I
- Medida cautelar de separação de corpos cumulada com manutenção de guarda de filho menor. Impugnação
do decisum que reconsidera parcialmente a concessão de liminar, conferindo a guarda à mãe. Ausência dos
requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora que ensejassem a alteração da medida. Manutenção da
decisão. II - Recurso improvido. (MARANHÃO. TJMA – AI 22937/2003 – (49.490/2004) – São Luís – 2ª
C.Cív. – Rel. Des. Antônio Guerreiro Júnior – J. 04.05.2004).
20
O Enunciado 102, do Conselho da Justiça Federal, aprovado na I jornada de Direito Civil prevê que a
expressão “melhores condições” no exercício da guarda significa atender ao melhor interesse da criança.
44

homem e mulher que tem relação pública, contínua e duradoura, a qual é estabelecida com o
intuito de constituir uma família.

A primeira lei que regulamentou a norma constitucional que trata da união estável foi a
Lei n° 8.971, de 29 de dezembro de 1994, que definiu como companheiros a mulher e o
homem que mantenham união comprovada, na qualidade de solteiros, separados
judicialmente, divorciados ou viúvos, por mais de cinco anos ou com prole.

A Lei nº 9.278, de 10 de maio de 1996, alterou a lei de 1994 e disciplinou, no seu artigo
1°, que a entidade familiar é considerada como convivência duradoura, pública e contínua, de
um homem e de uma mulher, estabelecida com o objetivo de constituição de família. Passou
também a usar a expressão conviventes em vez de companheiros.

O Novo Código Civil disciplina sobre a união estável no art. 1.723 e seguintes. O artigo
1.723 dispõe que “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre homem e
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família.”

Foram conferidas aos companheiros as mesmas obrigações que o Código Civil atribuiu
aos cônjuges, dentre as quais estão a de guarda, sustento e educação dos filhos. Atualmente,
não há mais nenhum tipo de discriminação em relação às pessoas que vivem em união estável
e aos filhos gerados dessa união.

Portanto, cabe a ambos os companheiros o direito de ter a guarda de seus filhos


enquanto estiverem vivendo em união estável. Havendo ruptura entre os genitores e não
existindo acordo, através de um diálogo aberto, eles próprios decidirão a quem caberá a
guarda dos filhos menores. Será decido da mesma forma da separação, observando sempre
que o interesse do menor é que prevalecerá.

2.2.8 Guarda no caso de invalidade do casamento

O casamento inválido é aquele decretado como nulo, nos termos do art. 1.548 do
Código Civil, ou anulado, de acordo com o art. 1.550.

Preceitua o art. 1.587 do Código Civil, in verbis: “No caso de invalidade do casamento,
havendo filhos comuns, observar-se-á o disposto nos arts. 1.584 e 1.586”. Diante do
determinado no art. 1.587, e o observado nos artigo 1584 e 1586, a guarda dos filhos será
45

concedida ao genitor que demonstrar melhores condições de atender aos interesses dos filhos.
Caso não seja possível conferir a guarda a nenhum dos pais, o Judiciário estabelecerá de
maneira diferente a guarda dos menores.

Não só no caso de invalidade do casamento, como em qualquer outra modalidade de


guarda estabelecida pelo Direito de Família, a guarda de menores poderá ser instituída através
da mediação familiar.

2.2.9 A guarda no Estatuto da Criança e do Adolescente

A guarda, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é aquela concedida à criança


ou ao adolescente que, por abandono dos genitores ou porque ficaram órfãos, necessitam de
colocação em família substituta.

A guarda regida pelo Estatuto diz respeito ao “menor em situação irregular”, isto é,
separado da família, por morte ou por abandono dos pais, e o Estado necessita, como primeira
providência, ampará-lo. A colocação em família substituta corresponde, na atualidade, a uma
medida de proteção, aplicada quando se mostrar inviável a manutenção da criança ou
adolescente junto à família natural.

O instituto da guarda está regulamentado nos arts. 33 a 35 do ECA. O art. 33 disciplina,


in verbis: “a guarda obriga à prestação material, moral e educacional à criança ou adolescente,
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiro, inclusive aos pais.”

O caput do art. 33 e seus parágrafos estabelecem como prioridade da instituição da


guarda a colocação da criança ou adolescente na condição de dependente do guardião, para
todos os fins e efeitos do direito brasileiro.

Diante do exposto, não se pode deixar de lembrar que o art. 32 preceitua que o guardião
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo, mediante termo de
compromisso nos autos do processo. Após prestar compromisso, o guardião receberá um
termo de guarda e responsabilidade, documento que comprova perante terceiros sua condição
de responsável legal pela criança ou adolescente.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não delimita quem poderá ser o guardião,


portanto, qualquer pessoa, parente ou não, poderá assumir o munus da guarda do menor.
Porém, é necessário observar que, de acordo com o art. 29 do Estatuto, não poderá assumir a
46

guarda de um menor a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a
natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.

O guardião exercerá algumas funções que são inerentes ao poder familiar. Esta
prerrogativa é transferida ao guardião, visto que cabe a ele proporcionar a criação e a
educação do menor, porém não poderá nunca abusar da condição de guardião, pois qualquer
abuso acarretará conseqüências penal e civil.

Discute-se muito se é possível o deferimento de guarda de menor com o intuito


exclusivo de fins previdenciários, ou seja, apenas para proporcionar a criança ou adolescente
que, sendo dependente do guardião, possa usufruir eventualmente de benefícios
previdenciários ou de assistência medica, sem que realmente esteja ao lado do guardião, para
que este último possa prestar ao menor assistência material, moral e educacional.

O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou acerca da discussão e decidiu da


seguinte forma no Recurso Especial nº 82474, Rio de Janeiro (95.66377-5)-253, julgado em
17 de junho de 1997, relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, com a seguinte
ementa:

Guarda de menor pela avó. Fins previdenciários. Desvio de Finalidade. Precedente


da Corte. 1 – Na esteira de precedente da corte, a ‘conveniência de garantir
benefícios previdenciário ao neto não caracteriza a situação excepcional que
justifica, nos termos do ECA (art. 33 § 2°), o deferimento de guarda à avó’. 2 –
Recurso conhecido e improvido.

Havendo demonstração de que o menor estava sob a guarda de terceiro não apenas com
o intuito de benefícios previdenciários, a 5ª turma do STJ no AgRg no RESP 684077/RJ;
Agravo Regimental no Recurso Especial 2004/0141342-7, julgado em 14/12/2004, relator
Gilson Dipp, decidiu da seguinte forma:

PREVIDENCIÁRIO. MENOR SOB GUARDA. § 2º, ART. 16 DA LEI 8.231/91.


EQUIPARAÇÃO À FILHO. FINS PREVIDENCIÁRIOS. LEI 9.528/97. ROL DE
DEPENDÊNCIA. EXCLUSÃO. PROTEÇÃO AO MENOR. ART. 33, § 3º DA LEI
8.069/90. ECA. GUARDA E DEPENDÊNCIA ECONÔMICA COMPROVAÇÃO.
BENEFÍCIO. CONCESSÃO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ.
AGRAVOINTERNO DESPROVIDO. I - A redação anterior do § 2º do art. 16 da
Lei 8.213/91 equiparava o menor sob guarda judicial ao filho para efeito de
dependência perante o Regime Geral de Previdência Social. No entanto, a Lei
9.528/97 modificou o referido dispositivo legal, excluindo do rol do art. 16 e
parágrafos esse tipo de dependente. II - Todavia, a questão merece ser analisada à
luz da legislação de proteção ao menor. III - Neste contexto, a Lei 8.069/90 -
Estatuto da Criança e do Adolescente - prevê, em seu art. 33, § 3º, que: ‘a guarda
confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e
efeitos de direito, inclusive previdenciário’. IV - Desta forma, restando comprovada
a guarda deve ser garantido o benefício para quem dependa economicamente do
47

instituidor, como ocorre na hipótese dos autos. Precedentes do STJ. V - Agravo


interno desprovido.

Assim sendo, observa-se que não é aceito pela jurisprudência pátria burlar a lei, ou seja,
deferir a guarda de um menor para determinada pessoa apenas para a criança ou adolescente
usufruir auxílio previdenciário sem ser verdadeiramente dependente do guardião. Portanto, se
a criança ou o adolescente for realmente dependente para todos os fins de direito do guardião,
baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente, que lhe seja concedido o benefício
previdenciário.

Quanto ao dever de prestar alimentos, os pais, mesmo que seus filhos estejam sob a
guarda de terceiros, devem fornecer a eles alimentos, pois o direito de sustento decorre do
poder familiar, e não é dado aos pais o direito de não fornecer alimentos para os filhos que
não estejam sob sua proteção.

Ressalta-se que, mesmo que tenha sido decretada suspensão ou perda do poder familiar,
os pais continuarão tendo o dever de prestar alimentos aos filhos menores que estão sob a
guarda de terceiros ou colocados em instituições. Somente cessará o dever de sustento por
parte dos pais biológicos quando houver a adoção do filho.

Por fim, quanto à revogação da guarda regulada pelo Estatuto da Criança e do


Adolescente, poderá ser revogada a qualquer tempo mediante ato judicial fundamentado,
desde que o Ministério Público seja ouvido. A revogação da guarda poderá ser dada por
vários motivos e nem sempre está ligada à conduta e desempenho da função de guardião. A
revogação poderá ser decorrente de falta superveniente de condições econômicas do guardião,
em conseqüência do desaparecimento das causas que levaram o juiz a conceder a retirada
provisória da guarda dos pais, dentre outros motivos relevantes. Assim, estas considerações
acima expostas dão uma visão geral do instituto da guarda disciplinado pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente.

2.3 A importância do estudo social para o deferimento da guarda

O estudo social realizado nos casos que envolvem menores é muito importante, pois é
um dado a mais para embasar o intérprete do Direito que analisa a guarda do menor.

Através do estudo social, o juiz pode conhecer as condições de moradia, educação, lazer
etc. que cada genitor dá ao filho menor. Esse estudo é realizado por meio de assistentes
48

sociais qualificadas que, ao se dirigir à casa de cada genitor, procura averiguar os mínimos
detalhes que possam ser úteis para fornecer ao juízo um relatório bem detalhado e justo.

Vige no ordenamento jurídico brasileiro o princípio da máxima proteção à criança e ao


adolescente. Assim, demonstrado por estudo social e outros meios probatórios, que o
deferimento da guarda a determinado pai, que atende mais aos interesses do menor, será
adequada a decisão judicial, pois atenderá ao princípio exposto acima. Yussef Said Cahali
afirma que

nas questões relativas à guarda ou destinação a ser dada a menores, quando


conscienciosamente elaborada por pessoa esclarecida, constitui a pesquisa social um
dos mais decisivos elementos de convicção ao alcance do juiz; sua efetivação, a
requerimento ou por determinação de ofício (e mesmo em segredo de justiça, se
necessário ou conveniente), é prática que convém ser generalizada, até tornar-se
providência de rotina. O estudo social realizado antes ou no curso da ação que
envolve a guarda de menor poderá fornecer elementos mais precisos da real situação
do menor e de seus genitores, de modo a possibilitar ao juiz da causa uma opção
segura quanto à atribuição da guarda. 21

O estudo social se dá através da visita da assistência social nas residências dos dois
genitores. A assistente social deverá analisar a moradia e especificar em seu relatório o
número de cômodos, estado da casa, tamanho, etc. Analisará também, com base em conversa
com cada genitor, a atividade de trabalho de cada um, que horas tem disponibilidade para
ficar com a criança, quem cuida do menor, quais as atividades que praticam juntos, o que
acham importante para a criança ter uma vida saudável. Também é questionado pela
assistente social se o genitor tem algum vício, usa drogas, ingere bebidas alcoólicas, fuma, e
se leva a criança a bares, casas noturnas, boates etc.

A assistente social conversa ainda com o menor e com todas as outras pessoas que
residem na casa e, se for o caso, entrevista alguns vizinhos acerca da relação entre o genitor e
o menor.

Os Tribunais ressaltam o valor do estudo social ao decidir acerca da guarda de


menores 22 . No Brasil, vem-se decidindo acerca do estudo social e de sua importância para a
instituição da guarda de menores.

21
CAHALI, Yussef Said. Divórcio e separação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p.922.
22
BUSCA E APREENSÃO – MENOR – Estudos sociais e psicológicos concluíram que a menor deve
permanecer com os familiares do genitor respeitado o direito de visita da avó materna – Recurso provido para
esse fim. (SÃO PAULO. TJSP – AC 028.859-4 – Araçatuba – 3ª CDPriv. – Rel. Des. Mattos Faria – J.
08.04.1997 – v.u.). AGRAVO – REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS – MENOR COM TRÊS ANOS DE
IDADE – DECISÃO QUE PERMITE PERNOITAR FORA DO LAR – APOIO EM ESTUDO SOCIAL –
49

O estudo social apresenta-se como mais uma opção para o juiz durante a instrução
processual em ações de guarda de filhos. Como não é obrigatório, o indeferimento do pedido
de efetivação do estudo social, feito pela parte, não caracteriza cerceamento de defesa. Uma
vez determinada sua realização, caberá ao magistrado analisar seu conteúdo com atenção,
filtrando as informações relevantes e subtraindo influências dispensáveis. 23

Assim sendo, o estudo social é de grande importância para obter as informações


relativas à situação do menor e de seus pais. A partir do estudo, o juiz fica seguro para tomar a
decisão que mais atenda aos interesses do menor. O Judiciário não está adstrito ao parecer da
assistência social, porém terá no estudo social mais uma fonte para a sua fundamentação
acerca da guarda do menor.

2.4 Obrigações e direitos dos genitores

Os genitores do menor terão obrigações e direitos diversos dependendo de possuírem ou


não o menor sob sua guarda. O genitor guardião terá algumas obrigações próprias que não são
dadas ao genitor não guardião, como será exposto a seguir.

O parágrafo 4º do artigo 1.584 disciplina acerca das obrigações dos genitores quanto ao
cumprimento do exercício da guarda ou de visita. Dispõe o referido parágrafo que: “A
alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de guarda, unilateral ou
compartilhada, poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor,
inclusive quanto ao número de horas de convivência com o filho.

DECISÃO MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO – Escorreita a decisão que defere regulamentação de


visitas do menor com três anos de idade, em favor de seu genitor, permitindo que pernoite fora do lar de sua
mãe, sobretudo quando apoiado em prévio estudo social, considerando que o infante não é pessoa
estranha ao seu pai. (MATO GROSSO DO SUL. TJMS – AG 63.511-8 – Campo Grande – 1ª T.Cív. – Rel.
Des. Hildebrando Coelho Neto – J. 06.04.1999) (grifou-se). APELAÇÃO CÍVEL – GUARDA DE FILHOS –
PAI QUE RESPONDE A PROCESSOS CRIMINAIS – GENITOR QUE, NÃO OBSTANTE, APRESENTA
CONDIÇÕES MAIS FAVORÁVEIS QUE A MÃE PARA TER A GUARDA DOS FILHOS COMUNS –
PAI CARINHOSO E GENITORA POUCO ATENTA COM AS NECESSIDADES DOS FILHOS – ESTUDO
SOCIAL QUE REVELA QUE AS CRIANÇAS FICAM EM MELHORES CONDIÇÕES NA COMPANHIA
DO PAI E AVÓ PATERNA – GUARDA CONFERIDA AO PAI QUE SE MANTÉM – RECURSO A QUE
SE NEGA PROVIMENTO – Quando se decide sobre guarda de menores, busca-se, precipuamente, preservar
os interesses destes, e cabe, pois, deferi-la ao pai, ainda que responda a processos criminais, se os depoimentos
colhidos e o estudo social realizado revelarem que em sua companhia os filhos estão em melhores
condições do que em poder da mãe, sob influência de quem adoecem com freqüência e rendem pouco
nos estudos. (MATO GROSSO DO SUL. TJMS – AC 2002.009937-6/0000-00 – Coxim – 1ª T.Cív. – Rel.
Des. Jorge Eustácio da Silva Frias – J. 09.03.2004).
23
MARQUEZ, Laura Borges do Nascimento Afonso. Guarda de filhos. Revista Jurídica da Cesut, São Paulo,
ano 4, n. 6, 2° semestre, 2003, p.14.
50

O parágrafo em análise é novo no ordenamento jurídico brasileiro e deverá ser visto


com bastante cautela pelo operador do direito, pois penalizar o genitor que descumpriu uma
cláusula da guarda com restrições de horas de convivência com o filho ou ainda redução de
suas prerrogativas no caso concreto, será um pouco complicado quanto à execução.

Seria descumprimento de cláusula entregar o filho às 18 horas se o que estava acordado


seria às 17 horas? Seria descumprimento pegar o menor na escola para almoçar às terças-
feiras, se o seu dia era às quartas-feiras? Questões como essas levariam o Judiciário a punir o
genitor que apenas queria passar mais um tempo com filho, sem que isso, a priori, não
atrapalhasse em nada sua rotina. Após a entrada em vigor da Lei nº 11.698/08, poder-se-á
analisar com mais embasamento o posicionamento da doutrina especializada e dos tribunais.

Atualmente, já há punições penais e civis nos casos de maus tratos, abandono moral e
material do menor etc., todos com conseqüências tipificadas no ordenamento, diferentemente
do parágrafo em análise, que deixou a critério do Judiciário o que seria o descumprimento
injustificado de cláusula de guarda.

Assim sendo, ainda é cedo para se manifestar sobre as conseqüências da referida norma,
pois a doutrina e os tribunais ainda não tiveram oportunidade para analisar o parágrafo.

2.4.1 Obrigações do genitor guardião

Guarda é o direito de reter o filho junto a si e de fixar-lhe a residência, levando implícita


a convivência cotidiana com o menor. Compete ao pai guardião, dentre outras atribuições, a
de escolher a residência do menor, velar e proteger o filho, educar e sustentá-lo 24 .

As obrigações de velar, proteger e educar o filho já foram analisadas no capítulo


referente ao poder familiar.

2.4.2 Responsabilidade civil

O genitor, de acordo com a legislação civil, é responsável civilmente pelos atos


praticados por seus filhos que estejam sob sua guarda, mesmo que não haja culpa por sua
parte. O art. 932 do Código Civil brasileiro dispõe, in verbis: “São também responsáveis pela
reparação civil: I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
24
GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda compartilhada: um novo modelo de responsabilidade parental. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p.94.
51

companhia.” De acordo com o Código Civil, a pessoa que causar dano a outra será obrigada a
reparar o prejuízo causado. Os responsáveis pela reparação civil do dano causado pelo
menor 25 são do genitor a quem incumbia legalmente a sua vigilância.

Segundo Caio Mario da Silva Pereira, trata-se de responsabilidade que resulta da


presunção de culpa dos pais, pelos atos dos filhos, e complementa ao afirmar que: “É um
complemento do dever de educar os filhos e manter vigilância sobre os mesmos. Não há
mister prove a vítima a falta de vigilância, nem se exime o pai com a alegação de que não
faltou com ela e com a educação. A responsabilidade assenta na presunção de culpa.”26

O fundamento legal para responsabilizar o genitor é a falta de vigilância que deriva para
a culpa in vigilando. É próprio da guarda o dever de vigiar os filhos, portanto, somente será
responsável civilmente o genitor que detém a guarda. Porém, não é justo que o genitor
guardião não possa se eximir de responder civilmente e poderá provar a inexistência de
dependência material, não ter cometido nenhuma falha na criação ou educação do filho, ou
ainda alegar caso fortuito e força maior, ou ainda culpa de um terceiro. Observa-se também
que se o menor estiver sob a companhia do genitor não guardião será dele a responsabilidade
sobre os atos cometidos pelo filho menor.

Na modalidade guarda compartilhada, o pai e a mãe serão solidariamente responsáveis,


pois as decisões relativas ao filho menor são tomadas em comum, ou seja, ambos os genitores
exercem efetivamente o poder familiar. E se o menor cometer algum ato danoso, a presunção
é de responsabilidade solidária dos genitores.

2.4.3 Direitos e deveres do genitor não guardião

O genitor não guardião além do direito de conviver com seu filho, que é feito através do
direito de visitas também terá alguns deveres como dever de fiscalização da vida do filho
menor e o dever de prestar alimentos. Tanto os direitos como os deveres do genitor não
guardião serão analisados a seguir.

25
RESPONSABILIDADE CIVIL – Acidente de trânsito. Menor de idade. Tutela antecipada. Atendimento aos
pressupostos legais. Pais separados. Responsabilidade atribuída ao cônjuge que ficou com a guarda do
filho menor tido como causador do evento. Pedido de exclusão do pagamento pelo ex-marido.
Admissibilidade. Recurso parcialmente provido (SÃO PAULO. TJSP – AI 1.061.396-0/9 – Mairinque – 26ª
CDPriv. – Rel. Des. Norival Oliva – J. 27.11.2006).
26
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p.89.
52

2.4.4 Direito de visita

O direito de visita é fundamentado na necessidade de cultivar o afeto, de firmar vínculos


familiares, na subsistência real, efetiva e eficaz. 27

Os direitos e deveres do genitor não guardião estão disciplinados no art. 1.589 do


Código Civil que dispõe, in verbis: “O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos,
poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou
for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação.”

Ao ser homologado o acordo relativo à guarda dos filhos menores, é necessário que
também seja decidido a respeito das visitas 28 , pois cabe ao genitor não guardião o direito de
visitar seus filhos. Caso a guarda seja determinada pelo Judiciário, é dever do juiz fixar os
horários e dias para as visitas.

É importante que se entenda que o direito de visitas não é sagrado, absoluto e


inquestionável, porque o que tem que ser observado é o interesse do menor. Se por algum
motivo grave o genitor visitante não atende aos interesses do mesmo, poderá ser tolhido do
seu direito de visitas. São motivos considerados graves: maus tratos, levar criança a lugar
nocivo a ela, expor a criança a alguma moléstia grave contagiosa e outros motivos relevantes.

Os motivos que justificam a retirada, mesmo que temporária, do direito de visitas


necessitam ser excepcionais e comprovados 29 , pois o impedimento do pai ou da mãe de visitar

27
GRISARD FILHO, Waldyr, op. cit., 2002, p.98.
28
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO DE REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS – PREVALÊNCIA DOS
INTERESSES DO MENOR – Ausência de elemento que desabone a conduta do genitor não guardião - Ofensa
ao contraditório - Inocorrência. I - É cediço que entre os direitos expressamente assegurados à criança se
inclui o da convivência com os pais (art. 19 da Lei nº 8.069/90), o que ocorre mediante visitas por aquele
que não detém a guarda do menor, no caso de se encontrarem separados (art. 15 da Lei nº 6.515/77); II -
Não se vislumbrando nos presentes autos qualquer elemento que desabone a conduta do genitor, não se pode
decotar o direito do filho de conviver com o genitor não guardião, assegurando o desenvolvimento de um
vínculo afetivo saudável entre ambos, devendo ser resguardado sempre o melhor interesse da criança, que está
acima da conveniência dos pais; III - Cuidando-se a decisão fustigada de reconsideração de tutela antecipada,
pode a mesma ser proferida inaudita altera parte quando a urgência indicar a necessidade de concessão
imediata da tutela, o que não constitui ofensa, mas sim limitação imanente do contraditório, que fica diferido
para momento posterior do procedimento, como se efetivou no caso em apreço; IV - Recurso conhecido e
desprovido. (SERGIPE. TJSE – AI 0943/2007 – (Proc. 2007209260) – (20077426) – 2ª C.Cív. – Relª Desª
Marilza Maynard Salgado de Carvalho – J. 16.10.2007).
29
DIREITO DE VISITAS – PAI – ABUSO SEXUAL INDEMONSTRADO – REGULAMENTAÇÃO – 1.
Como decorrência do pátrio poder, tem o pai não guardião o direito de avistar-se com o filho, acompanhando-
lhe a educação, estabelecendo com ele um vínculo afetivo saudável. 2. A mera suspeita-Não comprovada-De
abuso sexual não pode impedir o contato entre pai e filho, mormente quando essa suspeita é motivada
fundamentalmente pelos conflitos pessoais vividos pelo casal. 3. É imperiosa a realização de perícia
psiquiátrica para a regulamentação de visitas, sendo possível, enquanto isso, que as visitas sejam
53

seu filho sempre trará conseqüências sérias para o desenvolvimento psíquico do menor,
interferindo na sua formação moral.

Tanto a regulamentação fixada judicialmente quanto a acordada pelos pais devem levar
em conta a igualdade de condições entre os genitores, sempre dando preferência ao bem-estar
do menor com a finalidade de proporcionar um maior contato entre genitor não guardião e
filho. 30

Observa-se também que o descumprimento do dever de pagar as pensões alimentícias


devidas não autoriza a suspensão do direito de visitas, pois esta infração dos deveres paternos
ou maternos poderá ser sanada com as medidas judiciais próprias. O direito de visitas é, ao
mesmo tempo, um dever de visitas e se revela incompatível com a dignidade das relações
familiares a transformação da recusa da visita em exceção de obrigação alimentar não
cumprida ou forma (não prevista em lei) de sanção contra o alimentante inadimplente. 31

Outra questão importante trata-se do fato de o genitor não exercer o seu direito de
visitas. O genitor que não exerce o direito de visitas não passa a ter motivo suficiente e justo
para perder a titularidade do poder familiar.

Último ponto a se destacar sobre o direito de visitas é o fato de poder ser concedido aos
avós o direito de visitas aos netos. Mesmo o Código Civil não disciplinando a respeito, a
jurisprudência majoritária tem se manifestado que, apesar de não ser previsto na legislação
brasileira, os avós têm direito de visitar os netos32 , pois é necessário para a criança o convívio

supervisionadas. Recurso provido. (TJRS – AGI 70008547093 – 7ª C.Cív. – Rel. Des. Sérgio Fernando de
Vasconcellos Chaves – J. 02.06.2004). AGRAVO DE INSTRUMENTO – FAMÍLIA – MODIFICAÇÃO DE
CLÁUSULA DE REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS – SUSPEITA DE QUE O GENITOR ESTARIA
MINISTRANDO REMÉDIOS PARA OS FILHOS DORMIREM – DECISÃO PROFERIDA COM BASE
NO PODER GERAL DE CAUTELA DO JUIZ – 1. Presentes os pressupostos necessários à concessão das
liminares, correta a decisão agravada que restringiu as visitas paternas e suspendeu o direito ao pernoite. 2.
Agravo conhecido e improvido. (DISTRITO FEDERAL. TJDFT – AGI 20060020058034 – 1ª T.Cív. – Rel.
Des. Souza E Ávila. DJU 05.07.2007 – p. 110).
30
AGRAVO DE INSTRUMENTO – DIREITO DE FAMÍLIA – REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS –
CUMPRIMENTO DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA – LAUDO PRELIMINAR – PREJUÍZO À
FORMAÇÃO DO MENOR – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO – A regulamentação de visitas deve
atender, primeiramente, ao interesse e a necessidade da criança. (RORAIMA. TJRR – AI 0010.03.001338-6 –
T.Cív. – Rel. Des. Almiro Padilha. DPJ 31.10.2003 – p. 10).
31
CAHALI, Yussef Said, op. cit., 1998, p.936.
32
DIREITO DE VISITA – Antecipação de tutela para fixar horário da visita da avó aos netos menores,
dada a verossimilhança do direito de convivência familiar (art. 273 do CPC). Alteração do critério para
melhor adaptação dos interesses dos litigantes e dos menores. Provimento parcial, com recomendação para que
se justifiquem antecipadamente eventuais falhas na execução da sentença antecipada, sob pena de
cancelamento. (SÃO PAULO. TJSP – AI 219.824-4/7 – 3ª CDPriv. – Rel. Des. Ênio Santarelli Zuliani – J.
05.03.2002) JCPC.273. REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS – REVISÃO – CONEXÃO – PRELIMINAR
DE NULIDADE E CERCEAMENTO DE DIREITO – DIREITO DE VISITA DOS AVÓS – 1. Em que pese
54

com os avós para poder ter uma relação afetiva entre eles sólida e completa. Assim, pode-se
garantir a convivência familiar, que é direito constitucional do menor, é previsto no artigo 227
da Constituição Federal de 1988.

2.4.5 Dever de fiscalização

A primeira legislação que trouxe de forma expressa o dever de fiscalização por parte
dos pais foi a Lei nº 6.515, de 1977, “Lei do Divórcio”, em seu artigo 15, que dispõe: “os
pais, em cuja guarda não estejam os filhos, poderão visitá-los, e tê-los em sua companhia,
segundo fixar o juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação.” A Lei do Divórcio
inovou e garantiu ao genitor não guardião o dever de fiscalizar a vida do seu filho que não
está mais sob sua guarda.

Assim, a partir da Lei nº 6.515/77, sempre que o genitor guardião não estiver cumprindo
de forma correta o seu munus, o genitor que não detém a guarda poderá requerer em juízo
para que sejam tomadas as providências cabíveis com o intuito de atender aos interesses do
filho. Atualmente, o art. 1.589 regulamenta o direito de fiscalização.

O genitor não guardião, em decorrência do direito de fiscalização, poderá requerer em


juízo a prestação de contas por aquele que detém a guarda do menor e receber o numerário
relativo à pensão alimentícia. Como ensina Cahali:

[...] como titular do pátrio poder, de cujo exercício não está inteiramente excluído,
investido do direito de fiscalizar a manutenção e educação dos filhos que não tem
sob sua guarda, está legitimado para exigir a verificação judicial da correta
administração dos bens e valores pertencentes à prole de que não detém a guarda,
inclusive quanto à correta aplicação, a benefício dos alimentados, das importâncias
recebidas a título de pensão alimentícia.[...] 33

Portanto, ante o exposto, compete ao genitor não guardião zelar e fiscalizar se as


necessidades do menor estão sendo contempladas.

não constar da sentença proferida nos autos da ação de revisão de regulamentação de visitas qualquer
referência expressa acerca da ação conexa de suspensão das visitas, com efeito, não há falar em nulidade
absoluta, vez que a matéria de ambas as ações foi inteiramente apreciada, mormente porquanto giram em torno
do mesmo objeto, o direito de visitas da recorrida. 2. Não há cerceamento do direito de defesa se a apelante foi
devidamente intimada para todas as audiências e atos processuais, no entanto, deixou de comparecer a todas
elas e postulou intempestivamente para a produção de prova testemunhal. 3. A despeito de não constar
expressamente em nosso ordenamento jurídico, é assegurado o direito de visita dos avós para com os
netos, com lastro na solidariedade familiar, nas obrigações resultantes do parentesco e, notadamente,
em face dos interesses do menor. 4. Apelo não provido. (DISTRITO FEDERAL. TJDFT – APC
20050110465882 – 1ª T.Cív. – Rel. Des. Flavio Rostirola. DJU 07.08.2007 – p. 93).
33
CAHALI, Yussef Said, op. cit., 2006, p.345.
55

2.4.6 Dever de prestar alimentos

Os alimentos devem satisfazer as necessidades vitais de quem não pode provê-las por
si 34 . Os alimentos devidos aos filhos menores abrangem vestuário, habitação, assistência
médica, instrução, educação e alimentação. Os alimentos devidos pelos pais aos filhos
menores decorrem não da obrigação alimentar entre parentes, e sim em decorrência do dever
de sustento 35 , que é atributo do poder familiar e deverá ser cumprido. Não há que se provar a
necessidade do filho menor, pois ela é presumida. O art. 1.566, III, do Código Civil brasileiro
dispõe, in verbis: “São deveres de ambos os cônjuges: IV- sustento, guarda e educação dos
filhos” e o art. 1.703 disciplina que: “Para a manutenção dos filhos, os cônjuges separados
judicialmente contribuirão na proporção de seus recursos.”

De acordo com os dois artigos acima aludidos, observa-se que é atribuído a ambos os
pais o dever de alimentar os filhos menores. É obrigação não só do genitor guardião como
também do não guardião, porque o primeiro tem os seus filhos em sua companhia e, em
virtude disso, em regra, proporciona o sustento dos menores. Já o segundo, por não ser o
guardião do filho, deverá prestar uma quantia fixada para contribuir com o sustento de seus
filhos.

Assim, caso o genitor não pague pensão alimentícia ao filho menor, ou seja, não cumpra
com o dever de sustentá-lo, poderá o genitor que detém a guarda da criança ajuizar ação
própria com a finalidade de receber os alimentos.

34
GOMES, Orlando. Direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981, p.427.
35
ALIMENTOS – DEVER DE SUSTENTO – CRITÉRIO DA PROPORCIONALIDADE – O dever de
sustento decorrente do pátrio poder é indeclinável, sendo que a verba alimentar deve guardar pertinência
com o binômio: Possibilidade do alimentante e necessidade do alimentando. (DISTRITO FEDRAL. TJDFT –
APC 20050610085044 – 2ª T.Cív. – Relª Desª Carmelita Brasil. DJU 16.01.2007 – p. 89). AGRAVO DE
INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE ALIMENTOS – PRISÃO CIVIL – JUSTIFICATIVAS REJEITADAS
– NÃO PROVIDO – O desemprego não desonera o executado do dever de alimentar seus filhos menores,
ainda mais quando goza de boa saúde e condições para obter trabalho lícito que o remunere condignamente. O
novo matrimônio e os filhos advindos deste não retiram do executado o dever de sustento dos filhos
havidos do casamento anterior. Na via executiva, a justificativa para a elisão do Decreto prisional deve se
pautar no pagamento integral do débito ou em prova cabal da impossibilidade absoluta, decorrente de causa
imprevista ou motivo de força maior ou caso fortuito que impeça o pagamento dos alimentos. (MATO
GROSSO DO SUL. TJMS – AG 2007.005266-0/0000-00 – Campo Grande – 1ª T.Cív. – Rel. Des. João Maria
Lós – J. 15.05.2007). AGRAVO DE INSTRUMENTO – ALIMENTOS – Dever de sustento decorrente do
poder familiar. Maioridade. Exoneração em sede de antecipação de tutela. Recurso provido. Atingida a
maioridade do filho que vinha recebendo os alimentos em razão do dever de sustento decorrente do
poder familiar, exonera-se o alimentante, vez que extinta de pleno direito a causa jurídica que deu
ensejo à obrigação. Conhecer. Dar provimento. Unânime. (DISTRITO FEDERAL. TJDFT – AGI
20060020011560 – (245075) – Relª Desª Carmelita Brasil. DJU 01.06.2006 – p. 198) (Ementas em sentido
diverso).
3 MODALIDADES DE GUARDA

O instituto da guarda possui várias modalidades e cada uma tem características


específicas. É necessário, para se instituir a guarda do menor, conhecer as mais diferentes
modalidades de guarda, a fim de se aplicar ao caso concreto a que mais atender aos interesses
da criança e do adolescente.

As modalidades mais utilizadas são: guarda de fato, desmembrada e delegada, comum,


provisória, definitiva, exclusiva, alternada, aninhamento e compartilhada.

É importante a análise de cada modalidade de guarda para se poder diferenciar uma das
outras e aplicar a que mais se adapta ao caso concreto.

3.1 Guarda de fato

Ocorre a guarda de fato 1 quando alguém por decisão própria e sem ter nenhuma decisão
judicial a seu favor passa a ser guardião de uma criança. A pessoa que detém o menor sob
guarda de fato, a priori, não possui autoridade legal sobre ele, mas deverá cumprir obrigações
de assistência e educação do menor 2 .

A guarda de fato não é provada apenas com a dependência econômica que o menor tem
em relação à pessoa que financia sua subsistência, mas também pressupõe a orfandade do

1
CIVIL – GUARDA DE MENOR – AVÓ PATERNA – ARTIGO 33, ECA – POSSIBILIDADE –
PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR – 1. in casu, configura-se a situação peculiar prevista no
Estatuto da Criança e do Adolescente. A regularização da guarda de fato exercida pela avó paterna é medida
necessária para o aprimoramento e a conservação das condições materiais e afetivas que são proporcionadas
ao menor. 2. Apelo provido. (DISTRITO FEDERAL. TJDFT – APC 20030110304170 – 1ª T.Cív. – Rel. Des.
Arnoldo Camanho. DJU 15.02.2007 – p. 73).
2
PREVIDENCIÁRIO – PENSÃO POR MORTE – NETA – GUARDA DE DIREITO OU DE FATO – NÃO
COMPROVAÇÃO – ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA – 1. Inexistindo comprovação de guarda de direito ou de
fato da avó falecida sobre a menor, uma vez que a mãe da autora com ela morava e participava de sua criação,
justifica-se o indeferimento do benefício de pensão, porquanto não atendida a exigência inserta no artigo 16,
incisos e § 2º, da Lei nº 8.213/91. 2. Invertida a sucumbência, cabe à parte autora o pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados em R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais), cuja
exigibilidade resta suspensa por ser beneficiária da justiça gratuita. 3. Apelação do INSS provida. (BRASIL.
TRF 4ª R. – AC 2001.71.02.003066-3 – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Luiz Antonio Bonat . DJU 10.10.2007).
57

menor, a destituição do poder familiar dos pais ou ainda o abandono do menor por seus pais. 3
Assim, torna-se necessário averiguar no caso concreto se o menor se encontra de fato sob a
guarda de um terceiro.

3.2 Guarda desmembrada e delegada

Chama-se de guarda desmembrada aquela que é exercida por alguém que não detém o
poder familiar, porém é autorizado pelo Estado a exercê-la. É também chamada de guarda
delegada, visto que é exercida por uma pessoa que obteve autorização por parte do Estado a
ter a guarda do menor.

É aplicada nos casos em que a criança e/ou o adolescente encontram-se abandonados


pelos pais, em situação de perigo ou ainda quando os seus interesses não estão sendo
atendidos pelo pai ou pela mãe. Nessas situações o Estado intervém, respaldado na lei,
atribuindo a guarda a terceiros, ou, ainda, em último caso, colocando-os em instituições
especializadas.

Cabe ao terceiro, a quem é atribuída a guarda, o dever de prestar assistência material,


moral e educacional à criança e/ou ao adolescente, bem como o direito de opor-se a outros,
inclusive aos pais, que continuam com o dever de prestar assistência e alimentos, pois não
perdem o poder familiar.

Caso não existam parentes ou estranhos compatíveis com a natureza da medida, ou que
aceitem o encargo, a criança e/ou adolescente serão colocados em entidades de abrigo, como
última solução, e como forma de o Estado garantir o cumprimento dos direitos fundamentais
assegurados à criança e ao adolescente pelo art. 227 da Constituição Federal.

3
PREVIDENCIÁRIO – EMBARGOS INFRINGENTES – PENSÃO POR MORTE DA AVÓ –
IMPOSSIBILIDADE – AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL E DA GUARDA DE FATO – 1. A situação de
dependência econômica, por si só, não se presta para justificar o enquadramento de alguém como dependente
para fins previdenciários. A dependência econômica efetiva somente tem relevância jurídica se houver
possibilidade de enquadramento em uma das hipóteses previstas na legislação de regência (art. 16 da Lei
8.213/91). 2. O conjunto probatório dos autos não autoriza a caracterização de uma eventual guarda de fato
exercida pela avó. 3. A guarda pressupõe a orfandade ou, quando menos, a destituição do pátrio poder. De
guarda (ou mesmo tutela) de fato, pois, somente se poderia cogitar, em se tratando de menor não tem pai ou
mãe, e é criado e mantido por outra pessoa. Ou, ainda, de menor que informalmente foi colocado em família
substituta. Nas situações em que o menor convive, ainda que esporadicamente, com seus pais, mas é mantido
economicamente por outra pessoa, não se pode cogitar de tutela ou guarda de fato. Há, pura e simplesmente,
dependência econômica. Dependência econômica, todavia, não é hipótese de dependência para fins
previdenciários (art. 16 da Lei 8.213/91). Fosse assim, a qualidade de dependente para fins previdenciários
poderia ser alegada em relação a qualquer pessoa, mesmo sem vínculo de parentesco. (BRASIL. TRF 4ª R. –
EI-AC 2006.72.99.000703-8 – Rel. Des. Fed. Ricardo Teixeira do Valle Pereira – 14.03.2007).
58

3.3 Guarda comum

A guarda comum é a modalidade de guarda propriamente dita, e é conseqüência natural


da maternidade e da paternidade. Esta modalidade não é atribuída em decorrência de decisão
judicial. Assim como nas outras modalidades de guarda, é necessário sempre observar que o
poder familiar é exercido por ambos os genitores.

São os pais os verdadeiros guardiães de seus filhos e cabe a eles zelar pelo bem-estar
dos menores para que possam ter um desenvolvimento físico e psíquico saudáveis. Cabe ao
Judiciário, na falta de acordo entre os pais naturais, decidir acerca da guarda dos filhos
menores de acordo com a observância dos seus interesses.

3.4 Guarda provisória e definitiva

A guarda provisória do menor é dada por ação cautelar ou através de tutela antecipada
nas ações de separação, divórcio, anulação ou nulidade do casamento, dissolução da união
estável ou na ação de guarda de menores. É necessário observar que a guarda provisória 4 ,
como a expressão já define, é provisória, transitória, pois apenas será válida até a sentença na
qual será determinada pelo juiz a guarda definitiva.

A guarda provisória será dada ao genitor que na época exerça melhores condições de
ficar com a criança 5 . Entende-se por melhores condições não a condição econômica, e sim, a
condição moral, afetiva, de cuidar do menor e ainda condições de proporcionar uma
assistência de saúde, segurança e educação voltada integralmente aos interesses do menor 6 .

4
PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – GUARDA – MENOR – PERICULUM IN
MORA – INEXISTÊNCIA – Não havendo evidência de que a decisão agravada causará a parte prejuízo
irreparável ou de difícil reparação, é descabida a pretensão de obter o efeito suspensivo à mesma. No caso, se
o magistrado a quo entendeu que a guarda provisória do menor cabia ao genitor, adotou a melhor forma de
proteção que havia naquele momento processual, não sendo, necessariamente, uma decisão irreversível, desde
que ao final da instrução será apurado a quem caberá a guarda definitiva do filho. (PERNAMBUCO. TJPE –
AI 151985-9 – Rel. Des. Adalberto de Oliveira Melo.DJPE 19.09.2007).
5
GUARDA DE MENOR – PEDIDO DE ALTERAÇÃO – Tendo em vista que a menina já está há algum tempo
com o genitor e plenamente adaptada à família paterna, que lhe proporciona boas condições de saúde e
desenvolvimento, não há como atender a pretensão materna de modificar a guarda provisória da menor.
Agravo improvido. (RIO GRANDE DO SUL. TJRS – AGI 70006857015 – 7ª C.Cív. – Rel. Des. José Carlos
Teixeira Giorgis – J. 17.12.2003).
6
FAMÍLIA – GUARDA PROVISÓRIA – INTERESSE DE MENOR – PREVALÊNCIA – PROVA –
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA – 1. O norte imposto pela legislação, doutrina e jurisprudência direciona na
prevalência da proteção do menor sobre tudo o mais. Nas questões do direito de família, o juiz, baseado no
poder geral de cautela, decide de modo a resguardar os interesses dos menores. 2) Nesse sentido, para que se
modifique decisão em se tratando de guarda provisória de infante, mormente em sede de liminar em agravo de
instrumento, é necessária a existência de motivos graves e comprovados de plano, capazes de justificar o
59

A guarda definitiva será dada por sentença judicial e, assim como a provisória, deverá
ser decretada levando-se em consideração os interesses do menor. É importante observar que
a sentença que decretar a guarda do menor não gera coisa julgada e, a qualquer tempo, sempre
tendo em vista o interesse da criança, poderá ser alterada.

3.5 Guarda exclusiva, única ou monoparental

A guarda exclusiva também é denominada de única, monoparental, singular, dividida ou


ainda de sole custody, como é chamada no Direito inglês e norte-americano. Por esse tipo de
guarda apenas um dos pais detém a guarda do menor e ao outro genitor caberá apenas o
direito de visitas e fiscalização.

A guarda monoparental é ocasionada por um dos efeitos da ruptura dos pais. O ponto
em questão é que o rompimento não altera o vínculo da filiação, mas atribui a guarda e
companhia dos filhos a um dos pais apenas. A família passa de biparental para monoparental.

Neste modelo, a princípio, não se exige sequer que o guardião consulte o outro (pai ou
mãe) não guardião sobre as decisões importantes a tomar relativamente ao menor. O não-
guardião não pode nem direta nem indiretamente participar da educação dos filhos, nem goza
de direito a ser ouvido pelo seu ex-cônjuge em relação às questões importantes da educação
do menor. 7 Ana Carolina Brochado Teixeira, ao analisar a questão de guarda de menores,
afirma que

embora, muitas vezes, a convivência paterno-filial seja prejudicada com a separação


dos pais, não há a diminuição do alcance da autoridade parental. Tal fato deriva dos
mandamentos legais, o que deve servir de instrumento e motivação para a
continuidade dos laços que unem pais e filhos, mesmo que com a separação,
divórcio ou dissolução de união estável, não mais residam no mesmo local. 8

No mesmo sentido, Gustavo Tepedino, em artigo sobre o tema, discorre que

a peculiaridade do ordenamento brasileiro, no entanto, situa-se na disciplina da


autoridade parental, que permanece inalterada, como se viu, após a separação, o

pedido liminar. 3) No caso dos autos, não existe informações de que a menor esteja privada da devida
assistência, educação e dedicação, tampouco que seu estado de saúde esteja abalado. 4) Merece prestígio a
prudência do ilustrado julgador em remeter os autos ao serviço psicossocial. Caso o laudo demonstre a
ocorrência de motivos graves, devidamente comprovados, poderá o MM. Juiz a quo, a qualquer tempo, decidir
de outro modo, sempre no interesse da menor. 5) Negou-se provimento ao agravo. (DISTRITO FEDERAL.
TJDFT – AGI 20060020104143 – 1ª T.Cív. – Rel. Des. Flavio Rostirola . DJU 19.12.2006 – p. 101).
7
CANEZIN, Claudete Carvalho. Da guarda compartilhada em oposição à guarda Unilateral. Disponível
em:<http://www.flaviotartuce.adv.br/secoes/artigosc/Claudete_guarda.doc>. Acesso em: 20 jul. 2008.
8
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. Família, guarda e autoridade parental. Rio de Janeiro: Renovar, 2005,
p.107.
60

divórcio e a dissolução da união estável, carreando um conjunto de deveres


imputados aos pais independentemente da atribuição da guarda, esta limitadíssima
no que tange a conseqüências jurídicas, na experiência brasileira. 9

Há de se convir que a guarda monoparental muitas vezes proporcione uma gradual


separação entre o pai não detentor da guarda e o filho, visto que as visitas são geralmente em
finais de semanas alternados e, em alguns casos, não há condições de, em tão pouco tempo,
gerar vínculo afetivo e de companheirismo sólido entre pai e filho. Porém, não é motivo para
a autoridade parental do genitor não guardião sofrer restrições ou ainda ser extinta. O poder
familiar do genitor não guardião continua intacto podendo o pai/mãe que não tenha o filho
consigo exercer os seus direitos e cumprir os seus deveres que a lei disciplina.

Ainda hoje, a guarda única é a mais utilizada no Direito brasileiro. O Direito pátrio já
vem mudando este posicionamento, e irá depender do caso concreto qual modalidade de
guarda será a instituída.

Com a recente mudança no Código Civil Brasileiro a definição de guarda unilateral e


guarda compartilhada agora está explícita na legislação brasileira, apenas serve para reforçar
as características de cada modalidade de guarda que deverá ser levada em consideração no
momento que for instituída a guarda dos filhos menores. Pois, de acordo com o §1 º do artigo
1.583 do Código Civil temos que “compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só
dos genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584§5º e, por guarda compartilhada a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam
sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.”

O §2º do artigo 1.583 do Código Civil disciplina critérios que deverão ser utilizados
pelo juiz da vara de Família quando for instituir a guarda unilateral. O O §2º do artigo 1.583
do Código Civil dispõe que “a guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores
condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para proporcionar aos filhos os
seguintes fatores:I- afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar;II- saúde e
segurança;III- educação.

O artigo 1.584, em sua redação original, já disciplinava que, no caso de guarda


unilateral, seria atribuída ao genitor que tivesse melhores condições para exercê-la, mas
diferentemente da alteração feita pela Lei 11.698/08, não disciplinava critérios objetivos para

9
TEPEDINO, Gustavo. A disciplina da guarda e a autoridade parental na ordem civil-constitucional. In:
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Afeto, ética, família e o novo Código Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
61

se determinar quem realmente possui melhores condições para exercer a guarda do filho
menor.

Os incisos I, II e III do §2 do artigo 1.583 elencam como meios objetivos para se


averiguar quem possui melhores condições para exercer a guarda. O primeiro fator é o afeto
entre o menor e o genitor e com o grupo familiar do mesmo.

É necessário que haja um estreito vínculo de amor e afeto entre pai/mãe e filho para que
este possa ter um bom desenvolvimento. Esse vínculo de afeto é construído no dia-a-dia do
menor, nas demonstrações de cuidado do genitor, na paciência, orgulho e admiração do
genitor para com o filho, etc.

O princípio do afeto já era considerado princípio jurídico e fundamental nas relações


familiares e a partir da alterações feitas no artigo 1.583 do Código Civil está disciplinado de
forma expressa a sua relevância na instituição da guarda de filhos, pois é a partir dele que as
relações são construídas e reconstruídas. Maior prova da importância do afeto nas relações
humanas está na igualdade da filiação (art. 1.596, CC), na maternidade e na paternidade
socioafetivas e nos vínculos de adoção, como consagra esse valor supremo ao admitir outra
origem de filiação distinta da consangüínea (art. 1.593, CC), ou ainda através da inseminação
artificial heteróloga (art. 1597, V, CC); na comunhão plena de vida, só viável enquanto
presente o afeto, ao lado da solidariedade, valores fundantes, cuja soma consolida a unidade
familiar, base da sociedade a merecer prioritária proteção constitucional. 10

A criança e o adolescente necessitam ter contato com todo o grupo familiar para que
desenvolva sentimento de afeto com todos os membros de sua família, pois só assim o menor
poderá ter um desenvolvimento cercado de afeto e amor e, ao chegar à idade adulta, repassar
para seus descendentes. A afinidade do menor com determinado grupo familiar serve de
critério para definir a guarda da criança, conforme o artigo 1.588, §2º, I do Código Civil, que
dispõe acerca do afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar.

Muitas vezes a criança apenas tem contato com a família de um de seus genitores e a
família do outro genitor é vista como estranha, pois a criança ou adolescente não teve
oportunidade de construir um vínculo de afeto com eles. Não se pode culpar, a princípio, os
pais pela falta de convivência com um determinado grupo familiar, pois, às vezes, moram em
cidades distintas, ou ainda os avós, tios, primos não têm relação de amizade com um dos
10
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p.67.
62

genitores, o que dificulta a relação familiar. Por fim, porque não há nenhum tipo de interesse
do grupo familiar de se aproximar da criança ou do adolescente.

O critério de afetividade no caso concreto deverá ser bem fundamentado, pois em


muitos casos ambos os genitores amam seus filhos e o querem consigo no dia-a-dia. Através
de um estudo social e de laudo de psicólogo especializada na matéria, auxilia o juiz a decidir
em qual seio familiar a criança demonstra mais intimidade e segurança.

Os incisos II, III do §2º do artigo 1.583 do Código Civil coloca como fatores
determinantes averiguar quem exerce melhores condições de saúde, segurança e educação.

Não foi intenção do legislador colocar como melhores condições quem promove
financeiramente saúde, segurança e educação ao menor, e sim quem no dia-a-dia faz com
quem o menor tenha saúde, segurança em casa e educação voltada a construir um cidadão
consciente de seus deveres e direitos perante a sociedade em que vive.

Se a intenção da lei fosse priorizar as condições econômicas do genitor teria colocado


um inciso que disciplinasse o seguinte: condições econômicas do genitor. A pensão
alimentícia serve exatamente para o genitor que não detém a guarda contribuir
financeiramente para criação do filho. Portanto, o que a lei quer averiguar é quem, no dia-a-
dia, promove saúde, segurança e educação, seja levando a escola, indo às reuniões escolares,
ensinando tarefa de casa, levando a criança ao médico, ao dentista, vacinando a criança no
período certo, etc., seja se preocupando para que a criança tenha um desenvolvimento sadio,
seja utilizando plano de saúde privado ou o sistema único de saúde para garantir o
desenvolvimento do menor, seja colocando o menor em uma escola particular ou pública, pois
o mais importante é o acompanhamento por parte do genitor. É fundamental observar que se o
genitor que não detém a guarda tiver melhores condições econômicas, deverá aumentar o
valor da pensão alimentícia que paga ao menor e assim ajudará ao genitor guardião a
contribuir da melhor forma possível para o desenvolvimento da criança.

Frederico Liserre Barruffini, em artigo comentando a lei que disciplina a guarda


compartilhada, afirma que

[...] os incisos I, II e III não esgotam os fatores que devem ser observados pelo juiz
na atribuição da guarda. Afeto, saúde, segurança e educação: são os únicos direitos
da criança e do adolescente? São os mais importantes? E outros, como esporte, lazer,
profissionalização, cultura, alimentação, liberdade (artigo 4º da Lei 8.069/90), não
devem ser levados em consideração? Estão compreendidos nos demais? Por tudo
isso, bastaria que o legislador tivesse dito: ‘§ 2o A guarda unilateral será atribuída
63

ao genitor que revele melhores condições para exercê-la, atendendo, sempre, ao


melhor interesse dos filhos’, sem qualquer enumeração de fatores [...]. 11 (Grifou-
se)

O referido autor tem razão em sua crítica ao disposto pelo legislador no §2º do artigo
1.583 do Código Civil, pois o artigo 227 da Constituição Federal assegura outros direitos
constitucionais ao menor, quando dispõe que

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.

Direitos como a vida, cultura, liberdade são tão importantes para o desenvolvimento do
menor como os previstos no artigo 1583 do Código Civil, e devem ser assegurados pelos
genitores do menor. Portanto, a crítica feita por Frederico Barruffini deve ser observada
quando o operador for aplicar o artigo 1.583 do Código Civil no caso concreto.

Assim sendo, o operador do direito, ao aplicar o §2º do artigo 1.583 do Código Civil
Brasileiro, não deve se deter aos requisitos disciplinados em lei, pois o que deve ser
priorizado é o bem-estar do menor, que só será completo se for atendido todos os direitos
disciplinados no artigo 227 da Constituição Federal de 1988.

O artigo 1.583 do Código Civil em seu §3º dispõe que: “a guarda unilateral obriga o pai
ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos.” Vale ressalvar que o
artigo 1.589 do Código Civil já prevê que cabe ao genitor não guardião fiscalizar a educação e
manutenção dos filhos. Portanto, o §3º da nova redação do artigo 1.583 apenas reforça que os
interesses do menor deverão ser sempre atendidos, mesmo que contrariem os interesses do
genitor guardião ou não.

3.6 Guarda alternada

A guarda alternada é conhecida no Direito anglo-saxão como joint physical custody ou


residential joint custody. Esta modalidade de guarda caracteriza-se pela distribuição do tempo
em que o menor deverá ficar com um ou outro genitor.

11
BARRUFFINI, Frederico Liserre. A Lei n.11.698/2008 e a guarda compartilhada. Primeiras considerações
sobre acertos e desacertos. Disponível em: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11501>. Acesso em:
25 jul. 2008
64

É importante observar que, na guarda alternada, o filho passa um período de tempo com
o pai e outro com a mãe. Este tempo poderá ser de um mês, seis meses, um ano, alguns dias
semanais e/ou até parte do dia. Esta divisão deverá ser acordada por ambos os genitores
porque o pai que está com o menor passa a ser o guardião exclusivo dele e o outro genitor
passa a exercer o direito de visitas.

Grisard Filho enumera as vantagens e desvantagens desse modelo, inclusive com


relação às desvantagens no plano jurídico:

A vantagem oferecida por este modelo é permitir aos filhos manter relações estreitas
com os dois pais e evitar que se preocupem com a dissolução da relação com o
genitor que não tem a guarda. As desvantagens desses arranjos são o elevado
número de mudanças, repetidas separações e reaproximações e a menor
uniformidade da vida cotidiana dos filhos, provocando no menor instabilidade
emocional e psíquica. No plano jurídico, a guarda alternada também gera
preocupações como adverte Eduardo de Oliveira Leite: qual dos genitores é o
responsável pelo menor? É possível se admitir que os atributos sobre os bens da
criança mudem periodicamente de titular? Como ficaria a posição dos terceiros em
relação aos bens do menor? A alternatividade não criaria um estranho estado de
incerteza relativamente à titularidade? 12

A guarda alternada

ao longo do tempo, esse modelo mostrou-se maléfico ao desenvolvimento


psicológico das crianças. Para elas, é difícil administrar o ‘ter duas casas’. Perdem a
referência de lar e a conseqüência maior dessa perda é a visível e comprovada
insegurança do menor, já fragilizado com a separação dos pais. Não pode ele
permanecer no ‘fogo cruzado’ e passar pelo estresse de ‘dividir’ entre o pai e a mãe.
É sem dúvida, o maior prejudicado com o constante vaivém. 13

O posicionamento de Guilherme Strenger é minoritário entre os pesquisadores da área. 14


Em sua obra acerca do instituto da guarda, posiciona-se favorável à guarda alternada quando
afirma que

embora ainda não seja usual na pratica brasileira, nada impede que se admita a
hipótese da guarda alternada, com o escopo de assegurar uma estrita igualdade entre
os pais, na conduta dos filhos. Cada um dos cônjuges terá alternativamente, segundo
um ritmo definido por eles e adotado pelo juiz, a guarda da criança, e por essa via os
diferentes atributos aí vinculados, como educação, administração legal e posse legal.
[...] essa questão, apesar de polêmica, não deixa de ser, de acordo com as
circunstancias, uma solução conveniente, porque permite preservar os direitos de
cada um dos pais e o direito dos filhos de ter relações idênticas com ambos. Além
disso, tal prática ajuda a evitar que o cônjuge que não detenha a guarda se
desinteresse pelo filho, pois terá de acompanhar sua evolução, participar de sua
educação, exercer seu direito de visitas e de moradia, e quando chegar seu turno de
guarda terá de assumir inteira e plenamente o seu encargo.

12
GRIZARD FILHO, Waldir, op. cit., 2002, p.111.
13
AMARAL, Sylvia Mendonça do. Guarda de menores - o que é melhor para a criança? Consulex, São Paulo, v.
10, n. 236, nov. 2006.
14
Em sentido contrário Waldyr Grizard Filho, Patrícia Ramos, Rodrigo da Cunha Pereira, etc.
65

O posicionamento desse autor é minoritário entre os pesquisadores da área. 15

A guarda alternada não é muito utilizada pelos operadores do Direito brasileiro 16 , pois
quebra o princípio da continuidade do lar, que é necessário para o bem-estar físico e mental da
criança. Neste tipo de guarda, o menor tem dois lares e a mudança de moradia é bastante
prejudicial para o bom desenvolvimento da criança, pois ela passa a não ter um referencial
consolidado, o que poderá afetar no futuro a sua personalidade.

3.7 Aninhamento ou nidação

No aninhamento ou nidação, a criança ou o adolescente mora em uma só casa e são os


seus pais que se revezam, por períodos alternados, a mudar para lá, a fim de atender e
conviver com os filhos. É pouco utilizada porque, além da falta de apoio permanente por pelo
menos um dos pais, há também alto custo financeiro, já que são necessárias pelo menos três
casas: uma para o filho e mais outras duas para cada genitor.

Assim como a guarda alternada, o aninhamento, ou como é chamado no Direito norte-


americano birds nest theory, em decorrência da realidade social brasileira, não é adotada no
Brasil, pois pode acarretar os mesmos prejuízos da guarda alternada. Como bem explica
Walyr Grisard Filho:

No aninhamento ou nidação, são os pais que se revezam, mudando-se para a casa


onde vivem os menores, em períodos alternados de tempo. Tais acordos de guarda
não perduram, pelos altos custos que impõem à sua manutenção: três residências;
uma para o pai, outra para a mãe e outra mais onde o filho recepciona,
alternadamente, os pais de tempos em tempos. 17

3.8 Guarda compartilhada

A guarda compartilhada, também denominada de guarda conjunta (a joint custody, do


Direito inglês), é caracterizada pela igualdade de direitos e deveres que os dois genitores têm

15
Em sentido contrário Waldyr Grizard Filho, Patrícia Ramos, Rodrigo da Cunha Pereira, etc.
16
“Guarda de menor compartilhada. Impossibilidade. Pais residindo em cidades distintas. Ausência de diálogos e
entedimento entre os genitores sobre a edução do filho. Guarda alternada. Inadmissível. Prejuízo a formação
do menor. A guarda compartilhada pressupõe a existência de dialogo e consenso entre os genitores sobre a
educação do menor. Alem disso, guarda compartilhada torna-se utopia quando os pais residem em cidades
distintas, pois aludido instituto visa à participação dos genitores no cotidiano do menor, dividindo direitos e
obrigações oriundas da guarda. O instituto da guarda alternada não é admissível em nosso direito, porque
afronta o principio basilar do bem-estar do menor, uma vez que compromete a formação da criança, em
virtude da instabilidade de seu cotidiano. Recurso desprovido.”(apelação cível n° 1.0000.00.328063-3/000,
Rel. Des. Lamberto Sant´anna, j. em 11/09/2003).
17
GRIZARD FILHO, Waldir, op. cit., 2002, p.79.
66

com os seus filhos. Nesta modalidade de guarda, é deferida a ambos os pais a guarda jurídica,
o que proporciona que todas as decisões importantes sobre a vida do menor deverão ser
tomadas por ambos os pais, de forma igualitária.

No Direito brasileiro começa a vigorar em 13 de agosto de 2008 a Lei 11.698/08 que


alterou os artigos 1.583 e 1.84 do Código Civil disciplinando assim a guarda compartilhada
no Código Civil pátrio. A guarda compartilhada vem ganhando adeptos, pois proporciona ao
menor uma maior convivência com ambos os pais, porém só deverá ser instituída se for a que
mais se ajuste ao caso concreto.

A discussão acerca da guarda dos filhos menores torna-se necessária quando há


separação dos pais, pois não se pode, por causa do rompimento da relação dos genitores,
restringir a criança da convivência familiar, ressalvadas as situações que envolvam violência,
maus-tratos, abuso sexual e outras práticas criminosas envolvendo um dos pais como autor
dos crimes. O contato com ambos os pais é altamente favorável para o perfeito
desenvolvimento da criança ou do adolescente.

O instituto da guarda compartilhada nasceu das mudanças ocorridas na sociedade. A


mulher começou a trabalhar fora de casa; passou a existir no plano jurídico a igualdade entre
homem e mulher; desapareceu a figura pai-provedor; e nasceu o desejo de ambos os genitores,
agora separados, compartilharem a criação e educação dos filhos. Esse contexto fez
necessário o surgimento de uma modalidade de guarda que atendesse primordialmente aos
interesses da criança, ou seja, que a mesma pudesse usufruir da convivência de ambos os pais,
ficando assim assegurado o direito à convivência familiar, que é disciplinado no art. 227 da
Constituição Federal Brasileira.

Waldyr Grizard Filho, em obra que analisa o instituto da guarda compartilhada, a define
como sendo:

um plano de guarda onde ambos os genitores dividem a responsabilidade legal pela


tomada de decisões importantes relativas aos filhos menores, conjunta e
igualitariamente. Significa que ambos os pais possuem exatamente os mesmos
direitos e as mesmas obrigações em relação aos filhos menores. Por outro lado, é um
tipo de guarda no qual os filhos do divórcio recebem dos tribunais o direito de ter
ambos os pais, dividindo de forma mais equitativa possível, as responsabilidades de
criarem e cuidarem dos filhos. Guarda jurídica compartilhada define os dois
genitores, do ponto de vista legal, como iguais detentores da autoridade parental
para tomar todas as decisões que afetem os filhos. 18

18
GRIZARD FILHO, Waldir, op. cit., 2002, p.79.
67

A guarda compartilhada favorece aos filhos de pais separados permanecerem sob a


autoridade de ambos os genitores, os quais tomam em conjunto as decisões importantes sobre
os filhos menores. Esta modalidade de guarda proporciona uma divisão igualitária do
exercício do poder familiar, de maneira a que ambos os pais, mesmo não estando mais unidos,
poderão participar da vida dos filhos da mesma forma que agiam antes da ruptura da união
conjugal. Esta efetiva participação nas decisões da vida dos filhos menores não ocorre quando
é deferida ou imposta a guarda única, pois apenas um detém a guarda e ao outro cabe o direito
de visitas. Segundo Patrícia Ramos:

A guarda compartilhada, assim, pode significar um respeito ao tempo da criança, na


medida em que possibilita o convívio permanente dos pais com os filhos, evitando
traumas na criança pela ausência de um deles durante o período de seu crescimento e
formação. 19

Com a guarda compartilhada, busca-se atenuar o impacto negativo que a ruptura


conjugal tem sobre o relacionamento entre os pais e o filho, enquanto mantém os dois pais
envolvidos na sua criação, validando-lhes o papel parental permanente, ininterrupto e
conjunto. 20

Observa-se, porém, que a guarda compartilhada só poderá ser aplicada quando os pais
possuem o equilíbrio e a tranqüilidade necessária para poderem compartilhar as rotinas do
filho de forma harmônica e respeitando os interesses e horários do menor. A guarda
compartilhada proporciona a sensação de que os pais estão juntos novamente, pois
proporciona a ambos os pais o direito de exercitarem, de forma ampla e igualitária, o poder
familiar sobre seus filhos, resolvendo assim as decisões mais importantes referentes à vida
dos filhos menores. Não se tinha previsão expressa na legislação civil brasileira sobre a
guarda compartilhada até junho do corrente ano 21 , mas tanto a doutrina 22 quanto a
jurisprudência 23 já entendiam que era perfeitamente aplicável esta modalidade de guarda no

19
RAMOS, Patrícia Pimentel de Oliveira Chambers. O poder familiar e a guarda compartilhada sob o
enfoque dos novos paradigmas do direito de família. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005, p.67.
20
GRISARD FILHO, Waldyr, op. cit., 2002, p.117.
21
Lei 11.698 de 13 de junho de 2008 que entra em vigor 60 dias após sua publicação que foi no dia 16.06.2008.
22
“a guarda conjunta ou compartilhada, sem dúvida a melhor para os interesses dos menores, desde que os pais
estejam imbuídos do mais alto espírito de solidariedade na divisão de deveres e direitos do poder parental. Pai
e mãe são guardadores em tempo integral, e eles combinam trânsito livre para que o filho circule entre as duas
residências; sem dúvida um sistema que não permite distanciamento entre pais e filhos, apesar da separação.”
ZULIANT, Ênio Santarelli. Revista jurídica, São Paulo,v. 54, n.349, nov. 2006.
23
O centro de estudos judiciários do Conselho da Justiça Federal em sua jornada de Direito Civil publicou o
enunciado de n° 101 que dispõe acerca da guarda compartilhada nos seguintes termos: “Art. 1.583: sem
prejuízo dos deveres que compõem a esfera do poder familiar, a expressão ‘guarda de filhos’, à luz do art.
1.583, pode compreender tanto a guarda unilateral quanto a compartilhada, em atendimento ao princípio do
melhor interesse da criança.”
68

Direito pátrio. É importante afirmar que quando não existiam normas explícitas, também não
existiam normas que proibissem a aplicação da guarda compartilhada. Portanto, sendo esta a
modalidade de guarda que atende mais ao princípio do melhor interesse do menor, ao direito
de convivência familiar deverá ser o instituído.

O artigo 1.584, II do Código Civil dispõe que “decretada pelo juiz, em atenção a
necessidades específicas do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao
convívio deste com o pai e com a mãe.”

Assim, a modalidade de guarda adotada deverá atender aos interesses do menor,


observando sempre que o menor necessita de tempo para conviver com ambos os pais, pois só
assim a criança ou adolescente poderá formar um vínculo de afetividade forte com cada um
dos seus genitores.

O §1° do artigo 1.584 do Código Civil dispõe de forma explicita a necessidade de


informar aos pais o significado de forma clara, quando dispõe que “ na audiência de
conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da guarda compartilhada, a sua
importância, a similitude de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas.”

A lei, visando a resguardar o direito dos genitores de adotar a modalidade de guarda que
mais se adapta aos interesses do seu filho, dispõe que, na audiência de conciliação, o juiz
deverá explicar o instituto da guarda compartilhada, visto que é uma forma de guarda que
nem todos sabem seu real significado e vantagens e as sanções impostas no caso de
descumprimento de alguma cláusula do acordo.

É importante se observar que a lei estimula a guarda compartilhada dos filhos menores
ao disciplinar em seu artigo 1.584,§2º que “Quando não houver acordo entre a mãe e o pai
quanto à guarda do filho, será aplicada, sempre que possível, a guarda compartilhada.”

Referido dispositivo deverá ser aplicado com cautela, pois é pressuposto para se adotar
a guarda compartilhada o diálogo entre os pais e a amizade; se os mesmos não conseguem
chegar a um acordo sobre qual modalidade de guarda deverá ser adotada, não irão conseguir
lidar com questões práticas do dia-a-dia e, assim, não atenderão aos interesses do menor. O
parágrafo em questão deveria ter sido vetado, pois entra em contradição com o pregado pelo
instituto da guarda compartilhada.
69

O §3º do artigo 1.584 do Código Civil disciplina considerações necessárias a serem


observadas para que a guarda compartilhada dos filhos seja a melhor opção. O referido
parágrafo dispõe que “Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de
convivência sob a guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar.”

A orientação dada por psicólogos e assistentes sociais é de grande valia para a


determinação da guarda de menores, pois é através dos seus pareceres que o juiz de direito
poderá atender melhor aos interesses do menor que está tendo sua guarda discutida
judicialmente. O parágrafo referido apenas deixou explícita a sua importância para a
instituição da guarda de menores.

3.9 Princípio do melhor interesse da criança e o instituto da guarda

O princípio do melhor interesse da criança teve origem na Inglaterra sob a forma do


parens patriae 24 . É importante lembrar que o princípio do best interest of the child nasceu da
idéia de que o Estado pode exercer sua autoridade sobre a criança que, na ausência ou
incapacidade dos pais, não podiam prover sua necessária assistência. 25

Nos Estados Unidos o princípio do best interest prevalece em detrimento do princípio


“tender years doctrine”, que era anteriormente adotado 26 , o qual foi bastante difundido nos
Estados Unidos. Atualmente, o principio do melhor interesse da criança e do adolescente é o
adotado e, segundo Tânia da Silva Pereira, em palestra sobre o tema:

A partir do século atual a maioria dos Estados modificou a orientação relegando esta
preferência materna e assumindo o que eles denominaram de tie breaker - teoria
segundo a qual todos os fatores são igualmente considerados e que, portanto, deve
prevalecer uma aplicação neutra do melhor interesse da criança. 27

Este princípio é adotado pela maioria dos países ocidentais, e por ele a criança terá suas
necessidades sempre atendidas de forma precisa. No Brasil, o princípio do melhor interesse é
o que fundamenta o julgador quando se discute a questão da guarda da criança ou do

24
Parens Patriae era utilizado na Inglaterra como uma prerrogativa do Rei da Coroa a fim de proteger aqueles
que não podiam fazê-lo por conta própria.
25
LIBERATI, Wilson Donizet. Uma breve analise entre sistemas judiciais juvenis. In: PEREIRA, Tânia da Silva
(Coord.). O melhor interesse da criança: um debate interdisciplinar Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p.411.
26
A “tender year doctrine” consiste em atribuir a guarda do menor a mãe porque em virtude da tenra idade do
menor a mulher é mais capacitada cuidar, dar assistência e carinho ao menor.
27
PEREIRA, Tânia da Silva. O principio do melhor interesse da criança: da teoria à prática. Disponível em:
<http://www.gontijo-familia.adv.br/2008/artigos_pdf/Tania_da_Silva_Pereira/MelhorInteresse.pdf>.Acesso
em: 24 jul. 2008.
70

adolescente. Como aponta Regina Beatriz Tavares da Silva: “O princípio que deve nortear o
juiz na fixação da guarda é a prevalência dos interesses dos filhos, desatrelada da culpa na
dissolução da sociedade conjugal e sem qualquer prevalência feminina.” 28

Há tempos os documentos internacionais privilegiam o princípio do melhor interesse da


criança. A primeira manifestação ocorreu com a Declaração de Genebra, de 1924, que
declarou a “necessidade de proclamar à criança uma proteção especial”. A Declaração
Universal dos Direitos da Criança de 1989, que foi ratificada pelo Decreto n° 99.710/90, trata
do tema da seguinte forma: “todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por
instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, autoridades administrativas ou
órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança.”

A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente consagraram de forma


mais ampla o princípio do melhor interesse do menor ao adotar o princípio da proteção
integral 29 da criança e do adolescente.

A proteção da criança e do adolescente foi pela primeira vez estabelecida com absoluta
prioridade por parte do Estado e assegurou que os direitos fundamentais das crianças devem
ser protegidos. É o que dispõe o art. 227 da CF/88, in verbis:

[...] é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-las a salvo de toda forma de
negligência, discriminação exploração, violência, crueldade e opressão.

Desde a Constituição Federal de 1988 vem sendo adotado, primordialmente no Brasil, o


princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, principalmente quando o assunto
discutido é a guarda dos mesmos. Os tribunais vinham se posicionando e atribuindo a guarda
observando o real interesse do menor. 30

28
SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Novo Código Civil comentado. 2. ed. Coordenado por Ricardo Fiúza.
São Paulo: Saraiva, 2004, p.1437-1439.
29
O princípio da Doutrina da Proteção Integral assegura às crianças e aos adolescentes a condição de sujeitos de
direitos, enquanto pessoas em desenvolvimento e, auferindo-lhes o tratamento definido pela prioridade
absoluta no atendimento de seus direitos.
30
GUARDA – AMBIENTE FAMILIAR PATERNO – MODIFICAÇÃO – CAUSA JUSTIFICADORA –
AUSÊNCIA – ATENDIMENTO AOS INTERESSES DO MENOR – Deve ser mantida a guarda com o pai da
criança, ainda que tenha sido ele o responsável pela separação, quando evidenciado que a menor está
perfeitamente integrada ao convívio familiar paterno e a nova família ali constituída, bem como quando
ausente provas de que o mesmo não tenha condições de exercer a guarda isoladamente, situação esta que
melhor atende aos interesses do infante. (RONDÔNIA. TJRO – AC 101.001.2005.002661-4 – 2ª C.Cív. – Rel.
Des. Marcos Alaor Diniz Grangeia – J. 21.03.2007). CIVIL E PROCESSUAL – AÇÃO DE DESTITUIÇÃO
71

As decisões que foram transcritas no presente trabalho demonstram que nos tribunais de
todo o país e no Superior Tribunal de Justiça, guardião das leis federais, o princípio que
privilegia o interesse do menor é o mais importante e fundamental para decidir a guarda do
menor.

Na mesma linha, Rolf Madaleno afirma que “prevalece o princípio dos melhores
interesses da criança (the child´s Best interests and its own preference), ao considerar como
critério importante para a definição da guarda apurar a felicidade dos filhos e não se voltar
para os interesses particulares dos pais, ou para compensar algum desarranjo conjugal dos
genitores e lhes outorgar a guarda como um troféu entregue ao ascendente menos culpado
pela separação, em notória censura àquele consorte que, aos olhos da decisão judicial, pareceu
ser o mais culpado, ou quiçá, o último culpado pela derrocada nupcial.31

Hoje, com o Código Civil de 2002, o princípio do interesse do menor está disposto de
forma clara no art. 1.584 que dispõe, in verbis: “Decretada a separação judicial ou o divórcio,
sem que haja entre as partes acordo quanto à guarda dos filhos, será ela atribuída a quem
revelar melhores condições para exercê-la.” (Grifou-se).

O princípio do melhor interesse está intimamente ligado à guarda de menores, visto que
assegurando que os interesses do menor estão sendo respeitados ter-se-á uma convivência
familiar saudável, o estreitamente das relações afetivas entre pais e filhos e a oportunidade à
criança de receber de ambos os genitores todos os cuidados e afeto de que precisam,
possibilitando assim que o bem-estar do menor prevaleça em detrimento dos interesses dos
pais. Este modelo, que prioriza o melhor interesse dos filhos e a igualdade dos genitores no

DE PÁTRIO PODER – MAUS TRATOS, ABANDONO DE MENOR E INJUSTIFICADO


DESCUMPRIMENTO DOS DEVERES DE GUARDA E EDUCAÇÃO – INTERESSE PREVALENTE DA
CRIANÇA – FUNDAMENTAÇÃO – SUFICIÊNCIA – RECURSO ESPECIAL – PROVA – REEXAME –
IMPOSSIBILIDADE – ECA, ARTS. 19, 23 E 100 – I – Inobstante os princípios inscritos na Lei nº 8.069/90,
que buscam resguardar, na medida do possível, a manutenção do pátrio poder e a convivência do menor no
seio de sua família natural, procede o pedido de destituição formulado pelo Ministério Público estadual
quando revelados, nos autos, a ocorrência de maus tratos, o abandono e o injustificado descumprimento dos
mais elementares deveres de sustento, guarda e educação da criança por seus pais. II – ‘A pretensão de simples
reexame de prova não enseja recurso especial’ – Súmula nº 7-STJ. III – Recurso Especial não conhecido.
(BRASIL. STJ – REsp 245.657/PR – 4ª T. – Rel. Min. Aldir Passarinho Junior – DJU 23.06.2003 – p.
373)JECA.19 JECA. 23 JECA. 100. PROCESSUAL CÍVEL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO
DE REVISÃO DE DIREITO DE GUARDA DE MENOR – PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO
INFANTE – I – As disposições legais sobre a guarda de filhos e a solução deve ser dada com prevalência
do interesse dos menores. Assim, enquanto é buscada a verdade real, o mais importante é fazer permanecer
o menor com aquele com quem sempre ele conviveu. II – Recurso conhecido e provido. (MARANHÃO.
TJMA – AI 019738/2003 – (47.133/2003) – 4ª C.Cív. – Relª Desª Dulce Clementino – J. 11.11.2003).
31
MADALENO, Rolf, op. cit., 2008, p.354.
72

exercício do poder familiar, é resposta mais eficaz à continuidade das relações da criança com
seus pais na família dissolvida, semelhantemente a uma família intacta.

O Judiciário, visando sempre a atender ao princípio do melhor interesse, vem decidindo


que, em quaisquer das hipóteses da guarda, há de se preservar o “melhor interesse do menor”,
e os Juízos que lidam com causas familiares têm se valido da pesquisa psicossocial dos
pretendentes à guarda e dos futuros guardados (menores) para decidirem sobre a guarda mais
conveniente. A pesquisa social ou “case study” normalmente é efetivada por assistente social
ou psicóloga e é de suma importância para a aferição dos interesses do menor e,
conseqüentemente, a instituição da modalidade de guarda que mais se atende ao caso
concreto. Guilherme Strenger afirma que:

Consideram-se interesse do menor todos os critérios de avaliação e solução que


possam levar à convicção de que estão sendo atendidos os pressupostos que
conduzem ao bom desenvolvimento educacional, moral e de saúde, segundo os
cânones vigentes e identificáveis, através de subsídios interdisciplinares, obtidos
com a cooperação de especialistas. 32

Com efeito, atendendo aos princípios da proteção integral e prioridade absoluta


estabelecidos pelo art. 227, da Constituição Federal de 1988, e pelos arts. 1º e 4º do ECA, o
Código Civil, no parágrafo único do art. 1.584, afirma que será deferida a guarda visando a
atender o melhor interesse da criança e do adolescente (the best interest of child),
estabelecendo que a guarda será atribuída a quem revelar melhores condições para exercê-la.

Ante o exposto, a modalidade de guarda, ao ser instituída no caso concreto, deverá


traduzir realmente o que significa o direito de igualdade entre aqueles que desejam a
dissolução da sociedade familiar, registrado no art. 5º, I, e 226 § 5, não mais privilegiando a
mulher como detentora principal da guarda dos filhos menores. Portanto, ao se instituir a
guarda de menores, deve-se levar em consideração prioritariamente o bem-estar dos filhos
menores, pois somente tendo os seus interesses atendidos, o menor pode ter um
desenvolvimento saudável em todos os sentidos, numa esfera de amor e de tranqüilidade.

32
STRENGER, Guilherme. Guarda de filhos. 2. ed. São Paulo: DPJ, 2006.
4 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

A palavra Mediação vem do latim mediare, que significa dividir ao meio, mediar.
Assim, entende-se por Mediação de Conflitos um dos vários meios de resolução de conflito,
os quais são chamados de alternativos, por serem opções diversas ao sistema judiciário
tradicional.

A Mediação consiste em meio de solução de conflitos em que o mediador - um terceiro


-, alheio a interesses pessoais e imparcial, conduz o diálogo entre as partes, mas sem interferir
na vontade delas, pois cabe às pessoas em conflito resolver a controvérsia, de acordo com a
vontade de ambas. Emanuela Alencar define Mediação de Conflitos como sendo:

uma forma extrajudicial, pacífica e amigável de resolução de controvérsias, por meio


da qual as próprias partes em conflito podem trabalhar o problema e buscar uma
solução utilizando a escuta ativa e o diálogo transformador, em tudo auxiliadas por
um terceiro imparcial, chamado mediador de conflitos. 1

Luis Alberto Warat define Mediação de Conflitos da seguinte forma:

A mediação seria uma proposta transformadora do conflito porque não busca a sua
decisão por um terceiro, mas sim, a sua resolução pelas próprias partes, que recebem
auxílio do mediador para administrá-lo. A mediação não se preocupa com o litígio,
ou seja, com a verdade formal contida nos autos. Tampouco, tem como única
finalidade a obtenção de um acordo. Mas, visa, principalmente, ajudar as partes a
redimensionar o conflito, aqui entendido como conjunto de condições psicológicas,
culturais e sociais que determinaram um choque de atitudes e interesses no
relacionamento das pessoas envolvidas. O mediador exerce a função de ajudar as
partes a reconstruírem simbolicamente a relação conflituosa. 2

De acordo com Águida Arruda Barbosa, a Mediação de Conflitos constitui:

um dos meios de escolha disponíveis ao cidadão para que acesse a justiça, ao lado de
outros meios da mesma escala valorativa, tais como a jurisdição estatal, a
conciliação e a arbitragem. Porém, são conceitos que não se confundem, pois,
dispõem de lógicas próprias [...] é um método fundamentado, teórica e tecnicamente,
por meio do qual uma terceira pessoa, neutra e especialmente treinada, ensina os
mediandos a despertar seus recursos pessoais para que consigam transformar o

1
ALENCAR, Emanuela Cardoso Onofre de. A mediação de conflitos. In: SALES, Lilia Maia de Morais;
ANDRADE, Denise Almeida de (Org.). Mediação em perspectiva. Fortaleza: Universidade de Fortaleza,
2004.
2
WARAT, Luis Alberto. O ofício do mediador. Florianópolis: Habitus, 2001, p.80.
74

conflito. Essa transformação constitui oportunidade de construção de outras


alternativas para o enfrentamento ou a prevenção de conflitos. 3

Assim, percebe-se que a solução do conflito a partir da mediação é feita pelas próprias
partes, sem a intervenção do mediador, na busca principalmente de resolver não só o conflito,
mas também a causa que o gerou.

4.1 Evolução da mediação de conflitos

Na década de 70, nos Estados Unidos, o estudo sistematizado da Mediação iniciou-se e


foi estruturada como um processo. Naquela época, a Mediação utilizava as técnicas da
negociação, pois os conflitos resolvidos logo no início eram sobre negócios. Com a evolução
do instituto da Mediação, que passou a solucionar outros tipos de conflitos, como os conflitos
familiares, passou por transformações e a incorporar técnicas, princípios e procedimentos
apropriados para a resolução de questões, como os conflitos familiares, que são mais
delicados e afetam diretamente os sentimentos do ser humano.

O estudo da Mediação de Conflitos no Brasil passou a ter expressão na década de 80 4 , a


cada ano, vem ganhando força e adeptos, que a utilizam para resolver conflitos de diversas
áreas, como: negociais, familiares, escolares, comunitárias, etc. Através do Decreto nº 1.572,
de 28 de julho de 1995, que dispõe sobre as negociações coletivas trabalhistas, a Mediação de
Conflitos foi prevista pela primeira vez na legislação brasileira. Tem-se atualmente também a
Mediação Familiar prevista de forma explícita na Lei nº 10.101/2000, em seus art. 9º a 13, e
na Lei nº 9.870/99, que trata dos valores das anuidades escolares. Lilia Sales afirma que:

Quanto à forma pelo qual a mediação se expressa, não há uniformidade, variando de


acordo com o lugar, a cultura e o tipo de conflito. Existem países, como a Argentina,
onde a mediação é obrigatória por lei, para alguns casos, e facultativa para outros, e
segue um rito específico; há outros nos quais o exercício da mediação é crescente,
mas ainda não é regulamentada em lei, como o Brasil (excepcionando a mediação na
área trabalhista em que já existe regulamentação da mediação nas negociações
individuais e coletivas de trabalho); existem países, como os Estados Unidos, onde a
mediação é vastamente utilizada, facultativa em alguns estados, e obrigatória em
outros, dependendo da natureza dos conflitos e da legislação local. Enfim,
dependendo da cultura e do mediador, o processo de mediação apresentará ritos
diversos. 5

3
PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Afeto, ética, família e o novo código civil brasileiro. In: Anais do IV
congresso brasileiro de Direito de Família. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p.33.
4
Foi criado no Brasil o Instituto de Mediação e Arbitragem (IMAB) como uma organização sem fins lucrativos
para divulgar a mediação de conflitos e a arbitragem, além de formar mediadores. Assim, atualmente, tem-se
apenas o CONIMA – Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem e várias entidades
distribuídas nos diversos entes federados.
5
SALES, Lilia Maia de Morais. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004b, p.26.
75

Ainda hoje, no Brasil, não existe uma Lei que regulamente a Mediação de Conflitos,
dispondo sobre que materias possam ser resolvidas através da mediação, técnicas utilizadas,
procedimentos e regras para resolução dos conflitos. Ressalva-se que já existem projetos de
lei para instituir no Ordenamento Jurídico Brasilieiro a Mediação de Conflitos. O preâmbulo
da Constituição Federal de 1988 dispõe que:

para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos


sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e
sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a
proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.

Assim, apesar de não existir ainda nenhuma legislação que discipline a Mediação de
Conflitos, o preâmbulo da Constituição Federal, ao admitir a solução pacífica de conflitos,
assegurou a utilização da Mediação para solucionar conflitos no Brasil.

Complementando o exposto, encontra-se em tramitação o Projeto de Lei nº 4.827/1998,


da Deputada Zulaiê Cobra. Há ainda, o projeto de lei 507 de 2007 do Deputado Sérgio
Barradas Carneiro, que trata especificamente de inserir a mediação familiar no Código Civil.

Em suma, o instituto da Mediação de Conflitos ainda precisa percorrer um longo


caminho para que a sociedade o conheça e o utilize como a forma ideal para resolver seus
conflitos, quer sejam negociais, familiares ou comunitários. Como se trata de um instituto
novo no Brasil, ainda precisa de regulamentação adequada e de aplicadores preparados para
lidar com essa forma de resolução pacífica de conflitos, que é a Mediação.

4.2 Formas de resoluções extrajudiciais de conflitos: diferenças entre


mediação e conciliação, mediação e arbitragem e mediação e
negociação

A Mediação de conflitos não é a única forma de solução pacífica de conflito, e muitas


vezes é necessário diferenciá-la das outras formas admitidas de soluções de conflitos, como:
com a Conciliação, com a Arbitragem e com a Negociação.Pois, existem algumas
semelhanças entre estes institutos que podem levar ao aplicador da forma de resolução de
conflitos escolhida a não atender todos os requisitos da forma de resolução escolhida. A
seguir através de analise da relação da Mediação com cada um das outras formas de resolução
de conflitos, pode-se perceber as peculiaridades de cada um.
76

4.2.1 Mediação e conciliação

A Mediação de Conflitos, para Rasane Mantilla de Souza, é:

um método de condução de conflitos e disputas que faz uso de uma terceira parte(
treinada). ‘método’ se refere ao caminho pelo qual se chega a um resultado, o modo
de proceder, ou seja, delimita o formal ou processual: como fazer,
independentemente, ou com ajustes mínimos, a quem. Como método, pode ser usada
em qualquer tipo de conflito, guardadas as condições mínimas de voluntariedade,
capacidade de compreensão, e equilíbrio de poder entre as partes envolvidas.
Mediam-se empresas em disputas, casais, vizinhos, professor e aluno, patrão e
empregado, fazendo uso de estratégicas semelhantes, segundo um procedimento
mais ou menos padrão. 6

Verônica A. Da Motta Cezar-Ferreira, ao analisar a Conciliação de Conflitos, dispõe


que:

a conciliação é intermediada por um terceiro imparcial e é mais indicada quando


aplicada a conflitos que não envolvem relacionamento que se precisa ou se pretende
continuar, como o de família, ou de sócios comerciais. No âmbito extrajudicial, a
conciliação costuma ser mais superficial que a mediação e, portanto, mais rápida e
econômica. Aqui, também o conciliador procura aproximar as partes, tendo porém,
como eixo da discussão muito mais as posições do que os interesses e necessidades,
uma vez que se refere a situações de ordem meramente material às quais os
litigantes querem dar uma solução rápida. O conciliador pode orientar o acordo e
oferecer sugestões e o resultado final costuma ser parcialmente satisfatório para as
partes em litígio. 7

Assim, a Mediação e a Conciliação, embora sejam meios de solução de conflitos, não


são o mesmo instituto. A diferença fundamental entre a Mediação e a Conciliação consiste na
forma como o conflito é resolvido, pois na Mediação as partes definem como solucionar o
conflito sem nenhuma influência do mediador; já na Conciliação, o conciliador sugere uma
solução para o conflito, podendo as partes aceitar ou não. Portanto, nesse meio de solução de
conflitos, há uma interferência do terceiro (conciliador). Haim Grunspun diferencia Mediação
de Conciliação, ao afirmar que:

ambos são meios extrajudiciais de resolução de conflitos que utilizam terceiros


imparciais. Na conciliação, esses terceiros conduzem o processo na direção do
acordo, opinando e propondo soluções. Na conciliação o terceiro, imparcial, pode
usar de seus conhecimentos profissionais, nas opiniões que emite. O juiz sabe que
foi o acordo possível e homologa o acordo pretendido, mas nas propostas e no
direcionamento do acordo, o poder, a autoridade e o domínio aparecem e por isso se
mantêm entre as partes separadas mais ressentimento e idéias de vingança e novos
conflitos judiciais voltam às cortes. Na mediação, o terceiro, imparcial, não opina,
não sugere nem decide pelas partes. O mediador está proibido por seu código de
ética de usar seus conhecimentos profissionais especializados como os de advogado

6
MUSZKAT, Malvina Ester (Coord.). Mediação de conflitos pacificando e prevenindo a violência. 2. ed. São
Paulo: Summus, 2003, p.90.
7
FERREIRA, Verônica A. da Motta Cezar. Família, separação e mediação - uma visão psicojurídica. São
Paulo: Método, 2004, p.135.
77

ou psicólogo, por exemplo, para influir na decisão. A mediação, além do acordo,


visa à melhora das relações entre os pais separados e comunicação em benefício dos
filhos. 8

Já José Luis Bolzan de Morais afirma que:

a conciliação se apresenta como uma tentativa de se chegar voluntariamente a um


acordo neutro, na qual pode atuar um terceiro que intervém entre as partes de forma
oficiosa e desestruturada, para dirigir a discussão sem ter um papel ativo. Já a
mediação se apresenta como um procedimento em que não há adversários, onde um
terceiro neutro ajuda as partes a se encontrarem para chegar a um resultado
mutuamente aceitável. 9

O instituto da Conciliação é previsto no Ordenamento Jurídico brasileiro em várias


normas, tais como: Código de Processo Civil, Lei nº 6.525/77, Lei nº 968/46( Lei dos
Juizados especiais cíveis e criminais). Já a Mediação Familiar, apesar de o Projeto de Lei estar
tramitando no Congresso, ainda não há legislação específica que regulamente esse meio de
solução de conflitos.

Em suma, o instituto da Mediação é meio de resolução de conflitos no qual o terceiro


imparcial (mediador) irá conduzir a mediação para a solução do conflito, sem sugerir ou
impor seu posicionamento. Assim, na Mediação, as partes são autoras de suas próprias
soluções. Já na conciliação, o terceiro (conciliador) buscará, em conjunto com as partes,
chegar a um acordo, sugestionando que decisão deve ser tomada para se resolver o litígio.

4.2.2 Mediação e negociação

Maria de Nazareth Serpa define negociação como:

processo onde as partes envolvidas entabulam conversações, no sentido de encontrar


formas de satisfazer os interesses. Normalmente as partes reconhecem e verbalizam
a existência de demandas contraditórias, diferenças de valores de cada uma, muitas
vezes detectam a ocorrência de interesses comuns. Através desse processo procuram
ajustar as diferenças se movimentando com vistas a uma relação desejável tanto sob
o ponto de vista econômico, quanto social, psicológico, e mesmo legal. 10

Tem como princípios básicos a oralidade, não interveniência de terceiro, debate entre as
partes e a flexibilidade quanto à ordem dos atos processuais, uma vez que aquele será
conduzido conforme a natureza do conflito.

8
GRUSPUN, Haim. Mediação familiar: o mediador e a separação de casais com filhos. São Paulo: LTR, 2000,
p.34-35.
9
MORAIS, José Luís Bolzan de. Mediação e arbitragem – alternativas à jurisdição. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1999, p.135.
10
SERPA, Maria de Nazareth. Teoria e prática da mediação de conflitos. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1999,
p.108-109.
78

Segundo Verônica A. da Motta Cezar-Ferreira,

o resultado da negociação depende da postura dos participantes e dos movimentos


que cada um fizer. Os movimentos tanto servem para manter a negociação como
para alterar os rumos da disputa. A técnica da negociação serve também de base para
outras formas de resolução de conflitos, como a conciliação e a mediação. 11

Desse modo, a negociação é a mais comum no dia-a-dia do ser humano que vive em
sociedade, pois é através de diálogo entre as partes que se resolve a pendência que foi
instaurada, sem a interferência de terceiro. Já a mediação de conflitos é resolvida pelas
próprias partes, com a condução de um terceiro, o qual não pode interferir nem sugestionar a
resolução para o conflito que está sendo discutido.

4.2.3 Mediação e arbitragem

A Arbitragem é também meio extrajudicial de solução de conflitos e está regulamentada


na Lei nº 9.307/96.

Mediação e Arbitragem, apesar de ser meios de solução de conflitos, são bem


diferentes, pois na Mediação as partes solucionam seus conflitos, sem a interferência do
mediador, enquanto na Arbitragem as partes se submetem à solução do conflito encontrada
pelo árbitro (terceiro na relação). José de Albuquerque Rocha afirma que

A arbitragem pode ser definida como um meio de resolver litígios civis, atuais ou
futuros, sobre direitos patrimoniais disponíveis, através de árbitro ou árbitros
privados, escolhidos pelas partes, cujas decisões produzem os mesmos efeitos
jurídicos das sentenças proferidas pelos órgãos do Poder Judiciário. 12

Águida Arruda Barbosa dispõe que

resta, assim, conceituar a arbitragem, na qual o elemento de solução do conflito é


externo às partes, que, no exercício da autonomia da vontade, elegem uma terceira
pessoa, neutra e imparcial- o árbitro-, autorizando-o a tomar uma decisão que
obrigará os envolvidos no conflito. Em síntese, as partes submetem-se, por vontade
própria, à vontade de um terceiro, que exercerá a função do juiz.

O instituto da Arbitragem só é utilizado para decidir litígios de ordem patrimonial


disponível, portanto as questões familiares, como alimentos, separação, guarda, visitas, não
podem sequer ser questionadas em juízo arbitral.

11
FERREIRA, Verônica A. da Motta Cezar, op. cit., 2004, p.135.
12
ROCHA, José de Albuquerque. A Lei da Arbitragem (Lei. 9.307, de 23.9.1996) - uma avaliação crítica. São
Paulo: Malheiros, 1998, p.37.
79

Assim sendo, Mediação e Arbitragem são meios de solução de conflitos, mas a forma
como são conduzidos se diferenciam em sua essência, pois no primeiro as partes solucionam o
seu próprio conflito e, no segundo, um terceiro alheio ao litígio soluciona a controvérsia. 13
Conclui-se a questão com os ensinamentos de José de Albuquerque Rocha:

para distinguirmos a arbitragem das outras formas de solução de conflitos, vamos


adotar dois procedimentos sucessivos: a) inicialmente, distinguimos o conjunto
dessas formas levando em consideração o critério do sujeito ou sujeitos que têm o
poder de decidir o conflito- se os próprios litigantes ou terceiros. Em seguida, b)
estabeleceremos as distinções específicas entre arbitragem e as outras formas de sua
classe. Se levarmos em consideração o critério do sujeito ou sujeitos que têm o
poder de decidir o conflito, se os próprios litigantes ou terceiros, as formas de
decisão dos conflitos distinguem-se em autônomas e heterônomas. Autônomas,
como o próprio nome indica, são as formas em que o poder de decidir os conflitos é
das próprias partes. Formas autônomas de decisão dos conflitos são a conciliação, a
mediação e a negociação. Heterônomas, ao contrário, são as formas em que o poder
de decidir o conflito compete a terceiro ou terceiros. São formas heterônomas e a
judicial. Por conseguinte, a arbitragem distingue-se da conciliação, mediação e
negociação por ser forma heterônoma de solução de conflito, enquanto as primeiras
são autônomas. Ou, dito por outra palavras, nas primeiras o poder de decidir o
conflito é das próprias partes; na arbitragem , é de um terceiro ou terceiros, o árbitro
ou árbitros. Por sua vez, a distinção entre a arbitragem e a outra forma heterônoma
de solução de conflitos, a judicial, reside na qualidade do terceiro a quem compete o
poder de decisão: na arbitragem é do árbitro, sujeito privado, escolhido pelas partes;
na forma judicial, é do juiz, agente estatal imposto às partes. 14

4.3 Princípios aplicados à mediação de conflitos

Os principais princípios aplicados à Mediação de Conflitos são: imparcialidade do


mediador e auxiliares técnicos da mediação, autonomia de decisão das partes, sigilo na
mediação, flexibilidade da decisão, credibilidade do instituto, aptidão ou competência do
mediador. Assim, analisar-se-á cada princípio separadamente e sua aplicabilidade específica
na mediação familiar, que é a espécie de mediação analisada no presente trabalho.

4.3.1 Princípio da autonomia de decisão das partes

Todos os princípios que norteiam a Mediação de Conflitos são importantes para sua real
aplicabilidade, mas dentre eles o mais importante e essencial para que a mediação atinja seu
objetivo, qual seja, a solução de conflitos, é o Princípio da autonomia de decisão das partes.

Pelo princípio da autonomia de decisão das partes, a Mediação será realizada sem
nenhum tipo de coação de qualquer uma das partes ou, ainda, do mediador. Ademais, a

13
BARBOSA, Águida Arruda. Mediação familiar: instrumento para a reforma do Judiciário. In: PEREIRA,
Rodrigo da Cunha (Coord.). Afeto, ética e o novo Código Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.
14
ROCHA, José de Albuquerque, op. cit., 1998, p.40-41.
80

decisão tomada pelas partes é de iniciativa própria, sem qualquer interferência de terceiro.
Assim, a Mediação tem maiores chances de êxito na resolução dos conflitos, pois as partes
têm consciência de que a resolução do seu conflito partiu dela própria e não de um comando
de terceiro.

O caráter voluntário do processo de Mediação deve ser entendido no patamar máximo


em que essa expressão é compreendida. Significa garantir às partes o poder de optarem pelo
processo uma vez conhecida essa possibilidade, administrar o conflito da maneira que bem
desejarem ao estabelecer diferentes procedimentos e total liberdade de tomar as próprias
decisões durante ou ao final do processo. 15

Diante do exposto, pode-se concluir que a Mediação de Conflitos só é utilizada de


forma correta quando as partes têm autonomia de tomar suas próprias decisões, sem qualquer
interferência de terceiros.

4.3.2 Princípio da imparcialidade dos mediadores e auxiliares técnicos da


mediação de conflitos

A imparcialidade no processo de mediação se dá quando há independência da vontade e


dos valores do mediador e demais auxiliares técnicos para com trabalho que está sendo
realizado. Atinge o nível de imparcialidade o profissional que consegue afastar seus valores,
crenças religiosas, posicionamentos políticos etc., pois só assim conseguirá obter a tão
importante imparcialidade no processo da mediação.

Através da observância desse princípio, os profissionais que atuam na Mediação de


Conflitos 16 irão conduzir de forma equilibrada, sem interferência por parte do mediador ou
auxiliares, e assim a solução do conflito mediado será de autoria das partes, como foi
observado no princípio da autonomia da decisão das partes.

Quando se trata de imparcialidade do mediador, deve-se levar em consideração também


os auxiliares que ajudam a solucionar o conflito, que podem ser: advogados, psicólogos,

15
SAMPAIO, Lia Regina Castaldi; BRAGA NETO, Adolfo. O que é mediação de conflitos. São Paulo:
Brasiliense, 2007, p.35.
16
O Código de Ética para Mediadores do Conselho Nacional de Instituições de Mediação e Arbitragem –
CONIMA prevê que “imparcialidade: condição fundamental ao mediador; não pode existir qualquer conflito
de interesses ou relacionamento capaz de afetar sua imparcialidade; deve procurar compreender a realidade
dos mediados, sem que nenhum preconceito ou valores pessoais venham a interferir no seu trabalho.
CONIMA. Disponível em: <http://www.conima.org.br>. Acesso em: 02 ago. 2008.
81

assistentes sociais, médicos, contadores, entre outros. Esses profissionais poderão ser
convocados, dependendo da área da matéria que está sendo mediada e da necessidade de um
auxílio técnico. Portanto, não adianta apenas o mediador ser independente, se os profissionais
que possam ser úteis ao caso forem tendenciosos a uma das partes. Lilia Morais Sales observa
que

o princípio da participação de terceiro imparcial diz respeito à conduta do mediador.


Na realidade, em quaisquer meios de solução de conflitos em que há a participação
de um terceiro, este deve ser imparcial para que se ofereça às pessoas o mesmo
tratamento. Para que realmente exista a imparcialidade, é necessário que o mediador
seja independente. Ele não pode ser coagido, sofrer influências, nem estar vinculado
a uma das partes. 17

Seguindo a mesma posição, Rozane da Rosa Cachapuz afirma que:

a imparcialidade deve ser mantida durante toda a mediação para que não haja
impedimento, pois, no momento em que uma das partes detectar que o mediador
está pendendo mais para um lado, pode dar por encerrado o processo. Por essa
razão, existe a necessidade de que o mediador seja uma pessoa bastante treinada
para tal finalidade. 18

É importante saber que os valores, as crenças, as convicções do mediador são de cunho


subjetivo, ou seja, vai depender de cada sujeito que analisa. Portanto, podem ser classificadas
em boas ou más, mas nunca em verdadeiras ou falsas. Daí afirmar-se que não se deve injetar
no processo de mediação os valores do profissional que está mediando o conflito, já que eles
assim irão deturpar o real objetivo da Mediação de Conflitos.

Porém, sabe-se que é difícil deixar de lado as crenças, os valores do mediador, mesmo
quando está solucionando um conflito que envolve apenas terceiros. Entretanto, o mediador
deve buscar a imparcialidade, pois é necessária para o perfeito desenvolvimento do processo
de mediação e conseqüentemente da solução de conflitos.

O caráter subjetivo dos valores varia de acordo com o ser humano que está sendo
analisado, pois o ser humano cria sua convicção pessoal e, sem nenhum critério objetivo,
soluciona um conflito. Assim sendo, o valor do mediador não deverá interferir na mediação,
para que não seja empecilho no processo de mediação. Hilton Japiassu afirma que

a atividade científica não pode ser considerada como um templo sagrado. Ela é uma
atividade humana e social como qualquer outra. Está impregnada de ideologias, de
juízos de valor, de argumentos de autoridade, de dogmatismos ingênuos, chegando

17
SALES, Lilia Maia de Morais; VASCONCELOS, Monica Carvalho. Mediação familiar - um estudo histórico-
social das relações de conflitos nas famílias contemporâneas. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2006, p.83.
18
CACHAPUZ, Rozane da Rosa. Mediação nos conflitos e direito de família. Curitiba: Juruá, 2006, p.36.
82

mesmo a ser desenvolvida em instituições fechadas, verdadeiras ‘seitas’ científicas,


com suas linguagens próprias, para não dizer ‘dialetos’. 19

Assim sendo, ao se analisar a imparcialidade do mediador na Mediação de Conflitos,


deve-se observar que o profissional que está mediando deverá se despregar ao máximo de
todos os seus valores, crenças, para que possa atuar de forma imparcial, mesmo que ferindo
seus valores pessoais. Portanto, por mais que seja produzido um processo de mediação livre
das crenças, dos valores, do mediador e dos auxiliares técnicos, não há um total afastamento,
tendo em vista que essa neutralidade é impossível quando se trata de atividade desenvolvida
por ser humano. Porém, a busca pela imparcialidade é necessária para que o processo de
mediação seja realizado por quem cabe resolver o conflito, que são as partes e não o
mediador.

Portanto, com base no princípio da imparcialidade do mediador e dos auxiliares no


processo de mediação, as partes têm confiança na resolução do conflito e assim a
credibilidade da instituição cresce perante a sociedade, de maneira que, cada vez mais,
pessoas recorrem ao instituto.

4.3.3 Princípio do sigilo na mediação de conflitos

Por meio do princípio do sigilo na mediação, todas as informações fornecidas pelas


partes e o resultado da solução de conflitos são sigilosos. Cabe a todos os profissionais e as
partes que atuarem de algum modo no processo de mediação manter sigilo sobre o que
ocorreu durante a Mediação do Conflito. É através deste princípio que as partes têm a certeza
de que os profissionais e a outra parte que participaram da mediação do seu conflito possam
ser testemunhas referentes ao caso, se o mesmo for levado à decisão do Poder Judiciário.

No caso específico da Mediação Familiar, o sigilo é fundamental para que o processo de


mediação tenha êxito, pois na Mediação Familiar trata-se de conflitos familiares, nos quais
uma família está sendo dissolvida e as partes envolvidas estão abaladas emocionalmente e não
querem ver a sua intimidade familiar revelada a todos.

Importante também relembrar que na Mediação Familiar muitas vezes se resolve sobre
interesses de menores, especificamente sobre a guarda de filhos menores. Portanto, o sigilo no
processo vai resguardar a criança ou o adolescente de qualquer comentário vexatório que

19
JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1981, p.58-59.
83

interfira no seu bem-estar e conseqüentemente na sua dignidade como ser humano, direito
este assegurado no artigo 227 da Constituição Federal de 1988. 20

Assim, observando o sigilo na mediação de conflitos, pode-se atingir um maior número


de pessoas interessadas em utilizar o instituto como solução de seus conflitos, pois a garantia
da não exposição de seus problemas pessoais é uma certeza de que todas as partes do processo
de mediação buscam ter.

4.4 Da aptidão ou competência do mediador

Conforme Lilia Sales

competência é a capacidade para mediar a controvérsia. O mediador somente deverá


aceitar a tarefa quando tiver as qualificações necessárias para satisfazer as
expectativas razoáveis das partes. Deverá ser diligente, cuidadoso e prudente,
assegurando a qualidade do processo e do resultado. Deve o mediador ser capaz de
entender a dinâmica do conflito(ambiente em que ocorre o conflito), ser paciente,
inteligente, criativo, confiável, humilde, objetivo, hábil na comunicação, imparcial
com relação ao resultado. 21

O mediador não pode impor sua posição, e sim deverá conduzir a mediação de forma
com que sejam as próprias partes que resolvam seus conflitos. A boa condução do processo de
mediação necessita de que o mediador seja uma pessoa paciente, pois as partes trazem
consigo mágoas, rancores, sentimentos de perda, que dificultam a solução do conflito. Assim,
se o mediador não for uma pessoa paciente, humilde, não terá condições de conduzir uma
mediação de forma imparcial, ou seja, sem impor decisões às partes.

O mediador competente facilita os detalhes imprescindíveis para a solução do conflito,


fazendo assim com que a decisão tomada pela parte seja a melhor possível para o caso
discutido.

Por fim, o mediador deverá estar sempre se atualizando na sua atividade de mediador,
para que possa conduzir de forma imparcial o conflito a ser resolvido. O estudo técnico, que
se dá por meio da leitura livros, audiência de palestras, participação em cursos, é importante
para o aperfeiçoamento do mediador, mas a experiência de vida e a sua experiência em

20
Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança
e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além
de colocá-los a salvo de forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
21
SALES, Lilia Maia de Morais, op. cit., 2004b, p.49.
84

mediação na condução de solução de conflitos são igualmente importantes para a constante


atualização do mediador.

4.5 Da credibilidade

Para Márcio Lopes Cruz,

o mediador deve construir e manter a credibilidade perante as partes, sendo


independente, verdadeiro e sensato. As partes devem confiar no mediador para que
assim consigam dialogar. Atente-se para o fato de que as duas partes devem se sentir
protegidas, já que são elas que chegarão a um acordo. 22

A credibilidade do instituto da Mediação, como meio eficaz para solução de conflitos,


está vinculada ao respeito e à confiança que os Mediadores conquistaram, através de um
trabalho sério, de acordo com os princípios éticos.

Portanto, para a utilização da Mediação, torna-se necessário conhecimento específico,


técnicas próprias, de maneira que cabe ao Mediador buscar se aperfeiçoar cada vez mais, para
que possa continuar agindo de forma imparcial, ética, prudente e munido de paciência nas
soluções de controvérsias. É através do Mediador que podemos averiguar se o instituto da
Mediação está sendo bem utilizado e assim o pratica da mediação passar cada vez mais a ter
credibilidade perante a sociedade.

4.6 Objetivo, vantagens e limitações da mediação de conflitos

A Mediação Familiar tem como objetivo facilitar a comunicação entre as partes para
que elas possam sozinhas resolver o conflito. É objetivo importante também na Mediação
diminuir o sofrimento das partes envolvidas no conflito, pois através da exposição do conflito
e da busca da sua causa geradora, a Mediação auxilia na superação da relação desfeita ou,
pelo menos, atenua o sofrimento das partes.

A essência da Mediação é a solução pacífica para os conflitos, utilizando-se de um


terceiro imparcial, que conduz o dialogo entre as partes, sem, no entanto, interferir na decisão
delas. A Mediação busca fazer com que as partes envolvidas reduzam os maus sentimentos
que nutrem uma pela outra. Ana Célia Roland Guedes afirma que:

22
SALES, Lilia Maia de Morais; ANDRADE, Denise Almeida de (Org.). Mediação em perspectiva. Fortaleza:
Universidade de Fortaleza, 2004, p.61.
85

a resolução de um conflito pontual pode ocorrer como conseqüência do trabalho da


mediação. Contudo, o objetivo básico é que os envolvidos, desenvolvam um novo
modelo de interrelação que os capacite a resolver ou discutir qualquer situação em
que haja a possibilidade de conflito. É pois, uma proposta educativa e de
desenvolvimento de habilidades sociais no enfrentamento de situações adversas.

Várias são as vantagens da Mediação de Conflitos, dentre as quais têm-se: celeridade no


processo de mediação, pois são as partes que dialogam e chegam a um acordo durante a
mediação, fazendo com que a solução do conflito através da mediação gere um menor custo
para as partes; confidencialidade do conflito, pois através da Mediação é assegurado sigilo
total às partes, acordos eficazes, pois são as próprias partes que os produzem, portanto os
cumprem mais facilmente.

A diminuição dos desgastes emocionais das partes envolvidas direta ou indiretamente


no conflito é considerada como vantagem da mediação de conflitos, pois o que se busca é
demonstrar os diferentes pontos de vista dos mediados, por meio de um diálogo aberto entre
as partes. A continuidade do relacionamento entre as partes envolvidas após o processo de
mediação, por ter a participação ativa das partes, colocando suas opiniões de forma aberta e
espontânea, facilita a obtenção da manutenção de um bom relacionamento de ambas.

Verônica Cezar-Ferreira 23 exemplifica vários casos em que a mediação pode não


solucionar o conflito: questões que tenham envolvido violência conjugal podem não ser
mediáveis, se o marido era violento, e a mulher se tornou tão atemorizada que não consegue
expor suas opiniões ou cuidar de seus interesses; quando a parte sente que suas reivindicações
não estão sendo atendidas; quando se enraivecem e perdem o controle emocional; ou ainda,
quando chegam a um acordo sobre o conflito que está sendo mediado, mas resolvem voltar
atrás e não confirmar o que anteriormente havia acordado.

Podem ser elencados também como fatos que impedem que a Mediação Familiar
prossiga os seguintes: desistência de uma das partes por qualquer motivo ou ainda sem motivo
justo; falta de confiança no instituto; resolução de matérias que ferem a legislação penal
(crimes); normas constitucionais e quaisquer outros direitos que não podem ser objetos de
mediação; ou quando a parte acredita que o processo judicial é a melhor forma para resolver
seus conflitos. Assim, ao ocorrer um desses casos citados acima ou qualquer outro que
ameace a finalidade do instituto, haverá questões que limitam a utilização da mediação para
resolução de conflitos.

23
FERREIRA, Verônica A. da Motta Cezar, op. cit., 2004, p.146.
86

4.7 Projeto de Lei nº 4.827 de 1998, de autoria da Deputada Federal Zulaiê


Cobra, com o substitutivo feito pelo Senado Federal

O Projeto de Lei da Câmara Federal nº 4.827/1998, de autoria da Deputada Zulaiê


Cobra, disciplina a Mediação como método de prevenção e solução consensual de conflitos.
Este projeto regulamenta a mediação de conflitos judicial ou extrajudicial, define o mediador
de conflitos e as modalidades de conflitos que poderão ser resolvidos pela mediação.

Referido Projeto de Lei, que regulamenta a Mediação de Conflitos no Brasil, foi


aprovado na Câmara Federal sem nenhuma emenda, mas o Senado Federal, através de
emenda apresentada pelo Senador Pedro Simon, apresentou substitutivo à redação original, o
qual foi aprovado, de forma que alterou a redação original do Projeto de Lei de Mediação de
Conflitos.

O Projeto de Lei dispõe que a mediação de conflitos poderá ser usada em todas as
matérias que admitam conciliação, reconciliação ou ainda transação, quer seja de matéria
civil. Em relação ao conflito, a mediação poderá versar sobre todo o conflito ou apenas parte
dele.

O Projeto de Lei define o mediador como terceira pessoa que, escolhida ou aceita pelas
partes interessadas, as escuta, as orienta e as estimula.

O Projeto de Lei nº 4.827/98 prevê as modalidades de mediação que são:quanto ao


momento da mediação que é prévia ou incidental ou quanto a qualidade do mediador que é:
judicial ou extrajudicial.

Quanto às normas que regulamentam as funções dos mediadores, o Projeto de Lei as


disciplina no artigo 11 e seguintes, informando que podem ser de caráter judicial e
extrajudicial. Ainda, disciplina a figura e a utilização do co-mediador na Mediação. O Projeto
de Lei outorga atribuições à Ordem dos Advogados do Brasil, aos Tribunais de Justiça dos
Estados e às instituições especializadas previamente credenciadas pelos Tribunais de Justiça
para realizar treinamento e seleção dos candidatos à função de mediador e co-mediador.

De acordo com o Projeto de Lei, o registro dos mediadores será mantido pelos Tribunais
de Justiça. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania inseriu disposição que impõe aos
Tribunais de Justiça a sistematização dos dados dos mediadores e a sua publicação para fins
estatísticos.
87

Ainda consta no Projeto de Lei as formas de fiscalização e controle da atividade de


mediação. Estão disciplinadas no Projeto de Lei as hipóteses de impedimento dos mediadores
e as condutas passíveis de censura. Cabe à Ordem dos Advogados do Brasil-OAB o controle
dos mediadores.

O capítulo IV disciplina a mediação prévia; já a mediação incidental está prevista no


capítulo V. O Capítulo VI regulamenta as disposições finais e regulamenta que a atividade do
mediador será sempre remunerada, estabelecendo o prazo de 180 dias para os Tribunais de
Justiça expedirem as normas regulamentadoras que viabilizem o início das atividades.

4.8 Mediação familiar

A Mediação Familiar surgiu nos Estados Unidos no começo da década de 70, com
finalidade de diminuir os danos causados pelo divórcio dos pais no desenvolvimento dos
filhos. Inicialmente a Mediação Familiar atuava apenas nos casos que envolviam separação e
divórcio, mas atualmente é utilizada em todas as matérias que são discutidas nas varas de
Família.

Haim Grunspun, ao analisar a Mediação Familiar, comenta de forma clara como é feita
em outros países que já adotam com maior eficácia a Mediação Familiar:

[...] a mediação familiar é a intervenção de mediadores as famílias da comunidade,


íntegras ou em vias de separação, de forma preventiva, tentando evitar o divórcio ou
interferindo no início das separações. São serviços ligados a Centros da comunidade,
a governos regionais ou universidades, e a mediação realizada de forma gratuita por
voluntários. Nos EUA houve multiplicação desses serviços e a mais importante em
todos os Estados americanos e em outros países como Alemanha, Canadá, Israel e
outros, é a Academia dos Mediadores Familiares, onde é reconhecido o curso de
formação dos mediadores profissionais. As universidades também oferecem cursos
de formação dos mediadores para diplomados em cursos superiores. Os membros da
Acadêmica dos Mediadores familiares proporcionam serviços de mediação para
famílias que enfrentam decisões envolvendo separação, divórcio ou dissolução
conjugal, guarda de filhos, visitas a filhos, divisão de bens, pensão alimentar,
cuidados com idosos, acordos pré-nupciais, abusos, violência doméstica e outras
disputas ou conflitos dentro da família. Os mediadores ajudam as pessoas a decidir
os caminhos a seguir. Em alguns casos poderá ser a mediação e o casal é
encaminhado a um mediador profissional; em outros casos a via é defender direitos
com litígio na justiça em diferentes áreas e a família é encaminhada para advogados
com diferentes especialidades. 24

No Brasil, a Mediação Familiar começou a ser utilizada na década de noventa e, apesar


de ainda não ter nenhuma legislação que a discipline, está sendo cada vez mais utilizada pela
sociedade brasileira, pois, além de resolver o conflito, a mediação permite um diálogo aberto
24
GRUNSPUN, Haim, op. cit., 2000, p.17-18.
88

entre as partes para que se refaça pelo menos o convívio amistoso entre os ex-cônjuges. Esta
forma de solução pacífica de conflitos permite às partes expor seus problemas e extravasar
seus sentimentos para que só assim possam se libertar de mágoas ou qualquer outro
sentimento ruim que possa atrapalhar o bom andamento da solução do conflito.

Assim como nos Estados Unidos, a mediação familiar no Brasil começou a solucionar
problemas oriundos de separação de casais e atualmente abrange todos os conflitos
relacionado à família, como : alimentos, guarda de filhos, visitação de netos, visitações de
filhos, prestação de contas, partilha de bens, divergência no exercício do poder familiar, etc.

A mediação familiar preza pelo respeito à família e sua proteção, de acordo com o
disposto no artigo 226 da Constituição Federal de 1988 que dispõe: “A família, base da
sociedade, tem especial proteção do Estado.” Assim, como a família é o pilar da sociedade
merece atenção diferenciada para que os seus membros tenham o seu bem-estar assegurado de
forma ampla. Águida Arruda Barbosa define a mediação familiar como

a intervenção de uma equipe multiprofissional, nos conflitos de família, que dispõe


de técnicas de especialização interdisciplinar, para entender o sofrimento, conter a
angustia, acompanhar a decisão e ajudar na organização da separação, por meio de
uma integração do saber. 25

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina produziu uma cartilha sobre o serviço de


Mediação Familiar e definiu a Mediação Familiar como:

uma forma de resolução de conflitos, na qual os interessados solicitam ou aceitam a


intervenção confidencial de uma terceira pessoa, imparcial e qualificada, que
permite aos conflitantes tomar decisões por si mesmos e encontrar uma solução
duradoura e mutuamente aceitável, que contribuirá para a reorganização da vida
pessoal e familiar. 26

Assim sendo, a Mediação Familiar, como espécie de mediação de conflitos, consiste na


solução do conflito pelas próprias partes que, através do diálogo franco, decidem acerca de
questões familiares. Sabe-se que através da mediação Familiar o princípio do melhor interesse
da criança será prontamente atendido, bem como o vínculo de convivência entre os ex-
cônjuges, pois é através dessa forma de solução pacífica de conflitos que se consegue, com
maior êxito, continuar proporcionando ao menor a convivência com ambos os pais e com os

25
CADERNO DE ESTUDOS, n. 1. O direito de família e a mediação familiar. Direito de família e ciências
humanas. São Paulo: Jurídica Brasileira, 2003, p.26.
26
Sobre o serviço de mediação familiar do poder judiciário de Santa Catarina. SANTA CATARINA. Tribunal
de Justiça. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br>. Acesso em: 08 jan. 2008.
89

familiares maternos e paternos, tendo assim todo o apoio emocional de que necessita para ter
o seu bem-estar assegurado.

José Carlos de Mello Dias, ao analisar a necessidade de se utilizar cada vez mais a
mediação de conflitos, afirma que

no Estado líder da federação- São Paulo-, há uma demora de aproximadamente três


anos para distribuição de uma ação no primeiro Tribunal de Alçada Civil e mais dois
anos no Segundo Tribunal de Alçada Civil. Não é possível convivermos com a idéia
de que somente a força obrigatória do Estado, por meio de uma sentença judicial,
possa dirimir conflitos, resolver controvérsias. Precisamos nos conscientizar de que
é necessário pôr um freio generalizado, evitando-se, tanto quanto possível, lides
temerárias, procedimentos de má-fé, recursos para se ganhar tempo, expedientes ou
ações de defesas infundadas. Agir por agir, judicialmente, não mais pode ser
permitido; existem instrumentos processuais, mas essas situações não têm sido
evitadas. 27

Porém, não se pode esquecer que, para o processo de Mediação Familiar realmente
funcionar e resolver o conflito real, será necessário, segundo a professora Águida Arruda
Barbosa, 28 que não existam três situações como causas que limitam a aplicação da Mediação
Familiar: a falta de disposição de uma das partes de participar do conflito, um dos cônjuges
apresente algum tipo de doença psíquica, que prejudique sua capacidade no momento de
resolver o conflito; e ainda falta de recursos financeiros por parte das pessoas envolvidas no
conflito, pois geralmente a mediação não é oferecida gratuitamente e o seu processo tem
custos relativamente altos.

Portanto, o incentivo e a divulgação da mediação familiar para a sociedade brasileira


têm que ser vista como prioridade, pois é através dessa forma pacificadora de solução de
conflitos que se poderá, com maior agilidade, garantir a paz na família e a solução de seus
conflitos, de forma menos prejudicial às partes. Mas se o mediador perceber que existem
causas que possam limitar e prejudicar a solução do conflito pela mediação familiar, deverá
no mesmo momento interromper o processo de Mediação Familiar e encaminhar as partes
para outra forma de solução de conflitos.

27
DIAS, José Carlos de Mello. Mediador: uma experiência profissional. Mediação: um projeto inovador, série
cadernos do CEJ. Brasília: Centro de Estudos Judiciários, 2003. v. 22, p.64-65.
28
CADERNO DE ESTUDOS Nº 1. O direito de família e a mediação familiar. Direito de família e ciências
humanas. São Paulo: ed. Jurídica Brasileira, 2003, p.29-30.
90

4.9 Conflitos familiares

Os conflitos oriundos da família são complexos, pois envolvem sentimentos como:


dores, angústias, sofrimento, vingança, perda, mágoa, raiva, etc. Assim, quando há um
rompimento conjugal, todos esses sentimentos acumulados por pequenas atitudes, ao longo
dos anos, vêm à tona e faz com que até o diálogo entre as partes seja prejudicado.

Eliana Riberti Nazareth afirma que: “A Mediação Familiar tem sua especificidade, pois
é voltada à condução de conflitos que envolvem níveis diversos de complexidade, em que o
intrapsíquico e o intersubjetivo exercem papéis preponderantes.” 29

Lilia Sales e Mônica Carvalho, ao analisarem a questão do conflito real e do conflito


aparente, afirmam que:

nas sessões de mediação, é comum as pessoas exporem o conflito aparente, em


detrimento do real. Muitas vezes, as discussões envolvem ataques pessoais que se
revelam como as motivações dos conflitos, mas na verdade são conseqüências de
uma razão maior: o conflito real. Isso ocorre principalmente em relação aos conflitos
de natureza familiar, uma vez que, como já salientado, envolvem emoções que
dificultam o diálogo. A mediação, sobretudo a familiar, objetiva resolver o conflito
real, e não o conflito aparente, pois assim estará sendo solucionado o verdadeiro
problema. Deste modo, a mediação propõe um trabalho de desconstrução do
conflito, fazendo com que os mediados encontrem as reais motivações de suas
disputas e as solucionem. 30

É difícil um relacionamento acabar porque ambas as partes decidiram. Na maioria das


vezes, o casamento ou a união estável é rompida por uma das partes, de maneira que a parte
que não quis o rompimento, às vezes, é surpreendida e apela, em defesa própria, permitindo
emergir todos seus sentimentos ruins, os quais foram guardados por muito tempo. É muito
difícil o amor acabar ao mesmo tempo para duas pessoas, daí se falar que as causas familiares
necessitam de uma maior atenção, porque está se falando de sentimentos de seres humanos,
de suas vidas pessoais. Ocorre diferente quando as lides envolvem revisionais de carros,
pagamentos de tributos, cobranças, etc., já que nestas últimas não há relações familiares
desfeitas. Andréia da Silva Costa afirma que

o conflito real é o problema verdadeiro, é a dificuldade apresentada e causadora do


mal-estar entre os conflitantes. É a situação aflitiva que, se não existisse, não haveria
conflito. O conflito real se constitui, assim, no confronto entre os exatos interesses
de cada parte. Este tipo de adversidade pode ou não ser detectada logo no primeiro

29
NAZARETH, Eliana Riberti. A prática da Mediação. Família e cidadania o novo CCB e a Vacatio Legis. In:
PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Anais do III congresso Brasileiro de Direito de Família. Belo
Horizonte: IBDFAM, 2002, p.309.
30
SALES, Lilia Maia de Morais; VASCONCELOS, Mônica Carvalho, op. cit., 2006.
91

instante que é apresentada, prescindindo ou não de uma analise minuciosa e


criteriosa. Por outro lado, o conflito aparente é aquele que parece ser o problema que
perturba as partes, mas não o é. O que na verdade é externado é apenas um dos seus
efeitos. Este conflito se revela como sendo o antagonismo que existe de fato,
contudo não passa de um mero detalhe da real controvérsia, estando, pois, a se
esconder, por trás deste a sua verdadeira causa. O conflito aparente, sendo resolvido
ou pelo menos amenizado, não deixa os litigantes satisfeitos, isto ocorre haja vista a
solução deste não pôr fim ao problema real que os inquieta. Conseqüentemente,
mesmo desaparecendo o conflito aparente, o real continua presente perdurando. 31

Assim, os sentimentos ruins que cada parte nutre pela outra podem mascarar o conflito
real que deverá ser solucionado, deixando aparecer apenas o conflito aparente, que é apenas
mais uma conseqüência do conflito real.

Quando ocorrem conflitos familiares, os filhos são os mais prejudicados no rompimento


da sociedade conjugal, pois de uma hora para outra seus pais não moram mais juntos e passam
a ter posicionamentos conflitantes que interferem diretamente na vida das crianças e
adolescentes. Portanto, é necessário que os pais deixem de lado as mágoas que sentem um
pelo outro para que possam decidir, a partir do diálogo producente, o futuro da prole comum.
Daniele Ganância, citada por Águida Arruda Barbosa, expõe que:

a natureza dos conflitos de família, antes de serem jurídicos, são essencialmente


afetivos, psicológicos, relacionais, envolvendo sofrimento. Assim, os juízes
questionam-se sobre o efetivo papel que desempenham nesses conflitos,
conscientizando-se dos limites do Judiciário. Daí a insatisfação e o ressentimento
dos jurisdicionados, que acreditam na magia do julgamento, como remédio a todos
os seus sofrimentos: seu reflexo primeiro, em caso de conflito, é de agarrar-se ao
juiz, ‘ deus ex-machina’, ‘superpai’, que vai lhes ditar suas soluções; sem
compreender que nenhuma decisão da justiça poderá solucionar de forma duradoura
seu conflito nem substituí-los em suas responsabilidades parentais. 32

Diante do exposto, observa-se que os conflitos familiares precisam ser analisados com
bastante cautela, pois o que está sendo mediada é a vida de pessoas que estão abaladas com o
rompimento do relacionamento. Portanto, todos os profissionais que possam auxiliar na
resolução da crise conjugal devem ser pessoas dotadas de paciência, experiência de vida,
controle emocional, dentre outras características necessárias para ajudar as partes a solucionar
seus conflitos familiares.

31
COSTA, Andréia da Silva. Comentários sobre a natureza dos conflitos. In: SALES Lilia Maia de Morais;
ANDRADE, Denise Almeida de (Org.), op. cit., 2004, p.13.
32
GANANCIA, Daniele apud BARBOSA, Águida Arruda, op. cit., 2004, p.37-38.
92

4.10 Objetivos da mediação familiar

A Mediação Familiar, como espécie de Mediação de Conflitos, tem como objetivo


principal solucionar o conflito familiar. Assim, busca-se analisar o conflito familiar, fazendo
com que as partes possam lidar com o fim da relação conjugal de forma colaborativa e não
competitiva, pois só assim será possível atenuar as marcas e sentimentos deixados pela
separação.

Durante o processo da mediação, também irá se buscar a origem do conflito, pois o


propósito é resolver de forma duradoura o conflito, e não apenas o momentâneo, já que assim
as partes não vão poder, de uma forma amigável, continuar mantendo relação de convivência.

Através da Mediação Familiar pode-se oferecer um serviço para atender aos conflitos
familiares de uma maneira geral, de forma acessível, ágil e menos burocrática, como o é nas
ações judiciais.

É objetivo também da Mediação Familiar a facilitação do diálogo entre as partes, pois


cabe ao mediador familiar oferecer um caminho para que os cônjuges elaborem, por si
mesmos, as bases de um acordo, levando em conta as necessidades de cada um dos membros
da família. Em relação aos filhos, é necessária uma atenção especial, pois são os mais
prejudicados quando há uma separação dos pais.

É objetivo da Mediação Familiar diminuir eventuais conflitos que possam ser


provenientes da dissolução da relação do casal, pois ao esclarecer as reais necessidades e
interesses de todos os envolvidos, serão encontradas soluções satisfatórias, as quais possam
ser cumpridas com base em acordos viáveis.

4.11 Mediador familiar

O Mediador Familiar

deve ser visto como um agente de transformação social- ou seja, alguém que se
apresente como instrumento capaz de propiciar às partes a oportunidade de adquirir
uma nova cultura de solução de conflitos. Como? Promovendo a abertura para a
aceitação do conflito e para novas maneiras de abordá-lo, em clima de cooperação. 33

33
MUSZKAT, Malvina Ester. Guia prático de mediação de conflitos em famílias e organizações. São Paulo:
Summus, 2005.
93

Cabe ao mediador o bom andamento do processo de mediação de conflitos, pois é da


sua competência a condução do processo. Assim sendo, o mediador necessita ter paciência,
controle emocional, ética, autoconhecimento, flexibilidade e auto-estima para que não se
desvirtue do seu papel. Importante também que o mediador observe os princípios que
norteiam a mediação e possua conhecimento sobre a matéria que está sendo discutida na
mediação. Lilia Sales e Mônica Vasconcelos, ao escrever sobre o assunto, afirmam que:

principalmente na mediação familiar, o mediador precisa permanecer atento às suas


próprias emoções, no sentindo de conservar sua imparcialidade. Desafiadora é a
função deste profissional, uma vez que, mesmo se tratando das sensíveis questões de
família, deve controlar seus instintos, não deixando transparecer suas opiniões pré-
estabelecidas a respeito deste delicado tema. Assim, para uma eficaz mediação
familiar, o mediador precisa compreender o dinamismo das relações dessa
natureza. 34

Portanto, o Mediador Familiar necessita ter um controle emocional muito grande, pois
como lida com conflitos familiares, tais como: separação, divórcio, alimentos, guarda de
menores, etc., sempre trata com pessoas que estão abaladas emocionalmente, pois nesses
conflitos familiares a família foi dissolvida ou está em processo de dissolução. As partes em
conflito chegam para a Mediação familiar cheias de raivas, rancores, mágoas, sentimentos
ruins, os quais, se o mediador não souber lidar, terá vários problemas durante o processo.

A paciência é uma característica que deve ser inerente à pessoa do Mediador, pois o
processo de mediação não é solucionado geralmente no primeiro encontro e, não raro, as
partes repetem a sua versão sobre o conflito diversas vezes. Portanto, se o mediador não tiver
paciência para escutar com tranqüilidade as partes e demonstrar qualquer desinteresse sobre o
assunto que está sendo mediado, não estará cumprindo o seu papel de mediador de conflitos.

O mediador deverá sempre agir com ética quando está exercendo sua função, pois a
credibilidade da mediação consiste primordialmente na conduta ética do mediador. Não se
pode conceber um mediador agindo contrário ao Código de Ética dos Mediadores e,
conseqüentemente, prejudicando a resolução do conflito. Segundo Lilia Sales o mediador
frente à instituição ou entidade especializada deve

submeter-se ao Código e ao Conselho de Ética da instituição ou entidade


especializada, comunicando qualquer violação às suas normas. [...] O mediador
deverá registrar e comunicar à instituição de mediação qualquer violação às suas
normas, para que possam ser tomadas as medidas cabíveis. As instituições de
mediação normalmente elaboram um regimento interno (norma institucional) que

34
SALES, Lilia Maia de Morais; VASCONCELOS, Monica Carvalho, op. cit., 2006, p.83.
94

prevê as penalidades para aqueles mediadores que desrespeitem as normas


estabelecidas. 35

Assim, o mediador, para exercer sua profissão, deverá sempre pautar sua conduta de
acordo com a ética adequada para o exercício de sua função.

A independência é qualidade necessária a todos mediadores e não só os que auxiliam a


solução de conflitos familiares. É através da independência do mediador que se consegue uma
solução justa para o conflito, pois só agindo com independência o mediador fica livre de
qualquer tipo de interferência de qualquer uma das partes.

A última característica imprescindível ao mediador é a flexibilidade. Não se admite que


um mediador tenha posicionamentos arraigados que possam influenciar a decisão das partes.
Cabe ao mediador conduzir a mediação sem impor seus princípios, de maneira a incumbir às
partes a solução do conflito.

São tarefas do Mediador facilitar e melhorar a comunicação entre as partes, expor os


pontos convergentes e divergentes da questão em análise, proporcionar um ambiente saudável
entre as partes, visando a um bom relacionamento social futuro.

4.12 Co-mediador

A co-mediação é o procedimento realizado por dois ou mais mediadores. Dessa forma,


permite a reflexão e amplia a visão da controvérsia, propiciando melhor controle de qualidade
da Mediação.

A função do co-mediador é de extrema importância na Mediação Familiar, pois a


atuação conjunta de vários profissionais que conhecem a matéria que está sendo mediada
conduz de forma mais clara e precisa a resolução de um conflito familiar. Como bem mostra
Eliana Riberti Nazareth e Lia Justiniano dos Santos:

o intercâmbio entre os profissionais do Direito e os profissionais da saúde mental,


especialmente aqueles com formação psicanalítica, propicia não só melhor
compreensão dos diferentes níveis de conflitos, mas também promove uma
aproximação entre afeto e razão , mundo interno e mundo externo, realidade
psíquica e realidade material. 36

35
SALES, Lilia Maia de Morais. Mediare - um guia prático para mediadores. Fortaleza: Universidade de
Fortaleza, 2004a, p.41.
36
NAZARETH, Eliana Riberti; SANTOS, Lia Justiniano dos. A importância da co-mediação nas questões que
chegam ao direito de família. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.), op. cit., 2004, p.127.
95

A atuação do profissional da área de saúde é importante no processo de mediação


familiar, porque conhece os mecanismos do funcionamento psicológico. De acordo com as
lições de Eliana Riberti Nazareth e Lia Justiniano dos Santos, tem-se que:

o profissional, impulsionado por essas pressões, pode não raro, se sentir premido a
tomar decisões e a fazer sugestões que nem sempre são apenas fruto das
necessidades apresentadas. Há inúmeros fatores subjetivos, verdadeiros ruídos
interiores, que, estimulados por essas projeções, podem leva-lo, sem que tenha plena
e total consciência de seus motivos ocultos, a agir. Há aí, um sutil deslize que pode
materializar em, por exemplo, petições e arrazoados baseados mais em um costume
social aparentemente aceito e menos nas necessidades e possibilidades do caso. A
psicanálise nos permite também compreender como se dá a comunicação humana
em um contexto de significados emocionais latentes apenas vislumbrados e
instituídos pelo pensamento objetivo. É na subjetividade das relações humanas que
as mensagens comunicacionais adquirem sentido. 37

O trabalho em equipe na Mediação Familiar proporciona uma maior segurança às partes


que estão sendo mediadas. O assistente social, o psicólogo, o advogado, dentre outros
profissionais habilitados a tratar da matéria que motiva o conflito, podem em conjunto
auxiliar e conduzir a mediação sem, entretanto, tirar das partes a autonomia de resolver seus
conflitos.

O Serviço Social tem conhecimentos específicos para atuar nos processos relacionais,
ou seja, tem condições de, através de conhecimentos teóricos e metodológicos, analisar o caso
concreto. A visita domiciliar proporciona colher informações da real situação das partes,
como condições de habitação, condições de vida dos filhos menores, avaliação da relação
genitor-filho, avaliação da convivência familiar de todos os integrantes da família, etc. Para se
usar o serviço social como estudo social, é necessária uma decisão conjunta das partes que
estão sendo mediadas, pois somente elas têm o poder de decidir acerca dos seus conflitos.
Quando aceito pelas partes, pode proporcionar mais um dado precioso que torne mais fácil a
solução do conflito familiar. Portanto, como bem argumenta Carla Regina Moreira,

a assistente social/mediador deverá ter uma ação imparcial, ter a percepção da


totalidade, saber interagir com outras áreas e com outras instituições. Essa técnica
permite a compreensão da subjetividade devido ao olhar de várias ciências sobre o
fenômeno em questão. 38

A atuação do psicólogo é fundamental nas questões de famílias que estão em crise e


buscam a mediação familiar como forma de solucionar o conflito, pois as partes

37
Ibid., 2004, p.132.
38
MOREIRA, Carla Regina, Claudia Rosa Baptista; SILVA, Euniciana Peloso da. O papel do serviço social em
um programa de mediação familiar. In: MUSZKAT, Malvina Ester (Coord.). Mediação de conflitos
pacificando e prevenindo a violência. São Paulo: Summus, 2003, p.139-150.
96

[...] em crise estão psicologicamente regredidos, comportando-se de modo


irracional, imaturo e aparentemente incompreensível, ‘convocando’ os profissionais
que os atendem a exercer funções egoícas de reflexão, ponderação, consideração,
prudência e bom senso, as quais sentem-se impedidos de desempenhar. Isso
comumente gera expectativas de atuação além do conveniente e oportuno. 39

Em relação aos conflitos familiares, a técnica utilizada pelos psicólogos é de grande


valia, como bem afirma Reginandréa Gomes Vicente e Lilia Godau dos Anjos Pereira
Biasoto, ao expor que:

a psicologia tem desenvolvido formas de trabalhar com os conflitos suprimindo a


conotação de ‘doença’, que muitas vezes lhes foi imputada, encarando-os, por outro
lado, com algo intrínseco à condição humana. Cabe ao profissional da área de
psicológica acompanhar o seu cliente na desconstrução dos padrões de
relacionamento desencadeadores de conflito, para que ele possa ampliar o seu
repertório ganhando em autonomia de ação. 40

Assim, o psicólogo poderá, através de seus conhecimentos, esclarecer e auxiliar as


partes a retirar a máscara que encobre seus sentimentos e, sem nenhum tipo de interferência
do mediador, as partes resolvem o conflito da forma que acham conveniente. Importante
observar que o psicólogo-mediador não poderá, em nenhum momento, ser parcial, indicar o
caminho a ser seguido, pois a sua função na mediação é ser mediador e, para isto, precisa ser
imparcial e impedido de opinar, sugestionar ou ainda impor a resolução do conflito.

Outro profissional bastante utilizado com mediador de conflitos é o bacharel em direito,


especificamente o advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. O
advogado, por conhecer a legislação brasileira e a sua devida aplicação, exerce a função de
mediador com segurança, pois apesar de não poder sugestionar, indicar ou ainda decidir o
conflito que está sendo mediado, pode, quando as partes acordarem sobre a resolução do
conflito, apreciar se tal decisão tem respaldo legal para sua devida homologação em juízo.

É necessário que a solução do conflito seja legal, pois de que adianta resolver um
conflito e firmar um acordo com a outra parte se não houver, no futuro, meios para o
cumprimento do acordo? As partes são detentoras do poder de decisão na mediação familiar,
mas sempre precisam ter em mente que a solução deverá ser de acordo com a legislação
brasileira.

39
NAZARETH, Eliana Riberti; SANTOS, Lia Justiniano dos, op. cit., 2004, p.1132.
40
VICENTE, Reginandréa Gomes; BIASOTO, Lilia Godau dos Anjos Pereira. O conhecimento psicológico e a
mediação familiar. In: MUSZKAT Malvina Ester (Coord.). Mediação de conflitos pacificando e prevenindo
a violência. São Paulo: Summus, 2003, p.155.
97

O projeto de lei de autoria da deputada Zulaiê Cobra, que está em trâmite no Congresso
Nacional, disciplina a mediação de conflitos e estipula que os mediadores judiciais serão
advogados com pelo menos 3 (três) anos de atividades jurídicas; porém, se a mediação não for
judicial, só se exige que o mediador seja capaz, tenha conduta ilibada e formação técnica ou
experiência prática na área do conflito. Assim, resta demonstrado que o advogado poderá,
dentro do processo de mediação familiar, auxiliar de forma não interventiva a solução do
acordo, em conformidade com o Ordenamento Jurídico brasileiro.

O mesmo projeto de Lei de Mediação disciplina a figura da co-mediação, e nas questões


que discutem a matéria sobre estado da pessoa e outras questões de conflitos familiares, é
necessária a atividade conjunta de psiquiatra, psicólogo, assistente social, o que vai depender
do caso concreto, para se saber quais profissionais serão utilizados, sem contar com o
mediador, que é terceiro imparcial, mas imprescindível para o bom andamento do processo de
mediação.

Assim, a tendência é que o processo de mediação de conflitos, e especificamente o de


Mediação Familiar, utilize a figura do co-mediador para que a solução do conflito pelas partes
seja a que mais atenda e resolva o conflito real, prevalecendo o respeito à dignidade humana.

4.13 Da aplicação da mediação nos conflitos que envolvem a questão da


guarda de filhos

Sabe-se que a Mediação Familiar é utilizada com êxito nas questões que envolvem
conflitos familiares, pois através dessa solução pacífica de conflitos as partes poderão, por
meio do diálogo, resolver o conflito real.

Como na maioria dos casos o sofrimento dos membros da família é muito intenso, a
separação acarreta a necessidade de uma série de providências para garantir o bem-estar dos
filhos, pois a separação deixa uma sensação de fracasso nos pais, que pode repercutir na
relação com os filhos. Os sentimentos de raiva, mágoa, traição e humilhação, além da
dificuldade em se adaptar a uma nova vida, faz com que o processo de separação de um casal
se torne ainda mais difícil. Assim, muitas vezes, com a separação do casal, um dos pais
procura distanciar o outro genitor do filho, como bem afirmou Judith Wallerstein, que dispõe:

as crianças e os adolescentes vivenciam a separação e seus efeitos com um


sentimento de choque, angústia intensa e profundo pesar. Muitas crianças são
relativamente felizes, até mesmo bem cuidadas em famílias nas quais um ou ambos
98

os genitores se sentem infelizes. Poucas crianças se sentem aliviadas com a decisão


do divórcio, e aquelas que se sentem assim geralmente são mais velhas e
presenciaram violência física ou conflito aberto entre os pais. As primeiras respostas
das crianças não são regidas por uma compreensão das questões que conduzem ao
divorcio tenha uma incidência elevada na comunidade. Para a criança o divórcio
significa o colapso da estrutura que proporciona apoio e proteção. A criança reage
como se seu ciclo vital tivesse sido interrompido. 41

Cristiane Rocha Stellato afirma que

medo, hostilidade, ódio, vingança, depressão e ansiedade, fazem o elenco de


emoções experimentadas por pessoas que enfrentam a separação. O mediador usa de
estratégia e técnica que procuram evitar a exteriorização dessas emoções entre as
partes, fazendo um projeto onde os filhos são os centralizadores do processo. Esses
filhos são mais protegidos no processo de mediação do que no processo judicial,
mesmo quando esse é amigável. Como a mediação centraliza o melhor interesse dos
filhos no acordo e planeja as relações nas novas formas de família, respeitando as
idades dos filhos em seu desenvolvimento, beneficia os filhos protegendo-os de
futuras contendas entre os pais. Facilita também a comunicação entre os pais sobre a
educação e o futuro dos filhos. 42

Portanto, cabe a utilização da mediação nas ações de separação, divórcio e nas


específicas de regulamentação de guarda ou ainda de destituição e, conseqüentemente,
alteração de guarda, visto que como na mediação familiar são as próprias partes que
solucionam os conflitos, a tendência será que seja solucionado de acordo a garantir o bem-
estar de todos os integrantes da família.

Durante todo o trabalho, foi sempre ressaltada a importância de ser observar o princípio
do melhor interesse da criança e do adolescente nos casos em que o conflito verse em torno
delas, pois o menor tem, através de preceito constitucional, direito ao bem-estar não só físico
como mental. Ana Carolina Brochado Teixeira afirma que

constata-se, universalmente, que a dignidade da pessoa humana está na base de


todos os direitos fundamentais. Ela pressupõe o reconhecimento dos mesmos pela
ordem jurídica, em todos seus aspectos e dimensões. Além disso, a dignidade da
pessoa humana foi especialmente vertida para criança e o adolescente, no caput do
art. 227 da Carta Constitucional. Assim, eles têm sua dignidade assegurada não
apenas de forma geral no art. 1 da Constituição Federal, mas de forma específica no
dispositivo supracitado. 43

Não se pode atender ao princípio do melhor interesse da criança sem visar à dignidade
da pessoa humana, que é base para todos os outros princípios e direitos admitidos no Brasil,
pois o objetivo do princípio da dignidade da pessoa humana é salvaguardar a pessoa humana

41
WALLERSTEIN, Judith. Filhos do divórcio. In: COSTA, Gley P.; KATZ, Gildo (Org.). Dinâmica das
relações conjugais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992, p.201.
42
STELLATO, Cristiane Rocha. A importância do acordo no direito de família. Disponível em:
<http://www.apase.org.br>. Acesso em: 08 jan. 2008.
43
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado, op. cit., 2005, p.78.
99

em todos os seus aspectos. Assim sendo, no caso instituir guarda de filhos decorrente de
separação dos pais, em virtude de dissolução da união estável, ou ainda de pais que nunca
moraram juntos, mas exerce plenamente o exercício do poder familiar, o processo de
Mediação Familiar irá garantir um maior beneficio para o filho menor, pois os pais, por meio
de diálogo aberto, poderão determinar o que será melhor para a criança ou o adolescente.
CONCLUSÃO

O instituto do Poder Familiar tem sua origem no Direito Romano na forma da pátria
potestas e, ao longo do tempo, foi sofrendo várias alterações, conforme foi exposto no
decorrer do trabalho. O Código Civil de 1916 denominava-o de Pátrio Poder, o qual
inicialmente era exercido somente pelo pai. Com a Lei nº 4.121/62 (Estatuto da Mulher
Casada), o exercício do pátrio poder passou a ser exercido pelo marido, mas com a
colaboração da mulher.

A partir da Constituição Federal de 1988, que igualou os direitos e deveres de homens e


mulheres, o pátrio passou ser exercido por ambos os genitores de forma igualitária. O Código
Civil de 2002 modificou a denominação de pátrio poder para poder familiar, por se adaptar
mais ao objetivo do atual instituto.

Os direitos dos filhos menores são prioridade na matéria que disciplina guarda de
menores, pois é necessário preservar os interesses das crianças e dos adolescentes. As
obrigações dos genitores e suas responsabilidades, regulamentadas pela legislação civil,
embasam a preocupação atual de toda a sociedade de preservar o bem-estar da criança e do
adolescente. As matérias referentes à pessoa do filho e à suspensão e perda do poder familiar
servem de norte para o bom exercício desse instituto.

Sabe-se que muitas vezes os relacionamentos acabam e, como todo final de união, gera
dores, ressentimentos e mágoas para ambos os lados. Os filhos gerados dessa união são os que
mais são afetados com a separação dos pais, pois de uma ora para outra passam a não ter mais
a convivência com ambos os pais diariamente, e a presença do genitor que não detém a guarda
do menor passa a ser com hora e dia marcados por uma decisão judicial.

A guarda dos filhos realmente é a questão que gera mais discórdia nos ex-cônjuges,
visto que ao genitor não guardião caberá apenas o direito de visita, fiscalização da saúde
psíquica e física do menor, ou seja, um acompanhamento mais distante do que havia quando
moravam na mesma residência. Este é o principal problema decorrente da separação.
101

Assim, o instituto da guarda deverá ser aplicado sempre de maneira que atenda aos
interesses do menor, pois as obrigações dos genitores deverão ser cumpridas por eles, para
que só assim o menor tenha o seu bem-estar amplamente garantido. São obrigações de ambos
os genitores: proteger, educar, garantir a convivência dos mesmos com a família materna e
paterna.

A doutrina reconhece várias modalidades de guarda e enumera como sendo as mais


importantes: a guarda de fato, a guarda desmembrada ou delegada, a guarda comum, a guarda
exclusiva, a única ou monoparental, a guarda alternada, o aninhamento ou nidação, e ainda a
guarda compartilhada. Todas devidamente analisadas no decorrer do presente trabalho.

Apesar de haver várias modalidades de guarda, o Código Civil, em seu artigo 1.583,
disciplina que a guarda será única ou compartilhada. Atualmente, a guarda única é a mais
determinada judicialmente ou acordada pelos pais. Porém, em algumas hipóteses, a guarda
exclusiva do filho para um só genitor proporciona uma gradual separação do filho em relação
ao genitor não guardião, pois o convívio fica bastante comprometido e o genitor não participa
do cotidiano do menor.

No Brasil, ainda se está no início, pois apesar de o Código Civil disciplinar a guarda
compartilhada, a sociedade não conhece o instituto, por estar receosa do momento em que for
necessário regularizar a guarda dos filhos. Cada vez mais o instituto da guarda compartilhada
está sendo usado, porque em certas situações possibilita a ambos os pais educar os filhos,
visto que o interesse dos mesmos está acima de qualquer desavença que possa existir entre o
casal que está se separando. Este tipo de guarda, quando há diálogo entre os genitores,
minimiza os efeitos da separação dos pais, pois as crianças verificam que a relação dos pais
continua amigável e principalmente que os dois estão do mesmo lado quando a questão é o
bem-estar do filho.

Sabe-se que muitas vezes o genitor que fica com a guarda usa a criança como um
“coringa”, sendo ela a carta que o leva a dificultar a vida do ex-cônjuge. É comum ser o dia de
o pai visitar a criança e quando este vai buscá-la a mãe saiu para passar o fim de semana fora
e vice-versa. Assim, são criados transtornos psicológicos para a criança, pois ao mesmo
tempo não quer magoar o pai nem a mãe. Este tipo de intriga é comum na guarda exclusiva, já
que na guarda compartilhada dos menores não há problemas dessa natureza, visto que os pais
resolvem juntos sobre os interesses dos filhos.
102

As questões de discórdia sobre o patrimônio do casal nem tampouco ressentimento de


uma das partes, não podem interferir no dialogo entre o ex-casal quando o assunto é o bem-
estar dos filhos em conjunto. Portanto, o bem-estar do menor, consagrado na Constituição
Federal de 1988 e no Código Civil atual, é o que deve ser prioridade em detrimento de
qualquer outra questão, quando existe a separação dos pais. Quando não há acordo em relação
à guarda dos filhos, competirá ao Judiciário resolver tal questão e caberá ao juiz competente
decidir qual a forma de guarda que será melhor para a criança em questão. O judiciário poderá
contar com pareceres de assistentes sociais e psicólogos que auxiliam muito a decisão do juiz.
Mas, sabe-se que, por mais que o seja competente ao determinar a guarda para um ou outro
genitor, o mesmo não conhece as reais necessidades da criança e do adolescente.

A partir da necessidade de se conhecer as necessidades da criança e do adolescente, é


que a Mediação Familiar, por ser um processo amigável, no qual o mediador é um terceiro
imparcial que auxilia as partes, de nenhum modo interfere na resolução do conflito pelas
partes mediadas, haja vista que prioriza o diálogo entre as partes em conflito. Portanto, a
regulamentação da guarda de criança e de adolescente, através da Mediação Familiar, irá
proporcionar ao menor mais condições de ter seus direitos atendidos, pois são os seus
genitores que, por meio do diálogo, irão decidir o melhor para os filhos menores. Assim, do
princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, o qual está disposto de forma
explícita no artigo 227 da Constituição Federal, subtende-se que, havendo conflitos, o
interesse da criança e do adolescente deverá ser atendido de forma que garanta seu bem-estar
físico e psíquico.

Em vista disso, a busca pela Mediação Familiar cresce no Brasil para instituir a guarda
de menores, pois possibilita ambos os pais, através de diálogo aberto e sem qualquer tipo de
interferência, educar os filhos, posto que o interesse dos mesmos está acima de qualquer
desavença que possa existir entre o casal que está se separando. Este tipo solução de conflitos
minimiza os efeitos da separação dos pais, os quais decidem acerca da guarda e, assim, as
crianças verificam que a relação dos pais continua amigável e, principalmente, que os dois
estão do mesmo lado quando se trata do bem-estar do filho. Assim sendo, a instituição da
guarda dos filhos menores, por meio da Mediação Familiar, é a maior prova de afeto que os
pais podem ter em relação aos filhos, pois através do diálogo os genitores resolvem acerca da
guarda de seus filhos e, conseqüentemente, poderão atender ao princípio do melhor interesse
da criança e do adolescente.
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