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1 3 - PENSAMENTO LIBERAL E CRISES ECONÔMICAS

O Mercantilismo provocou grandes distorções no setor produtivo das


economias, como abandono da agricultura em benefício da indústria,
excessiva regulamentação e intervencionismo exagerado do Estado nos
negócios privados. Aos poucos, porém, foram surgindo novas teorias
sobre o comportamento humano, de cunho liberal e individualista, mais
de acordo com as necessidades da expansão capitalista. Como foi visto, o
capitalismo foi um sistema que emergiu dos artesãos e comerciantes que
se tornaram financistas e grandes empreendedores. Eles recebiam a
oposição da nobreza, grandes proprietários de terras, que possuíam
privilégios, não pagavam impostos e muitas vezes recebiam rendas
vitalícias do Estado.

3.1 FISIOCRACIA E DOUTRINA DO LAISSEZ-FAIRE

Na França, o pensamento econômico constituía um segmento do


pensamento filosófico. Com o movimento enciclopedista liderado por
Diderot e d’Alembert, nas primeiras décadas do Século XVIII, os escritos
econômicos se multiplicaram. Surgiram pensadores como Turgot (1727-
1781), que defendeu a livre circulação de grãos entre as regiões francesas,
assim como a liberdade para o comércio internacional e o saneamento das
finanças públicas. Antes de Adam Smith (1723-1790), ele formulou o
princípio dos rendimentos decrescentes na agricultura e formulou os
rudimentos da teoria do equilíbrio econômico.

Além do Enciclopedismo, outro movimento intelectual daquela época foi a


Fisiocracia, que constituiu a primeira escola econômica de caráter
científico. A Fisiocracia foi liderada pelo médico francês François Quesnay
(1694-1774), autor da obra O quadro econômico, em que analisa as
variações do rendimento de uma nação. Para “os economistas”, como
passaram a ser conhecidos a partir de então, os fenômenos econômicos
precisam circular livremente no espaço e entre setores, seguindo leis
naturais, como o sangue no organismo humano. Essa idéia de ausência de
obstáculos para uma melhor circulação dos bens e serviços, assim como
do fluxo de rendas, constituiu o embrião das teorias econômicas
modernas.

Segundo a doutrina fisiocrática, a sociedade é formada pelas classes


produtiva (agricultores), pela classe dos proprietários de terras e pela
classe estéril, compreendendo esta última todos os que se ocupam do
comércio, da indústria e dos serviços. A agricultura era considerada
produtiva por ser, para os Fisiocratas, o único setor que gera valor. Desse
modo, os preços agrícolas deviam ser os mais elevados possíveis (teoria
do bom preço), a fim de gerar lucros e recursos para novos investimentos
agrícolas. Os consumidores seriam compensados pela cobrança de um
imposto único sobre a renda dos proprietários de terras e por medidas
que reduzissem os preços industriais.

A idéia de classe estéril resultou da reação fisiocrática contra a doutrina


mercantilista. A moeda passou a ter apenas função de troca e não de
reserva de valor, pois este encontra-se somente na agricultura. A indústria
e o comércio constituem desdobramentos da agricultura, pois apenas
transformam e transportam valores. A terra produz valor por sua
fertilidade, seguindo leis físicas, ou de ordem natural. Desse modo, a
agricultura precisava ser incentivada para aumentar o produto nacional.

No entanto, não era isso que se via na prática: a agricultura era penalizada
pela ação discriminatória do Estado. Quando havia boas colheitas, a
abundância de produtos reduzia os preços, pois os produtos não podiam
ser escoados de regiões com produção abundante para regiões com
produção insuficiente. Em caso de más colheitas, a escassez resultante de
produtos tendia a aumentar os preços. No entanto, os controles de preços
do Governo, para não elevar o custo de vida da população, não permitiam
que os agricultores saíssem do prejuízo. Ao mesmo tempo, eles eram
sobrecarregados de impostos, uma vez que o Governo obtinha suas
receitas com base na classe produtiva. Os nobres e o clero praticamente
não pagavam impostos.
A redução do jugo do Estado poderia diminuir com uma conduta mais
liberal, deixando o mercado agir naturalmente. Turgot pregava a livre
circulação de bens e a liberdade total para empreender, assim como os
Fisiocratas, como uma maneira de desenvolver a economia. Com a
presença de uma lei natural regulando a ordem econômica, os homens
precisam agir livremente; qualquer intervenção do Estado inibiria essa
ordem, ao criar obstáculos à circulação de pessoas e de bens. Assim, eles
propunham a redução da regulamentação oficial, para aumentar a
produtividade da economia, e a eliminação de barreiras ao comércio
interno e a promoção das exportações. Ao se proibir as exportações de
cereais, aumenta a oferta interna e reduz os preços, o que reduz os lucros,
impede novos investimentos e diminui a produção na safra seguinte.

traduzindo-se na famosa divisa laissez-faire, laissez passer (deixai


fazer, deixai passar ...).
Em relação aos demais setores da economia, para manter baixos os preços
das manufaturas e beneficiar os consumidores, os Fisiocratas propunham
o combate aos oligopólios (poucos vendedores) e o fim das restrições às
importações. O pensamento fisiocrático era, portanto, liberal,

O principal defeito do pensamento fisiocrático era a premissa de que


somente a terra gerava valor. Com isso, eles se mantinham muito
tolerantes em relação à classe dos proprietários e à nobreza. Este era a
diferença fundamental entre os Fisiocratas e Turgot. Para este último, o
valor encontra-se no trabalho e esse pensamento faz dele um precursor
da Economia clássica.

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