A LIDERANÇA DA IGREJA
Começando pelo Básico
Coy Roper
Como estamos iniciando um estudo sobre a
liderança da igreja, precisamos saber alguns
conceitos gerais de liderança. O que é liderança?
O que torna um homem um líder? Qual é a
origem da liderança?
O QUE É LIDERANÇA?
Não é fácil definir “liderança”. Acreditamos
que somos capazes de reconhecer uma liderança
quando nos deparamos com ela, assim como
acreditamos que reconheceríamos uma cascavel
se nos deparássemos com uma, mas pode ser
mais difícil definir “liderança” do que “cascavel”.
Sabemos que Jesus foi um líder; Ele teve
discípulos que O seguiram. Moisés foi um líder;
ele liderou os israelitas para fora do Egito através
do deserto até a fronteira de Canaã. Neemias foi
um líder; ele dirigiu os israelitas na reconstrução
dos muros de Jerusalém. Seria a soma das
características desses homens (Jesus, obviamente,
era mais do que um homem) uma definição de
liderança?
Quando pensamos em grandes líderes, somos
propensos a pensar em grandes estadistas como
George Washington, Abraham Lincoln, Winston
Churchil e Getúlio Vargas. Todavia, um líder
pode guiar na direção do bem ou do mal. Átila,
rei dos hunos, também foi um líder, bem como
Hitler. Assim como Jesus foi um líder, Maomé,
Gandhi e Jim Jones também foram.
Determinado atleta pode ser considerado
“líder de um time”. Ele pode não ser o capitão do
time nem o melhor jogador do time; mas, de
alguma forma, por ele estar no jogo, os demais
jogadores jogam melhor — e o time vence! Por
outro lado, às vezes, um time parece patinar
porque, pelo nosso entender, está “sem líder”.
Sabemos o que um líder não é. Conta-se a
estória de um cara que chegou ofegante a uma
loja do interior e perguntou ao dono: “Um grupo
de trinta pessoas passou por aqui cerca de uma
hora atrás?” “Passou”, respondeu o lojista. “Para
qual direção eles foram?”, continuou o homem.
“Eu tenho de alcançá-los; eu sou o líder deles”.
Esse homem não era um líder, bem sabemos,
mas o que é um líder? O que é liderança?
Várias Definições
Tem-se definido liderança de várias maneiras.
O dicionário define um líder como uma pessoa
que é “o cabeça dirigente, coordenador ou guia
de um grupo ou de uma atividade”. As definições
de liderança vão desde “um processo pelo qual
se influencia as atividades de um grupo organi-
zado” ao estabelecer e atingir alvos, até o processo
de guiar ou controlar o comportamento de outros,
de inspirar ou motivar outros1 .
Outras definições são possíveis. Após revisar
uma série de diferentes definições de liderança,
Kenneth O. Gangel resumiu sua pesquisa di-
zendo:
...liderança é uma habilidade; liderança envolve
trabalhar com outras pessoas; e liderança envolve
1
J. J. Turner, Leadership and Church Growth (“Liderança
e Crescimento da Igreja”). Shreveport, La.: Lambert Book
House, 1976, pp. 9, 10.
1
 progredir em direção a algum tipo de alvo. Se esses
três itens fossem incorporados numa definição
aceitável para o escopo deste livro, resultariam
no seguinte: liderança é o exercício feito por um
membro ou um grupo de certas qualidades, caráter
ou habilidade que no devido tempo resultará na
mudança de comportamento do grupo em direção a
alvos mutuamente aceitáveis.2
Freqüentemente, as definições de liderança
pressupõem um certo tipo de liderança. Em
contraste com isso, queremos definir o termo de
modo a incluir todos os tipos de liderança.
Nossa Definição
Aqui está, portanto, nossa definição de
liderança: a orientação deliberada e consciente de
indivíduos, ou de um grupo, em direção ao cumpri-
mento de um alvo ou objetivo predeterminado. Este é,
pelo menos, o tipo de liderança que estaremos
analisando nestas lições.
Cada parte desta definição é importante.
Primeiramente, liderança, como está sendo aqui
definida, é um ato “deliberado e consciente”.
Isso significa que não se trata de um ato “aciden-
tal” nem “inconsciente”. Conforme é às vezes
definida, ela significa “influenciar outros” para
o bem ou para o mal. Não há dúvida de que isto
aconteça. Todos nós influenciamos pessoas pelas
nossas vidas, nosso comportamento, nossas
palavras e nossas atitudes. Todavia, o significado
de “liderança” que estamos usando nestas lições
não se esgota aqui.
Em segundo lugar, liderança é “a orientação
de indivíduos, ou de um grupo”. Não existe líder
isolado. Por definição, liderança tem de envolver
o líder dirigindo outros. Um líder precisa ter
seguidores.
Em terceiro lugar, liderança é a orientação de
um grupo “em direção ao cumprimento de um
alvo ou objetivo predeterminado”. Liderança
tem a ver com isto: fazer outros agirem de modo
a obter algum propósito ou meta maior. Essa
meta está na mente do líder, mas não necessaria-
mente nas mentes dos que são guiados (especial-
mente logo no início).
Esta definição é abrangente o suficiente para
incluir todos os tipos de liderança. Um chefe
lidera seus empregados em direção ao cumpri-
2
Kenneth O. Gangel, Leadership for Church Education
(“Liderança para a Educação da Igreja”). Chicago: Moody
Press, 1970, pp. 12, 13.
2
mento de um alvo, mesmo se esse alvo for faturar
mais para si mesmo. Ele o faz pagando os salários
dos empregados quando estes trabalham e
despedindo-os quando não realizam o trabalho.
Isto estaria implícito na liderança conforme a
definição acima. Um ladrão de bancos dirige
outros com a ponta de um revólver fazendo-os
abrir o caixa-forte para que ele roube o dinheiro.
Isso também é um tipo de liderança.
Na igreja, os líderes têm algo em comum com
o chefe e o ladrão de bancos. Eles também estão
tentando liderar, guiar e direcionar pessoas para
fazerem alguma coisa. A diferença entre os líderes
da igreja e os outros não reside no significado da
palavra “liderança”, mas nas metas estabelecidas e
nos métodos usados para liderar.
QUAL É A ORIGEM DA LIDERANÇA?
Como uma pessoa se torna líder? Antes de
respondermos essa pergunta, gostaríamos de
considerar duas outras perguntas relacionadas a
essa.
Duas Perguntas
Todo indivíduo é um líder? Alguns dizem que
todo indivíduo é um líder. Sem dúvida, isto é
verdade (dependendo da definição de liderança),
num sentido limitado. Todo indivíduo exerce
alguma influência e induz outros em certas
direções. Geralmente, esse tipo de liderança é
inconsciente; as pessoas não estão cientes de que
estão liderando ou que estejam sendo lideradas.
Naturalmente, os cristãos podem, e devem, estar
cientes de sua influência e empenhar-se delibe-
radamente em usar essa influência para guiar
outros em direção ao céu.
Nem todo indivíduo é um líder em todas as
situações. Se fosse assim, então as palavras “líder”
e “liderança” não teriam sentido.
Uma pessoa nasce ou se torna líder? Num
sentido, uma pessoa “nasce” líder — pelo menos
no sentido de que o nascimento e as primeiras
experiências o qualificam para a liderança. Todos
já vimos pessoas a quem chamaríamos de líderes
“carismáticos”; pessoas os seguem espontanea-
mente. Quase sem esforço, eles parecem juntar
em torno de si grupos de admiradores ou
seguidores. Quer tenham sido eleitos para ocupar
um cargo, quer tenham sido promovidos a chefes
de uma empresa, descobrem que outras pessoas
buscam neles orientação e direção. Além disso,
alguns parecem ter nascido com a capacidade
própria de um líder para persuadir outros a
fazerem o que querem, ou para organizar pessoas
ou materiais da maneira mais eficiente possível,
em direção ao cumprimento de determinada
tarefa.
Um dos melhores exemplos de um “líder
nato” na época do Novo Testamento foi Saulo,
que se tornou o apóstolo Paulo. Líder no judaísmo
(Filipenses 3:4–7), ele se tornou, pela graça de
Deus, líder na religião cristã, ao ser convertido.
É provável que Paulo pudesse ser líder em
qualquer organização ou grupo.
Por outro lado, ocorre que, às vezes, pessoas
que não parecem estar qualificadas para um
trabalho são colocadas, pelas circunstâncias, em
posições de liderança. Já vi em congregações
homens, que não nasceram líderes nem foram
treinados para a liderança, serem forçados a
liderar de qualquer maneira. (Talvez sejamos
críticos demais com tais líderes da igreja.)
Ainda que alguns estejam mais bem qualifi-
cados do que outros ao se tornarem líderes,
qualquer um pode aprender a realizar um
trabalho de liderança de maneira mais eficaz.
Neste sentido, um indivíduo pode “se tornar”
um líder.
A Liderança como um Dom de Deus
A verdadeira origem da liderança é Deus!
Não deve nos surpreender que o Novo Testa-
mento ensine que a liderança é um dom de Deus.
Nos tempos bíblicos, Deus escolheu, chamou e
comissionou líderes para o Seu povo. Ele também
capacitou esses líderes. Ele usou matérias-primas
não muito promissoras. Moisés já havia tentado
ser líder e fracassara; Gideão era um juiz difícil
de ser convencido; Davi era o caçula de uma
família de oito filhos, todos aparentemente mais
admiráveis do que ele; os apóstolos em geral
eram galileus desprezados, que encontraram
dificuldade em crer no seu chamado à liderança.
Todos esses homens se tornaram grandes líderes,
porque Deus os capacitou para liderarem. Em-
bora, hoje, Deus não faça isso miraculosamente,
ainda é Ele quem faz os líderes da igreja.
Três passagens falam de liderança como um
dom na época do Novo Testamento. A primeira
é: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres, com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho
do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo” (Efésios 4:11, 12; grifo meu). A segunda
passagem é Romanos 12:6–8: “Tendo, porém,
diferentes dons segundo a graça que nos foi
dada: se profecia, seja segundo a proporção da
fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério;
ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que
exorta faça-o com dedicação; o que contribui,
com liberalidade; o que preside, com diligência...”
(grifo meu). A NVI diz: “se é exercer liderança,
que a exerça com zelo”. A NTLH diz: “Quem tem
autoridade, que use a sua autoridade com todo o
cuidado”. A terceira passagem Paulo escreveu
em 1 Coríntios 12:28: “A uns estabeleceu Deus na
igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo
lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois,
operadores de milagres; depois, dons de curar,
socorros, governos, variedades de línguas”. No
lugar de “governos”, a NVI usa “dons de adminis-
tração”, a NTLH, “dom de liderar” e a Versão
Fácil de Ler, “os que lideram”.
Como podemos pensar em liderança hoje como um
dom? Provavelmente quem é líder, mais do que
os outros, está propenso a pensar de si mesmo
como “um homem que se fez sozinho”. Ele pode
pensar: “Eu trabalhei. Estudei. Já vivi muito e fiz
muitas coisas boas. Mereço ser respeitado, ser
seguido. Como alguém pode dizer que a minha
liderança sobre as pessoas é um dom?” Várias
considerações podem nos ajudar a entender que
liderança é realmente um dom, ou um talento
dado por Deus.
Por um lado, se uma pessoa nasce líder, em
vez de se tornar líder (ou nasceu mais do que se
tornou), os líderes da igreja precisam se lembrar
de que “toda boa dádiva e todo dom perfeito”
vem de Deus (Tiago 1:17). Eles não escolheram
seus pais, nem são responsáveis or seus talentos
naturais. Se alguém é alto, forte, de boa aparência,
inteligente e é “um líder nato” não tem do que se
vangloriar. De um ponto de vista humano, apenas
ocorreu dessa pessoa ter os pais certos. Do ponto
de vista divino, essa pessoa precisa reconhecer
que foi Deus quem lhe permitiu nascer com tais
dons; a Deus deve ser dada a glória! Paulo, que
certamente era um líder natural, reconhecia que
seus talentos eram de Deus. Ele disse: “...pela
graça de Deus, sou o que sou” (1 Coríntios 15:10).
Por outro lado, se uma pessoa se torna líder
em vez de nascer líder, ainda precisamos nos
3
lembrar de que tudo o que é bom na vida procede
de Deus. As circunstâncias que capacitam homens a
se tornarem líderes e terem êxito na liderança podem
ser, enfim, atribuídas a Deus. “Eu trabalhei muito
e estudei muito”, alguém pode objetar — mas de
onde veio o desejo de trabalhar e estudar? Dos
pais ou avós? De um amigo ou vizinho? De um
professor? Todos que têm êxito “por conta
própria” devem se lembrar de alguém que
desempenhou um papel maior motivando-o a
fazer o melhor possível. De onde surgiu essa
pessoa? De Deus! Se Deus não providenciasse as
circunstâncias para o êxito, as pessoas simples-
mente não teriam êxito!
Pensemos, por exemplo, nas qualificações
para tornar-se um presbítero. O presbítero precisa
primeiramente ser cristão. Não é a Deus que ele
deve a oportunidade de ter se tornado cristão?
Ele deveria agradecer a Deus por prover não só
o Salvador e o evangelho, como também o
pregador ou professor que lhe trouxe pela
primeira vez as boas novas da salvação.
Consideremos o desenvolvimento dos traços
pessoais que caracterizam um presbítero: eles
são acrescentados à vida dele porque ele é
abençoado por Deus. Ele pode pensar que
desenvolveu esses traços por ler a Bíblia, mas
quem forneceu a Bíblia para ele? Quem o capaci-
tou para ler? Quem lhe permitiu ouvir a Palavra
pregada? Talvez ele tenha se tornado piedoso
por ter pais piedosos; mas quem lhe deu esses
pais? Talvez ele tenha se desenvolvido espiri-
tualmente por ter se relacionado com outros
cristãos, ter aprendido a respeito da Bíblia com
pregadores fiéis e ter sido tratado amavelmente
por líderes cristãos. Sendo assim, não há nada
nele que o faça merecer tais bênçãos. Elas são
providências de Deus! Deus usa esses meios
para desenvolver homens que estejam aptos para
liderar na igreja.
Nenhum homem pode servir satisfatoria-
mente como presbítero sem ter o tipo de família
adequado. Só com a esposa adequada ele pode
ser hospitaleiro, governar bem a sua casa, manter
os filhos “sob disciplina, com todo o respeito” e
ter uma boa reputação entre os de fora da igreja
(1 Timóteo 3:2–7). Uma boa esposa é uma dádiva
de Deus (Provérbios 19:14; 18:22). Além disso,
um homem pode ter a esposa adequada, mas não
ter filhos e, portanto, não estar apto para servir
como presbítero (Tito 1:6). Os filhos são dádivas
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de Deus (Salmos 127:3). Igualmente, se seus filhos
crescerem sendo cristãos fiéis, ele deve dar graças
a Deus; pois ele e a esposa podem fazer o melhor
possível para criá-los no caminho certo e eles
ainda se desviarem. Quando os filhos são fiéis
(apesar dos erros dos pais) isto também vem de
Deus.
Como o fato de reconhecer que a liderança é um
dom de Deus afeta o líder na igreja? Primeiro, isso
deve ajudá-lo a permanecer humilde. Ele não
obteve essa aptidão para liderar por mérito
próprio; o que houver de bom dentro dele, ele o
deve a Deus.
Em segundo lugar, isso deve ajudá-lo a
manter seu papel em perspectiva. Qual é a sua
relação com os outros na congregação? Ele tem
um talento — o talento de liderar. Eles, também,
têm talentos de vários tipos, tais como a habili-
dade de ganhar dinheiro, de estimular, de
desafiar os jovens, etc. Todos esses talentos
devem ser usados para o bem da igreja. Será que
o talento dele é mais importante? Pode ser mais
observável, mais público, mas não é mais impor-
tante; não o torna melhor que os outros. Temos
de nos livrar de uma visão hierárquica, em que
os líderes da igreja estão no vértice do triângulo,
de certa forma numa plano superior ao dos
demais membros.
Em terceiro lugar, isso deve incitar o líder a
perguntar a si mesmo: “Se Deus me deu o ta-
lento de liderar, não é da vontade dEle que eu o
use para a Sua glória e o máximo possível na
igreja?” Deus dá talentos aos cristãos para que
possam usá-los em benefício da igreja e para a
Sua glória.
Consideremos o seguinte: se Deus deu a um
homem talento para ser líder, é errado ele recusar
a oportunidade de ser um líder?
CONCLUSÃO
A liderança é “a orientação deliberada e
consciente de indivíduos, ou de um grupo, em
direção ao cumprimento de uma meta ou um
objetivo predeterminado”. Deus, como sempre
fez, providencia líderes para o Seu povo hoje.
Muitos membros da igreja são chamados (provi-
dencialmente) para serem líderes. Será que esses
homens aptos para liderar farão como Paulo,
guiando a igreja primitiva, ou se recusarão a
atender o chamado providencial de Deus para
serem líderes do Seu povo? ■